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AMOR DE PERDIÇÃO

INTRODUÇÃO

Este trabalho foi desenvolvido no âmbito da disciplina de portugues e tem


como principal objetivo o aprofundamento da obra literária Amor de
Perdição escrita por Camilo Castelo Branco. Mais concretamente
pretendemos analisar e interpretar a biografia do autor que foi instrumento
de inspiração para a realização da narrativa, bem como a relação entre as
personagens e outras informações relevantes ao tema.

SUGESTÃO BIOGRÁFICA

Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco, nasceu em Lisboa, a 16 de março de


1825 e é considerado um dos maiores escritores e o típico representante do
ultra romantismo em Portugal.
Afirma se que a sua vida é uma sucessão de acontecimentos trágicos e
atribulados, que lhe deram incentivo para os temas das suas novelas, bem
como a ilegitimidade e orfandade, temas recorrentes em toda a sua obra.
Com 16 anos casa-se pela primeira vez mas rapidamente abandona essa
ideia, ingressando em 1843 na escola de medicina, no Porto. O autor, no
entanto, acaba por não concluir esse curso, estreando-se dois anos depois
nas letras, onde publica os seus primeiros trabalhos literários. Foge com
uma outra jovem, em 1846 mas acaba também por desistir dela, morrendo
um ano a seguir à outra , a sua esposa legítima e filha desse casamento.
Mais tarde, em 1850 teve uma crise espiritual, idealizando seguir a vida
religiosa, contudo, quando conhece Ana Plácido, mulher de um
comerciante, abdica dessa ideia, encontrando novamente o seu rumo,
publicando, um ano depois, o seu primeiro romance .
Algum tempo após o primeiro encontro, Ana abandona o marido
(comerciante) para ir viver com Camilo e em 1860, o autor é processado e
preso por crime de adultério, mas é absolvido no seguinte ano, passando a
viver com Ana. Entre 1862 e 63 publicou inúmeras novelas e romances,
atingindo uma notoriedade dificilmente inigualável.
Camilo Castelo Branco casou- se com a sua amada em 1888, porém levou e
viveu uma vida cercado de problemas. Como se todo o sofrimento não
bastasse foi-lhe diagnosticada sífilis crônica e já quase cego, ao não
suportar toda a angústia acaba por se suicidar, no dia 1 de junho de 1890 em
São Miguel de Seide, Famalicão .

A sua obra mais notória foi Amor de Perdição, escrito em 1862, tem 20
capítulos, para além da introdução e conclusão, e é uma das mais eternas
histórias de amor da literatura portuguesa, um exemplar do ultra
romantismo, é um apelo à liberdade do amor contra as exigências sociais do
século XIX (19).
A narrativa, em tom passional, intenso e romântico, é baseada num caso
verídico e é considerada uma versão da peça Romeu e Julieta, como uma
confissão de revolta do próprio autor, preso, por se ter envolvido num amor
proibido e impossível com uma mulher casada, como anteriormente
referido. No entanto, a manipulação e a ficção, por parte de Camilo, são de
tal forma livres, que converteu esta realidade na novela sentimental mais
famosa, explorando-se nela a força dos sentimentos como a razão de ser da
vida.
O enredo baseia-se na paixão entre dois jovens, Simão Botelho e Teresa de
Albuquerque, que pertencem a duas famílias rivais, exaltando o sofrimento
amoroso e apontando a morte como solução para os conflitos do coração, ou
seja, a morte em vez da desistência do amor que os une.
De um modo breve, esta é uma história que circunda Viseu, e conta a história
de dois jovens apaixonados, que se encontravam às escondidas para não
serem descobertos por ambas as famílias, no entanto, estas em busca de
impedir o relacionamento dos dois, procuram a todo custo arranjar o
casamento de Teresa com um primo, e esta ao recusar-se, é internada num
convento. Simão, ao saber do sucedido e após criar confusão com os criados
da casa do primo de Teresa, permanece escondido na casa de um ferreiro
que devia favores a seu pai. Mariana, a filha do ferreiro, ao conhecer este
jovem rapidamente se apaixona.
Simão, numa tentativa de resgatar Teresa do convento, acaba por balear e
matar a tiro o primo desta, Baltasar, tendo sido por isso preso na cadeia da
Relação do Porto onde foi condenado à força.
Ao embarcar para a Índia, Simão ainda consegue avistar o vulto da sua
amada, que se despede dele, esgotada pela desgraça. Horas depois, Simão
toma conhecimento da morte de Teresa e morre também. Quando é lançad0
ao mar, Mariana, filha do ferreiro, lança-se também, com as cartas que
Teresa e Simão tinham em tempos trocados.
E é com este final trágico que Camilo Castelo Branco rematou Amor de
Perdição.
ASPETOS COMUNS ENTRE O AUTOR E SIMÃO
Simão de Botelho é apresentado como protagonista e o herói da novela
romântica, cuja composição foi inspirada na figura de um tio do autor que
havia sido também preso. Apaixonado por Teresa, Simão, tal como Camilo,
foi preso por amor, amor este proibido e inalcançável, tendo tido um
desfecho trágico morrendo desgostoso.
Desta forma conseguimos perceber que Camilo transpunha as suas ideias e
experiências pessoais na personagem de Simão, dando assim um maior
significado e emoção ao protagonista , uma vez que muitos dos
acontecimentos da obra foram retratados na vida do autor.

CONSTRUÇÃO DO HERÓI ROMÂNTICO

Durante o Romantismo, as narrativas e os dramas escritos criam a figura do


herói romântico, que decorre do facto de entrar em conflito com a
sociedade, por recusar as regras que esta impõe. Em termos gerais, podemos
defini-lo como uma personagem que acredita em valores elevados e que se
move por ideais grandes e inalcançáveis: o amor proibido, a justiça, a
liberdade. Por fim a grandeza deste herói termina geralmente em desgraça
ou frustração profunda.

Simão Botelho inicialmente é apresentado como um jovem violento,


impulsivo, rebelde e marginal todavia o seu caráter muda a partir do
capítulo II , quando se apaixona. O protagonista dedica a vida a este amor
idealizado e ilimitado, é este sentimento que redime os erros e modifica a
personagem, contudo na obra, podemos afirmar estar perante outros nobres
sentimentos que contribuem para a elevação do caráter de simão,
sentimentos esses como, a coragem que revela nos seus atos, a
determinação, o seu conceito de honra, o respeito pelos quenão são da sua
condição social (como Mariana), a honestidade e sinceridade, alguém que
acredita no amor eterno e que morre por ele. Este personagem, de um modo
geral, torna-se um herói romântico ao ser representado como jovem,
bonito, de sentimentos fortes e que foi transformado pelo amor.

A primeira das duas heroínas romanticas é Teresa de Albuquerque, o seu


heroismo consiste em não agir mas reagir, isto por ser descrita inicialmente
como uma personagem sensível e frágil que por pertencer ao sexo feminino
é simbolo da fragilidade e da passividade perante o caracter viril e selvagem
do heroi romantico. Desta forma, a protagonista de origem aristocrática,
isto é, jovem nobre, da alta sociedade, pode ser caracterizada como uma
donzela, bonita e determinada, quando se recusa a casar com Baltazar,
corajosa ao enfrentar a tirania do seu pai e tal como Simão acreditava no
amor eterno e dava a sua vida por aquele sentimento que a possui.

Por fim, Mariana vai ser apresentada como a personagem mais verdadeira e
mais romântica da história porque o que sente a satisfaz sem necessidade ou
esperança daquele amor absoluto se concretizar, esta jovem é então descrita
como uma rapariga do povo, boa, bonita (mais bela que teresa), generosa,
dedicada e sofredora pois o seu amor não é recíproco. Esta personagem
serve de intermediário entre Simão e Teresa, e tal como as outras duas
personagens acredita no amor eterno e também se sacrifica por ele, mesmo
não sendo correspondido.

RELAÇÕES ENTRE OS PERSONAGENS


Ao longo da obra vão sendo apresentadas e aprofundadas várias
personagens que com o passar do tempo vão relacionar-se entre elas e
apresentar semelhanças de carácter, maneira de agir/viver entre outras
características que vamos agora abordar melhor sobre alguns casos em
específico:
As famílias de Teresa e Simão partilhavam o seu ódio e rivalidade uns pelos
outros, os pais de Teresa e Simão são tão passionais, tão radicais nos seus
comportamentos como os protagonistas, porém eram considerados
simetricamente o oposto dos heróis, uma vez que representam a hipocrisia
social, o apego egoísta e tirano à honra do sobrenome e aos brasões cuja
nobreza é ironicamente ridicularizada, ou seja, desmoralizada pelo
narrador.
Já Mariana e Simão partilhavam um amor não correspondido, Mariana
amava em silêncio Simão embora saiba que esse amor jamais poderá ser
correspondido, já aos olhos de Simão Mariana começou por ser uma espécie
de mãe, não se apercebendo dos sentimentos que a mesma tinha por si,
desta forma as duas personagens estão relacionadas pois de uma forma
diferente ambas têm um amor não correspondido no caso de Mariana, que
ama Simão mas que nunca foi correspondida sentimentalmente e Simão que
não corresponde a este sentimento de Mariana pois estava apaixonada por
outra (Teresa)
Por fim, temos a relação entre as personagem de Simão, Teresa e Mariana,
concluindo-se que a ação se baseia neste trio amoroso.
Simão é apaixonado por Teresa e ambos viveram um amor ideal
correspondido mas que acaba em tragédia quando os dois se sacrificam por
esse amor. Mariana que estava apaixonada por Simão assume o papel de
intermediária, uma vez que esta é quem mais sofre e ama durante toda a
obra pois o seu amor não é correspondido por Simão que ao morrer a deixa
destroçada levando-a a suicidar-se agarrada ao corpo do jovem,
sacrificando-se também por este amor eterno, as três personagens estavam
então relacionadas pois acreditavam no amor eterno e sacrificam-se pelo
mesmo, criando a trama deste trio amoroso ao longo da obra.

A OBRA COMO CRÓNICA DA MUDANÇA SOCIAL

Amor de perdição foi escrito durante a transição do Antigo Regime


(Absolutismo) para a Época Moderna do Liberalismo, retratando-se nela
assuntos como a vida em sociedade e os costumes da época de mudança
social e política , e mesmo sendo o amor o tema central da obra e de se
abordar sob forma de amor ideal ou contrariado, existem outros temas e
questões sociais que são analisadas de forma crítica e ganham relevância na
obra, como as falsas virtudes, a noção de honra, a instituição familiar, isto
é, o autoritarismo paterno, por Domingos Botelho e Tadeu de Albuquerque,
casamentos de conveniência, situação de inferioridade da mulher, e também
por exemplo a aristocracia com símbolo de uma sociedade retrógrada, com
oposição preconceituosa, como é o caso das famílias de Teresa e Simão
relativamente ao amor, sendo estes os verdadeiros culpados da morte dos
filhos.
O narrador satiriza e critica os valores antiquados da sociedade do seu
tempo, sec. XIX e os comportamentos sociais, sobretudo do clero e da
nobreza, e apresenta dois entendimentos do mundo em confronto: por um
lado, o privilégio das classes sociais dominantes e, por outro, os valores de
liberdade, igualdade, justiça social, que o Romantismo vem a reivindicar.

Narrador:
O narrador é uma entidade que existe no universo da história e que relata a
ação, no entanto em Amor de perdição, podemos associar o narrador à
figura do autor, que assume ser sobrinho de Simão Botelho.
Este narrador, caracteriza-se quanto à presença, como heterodiegético ou
não participante, por não participar diretamente na ação, relatando a
história na terceira pessoa, ainda assim é do tipo intruso e subjetivo,
compartilha a sua opinião, tira conclusões e apresenta e desenvolve críticas
sobre comportamentos sociais.
Este é omnisciente, pois tem conhecimento absoluto sobre as situações e
personagens, isto é, sabe como se sentem e o que pensam, dominando assim
todo o processo narrativo.
Existe, contudo, um outro narrador em primeira pessoa, autodiegético, que
relata a história e estabelece um diálogo interpessoal com o leitor,
afirmando-se como suporte da verdade que vai ser narrada, destacando que
os acontecimentos que narra fazem parte da sua própria vida

ESTRUTURA DA NARRATIVA (“amou, perdeu-se e morreu amando”)

Amor de Perdição é resumido pelo narrador através da expressão, “amou


perdeu-se e morreu amando”, que nos é apresentado no início podendo
transmitir que algo trágico irá ocorrer e pode ser explicada da seguinte
forma
“Amou” - introdução - Quando Simão se apaixona por Teresa, amor esse
proibido, devido à rivalidade entre as duas famílias.
“Perdeu-se” - desenvolvimento - Enquanto Simão e Teresa estão
apaixonados, algumas situações acontecem entre eles:
● Simão é expulso de casa dos seus pais, mata Baltasar (o primo e
pretendente de Teresa), é preso e condenado.
● Teresa recusa o casamento com o primo, imposto pelo pai e é enviada
para o convento.
“Morreu amando” - conclusão - dá-se com o desfecho da obra, isto é,
ocorrência da morte de Simão durante a viagem para a Índia, depois de ter
conhecimento da morte da sua amada, e suicidio de Mariana.

Conclusão:
Esperemos que com este trabalho expositivo tenhamos cumprido o objetivo
pré-estabelecido e que com as informações transmitidas tenham aprendido
mais sobre a novela Amor de Perdição. Percebemos que esta obra teve um
grande marco especialmente na segunda fase do romantismo, Camilo
Castelo branco usa e abusa de todos os recursos desse período envolvendo-
nos, a nós leitores numa novela onde as personagens vivem um eterno
conflito com a sociedade, alimentados por tristezas, angústias e amores
impossíveis, onde a morte engrandece o amor no seu ideal romântico.

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