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Universidade Católica de Moçambique


Instituto de Educação à Distância
Trabalho de Campo

Tema:
A Liberdade e responsabilidade social em Adela cortina uma reflexão ética sobre liberdade e
conduta humana na sociedade

Nome do Estudante: Ernesto Chico Binze


Código de Estudante:708200781
Curso: Ética Social
Disciplina: Etica Social
Ano de frequência: 3º Ano

Docente: dr. Rosalina Fernando

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Índice
1. Introducao.........................................................................................................................................3
2. Objetivos...........................................................................................................................................3
2.1. Objetivo Geral..............................................................................................................................3
2.2. Objetivos Específicos...................................................................................................................3
3. DEFINICOES DA ETICA...............................................................................................................3
3.1. Funções da ética...........................................................................................................................4
4. ÉTICA COMO REFLEXÃO, INFLUENCIADA PELA PACIÊNCIA..........................................4
5. A ÉTICA COMO CIEÊNCIA..........................................................................................................5
6. PROBEMAS ÉTICOS......................................................................................................................6
7. O CAMPO ÉTICO...........................................................................................................................8
8. ÉTICA E A FIOSOFIA..................................................................................................................10
9. A ÉTICA E AS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS..................................................................11
9.1. A consciência moral e o mundo.................................................................................................13
10. MORAL E HISTORIA : O SENTIDO DO PROGRESSO MORAL........................................14
11. A ÉTICA E EDUCAÇÃO.........................................................................................................16
11.1. Relações entre a moral e a Educação.....................................................................................16
11.2. A EDUCACAO COMO ETICO...........................................................................................17
11.3. ÉTICA E CIDADANIA..............................................................................................................18
12. A ÉTICA E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO.................................................................20
13. A PRÁTICA DA ÉTICA PARA O EXERCÍCIO DA CIDADANIA...........................................22
14. ÉTICA, LIBERDADE E RESPONSABILIDADE...................................................................22
14.1. O ser humano é sempre livre.................................................................................................23
14.2. O ser humano é livre e determinado ao mesmo tempo...................................................................24
15. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................................25
16. REFERÊNCIAS..........................................................................................................................26

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1. Introducao

A Ética Social são os princípios filosóficos e morais que, de uma forma ou


de outra, representam a experiência coletiva de pessoas e culturas. Esse
tipo de ética geralmente age como uma espécie de “código de conduta” que
governa o que é e o que não é aceitável, além de fornecer uma estrutura
para assegurar que todos os membros da comunidade sejam cuidados.
A ética padrão é tipicamente orientada pela moral individual que determina
o certo ou errado.

Dentro de uma sociedade, o foco geralmente é mais sobre o que pode ser
considerado um comportamento apropriado para as pessoas como um
todo.

As pessoas percebem as coisas de maneira diferente, no entanto, e várias


culturas compartilham crenças frequentemente opostas; como tal, o que é
considerado “certo” para um grupo pode não ser necessariamente e
universalmente consistente – e definir a ética social como um absoluto é
muitas vezes muito difícil.

2. Objetivos
2.1. Objetivo Geral

Evidenciar por meio referencial que cada vez mais as empresas estão se dando conta de
que assumir uma postura ética e de responsabilidade social é uma questão de
sobrevivência, o que compete ao seu patrimônio, que é o de manter uma imagem e
reputação positiva para com todos os envolvidos.

2.2.  Objetivos Específicos

O presente estudo evidencia que um dos principais motivos da aplicação da doutrina


ética e responsabilidade social por parte das empresas é a exigência atual por parte dos
interessados pela organização (stakeholders), já que uma empresa que toma uma postura
contrária à doutrina ética e responsabilidade social encurta sua existência.

3. DEFINICOES DA ETICA

A palavra ética vem do grego ethos, originalmente tinha o sentido de “morada”, “lugar
em que se vive” e posteriormente significou “caráter”, “modo de ser” que se vai
adquirindo durante a vida. O termo moral procede do latim mores que originariamente

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significava “costume” e em seguida passou a significar “modo de ser”, “caráter”.


Portanto, as duas palavras têm um sentido quase idêntico.
No obstante, no contexto acadêmico, o termo “ética” refere-se à filosofia moral,
isto é, ao saber que reflete sobre a dimensão da ação humana, enquanto que “moral”
denota os diferentes códigos morais concretos. A moral responde à pergunta “O que
devemos fazer?” e a ética, “Por que devemos?”

Não se pode confundir a Ética com a Moral: a Ética não cria a Moral. Apesar de toda
a Moral pressupor determinados princípios, normas ou regras de comportamento, não
é a Ética que só estabelece numa determinada comunidade.
A Ética depara com uma experiência de índole histórico-social no terreno da Moral,
ou seja, com um conjunto de práticas morais já em vigor e é partindo delas que
procura determinar.
A origem da moral;
As condições objetivas e subjetivas do acto
moral;
As fontes da avaliação moral;
A natureza e a função dos juízos morais;
Os critérios de justificação dos juízos morais;

3.1. Funções da ética.

A ética tem uma tripla função: 1) esclarecer o que é a moral, quais são seus traços
específicos; 2) fundamentar a moralidade, ou seja, procurar averiguar quais são as
razões que conferem sentido ao esforço dos seres humanos de viver moralmente; 3)
aplicar aos diferentes âmbitos da vida social os resultados obtidos nas duas primeiras
funções, de maneira que se adote uma moral crítica em vez da subserviência a um
código.

4. ÉTICA COMO REFLEXÃO, INFLUENCIADA PELA PACIÊNCIA

O autor mais representativo desta corrente é Luís de Araújo. Segundo este autor é
possível construir uma Ética que, apesar de não ser deduzida das Ciências, se articula
com só conhecimento que vão emergindo a partir destas a respeito da realidade
humana. O conteúdo da reflexão moral resulta, simultaneamente, de uma exigência

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lógica de coerência conjugada com sós conhecimentos científicos que ajudam a traçar
a ideia de ser humano que está subjacente à criação e à fruição dos valores.
A Ética forma-se como uma reflexão integralmente autónoma face às abstrações de
natureza metafísica e às proposições intrinsecamente teológicas. Ela configura-se,
apesar da ambiguidade e do carácter dubitativo que é inerente a tudo quanto é
humano, como um discurso legítimo acerca do agir humano e da sua justificação
axiológica.

5. A ÉTICA COMO CIEÊNCIA

É Adolfo Sánchez Vasquez, entre outros, que defende a Ética como Ciência. Segundo
esta corrente: A Ética é uma Ciência. De acordo com esta abordagem, a Ética ocupa-
se
de um problema próprio – o sector da realidade humana a que chamamos Moral,
constituído por um tipo peculiar de fatos ou atos humanos. Como Ciência, a
Ética parte de um determinado conjunto de factos, pretendendo descobrir lhes só

princípios gerais. Enquanto conhecimento Científico, a Ética deve aspirar à


racionalidade e à objetividade e proporcionar conhecimentos sistemáticos, metódicos e,
no limite do possível, comprováveis.
A Ética é a Ciência da Moral, ou seja, de uma esfera do comportamento humano. Não
se deve aqui confundir a teoria com o objeto: o mundo moral. Os princípios, as normas
ou só juízo de uma Moral determinada não apresentam carácter científico. Daí que se
podemos falar numa Ética científica, não o podemos fazer em relação à Moral,
porquanto não existe uma Moral científica, embora exista (ou possa existir) um
conhecimento Moral que pode ser científico. O científico baseia-se no método e não no
próprio objeto.
A Moral não é uma Ciência, mas sim o objeto de uma Ciência. A Ética não é a Moral
e, portanto, não pode ser reduzida a um conjunto de normas e prescrições, dado que a
sua missão consiste em explicar a Moral efetiva e, neste sentido, pode influir na própria
Moral.
Atualmente, a apalavra Ética usa-se em 3 sentidos:
No sentido de ordem moral ou ordem ética, entendida como a totalidade do dever
moral; no sentido de estrutura fundamental das ideias morais ou ideias éticas,
reconhecidas por uma pessoa, ou por um grupo;

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No sentido de conduta moral efetiva, tanto de uma pessoa como de um grupo.


A Moral tem origem no latim “mós”, “mores”, entendido no sentido de conjunto de
normas ou regras adquiridas por hábito.
Enquanto a Moral se reporta a comportamentos concretos de índole particular, que
pressupõem a coexistência da liberdade e da responsabilidade, a Ética, de feição
tendencialmente universal, diz respeito a princípios normativos daqueles
comportamentos. A Ética é a base normativa da Moral, com capacidade para
clarificar e retificar só comportamentos morais efetivos. Os seres humanos não só
agem moralmente como refletem sobre esses comportamentos práticos, tomando-os
como objeto do seu pensamento e reflexão. Tal dimensão almeja atingir, e esclarecer,
as mais relevantes atuações humanas, e aquelas que se reportam consciente e
livremente, ao bom, ao certo, ao correto, ao justo, ao prudente. Todos nós
ambicionamos pautar o nosso comportamento por essas normas, tais normas, uma vez
aceites, são reconhecidas como obrigatórias e é de acordo com elas que temos o dever
de agir, rejeitando todas as outras possibilidades de atuação moral.

Admitindo que o mundo dos valores seja uno e coerente, todos sós valores devem
convergir para um núcleo axiológico: aquele que é constituído pelo Bem.
A Ética ocupa-se das normas que regem ou devem reger as repasses de cada indivíduo
com só outros e dos valores que cada indivíduo deve realizar no seu comportamento.

6. PROBEMAS ÉTICOS

Nos repasses cotidianos que as pessoas estabelecem entre si, surgem problemas
morais (ex: quando me encontro em apuros devo fazer uma promessa com a intenção
de não a cumprir? Devo dizer sempre a verdade, ou há ocasiões em que posso
mentir? Quem, num conflito armado, sabe que um amigo colabora com o inimigo,
deve ocultar este facto – em nome da amizade – ou deve denunciá-lo como traidor?).
Estamos ante problemas práticos e problemas cuja solução não diz unicamente
respeito à pessoa que só propõe, mas também àquele, ou àqueles, que sofrem as
consequências da sua ação, ou da sua decisão. Estes problemas têm lugar no plano da
Inter- subjetividade.
Nestas situações a pessoa defronta-se com a necessidade de pautar o seu
comportamento por normas que se julgam serem as mais apropriadas. Estas normas
são aceites intimamente e reconhecidas como obrigatórias e é de acordo com elas que

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as pessoas compreendem que têm o dever de agir desta ou daquela maneira. Nestes
casos, dizemos que o ser humano age moralmente. Sobre este comportamento, que é
resultado de uma decisão refletida e, como tal, não é espontânea ou natural, ou outros
julgam à luz de normas estabelecidas, e formulam juízos (e: X agiu bem mentindo
naquelas circunstâncias; Y deveria denunciar o seu amigo, traidor). Temos, de um
lado, atos e formas de comportamento dos seres humanos em face de determinados
problemas (morais), e, por outro, juízos que aprovam ou desaprovam moralmente
esses mesmos atos.
No entanto, tanto só atos quanto só juízo pressupõe certas normas que apontam o que
se deve fazer.
Na vida quotidiana, deparamo-nos com problemas práticos do género dos apontados e
aos quais ninguém pode fugir. Para resolvê-los as pessoas recorrem a normas,
cumprem determinados atos, formulam juízos e, por vezes, serve-se de determinados
argumentos ou razões para justificar a decisão adoptada ou só passo dados.
O comportamento humano prático-moral, ainda que sujeito a variações de uma época
para outra e de uma sociedade para outra, remonta às origens do ser humano como ser
social. Ao comportamento prático-moral sucedeu a reflexão sobre ele. Desde então,
só seres humanos não só agem moralmente, como, em simultâneo, julgam ou avaliam
de uma determinada maneira estas

Decisões e estes atos, mas também refletem sobre o seu comportamento prático e
tomam-no como objeto para o seu pensamento e para a sua reflexão. Verifica-se,
assim, a passagem do plano da prática moral para o da teoria moral, ou seja, da
Moral efetiva – vivida – para a Moral reflexa (Ética). Quando se verifica esta
passagem estamos na esfera dos problemas teórico-morais ou éticos. Os problemas
prático-morais são particulares, só problemas éticos são gerais. A Ética diz- nos, em
termos gerais, o que é um comportamento pautado por normas ou em que consiste o
fim – o Bom – visado pelo comportamento moral. O problema de o que fazer em cada
situação concreta é um problema prático-moral e não um problema teórico-ético. A
teoria pode influenciar o comportamento moral-prático, pois traça um caminho geral,
em cujo marco só seres humanos podem orientar a sua conduta nas diversas situações
particulares.
Muitas teorias éticas organizaram-se em torno da definição do Bom, na suposição de
que, se soubermos determinar o que é, poderemos saber o que deveremos ou não

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fazer. As respostas sobre o que é Bom variam de uma teoria para outra (para uns é a
felicidade ou o prazer, para outros o útil, o poder, a autocriação do ser humano). Outro
problema ético fundamental é, por exemplo, o de definir a essência ou sós traços
essenciais do comportamento moral, em contraponto com outras formas do
comportamento humano como a Religião, a Política, o Direito, etc.
O problema da essência do ato moral remete para outro problema muito importante: o
da responsabilidade. É possível falar em comportamento moral somente quando o
sujeito que assim se comporta é responsável pelos seus atos, mas isto pressupõe que
ele pôde fazer o que queria, pôde escolher entre duas ou mais alternativas. O
problema da liberdade da vontade é, por isso, inseparável do da responsabilidade.
Decidir e agir numa situação concreta é um problema prático- moral; investigar o
modo como à responsabilidade moral se relaciona com a liberdade é um problema
teórico, da competência da Ética. Problemas éticos são também o da obrigatoriedade
moral, i.e., o da natureza e dos fundamentos do comportamento moral enquanto
obrigatório, bem como o da realização moral, não só encarado como empreendimento
pessoal, mas também como empreendimento coletivo.
No entanto, só seres humanos, no seu comportamento prático-moral, além de levarem
a cabo determinados atos, julgam ou avaliam esses mesmos atos: formulam juízos de
aprovação ou de reprovação, e sujeitam-se livre e conscientemente a certas normas ou
regras de ação.
Embora só problemas teóricos e só problemas práticos sejam diferentes, não estão
separados por uma barreira intransponível. As soluções que dadas aos problemas
práticos não deixam de influir na colocação e na solução dada só problemas teóricos.
Por outro lado, sós problemas propostos pela Moral prática, vivida, constituem a
matéria de reflexão, ao qual a teoria ética tem de regressar constantemente, para não
se tornar uma especulação estéril, mas sim a teoria de um modo efetivo, real do
comportamento do ser humano.

7. O CAMPO ÉTICO

Os problemas éticos caracterizam-se pela sua generalidade, distinguindo-se, assim,


dos problemas morais da vida quotidiana. Se a Ética revela uma relação entre o
comportamento moral e as necessidades e só interesses sociais, ela ajuda-nos a situar,
no devido lugar, a Moral efetiva de um grupo social que tem a pretensão de que só

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seus princípios e as suas normas tenham validade universal, sem ter em conta as
necessidades e sós interesses concretos de outros grupos sociais. Se a Ética ao definir
o que é o bom, se recusa a reduzi-lo àquilo que satisfaz o interesse próprio de uma
determinada pessoa, influirá na prática moral, ao rejeitar um comportamento egoísta
como sendo moralmente válido.
Procurou ver-se na Ética uma disciplina normativa, cuja função principal consistiria
em indicar o tipo específico de comportamento que seria o mais desejável, sob o
ponto de vista moral. Contudo, esta caracterização da Ética como disciplina normativa
pode levar-nos a esquecer do seu carácter reflexivo. A função da Ética é idêntica à de
qualquer outra teoria: explicar, esclarecer ou investigar uma determinada realidade.
Por outro lado, a realidade moral varia historicamente e, com ela, variam sós seus
princípios e as suas normas: a ambição de formular princípios e normas universais,
deixando de lado a experiência moral histórica, afastaria da teoria a realidade que
pretendia explicar.
A Ética é a teoria, a investigação ou explicação de um tipo de experiência humana, ou
forma de comportamento dos seres humanos, a que chamamos Moral. Aquilo que se
afiram na Ética sobre a natureza ou fundamento das normas morais deve valer para
qualquer sociedade histórica. É isto que assegura o carácter teórico da Ética e evita a
sua redução a uma disciplina normativa ou programática.
O valor da Ética, como teoria, está naquilo que explica e não no facto de prescrever ou
recomendar algo com vista à ação em situações concretas. A Ética diz respeito não ao
ser ou ao fazer, mas sim ao dever ser.
O comportamento moral apresenta-se como uma forma de comportamento humano,
como um facto, e cabe à Ética explicá-lo, tomando a prática moral da humanidade
como objeto da sua reflexão. A Ética é uma explicação daquilo que foi ou é e não uma
simples descrição: não lhe cabe formular juízos de valor sobre a prática moral de
outras sociedades, em nome de uma Moral absoluta e universal, mas deve, antes,
explicar a razão de ser desta pluralidade e das mudanças de Moral – cabe-lhe explicar
o facto de sós seres humanos terem recorrido a diferentes práticas morais, mesmo
opostas entre si.
A ética tem em consideração a existência da história da Moral, toma como ponto de
partida a diversidade de Morais ao longo do tempo, com só seus respectivos valores,
princípios e normas. Como teoria, a Ética não se identifica com sós princípios e
normas de nenhuma Moral em particular.

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A par da explicação das suas diferenças, a Ética deve investigar o princípio que
permita compreendê-las no seu movimento, assim como no seu desenvolvimento.
A Ética trabalha com atos concretos. Estes atos são atos humanos, logo atos de valor,
consideração que não prejudica em nada as exigências de um estudo objetivo e
racional. A Ética estuda uma forma peculiar do comportamento humano que só seres
humanos julgam como valioso e que, além ditto, é obrigatório e irrecusável.
Segundo Fernando Sapatear o saber viver, ou arte de viver, é aquilo a que se chama

8. ÉTICA E A FIOSOFIA

A Ética é o conjunto sistemático de conhecimentos racionais e objetivos sobre o


comportamento humano moral. Tem um objeto específico que se pretende estudar
racionalmente e sem subordinação a nenhum outro ramo do saber já constituído. Isto
se opõe à concepção tradicional da Ética, que a reduzia a um mero capítulo da
Filosofia, na maioria dos casos, especulativa. A concepção tradicional da Ética nega o
carácter racional e independente da Ética: esta não elabora proposições objetivamente
válidas, mas sim juízos de valor ou normas que não podem pretender essa validade.
Isto se aplica a um tipo determinado de Ética – a Ética normativa – à qual se atribui a
função fundamental de fazer recomendações e formular um conjunto de normas e
prescrições morais. Tal objecção não atinge a teoria ética, que pretende explicar a
natureza, fundamentos e condições da Moral. Um código moral, ou um sistema de
normas, não é Ciência, mas pode ser explicado com o contributo crítico das diversas
ciências. A Moral não é científica, mas as suas origens, fundamentos e evoluções
podem ser investigadas racional e objetivamente, i.e., do ponto de vista da Ciência.
Na negação de qualquer relação da Ética com a Ciência alguns autores querem ater-se
à dependência exclusiva da Ética em relação à Filosofia. A Ética é, neste sentido,
presented como uma parte da Filosofia especulativa. Esta Ética filosófica preocupa-
se mais em procurar concordância com princípios filosóficos universais do que com a
realidade moral no seu desenvolvimento histórico. Numa época em que a História, a
Antropologia, a Psicologia e as Ciências Sociais nos proporcionam materiais muito
valiosos para o estudo do ato moral, já não se justifica a existência de uma Ética
puramente filosófica, especulativa, alheada do saber científico e da própria realidade
humana moral.

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A defesa do carácter filosófico da Ética é válida para grande parte da história da


Filosofia, período em que, por ainda não estar constituído um saber científico sobre
diversos ramos da realidade natural e/ou humana, a Filosofia se apresentava como um
saber que se ocupava praticamente de

Tudo. De entre as várias disciplinas, tradicionalmente associadas à Filosofia, que


trilham o seu caminho próprio, encontra-se a Ética.
O facto de a Ética ser concebida como um saber que tem um objeto próprio, tratado
racionalmente, ou seja, um saber que procura uma autonomia idêntica à de qualquer
saber científico, não significa que esta autonomia possa ser considerada como
absoluta em relação aos demais ramos do saber e, também, em relação à Filosofia,
dado que as contribuições da reflexão filosófica no terreno da Ética, para além de não
poderem ser relegadas para o esquecimento, devem ser postas em evidência, pois, em
muitos casos, conservam a sua riqueza e vitalidade.
A Ética é incompatível com qualquer cosmovisão universal e totalizadora que se
pretenda colocar acima das Ciências ou em contradição com elas.
As questões éticas fundamentais são as que dizem respeito às repasses entre liberdade,
responsabilidade e necessidade, devem ser abordadas a partir de pressupostos
filosóficos básicos, como o da dialética da necessidade, da liberdade e da
responsabilidade.
Por outro lado, a Ética assumida como teoria de uma forma específica do
comportamento humano, não pode deixar de partir de uma determinada concepção
filosófica do ser humano.
O comportamento moral é próprio do ser humano como ser histórico social e prático.
Se a Moral é inseparável da atividade do ser humano, a Ética nunca poderá deixar de
ter como fundamento a concepção filosófica do ser humano, que nos dá uma visão
deste como ser social histórico e criador. Há todo um conjunto de conceitos com só
qual a ética trabalha que são oriundos da Filosofia – liberdade, necessidade, valor,
consciência, sociabilidade.
A Ética está estreitamente relacionada com a Filosofia. Esta relação não exclui o seu
carácter racional, mas pressupõe-no necessariamente.

9. A ÉTICA E AS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

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É através do seu objeto que a Ética se relaciona com as Ciências que estudam as
repasses e sós comportamentos dos seres humanos em sociedade, proporcionando
elementos que contribuem para esclarecer o tipo peculiar de comportamento humano
que é a Moral. São elas: a Psicologia, a Antropologia Social e a Sociologia,
principalmente.
Os agentes morais são as pessoas que fazem parte de uma comunidade. Os seus atos
são morais unicamente se considerados nos seus repasses com só outros. Ainda que o
comportamento moral corresponda à necessidade social de regular as repasses dos
seres humanos numa determinada direção, a atividade moral é vivida interna ou
intimamente pelo sujeito num processo subjetivo – para esta explicação intervém de
forma preciosa a Psicologia. A Psicologia auxilia a Ética quando põe em evidência a
dinâmica e as motivações do comportamento do ser humano, assim como quando
modeliza e estrutura do carácter e da personalidade. Aquela disciplina dá a sua ajuda à
Ética.

Quando se examinam sós atos voluntários, a formação dos hábitos, a génese da


consciência moral e dos juízos morais. A explicação psicológica do comportamento
humano possibilita a compreensão das condições subjetivas dos atos dos seres
humanos e, deste modo, contribui para a compreensão da sua dimensão moral.
A ética tem também uma ligação muito estreita com a Antropologia Social e a
Sociologia. Nelas, estuda-se o comportamento do ser humano como ser social. Às
Ciências Sociais interessam, sobretudo, não o aspecto psíquico ou subjetivo do
comportamento humano (Psicologia), mas as formas sociais em cujo âmbito atua só
seres humanos.
O sujeito do comportamento moral é a pessoa concreta que parte de uma determinada
estrutura social, e é desde a consideração dessa estrutura que o seu modo de
comportar-se, moralmente, não pode ser considerado como unicamente particular: ele
é, sempre, social. É devido à relação existente entre a Moral e a sociedade que a Ética
não pode prescindir do conhecimento objetivo das estruturas sociais, dos seus
repasses, instituições, conhecimento que é proporcionado pelas Ciências Sociais,
particularmente pela Sociologia.
Enquanto a Sociologia procura estudar a sociedade humana em geral, a Antropologia
Social estuda, fundamentalmente, as sociedades primitivas, ou desaparecidas. No
estudo do comportamento dessas sociedades a Antropologia Social estuda,

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igualmente, o comportamento moral. Os antropólogos conseguiram estabelecer


repasses entre a estrutura social e o código moral que as regia. Observa-se uma
diversidade de Morais, não só no tempo, mas também no espaço, é necessário que a
Ética, como teoria da Moral, não ignore que está sempre na presença de
comportamentos humanos que variam e se diversificam no tempo. Quer o antropólogo
quer o historiador, permitem que se tenha em consideração o carácter mutável das
Morais, a sua mudança e sucessão de acordo com e a mudança e a sucessão das
sociedades.
Qualquer Ciência do comportamento humano, ou dos repasses entre sós seres
humanos, pode trazer uma contribuição útil para a Ética como reflexão acerca da
Moral. Além de relacionar-se com o Direito, a Ética também se relaciona com a
Economia Política.
Para concluir: a ética relaciona-se com as Ciências Sociais, uma vez que o
comportamento moral é uma forma específica do comportamento humano, que se
manifesta em diversos planos: psicológico, social, jurídico, religioso, estético, etc.
Retenha-se que a Ética é o saber reflexivo sobre o comportamento moral.
As normas morais mudam de sociedade para sociedade, e modificam-se no
decorrer da história.
9.1. A consciência moral e o mundo

A imagem da vida humana que se nos impõe à consciência reflexiva pode ser
reduzida a duas estruturas fundamentais:
A estrutura empírica – que abrange só elementos a descobrir na experiência simples
(sexo, idade, corpo).
O âmbito em que se constroem só projetos existenciais – dá conta da estrutura moral
que suporta as decisões morais.
Questões que se relacionam com a explicação do fundamento da ação moral:

•É preciso distinguir na consciência humana a dimensão em que esta se revela


como representação da realidade daquela perspectiva em que se assume como
possibilidade de apreciação dessa mesma realidade.
•Ao aceitarmos que a criação de valores resulta de uma atividade efetiva da
consciência, o argumento do interesse ou do desejo perfila-se como elemento
primordial do ato valorado. Não se deverá confundir a valoração com só valor.

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•É no poder de consciência, função de cada eu, que reside o carácter da sua


natureza, ou seja, a razão determinante que revela o sujeito como pessoa,
manifestando-se, deste modo da índole ética da condição humana.

A consciência moral não se apresenta unicamente como uma estrutura afetiva, mas
como uma síntese se aspectos íntimos e de aspectos exteriores, ou seja, a partir do
cruzamento dos dados da consciência com aquilo que, do mundo, nos afeta.
O homem recusa a indiferença perante o mundo que o rodeia, assume-se como
participante movido pelo imperativo da realização pessoal, é solicitado a orientar
as suas ações mediante o dinamismo que se traduz num ato emergente da
liberdade. Impõe-se refletir em que consiste a liberdade e no que é um ser livre. É
possível explicar a liberdade humana como sendo resultante de um processo cujas
raízes biológicas determinam a formação de operações cognitivas que, por seu
turno, desenvolvem as condições para o aparecimento de alternativas que a
consciência (reflexiva e voluntária) expressará sob a forma de comportamentos. A
afirmação da liberdade humana apenas terá sentido se se admitir uma concepção
de personalidade em que se reconheça a intervenção estruturante das matrizes
biológica, antropológica e cultural.
No exercício da autodeterminação a vontade humana manifesta-se como uma
predisposição para a escolha de fins, que se descobre em ligação com valores
previamente elaborados pela consciência que, a si mesma, se compromete.
Reconhecendo-se forçosamente determinado a aderir a valores, o ser humano
necessita de estabelecer o critério que servirá de sustentáculo à hierarquia em que
irão rever-se as suas preferências, fundamentar as escolhas que fizer e as ações
que levar a cabo.
É da reflexão livre sobre a vida que surgem os valores. Por isso, a liberdade surge
como o fundamento último da nossa pauta axiológica (dos valores morais).
A finalidade superior da reflexão moral consiste em promover as condições
peculiares para que o ser humano consiga alcançar a felicidade na dignidade.

10. MORAL E HISTORIA : O SENTIDO DO PROGRESSO MORAL

A história apresenta-nos uma sucessão de Morais que correspondem às diferentes


sociedades que se substituíram ao longo do tempo. Mudam os princípios e as normas
morais, a concepção daquilo que é bom, certo, correto, justo.

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Se compararmos uma sociedade com outra que lhe é anterior, podemos estabelecer
uma relação entre as suas Morais respectivas, considerando que uma Moral é mais
avançada, mais elevada, ou mais fecunda do que a de outra sociedade.
Há um progresso moral que não se verifica a margem das mudanças radicais de
carácter social. O Progresso moral não pode dissociar-se da passagem de uma
sociedade para outra.
No entanto, o progresso moral não pode ser reduzido ao progresso histórico, ou
sequer, que o progresso histórico seja por si só, condição para o progresso moral.
Dizemos é que o progresso moral não pode ser concebido independentemente do
progresso social e histórico.
O progresso histórico resulta da atividade produtiva, social e espiritual dos seres
humanos. Nesta atividade, cada pessoa participa como ser consciente, procurando
realizar os seus projetos e as suas intenções.
O progresso histórico não é igual para todos os povos e para todos os seres humanos.
Determinados povos progridem mais do que outros, e numa mesma sociedade nem
todas as pessoas participam do progresso da mesma maneira. Atualmente, vários
povos vivem em patamares muito diferentes da evolução histórica.
Conclusões da relação do progresso moral com o progresso
histórico e social:
•O progresso histórico cria as condições necessárias para o
progresso moral;
•O progresso histórico e social afeta, de uma maneira ou de outra, positiva ou
negativamente, os seres humanos de uma determinada sociedade, sob o ponto de vista
moral.
Embora o progresso histórico crie as condições para o progresso moral, ele não gera,
por si só, qualquer tipo de progresso moral, porque os seres humanos não evoluem
sempre na direção moralmente boa, mas também evolução na direção má. O
progresso histórico e social pode ter consequências positivas ou negativas do ponto de
vista moral. No entanto, apesar das consequências morais do progresso histórico e
social, não podemos julgar moralmente o progresso histórico. O facto de o progresso
histórico não dever ser julgado à luz de categorias morais não significa que, histórica e
objetivamente, não possa registar-se um progresso moral que, tal como o progresso
histórico, não foi até agora o resultado de uma ação planeada, livre e consciente dos
seres humanos.

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Bases do conteúdo objetivo do


progresso moral:
1.º - O progresso moral mede-se pela ampliação da esfera moral na vida social.
Esta ampliação revela-se ao serem reguladas moralmente as repasses entre as
pessoas.

2.º - O progresso moral determina-se pela elevação do carácter consciente e


livre do comportamento das pessoas ou dos grupos sociais e,
consequentemente, pelo crescimento da responsabilidade das pessoas ou dos
grupos sociais no seu comportamento moral. Uma sociedade é tanto mais rica,
sob o ponto de vista moral, quanto mais possibilidades oferece aos seus
membros para assumirem a responsabilidade, pessoal ou coletiva, pelos seus
atos. Por isso, o progresso moral é inseparável do desenvolvimento da
personalidade livre.
3.º - O progresso moral determina-se pelo grau de articulação e de
coordenação entre os interesses pessoais e os interesses coletivos.
4.º - o progresso moral manifesta-se como um processo dialético de negação e
de conservação de elementos morais anteriores.

11. A ÉTICA E EDUCAÇÃO

“A educação é uma espécie de ação promotora e instauradora de


valores”: Diferentes perspectivas da educação moral:
O Modelo de Classificação dos Valores;

O A Educação para o Desenvolvimento Moral

O O Modelo Integrado para a Clarificação dos Valores;

O A Educação nas Virtudes Morais.

A deontologia diz respeito aos deveres, aplicados no estrito exercício de uma profissão;
Todos os agentes educativos (professores, pais, educandos, administradores da
educação e políticos da educação, comunicação social e agente cultural) devem estar
submetidos ao crivo da Deontologia Educacional.

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11.1. Relações entre a moral e a Educação

O ser humano não se cumpre sem Educação. A educação é um processo de mútua


formação em grupo. Tanto o educador como o educando, ensinam e aprendem,
contribuindo de maneira determinante para uma díade dialética de feição única que
possibilita a modificação qualitativa dos seus participantes.
Entendendo a educação como promoção de valores, defende-se que cada ser humano
deve ser consciencializado no contexto da Educação, em ordem à planificação da vida
total. Se a Educação é o processo de personalização de cada ser humano, cada um de
nós é e torna-se pessoa numa situação concreta. Neste sentido, o dever moral não
pode separar-se da possibilidade de agir moralmente. A Educação, que não pode
deixar de visar à esfera da Moral, tem de considerar o primado do ser do educando,
em detrimento do seu ter.

11.2. A EDUCACAO COMO ETICO

O principal autor é Lawrence Kohl Berg. A sua teoria defende uma ação educativa
ordenada para o desenvolvimento psicológico adequado. Esta teoria (que se opõe ao
Modelo de Clarificação dos Valores) defende que a educação moral é o processo de
desenvolvimento do raciocínio moral que os sujeitos conseguem alcançar por meio de
discussões sobre dilemas morais, colocados a partir de situações reais, que conduzem
à tomada de decisões sobre o que é justo ou moral, no contexto e que vivem. Por
outro lado, esta teoria afirma que os estímulos ambientais, para o processo de
desenvolvimento moral, são as possibilidades de adopção de papéis que oferece à
pessoa, a atmosfera moral do grupo ou a instituição a que pertence, assim como o
diálogo moral. L. Kohl Berg defende que o diálogo moral deve ser democrático e
participativo. Isto exige uma comunidade justa, i.e., democrática, participativa e
solidária quanto aos deveres, direitos e relações, que se estruturam segundo normas de
equidade.

As estratégias que se devem congregar são: reconhecimento do estádio em que atua o


educando; exposição dos raciocínios morais do seu próprio estádio; exposição, aos
educandos, de situações problemáticas que provoquem conflitos morais genuínos e,
como tal, inquietação, criação de uma atmosfera de diálogo e intercâmbio na qual os
pontos de vista sobre o conflito moral sejam discutidos abertamente.

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11.3. ÉTICA E CIDADANIA

Entende-se que a ética dedica-se aos estudos dos valores morais e os princípios do
comportamento humano perante a sociedade, garantindo o bem – estar social do
cidadão. Não poderia haver cidadania se a ética deixasse de ser cumprida. O cidadão
ético é aquele que sabe buscar os seus direitos e os seus benefícios sociais em
conformidade da lei.

A ética deve ser compreendida como crítica reflexiva e responsável pela conduta
humana em todos os setores sociais. Ela é histórica e construída socialmente, tendo
como base referencial as relações humanas coletivas. Segundo SOUZA,

A ética situa-se no campo dos princípios morais e dos valores que orientam os homens
em suas ações, tomando como referência outros indivíduos de determinada sociedade.
Sendo um produto histórico social, a ética ilumina a consciência humana à medida que
“[… sustenta e dirige as ações do homem, norteando a conduta individual e social […] e
define o que é a virtude, o bem ou o mal, o certo ou o errado, permitindo ou proibindo,
para cada cultura e sociedade.” (SOUZA, 1995, p. 187)

É percebível que a ética procura equilibrar a conduta do cidadão, do profissional e,


principalmente, do político, suscitando nesses indivíduos uma profunda reflexão,
incitando-os ao cumprimento da responsabilidade e a realização de previsões das
supostas consequências resultantes de suas decisões. No mundo globalizado e nos países
capitalistas onde há a ganância desenfreada e o imensurável egocentrismo, cresce,
substancialmente, a necessidade das instituições educacionais contribuírem com a
formação integral dos indivíduos e, portanto, com o favorecimento da construção da
ética dos sujeitos.

Considera-se que além da família, a escola é o espaço extremamente propício para a


formação ética do cidadão, tendo em vista, que ela participa da formação dos seus

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educandos, explicitando regras e valores através dos professores, do material didático


pedagógico, do comportamento e da hibridização de costumes e saberes dos alunos. A
ética é, pois, um objeto de reflexão que contribui com o convívio da pluralidade em
todos os setores públicos, inclusive nas instituições educacionais, principais formadoras
da cidadania.

Na medida em que os anos passam, no mundo globalizado, nos países capitalistas e das
tecnologias de ponta, observa-se, com frequência, o rompimento das ações e o
atropelamento à dignidade humana sem nenhum receio ao descumprimento da ética. No
entanto, para que a dignidade seja imposta e a cidadania efetivada, faz-se necessário que
a ética seja buscada, uma vez que ela exige a apregoação do respeito mútuo, da justiça,
da solidariedade e do diálogo. A dimensão da ética favorece a plena formação e
construção do sujeito cidadão permitindo-lhe compreender a sua importância como
membro social.

O cidadão que exerce sua ética, preserva a estreita relação humanizadora em seus
diferentes contextos – econômico, político, social, educacional etc., além de assumir o
caráter da cidadania coletiva. Viabilizar a educação ética é, ao mesmo tempo,
proporcionar aos educandos o combate ao preconceito e a discriminação de vária
naturezas, valorizando o diálogo com os presentes em seu meio social.

A ética de um indivíduo é sempre observada e admirada pela sociedade a que ele


pertence pois, ele procura fundamentar as suas ações morais de acordo a razão.
Contudo, em meio a essa gama de influências, atitudes e comportamentos negativos e
corrompedores vivenciados no ambiente hodierno, a ética deve apresentar-se bastante
consistente para não se desnortear.

Para refletir: Será que poderia criticar-se os outros, uma vez que não age-se com os
princípios éticos ou morais? Segundo o juiz federal Sérgio Moro, “quando se tem a
oportunidade de furtar… não se perde a oportunidade. Como base nos problemas da
Lava Jato ele assegura que os políticos de hoje foram oportunistas no passado e se não
for mudada a estrutura de valores de nossa sociedade com a busca da ética e da moral
como pilares do comportamento, nunca seremos um povo realmente honesto e justo.”

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A partir do momento em que se chega a uma fila e que procura-se atendimento


antecipado, sem nenhuma justificativa de prioridade, “jeitinho brasileiro”, estaria, de
certa forma, descumprindo com o dever social e ao mesmo tempo asfixiando a norma
ética. Da mesma sorte, quando recebe-se um troco com erro de superávit e não
preocupa-se com a sua devolução, uma vez que o princípio ético exige que não se deve
pegar ou usufruir aquilo que não lhe pertence, aconteceu a burlação da eticidade. 
Semelhante as quebras de regras de uma instituição, que deveriam ser discutidas apenas
no lócus ou o apunhalamento a terceiros quando esses não se fazem presentes pra se
defenderem.

Contudo, está nitidamente percebível que a ética é algo que se constrói ao longo da
vida. Certas normas que, anteriormente, eram exigidas, atualmente passaram a ser
cumpridas pelo reconhecimento de sua importância, como o exemplo do professor
Cortella: quando o uso do cinto de segurança passou a ser de obrigatoriedade, alguns
motoristas, para atropelar a lei, usavam camisas do Vasco, por apresentarem uma tarja
preta e coincidir com o cinto, para confundir os agentes de trânsito. Hoje ao entrar no
veículo, a primeira coisa que se faz é colocá-lo sem, no entanto, se precaver de multa
mas da própria segurança. Portanto, conclui-se que a ética vai se construindo a partir da
conscientização no dia a dia.

12. A ÉTICA E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO

Quando se fala de ética, refere-se a questão exclusivamente humana por que ela
pressupõe, escolha e decisão. Ética tem a ver com liberdade, liberdade reflexiva e
responsável. Ao tomar uma decisão, o indivíduo deve usar do conhecimento que possui
porque o conhecimento tem a ver com a ética. Agir sem pensar nas consequências, é
agir com máscaras cínicas e nessa hora o perigo se avizinha.

O indivíduo que tem a ousadia de buscar vantagens sobre o prejuízo de terceiros,


aniquila os seus conhecimentos e burla a sua ética pessoal. É preciso que se tenha o
cuidado para o zelo da integridade, mantendo-se inteiro, transparente e verdadeiro. Zelar
pela ética é, ao mesmo tempo, zelar pela morada do humano pois ela oferece abrigo,
garante identidade e sustenta a verdadeira marca do ser social.

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Sendo a ética a habitação humana, questiona-se: Como encontra-se essa morada?


Abriga ou desabriga? Inclui ou exclui? O vínculo da ética à produção do conhecimento
relaciona-se a capacidade de descartar a ideia de desigualdade dentro da mesma
sociedade. A percepção e a reflexão são os melhores exercícios da ética. François já
dizia: “Conheço muitos que não puderam, quando deviam, porque não quiseram,
quando podiam.”

Para que haja desenvolvimento educacional, para que se construa o autêntico


conhecimento e para que se efetive o caráter do indivíduo em meio as pressões
hodiernas resultantes do modo de viver, exigido pela sociedade, os valores éticos e
morais são imprescindíveis. Somente com ações que direcionem esses valores à
produção do conhecimento é que se propiciaria consumação da verdadeira cidadania. O
comportamento do homem na sociedade depende da reflexão exigida pela ética sobre os
sistemas morais produzidos por ele no dia a dia.

Atualmente há uma acentuada preocupação da sociedade brasileira, de como encontrar


estratégias que possam, de fato, efetivar o respeito às diferenças e o combate a
violência. Os casos de desrespeito, discriminação e outras ações violentas são realmente
assustadoras e inaceitáveis numa sociedade que almeja os princípios éticos e morais.

A ética é um princípio de comportamento que deve estar presente na produção do


conhecimento do indivíduo para que esse torne-se consolidado e compromissado com a
cidadania. Se um motorista, por exemplo, aprendeu que não que não se deve ultrapassar
a faixa contínua e ultrapassou, que não deve exceder a velocidade máxima permitida e
excedeu, infringiu as regras de trânsito e feriu os princípios éticos e morais.

Exercer a ética é algo que requer certo esforço pois tem a ver com a prática da
capacidade e da responsabilidade da pessoa. O conhecimento construído com ética
torna-se muito mais consistente e eficaz além da consolidação de uma sociedade mais
justa.

Se a ética é a ciência normativa que conduz ideais promissores dentro da comunidade,


uma vez que o ser humano é um animal social, seria inútil compreendê-la como ciência

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para indivíduos isolados. Na verdade tudo o que o indivíduo produz ou realiza, reflete
consequências que podem atingir outras pessoas.

No contexto social, da atualidade, é comum observar alguém querendo sobressair-se


melhor em relação ao outro, sendo mais esperto, apegando-se ao jeitinho brasileiro e a
muitas outras práticas indecentes e reprovadas pela cidadania. Essas atitudes ou maus
costumes são características de uma sociedade que, pela ausência do respeito, do
civismo e da consideração coletiva macula a verdadeira cidadania.

13. A PRÁTICA DA ÉTICA PARA O EXERCÍCIO DA CIDADANIA

Os princípios éticos nascem de um sentimento social com a apregoação do respeito, da


honestidade e da solidariedade aos seus semelhantes. O progresso humano se dá a partir
da valorização do trabalho, da fraternidade e principalmente da liberdade. Dessa forma a
ética vai interferindo, orientando e conduzindo o homem ao cumprimento de sua função
social e, consequentemente, de sua cidadania. O comportamento do indivíduo em
sociedade deve ser ajustado buscando sempre um desempenho virtuoso em prol do bem
comum.

Quando uma pessoa preocupa-se em praticar o bem, fazer o certo e ser justo em suas
ações na própria comunidade, a prática do dever individual e social se consolida. É essa
homogeneidade do trabalho executado que habilita o exercício da cidadania em meio a
classe social que o homem pertence.

Sabe-se que em todas as áreas representativas das atividades humanas há o código de


ética que regulamenta as relações profissionais. São “Conselhos” normativos que
exigem uma atuação democrática e responsável, instrumentos formais que regem
notadamente as profissões e as relações, tanto com a categoria quanto com a sociedade.
O código de ética de cada profissão tem como objetivo a formação da consciência
profissional à respeito dos padrões de conduta.

Entende-se, portanto, que o principal papel da ética, como ciência, é orientar a conduta
humana e propiciar o regulamento comportamental da vida em sociedade para que essa
possa viver plenamente bem. Em resumo, a ética é também uma ponte estruturante que

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possibilita ao indivíduo, acesso à cidadania, além de tentar freiar o egoísmo, a


desonestidade, a discriminação, as irracionalidades entre outras.

14. ÉTICA, LIBERDADE E RESPONSABILIDADE

A palavra responsabilidade, em seu sentido original, deriva do verbo latino respondere,


responder. Quando falamos que alguém é responsável ou tem responsabilidade sobre
alguma coisa, significa que essa pessoa tem condições de pensar sobre seus atos.

Quando uma pessoa tem condições de pensar sobre seus atos, tanto os do passado
quanto os do presente, ela pode escolher a forma como agir no futuro. Sobre isso
dizemos que a pessoa tem liberdade. Mas os filósofos não chegam a um consenso a
respeito da liberdade humana.

Dentro da discussão filosófica, há pensadores que discutem a liberdade humana em


relação à presciência divina, como Boécio; há pensadores que discutem a liberdade
humana em relação às determinações biológica e histórica, como Helvetius; há os que
discutem a liberdade humana acima das determinações, como Sartre; e aqueles que
analisam a relação entre a liberdade e o determinismo a partir do entendimento do ser
humano como livre e determinado ao mesmo tempo, como Espinosa.

14.1. O ser humano é sempre livre

Os pensadores que defendem que o ser humano é sempre livre sabem que
existem determinações externas e internas, fatores sociais e subjetivos, mas a
liberdade de decidir sobre suas escolhas é superior à força dessas determinações. Um
exemplo que poderia ser dado para entendermos essa noção seria a de dois irmãos que
têm a mesma origem social, mas um se torna criminoso e o outro não.

Vejamos o que o filósofo francês Jean-Paul Sartre disse sobre isso:

“... Por outras palavras, não há determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade.
[…] Não encontramos diante de nós valores ou imposições que nos legitimem o
comportamento. Assim, não temos nem atrás de nós nem diante de nós, no domínio
luminoso dos valores, justificações ou desculpas. Estamos sós e sem desculpas.

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É o que traduzirei dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado porque
não criou a si próprio; e, no entanto, livre porque, uma vez lançado ao mundo, é
responsável por tudo o que fizer.”**

Analisando o que Sartre escreveu, entendemos que, para ele:

1) Não há determinismo, logo o homem é livre para decidir.

2) Se é livre para decidir, não há desculpas ou justificativas para as ações do homem.
Ele só age de tal modo quando quer agir assim.

3) Por ser livre, o homem é responsável por tudo o que faz.

14.2. O ser humano é livre e determinado ao mesmo tempo


Entre os pensadores que defendem a relação entre liberdade e determinismo, estão o
holandês Espinosa e os alemães Marx e Engels. Segundo eles, não há uma exclusão
entre as ideias de liberdade e de determinismo. Se há fatores objetivos que limitam a
liberdade humana, como as leis, as normais, a situação social, é possível que, pela ação,
esses limites sejam expandidos. Para isso, precisamos conhecer os determinismos e,
quanto maior for o nosso conhecimento a respeito deles, maior será o nosso poder de
ação sobre eles.

Vejamos o que o filósofo Karl Marx disse sobre isso:

“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem
como circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam
diretamente, legadas e transmitidas pelo passa

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15. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após refletir-se sobre o tema, percebeu-se a grandeza de sua importância e o


imensurável valor de sua conduta inserido nas ações humanas no dia a dia. Conduzir
uma missão ou exercer uma atividade que a sua profissão lhe propiciou sem, no entanto,
considerar os princípios éticos e morais de sua conduta, seria mera contradição de um
juramento que deixou de cumprir com as suas normas.

Torna-se necessário que se reflita no sentido de que novas ações sejam realizadas com o
intuito de tornar as pessoas mais sensíveis, mais responsáveis e mais conscientes das
atividades que praticam em qualquer espaço da vida. O individualismo e a ganância
pelo poder vem quebrando valores, burlando regras e eliminando o verdadeiro sentido
da ética e da moral diante da sociedade.

A ética na educação torna-se concebida a partir do momento em que os valores forem


considerados e o exercício profissional um propiciador de ações humanizadoras. A
sociedade vem exigindo dos indivíduos uma postura aceitável com ações e
responsabilidades que possam, de fato, oferecer respostas que sinalizem a mais perfeita
harmonia para o bem estar social. E, para que isso se concretize, a ética deve estar
impregnada nas ações realizadas no dia a dia, nas mais diversas áreas e nas mais
distintas profissões.

Certas classes sociais e políticas relegam a ética, quebrando valores e burlando


princípios em prol do individualismo, ignorando-a e desnorteando-a do seu sentido. No

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entanto, é preciso que se discuta conceitos e dialogue as discrepâncias existentes entre


sujeitos e sociedades, com o intuito de abolir-se as práticas errôneas do cenário que
vivencia. O sentido da solidariedade, da consideração e do respeito parece escassearem,
tendo em vista que a dedicação absoluta passou a ser exclusiva do próprio “eu”

16. REFERÊNCIAS

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13ª ed. São Paulo: ática, 2002.

Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988.

CORTELLA, Mário Sérgio. Qual é a tua obra? Inquietações propositivas sobre


gestão, liderança e ética. 9ª ed. – Petrópolis, R J, Vozes, 2010.

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN / Lei nº 9.394 de 20 de


dezembro de 1996.

Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, p. 29-30, 2001.

RIOS, Terezinha Azeredo. Ética e Vida Social. Programa de formação de


professores em exercício. Módulo I, Unidade VI. Identidade, Sociedade e Cultura,
4ª ed. Brasília:MEC/FUNDESCOLA, 2002, p. 53-73.

SOUZA, Sônia Maria Ribeiro de. Um outro olhar: filosofia. São Paulo: FTD, 1995.

VAZQUEZ, Adolfo Sanches. Ética Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 24ª ed.,


2003.

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[1] Formado em Normal Superior pela UESPI (Universidade Estadual do Piauí), Pós-


graduado em Supervisão Escolar pela Faculdade de Teologia Hokemãh – Fateh e
Mestrando em Educação pela Anne Sullivan University

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