O poema descreve um piquenique campestre onde uma mulher colhe papoulas e depois se deita em penhascos com amigos, comendo frutas e pão-de-ló. A beleza da cena é destacada pelas cores e formas descritas de forma pictórica. O momento mais belo é quando as papoulas aparecem saindo do decote da mulher.
O poema descreve um piquenique campestre onde uma mulher colhe papoulas e depois se deita em penhascos com amigos, comendo frutas e pão-de-ló. A beleza da cena é destacada pelas cores e formas descritas de forma pictórica. O momento mais belo é quando as papoulas aparecem saindo do decote da mulher.
O poema descreve um piquenique campestre onde uma mulher colhe papoulas e depois se deita em penhascos com amigos, comendo frutas e pão-de-ló. A beleza da cena é destacada pelas cores e formas descritas de forma pictórica. O momento mais belo é quando as papoulas aparecem saindo do decote da mulher.
Houve uma coisa simplesmente bela, E que, sem ter história nem grandezas, Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas, A um granzoal azul de grão-de-bico Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via; E houve talhadas de melão, damascos, E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas, Era o supremo encanto da merenda O ramalhete rubro das papoulas!
O Livro de Cesário Verde, Lisboa, 1887
ANÁLISE
O poema "De Tarde" é "exemplo da arte parnasianista, narrativa e plástica,
desejosa de naturalidade e de plena consecução formal. A primeira quadra constitui a introdução do poema. Nos dois primeiros versos, o demonstrativo "Naquele" e a forma verbal no Pretérito Perfeito "Houve" remetem para o passado, instaurando a memória como meio de representação poética. Nesta quadra introduzem-se ainda dois motivos que percorrem o texto: a simplicidade "uma coisa simplesmente bela/ E que, sem ter história nem grandezas" e o carácter plástico da cena descrita "bela", "dava uma aguarela"; simplicidade e prazer estético aliam-se para justificar a descrição desta experiência vivida pelo sujeito poético, como se confirmará na última estrofe. O poema esboça uma narrativa. É possível verificar a existência de categorias próprias do discurso narrativo, tais como: espaço (campestre) - "um granzoal" (v. 7), "em cima duns penhascos" (v. 9); tempo - "De tarde" (título), "Pouco depois.../...inda o sol se via" (vv. 9-10); personagens -"burguesas" (v. 1), "tu" (v.5), "Nós" (v. 10); acção - um "pic-nic" (v. 1), "descendo do burrico, / Foste colher... (...) / Um ramalhete rubro de papoulas" (vv. 5 a 8), "Nós acampámos (...) / E houve talhadas de ..." (vv. 9 a 12) A utilização destes elementos narrativos permite a criação de dois quadros: 1º quadro (2ª estrofe) - a burguesa, que desceu do burrico, colhendo papoulas; 2º quadro (3ª e 4ª estrofes) - o "pic-nic", em cima dos penhascos, destacando-se a imagem do ramalhete de papoulas saindo do decote da "burguesa". Há sugestões pictóricas relativas a: linhas - horizontal - o "granzoal" / vertical - os "penhascos"; volumes - "o ramalhete", "talhadas de melão", "damascos", "seios"; cor - "granzoal azul", "ramalhete rubro", "talhadas de melão" / "damascos" (sugestão de tons amarelados), "todo púrpuro", "a sair da renda / Dos teus dois seios" (sugestão de branco). A descrição é feita com base em sensações, sobretudo visuais: percepção visual explícita - cores, elementos do cenário (melão, damascos), "inda o sol se via"; percepção gustativa implícita - referência aos alimentos ( "E pão-de-ló molhado em malvasia" ). A musicalidade do poema é obtida através das rimas (cruzadas), do ritmo dos versos e do recurso à aliteração: " A um granzoal azul de grão-de-bico", "Um ramalhete rubro de papoulas", "E houve talhadas de melão, de damascos, / E pão-de-ló molhado em malvasia"