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Ficha Informativa

Português
Tema: Lusíadas - Reflexões do Poeta

Professora: Áurea Moreira

REFLEXÕES DO POETA - CANTO VIII

Vasco da Gama permanece nas naus e decide não desembarcar, visto que já não confia no ambicioso
Catual, pois já o traíra, era muito ambicioso («cobiçoso»), corrupto («corrompido») e «pouco nobre». Por
outro lado, Gama espera vir a descobrir a verdade com o tempo, daí também a sua decisão.

Ora, esta referência ao sucedido a Vasco da Gama é o exemplo que serve de ponto de partida para a
reflexão do poeta, que adverte, a partir do verso 5 da estância 96, para o efeito corruptor do dinheiro, que
tanto sujeita os ricos como os pobres.

Na estância 97, o poeta apresenta três casos através dos quais pretende provar a sua tese enunciada na
estância anterior, isto é, que exemplificam o poder negativo dos bens materiais – dinheiro e ouro -, que
levam à adoção de atitudes inesperadas.

O primeiro exemplo refere-se ao rei da Trácia, que assassinou Polidoro, filho de Príamo, rei de Troia, com o
único fito de lhe roubar o ouro. De facto, para o salvar, quando a cidade estava prestes a cair em poder dos
Gregos, o rei enviou-o com ouro ao rei da Trácia que, todavia, se apoderou do ouro e o assassinou.

O segundo caso refere-se a Dánae, filha de Acrísio, rei de Argos (Grécia), que foi encerrada numa torre
para que não procriasse e, deste modo, fosse anulada uma profecia de um oráculo que anunciou a morte
do soberano às mãos de um neto. Porém, Júpiter metamorfoseou-se em chuva de ouro, introduziu-se na
torre e engravidou-a. Desse ato nasceu Perseu, que, concretizando a profecia, assassinou o avô.

O último exemplo alude a Tarpeia, uma jovem romana que, na esperança de obter anéis de ouro dos
Sabinos que sitiavam Roma, lhes abriu as portas da cidade. No entanto, os inimigos não a pouparam,
esmagando-a sob as joias e os escudos, tendo assim ficado soterrada.

Nas estâncias 98 e 99, o poeta prossegue a enumeração dos efeitos negativos do dinheiro:

a) corrompe o pobre e o rico (estância 96);


b) leva ao assassínio (exemplo do rei da Trácia);
c) conduz à traição (est. 98, v. 1): os soldados rendem-se quando as suas fortalezas ainda se encontram
abastecidas;
d) conduz à traição e à falsidade entre os amigos;
e) transforma o mais nobre em vilão (est. 98, vv. 3 a 6): a ambição material pode levar nobres, capitães
ou virgens a renderem-se ao seu poder, mesmo tendo consciência de que a sua honra ficará
manchada;
f) corrompe as ciências, os juízes e as consciências, levando-as a agir contra os seus princípios morais e
culturais (est. 98, vv. 7-8);
g) distorce / perverte a interpretação dos textos (est. 99, vv. 1-2);
h) manipula as leis e a justiça, que se aplicam arbitrariamente (est. 99, v. 2);
i) fomenta o perjúrio (est. 99, v. 3);
j) fomenta a tirania nos reis (est. 99, v. 4);
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k) corrompe os membros do clero, ainda que sob uma capa de virtude.

Em síntese, os vícios provocados pela ambição são os seguintes:

− a traição (“Faz tredores e falsos os amigos”);


− a corrupção (“Este corrompe virginais purezas”);
− a arbitrariedade (“Este interpreta mais que subtilmente / Os textos…”);
− a mentira / o perjúrio (“Este causa os perjúrios entre a gente”);
− a tirania (“E mil vezes [hipérbole] tiranos torna os Reis”).

Relativamente à estrutura interna, é possível identificar dois momentos:

1.º momento (est. 96): apresentação da «tese» - o poder corruptivo do dinheiro, a partir do sucedido com
Vasco da Gama.

2.º momento (est. 97 a 99): os efeitos negativos da ambição pelo dinheiro / ouro.

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