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UNIVERSIDADE TÉCNICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

Disciplina: Ética e Deontologia profissional

Tema:

O ABUSO DO PODER PELOS ÓRGÃOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA TENDO


EM VISTA A ÉTICA E DEONTOLOGIA PROFISSIONAL

Discente: Manuela Saugina Roberto Fernando

Docente:

Maputo, Novembro de 2023


Índice
1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................1

1.1. Objectivo Geral.................................................................................................................1

1.1.1. Objectivos Específicos:.................................................................................................1

2. UMA DELIMITAÇÃO DO CONCEITO DA ÉTICA.........................................................2

3. ÉTICA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.......................................................................3

3.1. Princípios éticos da administração pública.......................................................................4

3.1.1. Princípio do Serviço Público.........................................................................................4

3.1.2. Princípio da Legalidade.................................................................................................4

3.1.3. Princípio da Justiça e da Imparcialidade.......................................................................4

3.1.4. Princípio da Igualdade...................................................................................................5

3.1.5. Princípio da Proporcionalidade.....................................................................................5

3.1.6. Princípio da Colaboração e da Boa Fé..........................................................................5

3.1.7. Princípio da Informação e da Qualidade.......................................................................5

3.1.8. Princípio Da Lealdade...................................................................................................5

4. UMA DISCUSSÃO À LUZ DA ÉTICA..............................................................................5

5. CORRUPÇÃO E ÉTICA EM MOÇAMBIQUE..................................................................6

5.1. Resultados ou Causas da Corrupção.................................................................................7

6. CONCLUSÃO....................................................................................................................10

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................11

7.1. Sites.................................................................................................................................11
1. INTRODUÇÃO
No presente trabalho temos como tema de pesquisa “o abuso do poder pelos órgãos da
Administração Pública tendo em vista a ética e deontologia profissional”.

O problema da ética no serviço público é tão antigo quanto o próprio governo. O problema pode
ser antigo, mas não pode ser considerado resolvido, sendo necessário revisitá-lo
permanentemente tanto em busca de soluções mais adequadas à realidade atual quanto para
discutir o “deve ser”, o ideal, o utópico (mas não impossível) em Administração Pública.

Em primeiro lugar, pode-se compreender a Administração Pública como o braço executivo do


governo, a estrutura que permite formular, implantar e executar as políticas públicas por este
definido; em seguida, é possível analisá-la sob a perspectiva da prática profissional de indivíduos
que se envolvem cotidianamente nas atividades organizadas pela estrutura supracitada; por fim,
ela pode ser trabalhada como um campo de pesquisa e de produção de conhecimento sobre os
dois primeiros elementos.

É preciso perceber que um acto é corrupto se um membro de uma certa organização ou


instituição utiliza-se da sua posição, seus direitos de tomar decisões e seu acesso a informações
ou algum outro recurso restrito para obter uma vantagem para si ou para terceira pessoa
recebendo em troca uma vantagem económica ou pessoal. Quando o acto corrupto envolve
cargos de alto nível, maior será o seu impacto e por consequência, maiores os incentivos para a
ocorrência de “transbordamento” espalhando a corrupção para níveis inferiores, ou
possibilitando o surgimento de outras lideranças como frequentemente se observa no jogo
político.

1.1. Objectivo Geral


 Falar da ética na administração pública

1.1.1. Objectivos Específicos:


 Compreender e explicar os valores éticos na tomada de decisão;
 Explicar a importância dos princípios éticos da administração pública e os seus valores e;
 Discutir sobre a corrupção e ética em moçambique.

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2. UMA DELIMITAÇÃO DO CONCEITO DA ÉTICA

Falar de ética é abandonar a pretensão da neutralidade, pois o conceito exige uma tomada de
posição por parte do estudioso, que não apenas revela sua visão de como o mundo deveria ser,
mas também os valores que ele esposa e defende. Sendo um tema notoriamente difícil de se
abordar, a ética deve ser compreendida à luz da filosofia, e discutida dentro da realidade do
campo de conhecimento com o qual se trabalha. Esta seção examina inicialmente o conceito de
ética para, em seguida, partir para uma definição que norteará as discussões subsequentes.

Aristóteles, em sua “Ética a Nicómaco”, afirmou que toda arte e toda investigação buscam um
bem, que é a tendência para a qual todas as coisas convergem; esse bem é a finalidade suprema,
o “sumo bem”, para o qual, segundo ele, a ciência política (que pode discuti-lo para todas as
nações e cidades) se mostra como a discussão adequada (ARISTÓTELES, 1987). A felicidade é
identificada como esse bem supremo, e Aristóteles a discute a fundo, considerando-a o único
bem que é desejável por si mesmo, o único que não contribui para outras coisas, o único que é
bom em si. Dessa maneira, a ética é o conhecimento e a prática do bem, da felicidade que, uma
vez alcançada, leva o homem a ser bom e a agir bem. Desde que Aristóteles produziu essa
reflexão, verdadeiro “marco zero” da ética, inúmeros pensadores se debruçaram sobre o
problema e produziram suas próprias ideias, e não é tarefa deste artigo produzir uma visão,
mesmo que sumária, da história dessas reflexões. Mas era necessário recuperá-la, haja vista que a
concepção aristotélica é útil para trilhar o caminho que liga a ética à Administração Pública.

Parizeau (2003) expande a discussão ao tratar do conceito de ética aplicada, na qual as


interrogações e questionamentos morais são relacionados a esferas específicas da vida humana.
Uma ética da Administração Pública pertence, forçosamente, a esse reino das éticas aplicadas, na
medida em que é preciso definir princípios e normas de ação que norteiem o ser humano nessa
esfera da vida, embora não necessariamente o faça em outra.

Para essa autora, as éticas aplicadas se referem a contextos específicos nos quais se desenvolvem
análises de consequências e decisões são tomadas. Ou seja, trata-se de uma ética circunscrita na
realidade, que abandona quaisquer pretensões de universalidade para focalizar em problemas
relevantes para a área à qual se aplica, mas não necessariamente às outras. Três características
das éticas aplicadas merecem destaque:

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a) Buscam responder problemas práticos e concretos relacionados a práticas profissionais e
sociais;
b) Exigem um diálogo multidisciplinar para poderem superar o paroquialismo e as
compartimentalizações da realidade;
c) Apresentam-se sob a forma de práticas e discursos que interagem fortemente.

A autora ainda observa, com base na primeira dessas características, que as éticas aplicadas se
opõem ao modelo dedutivista da filosofia moral – ou seja, os princípios e normas de uma ética
aplicada são produzidos de maneira indutiva, por meio de casos particulares, de situações
concretas específicas e de decisões tomadas; uma vez aplicados a outros casos e situações,
podem aspirar ao status de guias de ação para a área ou esfera da vida ao qual se aplicam.

Como não se tem a pretensão de esgotar a discussão sobre o conceito de ética, pode-se agora
apresentar uma definição própria, útil para os propósitos deste estudo: a ética é a reflexão
sistemática e rigorosa sobre os valores, as normas de conduta e os princípios morais que
norteiam a ação do ser humano junto aos seus semelhantes. A ética se aplica a toda esfera da
vida humana, a cada tipo de ação, dentro do quadro mais amplo dos valores morais da sociedade;
ou seja, não deveria haver tensão entre estes no sentido geral e sua aplicação a problemas
específicos, como a bioética, a administração ou o direito. Assim, a ética é uma reflexão sobre
como deveria ser o agir humano conforme uma determinada estrutura de valores.

3. ÉTICA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A Administração Pública ao zelar pelos interesses de cada cidadão, zela pelos interesses gerais
da sociedade e seus valores e assume um compromisso social que lhe aporta responsabilidades:

 De carácter organizacional perante o cidadão-contribuinte;

 De carácter institucional perante o cidadão-eleitor; e

 De carácter contratual perante o cidadão-societário.

A Administração Pública é normalmente acusada de morosidade, incompetência,


desarticulação e despesismo.

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Melhorar a Administração Pública é a questão que está presente nas agendas governamentais.

Como?
 Abrir mais canais para acesso à informação.

 Formação em atendimento de público e maior solidariedade entre instituições.

 Maior competência técnica, espírito demissão do prestador de serviço público, respeito


pela lei e pelo bem colectivo.

 O mais importante é a ética de quem presta o serviço, o respeito por regras e valores.

 Postura maniqueísta da sociedade, culpando a administração pública por tudo o que é


errado. Deverá haver consciencialização dos direitos e deveres de cidadania, quer por
parte dos funcionários, quer por parte dos utentes.

 Melhor desempenho e menos despesa.

Solução: cortar nas despesas com pessoal e reduzir o nº de efectivos.

3.1. Princípios éticos da administração pública


3.1.1. Princípio do Serviço Público

Os funcionários encontram-se ao serviço exclusivo da comunidade e dos cidadãos, prevalecendo


sempre o interesse público sobre os interesses particulares ou de grupo.

3.1.2. Princípio da Legalidade

Os funcionários actuam em conformidade com os princípios constitucionais e de acordo com a


lei e o direito.

3.1.3. Princípio da Justiça e da Imparcialidade

Os funcionários, no exercício da sua actividade, devem tratar de forma justa e imparcial todos os
cidadãos, actuando segundo rigorosos princípios de neutralidade.

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3.1.4. Princípio da Igualdade

Os funcionários não podem beneficiar ou prejudicar qualquer cidadão em função da sua


ascendência, sexo, raça, língua, convicções políticas, ideológicas ou religiosas, situação
económica ou condição social.

3.1.5. Princípio da Proporcionalidade

Os funcionários, no exercício da sua actividade, só podem exigir aos cidadãos o indispensável à


realização da actividade administrativa.

3.1.6. Princípio da Colaboração e da Boa Fé

Os funcionários, no exercício da sua actividade, devem colaborar com os cidadãos, segundo o


princípio da Boa Fé, tendo em vista a realização do interesse da comunidade e fomentar a sua
participação na realização da actividade administrativa.

3.1.7. Princípio da Informação e da Qualidade

Os funcionários devem prestar informações e/ou esclarecimentos de forma clara, simples, cortês
e rápida.

3.1.8. Princípio Da Lealdade

Os funcionários, no exercício da sua actividade, devem agir de forma leal, solidária e cooperante.

4. UMA DISCUSSÃO À LUZ DA ÉTICA

A relação entre a ética e a Administração Pública pode ser compreendida, inicialmente, a partir
da discussão de Cortina e Martínez (2005) sobre os usos da moral como adjetivo e substantivo.

Uma ética (substantivo) da Administração Pública poderia ser concebida como a reflexão moral
sobre como deve ser a prática administrativa, ao passo que a Administração Pública ética
(adjetivo) seria uma qualificação dada à prática, conforme a reflexão de um agente que analise e
procure compreender a situação. Enquanto a primeira teria um caráter geral, a segunda poderia
ser simplesmente uma qualificação concedida por alguém, aplicada a uma situação específica.

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Não há tensão entre esses aspectos; códigos de ética para os servidores públicos, por exemplo,
personificam a busca por princípios de conduta moral que devem basear a prática profissional ao
mesmo tempo que permitem uma análise dessa prática e sua posterior adjetivação como “ética”
ou não.

Rawls (2005) fornece uma boa justificativa para a importância de tal análise, ao discutir os
elementos que nortearam a transformação da filosofia moral clássica em sua congênere moderna.
De acordo com ele, a Reforma Protestante, que gerou diferentes pluralismos, o desenvolvimento
da ciência moderna (especialmente da astronomia e do cálculo) e o Estado moderno, substituindo
as monarquias absolutistas e centralizadas dotadas de poder legitimado divinamente, uniram-se
em relações complexas que ajudam a compreender por que se mudou o foco da reflexão
filosófica sobre a moral. É interessante observar que Procopiuck (2013) considera o surgimento
do Estado centralizado e unificado sob uma monarquia absoluta uma das vertentes que originam
a moderna Administração Pública.

5. CORRUPÇÃO E ÉTICA EM MOÇAMBIQUE

A corrupção está a ganhar terreno em todos os sectores de actividade na Função pública, em


Moçambique, revela a Comissão Central de Ética Pública.

Segundo Sinai Nhatitima, membro da Comissão Central de Ética Pública, denuncia também o
incumprimento da lei de probidade pública, em vigor desde 2014.

“Com toda a legislação que existe, com as instituições que já estão criadas, para estancar este
mal, mas a verdade é que estamos ainda aquém, daquilo que nós desejaríamos que a
nossa realidade fosse”.

E mais, no dizer deste membro da Comissão central de Ética Pública, que fazia estas denúncias e
constatações durante uma conferência sobre ética e governação, ele disse que "o que é preciso
mudar, quando se fala de combate à corrupção, quem tem que combater a corrupção é o servidor
público."

Ainda segundo Sinai Nhatitima, membro da Comissão Central de Ética Pública "podemos passar
à fase de exigir a responsabilidade de quem não cumpre a própria lei que prevê estas situações."

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5.1. Resultados ou Causas da Corrupção

Depois da independência a obrigação dos colonialistas em abandonar o país deixando suas


riquezas obrigou ao uso de contentores para salvar os seus pertences. Neste período inicia-se o
processo de corrupção dos funcionários moçambicanos (para deixar passar os tais contentores) e
que foi somente adopção do comportamento de funcionários do aparelho colonial. Muitas casas
construídas nas nossas cidades foram-no com dinheiro obtido pela corrupção (Mendes, 1994).

Com a criação das lojas do povo houve:

 Organismos que se abasteceram sem pagar: Desenvolvimento da corrupção, nepotismo,


formação de indivíduos competentes para manobras fraudulentas;
 Formação de quadros economistas honestos (Mendes, 1994).

No Livro da Ética Nicómaquea, Aristóteles apresenta um esquema ético-social da relação entre a


virtude pessoal e o bem-estar coletivo ou o bem público.

Que os homens bons são virtuosos, e que ser virtuoso quer dizer “estar em harmonia consigo
mesmo”, “querer sempre as mesmas coisas”, não ter uma vontade volúvel ou caprichosa, e
desejar ao mesmo tempo o que convém - e se deve- a si mesmo e o que convém - e se deve - aos
demais.

Que os homens maus, ao contrário, são viciosos que nem estão em harmonia consigo mesmos
pelo traço mudadiço de sua vontade, nem podem tê-la com os demais ao antepor
sistematicamente seus próprios interesses particulares do momento ao que se deve aos demais (e
a si mesmo no futuro).

Todos são corruptíveis – não corruptos ou depravados inatos –, crendo que a mais realista
maneira de desenhar instituições duradouras e à prova de corruptos e vilões (Hume).

Quatro componentes de uma estratégia anti- corrupção são:

 A aplicação da lei;
 A prevenção;
 A criação de instituições e;

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 As campanhas de consciencialização Existência de Códigos de Conduta ou de Ética.

Razões porque falham os programas anti- corrupção:

 Falta de vontade política;


 Falta de recursos que sustentem a reforma;
 Ambições e promessas irrealistas;
 Reformas não coordenadas;
 Reformas que tem muito enfoque na repressão
 Estratégias em que o alvo é apenas a pequena corrupção e não a grande corrupção;
 Reformas que não contemplam ganhos imediatos (quick wins);
 Reformas que não são institucionalizadas.

Durante o regime autoritário em Moçambique, iniciado em 1975, a pequena corrupção era


comum. Mas não era tolerada (liderança política punia severamente aqueles que abusavam das
suas posições no Estado) com execução de “xiconhocas”. Isso promovia altos standards morais.
Estados autoritários tendem a limitar a actividade criminal através da regulação excessiva
(Moran, 2000).

A praga da corrupção só será definitivamente erradicada quando o último corrupto houver morto
estrangulado com as tripas do último sacerdote pedófilo (Jean Meslier por Atahualpa Fernandez,
s/d).

Nos últimos anos, e sobretudo desde a viragem para a democracia, Moçambique tem aumentado
a sua reputação por causa da corrupção que percorre todos os sectores da sociedade e pelo facto
de que, apesar de ser uma realidade dramática, os doadores não terem ainda endurecido a sua
linguagem visando uma maior pressão sobre governantes.

A percepção geral sobre os altos índices de corrupção em Moçambique foi já reportada em


diversas abordagens. No anterior regime autoritário, a corrupção não era tolerada e a liderança
política era vigorosa na punição dos que abusavam do bem público, possibilitando também altos
níveis morais de condenação, mesmo apesar dos fracos salários na função pública e uma carência
generalizada de bens de consumo de primeira necessidade. Mas a democratização e liberalização

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não foram acompanhadas de um redesenho institucional efectivo de modo a se acautelar o
desenvolvimento da corrupção. Quando falamos em redesenho institucional, referimo-nos à
introdução e aplicação prática de instituições que poderiam contribuir para a implantação da
transparência num quadro político diferente, como sejam as instituições de accountability.

A ausência de uma cultura de prestação de contas por parte do Governo está, no entanto, a mudar
paulatinamente a percepção dos doadores sobre Moçambique, apesar de que a apreciação relativa
ao desempenho macroeconómico e dos programas de alívio à pobreza se mantém mais ou menos
a mesma.

A corrupção baseia –se em lógicas específicas calcadas em incentivos negativos (ameaças,


penalidades) ou positivos (materiais como o suborno ou imateriais baseados em laços pessoais).
A corrupção em Moçambique não ocorre somente no sector público, ela faz-se sentir também no
sector privado na medida que os agentes privados fazem o uso dos recursos públicos e se
beneficiam das suas relações privilegiadas (é só ver que são empresários de sucesso em
Moçambique) com os membros dos três poderes (legislativo, judicial e executivo) para alcançar
seus objectivos e escapar da punição. A democracia não se compadece com este tipo de relações
assimétricas. Existem em Moçambique condições propícias para ocorrência da corrupção
nomeadamente: elevada burocracia, o sistema judiciário lento, pouco eficiente e acorrentado ao
poder executivo, o elevado poder discricionário na formulação de implementações políticas e os
baixos salários no sector público. Mas na verdade o que me preocupa não é a abordagem
epistemológica da corrupção, mas sim a forma como o discurso de corrupção é enaltecida pelos
dirigentes políticos.

O presidente da República, desde que subiu ao poder sempre falou do combate a corrupção,
aliás, no primeiro mandato o discurso era: combate a corrupção, burocratismo, espírito de deixa
andar e pobreza absoluta. No segundo mandato o discurso é simplesmente combate a pobreza.
Porque esta mudança? Será estratégia política ou o presidente observou que não é tarefa fácil
combater a corrupção em Moçambique devido a conflitos de interesses dos dirigentes políticos?
É um dado relevante que a corrupção não baixou pelo contrário aumentou segundo dados da
Transparência Internacional. Neste momento a corrupção do alto nível é que está em voga, onde
os dirigentes públicos criam empresas privadas que vencem licitações, ou seja, um ministro cria

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uma empresa de prestação de serviços no ministério onde dirige. Existe ainda o aproveitamento
económico dos recursos naturais recentemente descobertos em Moçambique através de parcerias
entre os megaprojectos e as empresas dos dirigentes políticos ou então a recepção das comissões
para facilitar a entrada de empresas estrangeiras que exploram os recursos naturais, razão pela
qual os contratos com os megaprojectos não são tornados públicos.

6. CONCLUSÃO
Como qualquer área do conhecimento, a Administração Pública envolve questões éticas, que
dizem respeito não somente às suas ações e resultados, mas também aos princípios que a
governam. Essas questões são tangenciadas pelos modelos que foram produzidos ao longo do
tempo para lidar com o desafio de administrar as ações governamentais na busca do governo,
mas pode-se afirmar que o tratamento dado a elas por esses modelos é insatisfatório e exige
maior aprofundamento.

As diferentes teorias éticas construídas ao longo de mais de vinte séculos de reflexão moral
podem ajudar a superar este problema. Estudos mais aprofundados sobre os fundamentos dos
modelos de Administração Pública e sobre as consequências de sua adoção, orientados por uma
perspectiva ética, devem ser empreendidos para que se possa efetivamente chegar a uma
conclusão a respeito de como se pode equacionar o problema de bem administrar as atividades
públicas, isto é, de agir de acordo com as necessidades e interesses de uma população que clama
por serviços públicos. É inegável que a Administração Pública lida com problemas de fundo
moral; como esses problemas são trabalhados é, por outro lado, uma questão ainda em aberto.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1987. (Coleção Os
Pensadores, vol. II).
 CORTINA, Adela; MARTÍNEZ, Emilio. Ética. São Paulo: Loyola, 2005.DAVIS, Nancy
(Ann). Contemporary deontology. In: SINGER, Peter (Org.). A companionto ethics.
Oxford: Blackwell, 1997. p. 205 – 218.
 PARIZEAU, Marie-Helène. Ética aplicada: as relações entre a filosofia moral e a ética
aplicada. In: CANTO-SPERBER, Monique (Org.). Dicionário de ética e filosofia moral.
São Leopoldo: Unisinos, 2003. vol. 1, p. 595 – 600
 PROCOPIUCK, Mario. Políticas públicas e fundamentos da administração pública:
análise e avaliação, governança e redes de políticas, administração judiciária. São Paulo:
Atlas, 2013.
 RAWLS, John. História da filosofia moral. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
 WILLIAMS, Bernard. Moral: uma introdução à ética. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

7.1. Sites
 http://jorgejairoce.blogspot.com/2012/05/sobre-corrupcao-em-mocambique-o-
debate.html: 27/04/17, 08:20.
 https://pt.slideshare.net/csapura/corrupcao-e-etica-em-mocambique: 27/04/17, 9:04.

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