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Contos
“Sempre é uma companhia” e “George”
GRUPO I
A.1
− Ah! – grita de repente o Batola. – Se o Rata ouvisse estas coisas não se matava!
Mas ninguém o compreende, de absorvidos que estão.
E os dias passam agora rápidos para António Barrasquinho, o Batola. Até começou
a levantar-se cedo e a aviar os fregueses de todas as manhãzinhas. Assim, pode continuar
as conversas da véspera. Que o Batola é, de todos, o que mais vaticínios faz sobre as
coisas da guerra. Muito antes do meio-dia já ele começa a consultar o velho relógio, preso
por um fio de ouro ao colete. […]
E os dias custaram tão pouco a passar que o fim do mês caiu de surpresa em cima
da aldeia da Alcaria. Era já no dia seguinte que a telefonia deixaria de ouvir-se. Iam todos,
de novo, recuar para muito longe, lá para o fim do mundo, onde sempre tinham vivido.
Foi a primeira noite em que os homens saíram da venda mudos e taciturnos. Fora
esperava-os o negrume fechado. E eles voltavam para a escuridão, iam ser, outra vez, o
rebanho que se levanta com o dia, lavra, cava a terra, ceifa e recolhe vergado pelo
cansaço e pela noite.
Manuel da Fonseca, O fogo e as cinzas, Lisboa, Editorial Caminho, 2011, pp. 158-159.
1
A.2
Já não sabe, não quer saber, quando saiu da vila e partiu à descoberta da cidade
grande, onde, dizia-se lá em casa, as mulheres se perdem. Mais tarde partiu por além-
terra, por além-mar. Fez loiros os cabelos, de todos os loiros, um dia ruivos por cansaço de
si, mais tarde castanhos, loiros de novo, esverdeados, nunca escuros, quase pretos, como
dantes eram. Teve muitos amores, grandes e não tanto, definitivos e passageiros, simples
amores, casou-se, divorciou-se, partiu, chegou, voltou a partir e a chegar, quantas vezes?
Agora está − estava −, até quando? em Amesterdão.
Depois de ter deixado a vila, viveu sempre em quartos alugados mais ou menos
modestos, depois em casas mobiladas mais ou menos agradáveis. As últimas foram
mesmo francamente confortáveis. […] Uma casa mobilada, sempre pensou, é a certeza de
uma porta aberta de par em par, de mãos livres, de rua nova à espera dos seus pés. As
pessoas ficam tão estupidamente presas a um móvel, a um tapete já gasto de tantos
passos, aos bibelots acumulados ao longo das vidas e cheios de recordações, de vozes, de
olhares, de mãos, de gente, enfim. [...]
Queria estar sempre pronta para partir sem que os objetos a envolvessem, a
segurassem, a obrigassem a demorar-se mais um dia que fosse. [...]
Os pais não sabiam compreender esse desejo de liberdade, por isso se foi um dia
com uma velha mala de cabedal riscado, não havia outra lá em casa. Mas preferia não
pensar nos primeiros tempos. E as suas malas agora são caras, leves, malas de voar, e com
rodinhas.
A outra está perto. Se houve um momento de nitidez no seu rosto, ele já passou,
George não deu por isso. Está novamente esfumado. […]
Tão jovem, Gi. A rapariguinha frágil, um vime, que ela tem levado a vida inteira a
pintar, primeiro à maneira de Modigliani, depois à sua própria maneira, à de George,
pintora já com nome nos marchands das grandes cidades da Europa. Gi com um pregador
de oiro que um dia ficou, por tuta e meia, num penhorista qualquer de Lisboa. Em tempos
tão difíceis.
Maria Judite de Carvalho, “George” in Conto português. Séculos XIX-XXI – Antologia crítica, vol. 3
(coord. Maria Isabel Rocheta, Serafina Martins), Porto, Edicoes Caixotim, 2011.
2
B
Eça de Queirós, Os Maias, Lisboa, Edição Livros do Brasil, 28.a edição, p. 17.
3
Grupo II
Responda às questões. Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione, no seu
caderno, a opção correta.
Henrique Leitao, Jornal de Letras, Artes e Ideias, ano XXXVI, n.˚ 1193,
22 de junho a 5 de julho de 2016, p. 27.
4
1. Maria de Sousa merece destaque neste artigo jornalístico porque
3. Maria de Sousa é uma cientista que tem realizado ao longo dos tempos
[A] vantajosas.
[B] notáveis.
[C] benéficas.
[D] benignas.
[A] descritivo.
[B] explicativo.
[C] narrativo.
[D] argumentativo.
6. O processo de formação dos termos “ad intra” (l. 15) e “ad extra” (l. 17) é
[A] siglação.
[B] acronímia.
[C] empréstimo.
[D] derivação não afixal.
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7. No contexto em que surge, o conector “mas” (l. 29) tem um valor lógico de
[A] oposição.
[B] consequência.
[C] causa.
[D] condição.
8. Classifique a oração “que os cientistas podem desempenhar nas sociedades de hoje”. (ll.
22-23).
10. Refira o valor aspetual configurado na frase “Quando os cientistas se envolvem com a
sociedade e com o público é habitualmente numa de duas funções: ou como consultores
para decisões económicas e políticas, ou como divulgadores”. (ll. 18-20).
GRUPO III