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Amor de Salvação – Camilo Castelo Branco

AMOR DE
SALVAÇÃO
Camilo Castelo Branco

I - RESUMO BIOGRÁFICO:

Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco


nasceu em Lisboa, em 1825. Aos 10 anos já é
órfão de pai e mãe; aos16 anos, casa-se com Joaquina Pereira, jovem de 15 anos, que, dois
anos mais tarde, lhe daria uma filha, Rosa. Camilo chega a cursar Medicina, mas deixa a
faculdade no segundo ano; em seguida, matricula-se em Direito, curso que também acaba
abandonando. Aos 21 anos, rapta um prima, Patrícia Emília, com quem vai viver na cidade
do Porto; acusado de bigamia é condenado e preso. Em 1847 morre sua esposa, Joaquina
Pereira; no ano seguinte, morre sua filha Rosa, com cinco anos de idade; nesse mesmo
ano, Patrícia tem uma filha.
Aos 24 anos, Camilo fixa residência na cidade do Porto. Vive amores passageiros com
uma poetisa, Maria da Felicidade e com uma freira, a jovem Isabel Cândida. No ano
seguinte, conhece Ana Plácido, uma jovem recém-casada com um rico comerciante.
Ingressa num seminário por dois anos. Tenta o suicídio. Passa a viver com Ana Plácido que
abandonara o marido. São presos e acusados de adultério. Na cadeia, escreve o romance
Amor de Perdição. São julgados e absolvidos.
Camilo e Ana tiveram dois filhos, ambos com problemas de saúde. Enfrenta
dificuldades financeiras. É o primeiro escritor português que vive exclusivamente da
Literatura. Escreve obras por encomenda. Em 1888, casa-se com Ana e sente os primeiros
sintomas de sua cegueira, conseqüência da sífilis. No dia 1º de junho de 1890, já bastante
cego, suicida-se com um tiro de pistola. A vida do autor é o grande motivo de sua obra. A
arte, é claro, imita a vida.

II - OBRA:

Camilo fixou um gênero literário típico do Romantismo, de fácil consumo e bem ao


gosto do público: a novela.
Para o leitor comum, a diferença entre novela e romance parece resumir-se à
quantidade de páginas, considerando-se a novela uma espécie de “romance mais curto”. De
fato, a novela costuma ser uma narrativa mais curta do que o romance, mas a distinção
entre ambos não se limita ao aspecto quantitativo: a principal diferença está no caráter da
narrativa. Na novela temos a valorização do evento, a história linearmente contada, de
forma densa, rápida e objetiva, resultando num corte mais limitado da vida. As personagens
têm pouca profundidade psicológica e há poucas descrições. Outra característica importante
da novela é que ela nunca trabalha com o tempo presente: o evento narrado pertence ao
pretérito, e o narrador se confunde com o autor, assumindo o papel de um contador de fatos
já passados.
Camilo produziu 54 novelas, entre as quais novelas de terror, satíricas, históricas e
passionais. Também cultivou a poesia, o teatro, a crítica literária, o jornalismo, o folhetim, a
historiografia e conto. Enfim, um polígrafo.

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Amor de Salvação – Camilo Castelo Branco

A seguir, alguns exemplares mais conhecidos: 1

Novelas
· Anátema (1851) – 1º romance
· Onde está a Felicidade? (1856)
· Amor de Perdição (1862)
· Amor de Salvação (1864)
· A doida do Candal
· Novelas do Minho
· Carlota Ângela
· O Romance de um Homem Rico

Novelas de terror, mistério e aventura


· O livro negro do padre Dinis
· Coisas espantosas
· Os mistérios de Lisboa
· O Esqueleto
· O Demônio do Ouro

Novelas Históricas
· Luta de Gigantes
· O Santo da Montanha
· O Judeu
· O Regicida
· A Filha do Regicida
· A Caveira do Mártir

Novelas Satíricas
· O que fazem mulheres
· Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado
· A queda de um anjo
· Coração, Cabeça e Estômago
· Eusébio Macário
· A Corja

Novelas realistas
· A Brasileira de Prazins
· Vulcões de Laura

 AMOR DE SALVAÇÃO

1- INTRODUÇÃO:

O gênero mais importante da obra camiliana é a novela (narrativa unilinear


de 100 a 150 páginas). Camilo depura o esquema da novela passional, dando-lhe
o máximo da intensidade dramática, avivando-lhe o ritmo narrativo,
circunstanciando-a, em geral, com notas sóbrias, mas precisas.
A novela camiliana é típica de grandes penitentes do amor. À mulher confere-se
sempre um papel da mais nobre dignidade (geralmente Angélica, por vezes demoníaca) -,
mas tal supremacia esvazia-se, na realidade, de sentido psicológico.
Amor de Salvação é uma novela passional escrita em 1863 e publicada em 1864,
considerada pela crítica uma das obras mais bem acabadas do autor. O livro se constrói
sobre a situação narrativa de uma longa separação de dois amigos, que se reencontram
depois de mais de doze anos. Nesse período, a mudança em um deles – Afonso de Teive, o
protagonista – é tão espantosa que, para ser compreendida pelo outro, exige uma longa

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explicação. Como o amigo é a testemunha da mudança ocorrida com Afonso, essa longa
explicação dada em uma noite originará a novela Amor de Salvação.
Apesar do título Amor de Salvação a novela relata em quase toda sua extensão, um
“amor de perdição” entre Afonso de Teive e Teodora Palmira. Ao “amor de salvação”,
Mafalda, são dedicadas somente as últimas páginas do romance.

2 - ENREDO:

A história relata lembranças que são contadas ao narrador pelo


protagonista, em uma noite de Natal, após um reencontro entre os dois que não
se viam há quase doze anos.
Afonso e Teodora foram prometidos um ao outro por suas mães que eram
amigas desde os tempos em que estudavam num convento. Após a morte da mãe, Teodora
vai para um convento e tem como tutor seu tio, pai de Eleutério Romão. No convento
Teodora desenvolve-se em conhecimento, beleza e formosura. É admirada e invejada pelas
outras moradoras do convento.
Teodora e Afonso estão sempre em contato aguardando o tempo certo para casarem.
As visitas foram suspensas pelo tio de Teodora, Romão. Afonso desespera-se em lágrimas
e saudades. A mãe o consola e dirige-se ao tutor e tio de Teodora para explicar sobre o
arranjo do casamento, porém este considera nulo tal arranjo.
Teodora influenciada pela amiga Libana quer casar-se o mais rápido possível. Afonso
num ato de desespero tenta tirar Teodora à força e é contido pelos seguranças e pela
polícia. A mãe o manda para Lisboa para estudar por dois anos.
A mãe de Afonso, D. Eulália, pede a Teodora que aguarde. Apaixonado, o primo de
Teodora passa a visitá-la com freqüência. Com a saída de Libana do convento e a decepção
de Teodora em saber que Afonso está em Lisboa causa-lhe desespero. Ela resolve casar-se
com seu primo, Eleutério, para libertar-se das grades do convento.
Eleutério era o oposto a beleza de Teodora, era rude e vestia-se de forma hilariante.
Apesar da grande tentativa de seu tio, o padre Hilário, em ensinar-lhe a ler, nada conseguiu.
Vencido pela incapacidade de seu sobrinho, Padre Hilário desistiu afirmando que somente
através de uma fresta no cérebro, aberta a machado, seria possível tal façanha. Teodora
viveu em pompas, trajes de sedas, cavalos, bailes, etc., mas nunca esquecera Afonso,
enviava-lhe cartas de amor, mas nunca obtivera resposta.
Afonso sofreu muito com a notícia do casamento de Teodora, pediu a mãe permissão
para se ausentar de Portugal. Contava sempre com o apoio e o consolo das cartas de sua
mãe e sua prima Mafalda, que o amava pacientemente.
Após anos de amargura, sofrimento e luta contendo-se diante das cartas de Teodora,
para não fugir aos ensinamentos religiosos aos quais sua mãe o educou, foi fulminado pela
influência do amigo D. José de Noronha que o incentivou a escrever a Teodora. Relutou,
mas não conseguiu. A tal carta foi cair nas mãos de Eleutério, leu, mas nada entendeu.
Pediu então a um amigo ajuda para interpretá-la. A carta acabou sendo rasgada por Fernão
de Teive, dando a desculpa de serem grandes sandices, após junto com sua filha Mafalda,
reconhecer as intenções do remetente, seu sobrinho Afonso de Teive.
Não conformado Afonso parte ao encontro de Teodora. Eleutério quando os encontra
juntos, pede-lhes explicações. Teodora responde-lhe que é uma mulher livre a partir
daquele momento, e vai viver com Afonso. Passam momentos, ilusoriamente, felizes.
Afonso abandona até a sua própria mãe para viver ardentemente esta paixão que sempre o

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consumiu. Sua mãe sempre afetuosa, apesar da grande tristeza, sustenta a vida luxuosa
que Afonso tem ao lado de Teodora.
Afonso quando fica sabendo da morte de sua mãe, através de carta escrita por
Mafalda, se desespera. Teodora tenta consolá-lo, mas ele sente em suas palavras ironia e
sente nojo de tamanho fingimento. Procura isolar-se de Teodora e dos amigos. Durante este
período, Tranqueira, velho criado da família, alerta-o sobre as intenções do amigo D. José
de Noronha por Teodora. No início se revolta contra o criado, mas acaba escutando-o e
passa a observá-los. Encontra umas cartas que confirmam as suspeitas. Certo dia os pega
juntinhos com gestos de muita familiaridade. Aborrece-se pede para que Noronha saia de
sua casa. Teodora dissimulada como sempre, tenta enganá-lo, mas ele atira-lhe as cartas.
Teodora desmaia enquanto Tranqueira derruba Noronha na cisterna para vingar seu patrão.
Afonso passa alguns dias fora de casa, quando retorna encontra uma carta de
Teodora informando os pertences que havia levado consigo. Apesar de traído sente
saudade da encantadora Teodora. Vende tudo e parte para Paris atrás de um amor que o
salve. Gasta tudo o que tem. Por fim, pede ao seu tio Fernão para comprar-lhe a casa onde
viveram seus pais e avós, pois não queria ofender a memória de sua mãe que o havia
pedido, em carta antes morrer que não a vendesse. Mafalda com seu coração generoso e
cheio de amor pelo primo, pede a seu pai que o atenda, e este assim o faz, mas com a
condição de que a casa continuaria sendo de Afonso.
Afonso afunda-se cada vez mais em seus vícios e extravagâncias a ponto de querer
suicidar-se. Tranqueira, que nunca o abandonou, percebeu sua intenção e disse-lhe severas
palavras que o livraram de tamanha loucura. Mudou de vida, passou a trabalhar e a estudar
com apoio de seu criado.
Fernão de Teive adoece, e prestes a morrer pede ao padre Joaquim que vá a Paris
entregar a Afonso, os documentos de propriedade da casa a qual comprara, apenas com
intuito de ajudar o sobrinho. Após a morte de Fernão, Mafalda sentindo-se sozinha, resolve
viajar com o padre Joaquim para Paris com o objetivo de juntar-se às irmãs de caridade.
Quando o padre Joaquim encontra Afonso e conta-lhe da morte do tio, este chora e corre ao
encontro da prima que ficara em uma hospedaria.
Mafalda conta ao primo sua decisão, mas padre Joaquim pede-lhes, pelo amor de
Deus, que ao invés disso, casem-se. Afonso aceitou de imediato e agradeceu à Deus por ter
ouvido os pedidos de suas mães. Afonso e Mafalda voltaram para sua cidade, casaram-se,
tiveram oito filhos e foram muito felizes.

3 - PERSONAGENS:

3.1 - PRINCIPAIS

 Afonso de Teive âfilho de D. Eulália; prometido por esta a Teodora por contempla um
grande amor; viaja por várias cidades portuguesas e chega à Paris na tentativa de
esquecer Teodora; estudou Filosofia em Coimbra e escrevia poesias; viciou-se no jogo
chegando a perder quase tudo que tinha; casa-se com a prima Mafalda e tem oito filhos.

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 Teodora Palmira â filha da melhor amiga de D. Eulália; prometida a Afonso; quando a
mãe morre vai viver no Convento das Ursulinas dos 14 aos 16 anos; mulher bonita e
inteligente; casa-se com o primo Eleutério para sair do Convento; abandona o marido
para viver com Afonso; trai-o com D. José de Noronha.

 Mafalda â filha de Fernão de Teive; prima de Afonso; ama-o; discreta e gentil; religiosa e
familiar; casa-se e “salva” Afonso com em oito filhos.

3.2 - SECUNDÁRIOS
4
 Fernão de Teive â tio de Afonso e irmão de D. Eulália; pai de Mafalda; ajuda
financeiramente o sobrinho.
 D. José de Noronha â amigo que Afonso conhece em Lisboa; “sujeito de trinta anos”;
fidalgo libertino; mantém um caso com Teodora e é desmascarado.
 Libana â de família tradicional; torna-se amiga de Teodora no convento; arquiteta um
plano de fuga e é expulsa do convento.
 Tranqueira â criado de Afonso; leal e de confiança; lembra o fiel escudeiro; denuncia a
traição de Palmira com D. José; com reflexões salva o amo do suicídio;
 Eleutério Romão dos Santos â filho de Romão dos Santos, tutor de Teodora; homem de
22 anos; mal sabe falar, porém é exímio negociador; casa-se com Teodora e é traído;
 D. Eulália â mãe de Afonso; mulher preocupada com a moral; religiosa;

4 - TEMPO:

Cronológico – dezembro de 1863 (véspera de natal).

5 - ESPAÇO:

A região do Minho; as cidades do Porto, Lisboa e Paris; Convento das Ursulinas.

6 - NARRADOR:

De primeira pessoa – onisciente. O narrador conta os fatos que Afonso descreveu,


porém há momentos que o narrador dá a palavra ao próprio Afonso de Teive. O narrador
oscila entre o lirismo e o escárnio, utilizando-se de comentários irônicos.

III - CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Sob a influência marcante do chamado “mal do século”, expressão que sintetiza o


sentimentalismo e o pessimismo característicos da geração que viveu a passagem do
século XIX para o XX, os escritores românticos encaravam o amor como algo muito
sagrado, com personagens sempre marcados pelo sofrimento amoroso. Em Amor de
Salvação, o autor não fugiu à regra.
As personagens femininas do livro contêm concepção maniqueísta: do lado do Bem
temos a mulher-anjo Mafalda e do lado do Mal, a mulher-demônio, Teodora Palmira.
É bem verdade que os nomes dados a essas personagens encaminham o leitor para
pistas falsas. À primeira vista o nome Mafalda estaria mais próximo do Mal: má fada ou um
mau fado. Teodora estaria mais próximo do Bem: adorada de Deus. Mas Teodora é também
Palmira e, quando seu satanismo vai-se tornando cada vez mais evidente, deixa-se de ser

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chamada pelo primeiro nome e passa a ser designada pelo segundo, talvez querendo
insinuar-se, por meio dessa troca, o não ter sido ela digna de continuar portando o primeiro.
A personagem Mafalda, romântica e dotada de princípios para ser uma boa esposa e
mãe, contempla um amor consciente para com Afonso. Este, no início da narrativa, se
mostra feliz com essa “boa esposa” que é Mafalda. O espírito romântico de Afonso é
paradoxal: o ódio e o desejo por Teodora.

Podemos fazer a seguinte simbologia:


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MAFALDA Mulher Angelical Mulher Diabólica TEODORA

Bondosa e Generosa Egoísta e Vaidosa

Paz e Tranqüilidade AFONSO Desejo e Admiração

A admiração de Afonso por Teodora Palmira reside no fato desta enfrentar a


sociedade para alcançar seus objetivos. Isso despertava em Afonso o desejo de viver
prazeres à revelia das convenções sociais. Na concepção de Afonso, seriam improváveis
essas atitudes com Mafalda ao seu lado.
A personagem Mafalda e representa a paz e a tranqüilidade que Afonso jamais teve
com Teodora. O remorso de Afonso, que abandonou tudo e todos por míseros momentos de
prazer com Teodora, chega ao extremo quando pensa em suicidar-se diante de sua
desgraça e arrependimento.
Mafalda significa o início de uma nova vida, por ser prima e ter vivido os últimos
momentos com a mãe de Afonso, provoca sua regressão ao seio familiar. Já Teodora
despertou-lhe a vida libertina das festas, bebidas e prazeres, mas não se poderia esperar
que fosse uma mulher prendada para o lar ou boa mãe.
Temos então desenhado no romance uma dualidade para Afonso que esteve entre o
desejo, a paixão avassaladora e carnal de Teodora e a tranqüilidade espiritual e as virtudes
de Mafalda.
Enfim, Afonso que vivera um conturbado, porém intenso romance com Teodora, está
feliz no início e no final da obra casado com Mafalda. No entanto, percebe-se que o
personagem ainda sente desejos ocultos que vêm à tona quando lhe é pronunciado o nome
Teodora Palmira.
A novela camiliana aponta para a intertextualidade com outra obra de grande sucesso
junto ao público: Amor de Perdição. A perdição e a salvação se interagem na novela Amor
de Salvação, principalmente para o personagem Afonso de Teive. Este vive a dúvida entre a
perdição (Teodora) e a salvação (Mafalda). No final do livro, mesmo parecendo tão feliz
casado e com seus oitos filhos, não fica claro qual amor dominou de fato sua vida.

QUESTÕES PARA ESTUDO presença de características realistas em sua


produção literária.
b) Alguns dos autores desta geração apresentam
01. Assinale a alternativa ERRADA sobre o Romantismo
certos traços do “mal do século”, ou seja, de
Português e o escritor Camilo Castelo Branco:
uma tendência fortemente marcada pelo
pessimismo, pelo negativismo existencial, pelo
a) A 2ª geração romântica portuguesa representa a
mórbido e pelo sentimentalismo excessivo.
maturidade do movimento, ao mesmo tempo
c) Camilo Castelo Branco, Júlio Diniz e João de
em que prenuncia a sua superação, em vista da
Deus já revelam traços que apontam a

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superação do próprio Romantismo e a transição III-O fato de ter de sobreviver da literatura fez
para o Realismo e o Naturalismo, movimentos com que Camilo concentrasse seus esforços na
da segunda metade do século XIX. produção de novelas. Isso se deu porque esse
d) A novela passional foi o gênero literário em gênero literário agradava ao novo público
que Camilo Castelo Branco mais se destacou, consumidor, tornando-se assim de fácil
sendo o seu definidor e o seu representante em consumo.
Portugal. Quais são corretas?
e) Alexandre Herculano e Almeida Garret dividiram
a responsabilidade de trabalhar o romance a) Apenas I. b) Apenas I e II.
histórico e o nacionalismo com Camilo Castelo c) Apenas I e III. d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
Branco.
Leia o texto abaixo e responda as questões 04 e 05.
02. Assinale a alternativa ERRADA sobre as
características da obra Camiliana:
Como é praxe, Camilo abre o Amor de
Salvação com uma autocrítica, sempre das
a) As obras de Camilo C. Branco têm muito de mais judiciosas: “Três partes do romance
sua própria vida. O ambiente de suas narrativas narram desventuras do amor de desgraça e
normalmente são espaços que fizeram parte da mau exemplo. A crítica, superintendente em
vida do escritor: uma vila ou uma aldeia matéria de título de obras, querendo abater-
se a esquadrinhar a legitimidade do título
provinciana, a cidade do Porto, o convento em desta, pode embicar, e ponderar – que o amor
que os pais enclausuram as filhas puro, o amor de salvação vem tarde para
desobedientes, a taberna aldeã, etc. desvanecer as impressões do amor impuro,
b) Povoam esse ambiente tipos campesinos que do amor infesto”.
vão de fidalgos provincianos, preconceituosos,
a elementos da burguesia portuense; o padre, o 04. Assinale a alternativa CORRETA sobre o texto
comerciante com negócios no Brasil, a freira, o acima:
ferrador, o pedreiro, o salteador de estrada, a
mulher, de todas as condições sociais, da
camponesa e da operária até a fidalga. a) Camilo C. Branco usando de ironia critica o
c) A mola da ação de seus enredos é amor romântico em detrimento do realista.
freqüentemente o amor. O amor contrariado b) Esse comentário refere-se ao fato de que o
pelas convenções sociais ou o gerador de autor sendo realista não aceita o estilo
raptos, de emboscadas e riscos, de ódios romântico de ver o amor.
implacáveis entre famílias. O direito ao amor é c) Refere-se ao fato de o longo episódio vivido
defendido, e os que se interpõem entre os entre Afonso de Teive e Teodora Palmira – ao
amantes são ridicularizados ou tratados com amor que aparentemente “perde” o protagonista
ódio. – absorver quase a totalidade do livro,
d) Como narrador, Camilo foi extraordinário, enquanto aquele que lhe dá o título – o dividido
oscilando entre o lirismo e o sarcasmo. Vibra
com Mafalda, esposa e mãe – ficar circunscrito
com as personagens e comumente intervém na
história, distingue-se pelo vocabulário rico e às páginas iniciais e finais.
pela economia de recursos. d) O comentário é uma fina ironia ao estilo
e) A novela camiliana é densa e de linguagem realista de ver o amor: puro x impuro.
complexa, além de possuir muita descrição no e) O protagonista Afonso de Teive viveu de fato
ambiente e análise psicológica nos um amor que trouxe a desgraça para si e sua
personagens. família, pois tanto ele como seu amor Teodora
morrem juntos e infelizes.
03. Sobre a vida e obra de Camilo Castelo Branco,
analise as afirmações abaixo: 05. “que o amor puro, o amor de salvação vem tarde
para desvanecer as impressões do amor impuro,
I- Dentre a vasta obra composta por Camilo
podemos encontrar novelas de terror, satíricas, do amor infesto”. Quais as personagens que
históricas e as passionais. Essas últimas representam no livro o amor puro e de salvação e o
compõem o gênero que mais caracteriza o amor impuro e infesto, respectivamente:
ultra-romantismo português. Nelas são
apresentadas personagens que, devido os a) Teodora Palmira e Libana
obstáculos encontrados para a realização do b) Mafalda e Libana
amor, tornam-se verdadeiros mártires desse c) Palmira e Teodora
sentimento; d) Mafalda e Teodora Palmira
II- A partir da publicação de Amor de Perdição e e) Palmira e Mafalda
Amor de Salvação, Camilo mostra o contraste
entre a mulher fatal e a mulher anjo, os
06. Pode-se considerar que a narração propriamente dita
obstáculos ao amor e os personagens voltando
à religião; só tem início no capítulo V. Ordene,

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cronologicamente, numerando de 1 a 5, os fatos
relacionados a narração que antecede os fatos mais a) Apenas I.
importantes da obra: b) Apenas I e II.
c) Apenas I e III.
( ) O encontro do narrador-romancista com
d) Apenas II e III.
Afonso de Teive, o qual ele conhecera na
e) I, II e III.
juventude e que lhe passará, agora, a história de
Leia o texto abaixo e responda a questão 09.
seus amores;
( ) A apresentação rápida de Mafalda, esposa de
(...)
Afonso e mãe de seus oito filhos;
“Li a carta de Teodora, cujo traslado segue:
( ) Um sumário rápido dos verdes anos de
“Quem te disse a ti que eu tinha caído diante de
Afonso em Coimbra e no Porto, o suficiente
mim mesma, Afonso?
para aguçar a curiosidade do leitor;
Quando te dei eu direito de supor que o teu
( ) Uma leve referência a Teodora, conforme os
silêncio, em resposta a um grito do coração, me
escassos e rumorosos dados que o narrador
esmagaria os brios de mulher, que, de um sopro,
dela possuía;
faz saltar de suas vestes a lama do teu desprezo?
( ) A apresentação do narrador-romancista, para
Quando eu te apareci magnífica de dedicação,
justificar que futuramente ele se proponha a
fizeste-te mesquinho tu. As minhas lágrimas
contar a história de Afonso.
figuraram-se-te o pus de um coração
corrompido; e eram soro do mais nobre sangue.
Assinale a alternativa que contém a seqüência
Não pudeste chegar com a fronte à altura da
correta:
minha, e apedrejaste-ma!
a) 1, 2, 3, 4, 5.
Quem cuidas tu que és, soberbo senhor, que
b) 1, 4, 2, 3, 5.
voltas o rosto da tua escrava, e não sabes sequer
c) 2, 3, 1, 4, 5.
usar a misericórdia de dizer à mulher, que te
d) 5, 4, 3, 2, 1.
ama, que não seja infame, amando-te?!”
e) 3, 4, 2, 5, 1. Neste ponto suspendi eu a leitura, tomei a
7 respiração, e disse:
07. Sobre o personagem Afonso de Teive, assinale a --- Esta senhora tem estilo ou eu não entendo
alternativa INCORRETA: nada de estilos! Que interrogatório!
8
--- Podes rir, que eu também cá estou mordendo
a) Era um rico herdeiro que havia raptado uma os beiços para não espirrar uma casquinada na
mulher casada, Teodora, e com ela dilapidava a cara do antigo Afonso de Teive – disse o meu
própria fortuna. amigol.
b) Foi traído e infeliz. --- Mas o estilo – tornei sinceramente agradado
da leitura – o estilo aqui não pode ser a mulher:
c) Só se “salvou” ao perceber o amor que lhe
aqui, há, pelo menos, a triple inteligência de três
dedicava sua prima Mafalda, com quem se
escritores de melenas sacudidas aos quatro
casou e teve muitos filhos. ventos da inspiração! Por Hércules! isto sim que
d) Passou a viver em harmonia, no campo, é mulher ... e “aqui há que ver”, como diz o
cercado de familiares e empregados. Garret.”
e) Para fugir do amor de Teodora Palmira viajou
para Londres, onde gastou tudo que tinha com (BRANCO, Camilo C. Amor de Salvação. Col.
Grandes Leituras. São Paulo: FTD, 1993.
mulheres e jogos de azar. p.66-67)

08. Analise as afirmações abaixo sobre o livro Amor


de Salvação: 09. Depreende-se da leitura do texto que:

I- No livro temos a seguinte oposição quanto às a) Teodora é de fato o caráter forte da obra,
decidida e capaz de encarar sem medo o mundo
personagens femininas: mulher anjo X mulher
para fazer valer sua independência. Para tanto
demônio;
critica Afonso indagando-o quanto ao amor dos
II- Mulher anjo refere-se à prima Mafalda e dois.
mulher demônio refere-se à Teodora Palmira; b) O narrador descreve a carta de maneira irônica
III-Ambas são protagonistas quanto ao amor de e sarcástica, pois zomba de Afonso de Teive e
Afonso, sendo uma que representa o amor de seu amor Teodora Palmira.
infernal (perdição - Teodora) e o amor puro c) Se compararmos o texto descrito com as outras
(salvação - Mafalda). cartas escritas no livro, teremos uma visão da
fraqueza de Teodora.
Quais são corretas?

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d) Para o narrador o estilo de Teodora é b) Camilo Castelo Branco ironiza os padres mais
ultrapassado e incoerente. velhos.
e) Afonso leu a carta para o narrador e este nos c) Assim como Almeida Garret, companheiro de
translada a leitura enfatizando a pouca geração romântica, Camilo enaltece padres
criatividade e o mau uso da linguagem por honestos e velhos.
parte de Teodora. d) O narrador afirma que somente um romancista
de muita imaginação conseguiria fazer uma
10. Sobre os atores coadjuvantes da obra, analise as novela sem um padre como personagem.
afirmações abaixo: e) Camilo Castelo Branco escreve seus romances
com a preocupação de destacar padres como
I- O narrador apresenta Eleutério Romão dos personagens, no entanto, somente padres-
Santos, marido de Teodora, como um “rapaz de capelães merecem destaque em suas obras.
figura absurda, com uma gravata vermelha...”
que só consegue soletrar palavras de três Leia o texto abaixo e responda as questões 12 e 13.
sílabas;
II- Tranqueira é o criado particular de Afonso, (...)
antigo empregado de D. Eulália, humilde e fiel “--- Lê, e no fim falaremos – disse Afonso. E eu
que impede Afonso de rolar de vez para o li:
“Não te respondas. A vil, a abjeta, a desgraçada
abismo, despertando-lhe o amor ao trabalho, o
é generosa. Não respondas. Ri, e escuta.
que ele nunca tivera até os vinte e cinco anos; Abandonada por ti, enganada, não sei por que
III-Fernão de Teive, tio de Afonso, ajuda por nem com que fim, por tua mãe, achei-me fraca
diversas vezes o sobrinho mandando-lhe para cruzar os braços, e esperar a morte. À
dinheiro e nas conversas com este orienta-o a borda do abismo, vi, uma tábua de salvação.
casar e viver feliz com Teodora. Sabia que, segurando-me nela, as mãos se
rasgariam em chagas incuráveis. Sabia-o; mas
Quais são corretas?
agarrei-me à tábua de salvação. Escutei a
a) Apenas I. desgraça; que não tinha outro anjo, nem outro
b) Apenas I e II. demônio que me aconselhasse. Escutei-a, e
c) Apenas I e III. aceitei o marido que ela me deu. Perdi-me para a
d) Apenas II e III. vida da alma; mas encontrei a vida dos olhos e
e) I, II e III. dos ouvidos, e do seio, onde me roia a serpente
de soledade e do desabrigo.
Leia o texto abaixo e responda a questão 11. Vi árvores, vi estrelas, ouvi os cânticos da terra e
os amorosos murmúrios da natureza festiva. No
(...) centro do mundo era eu a única mulher sem mãe,
sem pai, sem amigo, sem coração que se abrisse
“Padre Joaquim era um modelo de padres, às cinzas do meu. Não importa. Via o sol no
capelão da casa, havia trinta e cinco anos; padre firmamento; e para além do sol, a infinita luz dos
que se me ia fugindo deste romance por um que bem disseram a mão do Senhor que, à sua
cabelinho: o que seria novidade nos meus livros. vontade, desdobra um crepe de trevas sobre os
corações, que, em inocência, não ousam
Quando eu puder arquitetar uma novela sem
interrogá-lo como Jô!””
padre, hei de chamar-me romancista puxado de
imaginação. O mestre dos escritores floridos, (BRANCO, Camilo C. Amor de Salvação. Coleção
Grandes Leituras. São Paulo: FTD, 1993. p.67)
Almeida Garret, segundo disse e provou, tinha o
vezo dos frades. Ele, e eu, cá muito no coice
processional dos seus discípulos, havemos de
12. “mas agarrei-me à tábua de salvação”. Sobre o
fazer amar os frades e os padres, pelo menos os
termo destacado, assinale a alternativa CORRETA:
padres-capelães bem procedidos e venerandos
como Padre Joaquim, capelão da casa de Fonte
Boa.” a) Refere-se ao fato de Teodora ter fugido do
Convento das Ursulinas.
(BRANCO, Camilo C. Amor de Salvação. Coleção
Grandes Leituras. São Paulo: FTD, 1993. p.126) b) Teodora para ter sua liberdade e sair do Convento
acaba por se casar com Eleutério Romão dos
11. Pode-se inferir do texto que: Santos, seu primo e filho do seu tutor.
c) A tábua de salvação refere-se à sua amiga Libana
a) O narrador nem sempre faz novelas com
padres. que ajudou Teodora na fuga do Convento.

Literatura – Prof. Jorge Alberto


Amor de Salvação – Camilo Castelo Branco
d) As freiras se sensibilizaram com o amor de situações vexatórias que o ultra-romantismo
proporciona.
Teodora e Afonso e por isso a libertou-a para d) No Amor de Perdição o amor é idealizado e
que seguisse seu caminho. levado às últimas conseqüências, o que prova
e) Refere-se ao fato de seu tio e tutor Romão dos o intenso subjetivismo e sentimentalismo
característico da 2ª geração romântica. No e
Santos condicionar sua saída do Convento ao
Amor de Salvação o excesso de subjetivismo é
casamento com Afonso de Teive. dosado com digressões realistas do narrador
que aponta os danos causados pelo amor
desenfreado e desvairado no personagem
13. Pode-se inferir do texto que:
Afonso de Teive.
e) Ambas as novelas apresentam na sua estrutura
a) Por ter sido abandonada por Afonso de Teive, digressões e críticas que o narrador faz ao
Teodora resolve tornar-se uma freira. Clero e à sociedade portuguesa da época que
insiste em manter uma literatura atrasada e
b) Teodora refere-se ao amor de perdição de sua idealizadora sem nenhum caráter lúdico.
vida que foi Afonso e ao amor de salvação que
foi Eleutério, pois este a salvou da morte. 15. A mola mestra dos enredos camilianos é sempre o
amor. O direito ao amor é exaltado e os que se
c) Quando afirma que perdeu-se para a vida da colocam entre os amantes são ridicularizados ou
alma, Teodora se refere ao amor por Afonso e são tratados com ódio. Assinale V ou F conforme
o encontro com a vida dos olhos e dos ouvidos as afirmações abaixo serem verdadeiras ou falsas.
e do seio refere-se à liberdade conseguida ao
( ) Amor de Salvação é a história de um
casar-se com Eleutério. desatinado amor entre Afonso de Teive e
d) Teodora se considera vil, abjeta e desgraçada e Teodora Palmira, mulher casada e desleal ao
por isso espera a morte no abismo. marido, que acaba sendo infiel também ao
próprio Afonso.
e) Por não ter tido muita paciência de esperar por ( ) Caracteriza-se, na obra, um triângulo amoroso
Afonso, Teodora casa-se com Romão dos onde opõem-se a Mafalda, a mulher- anjo, à
Santos, seu tutor, para conseguir uma vida livre Teodora, a mulher-fatal.
( ) Atraiçoado por Teodora, Afonso descobre a
do Convento das Ursulinas. salvação no sentimento verdadeiro de Mafalda.
( ) Mafalda, abnegada, serve de intermediária no
14. Assinale a alternativa ERRADA sobre as novelas amor entre Afonso e Teodora. Sozinha no
Amor de Perdição e Amor de Salvação de Camilo mundo, após a morte do pai, suicida-se.
Castelo Branco: 9A seqüência correta é:

a) Em Amor de Perdição, o ultra-romantismo se a) VVVV


evidencia com um amor que causa a morte de b) VFFF
três personagens: Simão, Teresa e Mariana. c) VVVF
b) Em Amor de Salvação, o amor que “perde” d) FVVF
terá a conseqüência o amor que “salva” e não e) VFVV
há morte na novela.
c) As obras camilianas se aproximam do amor
exagerado. No entanto, Amor de Salvação
contém momentos realistas que demonstram

Anotações

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Amor de Salvação – Camilo Castelo Branco

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