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AMOR DE PERDIÇÃO:

Em “Amor de Perdição”, Camilo Castelo Branco constrói uma Ao Serviço desta sociedade encontram-se Instituições como a
novela com marcas autobiográficas e aproveita para tecer críticas Família, a Igreja, a Justiça e o Exército que são caracterizadas
aos podres da sociedade, tendo como pano de fundo o amor como instituições repressivas, que impedes a total realização do
intenso e trágico de Simão e Teresa. indivíduo e a sua felicidade, em nome de códigos
comportamentais que conduzem a situações limite.
A Crítica à arrogância e prepotência familiares, a denúncia a vida
pecaminosa do convento, a valorização da honra e da palavra A Família está subjugada a um autoritarismo paterno, a
dada, a força do amor e do ódio, bem como o amor à liberdade casamentos de convivência em que a mulher ocupa um papel de
são alguns aspetos abordados e que, apesar da mudança dos inferioridade. A Igreja ajuda a tornar concreta esta opressão, não
tempos, poderão encontrar paralelo na atualidade. só através da doutrina que defende e dissemina, mas também por
tornar possível a concretização da opressão ao aceitar e receber
SUGESTÃO BIOGRÁFICA (SIMÃO E NARRADOR) E CONSTRUÇÃO nos conventos jovens que não agem de acordo com os cânones ( =
DO HERÓI ROMÂNTICO: regras) familiares. Isto impede a felicidade das personagens e
Camilo escreveu “Amor de perdição”, que tem como subtítulo conduz a um destino solitário e trágico de que a prisão de Simão é
Memórias de uma família, enquanto esteve preso na Cadeia da exemplo.
Relação, no Porto, na sequência da sua relação amorosa com Ana RELAÇÕES ENTRE PERSONAGENS:
Plácido (Mulher casada). Durante esse tempo, teve acesso a
registos que documentavam a prisão e desterro ( = exílio) de um No início Simão é rebelde e instável, no entanto transforma-se
tio chamado Simão Botelho, que servirá de inspiração para a completamente quando se apaixona por Teresa, uma bela jovem
criação do protagonista da novela. determinada, de ascendência fidalga. O poder transfigurador do
amor é uma marca romântica.
A partir desses factos, o autor constrói uma ficção, apresentando
as personagens e acontecimentos sugeridos pela realidade, mas O Amor é correspondido, mas contrariado pelas suas famílias.
dando-lhes uma nova dimensão. Tadeu de Albuquerque é um homem prepotente que prefere ver
sua filha infeliz, enclausurada num convento, a abdicar do seu
Assim, é possível perceber esta sugestão biográfica logo na orgulho, de modo a permitir a felicidade de Teresa.
“Introdução”, bem como na “Conclusão” da obra, pois o
narrador-autor alude às suas relações de parentesco: Também Domingos Botelho, pai de Simão, revela ser um homem
destituído de sensibilidade.
Introdução:
Baltasar Coutinho, primo de Teresa, é um homem hipócrita e
“Folheando os livros de antigos assentamentos, no cartório das arrogante, que ela despreza, contrariando assim os planos do Pai,
cadeias da Relação do Porto, li, no das entradas presos desde que desejava que os dois se casassem.
1803 a 1805, a folhas 232, o seguinte: Simão António Botelho, que
assim disse chamar-se, ser solteiro, e estudante na Universidade João da Cruz e a sua Filha Mariana são pessoas simples que
de Coimbra, natural da cidade de Lisboa, e assistente na ocasião ajudam desinteressadamente Simão. O Ferrador é uma
de sua prisão na cidade de Viseu, idade de 18 anos, filho de personagem muito rica, uma vez que é, simultaneamente rude,
Domingos José Correia e de D. Rita Preciosa Caldeirão Castelo cruel e até violento, mas também generoso e reconhecido.
Branco…”
Mariana apaixonou-se por Simão, sabe que não é correspondida,
Conclusão: no entanto, ajuda o fidalgo, trata dele quando este é ferido, serve
de intermediária entre os dois amantes e acompanho-o até a
“Da família de Simão Botelho vive ainda, em Vila Real de Trás-os- morte, suicidando-se logo em seguida.
Montes, a senhora D. Rita Emília da Veiga Castelo Branco, a irmã
predileta dele. A Última pessoa falecida, há vinte e seis anos, foi Tanto Teresa como Mariana podem ser consideradas exemplos de
Manoel Botelho, pai do autor deste livro”. Mulheres-Anjo, que encaram o amor como a única razão das suas
vidas.
Simão Protagonista da obra, apresenta traços parecidos aos do
autor: ambos foram jovens indisciplinados, ambos viveram O AMOR-PAIXÃO:
paixões arrebatadoras e de consequências nefastas ( = Grave) e
ambos estiveram presos. Amor de Perdição é uma obra que narra a história de um amor
impossível, de um amor de trágico. É um amor que não chega
A OBRA COMO CRÓNICA DA MUDANÇA SOCIAL: propiamente a ser vivido, sendo mais sentido e obrigando os seus
protagonistas a um sofrimento que os conduz à morte. Esse
Em “Amor de Perdição” há uma crítica à sociedade da época, sentimento forte é alimentado pelas tensões que envolvem as
nomeadamente à nobreza da província, classe fechada e personagens que o protagonizaram: a oposição familiar e social
envolvida em preconceitos e privilégios e a burguesia algo afasta o par amoroso, impedindo a vivência plena deste
decadente que aspira a um reconhecimento social nem sempre sentimento, que cresce mais no sentido espiritual, elevando os
conseguido. seus atores – Simão e Teresa – à categoria de heróis que, na
Trata-se, portanto, de uma crítica a uma sociedade pouco sensível impossibilidade de concretizarem a sua paixão num espaço e num
aos sentimentos humanos, que são ultrapassados pelos interesses tempo definidos, viverão o seu amor para além da morte.
económicos e pela manutenção de um estatuto social marcado O Amor é, então, um sentimento maior e regenerador (cf.
por princípios já ultrapassados. Personagem de Simão), um sentimento que permite a verdadeira
realização do ser humano na sua busca de plenitude.
LINGUAGEM, ESTILO E ESTRUTURA:

A obra de Camilo Castelo Branco é vasta, variada, de estilo


vigoroso e, de certa maneira, o espelho da sua vida, o que permite
fazer uma espécie de autobiografia intermitente: Os seus heróis
refletem muito da sua vida e as suas heroínas e das mulheres que
ele amou.

Num estilo castiçamente português, nas obras de Camilo é


possível encontrar um vocabulário rico, variado e erudito e,
paralelamente uma linguagem popular, originando esta
conjugação narrativas vivas e comunicativas, coloridas e graciosas,
expressivas e muitas vezes, pontuadas pela ironia, que se
encontra ao serviço da critica social.

Diálogos:

Nas suas obras a descrição é quase inexistente e é através dos


diálogos que o escritor faz, por exemplo, a caracterização das
personagens. Aliás, os diálogos dão informações, expandem os
sentimentos, dão a conhecer situações de confronto ou de
decisão e servem para encadear as ações e transmitir diferentes
visões do mundo.

O título Amor de Perdição remete para a História de Simão e


Teresa, que acreditam no amor eterno. O Subtítulo Memórias de
uma Família permite estabelecer a relação com aspetos
autobiográficos de Camilo.

A Frase “Amor perdeu-se amando” traduz a ideia chave da obra


refletindo a sua estrutura.

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