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Ficha de Avaliação – Módulo 8.

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Poetas contemporâneos

GRUPO I

Leia o poema.
Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

Camões

Nem tenho versos, cedro desmedido


Da pequena floresta portuguesa!
Nem tenho versos, de tão comovido
Que fico a olhar de longe tal grandeza.

Quem te pode cantar, depois do Canto


Que deste à pátria, que to não merece?
O sol da inspiração que acendo e que levanto
Chega aos teus pés e como que arrefece.

Chamar-te génio é justo, mas é pouco.


Chamar-te herói, é dar-te um só poder.
Poeta dum império que era louco,
Foste louco a cantar e louco a combater.

Sirva, pois, de poema este respeito


Que te devo e professo,
Única nau do sonho insatisfeito
Que não teve regresso!
“Poemas Ibéricos [1952-1965]”, in Miguel Torga, Antologia poética,
Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2014, p. 156.

1. Refira três traços caracterizadores de Camões, na opinião de Miguel Torga.

2. Explique o sentido dos dois primeiros versos da segunda estrofe.

3. Explicite a mensagem do poema, expressa na última estrofe.

4. Comente a expressividade das exclamações e da interrogação retórica.

5. Analise o poema quanto à versificação, à rima e ao esquema rimático.

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Poetas contemporâneos

Grupo II

Responda às questões. Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.

Numa praia intermitente

O novo livro de Ana Margarida de Carvalho é um tour de force narrativo e um prodígio


de linguagem. Fortíssimo candidato, desde já, a melhor romance português do ano.

Entramos nas quase 50 páginas do primeiro capítulo deste romance com um misto de
espanto e perplexidade. O que se segue à nossa frente é exatamente o quê? Não sabemos ao
certo e depressa deixamos de questionar, tomados por um dos mais empolgantes torvelinhos
narrativos da literatura portuguesa recente. Quem nos enreda é a voz de uma santa de
madeira, “ao mar arremessada”, uma Nossa Senhora de Todas as Angústias que recebe a
devoção, bem como as súplicas, dos tripulantes e passageiros de um navio negreiro
clandestino. Enquanto o barco, autêntico “túmulo navegante”, com o porão a abarrotar de
escravos moribundos, sucumbe ao tédio de uma calmaria, permanecendo imóvel num mar liso,
sem sinal de brisa, a santa tudo vê e tudo escuta, dos movimentos sub-reptícios e jogos de
poder entre quem circula cá por cima, sob o sol de chumbo, ao clamor que vem lá de baixo, um
murmúrio de “lava humana” revolvendo-se sobre si própria, semelhante a uma expetoração:
“Já a sinto, num rumorejar de entranhas que se puxa e se cospe. Escura e glutinosa como o
rancor. Que bom solo é este, as pranchas do convés, para germinar o ódio. Cada gota de suor é
uma semente de asco, cada gota de sangue de escravo flagelado é cultivo de abominação”.
E a prosa de Ana Margarida de Carvalho, ao descrever esta história trágico-marítima,
não fica aquém do que de melhor nos é dado ler, no cânone da nossa língua, sobre homens e
mulheres buscando a salvação por entre as vagas de um mar cruel e assassino. Particularmente
conseguidas são as imersões no passado de cada um dos náufragos, derivas que revelam uma
extraordinária capacidade efabulatória, levando-nos ao coração de histórias terríveis,
pungentes, de uma violência crua, muitas delas sobre a escravatura, já abolida no momento
histórico em que o livro decorre (fim do século XIX) mas ainda praticada com requintes de
sordidez.
Falta referir a qualidade maior deste romance: a sua linguagem, de uma plasticidade
espantosa e raríssimo fulgor. Não se pode morar nos olhos de um gato é um hino à língua
portuguesa e às suas infinitas possibilidades.

José Mário Silva, in A Revista E, ed. n.˚2284, de 6 de agosto de 2016 (com supressões).

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1. A expressão “um murmúrio de ‘lava humana’” (l. 14) refere-se

[A] às dificuldades da viagem por mar.


[B] às más condições de habitabilidade do barco.
[C] às doenças que atingiram os tripulantes.
[D] à região vulcânica que atravessavam.

2. O autor refere este romance como uma “história trágico-marítima” (l. 17) porque

[A] relata uma viagem que tem como pano de fundo a História de Portugal.
[B] se inspirou na obra com esse título.
[C] retrata a tragicidade dos acontecimentos que se vão dar.
[D] narra a exploração dos escravos que eram levados por mar.

3. O segmento “derivas que revelam uma extraordinária capacidade efabulatória” (l. 21)
transmite a capacidade de

[A] imaginar e escrever sobre o passado fantástico de cada personagem.


[B] recuar no tempo e criar histórias que se cruzam entre si.
[C] procurar inspiração nos livros de fábulas.
[D] estabelecer relações invulgares entre as personagens.

4. O recurso expressivo presente na expressão “autêntico ‘túmulo navegante’” (l. 9) é

[A] metonímia.
[B] personificação.
[C] metáfora.
[D] eufemismo.

5. O recurso às expressões “uma santa de madeira” (l. 6), “a santa” (l. 10) ilustra a coesão

[A] lexical por reiteração.


[B] gramatical interfrásica.
[C] lexical por substituição.
[D] gramatical referencial.

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6. O segmento frásico “as imersões no passado de cada um dos náufragos, derivas que
revelam uma extraordinária capacidade efabulatória” (ll. 22-23) expressa um valor modal de

[A] probabilidade.
[B] certeza.
[C] obrigação.
[D] apreciação.

7. No segmento “Particularmente conseguidas são as imersões no passado” (l. 22), a expressão


sublinhada desempenha a função sintática de

[A] complemento direto.


[B] predicativo do sujeito.
[C] complemento oblíquo.
[D] sujeito.

8. Identifique o processo de formação que ocorreu na expressão “tour de force”. (l. 1)

9. Refira a relação temporal que se estabelece na frase transcrita, atendendo às expressões


sublinhadas: Enquanto o barco […] sucumbe ao tédio de uma calmaria, permanecendo imóvel
num mar liso, sem sinal de brisa, a santa tudo vê e tudo escuta”. (ll. 10-12)

10. Classifique a oração sublinhada no segmento: “num rumorejar de entranhas que se puxa
e se cospe.” (ll. 15-16)

GRUPO III

Elabore um texto de apreciação crítica bem estruturado, com um mínimo de 100 e um


máximo de 150 palavras, sobre um livro que tenha lido ou um filme que tenha visionado.

Planifique previamente o seu texto e respeite as marcas específicas do género textual


solicitado.

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