Você está na página 1de 8

BIOBIBLIOGRAFIA

Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco foi um dos maiores escritores portugueses do século XIX,
sendo um autor que viveu uma vida tipicamente romântica. Sofreu ao longo da existência toda a sorte
de vicissitudes começando por seus problemas familiares causadores de suas crenças nas idéias de
desgraça e fatalidade. Teve uma vida amorosa igualmente atribulada e completamente passional
devido ao seu caráter instável que serviu de base e inspiração para suas obras. Um dos muitos casos
notórios de sua vida passional ficou demonstrado no rapto de Ana Plácido, mulher casada que foge
com Camilo. Os dois acabam sendo encontrados e levados a um julgamento que causou grande
consternação a sociedade portuguesa da época devido ao caráter romântico do caso.
Camilo escreveu mais de duzentas e sessenta obras predominantemente românticas, mas que, no
entanto, já apresentava traços realistas devido a críticas, sátiras, explicações e análises de
personagens. Suas obras são notavelmente marcadas por traços autobiográficos. Camilo Castelo
Branco também foi jornalista, crítico, cronista, dramaturgo, historiador, poeta e tradutor.

Algumas das suas principais obras:

Os Pundonores Desagravados (poema satírico, 1845), O Juízo Final e O Sonho do Inferno (poema
satírico, 1845), Agostinho de Ceuta (teatro, 1847), A Murraça (sátira, 1848), Maria, não me mates,
que sou tua mãe (novela, 1848), O Marquês de Torres Novas (teatro, 1849), O Caleche (sátira,
1849), O Clero e o Sr. Alexandre Herculano (1850), Inspirações (poesia lírica,
1851), Anátema (novela, 1851), Mistérios de Lisboa (novela, 1854), Livro Negro de Padre
Dinis (novela, 1855), Cenas Contemporâneas (1855), A Filha do Arcediago (novela, 1855), A Neta
do Arcediago (novela, 1856), Onde está a felicidade? (novela, 1856), Um Homem de Brios (novela,
1857), Carlota Ângela (novela, 1858), O Que fazem Mulheres (novela, 1858), Cenas da Foz (novela,
1861), O Romance de um Homem Rico (novela, 1861), Amor de Perdição (novela,) 1862), Coração,
JLF - Página 1 de 8 (In, blogue de proffernandapantoja.blogspot.com
Cabeça e Estômago (novela, 1862), Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado (novela, 1863), O
Bem e o Mal (novela, 1863), Amor de Salvação (novela, 1864), A Sereia (novela, 1865), A Queda
dum Anjo (novela, 1866), O Judeu (novela, 1866), O Olho de Vidro (novela, 1866), A Bruxa de
Monte Córdova(novela, 1867), A Doida do Candal (novela, 1867), O Retrato de Ricardina (novela,
1868), Os Brilhantes do Brasileiro(novela, 1869), A Mulher Fatal (novela, 1870), O
Regicida (novela, 1874), A Filha do Regicida (novela, 1875), A Caveira do Mártir (novela,
1875), Eusébio Macário (novela, 1879), A Corja (novela, 1880), A Brasileira de Prazins (novela,
1883), etc.

RESUMO DO ENREDO

A história narra a vida do jovem Simão Botelho. Este era filho de um desembargador, Domingos
Botelho, tinha um irmão mais velho, Manuel Botelho com quem tinha desavenças, duas irmãs mais
novas sendo a caçula Rita sua preferida e sua mãe que também se chamava Rita, e possuía uma
postura muitas vezes arrogante.
Simão era um jovem violento e problemático que envergonhava a sua família. Suas amizades eram
com pessoas desordeiras de classes inferiores. Passava os dias agredindo as pessoas pelos locais que
passava. Suas atitudes traziam desgosto e desprezo por parte dos pais.
Por conta de um romance o rapaz muda o seu comportamento completamente. Torna-se caseiro,
quieto e calmo. Sua paixão era pela jovem Tereza Albuquerque, filha de Tadeu Albuquerque, inimigo
de seu pai. O romance era proibido e mantido em segredo pelos dois apaixonados que mal podiam se
observar. Simão retorna a Coimbra, onde tinha iniciado os seus estudos, a fim de terminá-los para
dessa forma ter condições de construir um futuro com a amada Tereza. O rapaz se esforça ao máximo
nos estudos. Os dois continuam mantendo o romance através de cartas. Há esse tempo Tereza e
Ritinha, irmã de Simão, se tornam amigas. Tereza lhe confidencia o segredo do romance. Um dia
Domingos pega a filha de conversa com Tereza e lhe obriga a contar tudo o que sabe. O pai ao saber
do romance fica irado e ai começa todo o tormento do casal.
Tadeu sabendo também agora o que se passava promete a mão da filha ao sobrinho Baltazar Coutinho.
A moça o repudia veementemente. O pai não conseguindo o que deseja, começa a ameaçar Tereza
constantemente: ou a moça casava com o primo ou tornar-se-ia freira. A menina não decide por nada
e se mantém sempre fiel a Simão que através de cartas da moça fica sabendo o que se passa em sua
ausência. Simão volta de Coimbra enfurecido pelas tentativas de Baltazar. Desta vez não volta para
sua casa, se instala na casa de um ferrador que devia a vida ao seu pai. Este era João da Cruz. O
homem se torna seu servo fiel e lhe promete ajuda com relação à Tereza.
João possuía uma filha de nome Mariana que logo se apaixona perdidamente por Simão. Esta o trata
com todo carinho e zelo mesmo sabendo que nunca seria correspondida em seu amor. Tereza sabendo
da presença de Simão no local o avisa através de carta sobre seu aniversário. Diz a este que esta era
noite oportuna para o encontro dos dois. Simão de pronto vai ao local, porém não consegue encontrar
Tereza porque Baltazar percebera algo diferente seguindo a menina. O encontro é remarcado para o
dia seguinte. Simão volta na noite seguinte, contudo Baltazar já lhe havia preparado uma armadilha.
João da Cruz que já havia pensado em tal armadilha vai junto de Simão e um ajudante para auxiliar
o rapaz que estava em perigo. O encontro se faz e começa um combate, Simão e os companheiros
fogem do local a cavalo, entretanto os comparsas de Baltazar os perseguem. João mata um dos
homens e o outro foge. Simão é ferido no ombro e levado para a casa do ferrador. João e Mariana
JLF - Página 2 de 8 (In, blogue de proffernandapantoja.blogspot.com
fazem de tudo pelo hóspede chegando ao ponto de darem suas economias a ele fingindo ser esta uma
a quantia enviada pela mãe de Simão.
Tereza continua negando o casamento e por isto é encarcerada num convento por seu pai. Leva
secretamente consigo o tinteiro e papéis para continuar enviando cartas a Simão. No convento, onde
pensava que teria uma vida de paz, surpreende-se com o convívio com freiras fofoqueiras e maldosas.
Mais tarde Tadeu resolve tirar a filha daquele convento para levá-la a outro onde tinha uma parenta.
Simão recebe por carta esta noticia e fica sabendo que seu pai também levaria junto dela o resto de
sua família e a família de Baltazar. A noticia enlouquece a Simão que resolve ir até lá. Escondido de
João e Mariana parte para o convento da amada. Chagando lá se depara com todos, inclusive Baltazar
que o enfrenta. Enfurecido, Simão mata o rival.
Simão por ser filho de desembargador, facilmente escaparia a prisão, mas não quis e faz de tudo para
ser preso. Seu pai ao saber do acontecimento resolve não ajudá-lo desprezando-o totalmente. Sua
família muda-se para Vila Real. Sua mãe lhe oferece ajuda desta vez, mas Simão a rejeita e se declara
sem família. Passa a viver do socorro de João da cruz e Mariana que a este ponto encontrasse
totalmente submissa a ele e apresenta problemas de ordem mental. Tereza no novo convento encontra
freiras mais bondosas e verdadeiras. A correspondência com Simão é cada vez mais difícil porém
ainda é feita.
Nesse período Simão é condenado à forca. Tereza ao saber de tal noticia se entrega a tristeza e passa
a viver como moribunda. O avô de Simão vai até Domingos e lhe pede que este agora interceda pelo
filho dizendo que não vivera uma vida honrada até aquele momento para presenciar tal
acontecimento. Ameaça suicidar-se. Domingos pressionado pelo pai decidi então livrar o filho da
sentença de morte. Simão é transferido para uma prisão mais próxima ao porto onde também ficava
o convento de Tereza. Tadeu tenta tirar a filha de lá, mas as freiras, amigas da menina, já não permitem
tal ato. Simão vive por dois anos e nove meses na prisão. João é morto pelo filho do homem que havia
assassinado. Sendo assim, Mariana vende tudo o que tinha e vive exclusivamente para Simão. São
oferecidas duas penas a Simão: ficar dez anos preso ou viver dez anos no exílio na Índia. A vontade
de Tereza é que o amado espere por ela na cadeia, porém Simão opta pelo exílio. E assim o faz.
Mariana o segue. Graças ao cargo de seu pai, Simão entra no navio como homem livre e torna-se logo
amigo do capitão que também lhe oferece ajuda para que este tenha na índia uma vida nova. Promete
também socorrer a jovem Mariana no que for preciso.
No entanto, Simão do porto, assiste a morte da amada Tereza que já estava no limite da debilidade e
da tristeza. Lá recebe as cartas que havia escrito e ela e a última carta da amada. Simão abalado adoece
e passa a arder em febre e delírios. Tereza mais uma vez cuida dele com total dedicação. Simão não
suporta e morre. Tereza beija o homem amado pela primeira vez. Quando o corpo deste é amarrado
a uma pedra e lançado ao mar do navio, Mariana não resiste e joga-se junto ao corpo deste entregando-
se também a morte e deixando as cartas de amor que Simão lhe havia confiado.

PERSONAGENS

Simão Botelho

A princípio mostra-se como um rebelde de temperamento incontrolável e cruel. Um grande


perturbador e agitador da ordem pública e uma fonte interminável de desgostos para seus pais. Tem
seu comportamento modificado de forma brusca quando começa a nutrir sentimentos pela jovem
vizinha Tereza de Albuquerque. O amor o transforma, redime, modifica, apresentando Simão a partir
JLF - Página 3 de 8 (In, blogue de proffernandapantoja.blogspot.com
de então um caráter cheio de virtudes e um sentimento realmente casto e verdadeiro. Torna-se
honesto, estudioso e responsável, pois deseja obter condições de sustento para viver com a amada. O
único sentimento que Simão não perde apesar de toda a transformação em sua personalidade é o
sentimento incoercível de vingança que culmina com o assassinato de Baltazar Coutinho, primo de
Tereza. A passionalidade de Simão também é recuperada a partir deste episódio na medida e que ele
foge das tentativas de absolvição deste crime declarando-se sempre como culpado e demonstrando-
se firme e obstinado. Simão é o estereótipo do típico herói ultra-romântico.

Tereza de Albuquerque

Tereza de Albuquerque é a protagonista feminina da trama. Uma jovem de apenas quinzes anos que
se apaixona de forma proibida pelo vizinho Simão Botelho. Tereza, aparentemente frágil, assim como
o amado, sustenta uma personalidade de caráter firme e resoluto que enfrenta tudo e todos pelo seu
sentimento. Atua de forma inflexível perante as sucessivas ameaças de seu pai, um homem cruel e
autoritário. Ela não age diretamente como Simão (devido principalmente a condição subjugada a
mulher de sua época), porém demonstra a mesma obstinação do amado preferindo até mesmo o
martírio, o enclausuramento e até a perda a vida do que ceder a vontade de um casamento forçado
por seu pai. Age guiada somente pelo amor. Por estas e outras características, Tereza assume a posição
de heroína romântica que tanto vigorou no Romance Romântico.

Mariana

É a terceira peça principal desta história formando o segundo triangulo amoroso mesmo que de forma
não correspondida e indireta. É uma moça humilde, abnegada e triste, sendo considerada em muitas
das vezes como a personagem mais romântica deste livro. Cuida de Simão com extremo devotamento
quando este mais necessita, passando a nutrir um amor puro, mas sem esperanças, que tudo suporta
e tudo perdoa até mesmo a paixão deste por Tereza. Seu amor é sublimado, dedicado, fazendo esta
de tudo para ajudar o amado, tornando-se até mesmo cúmplice da sua paixão proibida, nunca
rivalizando com Tereza.
Quando Simão é preso, Mariana abandona o pai e passar a viver em sua companhia na prisão. Sua
entrega culmina com seu suicídio quando se joga ao mar ao ver o corpo de Simão ser lançado. Ela é
a própria personificação do espírito de sacrifico.

Domingos Botelho e Tadeu de Albuquerque

São as personagens que atuam como impossibilitadoras da concretização do amor dos protagonistas.
Nutrem uma profunda aversão um pelo outro. Odeiam-se por causa de um litígio em que o corregedor
Domingos Botelho deu ganho de causa contrário aos interesses De Tadeu de Albuquerque. Radicais
em seus comportamentos preferem o padecimento dos filhos a abrir mãos de suas convicções pérfidas
e odiosas. Representam o conservadorismo, as manifestações egoísticas e cruéis, o apego ao nome e
a honra e a hipocrisia social da época desmoralizadas pelo narrador da obra.

Baltazar Coutinho

É um primo de Tereza que nutre grande desejo pela moça. Muito apreciado por seu tio conquista
rapidamente a posição de pretendente da jovem. Torna-se então cúmplice do tio nas armações contra
o casal preparando até mesmo uma emboscada para Simão. É dissimulado, hipócrita, perverso e
prepotente, despertando somente a aversão e o asco de Tereza. Fidalgo arrogante e traiçoeiro
JLF - Página 4 de 8 (In, blogue de proffernandapantoja.blogspot.com
representa o vilão da história e o rival do protagonista Simão Botelho. É o personagem que constitui
o primeiro triangulo amoroso na história.

João da Cruz

Pai de Mariana e grande amigo do jovem Simão Botelho sentindo-se responsável pela vida e bem
estar do jovem desde que este se separa da família. Agindo por um ato de gratidão ao pai de Simão
que o livrará em certa feita da prisão, torna-se o protetor do jovem e auxilia-o com seus conselhos e
estratégias. Toma atitudes de extrema coragem e até violência para defender e proteger o rapaz. Sua
vida é muito simples e de grande amor pela única filha. Sua honradez, sua fortaleza de espírito e seus
grandes atos de coragem fazem com que o leitor esqueça e até perdoe seus crimes. É a representação
do homem do campo daquela época em Portugal.

TEMPO

O amor entre Simão e Tereza desenvolve-se num período de sete anos. O tempo cronológico é,
portanto, desta forma minuciosamente demonstrado. Os acontecimentos se desenvolvem de forma
bastante linear privilegiando a ação ao invés da descrição.
O tempo psicológico da mesma forma é profundamente explorado através da angustia, do sofrimento
e do clima denso e repleto de inquietações experimentado pelas personagens. A história desenrola-se
no século XIX.

ESPAÇO

A história se passa em Portugal. Tudo começa na cidade provinciana de Viseu (revelando assim o
provincianismo português da época arraigado a tradição ao convencionalismo e as exigências sociais
em detrimento da liberdade e do individualismo do indivíduo). A obra também percorre Coimbra
(onde Simão passa um período estudando), e na cidade do Porto (marcada profundamente pelo
desfecho trágico das personagens).

FOCO NARRATIVO

O narrador apresenta-se em 1° pessoa na introdução falando sobre a história de sua família. No


decorrer dos capítulos seguintes passa a se apresentar em 3° pessoa caracterizando-se como narrador
onisciente por penetrar e desvendar o que se passa nas mentes e corações das personagens. Esta
fórmula busca a veracidade no que é dito. A 1° pessoa do início funciona como suporte para esta
verdade e confirma o que será relatado. Já o uso da 3° pessoa nos outros capítulos concretiza esta
veracidade precisando datas, descendências e costumes da época, além das circunstancias vividas
pelas personagens. Passa a intervir, a criticar, permitindo-se também introduzir na história (não
somente revelando, mas também comentando os comportamentos e os atos além de expor os seus
pontos de vista) como podemos observar neste trecho:

JLF - Página 5 de 8 (In, blogue de proffernandapantoja.blogspot.com


“Os poetas cansam-nos a paciência a falarem do amor da mulher aos quinze anos, como paixão
perigosa, única e inflexível. Alguns prosadores de romances dizem o mesmo. Enganam-se ambos. O
amor aos quinze anos é uma brincadeira; é a última manifestação do amor às bonecas;” é a tentativa
da avezinha que ensaia o vôo fora do ninho, sempre com os olhos fitos na ave-mãe, que a está da
fronde próxima chamando: tanto sabe a primeira o que é amar muito, como a segunda o que é voar
para longe.

Capitulo 2

ESTILO

Amor de perdição é classificado pelos críticos como uma novela passional. Em novelas passionais,
Camilo Castelo Branco apresentou três fases: a 1° foi à fase melodramática, de grande pobreza
psicológica onde predominaram temas como ódio, vingança e crimes produzindo novelas criadas
basicamente para o entretenimento.
Na 2° fase (onde se insere Amor de Perdição) é representado o melhor de sua obra. A linguagem
apresenta-se mais direta e por vezes irônica. A leitura é estimulada através de um suspense bem
dosado e de um enredo conciso aproximando mais o leitor da obra que passa a acompanhar as jornadas
das personagens. O tema amor reina absoluto.
Na 3° fase as novelas passam a constituir romances e modificam-se apresentando características
realistas como as sátiras, críticas sociais e as observações minuciosas da realidade. Temas como o
adultério passam a ser explorados e a linguagem torna-se mais popular.

Na novela passional Amor de Perdição, o amor funciona como uma espécie de destino e de fatalidade
que domina e orienta tanto o a vida quanto a morte das personagens que passam a seguir cegamente
os seus impulsos amorosos. Não podemos esquecer que a novela se enquadra no período literário do
Romantismo apresentando-se como ótimo exemplo de literatura da época.
O amor é o tema central. Apresenta-se desenfreado, profundo, além das forças e dos limites, trazendo
consigo o sofrimento por chocar-se frontalmente com as necessidades e convenções sociais. A paixão
passa a justificar toda sorte de condutas, até mesmo o enlouquecimento num tom profundamente
trágico e passional. Existe toda uma luta por parte das personagens para alcançar a felicidade amorosa,
que em contrapartida apresenta-se em vão contra a sociedade injusta da época. A ideia de que o
sentimento deve sobrepor-se a razão é levada até as ultimas conseqüências nesta história.
A presença de “mártires do amor” demonstra a angustiosa procura pelo sofrimento como razão de
viver, característica marcadamente ultra-romântica. O casal luta, sofre todo o tipo de provação e
permanece na ideia de que o amor só será conquistado através do sofrimento e da morte. As
personagens possuem a consciência de que não deveriam se apaixonar, porém não conseguem abdicar
de sua paixão. Enfrentam tudo e todos mesmo quando a felicidade apresenta-se cada vez mais
longínqua até que o destino realmente lhes fala mais alto. Chegando a morte, ocorre também a
sublimação do amor das personagens através dela. O destino trágico do protagonista já nos é
apresentado pelo autor logo na introdução do livro: “Amou, perdeu-se e morreu amando”.

JLF - Página 6 de 8 (In, blogue de proffernandapantoja.blogspot.com


Funcionou como uma espécie de Romeu e Julieta lusitano (apresentando vários traços
Shakespereanos, a obra focaliza dois apaixonados que têm como obstáculo para a realização amorosa
a rivalidade entre as famílias.) muito bem recebido pela sociedade portuguesa da época..
O próprio autor justifica o sucesso de seu romance: “Rapidez das peripécias, a derivação concisa do
dialogo para pontos essenciais do enredo, a ausência de divagações filosóficas, a lhaneza de
linguagem e o desartifício das locuções”.

VEROSSIMILHANÇA

Com relação ao período literário é evidente a verossimilhança com o Romantismo pela obra
apresentar todas as características predominantes deste movimento. No que toca a realidade da época
em que foi escrita, também apresenta todos os dados constituintes daquela sociedade além de datas,
locais, acontecimentos precisos e transcrevendo documentos para dar autenticidade. Já no que condiz
a própria história também podemos encontrar veracidade por ser muito comum no século XIX
principalmente nos períodos em que vigoraram o Romantismo e o Ultra-Romantismo, a entrega
completa de jovens a este tipo de amor que nada mais deseja ou teme por pensar somente no ser
amado. É fato que foi uma época em que ocorreram muitas tragédias passionais, muita entrega a
tristeza profunda e um número enorme de suicídios advindos principalmente das questões do coração.

MOVIMENTO LITERÁRIO

O Livro esta inserido no período Literário conhecido como Romantismo. O Romantismo nasce na
Alemanha, na Itália e na Inglaterra, mas é na França que ganha força e expande-se para o restante da
Europa e para as Américas. Inicia-se no final do século XVIII e perdura até o fim do século XIX. Foi
um período literário fortemente influenciado pelos ideais do Iluminismo e de liberdade advindos da
Revolução Francesa. O Romantismo apresentou como características principais:
- o Nacionalismo: os temas nacionais e o passado são explorados exaltando valores e os heróis
nacionais.
- O Historicismo e o Medivealismo: ambientado em seu passado histórico principalmente no
período medieval. Interesse pelas origens das famílias, do povo e do país.
- Valorização das fontes populares e do folclore: os autores buscam inspiração nas narrativas orais
e nas canções populares.
- Confessionalismo: são expressos nas obras os sentimentos pessoais do autor em determinadas
ocasiões.
- Pessimismo: a melancolia se faz presente, além do individualismo e do egocentrismo adquirindo
traços doentios. É o chamado mal- do -século, o Byronismo angustiado e até por vezes satânico. A
impossibilidade de realizar o sonho do "eu" grande inquietação, desespero, frustração, levando muitas
vezes ao suicídio.
- Morte: tema constante nas produções românticas serve como fuga, sublimação ou ultima solução.
- Critica social: o Romantismo por vezes assumiu um caráter combativo de oposição e critica social.
-Oposição ao nacionalismo e ao rigor neoclassicismo: o romântico recusa as formas, liberta-se se
aproximando da linguagem coloquial. É a liberdade de criação. Repudio aos clássicos.
- Sentimentalismo: os sentidos são exaltados e tudo que deriva dos impulsos passa a ser permitido.
As emoções são exploradas com grandes picos de intensidade.
JLF - Página 7 de 8 (In, blogue de proffernandapantoja.blogspot.com
- Culto ao fantástico: a imaginação, o sonho, o mistério, a fantasia emergem em profusão.
- Idealização: o artista romântico envolto as suas fantasias, idealiza tudo. As coisas e as pessoas não
são vistas como realmente são e sim como deveriam ser segundo a sua própria ótica pessoal. O homem
romântico idealiza a mulher como uma deusa divina retornando assim ao seu passado trovadoresco e
a vassalagem onde as damas eram imensamente desejadas mesmo que se apresentassem inatingíveis.
- Egocentrismo: o “eu” é cultuado, as atitudes são egoístas e narcisistas. O individualismo prevalece.
-Escapismo: fuga da realidade, refúgio na fantasia, no sonho, na morte, na religião. O romântico não
aceita a vida como ela é.
- Luta entre o liberalismo e o absolutismo: heróis grandiosos, muitas vezes personagens históricos,
que foram de algum modo infelizes: vida trágica, amantes recusados, patriotas exilados.
-Religiosidade: vida espiritual e a crença em Deus enfocadas como pontos de apoio ou válvulas de
escape diante das frustrações do mundo real.

Em Portugal o Romantismo é introduzido por Almeida Garrett, sendo utilizado como uma nova
maneira de se expressar, enfrentar os problemas da vida e do pensamento. O Romantismo português
desenvolveu-se em três fases:

A primeira geração romântica portuguesa entre os anos de 1825 e 1840. Buscou gradativamente
diluir os clássicos apresentando escritores românticos em espírito, nos ideais e nas ações políticas,
porém ainda apegados a certos aspectos da literatura clássica. Seus ideais românticos sustentaram-se
através do nacionalismo, do medievalismo , do historicismo , da idealização da mulher,do amor e
da natureza e do subjetivismo. Apresentado como principais autores: Almeida Garrett, Alexandre
Herculano e Antônio Feliciano de Castilho.

A Segunda geração romântica portuguesa perdurou entre os anos 1840 e 1860. É o momento de
desfeita das amarras arcádicas. Vive-se o domínio da estética e da ideologia romântica. As atitudes
dos escritores são extremas tendenciando temas fúnebres, escapistas e caindo no exagero e
no desequilíbrio sentimental. A linguagem passa a ser fácil e comunicativa. Ficou conhecido também
como Ultra-Romantismo ou Mal- do- Século. Autores: Camilo Castelo Branco, Soares Passos.
A nossa obra estudada Amor de Perdição, esta inserida neste segundo momento da literatura
romântica portuguesa apresentando um grande número de características desta época.

A Terceira geração romântica portuguesa desenvolve-se entre os anos 1860 a 1870. É


considerado momento de transição, por já anunciar o Realismo. O Romantismo torna-se mais
equilibrado, reconstituído e o lirismo é simples e sincero. Autores: João de Deus, Júlio Diniz.

CONCLUSÃO
Compreendemos que o livro Amor de Perdição constitui um marco no Romantismo Português
tornando-se uma das suas expressões mais perfeitas, principalmente ligadas a segunda fase romântica.
O autor abusa de todos os recursos do período envolvendo-nos em uma trama onde
personagens vivem em eterno conflito com a sociedade, numa saga de encontros e desencontros,
alimentados por cartas carregadas de tristezas e angústias numa apoteose de sentimentos de um amor
impossível e no seu destino trágico onde a morte sublima o amor no seu ideal romântico.
Permitiu-nos também observar através do estudo da obra o próprio Romantismo marcado pela
definitiva liberdade de expressão e do pensamento repudiando as regras que até então eram impostas
e já antecipando um período que no futuro iria se firmar: o Modernismo.

JLF - Página 8 de 8 (In, blogue de proffernandapantoja.blogspot.com

Você também pode gostar