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Ficha Informativa

Tema: Amor de Perdição - Sistematização

2019-2020 Professora: Áurea Moreira

Sugestão biográfica (Simão e narrador) e construção do herói romântico

A novela foi escrita em quinze dias, enquanto o autor estava preso na Cadeia da Relação do Porto. Aí,
Camilo encontrou o registo da condenação ao degredo de um tio, Simão Botelho. A partir deste facto, o
autor criou uma história onde cruza ficção e algumas notas biográficas.
Assim, se compreende o título Amor de Perdição e o subtítulo Memórias de uma Família.
Na obra, coexistem o narrador-autor (narrador autodiegético), percetível na Introdução, em momentos
pontuais dos capítulos XII, XIII e na Conclusão, e o narrador-produtor de ficção (narrador heterodiegético).
Ao longo da obra, o protagonista é caracterizado como herói romântico: no início, é apresentado como um
jovem forte, solitário, rebelde e irrefletido; por influência do poder transfigurador do amor, Simão modifica-
se, mas, porque se sente injustiçado, quando mata Baltasar e é condenado ao degredo, acaba por se
revoltar contra a família e contra a sociedade.
Quanto à focalização, é possível encontrar:
✓focalização externa: referência a acontecimentos, situações, cartas, descrição de espaços e de
personagens;
✓focalização omnisciente: transmissão dos pensamentos e das ideias das personagens;

✓focalização interventiva: presença de opiniões e de comentários do narrador e apelo à sensibilidade do


leitor.

A obra como crónica de mudança social


Aspetos criticados em Amor de Perdição:
✓a aristocracia como símbolo de uma sociedade retrógrada e decadente materializada na oposição
preconceituosa das famílias de Teresa e Simão ao amor, conduzindo-os à morte;
✓a podridão da vida conventual: o convento de Viseu é descrito como um mundo de intrigas e de vícios,
de maldade e de falsas virtudes;
✓a prepotência e arbitrariedade da justiça, visível na demonstração da influência e do poder do pai de
Simão quando este é aconselhado a fugir pelas autoridades;
✓a corrupção no exército presente na interferência de Domingos Botelho no caso do filho Manuel
Botelho.

Relação entre personagens


Simão Botelho é jovem bonito e viril. É o típico herói romântico: rebelde, intempestivo, solitário,
transformado pelo amor. É uma pessoa digna e honrada, corajosa e determinada, que acredita no amor
eterno.
Teresa Albuquerque é jovem bonita, de origem aristocrática e rica. É apaixonada por Simão, muito
sensível e acredita no amor eterno. Tem personalidade forte e determinada – recusa casar com Baltasar –,
revelando a sua coragem – mantém a sua vontade, enfrentando a tirania do pai.

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De origem popular, Mariana é jovem e bonita (mais bonita do que Teresa), desembaraçada e decidida.
Acredita no amor eterno e é apaixonada por Simão, revelando-se abnegada e sofredora – ama Simão e
acompanha-o sempre, mesmo sabendo que o jovem ama Teresa, suicidando-se quando Simão morre.
Revela-se uma personagem forte e determinada.
João da Cruz é uma personagem do povo, um castiço rude e violento, mas muito corajoso, grato e
bondoso. É amigo de Simão.
Baltasar é orgulhoso, prepotente, insensível e arrogante. Mesmo sabendo que Teresa ama Simão, decide
levar o seu desejo de a desposar avante.
Tadeu de Albuquerque e Domingos Botelho são orgulhosos, preconceituosos, prepotentes e inflexíveis,
revelando- se insensíveis ao amor arrebatado de Teresa e Simão, cedendo perante todas as convenções
sociais.

Amor-paixão
O amor em Amor de Perdição é sofrimento. Teresa e Simão vivem um amor impossível e proibido, no
entanto, apesar dos obstáculos impostos pela família, não desistem da sua felicidade. As adversidades
parecem até dar-lhes mais força para lutarem pelos seus objetivos.
Como creem no amor eterno, encaram a morte/transcendência como superação das dificuldades da vida,
achando que encontrarão nela a felicidade que não conseguiram alcançar em vida. A morte é encarada
como salvação e única saída para o sofrimento que vivem, ou seja, para Simão e Teresa só a morte
permitirá a concretização do seu amor.
Nas cartas que os dois apaixonados trocam pode encontrar-se o desenvolvimento do conceito de amor
eterno.
Para além de estas funcionarem como o verdadeiro diálogo entre os amantes, cumprem outras funções:
✓são um meio de comunicação entre os amantes;

✓traduzem uma transgressão em relação às normas impostas;

✓completam a caracterização das personagens, evidenciando a sua dimensão de heróis românticos;


✓relatam acontecimentos;

✓refletem as memórias dos apaixonados;


✓comunicam decisões;

✓veiculam promessas e sentimentos;


✓revelam projetos;

✓expressam apelos e desabafos;


✓constituem momentos de prosa poética.

Estrutura da obra
A obra é composta por Introdução, vinte capítulos e Conclusão e pode resumir-se na seguinte sentença:
“Amou, perdeu-se e morreu amando”.
AMOU

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AMOU PERDEU-SE MORREU AMANDO
Simão, apesar dos Na sequência desta paixão Condenado ao degredo, Simão
ódios familiares que arrebatadora, Simão é expulso de acaba por morrer durante a viagem,
separam as famílias casa dos seus pais e acaba por depois de ter conhecimento da
Botelho e matar Baltasar, primo e pretendente morte da sua amada.
Albuquerque, de Teresa, que estava encerrada Os dois apaixonados acreditam no
apaixona-se por num convento, pois não aceitava o amor eterno e, por este motivo,
Teresa. casamento com Baltasar que o pai veem na morte a possibilidade de
lhe pretendia impor. uma união que não conseguiram
obter em vida.

Diálogos
A função dos diálogos em Amor de Perdição é:
✓ esclarecer situações que envolvem as personagens;
✓ transmitir informações relevantes relativas às opções e atitudes das personagens;

✓ traduzir os sentimentos das personagens;

✓ estabelecer confrontos entre diferentes pontos de vista.

Concentração temporal da ação


Concentração temporal da ação
Os acontecimentos desenrolam-se de forma linear e cronológica, num ritmo rápido. Os diálogos, a ausência
de análises psicológicas, a valorização da ação em detrimento da reflexão e o discurso epistolar aceleram o
processo narrativo.
Na ação, que começa em 1779 e termina em 1807, os acontecimentos sucedem-se por ordem cronológica.
A intriga secundária, referências à vida de Manuel Botelho, contrasta com os valores apontados na intriga
principal.

Capítulo I:
analepse que apresenta antecedentes da ação.

A ação decorre durante seis anos:


1801 – Simão tem quinze anos.
1803 – Teresa escreve uma carta a Simão, dizendo-lhe que o seu pai a ameaça com a ida para o
convento.
1084 – Simão tem dezoito anos quando é preso.
1805-1807 – Simão encontra-se preso (20 meses na prisão e decorrem mais 6 meses antes de
partir para a Índia, degredado.)
17 de março de 1807 – Simão parte para a Índia.
28 de março de 1807 – Simão morre.

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