É enviado, então, com a irmã mais velha, para morar em Vila Real (Trás-os-
Montes) com a tia paterna, Rita Emília, que lhe conta histórias de seu tio Simão
Botelho, que será o herói de Amor de Perdição. Depois passa a viver com a irmã
mais velha em Vilarinho da Samardã (freguesia do concelho de Vila Real) e
estuda latim e textos religiosos com o cunhado da irmã, o padre António de
Azevedo.
Aos 16 anos casa-se com uma aldeã de quinze anos, Joaquina Pereira de França,
e passa morar com ela e com o sogro em Friúme (lugar conhecido também por
Ribeira da Pena). Continua os estudos com os padres das aldeias por onde
passou. Aprende francês, lê os clássicos gregos e latinos, os portugueses, além
de muita literatura católica. É um grande observador da vida e dos hábitos do
povo das serras, das gentes simples de Trás-os-Montes, o que se pode observar
nos seus romances e novelas. Participou episodicamente em restos de guerrilhas
miguelistas.
Mas foi no Porto que começou sua aventureira e tormentosa vida amorosa; o
seu drama pessoal. Aos 21 anos, foge de Vila Real para o Porto com uma outra
jovem Patrícia Emília, órfã e prima. Camilo é acusado de bigamia, é condenado e
passa algum tempo preso.
Em 1847 morre sua esposa, Joaquina Pereira; no ano seguinte, morre sua filha
Rosa; nesse mesmo ano, Patrícia Emília tem uma filha.
A partir de 1848, fixa residência no Porto e passa a fazer parte das tertúlias
literárias. É um rapaz impulsivo, escreve para os jornais e envolve-se
constantemente em campos de duelo (ferido) por amores e por rixas literárias.
Por esse tempo passa a fazer parte de círculos literários como autor de peças
teatrais e surgem aí as suas primeiras novelas, sob a forma de folhetins, nos
jornais O Nacional e O Eco Popular.
Nessa ocasião, envolve-se com uma freira, a jovem Isabel Cândido Moura, que
lhe educará a filha Bernardina Amélia, nascida em 1847, da sua relação com
Patrícia Emília; depois passa a viver com uma humilde costureira; tem
envolvimento com a poetiza – Maria de Felicidade do Couto Browne – e outros
casos com mulheres da sociedade.
Finalmente, o seu grande envolvimento amoroso é com Ana Plácido, mas, por
imposição paterna, esta casa-se com um rico comerciante “brasileiro” que
regressa de viagem (Manuel Pinheiro Alves), o que origina em Camilo uma
profunda depressão e aversão a figuras de portugueses enriquecidos no Brasil
que regressavam sem cultura nem princípios morais, como ele os caricatura em
muitas das suas novelas, apresentando-os como figuras grotescas.
Tal crise desencadeia nele, da mesma forma que o faria no coração de seus
heróis, uma “vocação” religiosa. Passa dois anos (1850 – 1852) num seminário
do Porto, à imitação do infeliz Eurico, o Presbítero de Alexandre Herculano,
pretendendo ser padre. Nesse tempo, escreve artigos para jornais absolutistas e
clericais.
Seis anos depois, já é novelista reconhecido pelo público e pela crítica. Ana
Plácido deixa o marido para viver com o amante, o que era nesse tempo um
escândalo passível de ação judiciária. O escândalo traz notoriedade a Camilo. O
casal, perseguido pela justiça, passa algum tempo fugitivo, escondendo-se em
vários lugares, até que os dois amantes se veem forçados a entregar-se à prisão
(Ana em maio e Camilo em outubro). Acusados de adultério, ambos, são
remetidos para a Cadeia de Relação do Porto.
O cárcere durou um ano e dezasseis dias, período em que recebe a visita do rei
D. Pedro V. Aí, Camilo ocupou o tempo a escrever, entre outros escritos, num
momento psicológico de alta tensão trágica, em 15 dias, o Amor de Perdição
(1862).
A obra…
Poesia
. Inspirações
. Um Livro
. Nostalgias (1888)
Novelas
. A doida do Candal
. Novelas do Minho
. Carlota Ângela
. Coisas espantosas
. Os Mistérios de Lisboa
. O Esqueleto
. O Demônio do Ouro
. Novelas histórias
. Luta de gigantes
. O Santo da Montanha
. O Olho de Vidro
. O Regicida
. A Filha do Regicida
. A Caveira do Mártir
Novelas e Romances Satíricos (nesta última fase da sua carreira, Camilo foi
influenciado pelo romance naturalista, que caricaturou nas obras A Corja e
Eusébio Macário):
. O Eusébio Macário
. A Corja
. Vulcões de Laura
Teatro
. Agostinho de Ceuta
Amor de Perdição
Ficha de leitura
. Enredo
Nesta obra, há uma coincidência com a vida do autor: é certo que a obra de
Camilo e a sua vida foram lidas uma em função da outra, como reforço mútuo. E
essa conjunção produzia um determinado sentido, tinha uma consequência
estética. A maneira como Camilo, que era um homem que vivia da pena, fez
render esse ponto, com a legenda que criava em torno de si mesmo.
Quanto à família da qual proveio Camilo, eis o apanhado mais geral: um avô
magistrado reconhecidamente corrupto; um tio assassino – o tema de Amor de
Perdição – que, depois de mil tropelias pouco românticas, acabou degredado
para a Índia; uma tia de má fama, concubina de um ricaço, cuja fortuna
esbanjou depois de espoliar a herança da filha de seu primeiro casamento e
também a dos seus sobrinhos (Camilo, entre eles); o pai, que viveu amancebado
sucessivamente com três criadas.
Dois quartos da novela constam de uma lenta narração sobre o namoro entre
Simão Botelho e Teresa de Albuquerque, a separação do casal por rixas
familiares, a obstinação de Teresa mantendo-se fiel a Simão, não cedendo à
insistência do pai, Tadeu de Albuquerque, em casá-la com o fidalgo Baltasar
Coutinho.
O final trágico dá-se quando da partida de Simão para o exílio. Teresa assiste do
mirante do convento à passagem do navio que leva a seu amado e vem a
falecer. Simão, não resistindo à dor de perder a amada, também morre, no
navio. Mariana suicida-se, abraçada ao cadáver do jovem, já lançado ao mar.
Acção:
- morte de Teresa;
- morte de Simão;
- suicídio de Mariana.
Pode ser considerada uma obra de ação aberta: Camilo convida o leitor a fazer
uma reflexão acerca dos preconceitos existentes e caducos, em Portugal, sobre
o amor.
Narrador
Espaço
· os fios: simbolizam a ligação eterna dos amantes (cartas) que não se desfaz
após a morte, é uma união total do par amoroso. Os próprios amantes
acreditam nessa união eterna (as cartas são testemunhas dessa teoria). O fio é
também o símbolo do destino (mito das 3 moiras). O tempo liga-se directamente
ao destino que terá de ser cumprido. Com a morte esse fio quebra-se, Mariana
antes de suicidar lança as cartas e o seu avental ao mar reatando de novo os
amantes.
Tempo:
· a cronologia;
· a linearidade.
Personagens:
· Simão
- nasceu em 1784.
· Teresa
- tem 15 anos.
- esta personagem não tem uma evolução psicológica, pelo que é considerada
uma personagem plana.
· Mariana
. tem 24 anos.
- caracteriza-se pela sua intuição, pelo poder de predição, enfim, pelo misticismo
popular.
· João da Cruz
- pela antítese das emoções que experimenta e pelas atitudes que apresenta, é
considerado o tipo do “bom bandido”.
· Baltasar
- são inflexíveis nas suas decisões e baseiam-se no seu próprio orgulho e nas
suas conveniências sociais.
· D. Rita Preciosa
· Ritinha
- representa, para Simão, o único laço familiar genuíno. Porque é conduzida por
aquilo que sente e não pelas convenções que lhe são impostas.
- a sua ligação a Simão leva-a a ser ela a relatora da sua história ao autor da
obra, quando este era criança.
Figura 2 – Capa de Amor de Perdição
– Para mim, que vos prezo, é suficiente. Vinde! – Simão estendeu-lhe o braço e
Mariana, ainda que a medo, aceitou-o. Um gesto tão pequeno, que viria a
alterar-lhes o futuro.
Abordagem criativa
v Acróstico
Cercada de invisibilidade,
Mata o desespero.
Livres da sociedade.
Calma! Que na
Surge a fé.
Ri. Ri de loucura e os
Um final diferente…
– «Perdoai-me, Simão, que vos amo mas não posso fazer com que sofrais nesta
vida. Meu pobre esposo, Minh ‘alma, olhar-vos-ei nos olhos no Paraíso. Aí,
seremos um só; um só coração; um só espírito.»
Mariana e João da Cruz que o haviam ouvido soluçar e esmurrar as paredes logo
entenderam que a carta que a velha mendiga tinha trazido a troco dumas sopas
na tarde anterior era portadora de más notícias.
– Vou ver do fidalgo, moça! O raio do rapaz esteve a pregar ao diabo a noite
toda. Vai na volta, deu-se alguma desgraça com a fidalguinha! Deus queira que
não.
– Mas, meu pai, que ides dizer a Simão? Quando o coração padece, não há
palavra que o chame à razão!
– Ela vai – profere, com a voz rouca e presa pelo choro, por fim.
– Mestre João, Teresa desistiu! Desistiu de nós. Ela vai. Diz que não lhe espera
muito mais tempo de vida, que está morrendo e que o Paraíso esperará por nós.
Mestre João da Cruz, espantado por tais palavras de uma menina que da vida só
entendia de bordado e luxo, encolheu os ombros em sinal de resignação.
– O meu pai disse-me. Mas talvez tenha sido melhor assim… – sorriu
timidamente, sem sequer se aperceber disso.
– Achais?
Webgrafia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Amor_de_Perdi%C3%A7%C3%A3o
http://pt.wikipedia.org/wiki/Camilo_Castelo_Branco
http://www.infopedia.pt/$amor-de-perdicao
http://www.youtube.com/watch?v=1E_jQMGWczM