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Amor de Perdição - oralidade Português-Capítulo X

Amor de Perdição é uma das mais preciosas obras de Camilo Castelo Branco, estando
esta obra dividida em dois níveis de ação, um em que são narrados os factos trágicos da
personagem principal, Simão Botelho, que podem ser resumidos na simbólica frase “Amou,
perdeu-se e morreu amando”, a outra parte relata em tons memorialísticos, a genealogia da
Família Botelho, sendo que há uma estrutura sequencial, em gradação ascendente.

Como já ouvimos, Simão teve uma vida atribulada marcada pela rebeldia e conflito. Mas a
sua vida muda assim que conhece Teresa, o grande amor da sua vida. Como as famílias deles
eram rivais, o pai de Teresa, Tadeu, ameaçou colocá-la num convento caso ela não se casasse
com seu primo Baltasar Coutinho, tendo Teresa optado pela vida de clausura.

Já no capítulo X, Mariana, filha do ferreiro, visita Teresa, no Porto, para lhe dar notícias de
Simão, e o mesmo decide também que pretende visitá-la, e apesar de prometer ao ferreiro que
não sairia de sua casa, partiu para ver Teresa, mas foi impedido por Baltasar. Simão mata-o com
um tiro à queima-roupa, e apesar do conselho do ferreiro, Simão decide entregar-se, pois queria
assumir responsabilidade pelos seus atos.

Simão é visto nesta obra como o típico herói romântico, que anseia pela liberdade e, em
nome desta, desafia as regras sociais, ao envolver-se com Teresa, sabendo que era filha da
família rival à sua. Por outro lado, transgride essas mesmas regras quando comete o crime de
assassinar Baltasar Coutinho, o primo de Teresa, e com quem o seu pai exigia que ela se
casasse. Enquanto está na casa de João da Cruz, Simão transforma-se em poeta, sendo a carta
que escreve a Teresa, neste capítulo, a prova disso. Assim se constrói o herói romântico em Amor
de Perdição.

Neste capitulo, a nível da linguagem e do estilo, temos presente um narrador-autor que,


sendo não participante, assume uma posição subjectiva, na mediada em que vai tecendo por
vezes alguns comentários pessoais sobre os factos narrados, mostrando desprezo por umas
personagens (Tadeu de Albuquerque) e simpatia por outras (Simão e Teresa). De facto, este
capitulo e na obra em geral há muitas marcas biografias da própria vida de Camalo Castelo
Branco. Neste sentido, a figura do autor é indissociável do protagonista, Simão Botelho.
Relativamente aos diálogos, Camilo Castelo Branco, pretende mostrar os momentos de tensão,
de paixão e de sofrimento amoroso. Um grande exemplo é o dialogo entre Tadeu e sua filha,
Teresa, perto do fim do capitulo, em que diz Tadeu enxugou as lágrimas, sendo que aqui há uma
forte tensão dramática, em que são acentuadas as características românticas de Teresa, e a sua
rebeldia. As frases são curtas e incisivas, que refletem a tensão vivida entre pai e filha, o uso de
reticências sugere pausa no discurso, para reflexão provando o confronto de ideologias
antagónicas. As frases exclamativas de mostram o desespero da jovem perante a presença de
Baltasar. E ainda o recurso a um registo cuidado e adequado à posição social das personagens,
marcando a distância geracional.

Face ao exposto, este capitulo denuncia desde logo que esta obra pretende ser uma
crónica da mudança social. Isto porque, como exposto anteriormente, Teresa é rebelde na forma
como não segue o caminho que o seu pai traçou para si, como seria expectável naquela época.
Realça-se assim a rebeldia e o inconformismo de Teresa face às vontades do seu pai, e às
convenções sociais da sua época. Refira-se a propósito que Teresa está confiante na sua crença
de casar por amor, sinal claro da mudança dos tempos e de uma sociedade ainda muito marcada
pelos casamentos por conveniência, e que Tadeu de Albuquerque representa.

22-02-2018

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