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Poetas contemporâneos
GRUPO I
Leia o poema.
Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.
Camões
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Ficha de Avaliação – Módulo 8.2
Poetas contemporâneos
Grupo II
Responda às questões. Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Entramos nas quase 50 páginas do primeiro capítulo deste romance com um misto de
espanto e perplexidade. O que se segue à nossa frente é exatamente o quê? Não sabemos ao
certo e depressa deixamos de questionar, tomados por um dos mais empolgantes torvelinhos
narrativos da literatura portuguesa recente. Quem nos enreda é a voz de uma santa de
madeira, “ao mar arremessada”, uma Nossa Senhora de Todas as Angústias que recebe a
devoção, bem como as súplicas, dos tripulantes e passageiros de um navio negreiro
clandestino. Enquanto o barco, autêntico “túmulo navegante”, com o porão a abarrotar de
escravos moribundos, sucumbe ao tédio de uma calmaria, permanecendo imóvel num mar liso,
sem sinal de brisa, a santa tudo vê e tudo escuta, dos movimentos sub-reptícios e jogos de
poder entre quem circula cá por cima, sob o sol de chumbo, ao clamor que vem lá de baixo, um
murmúrio de “lava humana” revolvendo-se sobre si própria, semelhante a uma expetoração:
“Já a sinto, num rumorejar de entranhas que se puxa e se cospe. Escura e glutinosa como o
rancor. Que bom solo é este, as pranchas do convés, para germinar o ódio. Cada gota de suor é
uma semente de asco, cada gota de sangue de escravo flagelado é cultivo de abominação”.
E a prosa de Ana Margarida de Carvalho, ao descrever esta história trágico-marítima,
não fica aquém do que de melhor nos é dado ler, no cânone da nossa língua, sobre homens e
mulheres buscando a salvação por entre as vagas de um mar cruel e assassino. Particularmente
conseguidas são as imersões no passado de cada um dos náufragos, derivas que revelam uma
extraordinária capacidade efabulatória, levando-nos ao coração de histórias terríveis,
pungentes, de uma violência crua, muitas delas sobre a escravatura, já abolida no momento
histórico em que o livro decorre (fim do século XIX) mas ainda praticada com requintes de
sordidez.
Falta referir a qualidade maior deste romance: a sua linguagem, de uma plasticidade
espantosa e raríssimo fulgor. Não se pode morar nos olhos de um gato é um hino à língua
portuguesa e às suas infinitas possibilidades.
José Mário Silva, in A Revista E, ed. n.˚2284, de 6 de agosto de 2016 (com supressões).
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Poetas contemporâneos
2. O autor refere este romance como uma “história trágico-marítima” (l. 17) porque
[A] relata uma viagem que tem como pano de fundo a História de Portugal.
[B] se inspirou na obra com esse título.
[C] retrata a tragicidade dos acontecimentos que se vão dar.
[D] narra a exploração dos escravos que eram levados por mar.
3. O segmento “derivas que revelam uma extraordinária capacidade efabulatória” (l. 21)
transmite a capacidade de
[A] metonímia.
[B] personificação.
[C] metáfora.
[D] eufemismo.
5. O recurso às expressões “uma santa de madeira” (l. 6), “a santa” (l. 10) ilustra a coesão
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Poetas contemporâneos
6. O segmento frásico “as imersões no passado de cada um dos náufragos, derivas que
revelam uma extraordinária capacidade efabulatória” (ll. 22-23) expressa um valor modal de
[A] probabilidade.
[B] certeza.
[C] obrigação.
[D] apreciação.
10. Classifique a oração sublinhada no segmento: “num rumorejar de entranhas que se puxa
e se cospe.” (ll. 15-16)
GRUPO III