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ÉTICA E RESPONSABILIDADE

SOCIAL E PROFISSIONAL
SUMÁRIO

TÓPICO 1- Considerações gerais sobre Ética Geral ........................................................ 5


Aula 1. Conceito de ética .................................................................................................. 5
Aula 2. A finalidade da ética ............................................................................................. 7
Aula 3. Características da ética ........................................................................................ 8

TÓPICO 2: As espécies de ética .................................................................................... 14


Aula 1. Ética filosófica e social ......................................................................................... 14
Aula 2. Ética religiosa e ética cristã ................................................................................. 16
Aula 3. Ética profissional e ética econômica ................................................................... 18

TÓPICO 3: O papel da escola no cultivo da ética ........................................................... 22


Aula 1. A ética e o convívio escolar ................................................................................. 22
Aula 2. A ética docente ................................................................................................... 23
Aula 3. A ética normativa ................................................................................................ 26
Aula 1. A ética na Antiguidade: a ética grega ................................................................. 32

TÓPICO 1. O percurso histórico da ética ....................................................................... 35


Aula 1. A ética na Antiguidade: a ética grega ................................................................. 35
Aula. 2. A ética na idade média........................................................................................ 37
Aula 3. A ética na idade moderna ................................................................................... 38

TÓPICO 2: A ética contemporânea ................................................................................ 43


Aula.1. O novo período da ética ...................................................................................... 43
Aula 2. O Empirismo ........................................................................................................ 45
Aula 3. Racionalismo ....................................................................................................... 47

TÓPICO 3. Os desafios da ética .................................................................................... 50


Aula 1. A relação da ética com outras ciências a partir de Popper ................................ 50
Aula 2. A crise ética no período contemporâneo a partir de MacIntyre ........................... 51
Aula 3. A crise na perspectiva Habermasiana ................................................................. 53

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UNIDADE I – ÉTICA COMO CIÊNCIA

Título da Disciplina: Ética Profissional

Objetivos de aprendizagem:
• Conceituar ética
• Especificar as espécies de ética
• Identificar as diferenças entre ética e moral

PLANO DE ESTUDO

TÓPICO 1- Considerações gerais sobre Ética Geral


• Aula 1. Conceito de ética
• Aula 2. A finalidade da ética
• Aula 3. Características da ética

TÓPICO 2: As espécies de ética


• Aula 1. Ética filosófica e social
• Aula 2. Ética religiosa e ética cristã
• Aula 3. Ética profissional e ética econômica

TÓPICO 3: O papel da escola no cultivo da ética


• Aula 1. A ética e o convívio escolar
• Aula 2. A ética docente
• Aula 3. A ética normativa

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Conversa Inicial

Querido(a) aluno(a), neste módulo abordaremos as questões pertinentes a ética


geral no que diz respeito aos aspectos gerais. Por isso, torna-se importante analisar, não
apenas, os elementos que se relacionam com o conceito, mas especialmente
compreender a importância da ética no sistema social, diferenciando dos elementos que
formam a moral.

É importante que você se dedique ao estudo, pois é preciso compreender que


o comportamento humano não pode prescindir da ética e, por isso, se tornará possível
identificar dentro do nosso sistema social, as atitudes dos indivíduos que se revestem de
ética.

Tal questão se torna de substancial importância no sentido de construir a


melhor maneira para se comportar na sociedade como todo, não apenas no ambiente
profissional, mas também nos demais ambientes sociais.

Nesse sentido, para que seja possível compreender os elementos que se


referem ao sistema apresentado pela didática, faz-se necessário observar os seguintes
instrumentos técnicos, quais sejam:

Objetivo Geral Analisar os elementos necessários para a compreensão


das questões que se referem a ética geral

Objetivos Específicos Conceituar ética


Especificar as espécies de ética
Identificar as diferenças entre ética e moral

Desse modo, esperamos que você, através deste módulo, adquira ainda mais
conhecimentos acerca dos elementos gerais intrínsecos à condição de compreensão da
ética geral!

Bons estudos e Sucesso!

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INTRODUÇÃO

Olá, caro aluno, cara aluna! Que prazer estarmos juntos para mais essa unidade
de estudos, sob o título de Ética geral. Antes de tudo, precisaremos conhecer os
elementos conceituais sobre ética e, em seguida, poderemos perceber que a importância
da utilização do instrumento da ética no cotidiano da sociedade. Observar-se-á que existe
uma diferença conceitual e procedimental entre ética e moral, mas que podem caminhar
em plena harmonia.

No início desta unidade será possível compreender os aspectos gerais sobre


ética, nomeadamente, conceito, objeto (função) e importância social. Posteriormente,
você poderá compreender como a ética se aplica especificamente em algumas áreas
profissionais.

Sendo assim, nosso foco principal neste presente módulo é possibilitar a


compreensão geral da ética e a importância da prática ética no estado social. E, para além
da compreensão conceitual e identificação da importância prática na sociedade, torna-se
essencial observar como os profissionais devem se portar eticamente no ambiente de
trabalho.

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TÓPICO 1- Considerações gerais sobre Ética Geral

Aula 1. Conceito de ética

O discurso ético é tanto antigo quanto é antiga a história do ser humano. Desde
as suas origens, sobretudo quando ganhou a consciência da sua presença como ser
diferente, e desde que começou a fazer a experiência da sua existência e busca de
realização, o ser humano sempre se inquietou sobre como estar com os outros, como
agir, como deve ser e fazer (LAISSONE et al, 2017).

A ética é entendida como uma disciplina filosófica que busca refletir sobre os
diferentes sistemas morais e compreender a fundamentação de suas normas. Exige
reflexão sobre ações humanas consideradas adequadas aos costumes vigentes (VALLS,
1994).

Etimologicamente, o termo “ética” vem do grego ethos. Quando escrito éthos,


com acento agudo (em grego, inicia com a letra épsilon), representa a ideia fundamental
de usos, costumes, que na vida de um povo ocupam um lugar importante no conceito
próprio de moralidade, e, portanto, identificando-se mais com a moral e, quando escrito
êthos, com acento circunflexo (em grego, inicia com a letra êta), significa carácter ou
modo de ser, e dá, portanto, a ideia de disposição interior, de personalidade. Portanto,
podemos dizer que o universo ético compreende esses dois polos: o polo exterior (próprio
da moral, dos costumes), e o polo interior (próprio da interioridade, do carácter)
(LAISSONE et al, 2017).

Originariamente, o conceito era tomado a partir do seu caráter exterior, de vida


coletiva. Daí o conceito ser usado para ações que promovam o bem comum ou a justiça
no meio social. Devido ao fato de que os gregos a utilizavam no sentido de hábitos e
costumes que privilegiassem a boa vida e o bem viver entre os cidadãos, com o tempo tal
palavra passou a significar modo de ser ou caráter. Enfim, tinha que se garantir um modelo
de vida que deveria ser adquirido ou conquistado pelo homem por meio da disciplina rígida
que lhe formaria o caráter e que seria transmitida aos jovens pelos adultos. Na Grécia, o
homem aparece no centro da política, da ciência, da arte e da moral, uma vez que para
sua cultura até os deuses eram humanos com seus defeitos e qualidades (LAISSONE et
al, 2017).

A ética deva ser principalmente um lugar onde as pessoas sejam

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permanentemente encorajadas, animadas e confortadas. A grande palavra da ética é:
podes fazer mais e melhor, na vida és chamado a ser algo superior; é possível ser
honesto e é uma aventura extraordinária do espírito (MARTINI, 1994).

A ética, partindo do seu étimo, pode ser entendida como o abrigo que confere
proteção e segurança aos indivíduos (cidadãos), aqueles responsáveis pelos destinos da
pólis (cidade). Ela é, por um lado, o produto das leis erigidas pelos costumes, e, por outro,
das virtudes e hábitos gerados pelo caráter dos indivíduos. Por isso, a ética não só diz
respeito aos costumes culturais ou sociais, mas também se refere ao perfil, a maneira de
ser e a forma de vida adquirida ou conquistada pelo homem. A ética imprime o caráter da
pessoa: mostra-me como te comportas e eu te direi o grau da tua ética (LAISSONE et al,
2017).

Sendo assim, a ética pode ser definida como a teoria acerca do comportamento
moral dos homens em sociedade, ou seja, ela trata dos fundamentos e da natureza das
nossas atitudes, e se manifesta efetivamente na conduta do homem livre (LAISSONE et
al, 2017).

E, por isso, o mundo do ethos é composto por dois lados: a coletividade


(intersubjetividade) e a subjetividade (individualidade). Existem condicionantes internos
(carácter) e externos (costumes) que determinam a conduta do indivíduo. Portanto, o que
se está a dizer é que a prática do bem e da justiça envolve o respeito às leis da pólis
(heteronomia) e a intenção individual de cada sujeito em fazer o bem (LAISSONE et al,
2017).

Figura 1 – Ética e Moral

Ética Ethos Coletividade Subjetividade


Carater

Costume

Conduta do Indivíduo

Prática do bem

Fonte: Elaborado pela autora (2018 )

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Aula 2. A finalidade da ética

A função do ethos é promover a excelência moral, ou seja, a prática das virtudes


(areté). E o exercício das virtudes tem como fim último a felicidade (a vida boa, a vida
virtuosa). A ética trata do comportamento do ser humano, da relação entre sua vontade e
a obrigação de seguir uma norma, do que é o bem e de onde vem o mal, do que é certo
e errado, da liberdade e da necessidade de respeitar o próximo. Ela se impõe como a
condição fundamental de possibilidade para a prática das virtudes e o exercício da
cidadania (LAISSONE et al, 2017).

A ética discute os valores que se traduzem em existências humanas mais felizes,


mais realizadas, com mais bem-estar e qualidade de vida. Além disso, busca os valores
que signifiquem dignidade, liberdade, autonomia e cidadania. Na medida em que
entendemos a importância da ética para a sobrevivência humana com qualidade e
integridade, compreendemos também a complexidade envolvida em suas relações com
outros campos do saber e da prática, fundamentais à vida humana em sociedade (NEME;
SANTOS, 2009).

Entretanto, torna-se necessário destacar que, a apreensão e a aprendizagem


formal dos valores éticos só podem se dar por meio das relações humanas que o homem
precisa estabelecer desde cedo. Muitos dos valores que possuímos são apreendidos
(subjetivamente) na família e na comunidade, principalmente pela observação das
atitudes e comportamentos dos adultos e de outras crianças (NEME; SANTOS, 2009).

Nesse sentido, pode-se afirmar que a ética estuda as atitudes morais de uma
pessoa ou de um grupo de pessoas identificando o comportamento humano dos
indivíduos como correto e incorretos de acordo os valores e crenças de cada época (REIS;
MAGALHÃES, 2009).

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Figura 2 – Funções da Ética

Esclarecer o que é a moral, quais são seus traços específicos

Fundamentar a moralidade, ou seja, procurar averiguar quais são as


razões que conferem sentido ao esforço dos seres humanos de viver
moralmente

Aplicar aos diferentes âmbitos da vida social os resultados obtidos nas


duas primeiras funções, de maneira que se adote uma moral crítica em
vez da subserviência a um código

Fonte: Elaborado pela autora (2018)

Aula 3. Características da ética

Em virtude de a ética estar relacionado ao saber científico específico que


caminha em direção ao bom, o indivíduo ético expressa uma qualidade ou uma dimensão
da realidade humana em relação à responsabilidade das pessoas. O ético é o que revela
bom caráter, boa conduta, ao passo que o antiético é o oposto, ou seja, o que manifesta
conduta duvidosa, uma conduta que deixa muito a desejar (LAISSONE et al, 2017).

Diante da variação de atuação da ética, já que é um instrumento que não


especifica área profissional de atuação, torna-se possível, portanto identificar várias
características na acepção da ética e, segundo Laissone et al (2017), as principais são:

a. A ética é irredutivelmente diferente

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Ainda que confundível e, de facto, frequentemente confundido com outras
realidades, o moral é essencialmente diferente e não redutível a elas. O que se verifica
nomeadamente com relação aos imperativos ou normas sociais, religiosas, jurídicas, etc.
As diversas tentativas ‘redutoras’ do moral – como a psicanalítica, a teoria emotiva, a da
escola sociológica, etc., – revelam-se insustentáveis, cometendo frequentemente o
paralogismo que consiste em passar indevidamente do que se refere à génese psicológica
para o que diz respeito à essência ou natureza da realidade em estudo (LAISSONE et al,
2017).

b. A ética é relativa à liberdade

O bem ou o mal moral só se consideram existentes, propriamente


falando, nos atos livres; só são atribuídos às pessoas que agem (ou são
supostas a agir) livre e responsavelmente. Por outras palavras, a moralidade é
universalmente percebida como implicando essencialmente a liberdade. O
valor moral apresenta-se como o valor próprio do agir livre e do agente livre
(LAISSONE et al, 2017).

c. A ética é “pessoal”

Formulando de outro modo o acima dito: é convicção universal que a moralidade


não se verifica em qualquer ato realizado por um ser humano, mas apenas naqueles de
que este é verdadeiro autor, que pode chamar verdadeiramente ‘seus’ e pelos quais é,
por isso mesmo, responsável. Tais atos, verdadeiramente ‘pessoais’, são os que, em
terminologia escolástica (também adoptada pelos autores não escolásticos), se designam
por atos humanos, por contraposição aos atos ditos simplesmente do homem (mas não
da pessoa) (LAISSONE et al, 2017).

d. A ética é “humana”

O valor moral está assim ligado ao que no ser humano é mais


‘seu’, mais pessoal, mais humano. Este carácter eminentemente humano do
moral patenteia-se eloquentemente no fato conhecido da linguagem comum,
que reserva o sentido moral aos adjetivos bom/mau quando usados sem
qualquer especificação: dizer de alguém que é bom, sem mais, equivale a dizer
que é moralmente bom. O que sugere que o valor do ser humano como ser
humano, está ligado ao que ele vale moralmente (LAISSONE et al, 2017).

e. A ética é relativa a normas

Como se verifica em todas as avaliações, também a atribuição de valor moral


aos atos humanos e seus autores é feita mediante a sua confrontação (implícita ou

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explícita) com as normas que se julga deverem reger a
conduta humana. Nisto consiste precisamente o “emitir um
juízo de valor”, afirmar a conformidade ou não entre o que
‘é’ e o que ‘devia ser’ (LAISSONE et al, 2017).

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f. A ética é incondicional

A normatividade moral é geralmente concebida – pelo fato de que é


experimentada desta forma por cada um – como possuindo um carácter de
irrecusabilidade, graças à qual o ser humano, mesmo tornando-se capaz de a
desrespeitar, não tem a possibilidade de a anular. Portanto, a exigência moral
apresentase como incondicional, absoluta e categórica, ou seja, nem ‘hipotética’, nem
‘disjuntiva’. Tudo isto aparece mais claramente, embora não exclusivamente, nos casos
em que o valor moral se apresenta como obrigatório, como dever (LAISSONE et al, 2017).

g. A ética é transcendente

O carácter incondicional ou absoluto de que aparece revestido o


valor moral faz com que ela surja como superior a todos os outros (com a
exceção, até certo ponto, do valor religioso, o qual está de resto intimamente
ligado a ele), preferível a qualquer outro, não sacrificável perante nenhum,
inegociável. Isto faz com que, em vez de se apresentar como um valor para o
ser humano, parece que, pelo contrário, é o ser humano que para ele está
orientado e a ele submetido. E esta é uma questão fundamental e decisiva, em
cuja elucidação culmina a tarefa da filosofia moral (LAISSONE et al, 2017).

Figura 3 - CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA

CARACTERÍSTICAS DA ÉTICA
( LAISSONE et al, 2017)

A ética é irredutivelmente
diferente

A ética é incondicional
A ética é “humana”
A ética é relativa à
liberdade A ética é transcendente

A ética é “pessoal” A ética é relativa a normas

Fonte: Elaborado pela autora (2018).

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PARA VOCÊ REFLETIR

Figura 5 – CONTRAPONTO ENTRE ÉTICA E MORAL

Fonte: Elaborado pela autora (2018)

Ética na sociedade Atual

Desde os primórdios da humanidade o homem precisou viver em grupos ou em


sociedade e em cada época foi criando padrões de comportamento como justiça,
honestidade, responsabilidade, lealdade e respeito de acordo com os valores
estabelecidos na sua cultura (REIS; MAGALHAES, 2009).

A ética é a parte da filosofia que estuda a moralidade dos atos humanos,


enquanto livres e ordenados a seu fim último. De modo natural, a inteligência adverte a
bondade ou malícia dos atos livres, haja vista o remorso ou satisfação que se experimenta
por ações livremente experimenta por ações livremente experimenta por ações livremente
por que tal ação é boa ou má. A resposta a tais questões conduz a um estudo científico
dos atos humanos enquanto bons ou maus (ARRUDA apud REIS; MAGALHAES, 2009).

Para saber um pouco mais sobre a ética na sociedade atual leia o artigo cuja
autoria é de Carmenci Pedroso dos Reis e de Juliano Machado de Magalhães através do
endereço que pode ser acessado pelo link
http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/a-etica-na-sociedadeatual/32569/.

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PARA VOCÊ SABER MAIS

FIGURA 7 – 5 TEMAS DE ÉTICA VIRTUAL

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Fonte: Adaptado pela autora (2018).

PARA VOCÊ LER MAIS

Duas Curiosidades sobre ética por Fábio Lacerda Silva

Não sei se o panorama político brasileiro atual anda pior do que já


foi, mas o fato é que, ao ouvirmos a palavra ‘ética’, é comum que pensemos
em nossos políticos. Ética e termos semelhantes são, com frequência,
empregados para nos referirmos a ações e pessoas que, supostamente,
carecem desse atributo: “esse governante não tem ética”, “aquele político é
antiético”, e por aí vai.
A julgar por esse tipo de chavão, a ética seria uma propriedade que
falta a certas pessoas. Mas será mesmo esse o caso? Será possível que
certas pessoas careçam de ética? A indagação é pertinente.
Do ponto de vista da ética enquanto campo de investigação
filosófica, a ‘ética’ não é uma propriedade que falte a alguns e a outros sobre.
Ela é, antes, um tipo de reflexão sobre o comportamento humano.
Alguns filósofos profissionais se dedicam ao estudo da ética.
Seriam esses homens melhores – no sentido de moralmente bons – do que
os reles mortais? Talvez sim, talvez não, mas, se o forem, nada garantem
que seja pelo estudo da ética. É perfeitamente possível que uma mãe ou um
pai de família sem grandes estudos em filosofia seja uma pessoa melhor do
que um filósofo.
Quando dizemos que certas pessoas não têm ética talvez
queiramos dizer que a mesma não compartilha de nossa concepção de
ética. Há diferentes formas de explicar o comportamento humano, e muitas
delas são conflitantes entre si. A concepção de ética que julgo ser a melhor
para explicar as ações humanas talvez não seja a mesma que a sua. Porém,
isso não significa que a você ou a mim falte ética, rigorosamente falando.
Uma segunda curiosidade sobre a compreensão atual da ética tem
a ver com o tipo de análise normalmente associado a ela. Busca-se
questionar ações e se certas ações seriam boas ou más. “Fazer tal ou qual
coisa é correto?”. Não há nada de errado com esse tipo de indagação, mas
talvez revele que as concepções de ética predominantes hoje estão mais
focadas na ação do que na pessoa que a realiza. Talvez, em vez de nos
preocuparmos tanto com as leis e regras que devem delimitar a ação dos
indivíduos, ou com as consequências dessa ação, devêssemos dar mais
atenção à própria pessoa e à sua realização.

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Em vez de “posso fazer isso?”, talvez pudéssemos pensar mais em
termos de “isso me realiza?” ou “isso me torna melhor?”. A ideia de que a
ética tem a ver apenas com a obediência estrita a deveres pode ter dois
resultados indesejáveis. Em primeiro lugar, pode resultar em uma pouca
atenção às circunstâncias particulares do agente, que poderiam se não
justificar, ao menos tornar compreensível por que ele fez o que fez.
Em segundo lugar, uma visão puramente legalista da ética pode
suscitar justamente o desejo de infringir a lei, pois a obediência à lei acaba
se tornando desvinculada de algum fim para além dela mesma. Uma ética
focada na pessoa poderia, ao contrário, compreender a ação humana não
como uma tentativa de obedecer ao dever, e sim como uma busca pela
felicidade (entendida como realização humana) que, para ser alcançada,
exige esforço e virtude.

TÓPICO 2: As espécies de ética

Assim como as características são variadas em virtude da diversificação dos


elementos de aplicação da ética, apresenta-se, nesse sentido, a identificação de algumas
espécies de ética, nomeadamente, ética filosófica, ética religiosa, ética cristã, ética social,
ética profissional e ética econômica.

Aula 1. Ética filosófica e social

Existe uma profunda ligação entre ética e filosofia: a ética nunca pode deixar de
ter como fundamento uma concepção filosófica do homem que nos dá uma visão total
deste como um ser social e histórico. Dentre os vários conceitos com os quais a ética
trabalha e que pressupõe um prévio esclarecimento filosófico, como os de liberdade,
necessidade, valor, consciência, vamos dar ênfase ao de sociabilidade, ou seja, como a
ética deve estar inserida nas relações humanas em sociedade (SANTO et al, 2017).

Nesse sentido, a Ética na filosofia é o estudo dos assuntos morais, do modo de


ser e agir dos seres humanos, além dos seus comportamentos e caráter. A ética na
filosofia procura descobrir o que motiva cada indivíduo de agir de um determinado jeito,
diferencia também o que significa o bom e o mau, e o mal e o bem (SANTO et al, 2017).

A ética na filosofia estuda os valores que regem os relacionamentos


interpessoais, como as pessoas se posicionam na vida, e de que maneira elas convivem
em harmonia com as demais (SANTO et al, 2017).

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Para a filosofia clássica, a ética estudava a maneira de buscar a harmonia entre
todos os indivíduos, uma forma de conviver e viver com outras pessoas, de modo que cada
um buscasse seus interesses e todos ficassem satisfeitos. A ética na filosofia clássica
abrangia diversas outras áreas de conhecimento, como a estética, a psicologia, a
sociologia, a economia, pedagogia, política etc (SANTO et al, 2017).

Como teoria filosófica, a ética se caracteriza como estudo das ações individuais
dos homens, cuja finalidade consiste em elaborar uma orientação normativa para as
ações humanas que sejam estabelecidas como bem (SANTO et al, 2017).

Com o filósofo grego Aristóteles a ética passou a ser a “ciência do moral”, ou


seja do caráter e das disposições do espírito. Enfatizamos que a ética é um conjunto de
argumentos que são utilizados pelos indivíduos para justificar suas ações, solucionando
com diferentes problemas em que há o conflito de interesses com bases em argumentos
universais. Ou salientamos que a ética é uma filosofia responsável por estudar a moral,
contestando e identificando o que podemos chamar de regras morais vigentes, as quais
são alteradas com o tempo (SANTO et al, 2017).

A Ética como teoria filosófica tem por objetivo estudar o comportamento dos
indivíduos frente aos apelos morais da sociedade em que este vive. Ela se manifesta de
diferentes maneiras conforme a cultura, costumes e hábitos de determinadas populações
(SANTO et al, 2017).

Portanto, ao passo que a ética padrão é enquadrada tipicamente dentro de uma


moral individual, a ética social se desenvolve dentro de uma sociedade, onde o objetivo
central é adequar de maneira ampla o comportamento apropriado.

Entretanto, a percepção diversificada das pessoas no que tange o


funcionamento da sociedade, no que diz respeito ao comportamento social como um
todo, torna difícil não apenas a apreensão dos valores éticos, mas especialmente a sua
aplicação.

FIGURA 8 – Ética em revista.

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Dessa forma, torna-se comum observar o enquadramento da compreensão de
ética dentro de uma perspectiva de código de conduta, no sentido de perceber o
comportamento aceitável da população (SANTO et al, 2017).

FIGURA 9 – Relação Ética – Moral.

Ahhh, então o processo da


ética passa pela aceitação
da sociedade.Por isso a
ética encontra-se
intimamente ligada a
compreensão da moral!

Fonte: Elaborado pela autora (2018).

Aula 2. Ética religiosa e ética cristã

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A ética religiosa busca viver os valores baseada um uma interpretação teológica
da história. Assim, a ética cristã é a resposta da comunidade cristã a Deus em um
determinado momento da história. Essa resposta se fundamenta em uma interpretação
da fé (PEREIRA, 2001).

Por isso a vivência concreta dos valores, também na fé cristã, assume


características próprias em cada época e em cada cultura, já que cada época tem e
sensibilidades próprios. Não obstante, há que se ter em conta que a ética está além da
disciplina da cultura, dos ethos particulares, pois ela é o dogma historicizado, apesar da
relativização em sua formulação normativa (PEREIRA, 2001).

O advento da ética cristã, que se propagou tão rapidamente no velho mundo


conhecido, deve-se ao fato da exclusividade da aplicação dos modelos éticos as classes
dominantes, principalmente Grécia antiga. A expansão da ética cristã se explica pelo fato
da extensão da cidadania moral a todos, inclusive aos escravos. A doutrina cristã
revolucionou o pensamento ético contemporâneo, introduzindo uma concepção religiosa
de bem no pensamento ocidental. (ENCARTA, 2001).

Os princípios do cristianismo, ao contrário das demais religiões, não estão


relacionados às identidades sociais e políticas, faz com que o Deus cristão tivesse relação
direta com os indivíduos. Desta forma, originaria o fato de que a vida ética dos cristãos
não se definisse por suas relações sociais, mas sim, por uma íntima relação espiritual
diretamente com Deus. (CHAUÍ, 2002).

Figura 10 – Comentários sobre Ética Cristã

Figura 11 – Comentários sobre Ética Cristã

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Ah, então é por isso que a s
organizações destas comunidades
foram se hierarquizando e assumindo
níveis de complexidade administrativa,
semelhante à s do Império Romano,
em que se espelhou, surgindo assim ,
as estruturas administrativas da igreja
católica, com padres, bispos e o chefe
supremo denominado papa.
(CHALITA, 2002).

Fonte: Elaborado pela autora com base em Chalita (2002).

Aula 3. Ética profissional e ética econômica

A ética profissional é o conjunto de normas morais pelas quais um indivíduo


deve orientar seu comportamento profissional. A Ética é importante em todas as
profissões, e para todo ser humano, para que todos possam viver bem em sociedade. “A
ética profissional é a aplicação da ética no campo das atividades profissionais; a pessoa
tem que estar imbuída de certos princípios ou valores próprios do ser humano para vivêlos
nas suas atividades de trabalho.” (SILVA, 2015).

A ética profissional é de extrema importância em todas as profissões, na área


da saúde não seria diferente. Trabalhar com pessoas, com sentimentos, com valores é
complexo e deve ser reflexionado e discutido as melhores formas de agir em certas
circunstâncias, em dilemas éticos. Assim surge a Bioética, uma neologia para uma nova
área de estudos (SILVA, 2015).

A perspectiva do desenvolvimento humano perpassa concepções de bem-estar


social e tem origem na “engenharia” econômica e na ética, com o objetivo de nortear a
conduta individual e consequente alteração no comportamento real das sociedades. De
fato, economia e ética convergem para a elaboração de políticas econômicas, com o fim
último de promover o “bem para o homem” (BENEVENTE, 2011).

Vivemos em um mundo de grande opulência, no qual se objetiva a conquista de


riqueza material como referencial de prosperidade e satisfação pessoal, bem como

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conotação de crescimento econômico, a despeito do respeito à liberdade humana e
valorização das capacidades individuais (BENEVENTE, 2011).

Existe um gradativo distanciamento entre economia e ética, ou, mais


especificamente, no que tange às decisões de economia política e conduta moral. A
economia, embora orientada na busca pela riqueza, relaciona-se ao estudo da ética e da
política, ponto de vista observado na Política de Aristóteles, para quem “o fim do Estado”
é “a promoção comum de uma boa qualidade de vida” (SEN, 1999).

O desenvolvimento pressupõe, além de uma trajetória de proximidade entre


economia e ética, no qual imperativos de justiça, respeito e liberdade sejam
interdependentes, na confluência de princípios de “engenharia” econômica e conduta
moral, a sobreposição das principais fontes de privação de liberdade: pobreza e tirania,
carência de oportunidades econômicas e destituição social sistemática, negligência dos
serviços públicos e intolerância ou interferência excessiva de Estados repressivos (SEN,
1999).

3.1. As diferenças conceituais

Uma discussão de relevo é sobre a distinção entre ética e moral. Instala-se aqui
uma verdadeira confusão entre as similitudes e diferenças, a começar pelas definições
dos dicionários de filosofia. Quanto à origem do termo, de “a moral deriva deηθοζ
‘costumes’, do mesmo modo que a ‘ética’, de ηθοζ.” Por vezes, a ética e a moral são
usadas indistintamente (FIGUEIREDO, 2008).

Por isso, esse vocábulo é algumas vezes utilizado como sinônimo de ética.
Entretanto, usa-se a palavra moral mais frequentemente para designar códigos, condutas
e costumes de indivíduos ou de grupos, como acontece quando se fala da moral de uma
pessoa ou de um povo. Aí, é o equivalente da palavra grega ethos e da latina mores
(FIGUEIREDO, 2008).

De acordo com Aranguren (1972), possui diferentes sentidos com referência


direta ao comportamento humano e à sua classificação como moral ou, ao seu contrário,
imoral; como parte da filosofia – filosofia moral. Moral, também escrita com maiúscula,
quando se ocupa do comportamento humano no que se refere a bem ou mal.

O termo “moral” é utilizado atualmente de maneira distinta. Assim como ocorreu


com os significados de ethos, essa multiplicidade de usos também deu lugar a alguns
mal-entendidos. Algumas vezes o termo moral é empregado como substantivo e outras
vezes como adjetivo (FIGUEIREDO, 2008).

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A Ética estuda a Moral e determina o que é bom, e a partir deste ponto de vista,
como se deve agir. Ou seja, é a teoria ou a ciência do comportamento moral. Ética e Moral
são discutidos com igual significado. No entanto, em um nível intelectual, enquanto que
"a moral tende a ser particular, pela concretude de seus objetos; a ética tende a ser
universal, pela abstração de seus princípios”. Ética é reflexiva (FIGUEIREDO, 2008).

Desta maneira, a moral é fruto do padrão cultural vigente e engloba as regras


tidas como necessárias para o bom convívio entre os membros que fazem parte de
determinada sociedade. A moral é formada pelos valores previamente estabelecidos pela
própria sociedade e os comportamentos socialmente aceitos e passíveis de serem
questionados pela ética. Pode-se afirmar que, ao falarmos de moral, os julgamentos de
certo ou errado dependerão do lugar onde se está. Por fim, pode-se considerar que a
ética engloba determinados tipos de comportamentos, sejam eles considerados corretos
ou incorretos; já a moral estabelece as regras que permitem determinar se o
comportamento é correto ou não (VÁZQUEZ, 1993).

À guisa de conclusão, deve-se entender por moral um sistema de normas,


princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os
indivíduos ou entre estes com a comunidade de forma não coercitiva. De maneira que
estas normas são dotadas de um caráter histórico e social e são acatadas de forma livre
e por convicção de foro íntimo (VÁZQUEZ, 1993).

FIGURA 12 – Contraponto Moral x Ética

Fonte:
Elaborado pela autora (2018)

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PARA VOCÊ REFLETIR
Benefícios da ética no trabalho

O profissional ético é, naturalmente, admirado, pois o respeito pelos colegas e


pelos clientes é o que dá destaque a esse colaborador. A ética seria uma espécie de filtro
que não permite a passagem da fofoca, da mentira, do desejo de prejudicar um
colaborador, entre outros aspectos negativos (SBCOACHING, 2018).

E é necessário ressaltar que os líderes são profissionais éticos, ou devem


ser, para desenvolver as competências do cargo com êxito. Os que optam pela ética
preferem oferecer feedbacks, em vez de deixar o ambiente de trabalho desarmônico, e
são honestos quanto às próprias condições, ou seja: não inventam mentiras para se
ausentar das falhas (SBCOACHING, 2018).

Cultivar a ética profissional no ambiente de trabalho traz benefícios e vantagens


a todos, uma vez que ela proporciona crescimento à empresa e a todos os envolvidos.
Com uma conduta ética bem estruturada é possível contribuir para a melhora do clima
organizacional, do trabalho em equipe e respeito mútuo entre todos colaboradores. E com
um ambiente de trabalho mais prazeroso e amistoso é possível ter profissionais mais
engajados, motivados e satisfeitos (SBCOACHING, 2018).

PARA VOCÊ SABER MAIS

Ética Profissional e Coaching

O processo de coaching traz à tona os reais valores, princípios e a missão de


uma pessoa e, por meio do autoconhecimento, é possível enxergar os pontos que
confrontam os propósitos e que causam insatisfação. Assim, quando um profissional se
vê desalinhado com os objetivos da empresa ou os rumos em que sua carreira está
tomando, provavelmente, há um desajuste de valores. O mesmo serve para a vida
pessoal, relacionamentos, etc (SBCOACHING, 2018).

Por isso, os princípios que norteiam um processo de coaching são totalmente


embasados pela ética, que começa desde a relação de coach (profissional) e coach
(cliente), pois se não houver credibilidade e confiança entre ambos, não há
resultados. Responsabilidade, comprometimento e empatia são essenciais entre coach e
coachee, que estabelecem um compromisso ético bilateral para atingir metas e objetivos
(SBCOACHING, 2018).

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Figura 13 – Dimensões de Coaching.

Valores

Responsabil
idade Empatia
O processo
de
coaching

Missão Princípios

Fonte: Elaborado pela autora (2018)

TÓPICO 3: O papel da escola no cultivo da ética

Aula 1. A ética e o convívio escolar

A escola é uma instituição cujo papel consiste na socialização do saber


sistematizado e exerce, segundo o autor, o papel de mediadora do conhecimento entre o
indivíduo e a sociedade. Todavia, apesar das dificuldades a serem ainda superadas na
educação especial, é especialmente na escola e pela educação, que crianças e jovens
podem aprender, refletir e vivenciar valores éticos, podendo chegar a uma existência
cidadã (NEME; SANTOS,2009).

A escola inclusiva é compreendida como uma instituição que se encontra


sobrecarregada com novas demandas sociais, que procura superar suas contradições e
educar crianças e jovens com diferentes necessidades (NEME, 2009).

A Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva representa o


necessário e tardio reconhecimento de valores éticos básicos e fundamentais, bem como
do respeito aos Direitos Humanos essenciais à existência humana em sociedade. Tratase,
portanto de uma questão que vai muito além do plano legal, pois significa respeitar o
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2
direito da pessoa com deficiência de conviver socialmente, beneficiando-se dos bens
culturais que pertencem a toda a humanidade (NEME; SANTOS, 2009).

É no convívio escolar que os estudantes com e sem necessidades especiais


podem ter vivências significativas, dignificantes e construtivas, aprendendo valores éticos
que são fundamentais e que devem ser ensinados e aplicados universalmente, tais como:
respeito às diferenças, integridade, tolerância, liberdade, responsabilidade, cuidado,
igualdade, solidariedade (NEME, 2009).

Figura 14 – Temas da Educação Inclusiva.

Integridade

Tolerância Cuidado

Escola
Inclusiva
Solidariedade Igualdade

Respeito

Fonte: Elaborado pela autora (2018 ).

Aula 2. A ética docente

Em muitos dos casos, a ação docente é vista em paralelo com o ambiente em


que se trabalha. Fato é que, tanto ambiente quanto docente estão interligados pelo
mesmo objetivo: educar. O espaço educacional, em sua estrutura física, deve buscar
promover a educação, contribuindo não só com estruturas arquitetônicas, mas com todo
material de apoio técnico pedagógico, que corrobora com a busca de uma educação
autônoma (SANTOS, 2010).

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3
O repensar esse espaço vai muito além de se conceber formas pré-moldadas,
para atuação pedagógica; mas é extremamente necessário estabelecer uma relação –
estreita – com esse ambiente, em que haja a compreensão de que um complementa o
outro, isto é, docente completa a sala, e sala completa o docente. Infelizmente, em alguns
casos, o que se vê é um completo descaso por parte das administrações escolares – e
mesmo dos docentes – quando se trata de conservação do patrimônio escolar (SANTOS,
2010).

Essa dimensão de formação humano-social, presente no ambiente de sala de


aula, retifica os princípios morais, no sentido de que o ambiente educacional é um
formador de princípios. E ao se colocar o ambiente como formador deve-se buscar
trabalhar esse mesmo ambiente para que ele se torne o mais agradável possível,
estimulando a cultura, a ética e a ortopráxis (SANTOS, 2010).

E nesse caminho educacional que a adaptação do docente é de fundamental


importância; pois tal fato irá refletir em seu comportamento em sala de aula. Para tanto,
tomar-se-ão alguns momentos da prática docente para referendar a discussão. Dentre
eles têm-se: a chegada, o caminho, a sala de docentes, a coleta de informações, o
caminho de volta, o comportamento e o ambiente da sala de aula. A chegada à escola é
um ponto crucial. O docente adentra o recinto escolar, observando tudo e todos; olhando
atentamente para aqueles que, possivelmente, serão seus educandos (SANTOS, 2010).

O caminho entre o bom-dia falado na portaria e a sala dos docentes parece


mágico, infindável, um sonho que se realiza. Crianças correndo, jovens conversando,
casais de mãos dadas, tudo parece colaborar para que o dia seja maravilhoso. Algumas
conversas e cumprimentos depois, o docente adentra a sala dos docentes. O curioso é
que qualquer comunicação vinda do novato parece não ser ouvida. Nesta inóspita sala,
os docentes preparam suas aulas, corrigem provas e trabalhos; uns reclamam da vida,
outros dos educandos, mas, a grande maioria conta ininterruptamente os feriados a serem
concedidos naquele ano, mediante o desgaste profissional (SANTOS, 2010).

A gestão da classe, a gestão do grupo, a relação docente/aluno, aluno/aluno,


faz-se sob uma nova abordagem da observação in loco por meio da entrevista
estruturada, da história de vida, das anotações de campo, sem se falar do longo contato
dos sujeitos – docente e aluno, considerando-se o contexto no qual ambos estão na sua
imediaticidade situados (CAMPOS, 2002).

A falta de uma educação ética que vise à formação da consciência crítica e da


práxis leva a eclodir na humanidade os falsos valores, que matam o ser humano, e os
anti-valores, que a assolam. Ambos evitam a emancipação do humano, tolhem a
construção do ser, criam caminhos diversos, desviando a atenção da pessoa humana, e
volta-a para o totalitarismo econômico, para a violência, as drogas, a prostituição, fazendo
do ser humano um simples objeto, ou mesmo produto de consumo descartável, nivelando
os valores (SANTOS, 2010).
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Dessa forma o trabalho na busca da reinvenção do ser do humano, seus valores
e sua vida, passa pela revisão dos conceitos antropológicos, ontológicos e,
principalmente, pela dissolução da falsa liberdade e dos falsos valores, mostrando a
igualdade da espécie humana e ao mesmo tempo suas diferenças. É preciso pautar pelo
respeito à vida, da confiante ajuda mútua na construção do ser de cada um, possibilitando
um encontro com a essência e a liberdade, tão almejada e tão inata ao homem; essência
essa, que não se faz possível sem uma real compreensão e vivência da ética e,
consequentemente, da educação (SANTOS, 2010).

A educação deve ser ponto inseparável da ética. A ética é caminho obrigatório


da educação. O intuito é formar seres humanos novos, capazes de assumirem a
responsabilidade pelo seu mundo, mas principalmente pelos outros. Seres humanos
conscientes, portadores da verdadeira prática refletida que leva à construção de um
mundo mais justo, solidário e mais humano (SANTOS, 2010).

Os seres humanos docentes, que interajam com o mundo e com os outros,


sabendo unir realidade, verdade, vida, educação, ética e, acima de tudo, utopias. Pois se
a educação não for utópica, o mundo continuará igual, sem avanços e sem metas; para
não acabarmos como no pensamento de Einstein: “Educação é o que resta depois de ter
esquecido tudo que se aprendeu na escola" e voltemos para uma educação ética
(SANTOS, 2010).

A ética é elemento essencial no


processo de ensino e
aprendizagem.

Figura 15 – Lembrete sobre Ética na Educação.


Fonte: Elaborado pela autora (2018).

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Aula 3. A ética normativa

A ética normativa é um campo da Filosofia que disciplina a questão das normas


dentro da Ética. Somente cabe falar de regramento ético dentro da ética normativa
(MACEDO, 2016).

Figura 16 – Facetas da Ética.

Ética
Ética Ética
axiológica Normativa Deontológica
( MACEDO, 2016)

Fonte: Elaborado pela autora (2018)

É na Ética deontológica que se originam os códigos de ética profissionais. – A


deontologia do serviço público está disciplinada em vários documentos normativos, e o
principal deles é o Decreto n. 1.171/1994; – Termo criado em 1834; – Significa Teoria do
Dever (MACEDO, 2016).

Nesse sentido, pode ser observado que a ética pode ser aplicada a uma tarefa
mais específica ou a uma determinada prática e pretende estabelecer os standards que
regulam o que se considera uma conduta certa ou errada Aqui trata-se de adquirir boas
práticas, saber quais são as nossas obrigações e quais podem ser as consequências das
nossas ações nos outros (MACEDO, 2016).

O princípio orientador da ética normativa é que só existe um critério de conduta


moral correto, este critério pode ser constituído por um princípio ou por um conjunto de
princípios (MACEDO, 2016).

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PARA VOCÊ REFLETIR

As respostas filosóficas para as questões éticas variam no tempo e no espaço,


e ainda apresentam uma característica fundamental que envolve a posição dos indivíduos
em relação ao valor e as virtudes que são defendidos em seu meio cultural. Com isso, os
filósofos investigam o que leva diferentes grupos sociais a se indagarem sobre questões
e valores semelhantes, sem ignorar que, os significados atribuídos a eles nem sempre
são os mesmos (SANTOS; TEIXEIRA, 2017).

Há filósofos que concebem o homem como um ser dotado de um senso moral


inato, ou seja, da capacidade natural para avaliar como as coisas são e como elas
deveriam ser. Alguns acreditam que as diversas tendências culturais e individuais atuam
sempre sobre a capacidade comum entre os seres humanos e são determinantes da
formação do caráter e da personalidade (SANTOS; TEIXEIRA, 2017).

E há filósofos que afirmam a existência da liberdade, ressaltando sempre que,


apesar da pressão de costumes e leis, nós sempre podemos refletir sobre as questões
éticas e sobre a moral aprendida, e que, segundo eles, há uma possibilidade que nos faz
responsáveis por nossas próprias escolhas e que nos permite contribuir para a renovação
com as normas com que nos deparamos no dia a dia. Vejamos agora, em breves linhas,
alguns posicionamentos filosóficos de pensadores consagrados ao longo da História da
Filosofia (SANTOS; TEIXEIRA, 2017).

PARA VOCÊ SABER MAIS

Os valores éticos não nascem com a gente, não pertencem ao que se possa
chamar de “natureza humana”. O ser humano, não nasce humano, mas se torna ao ser
acolhido no meio social, no convívio afetivo com outras pessoas. Ele precisa de cuidados
constantes para sobreviver e para adquirir a linguagem (pensamento, simbolização,
imaginação, comunicação verbal ou qualquer outra forma de comunicação), condição
essencial para que construa sua identidade (NEME; SANTOS, 2009).

A apreensão e a aprendizagem formal dos valores éticos só pode se dar por


meio das relações humanas que o homem precisa estabelecer desde cedo. Muitos dos
valores que possuímos são apreendidos (subjetivamente) na família e na comunidade,
principalmente pela observação das atitudes e comportamentos dos adultos e de outras
crianças (NEME; SANTOS, 2009).

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PARA VOCÊ LER MAIS

Se você deseja saber um pouco mais sobre Ética: A área da filosofia que estuda
o comportamento humano acesse o endereço através do link
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/etica-a-area-da-filosofia-que-
estudaocomportamento-humano.htm?cmpid=copiaecola

Figura 17 - Os Desafios da Ética no Mundo Globalizado

Pobreza Mudanças Tratamento


Global Climáticas com os
animais

A reflexão sobre os efeitos da tecnologia precisa ser feita. A definição doautor é


verdadeira, e traz a realidade que se coloca na atualidade. É necessário estabelecer os
limites do uso dos diversos tipos de inventos, que possuem uma influência muito grande
em todos os atos dos seres humanos.

Na informação, parte mais relevante dos avanços da tecnologia, a mesma


questão pode ser aplicada. Foi-se desenvolvendo, com o tempo, os sistemas de
informação, que ganharam força com a criação da internet e de outros meios informativos,
responsáveis por tornar mais rápida e eficiente a comunicação.

Por isso, afirma-se que alguns conceitos são básicos na condução do sistema
de informação de uma empresa. São exemplos éticos como a responsabilidade, a
prestação de contas, a obrigação de indenizar e o devido processo legal.

Para ler o texto completo sobre os desafios da ética frente aos avanços
tecnológicos acesse o conteúdo pelo link: https://www.academia.edu/8023866/
os_desafios_da_%c3%89tica_frente_aos_avan%c3%87os_tecnol%c3%93gicos.

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NOSSO RESUMO

Nesta aula destacamos a questão da ética como sendo, segundo Valls (1994)
uma como uma disciplina filosófica que busca refletir sobre os diferentes sistemas morais
e compreender a fundamentação de suas normas. E, por isso, exige reflexão sobre ações
humanas consideradas adequadas aos costumes vigentes.

Portanto, foi possível compreender que o mundo do ethos é composto por dois
lados: a coletividade (intersubjetividade) e a subjetividade (individualidade). Existem
condicionantes internos (carácter) e externos (costumes) que determinam a conduta do
indivíduo. Portanto, o que se está a dizer é que a prática do bem e da justiça envolve o
respeito às leis da pólis (heteronomia) e a intenção individual de cada sujeito em fazer o
bem (LAISSONE et al, 2017).

Ainda destacou-se as espécies de ética e ainda, foi possível compreender as


diferenças substanciais entre os elementos que compõem a ética e a moral. Sendo assim,
no presente módulo houve a compreensão sistematizada dos elementos que gira em
torno da ética, nomeadamente, conceito, características e funcionalidade.

2
9
REFERÊNCIAS

ARANGUREN J.LL. Ética. 5a ed. Madri: Seleta; 1972.p.24-5-6.

BENEVENTE, Rogério. Economia e ética: perspectivas do desenvolvimento


econômico e social. Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano VIII, n. 37.
2011.

CAMPOS, M. et al. História da Ética. CienteFico. Ano II, v.I, Salvador, agostodezembro
2002. Disponível em: Acessado em: 24 de Setembro de 2018

CHALITA, Gabriel. Vivendo a filosofia. São Paulo: Atual, 2002.

CHAUÍ, Marilena. Filosofia. 1. ed. São Paulo: Ática, 2002.

ENCARTA. Enciclopédia encarta 2001. Microsoft Corporation, 2001. CR-ROM.


Fevereiro de 2017. Manual de Ética geral. Disponível em:
https://www.ucm.ac.mz/cms/sites/default/files/publicacoes/pdf/.2017. Acesso em 24
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FIGUEIREDO, Antônio Macena. Ética: origens e distinção da moral. Saúde, Ética &
Justiça. 2008;13(1):1-9

LAISSONE, Elton João C.; AUGUSTO, Jorge Augusto; MATIMBIRI, Luís Alberto.

MACEDO, António Filipe. Psicologia e ética na optometria. 2016. Disponível em:


https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/41971/1/E%CC%81tica_Para_O
ptometristas_Notas_Teo%CC%81ricas_2015_2016.pdf.

MARTINI, M. L. Ética: Algumas considerações teóricas e práticas. Disponível em: <


http://site.unitau.br/scripts/prppg/humanas/download/etica-N1-1994.pdf >. Acesso em
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NEME, C. M. B.; PEREZ, M. C. A. Ética. In: CAPELLINI, V. L. M. F.; RODRIGUES, O. M.


P. R. (Orgs.). Formação de Professores: práticas em Educação Inclusiva.
UNESP/FC. v.2. unidade 4. p.132-169. Ministério da Educação, Secretaria da Educação
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NEME, Carmen Maria Bueno Neme; SANTOS, Marisa Aparecida Pereira. Ética: conceito
e fundamentos. 2009. Disponível em: <https://acervodigital. unesp.br/ bits NORY Lana
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0
Godinho de. Filosofia, ética e sociedade. Disponível em: mais:
https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/filosofia-etica-e-sociedade/. Acesso em 24
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PEREIRA, Francisco Caetano. Ética cristã e cultura capitalista. Revista Jus et fides. Ano
1. No.1.Dezembro de 2001.

REIS, Carmenci Pedroso dos; MAGALHÃES, Juliano Machado de. A ética na


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negocios/a-etica-na-sociedade-atual/32569/. Acesso em 24 de setembro de 2018.

SANTOS, Joelma Coêlho dos; TEIXEIRA, Ranessa Lira Souza. Filosofia, ética e
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SANTOS, Savio Gonçalves dos. O ambiente em sala de aula e a ética no trabalho


docente. Revista Iberoamericana de Educación / Revista Ibero-americana de
Educação ISSN: 1681-5653 n.º 54/1 – 25/10/10

SBCOACHING. Ética Profissional: O que é e qual a sua importância. Disponível em:


https://www.sbcoaching.com.br/blog/carreira/etica-profissional-importancia/. Acesso
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SILVA, Fábio Lacerda da. Duas curiosidades sobre ética. 2015. Disponível em:
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Acesso em 5 de outubro de 2018.
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VALLS, Á.L.M. O que é ética. 9a ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

VÁZQUEZ, AS. Ética. 14a ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; 1993. p.14-49-52-
16-12-235-243

VILLARES, Guilherme Dumont. Ética na Internet ou Internet com Ética?. Disponível


em: http://www.agricultura.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/
comissaodeetica-1/arquivos/etica_na_internet.pdf. Acesso em 05 de Outubro de 2018.

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1
UNIDADE II - A ÉTICA NA HISTÓRIA

Objetivos de aprendizagem:
• Identificar a problema da origem da ética e os seus ideais
• Apresentar um esboço histórico da ética
• Estudar os desafios da ética

PLANO DE ESTUDO

TÓPICO 1. O percurso histórico da ética

• Aula 1. A ética na Antiguidade: a ética grega.


• Aula. 2. A ética na idade média • Aula 3. A ética na idade
moderna..

TÓPICO 2: A ética contemporânea

• Aula.1. O novo período da ética.


• Aula 2. O Empirismo.
• Aula 3. Racionalismo.

TÓPICO 3. Os desafios da ética

• Aula 1. A relação da ética com outras ciências a partir de Popper.


• Aula 2. A crise ética no período contemporâneo a partir de MacIntyre.
• Aula 3. A crise na perspectiva Habermasiana.

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Conversa Inicial

Querido(a) aluno(a), neste módulo abordaremos as questões pertinentes a


evolução histórica da ética. Por isso, torna-se importante analisar, não apenas, os
elementos que caracterizam os ideais que compõem a ética, mas também como eles se
relacionam com outras ciências, para que seja possível identificar os seus ideais.

É importante que você se dedique ao estudo, pois é preciso compreender que a


ética está intrínseca ao comportamento humano dentro dos mais variados pontos de
atuação profissional. Sendo assim, para que se compreenda o funcionamento da ética e
sua forma de atuação na sociedade, deve haver uma compreensão real de como a ética
foi criada e, quais os pensadores que trabalham com a ética que são mais conhecidos.
Por isso, o presente módulo dispõe de um conjunto de instrumento para alcançar o foco
pretendido, nomeadamente.

Objetivo Geral Analisar os elementos necessários para a compreensão das


questões que se referem a ética atualmente a partir de uma
compreensão histórica da ética.

Objetivos Específicos Identificar o problema da origem da ética e os seus ideais.


Apresentar um esboço histórico da ética.
Estudar os desafios da ética.

A partir da realização do estudo sobre os fundamentos históricos da ética, se


identifica uma maior fundamentação conceitual para se inicie o estudo da relação da ética
com as demais ciências e, portanto, será possível observar que a sociedade, de maneira
implícita não afasta a importância do uso da ética no cotidiano.

Desse modo, esperamos que você, através deste módulo, possa compreender
de maneira completa a construção histórica da ética a partir de uma teórica de Platão,
Aristóteles e Sócrates para que seja possível perceber o processo evolutivo que se
observa atualmente nos estudos sobre ética.

Bons estudos e Sucesso!

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3
INTRODUÇÃO

Olá, caro aluno, cara aluna! Que prazer estarmos juntos para mais essa unidade
de estudos, sob o título de evolução histórica da ética. Antes de tudo, precisaremos
conhecer um pouco dos pensadores e, no presente módulo, optou-se por analisar a
construção a ética a partir do conhecimento estabelecido por Platão, Aristóteles e
Sócrates.

No início desta unidade será possível compreender o processo histórico para a


criação da ética e, ainda, será observada a necessidade de se identificar os aspectos que
sedimentam os ideais da ética.

É importante que você se dedique ao estudo, pois é preciso compreender que


a ética está intrínseca ao comportamento humano dentro dos mais variados pontos de
atuação profissional. Sendo assim, para que se compreenda o funcionamento da ética e
sua forma de atuação na sociedade, deve haver uma compreensão real de como a ética
foi criada e, quais os pensadores que trabalham com a ética que são mais conhecidos.

A partir da realização do estudo sobre os fundamentos históricos da ética, se


identifica uma maior fundamentação conceitual para se inicie o estudo da relação da ética
com as demais ciências e, portanto, será possível observar que a sociedade, de maneira
implícita (não determinada), acaba por realizar um comportamento absolutamente
pautado na ética.

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TÓPICO 1. O percurso histórico da ética

Aula 1. A ética na Antiguidade: a ética grega

A reflexão ética do mundo ocidental se iniciou na Grécia antiga, no


século 5 a.C., quando as interpretações mitológicas do mundo e da realidade foram sendo
desacreditadas e substituídas por teorias que privilegiavam as explicações naturais.
Sábios e retóricos gregos do século 5 a.C, que vendiam seus ensinamentos filosóficos,
atuando como professores, os sofistas rejeitaram o fundamento religioso da moral,
considerando que os princípios morais são resultado das convenções sociais. Nessa
mesma época, o famoso filósofo Sócrates se contrapôs à posição dos sofistas, buscando
os fundamentos da moral não nas convenções, mas na própria natureza humana
(OLIVIERI, 2005).

As ideias do filósofo grego Sócrates (470-399 a.C) nos chegaram através dos
textos de um de seus discípulos, o filósofo Platão (427-347 a.C), que, no diálogo chamado
“Eutífron”, mostra Sócrates questionando as ações do homem ímpio ou santo, em sua
conformidade com a ordem constituída, para então perguntar em que consiste a
impiedade e a santidade em si, independentemente dos casos concretos (OLIVIERI,
2005).

Para o filósofo que os sucedeu, Aristóteles (384-322 a.C), todas as atividades


humanas aspiram a algum bem, dentre os quais o maior é a felicidade. Segundo esse
filósofo, entretanto, a felicidade não consiste em prazeres ou riquezas. Aristóteles
considerava que o pensar é aquilo que mais caracteriza o homem, concluindo daí que a
felicidade consiste numa atividade da alma que esteja de acordo com a razão (OLIVIERI,
2005).

Os sofistas ensinam a arte de convencer, de expor, argumentar ou discutir,


colocam em dúvida não só a tradição, mas a existência de verdades e normas
universalmente válidas. Para eles, não existe nem verdade nem erro, e as normas — por
serem humanas — são transitórias (LAISSONE et al, 2017).

Para Sócrates, o saber fundamental é o saber a respeito do homem (daí a sua


máxima: “conhece-te a ti mesmo”): (1) é um conhecimento universalmente válido, contra
o que sustentam os sofistas; (2) é, antes de tudo, conhecimento moral; e (3) é um
conhecimento prático (conhecer para agir retamente) (LAISSONE et al, 2017).

Na perspectiva de Platão depende da sua concepção metafísica, ou seja, do


dualismo do mundo sensível e do mundo das ideias permanentes, eternas, perfeitas e
imutáveis, que são a verdadeira realidade, e têm como cume a Ideia do Bem, divindade,
artífice ou demiurgo do mundo; da sua doutrina da alma que é o princípio que anima ou
move o homem (LAISSONE et al, 2017).
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5
Para Aristóteles, na continuidade do seu mestre Platão, o homem se forma
espiritualmente somente no Estado e mediante a subordinação do indivíduo à
comunidade. O fim último do homem é a felicidade e se realiza mediante a aquisição de
certos modos constantes de agir (ou hábitos) que são as virtudes. Estas não são atitudes
inatas, mas modos de ser que se adquirem ou conquistam pelo exercício e, já que o
homem é ao mesmo tempo racional e irracional (LAISSONE et al, 2017).

O Estoicismo foi fundado por Zenão. O nome Estoicismo vem de stoá, que
significa pórtico. Zenão ensinava os seus discípulos aos pés de um pórtico. Para esta
corrente, o bem supremo é viver de acordo com a natureza racional, com consciência do
nosso destino e de nossa função no universo, sem se deixar levar por paixões ou afetos
interiores ou pelas coisas exteriores (LAISSONE et al, 2017).

A corrente epicurista observa que tudo o que existe, incluindo a alma, é formado
de átomos materiais que possuem um certo grau de liberdade, na medida em que se
podem desviar ligeiramente na sua queda. Não há nenhuma 15 intervenção divina nos
fenómenos físicos nem na vida do homem. Por isso, libertado do temor religioso, o homem
pode buscar o bem neste mundo (LAISSONE et al, 2017).

Figura 1 – Ética em revista

Ética é um sistema
prático que correlaciona,
harmonicamente, Direito
natural e razão humana
(SILVA, sd).

Fonte: Elabora pela autora (2018)

Aula. 2. A ética na idade média

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Na Idade Média, preconizada pela ruína econômica política da sociedade, a
religião cristã sustenta a “unidade social” deste mundo diluído e exerce um poderio
religioso-moral que irá conduzir à reflexão intelectual desta época (SILVA, 2009).

A filosofia cristã se baseia nas verdades reveladas para estabelecer o princípio


regulador do parâmetro ético. Se antes a referência da moral era a pólis (para Aristóteles),
o universo (para os estóicos e os epicuristas), agora Deus é a suprema verdade onde
tudo é orientado para ele: a moral e a perfeição. Ainda que a filosofia estivesse a “serviço”
da Teologia, como se acreditava, Agostinho e Tomás de Aquino resgatam a Filosofia
Grega em suas vertentes platônica e aristotélica e submetem-na a um processo de
cristianização (SILVA, 2009).

A ética de Agostinho foi desenvolvida por uma ideia teológica nas categorias de
ordem e de fim. É o marco de uma primeira reflexão filosófica cristã. A ordem é atribuída
em um significado ontológico e ético que se articula à ideia de fim (SILVA, 2009).

Portanto, a ordem é o elemento que conduz o homem ao fim último: à plena


realização. Tomás de Aquino foi influenciado por esta ideia agostiniana, e procurou
desenvolvê-la na ideia de ato, pela qual se dá a perfeição do ser em sua ordem. Na Suma,
Tomás de Aquino estrutura uma abordagem ética prescrita por três expoentes
conceituais: a estrutura do agir ético, a estrutura da vida ética e a realização histórica da
vida ética (SILVA, 2009).

A função do ethos é promover a excelência moral, ou seja, a prática das virtudes


(areté). E o exercício das virtudes tem como fim último a felicidade (a vida boa, a vida
virtuosa). A ética trata do comportamento do ser humano, da relação entre sua vontade e
a obrigação de seguir uma norma, do que é o bem e de onde vem o mal, do que é certo
e errado, da liberdade e da necessidade de respeitar o próximo. Ela se impõe como a
condição fundamental de possibilidade para a prática das virtudes e o exercício da
cidadania (LAISSONE et al, 2017).

Figura 2 – Ética na história

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A ética na idade média é o comportamento era
orientado pelos comportamentos divinos, pela
autoridade religiosa e continha, neste sentido, uma
certa exterioridade em relação à consciência moral
dos indivíduos. Não se quer negar que um filosofo
ou teólogo como Tomás de Aquino, por exemplo,
desse uma importância fundamental à consciência
moral. E o que seria esta consciência moral?
Aquela voz interior que nos diz que devemos fazer,
em todas as ocasiões, o bem e evitar o mal
(VALLS, 1987, p. 62)

Fonte: Elaborado pela autora (2018)

Aula 3. A ética na idade moderna

Segundo Laissone (2017) a ética moderna sucede à sociedade feudal da Idade


Média e passa por mudanças em todas as ordens:

a) Económica: forças produtivas e relações capitalistas de produção;


b) Científica: constituição da ciência moderna (Galileu e Newton);
c) Social: nova classe social — a burguesia em contínua ascensão
d) Política: revoluções (na Holanda, Inglaterra e França);
e) Estados modernos, únicos e centralizados;
f) Atraso político e económico de outros países (como Alemanha e Itália), que
somente no século XIX conseguem realizar a sua unidade nacional.

Com o Renascimento e a Idade Moderna, junto com a imprensa, e o re-estudo


do mundo antigo, a difusão da cultura (enquanto na Idade Média quase todos os letrados
ou simplesmente alfabetizados eram clérigos), o enriquecimento de uma nova classe —
a burguesia — o fortalecimento dos Estados nacionais, surgem, naturalmente, novos
estudos de moral, tanto sobre os aspectos individuais quanto sobre os sociais e estatais.

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É nessa fase que surgem as grandes obras de Maquiavel, Rousseau, Spinoza e Kant
(LAISSONE et al, 2017).

Na Modernidade, a Ética se estrutura dentro de uma corrente Racionalista. O


homem torna-se o centro das reflexões, enquanto que a religiosidade perde prestígio
diante da ciência moderna, como as ciências desenvolvidas por Galileu e Newton (SILVA,
2009).

O termo modernidade pode ser identificado em várias épocas, porém numa


vertente conceitual da Razão, pode-se entender uma “sucessão de modernidades”, desde
a Jônica no séc. VI a.C. Isto leva a situar este marco no séc. XVII, resposta da “revolução
científica galileiana e das evoluções filosóficas protagonizadas por Descartes e Hobbes,
que emergem das longas preparações medievais e renascentistas” (SILVA, 2009).

Kant é tido como o expoente máximo do iluminismo alemão. As suas principais


obras ligadas à ética são: Fundamentação da metafísica dos costumes (1785) e Crítica
da razão prática (1788). Ele toma como ponto de partida o factum da moralidade
(LAISSONE et. al, 2017).

O homem se sente responsável pelos seus atos e tem consciência do seu dever.
Esta consciência obriga a supor que o homem é livre. O problema da moralidade exige
que se proponha a questão do fundamento da bondade dos atos, ou em que consiste o
bom. E o único bom em si mesmo é a boa vontade. A bondade de uma ação não se deve
procurar em si mesma, mas na vontade com que se fez. É boa a vontade que age por
puro respeito ao dever, sem razões outras a não ser o cumprimento do dever ou a sujeição
à lei moral. O mandamento ou dever que deve ser cumprido é incondicionado e absoluto
(MACEDO, 2012).

Na “Crítica da razão pura”, Kant aborda o problema do conhecimento,


elaborando sobre ele mesmo um sistema teórico de alta complexidade; já na “Crítica da
razão prática”, ele se propõe a descobrir e expor o princípio fundamental da moralidade,
tendo em mente dois objetivos, quais sejam: 1) demonstrar que é falsa toda a doutrina
moral que se apoie em considerações empíricas; e 2) dar à ética uma base
exclusivamente racional e apriorística (sem exame antecedente, oriunda de um
conhecimento que ainda não foi provado pela experiência) (MACEDO, 2012).

Kant buscou estabelecer um princípio supremo da moralidade, princípio que, no


seu ideário, não pode se fundamentar nas consequências dos atos praticados pelos
sujeitos. Na sua teoria, não há distinção entre a moralidade e a eticidade; aliás, é tarefa
desta fundamentar aquela. Cuida-se de uma moral formada por uma série de normas,
costumes e formas de vida que se apresentam como obrigatórias, motivo pelo qual Kant

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9
a definiu como imperativo categórico, buscando, como se verá, fundamentar as
obrigações morais dos homens em aspectos da razão pura que se torna prática
(MACEDO, 2012).

Percebe-se, pois, de forma bem nítida, a divisão kantiana em dois mundos: o


mundo do ser (da experiência) e o do dever-ser (mundo inteligível), ou seja, Kant propõe
a separação entre o mundo do conhecimento e o mundo do pensamento, separação que
se tornará o ponto fundamental da crítica de Hegel (MACEDO, 2012).

Dessa maneira, por conceber o comportamento moral como pertencente a um


sujeito autónomo e livre, tivo e criador, Kant é o ponto de partida de uma filosofia e de
uma ética na qual o homem se define antes de tudo como ser ativo, produtor ou criador
(LAISSONE et. al, 2017).

A posição hegeliana vê no imperativo categórico de Kant um formalismo vazio;


isso em razão de que, na proposta de Hegel, não é possível separar o mundo do
pensamento do mundo do conhecimento; Hegel rechaça a divisão do mundo do ser do
mundo do dever ser (MACEDO, 2012).

Para Hegel, em vez de falar em um mundo do ser e um do dever-ser, é possível


falarmos em moralidade subjetiva e moralidade objetiva, e Kant, no ideário hegeliano,
teria pecado, por ter permanecido exclusivamente na moralidade subjetiva, reputando a
ética kantiana “formalidade puramente e vazia”, porque se olvidou que toda forma possui
uma matéria e Kant pecou, no seu entender, por desconsiderar os elementos empíricos
na moralidade (MACEDO, 2012).

Hegel, ao contrário de se ocupar em estabelecer um princípio supremo do agir,


preocupou-se, na moralidade, em determinar as condições de responsabilidade subjetiva;
e, na eticidade, mostrar o desdobramento das vontades livres. É que, para Hegel, a
moralidade indaga sobre a autodeterminação das vontades livres, ou seja, pelos
propósitos, pelas intenções, enfim, pelos objetivos que movem a conduta do sujeito
(MACEDO, 2012).

Vê-se, pois, que, enquanto Kant esteve mais preocupado com os princípios do
agir, Hegel voltou a sua preocupação para as suas consequências, suas circunstâncias e
seus desdobramentos (MACEDO, 2012).

Hegel considerou demasiado abstrata a posição kantiana, lembrando que seu


igualitarismo postulado não levava realmente em conta as tradições e os valores, o modo
de ver de cada povo; ignorava, portanto, as instituições históricas concretas e não
chegava a uma ética de valor histórico. Hegel liga, então, como já vimos, a ética à história
e à política, na medida em que o agir ético do homem precisa de concretizar-se dentro de
uma determinada sociedade política e de um momento histórico variável, dentro dos quais

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0
a liberdade se daria uma existência concreta, organizando-se num Estado (LAISSONE et.
al, 2017).

Talvez pudéssemos agora perguntar: se a ética grega era uma estética, e a ética
medieval cristã uma atitude religiosa, não se deveria dizer que a ética hegeliana é uma
política? Talvez sim, mas também é verdade que provavelmente Hegel não consideraria
esta afirmação, absolutamente, como uma crítica. Todo agir é político, inclusive e
principalmente o agir ético (LAISSONE et. al, 2017).

PARA VOCÊ REFLETIR

As respostas filosóficas para as questões éticas variam no tempo e no espaço,


e ainda apresentam uma característica fundamental que envolve a posição dos indivíduos
em relação ao valor e as virtudes que são defendidos em seu meio cultural. Com isso, os
filósofos investigam o que leva diferentes grupos sociais a se indagarem sobre questões
e valores semelhantes, sem ignorar que, os significados atribuídos a eles nem sempre
são os mesmos (SANTOS; TEIXEIRA; SOUZA, 2017).

Há filósofos que concebem o homem como um ser dotado de um senso moral


inato, ou seja, da capacidade natural para avaliar como as coisas são e como elas
deveriam ser. Alguns acreditam que as diversas tendências culturais e individuais atuam
sempre sobre a capacidade comum entre os seres humanos e são determinantes da
formação do caráter e da personalidade (SANTOS; TEIXEIRA; SOUZA, 2017).

E há filósofos que afirmam a existência da liberdade, ressaltando sempre que,


apesar da pressão de costumes e leis, nós sempre podemos refletir sobre as questões
éticas e sobre a moral aprendida, e que, segundo eles, há uma possibilidade que nos faz
responsáveis por nossas próprias escolhas e que nos permite contribuir para a renovação
com as normas com que nos deparamos no dia a dia. Vejamos agora, em breves linhas,
alguns posicionamentos filosóficos de pensadores consagrados ao longo da História da
Filosofia (SANTOS; TEIXEIRA; SOUZA, 2017).

PARA VOCÊ SABER MAIS

Para saber sobre a ética no período grego, no que diz respeito a concepção dos
Sofistas, de Sócrates, Platão e Aristóteles acesse o link através do endereço
https://youtu.be/3yBXUITf6Y4 (SABER em FOCO, 2015).

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1
A ética nasce do exercício de reflexão e auto avaliação continua também da
postura docente no Ensino Superior, revisar valores e analisar as práticas em sala de aula
é zelar pela formação moral dos alunos. É certo que todas as reflexões podem ser
insuficientes para a formação global do indivíduo, mas toda a transformação, inclusive a
transformação social, ocorre de modo gradativo partindo de um princípio e de um
compromisso moral (SILVA, 2014).

Figura 4 – Processo de uso da Ética.

Ética

Reflexão

Autoavaliação

Fonte: Elaborado pela autora (2018)


Assim como em toda relação interpessoal, é sabido que nem sempre a relação
professor e aluno é salubre e promove um vínculo adequado. Todavia, os professores,
quando conscientes de seu papel carregam consigo a responsabilidade e a gana por uma
sociedade mais justa. Sendo assim, toda a jornada da relação professor e aluno deve ser
vivenciado com base nos valores vitais para a vida social: respeito, cordialidade, ética,
empatia e educação (SILVA, 2014).

As atitudes diárias, baseadas em tais valores, estabelecem a confiança entre


professor e aluno, tecendo fios que fortalecem uma relação permeada pela ética. Sendo
assim, juntamente com os conhecimentos técnicos e científicos, o professor transmite
para o aprendiz os saberes morais e éticos, que lhes proporcionará uma formação global,
corroborando para a sua postura profissional e cidadã (SILVA, 2014).

Para ler o artigo na íntegra cuja autoria é de Mariana Siqueira Silva acesse o
endereço eletrônico através do link http://portal.estacio.br/media/4446/artigo-
01marianasiqueira-silva.pdf.

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TÓPICO 2: A ética contemporânea

Aula.1. O novo período da ética

Ao separar o conhecimento da religião, no século XVIII, o iluminismo inaugurou


uma releitura da ética, estabelecendo críticas que voltaram a centralizar o foco na razão,
apostando na autonomia humana e na crença otimista no progresso. Foi estabelecida
uma visão ética por um viés mais amplo, não só circunscrito ao grupo, mas sim ao
contexto do conjunto da humanidade. É por isto que a Revolução Francesa pregou o ideal
de liberdade, igualdade e fraternidade; tendo como centro a questão da tolerância para
com as diferenças e o estabelecimento de um pacto social (RAMOS, 2012).

A ética filosófica no mundo contemporâneo é instaurada por três paradigmas


éticos: o Empirismo, voltado para a análise do psiquismo humano, de predominância do
individualismo; o Racionalismo, iniciado por Descartes e desenvolvido na ótica de uma
moral racional de domínio da natureza; e o Historicismo, de tradição alemã, “da qual o
ethos é uma forma fundamental, o campo privilegiado para o exercício da reflexão ética”.
Todos estes modelos contrapõem a Ontologia tradicional, entendida numa ideia
metafísica do postulado ético-moral (SILVA, 2009).

O que deveria ser garantido pelo Estado para permitir uma igualdade efetivada
pela restrição parcial da liberdade. Neste período, pela primeira vez, iniciou-se um diálogo
em torno dos direitos humanos, culminando com a “Declaração dos Direitos do Homem e
do Cidadão” em 1789. Representando o iluminismo alemão, Immanuel Kant exerceu forte
influência na universalização dos preceitos conceituais da ética humana (RAMOS, 2012).

Segundo o qual, não é tarefa da ética normatizar, pois, sendo de caráter


puramente racional, é guiada apenas pela boa vontade. Esta é relativa e fixada pela lei
moral, porém deve se isentar da vontade emotiva, dos gostos e desejos particulares.
Assim, a ética segue os mesmos parâmetros da moral, mas ao racionalizar os atos,
seleciona como corretos apenas o que está em concordância com a razão (RAMOS,
2012).

A ética passa a se distinguir da moral por ser autônoma, enquanto os preceitos


morais são fixados pela heteronomia. O agir corretamente passa, não só pelo conceito de
liberdade, mas também de responsabilidade pelos próprios atos e intenções. O problema
é que o ato pode não corresponder à intenção, motivado pela inclinação moral, onde a
racionalização serve de parâmetro. Reside neste ponto outro problema, já que o homem
se encontra na menoridade, sendo incapaz de fazer uso do próprio entendimento. Os

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3
ideais iluministas aparecem como início da maioridade humana, justamente por proporem
o conhecimento como base da racionalidade (RAMOS, 2012).

No entanto, pensando na natureza falha da razão humana, Kant propõe que


imperativos passem a servir de referência para o agir. O imperativo é uma regra
obrigatória que deve nortear a normatização da vida racional. O imperativo categórico,
aquele que deveria ser dever de toda pessoa, estando também vinculado com a moral, é
definido como agir pela vontade, de tal forma que a ação possa ser tomada como uma lei
universal da natureza. Portanto, tornar padrão o comportamento que seria aprovado como
correto em qualquer caso e por qualquer pessoa (RAMOS, 2012).

Deste imperativo decorrem outros, todos baseados na fraternidade para com o


outro, expresso na máxima de desejar a todos o que se deseja para si mesmo, estreitando
este conceito com o de liberdade, responsabilidade e igualdade. Entretanto, mesclada a
esta concepção de ética, a tendência utilitarista, inaugurada pelo empirismo, também
ganhou força a partir do século XVIII, principalmente por conta dos avanços da Ciência
(RAMOS, 2012).

A partir das leis da física de Isaac Newton, a sociedade passou a ser vista como
máquina, onde a ética atenderia e regularia seu funcionamento. Enquanto a teoria
evolucionista de Charles Darwin possibilitou conceber a moral como produto da evolução
do comportamento humano (RAMOS, 2012).

Tendências que transformaram a ética em Ciência do julgamento dos atos


morais, alterando normas de comportamento, pensadas em benefício da utilidade para a
vida coletiva harmoniosa. A rigor, o utilitarismo surgiu na Grã-Bretanha, representado por
Jeremy Bentham e John Stuart Mill, contrapondo-se a ética kantiana ao relativizar o
conceito de eudaimonia, afirmando que o correto é aquilo que traz felicidade para o maior
número de pessoas (RAMOS, 2012).

Não é a intenção que importa, como no caso da ética kantiana, mas sim o
resultado; relativizando igualmente as regras, indo na contramão dos imperativos,
condicionando os comportamentos a sua utilidade aparente, extremamente vinculada ao
Direito (RAMOS, 2012).

O que levou Friedrich Hegel, no século XIX, a discutir se os princípios éticos


condicionam a história, ou, ao contrário, esta modifica os parâmetros. Algo que poderia
conferir a ética uma grande semelhança com a moral. Embora Hegel nunca tenha escrito
especificamente sobre a ética, até porque considerava esta como mero sinônimo de
moral, sua concepção foi herdeira das discussões do século XVIII, vinculando a vivência
ética com a política, a sociedade e a história (RAMOS, 2012).

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Para ele, como também para a tradição estabelecida a partir do século XVI, o
Estado deveria garantir a vivência ética. Destarte, Friedrich Nietzsche, na segunda
metade do século XIX, tornou a ética definitivamente uma Ciência, totalmente
desvinculada da religião (RAMOS, 2012). Figura 5 – Lembrete sobre o papel do
Estado.

Fonte: Elaborado pela autora (2018)

Aula 2. O Empirismo

O empirismo é uma doutrina filosófica que tem como principal teórico o inglês
John Locke (1632-1704), que defende uma corrente a qual chamou de Tabula Rasa. Esta
corrente afirma que as pessoas nada conhecem, como uma folha em branco. O
conhecimento é limitado às experiências vivenciadas, e as aprendizagens se dão por meio
de tentativas e erros (TERUYA et al, 2010).

Entende-se por empírico aquilo que pode ter sua veracidade ou falsidade
verificada por meio dos resultados de experiências e observações. Teorias não bastam,
somente através da experiência, de fatos ocorridos observados, um conhecimento é
considerado pelo empirista. Ao longo de toda a história da filosofia, diversos pensadores
abordaram a questão, dando importância ao conhecimento da experiência (da
sensibilidade) ao invés de apenas ao intelectual. Sendo o principal defensor do empirismo
foi John Locke (1632-1704), filósofo inglês. O empirismo defendido ficou conhecido como
empirismo britânico, e influenciou diversos filósofos. (TERUYA et al, 2010).

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A experiência, para Locke, não são as experiências de vida. Experiência para
ele são as nossas sensações (sentidos). Ouvimos, enxergamos, tocamos, saboreamos e
cheiramos. Cada um dos cinco sentidos leva informações para o nosso cérebro. Quando
nascemos não sabemos o que é uma maçã, mas formamos a ideia de maçã a partir dos
sentidos. Vemos a sua cor, sentimos o seu aroma, tocamos sua casca e mordemos a
fruta. Cada uma dessas sensações simples nos faz ter a ideia de maçã. A partir da
sensação, há a reflexão. Dessa forma, nossas ideias são um reflexo daquilo que nossos
sentidos perceberam do mundo. Nesse sentido, qualquer afirmação de cunho metafísico
era rejeitada no Empirismo, pois para essas afirmações não há experimentação, testes
ou controles possíveis (TERUYA et al, 2010).

Outro importante teórico empirista foi o escocês David Hume (1711-1776), que
contribuiu com a epistemologia ao discutir o princípio da causalidade. Segundo Hume,
não existe conexão causal, e sim uma sequência temporal de eventos, que pode ser
observada. Além de John Locke e David Hume, outros filósofos que são associados ao
empirismo são: Aristóteles, Tomás de Aquino, Francis Bacon, Thomas Hobbes,
George Berkeley e John Stuart Mill. Para Hume qualquer ideia tem origem numa
impressão e deve poder relacionar-se com a informação correspondente (TERUYA et al,
2010).

O projeto empirista, considerado de modo genérico, consiste em fundar a


validade e a objetividade de qualquer conhecimento sobre o mundo, de qualquer
conhecimento de questões de fato, na experiência, a qual se apresenta como uma base
sólida, cuja legitimidade estaria fora de questão. É justamente a "adequação" das teorias
à experiência que garantiria que representam, não qualquer mundo possível, mas o
mundo de “nossa experiência” em particular (CARVALHO, 2009).

Sendo assim, de acordo com o empirismo, os conhecimentos dos seres


humanos são provenientes da experiência sensória (relacionada aos sentidos). Desse
modo, os únicos tipos de conhecimentos validados pela abordagem empirista são aqueles
que podem ser medidos e verificados (CARVALHO, 2009).

A abordagem empirista segundo Carvalho (2009), possui duas vertentes, a


saber:

Figura 6 – Temas sobre comportamento.

Indução: a base desse princípio é a de que poucas coisas


podem ser conclusivas, sobretudo quando elas não passam
pela experiência.

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Experiências sensoriais: elas podem ser simples ou complexas,
tendo como meio a utilização dos 5 sentidos, que são: visão,
audição, olfato, paladar e tato.
Fonte: Elaborado pela autora (2018)

Aula 3. Racionalismo

O Racionalismo foi um movimento cultural situado entre os séculos XVI e XIX.


Mais do que mais uma doutrina gnosiológica ou teoria do conhecimento, o
Racionalismo foi uma perspectiva cultural global. Foi uma das correntes
filosóficocientíficas do homem da Idade Moderna (NALINI, 2012).

Para o Racionalismo, o homem pode chegar pela razão, a verdades de valor


absoluto. Seja a partir de fatos, os quais, ultrapassando a mera força dos sentidos, o
homem pode, com a força da razão, abstrair e atingir condições transcendentais do
mundo; seja a partir da pura intuição, que prescinde dos fatos (NALINI, 2012).

O que o Racionalismo buscava, na verdade, era conhecer a essência. Por isso,


não se prendia aos fatos ou ao mundo sensível, mas afirmava que a razão humana
poderia transcender e chegar ao conhecimento de realidades transcendentes. Pela força
da abstração e das concatenações racionais (NALINI, 2012).

Essa corrente se aproximava, assim, da metafísica, de Platão. Não se pode,


entretanto, incorrer no erro de achar que o Racionalismo é apenas uma corrente teórica.
Ao contrário, terá consequências também na ética e, mesmo, na política como veremos
a seguir. Procuraremos também fazer a relação entre o Racionalismo e a Fé, mostrando
como seus principais expoentes, Descartes, Kant e Hegel, trataram da problemática
acerca de Deus e da religião, tema central das discussões filosóficas medievais, agora
com as contribuições do homem moderno (NALINI, 2012).

Sendo assim, a abordagem racionalista, considera que o conhecimento tem sua


fonte na razão, sendo que tal conhecimento é inato e independe de experiências
sensoriais. Um exemplo clássico do racionalismo é o estudo da matemática, no qual 1+1
= 2. Ou seja, não são necessárias experiências sensoriais para chegar a esse raciocínio
(NALINI, 2012).

Dessa maneira, o conhecimento inato consiste em um conhecimento de ordem


superior que dá acesso a uma verdade profunda que vai além do que conhecemos no
cotidiano.

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Na abordagem racionalista, há basicamente 3 caminhos pelos quais os seres
humanos chegam ao conhecimento (NALINI, 2012). São eles:

Figura 7 – Reflexões sobre Ética.

Dedução: consiste na aplicação de princípios concretos


para se chegar a conclusões.

Ideias inatas: de acordo com esse conceito, os seres


humanos nascem com verdades essenciais/fundamentais
e até mesmo experiências que trazemos de vidas
anteriores

Razão: trata -se do uso da lógica na determinação de uma


conclusão, sendo utilizados diversos método

Fonte: Elaborado pela autora (2018).

PARA VOCÊ REFLETIR

A ética contemporânea, que se instaura em contraposição ao formalismo e ao


racionalismo abstrato de Kant e de Hegel, institui novas correntes que irão fundamentar
o tratado ético-moral no mundo atual: para Kierkegaard, o pai do Existencialismo, a ética
ocupa um estágio inferior e o homem perde a sua subjetividade. Em Sartre o homem é
total liberdade, mas as escolhas não acontecem de forma arbitrária, pois uma decisão
remete a um contexto social (SILVA, 2009).

Nos Estados Unidos, o Pragmatismo (S. Peirce é o principal representante) toma


força e se difunde como filosofia do êxito e do útil. Freud (o fundador da Psicanálise) torna
possível fazer um juízo moral de uma ação, ao avaliar o nível de consciência do indivíduo.
No Marxismo, as teorias filosóficas da ética esboçada até aqui são colocadas em xeque.
E na Filosofia Analítica (também no Neopositivismo), Moore destrói a concepção
metafísica da ética em busca de uma linguagem moral (SILVA, 2009).

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PARA VOCÊ SABER MAIS

A normatividade epistêmica, pela qual a ciência se orienta em sua busca de um


conhecimento verdadeiro da realidade, comporta incontestavelmente um ideal
contemplativo, o qual se relaciona com as atividades mais benéficas para a humanidade
do homem. Mantendo-se nesta perspectiva, as teorias científicas, ao se adicionarem e se
substituírem umas às outras, tendem a aproximar-se assimptoticamente de uma visão de
sentido da totalidade da realidade e para uma hermenêutica do saber, se deslocando
assim para uma visão filosófica do mundo. De modo que, mantendo-se em perfeita
conformidade com este ideal, torna-se possível ao genuíno homem de ciência
desenvolver uma forma de existência — a vida no sentido — motivada não apenas por
interesses puramente instrumentais, para a satisfação das necessidades básicas e para
a obtenção de comodidades e progresso material, mas na qual, tal como ocorre na arte,
encontramos modos concretos e sublimes de expressão daquela bela liberdade onde se
celebra o fundo originário da realidade que inevitavelmente existe in potentia e pede
incansavelmente para ser atualizada em toda pessoa humana (GONTIJO, 1998).

Racionalismo e empirismo por Ricardo Ernesto Rose

No que se refere à ciência e à filosofia, a síntese medieval culminou com o


sistema abrangente de Tomás de Aquino. O racionalismo escolástico estava unido ao
misticismo cristão e o conhecimento dos gregos estava amoldado aos ensinamentos da
Igreja, formando uma imagem do universo. As causas finais estavam por trás de cada
processo da natureza. Uma inteligência divina permeava tudo.

O Renascimento inauguraria uma nova mentalidade, uma maneira diferente de


enxergar o universo, já bastante influenciada pelo princípio de desenvolvimento das
ciências naturais.

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Um dos primeiros cientistas-filósofos da época (ainda não havia clara distinção
entre ambas as ciências), Bernardino Telésio, é um típico representante da nova
mentalidade empírico-científica da época. Segundo Höffding, Telésio considerava que
mesmo o mais alto e mais perfeito conhecimento simplesmente consistia na habilidade
de descobrir atributos e condições desconhecidas do fenômeno, através de suas
similaridades com outros casos conhecidos, ou seja, novas descobertas devem ser feitas
empiricamente, baseadas na observação dos fenômenos da natureza, como já ensinava
Aristóteles.

A primeira circunstância que me chama a atenção é a grande semelhança entre


nossas impressões e ideias em todos os pontos, exceto em seus graus de força e vividez.
As ideias parecem ser de alguma forma os reflexos das impressões, de modo que todas
as percepções da mente são duplas, aparecendo como impressões e como ideias
(HUME, 2004)

TÓPICO 3. Os desafios da ética

Aula 1. A relação da ética com outras ciências a partir de


Popper

A relação entre ética e ciência, na epistemologia de Karl Popper, portanto,


não é elemento secundário, mas a chave hermenêutica para a compreensão de todo o
seu pensamento. Além disso, constitui um capítulo importante para a ampliação da
questão, no sentido de se buscar compreender como a filosofia popperiana pode iluminar
as reflexões emergentes no campo da Ética, em geral, e da Bioética, em especial
(SGANZERLA; OLIVEIRA, 2012).

Na forma como a sentença de Popper é apresentada, a parte negativa antecede


a afirmativa. Com efeito, Popper assevera que não existe uma base científica para a
ética. Em outras palavras, o filósofo sustenta a convicção de que não há critérios,
pressupostos ou métodos científicos para avaliar ou justificar a validade dos juízos
morais ou dos princípios éticos. Embora, por definição, a ética seja a ciência da moral,
sua estrutura fundamental difere da ciência empírica e por isso não se pode, na
perspectiva do pensamento popperiano, pretender conferir à ética o mesmo tratamento
que é dispensado para a ciência (SGANZERLA; OLIVEIRA, 2012).

A negação da possibilidade de se construir uma base científica para a ética


decorre naturalmente do modo como Popper estabelece a linha de demarcação do
território da ciência em relação ao campo do extra científico. No que tange à proposta
de demarcação defendida por Popper, a ética estaria do outro lado da linha, em oposição
à ciência, embora ainda conserve seu valor e significado (SGANZERLA; OLIVEIRA,
2012).

Segundo (Valle e Oliveira, 2010), Popper difere dos positivistas lógicos do


Círculo de Viena. Para ele, um enunciado ou uma teoria só podem ser considerados
científicos à medida que apresentam a característica fundamental da refutabilidade
empírica. Ou seja: é a possibilidade de refutação ou de prova contrária que distingue uma
genuína teoria científica de uma proposição ou teoria pseudo-científica (SGANZERLA;
OLIVEIRA, 2012).

Posteriormente, no aspecto da afirmação Popper rompe com a suposta


neutralidade ética da ciência. Neste sentido, não se pode mais operar a partir da dicotomia
ciência-tecnologia, segundo a qual as questões morais aplicam-se apenas ao segundo
elemento do binômio, ou seja, a tecnologia. Para Popper, com efeito, não apenas a
aplicação prática do conhecimento científico está carregada de valores morais, como a
própria atividade de construção desse mesmo conhecimento é também passível de uma
avaliação de natureza moral, donde decorre a “responsabilidade moral do cientista”
(SGANZERLA; OLIVEIRA, 2012)

Em sua análise da sociedade moderna e contemporânea, herdeira da tradição


iluminista, MacIntyre se depara com uma crise de valores éticos, históricos e culturais.
Nesse contexto, a sua intenção consiste, primeiro, na busca do entendimento desse
fenômeno para, em seguida, pensar a solução mais viável possível pela qual se poderá
resolver esse problema. Cumpre ressaltar que o que norteia o pensamento desse filósofo
é a proposta de retorno às tradições morais de pesquisa racional, especificamente a
tradição aristotélica (COIMBRA; SOUSA, 2015).

A proposta de retorno a Aristóteles se deve ao fato de que MacIntyre vê nele a


conjugação perfeita da tríade virtude – ética – racionalidade. Esses elementos se
complementam sem se separar. Na modernidade, uma das razões para a crise ética que
se instala se dá, principalmente, em decorrência da cisão entre esses ideais (virtude, ética
e racionalidade) (COIMBRA; SOUSA, 2015).

Em princípio, MacIntyre se dá conte de que o problema decorrente do


rompimento entre a modernidade, iniciada pelos ideais iluministas, e a tradição de
pensamento antigo e medieval, se deve, sobretudo, ao abandono dos ideais éticos, tão
valorizados no contexto das tradições, as quais possuem seus próprios padrões de
racionalidade que, à sua vez, implicam num tipo de progresso que ela (tradição) faz. Do
progresso que as tradições fazem, também resulta o acréscimo de confiança nelas,
sobretudo, quando elas dão conta de solucionar as questões que lhes são postas
(COIMBRA; SOUZA, 2015).

É no sentido do uso fragmentado dos ideais tradicionais que MacIntyre se dá


conta de que a modernidade e a tradição têm projetos de pesquisa diferentes. E a partir
daí percebe que os problemas da contemporaneidade, que decorrem dessa cisão, podem
ser solucionados caso haja uma retomada dos elementos tradicionais de pesquisa
racional. E é justamente essa razão pela qual ele propõe o retorno à tradição (COIMBRA;
SOUSA, 2015).

Dado que MacIntyre vê em Aristóteles a referência fundamental da ética e do


modelo de racionalidade tradicional, ele, então, defende uma retomada da ética
aristotélica que preza pelas virtudes, as quais passam a constituir um tema fundamental
no seu pensamento. É importante assinalar que na conjuntura do pensamento de
MacIntyre, a virtude não deve ser concebida como algo linear no sentido de não sofrer
nenhuma modificação do meio, ou do conjunto dos acontecimentos próprios de um
contexto social (COIMBRA; SOUSA, 2015).

Pelo contrário, ela está – diga-se de passagem – estritamente relacionada com


a mentalidade da época, e muda na medida em que a mentalidade e os acontecimentos
mudam também. Assim, por exemplo, no período clássico a virtude era definida na polis.
Nesse período (clássico), com as transformações que vieram a ocorrer, ocorreu também
uma mudança nas virtudes. É importante também lembrar que a virtude muda de um lugar
para outro (COIMBRA; SOUSA, 2015).

Por exemplo, se em Atenas a virtude do cidadão era a educação, em Esparta


vai ser a disposição e robustez do indivíduo para a guerra. Ou seja, a virtude dos
indivíduos de uma determinada época está em constante harmonia com os ideais, ou
objetivos que a sua sociedade se põe a perseguir, e que como tais constituem, ou
representam a totalidade do projeto dessa sociedade (COIMBRA; SOUSA, 2015).

Figura 10 – Contraponto entre Observações.

Fonte: Elaborado pela autora (2018).

Aula 3. A crise na perspectiva Habermasiana

Em princípio, pode-se dizer que o que define a ética contemporânea pensada


por Habermas, é a rejeição dos referencias históricos até então fundamentos para o
pensamento ético. Esses referenciais, que se constituem em uma tríade, deixada na
lateral pelo pensador alemão, são primeiro, “a ciência como ideologia [...]; o discurso
como ‘modernista’ [...]; e a metafísica [...]”. 3 Essa rejeição a esses referenciais históricos,
como a metafísica, demarca com clareza o conflito entre Habermas e outros pensadores
como, por exemplo, MacIntyre, o qual defende um retorno à tradição como cura para os
males éticos da contemporaneidade (COIMBRA; SOUSA, 2015).

Na concepção de Habermas, não há nenhuma necessidade de se usar a


metafísica como fundamentos para a ética contemporânea. Cumpre aqui salientar que o
entendimento do pensamento habermasiano, no que diz respeito ao assunto tratado, só
pode ocorrer com o máximo de clareza possível na medida em que se considera e se
entende também o universo da filosofia contemporânea marcada por seus problemas e
complexidades (COIMBRA; SOUSA, 2015).

A abordagem ética de Habermas está situada no contexto da virada linguística


do século XX. A compreensão desse evento, juntamente com a totalidade dos problemas
que ela suscita, é que constituem, portanto, a chave para a compreensão do pensamento
ético desse autor. Nesse contexto, a linguística e, portanto, o mundo da linguagem,
constitui o pano de fundo fundamental sob o qual se destacará grande parte (ou talvez a
maior parte) dos problemas filosóficos dessa época (COIMBRA; SOUSA, 2015).

Embora a virada linguística tenha se dado somente no século XX, a linguagem,


como tal, já se constituía como fundamento da filosofia no século XIX. A importância da
linguagem, nesse sentido, reside no fato de que é ela que diz ou determina o que as
coisas são. Portanto, pode-se dizer que o universo fundamental no qual se desenvolve o
pensamento ético de Habermas é o da filosofia da linguagem (COIMBRA; SOUSA, 2015).

É nesse contexto que ele situa a ética no campo do discurso e da comunicação,


não perdendo de vista a racionalidade, sendo essa a razão pela qual ele vai falar de uma
racionalidade comunicativa (COIMBRA; SOUSA, 2015). E é ancorado no protótipo da
linguagem que Habermas recusa o retorno aos pressupostos filosóficohistóricos, como a
metafísica. Ou seja, em Habermas o que norteia a ética é o paradigma da comunicação.
Uma das características da comunicação é que ela visa ao diálogo entre os sujeitos. Esse
diálogo também se traduz na decifração de signos que se expressam na comunicação
por meio da linguagem (COIMBRA; SOUSA, 2015).

Figura 11 – A Ética expressa pela linguagem.


Fonte: Elaborado pela
autora (2018).

Abordagem
de
Habermans

PARA VOCÊ Comunicação


REFLETIR

Linguagem
PARA VOCÊ SABER MAIS

O que mais impressionou foi a explícita asserção de Einstein, de que


consideraria insustentável a sua teoria caso ela viesse a falhar em certas provas.
Einstein escreveu, por exemplo, que “se o desvio das linhas espectrais para o vermelho
devido ao potencial gravitacional não ocorrer, a teoria geral da relatividade será
insustentável” (POPPER, 1977).

Aí estava uma atitude completamente diversa da atitude dogmática de Marx,


Freud e Adler e mesmo de alguns de seus sucessores. Einstein procurava experimentos
cruciais, cujo acordo com suas previsões não bastaria para estabelecer a teoria da
relatividade, mas cujo desacordo, como ele próprio insistia em acentuar, revelaria a
impossibilidade de aceitar-se a teoria. Essa era, sentia eu, a verdadeira atitude científica.

Ela diferia por completo da atitude dogmática, que constantemente proclama haver
encontrado “verificações” de teorias prediletas (POPPER, 1977).
PARA VOCÊ LER MAIS

Para saber mais sobre Empirismo e objetividade sugere-se a leitura do artigo


intitulado de sobre Empirismo e objetividade: Considerações sobre o conceito de
experiência e a crítica de Popper ao Positivismo de autoria de Marcelo Carvalho.

NOSSO RESUMO

Neste módulo destacamos a reflexão sobre a evolução histórica da ética,


quando na Grécia antiga, no século 5 a.C., as interpretações mitológicas do mundo e da
realidade foram sendo desacreditadas e substituídas por teorias que privilegiavam as
explicações naturais. Posteriormente, na Idade Média, preconizada pela ruína econômica
política da sociedade, a religião cristã sustenta a “unidade social” deste mundo diluído e
exerce um poderio religioso-moral que irá conduzir à reflexão intelectual desta época.

Foi possível observar também que com o Renascimento e a Idade Moderna,


junto com a imprensa, e o reestudo do mundo antigo, a difusão da cultura (enquanto na
Idade Média quase todos os letrados ou simplesmente alfabetizados eram clérigos), o
enriquecimento de uma nova classe — a burguesia — o fortalecimento dos Estados
nacionais, surgem, naturalmente, novos estudos de moral, tanto sobre os aspectos
individuais quanto sobre os sociais e estatais.

Viu-se também que a ética filosófica no mundo contemporâneo é instaurada por


pelo Empirismo, voltado para a análise do psiquismo humano, de predominância do
individualismo e o Racionalismo, iniciado por Descartes e desenvolvido na ótica de uma
moral racional de domínio da natureza (SILVA, 2009).

Dessa maneira, ainda podemos compreender, no presente módulo, os desafios


que a ética enfrenta nos dias atuais.
SUA ATIVIDADE

1) Assinale a alternativa incorreta:

a. O discurso ético é tão antigo quanto é antiga a história do ser humano.


b. Desde as suas origens, sobretudo quando ganhou a consciência da sua presença
como ser diferente, e desde que começou a fazer a experiência da sua existência
e busca de realização, o ser humano sempre se inquietou sobre como estar com
os outros, como agir, como deve ser e fazer.
c. A ética é entendida como uma disciplina filosófica que busca refletir sobre os
diferentes sistemas morais e compreender a fundamentação de suas normas.
d. Exige reflexão sobre ações humanas desconsiderando adequações aos costumes
vigentes

2) Assinale a alternativa incorreta:

a. Etimologicamente, o termo “ética” vem do romano ethos.


b. Não podemos dizer que o universo ético compreende esses dois polos: o polo
exterior (próprio da moral, dos costumes), e o polo interior (próprio da interioridade,
do carácter).
c. Originariamente, o conceito era tomado a partir do seu caráter exterior, de vida
coletiva.
d. Exige reflexão sobre ações humanas desconsiderando adequações aos costumes
vigentes.

3) Assinale a alternativa correta:

a. A ética deva ser principalmente uma instância onde as pessoas sejam


permanentemente encorajadas, animadas e confortadas.
b. A grande palavra da ética é: podes fazer menos e melhor, na vida és chamado a
ser algo inferior.
c. Segundo a ética não é possível ser honesto.
d. Pessoas podem escolher serem éticas na medida em que haja necessidade.

4) Assinale a alternativa correta:

a. A ética, partindo do seu étimo, pode ser entendida como o abrigo que confere
proteção e segurança aos indivíduos (cidadãos), aqueles responsáveis pelos
destinos da pólis (cidade).
b. A ética jamais será o produto das leis erigidas pelos costumes, e, por outro, das
virtudes e hábitos gerados pelo caráter dos indivíduos.
c. A ética se refere apenas aos costumes culturais ou sociais.
d. Todas as alternativas estão erradas.

5) Assinale a alternativa correta:

a. O mundo do ethos é composto por um lado: a coletividade (intersubjetividade).


b. O mundo do ethos é composto por dois lados: a coletividade (intersubjetividade) e
a subjetividade (individualidade).
c. O mundo do ethos é composto por um lado: a subjetividade (individualidade).
d. Todas as alternativas estão erradas.

6) Assinale a alternativa correta:

a. Não existem condicionantes internos (carácter) e externos (costumes) que


determinam a conduta do indivíduo.
b. Só existe a condicionante interna (carácter).
c. Existem condicionantes internos (carácter) e externos (costumes) que determinam
a conduta do indivíduo.
d. Nenhuma das alternativas está correta.

7) Assinale a alternativa correta:

a. A prática do bem e da justiça envolve o respeito às leis da pólis (heteronomia) e a


intenção individual de cada sujeito em fazer o bem.
b. A prática do bem e da justiça não envolve o respeito às leis da pólis.
c. A prática do bem só envolve o respeito às leis da pólis (heteronomia).
d. Todas as alternativas estão erradas.

8) Assinale a alternativa correta:

a. A função da ética é promover a excelência moral, ou seja, a prática das virtudes


(areté).
b. A função da ética não é promover a excelência moral, ou seja, a prática das
virtudes (areté).
c. A função da ética é promover apenas a excelência moral, mas não a prática das
virtudes.
d. Todas as alternativas estão erradas.

9) Assinale a alternativa correta:

a. A ética discute os valores que se traduzem em existências humanas mais felizes,


mais realizadas, com mais bem-estar e qualidade de vida.
b. A ética não discute os valores que se traduzem em existências humanas mais
felizes, mais realizadas, com mais bem-estar e qualidade de vida.
c. A ética só discute os valores que se traduzem em existência natural.
d. Todas as alternativas estão erradas.

10) Assinale a alternativa correta:

a. A ética não busca os valores que signifiquem dignidade, liberdade, autonomia e


cidadania.
b. A ética busca os valores que signifiquem dignidade, liberdade, autonomia e
cidadania.
c. A ética busca apenas o valor que significa dignidade.

d. Todas as alternativas estão corretas.


REFERÊNCIAS

CARVALHO, Marcelo. Empirismo e objetividade considerações sobre o conceito


de experiência e a crítica de Popper ao positivismo. Revista Páginas de Filosofia,
v. 1, n. 1, jan-jul/2009.

COIMBRA, Fábio; SOUSA, Mônica Teresa Costa. A crise da ética no pensamento


contemporâneo: um debate entre Alasdair MacIntyre e Habermas. vol. 5, num. 15,
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GONTIJO, Eduardo Dias. Ética e conhecimento na investigação científica. Síntese


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SGANZERLA, Anor; OLIVEIRA, Paulo Eduardo de. Da relação entre ética e ciência.
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SILVA, Antonio Wardison Canabrava da. O pensamento ético filosófico: da Grécia


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SILVA, Mariana Siqueira. Um Pensar Sobre a Ética nas Relações Docente e Aluno
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TERUYA, Teresa Kazuko; FELIPE, Delton Aparecido. Filmes e negritude em sala de


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setembro de 2018.

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