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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO
FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
DISCIPLINA: LITERATURA PORTUGUESA I
PROFESSORA: ELOÍSA PORTO

ALUNAS: JÚLIA DUARTE FEIJÓ


GABRIELA RAMALHO
LETÍCIA VIANA
ANA PAULA ARAÚJO

OBRA: AMOR DE PERDIÇÃO

I. SOBRE O AUTOR

- Camilo Castelo Branco (1825-1890) foi um dos maiores escritores portugueses do


século XIX.

- Representante do típico Ultra-Romantismo em Portugal, possui uma riqueza vocabular


extraordinária que reflete as características mais puras da língua portuguesa.

- Nasceu na freguesia dos Mártires, em Lisboa, Portugal, no dia 16 de março de 1825.

- Ainda durante sua infância, seus pais faleceram, e aos 10 anos ficou órfão. Foi morar
com uma tia e depois sua irmã mais velha. Desde então, o romancista, sempre
apresentou características de insatisfação com a vida e uma inquietude quanto a paixões.

- Em 1841, com apenas 16 anos, casou-se com uma jovem de 15 anos, Joaquina Pereira,
mas logo a abandonou. Em 1843 ingressou na Escola de Medicina no Porto, mas se
entregou à boemia e não conseguiu concluir o curso. Em 1845 publicou seus primeiros
trabalhos literários, e em 1846 colabora com o jornal “O Povo”. No ano seguinte,
casado novamente, morre sua esposa e depois a filha do casal.

- Em 1850, passou por uma crise espiritual e ingressou no seminário do Porto,


pretendendo seguir a vida religiosa. Em 1863, Camilo publica a novela "Amor de
Perdição", caracterizada pelo desequilíbrio sentimental de seus personagens.
- Nesta novela, o autor revela o escândalo de sua situação de adultério vivida pelo amor
de Ana Plácido, período em que foi processado e preso por crime de adultério.

- Camilo Castelo Branco viveu cercado de problemas e no fim da vida estava quase
cego. Não suportando todos os abatimentos da vida e problemas familiares, Camilo
suicidou-se. Morreu em São Miguel de Seide, Vila Nova de Famalicão, no dia 01 de
junho de 1890.

II. ESTILO LITERÁRIO

- Sua vida atribulada lhe deu inspiração para os temas de suas novelas. Sua produção
literária é extensa, com mais de uma centena de obras. Sofreu repressão e violência no
começo da carreira por emitir críticas políticas em seus textos, acabou afrontando alguns
sujeitos poderosos e foi alvo de violência.

- Produziu poesia, teatro, historiografia, contos, romances e novelas históricas, de


aventuras e passionais. Com as novelas passionais tornou-se uma destacada figura
literária, chegando ao auge de sua carreira de escritor. Recebeu honrarias e títulos,
embora jamais tenha conseguido superar dificuldades econômicas. Em 1885 recebeu o
título de Visconde concedido pelo rei de Portugal, D. Luís I.

- A obra de Camilo é, em grande parte, um reflexo do seu próprio percurso biográfico. A


agitação, a instabilidade, o conflito entre a paixão e a razão que encontramos em suas
novelas, encontramo-los igualmente na vida de Camilo.

III. CONTEXTO HISTÓRICO – CULTURAL

- A obra em si se passa em Portugal, mais precisamente em Viseu, Coimbra e Porto, que


são cidades da região central de Portugal, durante o século XIX.

- Nesse mesmo século Portugal viveu diversos períodos de perturbação política e social (a
guerra civil e repetidas revoltas e pronunciamentos militares, como a Revolução de
Setembro, a Maria da Fonte, a Patuleia, Belenzada) e só com o Ato Adicional à Carta, de
1852, foi possível a acalmia política e o início da política de fomento protagonizada no
período da Regeneração.

- Com base no contexto histórico-cultural da obra, é possível notar que são citadas
divergências políticas e sociais entre os familiares dos personagens principais envolvidos
no enredo da obra. Tendo, em “tempo-real”, Portugal vivendo guerras políticas e sociais
entre povos do país e brigas familiares.

IV. ROMANTISMO

- A segunda fase do romantismo português é caracterizada pelo excesso de


sentimentalismo, pessimismo, melancolia, religiosidade, idealização, sofrimento amoroso
e adjetivação abundante. São recorrentes as temáticas, como: amor, morte e saudade.

- A obra “Amor de Perdição” representa perfeitamente a segunda fase do romantismo


português. Com toda sua melancolia e sofrimento, Simão demonstra claramente a dor do
amor, que estava muito presente nessa fase romântica.

V. ELEMENTOS DA NARRATIVA

- A narrativa se passa em Portugal durante o reinado de D. Luiz I, último filho de


D.Maria.

- O narrador está na 3ª pessoa, mas é um narrador intruso, pois dá sua opinião sobre
alguns acontecimentos da obra.

- Escrita em 1861 e publicada em 1862.

- Tempo cronológico e contínuo

- A linguagem utilizada permite a identificação do estatuto social das personagens:


Burguesia e nobreza: linguagem cuidada, literária. Povo: linguagem viva, popular,
familiar.
VI. PERSONAGENS

- Simão Botelho: É um dos protagonistas do romance e, inicialmente, foi descrito como


um jovem revoltado, violento e engajado nas questões sociais da sua faculdade. Ele tem
17 anos quando conhece Teresa e muda seu caráter, tornando-se um homem mais
recatado e dedicado. Capaz de fazer tudo por ela, ele é o típico herói romântico.

- Teresa de Albuquerque: Sendo também uma protagonista, Teresa se apaixona por


Simão com 15 anos e adquire densidade heróica ao longo da obra. Firme e resoluta por
seu amor, ela representa a materialização do ideal romântico feminino.

- Mariana: É uma moça pobre, do campo, melancólica e que ama Simão, mesmo
sabendo que não é recíproco. É a personagem mais romântica da obra e a própria
personificação do espírito do sacrifício, pois faz tudo por Simão.

- Domingos Botelho: Pai de Simão, um homem renomado socialmente e que ocupava


cargos jurídicos. Cheio de defeitos, é o oposto do herói, pois representa a hipocrisia
social. Ele luta pelo fim do amor do filho por Teresa.

- Tadeu de Albuquerque: Pai de Teresa. Tem o caráter parecido com o de Domingos e


também faz de tudo para afastar a filha de Simão. É autoritário e protetor, além de
também ser inimigo de Domingos.

- João da Cruz: Pai de Mariana. É o personagem mais sensato da obra e mais


equilibrado. Simples ferreiro que, por conta de uma dívida antiga com Domingos, torna-
se protetor do herói (Simão).

- Baltasar Coutinho: Primo de Teresa designado a casar com ela. É considerado o vilão
da história por ser cúmplice de seu tio Tadeu.

VII. RESUMO DA OBRA

- A obra já começa com uma pequena introdução que diz respeito ao registro de prisão
de Simão Botelho, parte da narrativa que só seria entendida ao longo da obra, criando,
dessa forma, uma expectativa no leitor.
- Em seguida a narrativa passa então a contar sobre a história da família de Simão, a
trajetória de seu pai, Domingos Botelho, que era flautista da corte, e em como ele
conheceu sua mãe, D. Rita Castelo, dama de companhia de D. Maria I, quantos filhos
tiveram e o que eles faziam em questões acadêmicas.

- Contada a história da família, a narrativa foca mais em Simão que estudava numa
universidade em Coimbra. Ele tinha uma personalidade conflituosa movimentada pelos
ideais da Revolução Francesa, se envolvendo em várias desavenças. Em uma delas,
quando estava de férias em casa, Simão se mete em uma briga ao defender um criado
que estava sendo espancado. Isso deixou seu pai furioso e sua mãe, temendo o esposo,
ajudou o filho a fugir para Coimbra.

- No entanto, Simão passou a defender a Revolução mais publicamente e, por isso, foi
mantido em cárcere acadêmico por 6 meses. Simão perdeu o ano escolar e voltou para
casa, mesmo seu pai continuando frio e distante dele.

- Nesse período em casa, Simão sofre uma grande e misteriosa transformação que muda
completamente seu comportamento. Ele passa a sair pouco, fica longamente no próprio
quarto e mantém-se pensativo. Seu pai, vendo sua mudança, volta a dirigir a palavra a
ele, mas desconhece o real motivo para a transformação do filho. Simão estava
apaixonado por Teresa, vizinha e filha do inimigo de seu pai.

- Por 3 meses, o casal mantém sua relação amorosa pelas janelas de seus quartos, às
escondidas. Na véspera do retorno de Simão à Coimbra, enquanto conversam pela
janela, Teresa é arrancada da frente de Simão. É seu pai, Tadeu, reagindo fortemente ao
flagrante. Simão se desespera, tem febre, mas assim mesmo parte para Coimbra, pois
queria se formar para casar com Teresa.

- Antes de sair em viagem, Simão recebe um bilhete de uma mendiga, em que Teresa
lhe revela as ameaças de seu pai de colocá-la num convento. Porém, pede que Simão
siga para Coimbra, garantindo que se manterá em contato por cartas.

- A irmã caçula de Simão, Rita, começa a ter uma amizade secreta com Teresa, através
de conversas sussurradas pelas janelas. Numa destas conversas, são flagradas pelo pai
de Rita e, pressionada pelo pai, ela conta tudo o que sabe.
- Tadeu percebe também o incidente, mas se mantém tranquilo. Planeja secretamente
casar a filha com seu sobrinho, Baltasar Coutinho. Chama logo o rapaz a Viseu, conta
seus planos e lhe incentiva a cortejar a filha. Teresa, no entanto, se nega a Baltasar. Ele
se põe totalmente contra a relação dela com Simão. Sentindo-se ofendido no seu direito
de pai, Tadeu trama em segredo o casamento de sua filha e Baltasar. Teresa nega
novamente e manda uma carta para Simão contando tudo.

- Simão retorna escondido para Viseu e fica hospedado na casa de João da Cruz (que
devia um favor ao pai de Simão) que, com o decorrer do tempo, se tornou braço direito
do protagonista. Ao longe, Simão percebe que na casa de Teresa está acontecendo um
festa, feita por Tadeu com o intuito de prover convívio social a filha a fim de que ela
esquecesse o amado. Simão se encontra com Teresa nessa festa, mas são descobertos
por Baltasar. Simão o ameaça, mas sem revelar sua identidade.

- No dia seguinte, à noite, Simão resolver ir ver Teresa. João o acompanha com medo de
que alguma coisa pudesse acontecer.

- Baltasar e dois homens tinham armado uma emboscada. Na confusão, Simão se fere e
volta para casa de João para ser cuidado por Mariana, filha do senhor. É durante essa
temporada de recuperação que Mariana se apaixona por Simão.

- Enquanto isso, Teresa foi mandada para o convento de Viseu até que se completem os
preparativos para sua transferência para o convento de Porto. Quando Simão soube de
sua transferência, se prepara para raptá-la junto com João e um grupo, algo que não deu
certo, pois Teresa estava acompanhada de seu pai, de seu primo, de seus criados e de
suas irmãs. No meio da confusão, Simão mata Baltasar com um tiro de pistola. Simão se
recusa a fugir e é preso.

- Domingos Botelho não busca retirar o filho da prisão, devido às rixas entre eles,
mesmo que sua família implore pela ajuda dele. Porém, quando Simão foi condenado à
forca, ele decide usar de sua influência para alterar a pena, conseguindo que seu filho
seja exilado por 10 anos na Índia.

- Quando saiu a notícia de que Simão seria condenado à forca, Mariana, única pessoa
que o estava ajudando na cadeia, cai à beira da loucura, mas logo se recupera, disposta a
continuar ajudando Simão e desejando ir ao exílio com ele. Teresa também ficou doente
quando recebeu a notícia de que Simão iria pra forca e só melhorou quando soube da
transferência dele para a cadeia da relação em Porto.

- Tadeu percebe que Teresa e Simão estarão na mesma cidade na hora do embarque e
tenta levar Teresa de volta ao convento em Viseu, mas é impedido pela freira que é tia
de Teresa.

- Passam-se ainda alguns meses até que, em 17 de março de 1807, Simão Botelho
embarca para a Índia junto com Mariana que não teve mais motivo para ficar em Viseu,
pois seu pai, João da Cruz, tinha sido assassinado. Vendendo tudo que era do seu pai,
Mariana usa o dinheiro para ajudar Simão e ir junto com ele.

- Depois de reler todas as cartas de Simão, Teresa as reúne e pede para uma das freiras
do convento levar para ele.

- Quando o navio estava prestes a sair, Teresa sobe ao mirante e acena para Simão que o
responde com outro aceno. Ali mesmo no mirante, Teresa morre de tristeza, da "doença
do amor".

- Após saber sobre a morte de Teresa, Simão sofre de febre romântica por 9 dias e falece
também. No mesmo instante que os marujos arremessam o corpo de Simão ao mar,
Mariana se atira junto, agarrando o corpo de Simão e afundando junto com ele.

VIII. CURIOSIDADES SOBRE A OBRA

- Camilo escreveu a obra em 15 dias quando estava preso em Porto por adultério.

- Sub-intitulado de "Memórias de Uma Família", é baseado em episódios da vida do tio


Simão Botelho.

- É considerado uma obra-prima da ficção de língua portuguesa.

- Este é o romance mais popular, já traduzido em diversas línguas e adaptado ao teatro e


ao cinema, incluindo uma ópera também.
- Em 1986, fez-se uma edição da obra destinada aos emigrantes portugueses espalhados
pelo mundo.

- Foi o primeiro best-seller português, impulsionando Castelo Branco a escrever


“Amor de Salvação”, um contraponto.

IX. INTERTEXTUALIDADE COM ROMEU E JULIETA

- Encontra-se nas duas histórias um amor verdadeiro e esperançoso que desperta uma
vontade muito grande nos casais de viverem suas vidas desfrutando desse amor, mas algo
que coincide nas histórias, o que os impede de viver esse amor, é justamente a rivalidade
de suas famílias.

- Em ambas as histórias, apesar dos casais viverem esse amor loucamente, com muita
esperança e um imenso sofrimento, não conseguem o tão sonhado momento de viverem
juntos e ambos acabam com o final triste com suas mortes separando-os definitivamente.

X. TEMA RELEVANTE: CRÍTICAS ÀS INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS

- Os elementos realistas de "Amor de Perdição" estão nas críticas às instituições


religiosas e aos conventos. É possível perceber estes elementos nas passagens da obra
em que o narrador denuncia a corrupção do convento de Viseu e quando o pai de Teresa
usa o convento como um lugar onde ela poderá ficar longe do contato com Simão e terá
uma educação privilegiada, o que não acontece, pois lá ela consegue manter a
comunicação com Simão e ainda descobre que a vida entre as freiras é cheia de vícios,
depravações, lutas por poder e intrigas.

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