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Prova-modelo 2

Propostas de Provas de Exame


Prova-modelo 2
Grupo I
A
Lê o poema de Miguel Torga.

Vasco da Gama
Somos nós que fazemos o destino.
Chegar à Índia ou não
É um íntimo desígnio da vontade.
Os fados a favor
5 E a desfavor

São argumentos da posteridade.


O próprio génio pode estar ausente
Da façanha.
1 Basta que nos momentos de terror,
0
Persistente,
O ânimo enfrente
A fúria de qualquer Adamastor.

O renome é o salário do triunfo.


O que é preciso, pois, é triunfar.
Nunca meia viagem consentida!
1
5 Nunca meia medida
Do vinho que nos há de embriagar!

TORGA, Miguel, 2007. “Poemas Ibéricos”. In Poesia Completa. Vol. II. Lisboa: Dom Quixote (p. 272)

Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.


1. Estabelece uma relação entre o primeiro verso e o conteúdo da primeira estrofe.
2. Explicita o recurso expressivo presente no verso 12 e respetivo valor.
3. Apesenta uma interpretação possível para os últimos três versos do poema.

B
Lê o excerto da História Trágico-Marítima.

Dois dias depois, aquietava o tempo. Os corsários, aproveitando a bonança, trataram de


descarregar a “Santo António” das muitas mercadorias que nela vinham, e que haviam esca-
pado do furacão ou do alijar1 de carga que se havia feito. Até despojaram alguns portugueses
dos próprios fatos que traziam vestidos.

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5 Outros, porém, mais humanos, andavam curando os que estavam doentes e lhes davam de
comer e de beber.
Negaram-se a prover os desgraçados de algumas coisas de que precisavam, como enxár-
cias2, antenas3, velas; a muito rogo, deram-lhes dois sacos de biscoito podre; e na segunda-
-feira, 17 de setembro, afastou-se a nau deles a todo o pano, e foi-se esbatendo na atmosfera
1 turva. Sumia-se com ela a esperança dos nossos.
0
Desapareceu, por fim.
Ficaram sós.
Então, vendo-se desamparados na vastidão oceânica, sem nenhuns recursos, sem um
livor4 de esperança, caíram de joelhos no convés da nau, puseram-se a rezar o Miserere5.
1
5 Rezado o Miserere e as ladainhas6, Jorge de Albuquerque começou a mandar, a tomar
providências para a salvação de todos. Só se encontraram em todo o navio: numa botija7, duas
canadas de vinho; uma pequena quantidade de cocos; alguns poucos punhados de farinha de
pau; e meia dúzia, ao todo, de tassalhos8 de carne e de peixe-cavalo. Isto, – para quarenta pes-
soas que a bordo havia.
2 Jorge de Albuquerque repartiu os mantimentos por suas mãos, reservando para si mesmo um
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quinhão menor que o que dava aos outros.
“As terríveis aventuras Jorge de Albuquerque Coelho (1565)”. In História Trágico-Marítima.
Narrativas de naufrágios da época das conquistas (adaptação de António Sérgio), 2015. Capítulo V. Porto:
Porto Editora (pp. 126-127) (1.ª ed.: 1735-1736)

1. lançar a carga ao mar; 2. cabos fixos que aguentam os mastros reais; 3. madeiros sobressalentes com que se podem (re)construir mastros;
4. laivo; 5. salmo do Antigo Testamento, que começa por esta palavra e que constitui uma súplica; 6. invocações usadas no culto
católico; 7. recipiente de barro, de boca estreita e asa pequena, destinado a bebidas alcoólicas; 8. pedaços grandes, nacos.

Responde aos itens apresentados.


4. Explicita o contributo do excerto para o conhecimento das aventuras e desventuras dos Descobrimentos
portugueses.
5. Aponta, fundamentando-te em elementos textuais, dois traços de carácter de Jorge de Albuquerque
Coelho.

Grupo II
Lê atentamente o texto.

O inferno da vida a bordo

Uma das maiores preocupações a bordo de uma nau da Carreira da Índia era o armazena-
mento de provisões – água e comida – em viagens que, nos inícios do século XVI, podiam
ascender a largos meses sem tocar em terra para reabastecimento. Por isso, a alimentação era
pouco variada e, aparte a água e o vinho, seria sobretudo composta por biscoito, carne e peixe
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seco ou salgado, queijo, mel, azeite, transportado em anforetas1, leguminosas e frutos secos.

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A conservação dos alimentos era feita à base de sal e vinagre. Os frescos não duravam mais do
que algumas semanas e, à exceção de frutos secos, cebolas e alhos, não era fácil ingerir
vitaminas nas naus.
As evidências documentais da alimentação surgem através dos manifestos de carga e das
1 descrições das viagens, pois arqueologicamente quase não restam mais do que as grainhas das
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uvas e os caroços das laranjas, dos limões, das ameixas e das azeitonas.
Haveria sempre o peixe, possível de obter ao longo da viagem, e alguns animais vivos como
provisão de carne, sobretudo galinhas. À exceção da tripulação, cada passageiro, ou cada
família, tinha de assegurar o seu sustento. Os alimentos entravam frequentemente em
deterioração, secando ou apodrecendo. O seu sabor seria alterado, chegando as tripulações a
1
5 ingerirem comida estragada… mas a alternativa era entre isso e a fome.
Os despenseiros2 procediam à distribuição diária de 125 mililitros de água e de outro tanto de
vinho. Mensalmente, os tripulantes tinham direito a cerca de 15 kg de carne e a uma
quantidade não discriminada de cebolas, azeite, vinagre, peixe e outros víveres. Estes alimen-
tos eram então cozinhados por cada um, vendo-se muitas vezes mais de uma centena de
2 panelas ao lume, esperando cada pessoa pela sua vez. Para complemento destas vitualhas3,
0
existiam ainda víveres frescos, propriedade dos passageiros, que podiam ser cedidos ou
vendidos.
As condições de vida a bordo geravam graves perigos para a saúde dos tripulantes e dos
passageiros. Com efeito, ao contrário dos navios holandeses ou ingleses, os navios portugues-
ses da Carreira da Índia eram extremamente sujos e infetos, já que a maior parte das pessoas
embarcadas não se dava ao trabalho de ir acima para satisfazer as suas necessidades, o que em
2 parte era causa de morrer ali tanta gente.
5
Cada tripulante que sobrevivesse à viagem tinha direito a cerca de 50 cruzados. No entanto,
os grandes lucros surgiam com a possibilidade de cada um dos tripulantes poder trans-
portar, livres de impostos, as mercadorias que entendesse na viagem de retorno a Portugal.

CASIMIRO, Tânia Manuel, 2016. “O inferno da vida a bordo”.


3 Visão História, n.º 37, setembro de 2016 (pp. 30-31)
0 1. grandes vasos de duas asas para líquidos; 2. indivíduos encarregados da despensa; 3. alimentos.

Responde aos itens apresentados.

1. O texto apresenta um carácter


(A) persuasivo.
(B) demonstrativo.
(C) argumentativo.
(D) narrativo.

2. A passagem “viagens que, nos inícios do século XVI, podiam ascender a largos meses sem tocar
em terra para reabastecimento” (ll. 2-3) veicula um valor modal de
(A) probabilidade.
(B) obrigação.
(C) apreciação

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(D) certeza.
3. A frase iniciada por “Por isso, a alimentação [...]” (l. 3) estabelece com a anterior uma relação de
(A) oposição.
(B) concessão.
(C) adição.
(D) consequência.
4. As informações relativas à alimentação nas naus da Carreira da Índia advêm
(A) de vestígios arqueológicos.
(B) de documentos oficiais e vestígios arqueológicos.
(C) de relatos de viagens.
(D) de documentos oficiais e relatos de viagens.
5. A enumeração de “alimentos” (l. 6) ao longo do texto exemplifica a coesão
(A) gramatical (referencial).
(B) gramatical (frásica).
(C) lexical (substituição – hiperónimo e hipónimos)
(D) lexical (substituição – sinónimos).
6. Os constituintes “por biscoito, carne e peixe seco ou salgado, queijo, mel, azeite, transportado em
anforetas, leguminosas e frutos secos” (ll. 4-5), “por cada um” (l. 20) e “para a saúde dos tripulantes
e dos passageiros” (ll. 23-24) desempenham as funções sintáticas de complementos
(A) oblíquo, do nome e do adjetivo.
(B) do adjetivo, agente da passiva e do nome.
(C) do nome, do adjetivo e oblíquo.
(D) agente da passiva, do adjetivo e do nome.
7. O título do texto anuncia a falta de condições dos barcos ao nível da alimentação e da higiene
através da
(A) metáfora.
(B) gradação.
(C) ironia.
(D) metonímia.
8. Identifica os processos fonológicos verificados na evolução de biscoctum para “biscoito” (l. 4).
9. Refere o valor aspetual da frase: “Os alimentos entravam frequentemente em deterioração, secando
ou apodrecendo” (ll. 14-15).
10. Classifica a oração subordinada introduzida por “que”, na linha 28, e refere a função sintática
que desempenha.

Grupo III

Redige uma exposição na qual reflitas, de forma fundamentada, sobre a relação da alimentação
com o contexto histórico.
Escreve um texto bem estruturado, de duzentas a trezentas palavras, respeitando as marcas do
género.

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