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Índice

Introdução.................................................................................................................................3

Ética e moral..............................................................................................................................5

Educação....................................................................................................................................5

Ética na educação: o papel da escola.........................................................................................7

Conclusão.................................................................................................................................12

BIBLIOGRAFIA....................................................................................................................13

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Ética na educação: reflexão sobre o papel da escola na difusão dos princípios
éticos e morais na perspectiva de Paul Freire.

Introdução

A escola, nas sociedades letradas como a nossa, ocupa lugar por excelência para que
se cumpram as funções da educação e da aprendizagem dos conhecimentos, das
artes, das ciências e da tecnologia. As psicologias que emergiram no início do
século XX enfatizavam, cada uma a seu modo, a importância dos processos de
aprendizagem e de acção do meio externo no desenvolvimento das crianças, na
clássica discussão a respeito da natureza e do ambiente como factores determinantes
desse desenvolvimento da aprendizagem. Por outro lado, estas sociedades letradas
são moldadas por um conjunto de princípios éticos e morais. Face ao poder que a
globalização tem exercido na influência desta sociedade, as ciências sociais tem
perdido o seu lugar de destaque a favor das ciências naturais na escola
consequentemente, a escola vai aos poucos perdendo o seu papel. Assim, o trabalho
com tema Ética na educação: reflexão sobre o papel da escola na difusão dos
princípios éticos e morais na perspectiva de Paul Freire, tem como objectivo
principal reflectir sobre o papel da escola na difusão dos princípios éticos e morais
na perspectiva de Paul Freire; especificamente pretende-se: conceptualizar os termos
ética, moral e educação; apresentar o papel da escola na difusão dos princípios
éticos à luz do pensamento de Freire.

Será preocupação no decorrer deste trabalho responder a seguinte questão: qual é o


papel que a escola desempenha na difusão dos princípios éticos e morais?

Porém, para falar do papel da escola na difusão de tais princípios, há necessidade de


clarificar os termos com os quais nos deparamos. Nestes moldes, a ética e a moral
são entendidas como termos sinónimos, querendo ambos significar conjunto de
princípios que regulam o comportamento humano. A educação será entendida nos
moldes durkhemianos como a acção exercida pelas gerações adultas sobre aquelas
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que ainda não estão maturas para a vida social. Ela tem como objectivo suscitar e
desenvolver na criança um certo número de estados físicos, intelectuais e morais
exigidos tanto pelo conjunto da sociedade quanto pelo meio especifico ao qual ela
está destinada, em particular.

Por conseguinte, se a educação tem por objecto suscitar e desenvolver na criança um


certo número de estados, para Freire, caberá a esta mesma promover e difundir os
princípios axiológicos que regem o comportamento das crianças de modo particular
e da humanidade de forma geral. A ética constitui a centralidade do papel
modelador das crianças na escola. Freire vai mais longe ao afirmar que a promoção
da ingenuidade à criticidade não pode ou não deve ser feita à distância de uma
rigorosa formação ética ao lado sempre da estética. A prática educativa tem de ser,
em si, um testemunho rigoroso de decência e de pureza.

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Ética e moral

Antes de avançarmos na busca da aproximação entre educação e ética no campo


educativo, faz-se necessário clarificar a compreensão dos termos ética e moral.
Muitas vezes, eles são empregados como sinónimos, o que não vem a ser algo
impreciso de todo. Originalmente, ambos os termos se referem às mesmas coisas, ou
seja, costumes, modos de ser e de agir. Todavia, diferenciá-las encaminha o
entendimento para os seus significados específicos, embora não haja sempre um
consenso entre os autores a respeito desta questão.

Cortina e Martinez (2005, p.2) sustentam que, a palavra ética vem do grego ethos,
originalmente tinha o sentido de “morada”, “lugar em que se vive” e posteriormente
significou “carácter”, “modo de ser” que se vai adquirindo durante a vida. O termo
moral procede do latim mores que originariamente significava “costume” e em
seguida passou a significar “modo de ser”, “carácter”. Portanto, as duas palavras têm
um sentido quase idêntico. Não obstante, no contexto académico, o termo “ética”
refere-se à filosofia moral, isto é, ao saber que reflecte sobre a dimensão da acção
humana, enquanto que “moral” denota os diferentes códigos morais concretos. A
moral responde à pergunta “O que devemos fazer?” e a ética, “Por que devemos?”

Vasquez (1978) coincide a este respeito. Para ele, ética se refere a uma postura
reflexiva sobre as questões dos valores e princípios axiológicos; enquanto a moral se
refere à expressão normativa resultante deste esclarecimento. A primeira se refere a
questões teóricas e a segunda a questões práticas. Uma, porém, está contida na outra e
ambas não se excluem mutuamente, juntas constituindo a práxis axiológica. Tanto a
reflexão sobre os princípios quanto as normas que os aplicam, são importantes para
orientar o comportamento humano. Submeter-se a uma norma, simplesmente porque
ela é imposta, despersonaliza e massifica. A afirmação de sujeitos livres e autónomos
exige uma compreensão ética e o assumir consciente dos ditames de uma lei.
Somente uma compreensão ética constrói a capacidade de tomar decisões e de agir
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com responsabilidade. Conforme Baptista, sensibilidade, prudência, solicitude ou
bondade, são marcas de uma acção ética investida e que requerem o exercício pessoal
de uma consciência crítica (2005, p. 23). O exercício ético resulta de uma prática
filosófica que desinstala, inquieta e rompe com toda sorte de dogmatismos. A
permanente reflexão crítica leva a salvaguardar a liberdade individual e colectiva de
submissões escusas e de manipulações indignas.

EDUCAÇÃO
Para definir o conceito “educação” Durkheim parte da rejeição das definições antes
colocadas por Stuart Mill e Kant. Para estes, a educação em sentido amplo foi
entendida como o conjunto das influências que a natureza ou os outros homens
podem exercer sobre a nossa inteligência ou vontade. Stuart Mill citado por
Durkheim (2011, p, 43) diz que ela compreende “tudo o que fazemos por conta
própria e tudo o que os outros fazem para nós com objectivo de nos aproximar da
perfeição da nossa natureza.

Segundo Kant, “o objectivo da educação é desenvolver em cada individuo toda a


perfeição da qual ele é capaz” (DURKHEIN, 2011, p. 44). A perfeição aqui referida
se trata do desenvolvimento harmónico de todas as faculdades humanas. Elevar ao
ponto mais alto possível todas as potencialidades que se encontram dentro de nós,
realiza-las de forma tão completa quanto possível, mas sem deixa-las prejudicarem
umas às outras.

Por conseguinte, essas concepções na perspectiva durkhemiana não são validas. A


primeira falha na medida em que considera a interacção entre crianças da mesma
geração ou idade como educação. A segunda porque este desenvolvimento harmónico
não é totalmente realizável. Assim, para Durkheim

…. a educação é a acção exercida pelas gerações adultas sobre


aquelas que ainda não estão maturas para a vida social. Ela tem
como objectivo suscitar e desenvolver na criança um certo número
de estados físicos, intelectuais e morais exigidos tanto pelo

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conjunto da sociedade quanto pelo meio especifico ao qual ela está
destinada em particular. (DURKHEIN, 2011, p. 55).

Em Educação e sociologia, Durkheim considera que “cada sociedade, considerada


num momento determinado de seu desenvolvimento, tem um sistema de educação
que se impõe aos indivíduos”. Cada sociedade fixa um certo “ideal do homem”, do
que ele deve ser, do ponto de vista intelectual, físico e moral, sendo esse ideal o
próprio polo que norteia a educação. A sociedade só pode viver “se existir entre seus
membros uma suficiente homogeneidade”. A educação perpetua e reforça essa
homogeneidade, fixando, antecipadamente, na alma da criança as alianças
fundamentais exigidas pela vida colectiva. Através da educação, o “ser individual”
transforma-se em “ser social”.

Segundo Johann (2009, p. 20), o fenómeno educativo, porém, se presta a algumas


ambiguidades e incompreensões que precisam ser clarificadas. A educação sempre
implicará um processo amplo de transformação e desenvolvimento do ser humano,
em toda a sua pluridimensionalidade. A educação se dará quando forem mobilizadas
as potencialidades humanas de um ser bio-psico-social. O ser humano haverá de ser
tanto mais humanizado quando puder avançar no desenvolvimento de suas
potencialidades.

Muitas vezes, a educação é entendida e exercida somente como um processo de


acumulação de informações, ou seja, como um processo de ensino. Um cabedal
imenso de informações pode não acrescentar valores maiores a um ser que, portanto,
não haverá de ser humanizar devidamente. O acúmulo de informações, actualmente, é
muito mais um processo electrónico, executado com fantástica eficiência por
máquinas, sem que isso signifique qualquer dimensão de educabilidade. Um simples
computador haverá de acumular dados em uma quantidade infinitamente maior do
que qualquer cérebro humano. Resulta que ensinar, embora faça parte do processo de
educar, não significa, por si só, um processo educativo. Tampouco um treinamento
leva necessariamente à educabilidade humana. Os animais irracionais também são

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treináveis. Eles aprendem a executar tarefas, movimentos e práticas repetitivas num
automatismo surpreendente. Um ser humano, porém, não pode ser reduzido apenas a
um mero repetidor de acções irreflectidas, não assimiladas e executadas apenas
mecanicamente. Portanto, não se pode confundir um treinamento com educação.
“Sempre que aqui se falar em educação, estar-se-á fazendo referência a um processo
amplo, completo, profundo e altamente comprometido com a mobilização de todas as
potencialidades humanas” (JOHANN, …. P. 20). Assim, teremos somente um ser
humano educado na medida em que ele crescer e for melhor sob todos os pontos de
vista. Isto quer dizer que a educação mobiliza sempre suas múltiplas dimensões de
um ser biológico, social, espiritual, psicológico, material, estético, ético, etc.

Ética na educação: o papel da escola


Um dos desafios nas redes escolares é contribuir para a formação moral e ética dos
alunos-cidadãos. É fundamental que, na educação, seja construída e problematizada a
participação do indivíduo na vida pública - o que reflecte a consciência de realidades,
conflitos, interesses individuais e sociais, o conhecimento de mecanismos de controle
e defesa de direitos, a noção dos limites e das possibilidades de acções individuais e
colectivas. “Há características individuais, além de sociais e ambientais, que
concorrem para moldar a personalidade ou definir comportamentos, sobretudo a
qualidade dos relacionamentos humanos.” (BENEDETTI; URT,2008,p.142). De
acordo com Sobrinho (2004) por muito tempo as provas escritas, testes e exames
marcaram o modo de avaliar os alunos. Como se estes fizessem parte da essência das
aprendizagens e das formações, como se a qualidade da formação de um aluno se
afirmasse aos resultados alcançados nesses instrumentos de avaliação. Na realidade, a
avaliação nem sempre é aplicada com função pedagógica, formativa e, portanto, de
emancipação pessoal e social. (SOBRINHO, 2004)

Ainda é muito comum a sociedade estabelecer e criticar os métodos antigos, contudo


se esquecem de criar instrumentos e técnicas novas para instigar o conhecimento e ter
resultados positivos em relação ao aprendizado podendo intervir na vida de todos,
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reflectindo desenvoltura e responsabilidade no contexto cultural em que está inserida.
Segundo Ricci (1999) deve-se obter centralidade na formação ética e moral do
educador. Pois, a escola tem o papel fundamental de potencializar e sensibilizar o
comportamento ético e civil de seus alunos que são indispensáveis para uma boa
convivência e participação activa na sociedade. (FREIRE, 1996, p. 17). Para que se
obtenham resultados essa luta precisa estar inserida no quotidiano da prática
educativa sempre que necessário reavaliando seus conceitos e qualidades para que se
exerça uma educação de qualidade, valorizando os conhecimentos e experiências dos
alunos independente do modo de avaliação.

Nos dias actuais, as crianças estão sendo enviadas cada vez mais cedo para a escola e
nela permanecerão por um longo tempo de suas vidas. “Cada vez mais a Escola
exercerá ou poderá exercer um papel que a ela jamais foi atribuído em tempos
passados: o de ser a instituição formadora dos seres humanos.” Por isso se faz
necessário estar atento à qualidade no que diz respeito ao papel do educador que
reflecte na formação educacional desde o primeiro contacto com a instituição.

No mundo moderno, a educação formal tem ficado sob a responsabilidade social de


uma instituição específica, a escola. Devido à amplitude do seu trabalho, essa
instituição tem exercido um papel fundamental na vida individual e colectiva das
pessoas.

A escola, de facto, institui a cidadania. É ela o lugar onde as crianças deixam de


pertencer exclusivamente à família para integrarem-se numa comunidade mais ampla
em que os indivíduos estão reunidos não por vínculos de parentesco ou de afinidade,
mas pela obrigação de viver em comum. A escola institui, em outras palavras, a
coabitação de seres diferentes sob a autoridade de uma mesma regra.

A criança ao ir para a escola já deve ter noção dos conceitos básicos de respeitar
alguns métodos de autoridade, não completaram a sua formação, não atingiram a
maturidade dos seus órgãos e nem das suas funções. Necessitam de tempo, de

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oportunidade e de adequada estimulação para efectivar tais tarefas pois são seres que
estão por vir a ser. Enquanto isso, precisam de protecção, afeição e cuidados
especiais, afecto, atenção, mas acontece que as coisas não andam bem assim.
Algumas famílias não estão dando conta de fazer esse papel de formação primária, de
iniciar a criança em convivência com os demais seres humanos em sociedade.

De acordo com Freire (2014), é necessário que o educador se liberte para o novo, que
seja crítico em seu aprender-ensinar. Os profissionais da educação precisam estar
preparados para os desafios do futuro, que exige um constante repensar e aprender de
novas formas de comportamento.

Masetto (2012) afirma que o educador que “sabe, sabe ensinar,” porém o acto de
ministrar aula não é tão somente repassar a matéria, porque isso qualquer profissional
docente saberia fazer.

Os profissionais da educação ficam presos ao que é ditado pelos livros didácticos ou


pelos currículos rígidos, predeterminados e fechados que a maioria das escolas possui
e acabam por esquecer o papel que tem na sala de aula e na formação dos alunos.

Segundo Cavalcante e Cohen (2012), os professores devem sempre buscar um


feedback de suas acções durante toda a vida profissional. Rodeado de desafios, que
incansavelmente, o educador deve-se colocar, todavia como um “eterno aprendiz”,
entendendo que sua formação deve ser contínua. Esse profissional educador que se
preocupa com a formação de seus alunos efectiva o ensinar e o aprender dos mesmos,
a partir da afirmação de valores, do conjunto de saberes proporcionando autonomia
de pensamentos e saberes.

Como afirmam Rocha e Carrara (2011, p.1), “os professores constituem importantes
modelos e funcionam como ambiente social relevante para a emissão de
comportamentos de seus alunos”.

Se pensarmos na prática educativa desprovida de um sentido mais dinâmico,


profundo e amplo, estaríamos construindo uma poiésis e não uma práxis educativa.
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Somente uma práxis educativa haveria de se constituir em uma acção ética, por
assumir um significado de desenvolvimento de todas as potencialidades humanas. A
poiésis educativa se reduz a uma actividade repetitiva, com objectivos vagos e
imprecisos, descomprometida e alienada. A educação, numa perspectiva praxista, de
acordo com Imbert (2002), deixa de ser um simples labor para assumir seu verdadeiro
significado educativo na medida em que se ocupa com o enfrentamento dos dramas
humanos da actualidade. Isto só será possível com uma profunda inquietação ética.

Segundo Freire, a promoção da ingenuidade à criticidade não pode ou não deve ser
feita à distância de uma rigorosa formação ética ao lado sempre da estética. A prática
educativa tem de ser, em si, um testemunho rigoroso de decência e de pureza. Nesta
perspectiva, sustenta Freire (1996, p. 17) que Mulheres e homens, seres histórico-
sociais, nos tornamos capazes de comparar, de valorar, de intervir, de escolher, de
decidir, de romper, por tudo isso, nos fizemos seres éticos. Só somos porque estamos
sendo. Estar sendo é a condição, entre nós, para ser. Não é possível pensar os seres
humanos longe, sequer, da ética, quanto mais fora dela. Estar longe ou pior, fora da
ética, entre nós, mulheres e homens é uma transgressão. É por isso que transformar a
experiência em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de
fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu carácter formador. Se se
respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à
formação moral do educando.

Para Anah Arendt, a escola ou a educação exerce um grande papel na escolha de


valores que determinaram as escolhas dos indivíduos. Portanto, a sua existência
implicará, a cada momento, conteúdos de natureza ética. Da qualidade de suas acções
resultarão os movimentos mais ou menos construtivos, sofrendo sempre as
consequências de seu agir. O ser humano, assim, condicionará o seu mundo pelo seu
modo de ser e agir e também, na contrapartida, será condicionado pelo tipo de mundo
que ele haverá de engendrar.

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Nos moldes de Arendt (2007), a vida activa (na escola) e a forma como que o ser
humano a exercer será fruto de uma aprendizagem. Portanto, a educação implicará
uma dimensão ética a imprimir as suas condições de construção ou de destruição. O
ser humano aprenderá a prática do cuidado para com tudo e todos os que o rodeiam.

Paulo Freire expressa que a escola deve ser um lugar de trabalho, de ensino, de
aprendizagem. Um lugar em que a convivência permita estar continuamente se
superando, porque a escola é o espaço privilegiado para pensar. Ele que sempre
acreditou na capacidade criadora dos homens e mulheres, e pensando assim é que
apresenta a escola como instância da sociedade. Paulo Freire diz que “não é a
educação que forma a sociedade de uma determinada maneira, senão que esta, tendo-
se formado a si mesma de uma certa forma, estabelece a educação que está de acordo
com os valores que guiam essa sociedade” (1975, p. 30).

A Pedagogia de Paulo Freire é expressão do desejo pela vivência da ética, pelo saber
que não ignora-se tudo, mas que também não se domina tudo e portanto exige
humildade de quem ensina no respeito com quem aprende. A experiência de que o
papel do professor não se satisfaz apenas no ensinar os conteúdos, mas também no
ensinar a pensar certo. O ensino como motivação para a pesquisa, o professor como
pesquisador, já que para comunicar é necessário conhecer o ainda não conhecido. O
frequente estímulo à curiosidade, que se manifesta inquietamente e de forma
indagadora. O olhar para a formação moral do educando, em que demanda
“profundidade na compreensão e na interpretação dos fatos”. A presença constante do
diálogo. O professor que em formação permanente, faz a reflexão crítica sobre a
própria prática. A atitude atenciosa para os gestos que diariamente traduzem-se em
representações que estimulam ou implicam, no desestímulo no espaço escolar.

A escola como espaço de construção de sentidos, dos desejos e emoções. O acto de


ensinar pelo professor, que se transforma na possibilidade da sua própria construção,
e da construção do aluno enquanto participante. O exercício da autoridade
competente, a prática democrática, vencendo os preconceitos pelo respeito. A
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exigência do assumir o direito e o dever de fazer opções, tomar decisões, fazer
política, lutar para melhor viver.

Para Freire é necessária compreensão de que a escola é lugar de gente,

Lugar onde se faz amigos, [...]gente que trabalha, que estuda, que se
alegra, se conhece, se estima. [...] e a escola será cada vez melhor na
medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão.[..]
nada de ser como a o tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só. [...]
numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos,
educar-se, ser feliz1.

É essa escola que desejamos construir, uma escola humana, capaz de compreender
os desafios de seu tempo, e na luta pelo melhor viver, reconhecer fatos, gestos, unir
conhecimentos, recordar. Uma escola comprometida com as gerações futuras. Para
Paulo Freire, uma escola em que “o direito de saber melhor o que já sabem, ao lado
de outro direito, o de participar, de algum modo, da produção do saber ainda não
existente” (2006, p. 111).

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Poesia do educador Paulo Freire, disponível no site do Instituto Paulo Freire (www.paulofreire.org)
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Conclusão
A escola precisa redimensionar o seu pensar, reformulando suas acções pela
compreensão do que a comunidade escolar (entendida aqui os alunos, pais,
professores, equipe pedagógica, direcção, funcionários) espera dela enquanto função
social de difusão dos princípios axiológicos. Ao que nos deparamos frequentemente
com inúmeras instituições tentando descrever e delinear as funções da escola, no
entanto limitam-se apensas em descrever a função que diz respeito a aprendizagem de
conteúdos vinculados a processos avaliativos, amputando as outras funções da escola.

Para terminar com o discurso centralizador do papel da escola Freire sustentando que
a escola hoje assume um grande papel que talvez nunca lhe foi conferido nos tempos.
Ela apresenta-se como instrumento ou local de difusão de princípios que norteiam o
comportamento humano (ética e moral). A escola é um lugar privilegiado para
ensinar a pensar, agir e observar princípios.

O papel da escola é socializar o conhecimento, seu dever é actuar na formação moral


dos alunos, é essa soma de esforço que promove o pleno desenvolvimento  do
individuo como cidadão. A escola é o lugar onde a criança deverá encontrar os meios
de se prepar para realizar seus projectos de vida, a qualidade de ensino é, portanto,
condição necessária tanto na sua formação intelectual quanto moral, sem formação de
qualidade a criança poderá ver seus projectos frustrados no futuro.

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BIBLIOGRAFIA

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contemporânea: reflexões sobre a constituição do sujeito que 'não aprende'".
Psicologia da Educação, 2008.

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