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AMOR DE PERDIÇÃO

A obra como crónica da mudança social


-Crítica ao ser vs. parecer.
-Critica à sociedade do séc. XIX
-Denúncia dos privilégios das classes superiores.
-Condenação dos casamentos por conveniência.
-Oposição a uma sociedade repressiva e retrógrada, associada ao poder de
instituições como a justiça e a igreja.
- Defesa da liberdade individual e da valorização dos ideais nobres.

A estrutura da obra

Introdução

-Apresentação da entrada de Simão Botelho na Cadeia da Relação do Porto,


condenado ao degredo na Índia.
-Referência sucinta à história triste de Simão, que se resume na frase «Amou,
perdeu-se e morreu amando».
-Reflexões do narrador sobre a história trágica de Simão.
Capitulo I
-Apresentação da família de Simão Botelho.
-Caracterização de Simão que aos 15 anos era rebelde e estudante em Coimbra.
Capitulo II e III
-Simão e Teresa (filha de Tadeu Albuquerque) veem-se pela primeira vez e
apaixonam-se.
-As famílias de Simão e Teresa opõem-se ao amor dos jovens, devido ao ódio entre
ambas.
-Tadeu de Albuquerque pretende casar Teresa com o seu sobrinho Baltasar.
Capitulo IV
-Teresa recusa o casamento e o pai decide encerrá-la num convento.
-Escrita de uma carta a Simão, na qual Teresa explica a sua situação.
-Simão regressa a Viseu e fica alojado em casa do ferrador João da Cruz.
Capitulo V-IX
-Breve encontro entre Teresa e Simão.
-Mariana, filha de João da Cruz, apaixona-se por Simão.
-Baltasar prepara uma emboscada a Simão e este é ferido. Simão consegue fugir
com a ajuda de João da Cruz que matam os dois criados de Baltasar.
-Tadeu decide encerrar Teresa num convento em Viseu. Simão fica em casa de
João da Cruz que devia um favor ao pai de Simão.
-Mariana cuida de Simão em casa de João da Cruz.
Capitulo X
-Simão vai ao encontro de Teresa, quando a jovem parte do convento de Viseu para
o convento de Monchique, no Porto.
-Simão mata Baltasar.
-Simão é preso.

Capitulo XI-XX
-Mariana continua ao lado de Simão, na prisão.
-É condenado à forca.
-Teresa chega ao convento de Monchique, no Porto, e toma conhecimento da
condenação de Simão.
-Doença de Teresa que anseia pela morte, apesar de Simão, através de Mariana, a
incentiva a não desistir.
-Decisão de Tadeu em trazer a filha de volta para Viseu quando sabe do estado
frágil dela, e quando sabe que Simão está também na cidade do Porto.
-Recusa de Teresa em fazer a vontade do pai.
-Assassínio de João de Cruz.
-Simão é condenado ao degredo por 10 anos e Mariana tem intenção em
acompanhá-lo.
-Suplica de Teresa para que Simão não aceite o degredo e que cumpra o tempo na
cadeia onde já esta.
-Partida de Simão para a Índia, na companhia de Mariana, no momento em que é
informado da morte de Teresa
Conclusão
◆Morte de Simão passados 10 dias e suicídio de Mariana, que se atira ao mar na
companhia do corpo do seu amado.

Simão e o narrador
O autor, Camilo Castelo Branco, criou uma história onde cruza ficção e algumas
notas biográficas. Simão Botelho e o autor/narrador partilham o mesmo destino – ambos
são presos pelo mesmo motivo: o amor.
-Titulo – Amor de Perdição→Obra de Ficção- História do amor proibido de Simão e
Teresa, culminando em desfecho trágico.
- Subtítulo - Memória de uma família→Sugestão de relato histórico e familiar
verídico - Camilo estava preso na Cadeia da Relação do Porto e encontrou, no livro de
registos de entradas na cadeia, o registo de condenação ao degredo (para a Índia) do seu tio,
Simão Botelho.
Para acentuar o caráter verídico do seu relato, o narrador recorre:
- à transcrição de documentos - à referência a datas.

Construção do herói romântico:

Simão Botelho
protagonista da história, é um jovem de personalidade forte,
temperamento sanguinário, violento e briguento. No entanto, muda de postura ao se
apaixonar pela vizinha Teresa Albuquerque.
-Estatuto nobre.
-Sentimentos fortes:
– antes de amar: rebelde, marginal e violento;
– ao amar (amor-paixão)
– apaixonado, sincero, fiel, obstinado na defesa da sua honra de amante
perseguido, excessivo no amor e no ódio; veia poética (cf. cartas escritas na prisão);
morre de amor.
-Transformação pela paixão.
Teresa de Albuquerque (heroína romântica)
protagoniza a narrativa juntamente com Simão Botelho. É uma
menina que se apaixona por Simão. Luta firmemente pelo amor perante um pai severo
e autoritário que quer casá-la com um primo.
-Estatuto nobre.
-Jovem, pura e frágil (mulher-anjo).
-Sentimentos fortes – amor-paixão (vive o amor intensamente e morre de amor);
obstinação na recusa de aceitar a autoridade paterna.

Mariana (heroína romântica)


moça pobre e do campo que nutre uma paixão não correspondida por Simão
Botelho e, por isso, faz tudo por ele, até ajudá-lo no amor proibido com Teresa
Albuquerque.
- Nobreza de sentimentos – sofre em silêncio por amor (amor não correspondido);
abnegação, generosidade, dedicação.
-Indiferença em relação à sociedade.
-Morte por amor (suicídio).

Relações entre personagens:

Simão:
-apaixonado por Teresa;
-fiel aos seus princípios.

Teresa: Mariana:
- apaixonada por Simão; -apaixonada por Simão;
- corajosa perante o seu pai. -cúmplice dos dois amantes

Família Botelho:
- Domingos Botelho: Oponente da relação entre o filho e Teresa, visto que o pai desta é seu
inimigo.
-D. Rita Preciosa: Maternal e preocupada com o filho, é incapaz de se opor à decisão do
marido.
- Irmãos de Simão: Indiferentes ao irmão, sendo que apenas Rita (tia que acolheu Camilo
após a morte da mãe) se preocupa com Simão.

Família Albuquerque:
- Tadeu de Albuquerque: Oponente da relação entre a sua filha e simão, visto que o pai
deste é seu inimigo.
-Teresa Albuquerque: jovem de 15 anos, rica, herdeira e bonita, revela uma força de
carácter excepcional para a época, quando se opõe às decisões do seu pai.
- Baltasar Coutinho: convencido, prepotente e egoísta, não se conforma de a prima o ter
ignorado.

Outras personagens:
-João Cruz: Protetor de Simão, por dívida de gratidão para com o pai dele,
Domingos Botelho. pai de Mariana, é um homem equilibrado e sensato. O único que
apresenta traços realistas na obra. Ele é ferreiro, mas torna-se assassino após uma
briga.
-Mendiga: intermediária entre os amantes, entregando e recolhendo as cartas.
-Corregedor: sensível à coragem de Simão, troca a pena para o degredo, em vez da
forca.

Amor-paixão:
-O amor-paixão se concretiza na morte dos amantes, que enfrentam a violência
repressiva das leis familiares e religiosas;
-O amor é elevado a um patamar sagrado, em que há a redenção pelo sofrimento e
o perdão dos pecados;
-O amor transpõe barreiras físicas, instituindo-se para além da morte.
-O destino domina esta personagens, incapazes de concretizarem os seus
caminhos individuais.
O amor que une Simão e Teresa leva a que os dois jovens se comportem de forma
violadora, desafiando os limites sociais e familiares impostos. No entanto, é possível
escapar ao Destino implacável que se abate sobre estas personagens e que, ao mesmo
tempo, eleva este amor à dimensão espiritual.

Linguagem e estilo
O narrador:
Como já foi visto anteriormente, o titulo e o subtítulo sugerem duas dimensões – a
ficcional e a memorialista – e desta forma destacam-se dois tipos de narrador, o narrador-
autor e o narrador enquanto porta-voz da ficção.
O narrador-autor evidencia-se em dois momentos:
→na introdução fala na primeira pessoa (“folheando [...] li”)
→nas linhas finais da conclusão, quando identifica Manuel Botelho como seu pai.
O narrador da ficção tem as suas marcas presentes quando:
→narra com evidente comoção a história dos amores trágicos;
→se comove com as ações das personagens ou quando as elogia;
→tece comentários pessoais;
→interpela o leitor com a intenção de suscitar a sua reflexão.
O narrador, ora é relator, ora observador critico. Intervém ao longo da obra através dos
comentários, parando o relato para tecer considerações pessoais.

Diálogos:
Nota-se que a preocupação de Camilo em conseguir o efeito de verdade através dos
diálogos que marcam os momentos quer de tensão, quer de paixão, quer de sofrimento
amoroso.
Os diálogos são também instrumentos únicos de descodificação das características
especificas de determinado grupo social, nomeadamente nobreza/burguesia (com registo
cuidado) e do povo (com a linguagem coloquial e familiar).

Concentração temporal da ação:

Introdução: “Amou”
-Referência a dados biográficos de Camilo.
-Apresentação global do infortúnio de Simão
—----»
Desenvolvimento: “perdeu-se ”
-Amor de Simão e Teresa – correspondido, mas proibido.
-Amor de Mariana por Simão – não correspondido.
-Assassínio de Baltazar Coutinho.
-Condenação de Simão ao degredo.
-Ida de Teresa para o convento.
-Morte de Teresa
—-----------»
Conclusão: “morreu amando”
Morte de Simão.
Suicídio de Mariana.

RESUMO

A história passa-se em Viseu, cidade localizada no centro de Portugal. Simão


Botelho e Teresa Albuquerque, moram em casas vizinhas e se apaixonam e iniciam uma
relação amorosa através das janelas. Mas essa paixão encontra a oposição das famílias
Botelho e Albuquerque, que eram declaradamente inimigas. A rivalidade deu-se após o juiz
Domingos Botelho proferir uma sentença desfavorável à Família Albuquerque.
Assim que a afeição dos dois é percebida, o pai de Teresa trata de arranjar o
casamento da moça com seu primo Baltasar Coutinho. Contudo, ela se recusa e o pai
ameaça mandá-la para o convento de Monchique, no Porto. Simultaneamente, Simão é
mandado pelo pai para estudar em Coimbra, também no intuito de pôr um fim no romance
do filho com Teresa.
Sentindo-se desprezado e ofendido, Baltasar junta-se com tio para tentar persuadir
Teresa a esquecer Simão e casar-se com ele. Mesmo com várias tentativas, tanto do pai
quanto do primo, ela continua irredutível e recusa-se a casar com ele. Com medo de ser
mandada para o convento, Teresa diz que terminou o romance com Simão após sua partida
para Coimbra.
Mas Simão retorna a Viseu e com a ajuda de Mariana troca correspondência com
Teresa clandestinamente. Em um dia, Simão resolve encontrar-se com Teresa em sua
casa,
aproveitando o momento de distração durante festa na residência da família Albuquerque,
mas são flagrados por Baltasar. Nesse conflito, dois criados de Baltasar são mortos e
Simão
sai ferido. Simão busca refúgio na casa de João da Cruz, Mariana torna-se a sua
enfermeira, enquanto Teresa é mandada para o convento na cidade de Viseu.
Mariana então apaixonase por Simão, mas não é correspondia pois todo o amor do
rapaz era de Teresa. Contudo, mesmo apaixonada por ele, percebe a dificuldade do casal e
resolve ajudá-los. Mariana faz uma visita ao convento e Teresa comunica que será enviada
para o convento na cidade do Porto. Ao saber do fato, Simão decide raptar Teresa, mas na
tentativa defronta-se com Baltasar e nesse conflito o atinge com um tiro que o leva à morte.
Então, João da Cruz dá cobertura a fuga de Simão e o incentiva a fugir, no entanto,
como um personagem heroico, ele recusa e entrega-se à prisão, sendo depois condenado à
morte. Entretanto, com a interferência de seu pai Domingos, a sua pena é convertida ao
degredo nas Índias por 10 anos.
Para Simão era vergonha e humilhação, mas para Mariana era a esperança de que
seu amor fosse correspondido. Já Teresa adoece, definhando de tristeza e magoa. A jovem
tinha perdido a vontade de viver. No dia da partida do amado, pede que fique no mirante do
convento para ver o navio que levará Simão.
Quando embarca, Simão ver Teresa e em um aceno de adeus, ela morre de
desgosto. Após nove dias no mar, sofrendo pela amada, Simão também adoece e morre.
Quando o corpo de Simão é jogado ao mar, Mariana não suporta a dor da perda do amado
e joga-se abraçando o corpo enrolado no lençol. Juntos eles afundam no oceano.
Ironicamente, na água onde Simão e Mariana afundam, papéis boiam. São as cartas de
amor entre Simão e Teresa.

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