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Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco 11º Ano

Biografia do Autor
Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco nasceu no dia 16 de março de 1825,
em Lisboa. A sua vida foi bastante atribulada, repleta de escândalos e de
infortúnios. Aos dois anos, fica órfão de mãe e, aos dez, perde o pai,
acabando por ser criado pela sua irmã mais velha e por uma tia.

Com apenas dezasseis anos, casa-se com Joaquina Pereira, de quinze anos.
Desse breve casamento, nasceu uma filha, que acabou por falecer aos cinco anos. Já separado de
Joaquina, Camilo tenta formar-se em Medicina, na cidade do Porto, mas sem sucesso.

Entretanto, Castelo Branco entrega-se à vida boémia e ao escândalo. Em 1846, é preso por raptar a
jovem Patrícia Emília, com quem veio a ter uma filha. Em 1847, fica viúvo de Joaquina Pereira.
Posteriormente, envolve-se num duelo com um jovem, filho da Srª Maria Brown, com quem Camilo
acabou por se envolver.

Em 1850, Camilo conhece Ana Plácido, o grande amor da sua vida. Quando esta casa com o
brasileiro Pinheiro Alves, Camilo fica desolado e, para ultrapassar o desgosto, refugia-se na
religião, num seminário do Porto. Aí, envolve-se num escandaloso caso amoroso com a freira Isabel
Cândida. Em 1859, Ana Plácido abandona o marido para ir viver com Castelo Branco. O marido
desta faz queixa na polícia e o casal é perseguido pela polícia. Ana e Camilo acabam por passar um
ano presos na Cadeia da Relação, na cidade do Porto. É neste ano que Camilo escreve Amor de
Perdição, inspirado nas suas próprias desventuras e na peça Romeu e Julieta, de Shakespeare.

Já em liberdade, o casal muda-se para São Miguel (Açores) e Camilo dedica-se à escrita para
sobreviver. Infelizmente, a tragédia continua a perseguir o escritor. Em 1877, o seu filho predileto
morre aos 19 anos, vítima de loucura. Entretanto, Camilo começa a ficar cego, consequência de
uma sífilis mal curada contraída na juventude. Vendo-se privado de poder ler e escrever, Camilo
entra no desespero e acaba por se suicidar com um tiro na cabeça, vindo a falecer a 3 de Junho de
1890, aos 65 anos.

Características da escrita de Camilo Castelo Branco


As obras de Camilo são classificadas como novelas, pois a sua narrativa é linear e a sua conclusão é
fechada. Nas novelas passionais de Camilo, o tema central é o amor exacerbado que leva à rutura
com os padrões de comportamentos e as regras sociais, sendo que a paixão justifica toda a sorte de
condutas (loucura, clausura, crime). São, geralmente, histórias curtas que relatam a luta entre o bem
e o mal.

Professora Dina Marmeleira


Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco 11º Ano

Camilo Castelo Branco explora a contradição entre o eu, que quer guiar-se pelos sentimentos, e a
sociedade, que tenta impedir a concretização desses sentimentos. Tudo isso se passa num mundo
cheio de personagens planas, que não se desviam dos seus propósitos.

O Romantismo surgiu na primeira metade do século XX, marcado pela ascenção da Burguesia e
pelas ideias liberais da Revolução Francesa. Assim, a literatura tornou-se subjetiva, individualista e,
como tal, sentimentalista. A segunda fase do Romantismo português, também designada por
Ultrarromantismo, caracteriza-se pelo exagero do individualismo, pelo tédio e pelo ceticismo,
transmitindo uma sensação de insatisfação a que os românticos davam o nome de “mal do século”.
Nesta fase, o romance romântico aborda a temática do amor exacerbado, acima do controle da razão
e, inevitavelmente, associado à morte.

Castelo Branco foi um puro defensor do Romantismo e um crítico do Realismo, julgando-o como
um estilo imoral. Segundo Camilo, o Realismo retratava pessoas fúteis e imorais, que destruiam
famílias. Sobre o Realismo, afirmou: “(…) Quero escrever romances para as pessoas lerem na sala,
não nos quartos de banho. Quero escrever romances para que todas as pessoas da família possam
ler: as moças mais jovens, as senhoras (…)”.

Principais obras de Camilo Castelo Branco


Camilo Castelo Branco escreveu várias novelas de género satírico, histórico, passional e de
suspense. Para além de novelas, Camilo escreveu também peças de teatro e poesia. Porém, foram as
suas novelas passionais que lhe deram maior projeção dentro da literatura portuguesa. Abaixo,
segue uma pequena lista de obras escritas pelo escritor.

 A Brasileira de Prazins (1882)


 A corja (1880)
 A doida do Candal (1867)
 A filha do Arcediago (1854)
 A neta do Arcediago (1856)
 A queda de um anjo (1866)
 Amor de Perdição (1862)
 Amor de salvação (1864)
 Anátema (1851)
 Coração, cabeça e estômago (1862)
 Doze casamentos felizes (1861)

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 Estrelas funestas (1862)


 Eusébio Macário (1879)
 Livro negro do Padre Dinis (1855)
 Mistérios de Lisboa (1854)
 Nas trevas: sonetos sentimentais e humorísticos [poesia]
 Novelas do Minho (1875-1877)
 O bem e o mal (1863)
 O Morgado de Fafe em Lisboa (1861) [teatro]
 O retrato da Ricardina (1868)
 Onde está a felicidade? (1856)

Amor de Perdição
Resumo por capítulos
CAPÍTULO I: Em 1767, Domingos Botelho, muda-se para Lisboa para exercer o cargo de juiz de
fora, em Cascais. Nesse mesmo ano, casa com uma bela dama da corte de D. Maria I, D. Rita
Preciosa. Desta união nada feliz, nasceram cinco filhos: Manuel, Simão, Maria, Ana e Rita. Em
1784, Domingos é transferido para a sua terra natal, Vila Real. A sua esposa nunca se habituou a
viver na província, queixando-se da falta de comodidade e de luxo. Mais tarde, em 1801, Domingos
é transferido para Viseu, para desempenhar o cargo de corregedor. Entretanto, Manuel, já com 22
anos, frequenta o segundo ano do curso de Direito e Simão, com 15 anos, estuda Humanidades, em
Coimbra. Os dois irmãos não se entendem e Manuel queixa-se aos pais, dizendo que Simão tem um
génio sanguinário e só se dá com marginais. Para resolver o problema, Domingos e D. Rita aceitam
que o seu filho Manuel se aliste como cadete, em Bragança. Durante as férias, Simão acaba por se
envolver numa luta de rua e, para que o pai não o mande prender, foge para Coimbra.

CAPÍTULO II: Simão Botelho foi preso, durante seis meses, por conspirar contra o governo. Quando
saiu em liberdade, como o ano letivo já estava perdido, acabou por ir viver para Viseu, para casa
dos pais. Aí, recebeu um ultimato por parte do pai, dizendo que não lhe iria dar mais nenhuma
oportunidade, caso se envolvesse novamente em confusões com a justiça. Nos três meses seguintes,
assistiu-se a uma maravilhosa transformação, pois Simão deixou de andar com más companhias.
Esta transformação deve-se ao facto de Simão estar apaixonado pela sua vizinha, Teresa
Albuquerque, de apenas 15 anos. Esta jovem é filha de Tadeu de Albuquerque, o arqui-inimigo de
Domingos Botelho, por isso, o amor de ambos era proibido. Com o começo do ano letivo, Simão
despede-se de Teresa, porque tem de partir para Coimbra. Por azar, na véspera da partida de Simão,

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Tadeu de Albuquerque descobre o romance da filha e ameaça-a com a clausura num convento.
Simão parte para Coimbra, mas continua a corresponder-se por carta com Teresa. Passado um
tempo, Manuel muda-se novamente para Coimbra para estudar matemática na universidade,
voltando a partilhar casa com o seu irmão Simão. Esta situação durou pouco tempo, pois Manuel
apaixona-se por uma mulher casada e ambos fogem para Espanha.

CAPÍTULO III: Rita, a irmã mais nova de Simão, e Teresa ficam amigas e falam-se às escondidas.
Certo dia, Domingos Botelho e Tadeu de Albuquerque surpreendem as filhas a falar à janela e
castigam-nas. Tadeu de Albuquerque quer que o seu sobrinho Baltasar Coutinho case com Teresa.
Porém, Teresa deixa bem claro que ama Simão e que nunca se apaixonará por mais ninguém. Tadeu
ameaça novamente a filha com a ida para o convento, mas Teresa não parece importar-se.

CAPÍTULO IV: Tadeu tentou, novamente, convencer a filha a casar com Baltasar, mas Teresa
continua a recusar-se e refugia-se no seu quarto. Perante a teimosia da filha, Tadeu quer mandá-la
para um convento, mas Baltasar demove-o e convence-o de que o melhor é matar Simão. Teresa
percebe que algo de mal se passa e conta tudo a Simão. Preocupado com a amada, Simão parte às
escondidas para Viseu e os dois jovens combinam encontrar-se, na noite seguinte, às 23 horas, no
quintal dela.

CAPÍTULO V: Simão cumpriu e o combinado e, à hora marcada, lá estava no quintal de Teresa,


esperando por ela. Nessa noite, decorria a comemoração do aniversário de Teresa. Assim, com a
confusão, seria fácil Teresa escapulir-se para ir ter com Simão. Acontece que o primo Baltasar
pressentiu o nervosismo de Teresa e, cada vez que ela saía de casa, ele seguia-a. Por isso, Teresa só
conseguiu falar com Simão, por uma janela, pedindo-lhe que voltasse na noite seguinte. Ao sair,
Simão depara-se com Baltasar e trocam ameaças. João da Cruz, um ferreiro fiel a Baltasar
Coutinho, foi encarregado por este de matar Simão. Contudo, João da Cruz não o faz porque tem
uma dívida de gratidão para com o pai de Simão (que o libertou da forca). Em vez de o matar, o
ferreiro acolhe Simão na sua casa e promete ajudá-lo no que for preciso.

CAPÍTULO VI: Às 22:30 da noite seguinte, Baltasar Coutinho e dois criados fazem uma espera a
Simão, com a intenção de matá-lo assim que este se aproximasse da casa de Teresa. Desconfiados
dessa possibilidade, João da Cruz e o seu cunhado acompanham Simão, de forma a evitarem uma
desgraça. Quando chegam perto da casa de Teresa, João da Cruz avista os criados de Baltasar e,
consciente da emboscada, grita a Simão para que este fuja. Simão fugiu, mas os homens de Baltasar
conseguem dar-lhe um tiro, ferindo-o. Como retaliação, João da Cruz e o cunhado perseguem os
homens e matam-nos.

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CAPÍTULO VII: Simão está gravemente ferido e refugia-se na casa de João da Cruz. No dia
seguinte, as pessoas de Viseu souberam das duas mortes, mas ninguém associou o sucedido a Simão
ou a João da Cruz. Teresa soube que Simão está ferido e escreve-lhe para saber novidades.
Entretanto, como o plano de Baltasar falhou, Tadeu manda Teresa para o convento de Viseu. Aí,
Teresa percebe que a vida num convento não é assim tão pacífica como imaginava, pois as freiras
dão-se todas mal umas com as outras e são todas umas pecadoras e umas maldizentes. A freira
Dionísia da Imaculada Conceição quer ajudar Teresa e promete dar-lhe tinta e papel, bem como
certificar-se de que Simão recebe as suas cartas.

CAPÍTULO VIII: Simão continua refugiado na casa de João da Cruz, onde Mariana (filha do
ferreiro) trata dele com todo o carinho. Teresa escreve a Simão, dizendo-lhe que está no convento.
Este fica muito preocupado e promete tirá-la de lá. Entretanto, Simão começa a sentir-se um fardo,
pois não tem dinheiro para pagar a hospitalidade de João da Cruz e de Mariana. Apercebendo-se
disso, o ferreiro e a filha engendram um plano para darem dinheiro a Simão sem que este se ofenda.

CAPÍTULO IX: João da Cruz diz a Simão que D. Rita, sua mãe, soube que ele estava ali hospedado e
que lhe enviou dinheiro para as despesas. Contudo, isto não passa de uma mentira, pois D. Rita nem
sonha que Simão está em Viseu. Teresa entrega uma carta a uma mendiga (que costuma entregar a
correspondência a Simão), mas algumas freiras descobriram e alertaram Tadeu de Albuquerque
para o facto de Teresa e Simão continuarem a manter contacto. Mariana, ao saber do sucedido,
ofereceu-se para ser a intermediária dos dois jovens.

CAPÍTULO X: Mariana vai ao convento visitar uma amiga e aproveita para falar com Teresa. Esta
conta-lhe que o pai a vai transferir para o convento de Monchique, no Porto. Quanto Mariana deu a
novidade a Simão, este quis despedir-se pessoalmente de Teresa. Assim, na manhã seguinte, bem
cedo, Simão dirigiu-se ao convento e ficou à espera que Teresa saísse. Quando Tadeu, Baltasar e as
irmãs deste chegaram ao convento para escoltarem Teresa para o Porto, depararam-se com Simão.
Baltasar e Simão começaram a lutar, mas Simão acaba por levar a melhor, matando-o com um tiro
na cabeça. Entretanto, a polícia chegou ao local e prendeu Simão, que admitiu ter morto Baltasar.

CAPÍTULO XI: Domingos Botelho descobre que Simão matou Baltasar Coutinho e renuncia-o como
filho. D. Rita tentou demover o marido, mas em vão. Simão não aceita ajudas e confessa que matou
Baltasar de livre e espontânea vontade, estando disposto a morrer pelo crime que cometeu. D. Rita
escreve uma carta ao filho a dizer que não lhe pode enviar dinheiro, porque já não tem mais
economias e também porque o marido a proibiu de ajudar Simão. Foi então que Simão percebeu
que João da Cruz lhe mentiu quando lhe deu o suposto dinheiro da sua mãe.

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CAPÍTULO XII: Domingos pegou na sua família e partiu para Vila Real, de forma a afastar-se dos
problemas de Simão. Sete meses depois, Simão é condenado à forca, mas o seu tio-avô António da
Veiga (83 anos) ordenou a Domingos que este salvasse o seu próprio filho. Para infelicidade de
Tadeu de Albuquerque e das irmãs de Baltasar, Simão livra-se da forca e fica a aguardar nova
sentença. Mariana visita Simão à prisão, todos os dias, e este começa a sentir remorsos por não
poder corresponder ao amor que Mariana sente por ele.

CAPÍTULO XIII: Quando Teresa descobre que Simão foi condenado à morte, decide que quer
morrer também. Entretanto, recebe uma carta de Simão a dizer que se livrou da forca e pedindo-lhe
que ela vivesse, pois ainda tinha esperança de que pudessem estar juntos.

CAPÍTULO XIV: Simão é transferido para o Porto. Ao saber que o seu amor está mais perto dela,
Teresa ganha ânimo e decide que afinal quer viver e lutar pelo amor que sente. Temendo uma
reaproximação entre os dois jovens, Tadeu de Albuquerque quer levar Teresa de volta para casa, em
Viseu, mas as freiras não o permitem, desculpando-se com o estado de saúde frágil desta.

CAPÍTULO XV: D. Rita, preocupada com o filho, pede a João da Cruz que ajude Simão e envia-lhe
algum dinheiro para as despesas. João da Cruz vai visitar Simão e diz que Mariana vai passar uns
tempos no Porto para cuidar dele e fazer-lhe companhia.

CAPÍTULO XVI: D. Rita escreveu ao seu filho Manuel, a pedir-lhe que voltasse para Vila Real,
porque já não tinha mais dinheiro para lhe enviar. Acatando a vontade da mãe, Manuel e a sua
amante mudam-se para Vila Real. Manuel vai visitar Simão à prisão, mas é friamente recebido pelo
irmão. Ao sair da prisão, Manuel encontra dois amigos do seu pai, que lhe perguntaram quem era a
jovem que o acompanhava. Impedido de dizer a verdade, Manuel mente, dizendo que a jovem é a
sua irmã mais velha. Percebendo que se tratava de uma mentira, os homens escreveram uma carta a
Domingos, alertando-a para a possibilidade de Manuel estar envolvido numa relação adúltera.
Quando Domingos soube do sucedido, foi ao encontro dessa mesma jovem e mentiu-lhe, dizendo
que Manuel era um desertor e que, em breve seria apanhado pela justiça. Pensando que estava
desamparada, a jovem aceitou a proposta de Domingos e partiu para os Açores, para casa da mãe.

CAPÍTULO XVII: João da Cruz está em casa, em Viseu, a lamentar-se à sua cunhada Josefa por
causa das saudades que sentia por Mariana. Esta aconselha-o a ir trabalhar para espairecer e este
assim o faz. Quando saiu de casa, um homem veio ao seu encontro, dizendo que trazia um recado
do seu falecido pai. Aparentemente, este homem chamado Bento Machado, era filho do homem que
João da Cruz matara há uns anos. Sem dó nem piedade, o homem dá-lhe um tiro no peito e mata-o.
Mariana e Simão choraram muito a sua morte.

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CAPÍTULO XVIII: Mariana foi a Viseu receber a sua herança. Vendeu as terras, deu a casa à sua tia
Josefa e entregou todo o dinheiro a Simão. Entretanto, sai a nova sentença, condenando Simão a dez
anos de degredo na Índia. Domingos Botelho ainda intercedeu a favor do filho e conseguiu com que
este ficasse a cumprir os dez anos de pena numa cadeia portuguesa, mas Simão prefere ir para a
Índia, dizendo que já não suporta estar encarcerado. Mariana decide que o acompanhará para o
degredo, uma vez que já não tem quem a prenda por cá.

CAPÍTULO XIX: Teresa implora a Simão para que este aceite ficar em Portugal, dizendo-lhe que
depois desse tempo poderia casar livremente. Contudo, Simão recusa o pedido da sua amada,
dizendo que não aguenta mais tempo encarcerado e que prefere morrer a ter de ficar atrás das
grades. Teresa, então, decide que o melhor será morrer também para que se possam encontrar no
céu. Simão recebe uma intimação para sair na primeira embarcação que levantava âncora no Douro
para a Índia.

CAPÍTULO XX: Simão embarca no cais da Ribeira, juntamente com 75 companheiros degredados.
D. Rita enviou-lhe dinheiro, mas Simão não aceita e “esmola” da mãe e mandou distribuir o
dinheiro pelos outros companheiros. Mariana embarca com Simão para a Índia. Quando a nau onde
se encontrava Simão passa em frente ao convento de Teresa, os dois jovens veem-se e despedem-se.
Teresa morre de imediato e Simão deseja morrer também. Preocupado com Mariana, Simão pede ao
comandante da nau que cuide de Mariana quando ele morrer.

CONCLUSÃO: Simão adoeceu e veio a falecer a 27 de março, a bordo da nau. Quando lançam o
corpo de Simão ao mar, Mariana salta também atrás dele, sem que alguém a pudesse socorrer.
Quando este livro foi escrito, só D. Rita Emília da Veiga Castelo Branco (irmã mais nova de Simão)
estava viva. Fica-se a saber que Camilo Castelo Branco, autor do livro, é filho de Manuel Botelho
(irmão mais velho de Simão).

Categorias da Narrativa
NARRADOR: a história é relatada na terceira pessoa, pois trata-se de um narrador heterodiegético
(não participante na ação). Quanto à focalização, podemos afirmar que se trata de um narrador
omnisciente, pois é ele que desvenda o universo interior das personagens, sabendo mais do que eles
próprios, o que lhes passa pela mente e pelo coração. No que respeita à posição, trata-se de um
narrador subjetivo, uma vez que não só revela os acontecimentos, como também comenta os
sentimentos e os comportamentos das personagens, deixando claro o seu ponto de vista a favor dos
que amam contra os que impedem a realização do amor.

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PERSONAGENS:
 Simão Botelho: inicialmente, é um jovem (17 anos) de temperamento sanguinário e
violento. É um perturbador da ordem pública e um agitador político, mas é acima de tudo
um defensor da plebe e da liberdade. Quando conhece e se apaixona por Teresa, o seu
temperamento acalma, tornando-se recatado, estudioso e até religioso. Contudo, isso não o
impede de assassinar Baltasar Coutinho para proteger a sua amada Teresa. Simão é um
típico herói ultrarromântico. Nem a possibilidade da forca ou do degredo, nem as misérias
sofridas na prisão abatem a firmeza, a dignidade, a perseverança de Simão.
 Teresa de Albuquerque: é uma menina de 15 anos que se apaixona por Simão. É
considerada uma heroína romântica, pois é firme e inflexível perante as ameaças do pai
severo e autoritário. Apesar de ser obstinada, o heroísmo de Teresa não consiste em agir,
mas sim em reagir, simbolizando a fragilidade e a passividade perante o caráter viril,
másculo e quase selvagem do homem romântico. É um exemplo de mulher-anjo, que dá a
sua vida pelo sentimento amoroso que a possui.
 Mariana: moça pobre e do campo, de olhos tristes e belos, é considerada a personagem mais
romântica da história, porque o sentimento que nutre por Simão é o suficiente para a fazer
feliz, apesar de saber que o seu amor nunca será correspondido. O amor que Mariana sente
por Simão é tão profundo que ela faz tudo em prol da felicidade dele: cuida-lhe das feridas,
arranja-lhe dinheiro, torna-se cúmplice da sua paixão proibida, segue-o para a prisão e para
o degredo e, finalmente, suicida-se após a morte de Simão. Mariana é a personificação do
espírito de sacrifício, pois as suas atitudes são resignadas e desvinculadas de reciprocidade.
 João da Cruz (pai de Mariana): é uma personagem sensata e equilibrada, sendo a única
personagem com traços de Realismo da obra. Torna-se o protetor de Simão, como gratidão
de uma dívida antiga para com Domingos Botelho. É um homem simples, trabalhador e
dedicado à sua filha. Apesar de ser prudente e sensato, João da Cruz também é um homem
corajoso e violento, quando é necessário. Representa o homem rural português.
 Domingos Botelho (pai de Simão) e Tadeu de Albuquerque (pai de Teresa): os pais de Simão
e Teresa são tão passionais e tão radicais como os próprios filhos. Contudo, é o ódio, e não o
amor, que os move. Ambos representam a hipocrisia social, o apego egoísta e tirano à
“honra” do apelido e aos brasões de família. Em ambos os casos, a fidalguia é ironicamente
ridicularizada e desmoralizada pelo narrador.
 Baltazar Coutinho (primo de Teresa): é um vilão, um hipócrita e um oportunista de 30 anos,
que pretende casar com a sua jovem prima, apesar de saber que ela está apaixonada por

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Simão. Como qualquer fidalgo prepotente, faz de tudo para conseguir os seus objetivos, nem
que para isso tenha que, cobardemente, encomendar a morte do jovem Simão.
TEMPO: os acontecimentos desenrolam-se de forma linear e por ordem cronológica. O narrador
começa com um recuo no tempo até ao casamento dos pais de Simão (analepse), para apresentar
toda a história. Ao longo da narrativa, há várias marcas de tempo, com datas específicas, o que
reforça a veracidade dos acontecimentos. Outro marcador temporal está presente nas cartas trocadas
entre Teresa e Simão, contribuindo para realçar todo o teor histórico e documental que garantem a
realidade dos fatos. O tempo psicológico é profundamente explorado através da angústia, do
sofrimento e do clima denso e repleto de inquietações experimentado pelas personagens. A história
desenrola-se no século XIX.

ESPAÇO: a história passa-se em Portugal. Tudo começa na cidade provinciana de Viseu (revelando
o provincianismo português da época e o tradicionalismo social). A obra também percorre Coimbra
(onde Simão passa a sua vida académica) e na cidade do Porto (onde se dá um desfecho trágico das
personagens). No que respeita aos espaços de Teresa e de Simão, todos eles são fechados. Mesmo
em Viseu, apesar de não estarem enclausurados, os jovens não se acham em liberdade. Simão tem
de permanecer escondido e Teresa tem de ficar enclausurada em casa. Na cidade do Porto, essa falta
de liberdade é mais acentuada, pois Simão fica na prisão e Teresa no Mosteiro de Monchique. O
espaço só se abre, definitivamente, com a morte dos protagonistas.

FICÇÃO ou REALIDADE: apesar do Amor de Perdição ser uma obra de ficção, a realidade é que
abundam peripécias narrativas que sugerem veracidade. No início, Camilo faz alusão a um
documento oficial – o livro de registos de entradas nas cadeias do Porto – onde consta o nome de
Simão Botelho (tio do próprio Camilo Castelo Branco), que fora degredado para a Índia. Para além
disso, existe na família de Camilo um maço de cartas de amor trocadas entre Teresa e Simão, que
comprovam a relação proibida. Apesar de sabermos que o autor de Amor de Perdição se inspirou
nas suas próprias experiências amorosas e na obra de Shakespeare, Romeu e Julieta, o que é certo é
que temos de reconhecer que Camilo se esforçou por dar um caráter verídico à sua obra, de forma a
induzir mais sensibilidade ao leitor.

Professora Dina Marmeleira

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