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1. Basílio da Gama
2. Basílio da Gama (1741-1795) Ingressa na Cia. de Jesus aos 16 anos, MAS é expulso, pouco
depois, por fazer sátiras constantes aos padres. Tenta o contato novamente com os jesuítas
em Roma, MAS é logo expulso novamente por fazer poemas sarcásticos contra seus
professores.Ao voltar para o Brasil, é condenado por Pombal ao exílio em Angola por práticas e
ligações jesuíticas, abominadas e perseguidas no período.
3. Contexto da obra• Publicada em 1769;• Puxa-saco do Marquês de Pombal (1º Ministro que
decretou a expulsão dos jesuítas do Brasil, em 1759);• Antijesuitismo;• Dedicado a Francisco
Xavier de Mendonça Furtado (Irmão do Marquês de Pombal);• Arcadismo: Resgate da epopeia;
4. Estrutura Epopeia, que é um gênero clássico. (Dedicatória, Invocação, Proposição,
Narrativa, Epílogo) MAS Reverteu o esquema épico tradicional: 1) começa em plena ação; 2)
elimina a mitologia; 3) harmoniza a paisagem à ação; 4) trata os indígenas como matéria
poética, não apenas como algo exótico.Dividido em 5 Cantos - Versos decassílabos brancos,
sem estrofação
5. TemaLuta pela expulsão dos Jesuítas do território dasMissões, por ocasião do tratado de
Madrid (1750), tendo como herói o português Gomes Freire de Andrade. Basílio da Gama
alega que os jesuítas apenasdefendiam os índios para serem eles mesmo seus senhores.
6. Personagens• General Gomes Freire de Andrade: chefe das tropas portuguesas;• Catâneo:
chefe das tropas espanholas;• Cacambo: chefe indígena;• Cepé: guerreiro índio;• Balda: jesuíta
administrador de Sete Povos das Missões;• Caitutu: guerreiro indígena; irmão de Lindóia;•
Lindóia: esposa de Cacambo;• Tanajura: indígena feiticeira.
7. Enredo Canto I: Saudação ao General Gomes Freire de Andrade. Chegada de Catâneo.
Desfile das tropas. Andrade explica as razões da guerra. A primeiraentrada dos portugueses
enquanto esperam reforço espanhol.O poeta apresenta já o campo de batalha coberto de
destroços e de cadáveres, principalmente de indígenas, e, voltando no tempo, apresenta um
desfile do exército luso-espanhol, comandado por Gomes Freire de Andrade.
8. Canto II: Partida do exército luso-castelhano. Soltura dos índios prisioneiros. É relatado o
encontro entre os caciques Cepê e Cacambo e ocomandante português, Gomes Freire de
Andrade, à margem do rio Uruguai. O acordo é impossívelporque os jesuítas portugueses se
negavam a aceitara nacionalidade espanhola. Ocorre então o combate entre os índios e as
tropas luso-espanholas. Os índios lutam valentemente, mas são vencidos pelas armas de fogo
dos europeus. Cepé morre em combate. Cacambo comanda a retirada.
9. Canto III: O General acampa às margens de umrio. Do outro lado, Cacambo descansa e
sonha com o espírito de Cepê. Este incita-o a incendiar o acampamento inimigo. Cacambo
atravessa o rio e provoca o incêndio. Depois, regressa para a sede. Surge Lindóia. A mando de
Balda, prendem Cacambo e matam-no envenenado. Balda é o vilão da história, que deseja
tornar seu filho Baldeta,cacique, em lugar de Cacambo. Observa-se aqui uma forte crítica aos
jesuítas. Tanajura propicia visões a Lindóia: a índia “vê” o terremoto de Lisboa, a reconstituição
da cidade pelo Marquês de Pombal e a expulsão dos jesuítas.
10. Importante!• A ideia de choque cultural se sobrepõe à celebração do herói;• Há antecipação
de tendências da 1ª Geração Romântica (indianismo);• A descrição rápida e densa da natureza
também é um prelúdio do Romantismo.
RESUMO
Na abertura da peça, o retirante Severino se apresenta à plateia e se dispõe a narrar sua trajetória. Sai do
sertão nordestino em direção ao litoral, em busca da vida que escasseava em sua terra. Ao longo do
caminho, mantém uma série de encontros com tipos nordestinos. Logo de saída encontra os irmãos das
almas, lavradores encarregados de conduzir a um cemitério distante o corpo de um colega, assassinado a
mando de latifundiários. Aos poucos, assiste à seca do rio Capiberibe, que Severino segue em sua viagem
ao litoral. Passa por um lugarejo e ouve uma cantoria vinda de uma casa. Trata-se do canto de
excelências, isto é, fúnebre, em honra a outro Severino morto.
Com a morte definitiva do rio, Severino pensa em desistir de sua viagem, mas acaba por optar pelo
prosseguimento. Assim, planeja instalar-se naquele mesmo lugar. Conversando com uma moradora,
percebe que nenhuma das atividades que poderia desempenhar – agricultura e pecuária – encontraria
espaço ali, mas apenas aquelas ligadas à morte, como rezadeira e coveiro.
Severino continua sua jornada e passa pela Zona da Mata, região de relativa prosperidade no interior do
sertão. Encanta-se com a natureza verdejante do lugar, mas percebe ainda a presença da morte ao
testemunhar o funeral de um lavrador que se realiza no cemitério local. Abandona o pensamento inicial
de encerrar ali a busca que mantinha pela vida e continua sua viagem.
Por fim, chega ao Recife, onde resolve descansar ao pé de um muro. Trata-se de um cemitério, e
Severino escuta então o diálogo entre dois coveiros. Os trabalhadores conversam sobre o trabalho que
lhes dão os retirantes que saem de suas casas sertanejas para morrer ali, fazendo-o ademais no seco e
não no rio – o que lhes daria menos serviço e mais sossego. Diante desse novo encontro com a morte,
Severino resolve entregar-se a ela e se matar, atirando-se em um dos rios que cortam a cidade.
Ao se aproximar do rio, inicia um diálogo com José, mestre carpina (carpinteiro), morador ribeirinho.
Pergunta-lhe se aquele ponto do rio era propício ao suicídio. O mestre responde positivamente, mas
tenta convencer o retirante a não se atirar. Severino pede então que lhe dê uma única razão para não
fazê-lo.
A resposta do mestre é interrompida pelo anúncio do nascimento de seu filho. José o celebra com
vizinhos e conhecidos, recebe os presentes pobres que lhe trazem, ouve as previsões pessimistas de
duas ciganas a respeito do futuro da criança e, por fim, recordando-se da pergunta de Severino, dispõe-
se a respondê-la. Afirma então que ele, José, não tem a resposta para a questão de saber se a vida vale
ou não a pena, mas que o nascimento de seu filho funciona como resposta, representando a
reafirmação da vida diante da morte.
CONTEXTO
Sobre o autor
João Cabral é o maior poeta da terceira fase modernista. Mais do que isso: forma, ao lado de Carlos
Drummond de Andrade e Manuel Bandeira o trio de poetas mais importantes da nossa história. É o poeta
da pesquisa formal, da exatidão, da linguagem enxuta cuja matriz está, reconhecidamente, em Graciliano
Ramos.
Importância do livro
Em Morte e Vida Severina, sem abrir mão do rigor imagético e da síntese expressiva, João Cabral
alcança uma comunicabilidade maior, talvez em função do fato de ter sido desafiado a escrever uma
peça de teatro – destinada, portanto, a um público mais amplo do que aquele que sua poesia poderia
alcançar. A abordagem do drama da seca é feita de tal forma a dialogar com o romance Vidas Secas, de
Graciliano Ramos, do qual funciona quase como continuação.
Período histórico
Os anos 1950 se caracterizam na história brasileira pelo desenvolvimentismo do governo de Juscelino
Kubitscheck. Trata-se de um período de grande entusiasmo cultural e intelectual, que atinge o campo da
literatura em autores como Guimarães Rosa e Clarice Lispector, além do próprio João Cabral.
ANÁLISE
João Cabral classificou sua peça de auto de natal pernambucano, levando em conta tanto a forma popular
dos versos curtos, comuns nos autos medievais, quanto a circunstância de tratar de um nascimento (natal)
e de ambientar-se no sertão pernambucano. O título promove uma proposital inversão entre vida e morte,
colocando esta em primeiro lugar. Essa troca da ordem natural indica os encontros com a morte e a vitória
da vida, no final.
Além disso, o nome próprio Severina é usado como adjetivo no título, sugerindo uma ampliação de
sentido que é confirmada logo nas primeiras palavras do retirante, que, ao tentar se apresentar, evidencia
que sua situação particular é, na verdade, uma metonímia do que ocorre com outros sertanejos,
igualmente vítimas da seca.
Em seu caminho em direção ao litoral, Severino alterna diálogos e monólogos. Os primeiros
representam os encontros sucessivos com figuras simbólicas da morte – irmãos de almas, carpideiras,
rezadeiras, funeral –, inseridas no fundo social da peça, que é a disputa pela terra. Já os monólogos
mostram as reflexões do retirante, que tenta redefinir seus rumos depois de cada diálogo.
Os pontos culminantes da trajetória fatalista do retirante são a morte do rio cujo percurso ele acompanha
até o litoral – representação de um meio que se rende à morte como o morador instalado nele – e o
paradoxo do contato com ofícios que demonstram vitalidade justamente porque associados à morte –
rezadeira, coveiro, farmacêutico etc.
A chegada à cidade é a desilusão final do retirante. O diálogo travado entre os coveiros funciona como
sua sentença de rendição à morte, ato máximo de seu desespero. Por outro lado, o nascimento de uma
criança instala a contradição entre a opção de saltar fora da vida, desistindo dela e a alternativa de
agarrar-se à existência e resistir à morte opressora. Nesse sentido, a simbologia da criança – para além
de figurar o nascimento de Cristo, em sua condição de filho de carpinteiro – abarca a ideia da
purificação, da limpeza de toda a podridão associada à morte.
A peça não resolve a contradição, já que sua última fala é a do carpina propondo a vida a Severino, sem
que se saiba a opção feita por este. No entanto, o título da peça, que propõe o encontro final com a
vida, parece sugerir a vitória da resistência e da insistência na esperança.
Primeira peça de Gianfrancesco Guarnieri, Eles não usam black-tie, de 1958, foi encenada pela primeira
vez quando o movimento Cinema Novo começava a surgir e a convocar a arte ao neo-realismo. No lugar
de cenários pomposos e figurinos luxuosos, ficaram apenas os elementos de cena indispensáveis. Ao
invés de personagens ricos e nobres, operários e moradores do morro tomaram o palco. Ali, em plenos
anos 50, negros eram cidadãos comuns. Pela primeira vez, os conflitos da realidade brasileira ganhavam
espaço na caixa cênica.
Eles não usam black-tie situa-se numa favela, nos anos 50, e tem como tema a greve, e ao lado da greve
a peça tem como pano de fundo um debate sobre as grandes verdades eternas, reflexões universais
sobre a frágil condição humana, sobre os homens e seus conflitos. É a história de um choque entre pai e
filho com posições ideológicas e morais completamente opostas e divergentes, o que, por sinal, dá a
tônica dramática ao texto.
O filho, Tião, em razão das prisões do pai grevista, é criado praticamente, na cidade, longe do morro,
com os padrinhos, sem conviver com esse mundo de luta e reivindicação da classe operária. Hoje adulto
e morando no morro com os pais, vive um dos maiores conflitos de sua vida. Em primeiro lugar não quer
aderir à greve, pois acha que essa é uma luta inglória, sem maiores resultados para a classe. Em segundo
lugar pretende se casar com Maria, moça simples, porém determinada e leal ao seu povo, e está
esperando um filho seu. Desta forma, Tião está mais preocupado com o seu futuro do que com a luta de
seus companheiros, que sonham com melhores salários. Para Tião, greve é algo utópico. Ele não tem
tempo para esperar, precisa resolver seus problemas de imediato, ou seja, se casar.
É preciso esclarecer que Tiäo, ao contrário de seu amigo Jesuíno, malandro, fraco e oportunista, é um
jovem corajoso, mesmo porque fura a greve sem medo dos companheiros, achando que está agindo
corretamente. Por essa atitude, acaba perdendo a amizade de todos de seu grupo, restando apenas um
colega da fábrica e João, irmão de Maria, um homem ponderado e maduro capaz de compreender a
situação conflitante vivida pelo amigo Tião e ainda apoiar sua irmã neste momento difícil.
Na realidade, Tião não tem medo do confronto com o inimigo. O seu medo é outro, é o grande medo de
toda a sociedade, o medo de ser pobre, por isso quer subir na vida e deixar para trás a condição difícil e
miserável do morro, que, por sinal, é desafiada cotidianamente pela coragem e bravura de Romana, sua
mãe, mulher de pulso e determinação e responsável pelo equilíbrio da casa e da família.
Eles não usam black-tie é um texto político e social, sempre atual no qual Gianfracesco
Guarnieri criou de um lado, personagens marcantes e populares como Terezinha, Chiquinho,
Dalvinha e Jesuíno que nos revelam um mundo alegre, descontraído e aparentemente feliz. Já
por outro lado a peça se apresenta forte e densa revelando de maneira real os conflitos que
atormentam personagens como Otávio, Romana, Tião, Maria e Bráulio. São tais encontros e
são esses momentos alegres e comoventes , que nos provocam o riso e a dor, alegria e
tristeza. Assim, se por um lado mostra um olhar profundo dentro da sociedade brasileira, por
outro esse olhar vem embalado por um valor poético materializado na visão romântica do
mundo de seus personagens.
A temática não é política, muito menos panfletária. O que discorre são relações de amor,
solidariedade e esperança diante dos percalços de uma vida miserável. Assim, a peça alia
temas como greve e vida operária com preocupações e reflexões universais do ser humano.
Sob o olhar de Karl Marx, em um retrato iluminado por um feixe de luz na parede do cenário, o
debate entre a coletividade e o individualismo, simultaneamente cru e sensível, vai crescendo.
Foi com a encenação de Eles não usam black-tie, que se iniciou uma produção sistemática e
crítica de textos dispostos a representar as classes subalternas, com ênfase para a
representação do proletariado. Nesse sentido, a peça de Guarnieri insere-se num quadro que
se ampliou a partir da década de 1950, quando surgiu uma dramaturgia com preocupações
ligadas à representação de uma camada específica da sociedade brasileira e, para além disso,
em busca da construção de uma identidade nacional pautada em variedades culturais internas.
Escrita por Gianfrancesco Guarnieri para o Teatro de Arena em 1958, a histó ria narrada em Eles
não usam black-tie se passa em uma favela durante os anos 50. A narrativa tem como tema central a
greve dos operá rios, mas adota como pano de fundo reflexõ es universais sobre a fragilidade e os
conflitos humanos. De fato, a temá tica nã o é política, muito menos panfletá ria. O autor discorre, na
verdade, sobre relaçõ es de amor, solidariedade e esperança diante dos percalços de uma vida
miserá vel.
A obra conta a histó ria do conflito entre pai e filho com posiçõ es ideoló gicas e morais
completamente opostas, o que dá uma tô nica dramá tica ao texto. O pai, Otá vio, é um operá rio de
carreira, sonhador, idealista, leitor de autores socialistas e revolucioná rio convicto. Forte e
corajoso, assumiu a liderança vá rias vezes entre seus companheiros e foi preso em diversas
oportunidades, ganhando destaque entre seus colegas e transformando-se em um dos líderes do
movimento grevista. Já o filho, Tiã o, em razã o das prisõ es do pai, foi criado pelos padrinhos longe
do morro, sem convívio com o mundo de luta e reivindicaçõ es da classe operá ria. Mais tarde, voltou
a morar com seus pais na favela, onde viveu os maiores conflitos de sua vida.
Tudo começa em uma noite de chuva, quando Maria, namorada de Tiã o e sua companheira de
trabalho, lhe conta que está grá vida. Por esse motivo, eles marcam o noivado para dali dez dias e o
casamento para pouco tempo depois.
As coisas parecem ir razoavelmente bem: Otá vio está solto e a família vai se arranjando; Tiã o e
Maria vã o se casar, mesmo com as dificuldades. Mas a exploraçã o continua, o arrocho prossegue e a
perseguiçã o à s lideranças é constante.
Estoura a greve. Otá vio está no piquete, megafone na mã o. Tiã o, porém, entra para trabalhar e, aos
berros, incentiva os demais a furar a greve. Ao contrá rio do pai, Tiã o considera a greve uma utopia,
uma luta ingló ria sem grandes conquistas para os trabalhadores. Além disso, está mais preocupado
com seu futuro do que com a luta dos operá rios (como está prestes a se casar, nã o quer arriscar seu
emprego). Seu ú nico temor é nã o crescer na vida, nã o conseguir deixar para trá s a vida difícil e
miserá vel do morro, desafiada diariamente pela bravura de sua mã e, Romana, mulher de pulso,
determinada e responsá vel pelo equilíbrio da casa e da família.
O confronto entre pai e filho na porta da fá brica retrata os dilemas de toda uma classe. Nos olhos
dos dois está a mú tua rejeiçã o. Ambos terã o que encarar as consequências de suas escolhas.
Tiã o é um jovem corajoso, fura a greve sem medo dos companheiros. Por essa atitude, porém, acaba
perdendo a amizade dos colegas de trabalho, restando apenas Joã o, irmã o de Maria, um homem
ponderado e maduro, capaz de compreender a situaçã o conflitante vivida pelo amigo e apoiar a
irmã neste momento difícil.
Já Otá vio acaba sendo preso mais uma vez pelo DOPS. Assim que é liberado, volta para o morro, e
embora reconheça a coragem do filho, pede a Tiã o que se retire de sua casa, conforme lhe alertara
Joã o. O jovem já vinha se preparando para alugar um quarto na cidade e voltar depois para buscar
Maria, mas esta lhe diz que nã o vai sair do morro, seu lugar é ali. Tiã o, entã o, vai embora sozinho,
mas seus pais acreditam que ele voltará um dia, assim que enxergar melhor a vida.
Ao fim, Otá vio e Romana fazem uma espécie de balanço da situaçã o. Sentados à mesa, catando
feijã o, os dois permanecem em silêncio. Essa passagem, porém, diz mais que qualquer palavra,
resumindo o perfeito casamento de forma e conteú do presente em Eles não usam black-tie.
Personagens principais:
Nesta obra, Gianfrancesco Guarnieri quebra uma regra essencial presente nos manuais do “bom
drama”: ao invés de trazer personagens “superiores” como protagonistas, ele se utiliza de gente
humilde, trabalhadores comuns, para conduzir sua histó ria.
Dentre os personagens, destacam-se:
• Tião: Filho de Otá vio e Romana, Tiã o é um jovem criado pelos padrinhos na cidade, longe do
morro e da luta operá ria. Ao contrá rio do pai, nã o acredita na greve e acaba furando o movimento
com receio de perder o emprego, pois está prestes a se casar. Sonha em sair do morro e deixar pra
trá s a vida difícil e miserá vel da favela.
• Otávio: Pai de Tiã o, Otá vio é um revolucioná rio convicto, agitador de greve.
• Romana: Mãe de Tiã o, Romana é uma mulher de pulso, determinada, que trabalha como
lavadeira. É responsá vel pelo equilíbrio da casa e da família.
• Maria: Noiva de Tiã o e sua companheira de trabalho, é fiel a seu povo e se recusa a sair do morro.
• João: Irmã o de Maria, Joã o é um homem ponderado e maduro que fica ao lado de Tiã o quando o
amigo fura a greve e é abandonado pelos companheiros de trabalho.
• Chiquinho: Irmã o de Tiã o, é um jovem aprontador, que vive dormindo e de namoro com
Terezinha.
• Bráulio: Amigo de Otá vio e seu braço direito na greve. Quando fica sabendo da traiçã o de Tiã o,
procura o jovem para tirar satisfaçõ es.
• Jesuíno: Amigo de Tiã o, é malandro, fraco, oportunista. Fica dos dois lados na greve.
O romance mostra que o refúgio da memória é a interioridade do indivíduo, reduzido e isolado na sua
própria história, quase que incomunicável com outro mundo que não seja o dele.
A obra é um relato composto de outros relatos (metarrelatos), distribuídos em oito capítulos, os quais
se assemelham ou resgatam a forma oral do narrar, em que uma história é evocada para completar
outras à medida que é um ou outro narrador quem detém a posse de certa informação que vai
esclarecer uma outra apontada anteriormente (anáfora), ou outra que ainda virá (catáfora). Fala-se em
narrativa de encaixe porque se vão reunindo pequenos relatos para que o todo seja/esteja completo.
A trama se passa numa cidade marcada pelo hibridismo cultural e atravessada pelas idéias de fronteira e
trânsito: Manaus, uma capital que se separa da floresta pelas águas fluviais e se situa num estado que
faz divisa com três outros países. Ela também é a cidade natal do escritor. No livro também estão
presentes a diversidade de costumes, línguas, e a convivência entre indivíduos de diferentes
nacionalidades.
Em Relato de um certo Oriente, uma mulher visita a cidade de sua infância depois de ter passado quase
20 anos fora. E, a partir dos acontecimentos que se desenrolam após sua chegada, ela vai relembrando e
descobrindo histórias do seu passado e da família que a criou.
Ao retornar a Manaus, após ter permanecido internada em uma clínica de repouso em São Paulo, a
narradora chega justamente na noite que precede o dia da morte de Emilie, sua mãe adotiva.
Inicia-se, então, um outro trabalho, o de recuperar Emelie através da memória, não apenas a sua, mas
também a de outros personagens que entrelaçaram seu percurso de forma significativa ao daquela
família: o filho mais velho, o único a aprender o árabe e que também irá se distanciar de todos, ao
mudar-se para o sul; o alemão Dorner, amigo da família e fotógrafo; o marido de Emelie, recuperado,
mesmo depois de morto, através da memória de Dorner, e Hindié Conceição, amiga sempre presente, a
partilhar com a conterrânea a solidão da velhice. Muitas vozes a compor um mosaico, nem sempre
ordenado, nem sempre claro naquilo que revela, mas sobretudo rico em pequenos detalhes de extrema
significação.
No intuito de enviar uma carta ao irmão, que se encontra em Barcelona, a fim de lhe revelar a morte de
Emilie, acaba escrevendo um relato com depoimento de membros da família e de amigos, conforme o
irmão lhe pedira na última correspondência que lhe enviara. Esses testemunhos proporcionam uma
verdadeira viagem à memória, com regresso à infância e aos fatos marcantes da vida familiar.
Logo no primeiro capítulo, a narradora nos descreve uma parte da casa na qual acabara de acordar, em
Manaus. A descrição das duas salas contíguas é repleta de marcas identificatórias do Oriente, indicando
uma representação estilizada desse território: tapete de Isfahan, elefante indiano e reproduções de
ideogramas chineses são alguns dos objetos de consumo dos ocidentais, tomados como símbolos, que
estão presentes nos cômodos.
Em Relato de um certo Oriente as histórias falam das possibilidades e das dificuldades do trabalho com a
memória, das tensões e da convivência de culturas, religiões, línguas, lugares, sentimentos e sentidos
diferentes das personagens em relação ao mundo. A casa de Emilie, matriarca da família na narrativa do
Relato, é um microcosmo onde estas tensões aparecem e são vividas cotidianamente.
A obra, em sua estrutura e estratégia de composição, parece transitar e oscilar entre a narração – em
que a figura do narrador é extremamente importante e o relato é feito principalmente com base nas
tradições orais, como uma tentativa de rememoração das experiências coletivas do passado – e o
romance, que apareceria como um gênero literário decorrente das transformações da sociedade
capitalista, que destrói cada vez mais a possibilidade que a experiência comum viva e se revele no relato
dos narradores.
Análise da obra
Concluído em 1922, ano da morte de Lima Barreto, o romance Clara dos Anjos é uma denúncia áspera
do preconceito racial e social, vivenciado por uma jovem mulher do subúrbio carioca.
O Realismo-naturalismo, que tanto influenciou Lima Barreto na composição de Clara dos Anjos, é
cientificista e determinista, considerando que as ações humanas são produtos de leis naturais: do meio,
das características hereditárias e do momento histórico. Portanto, os romances naturalistas
procuravam, através da representação literária, demonstrar teses extraídas de teorias científicas. Para
isso, o Naturalismo buscou compor um registro implacável da realidade, incluindo seus aspectos
repugnantes e grotescos. São exatamente esses os aspectos que mais chamam à atenção na narrativa
exagerada de Clara dos Anjos.
Em Clara dos Anjos relata-se a estória de uma pobre mulata, filha de um carteiro de subúrbio, que
apesar das cautelas excessivas da família, é iludida, seduzida e, como tantas outras, desprezada, enfim,
por um rapaz de condição social menos humilde do que a sua. É uma estória onde se tenta pintar em
cores ásperas o drama de tantas outras raparigas da mesma cor e do mesmo ambiente. O romancista
procurou fazer de sua personagem uma figura apagada, de natureza "amorfa e pastosa", como se nela
quisesse resumir a fatalidade que persegue tantas criaturas de sua casta.
Espaço
O romance passa-se no subúrbio carioca e Lima Barreto descreve o ambiente suburbano com riqueza de
detalhes, como os vários tipos de “casas, casinhas, casebres, barracões, choças” e a vida das pessoas
que ali vivem.
Ao descrever o subúrbio, Lima Barreto aborda o advento dos “bíblias”, os protestantes que alugam uma
antiga chácara e passam a conquistar novos fiéis para seu culto:
“Joaquim dos Anjos ainda conhecera a "chácara" habitada pelos proprietários respectivos; mas,
ultimamente, eles se tinham retirado para fora e alugado aos "bíblias"… O povo não os via com
hostilidade, mesmo alguns humildes homens e pobres raparigas dos arredores freqüentavam-nos, já por
encontrar nisso um sinal de superioridade intelectual sobre os seus iguais, já por procurarem, em outra
casa religiosa que não a tradicional, lenitivo para suas pobres almas alanceadas, além das dores que
seguem toda e qualquer existência humana.” E reflete sobre a nova seita:
“Era Shays Quick ou Quick Shays daquela raça curiosa de yankees fundadores de novas seitas cristãs. De
quando em quando, um cidadão protestante dessa raça que deseja a felicidade de nós outros, na terra e
no céu, à luz de uma sua interpretação de um ou mais versículos da Bíblia, funda uma novíssima seita,
põe-se a propagá-la e logo encontra dedicados adeptos, os quais não sabem muito bem por que foram
para tal novíssima religiãozinha e qual a diferença que há entre esta e a de que vieram.”
A crítica às “novas seitas cristãs” revela também a ojeriza de Lima Barreto à influência americana no
Brasil. Como o colocou Antônio Arnoni Prado, o autor de Clara dos Anjos “interessou-se pelos Estados
Unidos, em virtude do tratamento desumano que este país dispensava aos seus cidadãos de cor. (…)
Censurou duramente a discriminação racial americana, assim como o expansionismo imperialista dos
‘yankees’, que, através da diplomacia do dólar, ia, a seu ver, convertendo o Brasil num autêntico
protetorado.” Nada mais profético.
Personagens
Marrameque - Poeta modesto, semiparalisado, Marramaque freqüentara uma pequena roda de
boêmios e literatos e dizia ter conhecido Paula Nei e ser amigo pessoal de Luís Murat.
Lima Barreto denuncia, na figura de Marramaque, a influência das rodas literárias, grupos fechados que
abundam no Brasil; a cultura da oralidade, dos que aprendem “muita coisa de ouvido e, de ouvido,
falava de muitas delas”, tendo um cultura superficial, de verniz; e o azedume dos que não conseguem
brilhar nas “rodas de gente fina”.
Clara: a “natureza elementar” - Clara era a segunda filha do casal, “o único filho sobrevivente…os
demais…haviam morrido.” Tinha dezessete anos, era ingênua e fora criada “com muito desvelo, recato e
carinho; e, a não ser com a mãe ou pai, só saía com Dona Margarida, uma viúva muito séria, que morava
nas vizinhanças e ensinava a Clara bordados e costuras.”
O autor reitera sempre a personalidade frágil da moça – sua “alma amolecida, capaz de render-se às
lábias de um qualquer perverso, mais ou menos ousado, farsante e ignorante, que tivesse a animá-lo o
conceito que os bordelengos fazem das raparigas de sua cor” – como resultado de sua educação reclusa
e “temperada” pelas modinhas:
“Clara era uma natureza amorfa, pastosa, que precisava mãos fortes que a modelassem e fixassem. Seus
pais não seriam capazes disso. A mãe não tinha caráter, no bom sentido, para o fazer; limitava-se a vigiá-
la caninamente; e o pai, devido aos seus afazeres, passava a maioria do tempo longe dela. E ela vivia
toda entregue a um sonho lânguido de modinhas e descantes, entoadas por sestrosos cantores, como o
tal Cassi e outros exploradores da morbidez do violão. O mundo se lhe representava como povoado de
suas dúvidas, de queixumes de viola, a suspirar amor.”
Essa “natureza elementar” de Clara se traduzia na ausência de ambição em melhorar seu modo de vida
ou condição social por meio do trabalho ou do estudo:
“Nem a relativa independência que o ensino da música e piano lhe poderia fornecer, animava-a a
aperfeiçoar os seus estudos. O seu ideal na vida não era adquirir uma personalidade, não era ser ela,
mesmo ao lado do pai ou do futuro marido. Era constituir função do pai, enquanto solteira, e do marido,
quando casada. (…) Não que ela fosse vadia, ao contrário; mas tinha um tolo escrúpulo de ganhar
dinheiro por suas próprias mãos. Parecia feio a uma moça ou a uma mulher.”
A descrição de Clara reforça os malefícios da formação machista, superprotetora, repressiva e limitadora
reservada às mulheres na nossa sociedade. Ecoa, portanto, a descrição de Luísa, do romance O Primo
Basílio, de Eça de Queirós, ou a Ana Rosa de O Mulato, de Aluísio de Azevedo. Todas são, na verdade,
herdeiras diretas da figura de formação débil, educada nas leituras dos romances românticos, que é
Emma Bovary, criada por Gustave Flaubert no romance inaugural do Realismo, Madame Bovary (1857).
Cassi: o corruptor - Por intermédio de Lafões, o carteiro Joaquim passa a receber em casa o pretendente
de Clara, Cassi Jones de Azevedo, que pertencia a uma posição social melhor. Assim o descreve Lima
Barreto:
“Era Cassi um rapaz de pouco menos de trinta anos, branco, sardento, insignificante, de rosto e de
corpo; e, conquanto fosse conhecido como consumado "modinhoso", além de o ser também por outras
façanhas verdadeiramente ignóbeis, não tinha as melenas do virtuose do violão, nem outro qualquer
traço de capadócio. Vestia-se seriamente, segundo as modas da rua do Ouvidor; mas, pelo apuro
forçado e o degagé suburbanos, as suas roupas chamavam a atenção dos outros, que teimavam em
descobrir aquele aperfeiçoadíssimo "Brandão", das margens da Central, que lhe talhava as roupas. A
única pelintragem, adequada ao seu mister, que apresentava, consistia em trazer o cabelo ensopado de
óleo e repartido no alto da cabeça, dividido muito exatamente ao meio — a famosa "pastinha". Não
usava topete, nem bigode. O calçado era conforme a moda, mas com os aperfeiçoamentos exigidos por
um elegante dos subúrbios, que encanta e seduz as damas com o seu irresistível violão.”
O padrinho Marramaque, que já lhe conhecia a fama, tenta afastá-lo de Clara quando percebe seu
interesse. Na festa de aniversário da afilhada, provoca Cassi e deixa claro que ele não é bem-vindo ali e
que seria melhor que se retirasse. Cassi vinga-se de modo violento: junta-se a um capanga e ambos
assassinam Marramaque. Clara, que já suspeitava das ameaças do rapaz ao padrinho, passa a temê-lo,
mas ele consegue seduzi-la, principalmente ao confessar seu crime, dizendo que matou por amor a ela.
Malandro e perigoso, Cassi já havia se envolvido em problemas com a justiça antes, mas sempre fora
acobertado pela sua família, especialmente sua mãe, que não queria que fosse preso. Assim, conseguia
subornar a polícia e continuar impune, mesmo depois de ter levado a mãe de uma de suas vítimas ao
suicídio e da perseguição da imprensa.
O exagero narrativo de Lima Barreto torna-se patente ao descrever a figura do sedutor. Branco,
sardento e de cabelos claros, é a antítese de Clara. Como o apontou Lúcia Miguel Pereira: “Até os
animais da predileção de Cassi, os galos de briga, são apresentados com visível má vontade:
‘horripilantes galináceos’ de ‘ferocidade repugnante’.”
Joaquim dos Anjos - carteiro, acredita-se músico escreveu a polca, valsas,tangos e acompanhamentos
de modina. polca: siti sem unhas; valsa: mágos do coração.
Uma polca sua - "Siri sem unhas" - e uma valsa - "Mágoas do Coração: - tiveram algum sucesso, a ponto
de vender ele a propriedade de cada uma, por cinqüenta mil-réis, a uma casa de músicas pianos da Rua
do Ouvidor. O seu saber musical era fraco; adivinha mais do que empregava noções teóricas que tivesse
estudo.
Aprendeu a "artinha" musical da terra do seu nascimento, nos arredores de Diamantina, em cujas festas
de igrejas a sua flauta brilhara, e era tido por muitos como o primeiro flautista do lugar. Embora
gozando desta fama animadora, nunca quis ampliar os seus conhecimentos musicais. Ficara na "artinha"
de Francisco Manuel, que sabia de cor, mas não saíra dela, para ir além" (p.21/22)
Natural de Diamantina, filho único. A convite de um inglês, pesquisador, foi para o Rio de Janeiro e lá
ficou. Confiava em todos que o rodeavam.
"Um dos traços mais simpáticos do caráter de Joaquim dos Anjos era a confiança que depositava nos
outros, e a boa fé. Ele não tinha, como diz o povo, malícia no coração. Não era inteligente, mas também
não era peco; não era sagaz, mas também não era tolo; entretanto, não podia desconfiar de ninguém,
porque isso lhe fazia mal à consiência." (p.115)
Dona Engrácia - era católica, romana, filhos trazidos na mesma religião, era caseira, insegura, e rude.
Calado - músico e compositor brasileiro (polcas "Cruzes, minha prima!")
Patápio Silva - "Uma polca sua - "Siri sem unha"- e uma valsa - "Mágoas do coração" - tiveram algum
sucesso, a ponto de vender ele a propriedade de cada uma, por cinqüenta mil-réis, a uma casa de
música e piano da Rua Ouvidor." (p.21).
João Pintor - era um cidadão que visitava "os bíblias" aqueles que pregavam o evangelho. "era preto
retinto, grossos lábios, malares proeminentes, testa curta dentes muito bons e muitos claros, longos
braços, manoplas enormes, longas pernas e uns tais pés que não havia calçado."(p.25).
Mr. Shays - chefe da seita bíblica, homem tenaz cheio de eloqüência bíblica faz seus adeptos ouvir a
palavra. Quando os adeptos se acham preparados põem-se a propagá-la.
Eduardo Lafões - religiosamente ia aos domingos à casa de Joaquim para jogar o solo. Eduardo Lafões
gostava dos assuntos do comércio. Era um homem simplório, que só tinha agudeza de sentidos para o
dinheiro. Vivendo sempre em círculos limitados, habituado a ver o valor dos homens nas roupas e no
parentesco, ele não podia conceber que torvo indivíduo era o tal Cassi; que alma suja e má era dele,
para se interessar generosamente por alguém.
Manuel Borges de Azevedo e Salustiana Baeta de Azevedo - pais de Cassi. O pai não gostava dos
procedimentos do filho, enquanto a mãe, cobria-lhe as desfeitas com as proteções.
Dona Margarida Weber Pestana - viúva, mãe de Ezequiel, descendente de Alemão; ela, russa. Casou no
Brasil com tipógrafo que falecera dois anos após o casamento. Era dona de uma pensão, mulher
corajosa.
"O Senhor Ataliba do Timbó deu em certa ocasião em persegui-la com ditinho de Amor chulo. Certo dia,
ela não teve dúvidas: meteu-lhe o guarda-chuva com vigor. À noite, no intuito de defender as suas
galinhas da sanha dos ladrões, de quando em quando, abria um postigo, que abrira na janela da cozinha,
e fazia fogo de revólver. Era respeitada pela sua coragem, pela sua bondade que era mulato, mais tinha
os olhos glaucos, translúcidos, de sua mãe meio eslava, meio alemã, olhos tão estranhos - olhos tão
estranhos e nós e, sobretudo, ao sangue dominante no pequeno." (p.60)
D. Laurentina Jácone - gostava de rezer, ficar zelando a igreja.
D. Vicêntina - cartomante.
"Além desta, havia uma digna de nota: era Dona Vicência. Morava na vizinhança também e vivia a deitar
cartas e cortar "cousas feitas". O seu procedimento era inatacável e exercia a sua profissão de
cartomante com toda a seriedade e convicção."(p.60)
Praxedes Maria dos Santos - "gostava de ser tratado por doutor Praxedes. Foi um dos convidados de
Joaquim. Era um homem bom. Ficou indeterminada das correspondência de Clara com o Cassi.
Etelvina - crioula, colega de Clara, notou a impaciência de Clara porque o rapaz Cassi ainda não chegara
à festa.
Leonardo Flores - grande poeta.
Velho Valentim - era português.
Barcelos - um português fichado na detenção.
Arnaldo - era um colega do grupo dos valdevino (desoculpados que andava com Cassi).
"Cassi explicou-lhe então que devia ir, naquela tarde, à venda do Nascimento, cuja rua e cujo número
lhe deu. Chegando lá, simularia ter ido procurar por "Seu" Menezes, que ele conhecia.
- Se ele não estiver? - indagou Arnaldo.
- Você diz que fica à espera e ouve o que se conversa lá. Nela, devem estar, entre outros o aleijadinho
que anda sempre fardado. Ele não conhece você, como os outros, conforme espero. O que você ouvir,
guarda e me conta. Se Meneses aparecer, você diz que quero falar com ele, negócio de interesse dele."
(p.91).
Menezes - o dentista da família. Intermediário dos bilhetes e cartas de Cassi para Clara. Senhor Monção
- caixeiro vendedor; Belmiro Bernedes & Cia. - "tocava realejo", era um moço português, simpático,
educado, e bom porte.
Helena - tia de Marramaque, econômica, prendada, costurava para o arsenal do governo.
D. Castolina - mulher de Meneses.
Leopoldo - marinheiro. Cedo, saiu de seio da família para melhorar de vida. Há 30 anos não via família.
Meneses com a sua pobreza tratou de visitar o imrão já que eram os únicos vivos da família.
Enredo
Clara é uma mulata pobre, que vive no subúrbio carioca com seus pais, Joaquim e Engrácia, mulher
“sedentária e caseira.” Joaquim era carteiro, “gostava de violão e de modinhas. Ele mesmo tocava
flauta, instrumento que já foi muito estimado em outras épocas, não o sendo atualmente como
outrora”. Também “compunha valsas, tangos e acompanhamentos de modinhas.” Além da música, a
outra diversão do pai de Clara era passar as tardes de domingo jogando solo com seus dois amigos: o
compadre Marramaque e o português Eduardo Lafões, um guarda de obras públicas.
Clara engravida e Cassi Jones desaparece. Convencida pela vizinha, dona Margarida, que procurara na
tentativa de conseguir um empréstimo e fazer um aborto, ela confessa o que está acontecendo à sua
mãe. É levada a procurar a família de Cassi e pedir “reparação do dano”. A mãe do rapaz humilha Clara,
mostrando-se profundamente ofendida porque uma negra quer se casar com seu filho. Clara “agora é
que tinha a noção exata da sua situação na sociedade. Fora preciso ser ofendida irremediavelmente nos
seus melindres de solteira, ouvir os desaforos da mãe do seu algoz, para se convencer de que ela não
era uma moça como as outras; era muito menos no conceito de todos.”
O autor representa, na figura de Clara e no seu drama, a condição social da mulher, pobre e negra,
geração após geração. No final do romance, consciente e lúcida, Clara reflete sobre a sua situação:
“O que era preciso, tanto a ela como às suas iguais, era educar o caráter, revestir-se de vontade, como
possuía essa varonil Dona Margarida, para se defender de Cassi e semelhantes, e bater-se contra todos
os que se opusessem, por este ou aquele modo, contra a elevação dela, social e moralmente. Nada a
fazia inferior às outras, senão o conceito geral e a covardia com que elas o admitiam...”
E, na cena final, ao relatar o que se passara na casa da família de Cassi Jones para a sua mãe, conclui, em
desespero, como se falasse em nome dela, da mãe e de todas as mulheres em iguais condições: “— Nós
não somos nada nesta vida.”
Este é o ponto de partida da narrativa de Bernardo Carvalho: um caso trágico, senão mórbido, perdido
nos anos e na memória. Bernardo decidiu, a partir de tão poucas informações, tecer um romance
utilizando a história fatídica de Buell Quain como base, entrelaçando história e ficção, texto jornalístico e
um estranho narrador que entrecorta todo o livro.
O narrador / confessor do antropólogo responde pela parte ficcional de Nove Noites, ao passo que o
próprio Bernardo Carvalho encarna e responde pelo lado jornalístico, do levantamento de dados que
indiquem os reais motivos que levaram Buell Quain a dar cabo de sua existência. Não se sabe quem
investiga, até porque ninguém nunca lhe perguntou a razão da sua curiosidade. Há a desculpa de querer
escrever um livro, que vai adiantando para não levantar suspeitas. A mistura que o autor tenta levar a
termo é extremamente interessante como recurso literário: insere fotos e personagens da década de
1930 na história, como pessoas reais ou imaginárias, o leitor nunca sabe exatamente onde está pisando.
Pela sua mão somos guiados por entrevistas com pessoas que privaram com Quain, arquivos públicos, e
memórias deixadas em cartas, escritas pelo suicida antes de morrer, e por um seu amigo, com quem
partilhou nove noites de conversas e revelações.
São vários mistérios que se interligam, e adensam a narrativa, em que o leitor partilha a claustrofobia e
evasão de identidade das personagens. Da mesma forma, Bernardo Carvalho abre um campo de
especulação na mente do leitor, não somente sobre os motivos que ocasionaram a morte de Buell
Quain, mas principalmente sobre o significado e as conseqüências da transferência de um jovem norte-
americano para o interior das florestas brasileiras. O autor junta habilmente a realidade e a ficção, o
romance e a investigação que desenvolveu sobre os índios e sobre o antropólogo. Como nos diz o
próprio autor nos agradecimentos é uma combinação de memória e imaginação, - como todo o
romance, em maior ou menor grau, de forma mais ou menos direta.
Em outras palavras, Nove Noites é um excelente exemplo do nem sempre salutar choque cultural.
Nove Noites desconstrói as estratégias da narrativa realista e propõe um jogo com o real, jogo no qual,
além de desconstruir as estratégias da narrativa realista, este romance desafia os modos nos quais a
cultura de massas "consome" realidade.
A história de Quain é verdadeira. O autor soube dela por um artigo no "Jornal de Resenhas", da "Folha
de S. Paulo", escrito pela antropóloga Mariza Corrêa, em que o caso era citado de passagem.
A história do escritor, ao menos em parte, também procede: na orelha do livro há uma foto de Carvalho,
aos seis anos, ao lado de um índio do Xingu, região onde seu pai de fato fora proprietário de terras. O
resto permanece em suspense - e nem o próprio autor parece disposto a separar fato de ficção.
Enredo
O antropólogo americano Buell Quain suicidou-se em 1939, aos 27 anos, poucos dias após deixar uma
aldeia indígena no interior do Brasil. No fim dos anos 60, um menino de seis anos de idade, contrariado,
freqüenta a região do Xingu, onde o pai comprou uma fazenda. Mais de 30 anos depois, o menino se
transformou num escritor empenhado em reconstruir a trajetória de Quain e, por conseqüência,
passagens da própria infância.
Em Nove Noites, o personagem histórico "biografado" – o Bell Quain - e o narrador "biógrafo" não se
relacionam alegoricamente, mas sim metonimicamente. A obsessão pelo suicídio do antropólogo no
Xingu revela um trauma do próprio narrador, que teria convivido na infância com os índios: a
representação do inferno (...) fica no Xingu da minha infância (p. 60). Na busca de dados sobre Quain, o
narrador volta ao Xingu para ouvir o que os índios lembram do Quain. Mas não consegue nenhuma
informação, e em troca é ele quem lembra da infância, quando acompanhava o pai nas viagens pelas
suas fazendas de Mato Grosso e Goiás.
No livro uma experiência traumática se configura como uma máquina de tempo, que relaciona
momentos da história nacional. Assim, a história do suicídio de Bell Quain acaba mexendo com o trauma
do próprio narrador. Quando ele está no hospital acompanhando o pai no seu leito de morte,
testemunha a última hora de um velho desconhecido, que ocupa a cama do lado, e que está morrendo
em solidão. O velho, no seu delírio, chama o narrador de "Bill Cohen", confundindo-o com um amigo de
juventude. Muitos anos depois, o nome de "Buell Quain", mencionado num jornal, traz no narrador a
reminiscência daquele outro nome que ouvira pronunciado pelo velho. Mas não é o mesmo nome, o
narrador o deixa bem claro: de repente me lembrei de onde o tinha ouvido antes e, fazendo a devida
correção ortográfica na minha cabeça, descobri de quem falava o velho americano no hospital (p. 147)
(...)em momento nenhum deixei de desconfiar da possibilidade, ainda que pequena, de uma confusão ou
de um delírio da minha parte. Podia ter ouvido errado, os meses que precederam a morte do meu pai
foram especialmente tensos, e eu não andava com a cabeça no lugar (p.153). Ou seja, a leitura do nome
do antropólogo no jornal se torna disparador da experiência traumática, entendendo por ela a resposta
a um evento ou eventos violentos inesperados ou arrebatadores, que não são inteiramente
compreendidos quando acontecem, mas que retornam mais tarde em flash- backs, pesadelos e outros
fenômenos repetitivos.
A morte do pai, que ocorrera estando ele ausente, apenas é relatada: era o dia da minha partida. Minha
vida seguiu o seu rumo. Meu pai morreu três meses depois. Fiquei três anos fora. Até a própria sintaxe -
seca, mínima - desloca a importância do fato da morte do pai. No entanto, se o narrador chega – na
imaginação do velho - como substituto de Quain; em troca o velho oferece a possibilidade de
testemunhar sua morte, em substituto da morte do pai, que ocorrera quando ele já tinha partido. Essa
troca de papéis (a morte do velho substituindo a do pai, a chegada do narrador substituindo a do velho
amigo Quain) funciona como um deslocamento, que pode explicar por que o mistério da morte de
Quain provoca uma obsessão, uma vez que ele remete à cena misteriosa de primeira vez que o narrador
vira um homem morrer e, é claro, ao mistério da morte silenciosa do pai. O narrador e sua irmã têm
disputado a herança do pai com a última mulher dele, que é quem acaba ficando com tudo: o pai só
deixa aos filhos seu silencio como herança. Como disse o testamento de Manoel Perna, único amigo de
Quain no Brasil: o segredo, sendo o único bem que se leva para o túmulo, é também a única herança que
se deixa aos que ficam, como você e eu, à espera de um sentido, nem que seja pela suposição do
mistério, para acabar morrendo de curiosidade (p. 7).
Esse mistério (da morte de Quain e, segundo a nossa hipótese, também da morte do próprio pai)
provoca uma obsessão no narrador, mas não pode senão ficar como mistério, buraco negro da
narrativa. Assim, o testamento de Manoel Perna, o amigo que passara "nove noites" com Quain, que é
um documento chave da pesquisa, no entanto, é escrito – inventado - pelo próprio narrador (segundo
ele próprio confessa, quase no final do romance, desestabilizando completamente o estatuto de
verdade dos fatos narrados). Ou seja, a "prova" principal, o fio narrativo da historia de Quain, é
declarada falsa "na cara" do leitor. E, apesar da decepção, o interesse se mantém, e até aumenta depois
dessa revelação, pois o que interessa é mais a própria pesquisa do que alguma suposta verdade sobre
Quain: interessa a relação do narrador com essa história e aonde ela o conduzirá.
A pesquisa sobre a morte de Quain vai construindo uma trama pseudo-policial no romance, mas se
revela menos como caminho à verdade do que como elaboração do trauma, pois é o trauma da infância
que aproxima afetivamente ao narrador com Quain: Buell Quain também havia acompanhado o pai em
viagens de negócios (...) Mas se para Quain, que saía do Meio-Oeste para a civilização, o exótico foi logo
associado a uma espécie de paraíso (...) para mim as viagens com o meu pai proporcionaram antes de
mais nada uma visão e uma consciência do exótico como parte do inferno. (p.64) Quando retorna junto
aos índios, como exigência da sua pesquisa, esse encontro é descrito como infernal. Lacan considera que
o real se apresenta sob a forma do inassimilável do trauma; ele aporta a noção de "tyché" como uma
forma de nomear o real como encontro falido. Ao se tratar de um trauma (ou seja, aquilo que não pode
ser narrado, nem representado), é evidente por que cada um dos documentos que o narrador encontra
ao mesmo tempo que revelam, encobrem. As cartas que documentam aspectos da história teriam sido
duvidosamente traduzidas, sobre elas se constrói o testamento, que sabemos falso. O narrador vai em
busca do filho do velho que morrera no hospital, achando que esse velho poderia ter sido o fotografo
amigo de Quain, mas quando o encontra, acha que seus traços se parecem não aos do velho mas aos de
Quain. Quer dizer, a escrita se torna totalmente paranóica (e isto é típico dos romances de Carvalho), ao
ponto que nada mais parece confiável. A "realidade" da ficção se desmancha. As histórias dependem
antes de tudo da confiança de quem as ouve (p. 8), diz o narrador. Mas as armadilhas do texto, que
transita entre o documentário e o ficcional, entre o subjetivo e o histórico, e mistura tudo, não oferecem
ao leitor nenhuma possibilidade de confiar.
Em Nove noites o passado não deixa de retornar (na estrutura em abismo, na qual um tempo contém o
passado e o futuro), retornam os rostos, as lembranças, as experiências.
Trecho do livro (páginas 114 a 117)
Isto é para quando você vier. Ele voltou a Carolina sem sapatos. Queria passar o aniversário na cidade.
Naquela noite, me falou de outra ilha. Me disse que eu não podia imaginar. Eu já não tinha imaginado
antes, quando me falara da ilha onde havia passado dez meses entre os nativos do Pacífico, já fazia
quatro anos, do outro lado do mundo. Agora, já não falava da mesma.
Não era a ilha em que adormecera sob as estrelas, embalado pelas histórias que um nativo lhe contava
do crepúsculo à aurora, ao longo de semanas ininterruptas. Me lembro de vê-lo rindo pela primeira vez
da própria história, quando chegou a Carolina, quando me falou da ilha no Pacífico, ainda na primeira
noite em que bebemos juntos, fazia mais de dois meses, comentando as cutucadas que o nativo lhe dava
em vão, para mantê-lo acordado, e de como fiquei sem graça quando ele de repente parou de rir para
assumir uma expressão grave e prosseguir o relato, dizendo que o nativo, diante da inutilidade das
tentativas de mantê-lo desperto, terminava por se deitar ao seu lado também.
Fiquei constrangido com a idéia de que pudesse pensar que eu estava cansado de suas histórias e de
que, sem perceber, ele insinuasse alguma coisa ao me contar aquela.
Quando o etnólogo acordava na sua ilha do Pacífico, o sol já estava alto e o contador de histórias tinha
ido embora. Quando voltou a Carolina no final de maio, me mostrou orgulhoso a foto e o desenho que
fizera de próprio punho, retratos de negros enormes e fortes, para que eu pudesse ter um a idéia do que
me dizia. Eu não podia ter imaginado que a aldeia não ficava na praia, mas morro acima, até ele me
falar da Floresta Interior, governada por um chefe que mantinha um dente de baleia pendurado no peito
como símbolo de poder.
Na ilha, os chefes eram sagrados, assim como tudo que eles tocavam. As aldeias na costa foram
aculturadas pelos invasores de outras ilhas, que por sua vez foram influenciados pelos europeus. Só os
nativos do interior mantinham intacto aquilo que ele procurava: uma sociedade em que, a despeito da
rigidez das leis, os próprios indivíduos decidiam os seus papéis dentro de uma estrutura fixa e de um
repertório predeterminado.
Havia um leque de opções, embora restrito, e uma mobilidade interna. Foi o que ele me disse. sempre
teve fascínio pelas ilhas. São universos isolados. Arrumou o primeiro emprego com apenas quinze anos e
foi trabalhar, durante as férias de 1928, como " controlador do tempo e das horas" – foi nesses termos
canhestros que ele tentou me explicar, com o auxílio de gestos, a sua tarefa no canteiro de obras de uma
estrada de ferro numa região inexplorada no coração do Canadá, com a poesia involuntária dos que não
conhecem a língua em que tentam se exprimir.
Aproveitava os dias de folga para explorar as ilhas da região, rascunhando mapas que mandava para
casa no lugar de cartas e que mostravam a sua posição no mundo. Avançava por rochedos e florestas de
abetos, horas a fio a desbravar regiões desérticas em sua fantasia de pioneiro solitário, a embrenhar-se
na natureza até não restar outra fronteira para sua liberdade além dos limites do próprio corpo, até
nada além do corpo impedir a fusão com a paisagem em que já se dissolvera em espírito.
Eram territórios que trilhava sozinho no verão ártico, infestado de mosquitos, e cujos mapas eram uma
indissociável combinação da sua experiência e da sua imaginação. Assim como o que tento lhe
reproduzir agora, e você terá que perdoar a precariedade das imagens de um humilde sertanejo que não
conhecendo o mundo e nunca viu a neve e já não pode dissociar a sua própria imaginação do que ouviu.
Mas não foi de nenhuma dessas ilhas que ele me falou quando voltou a Carolina descalço e humilhado
no final de maio. Foi de uma outra, à qual se chegava de balsa, depois de duas horas de trem, vindo da
cidade. Uma ilha que conheceu adulto. Falou de uma casa com vários quartos, todos ocupados por
amigos. Já não se expressava com tristeza nem com alegria. E eu não saberia dizer que sentimentos
guardava daquela lembrança.
Contou de uma tarde em que, voltando de uma caminhada solitária pela praia, onde abandonara os
colegas, deparou com a casa excepcionalmente vazia e um homem sentado na cozinha. E que, antes de
poder se apresentar, o estranho, saindo da sombra, sacou de uma máquina fotográfica e registrou para
sempre o espanto e o desconforto do antropólogo recém-chegado de um passeio na praia, surpreendido
pelo desconhecido. Numa das noites em que veio à minha casa durante a sua passagem por Carolina, no
final de maio, o dr. Buell confessou que viera ao Brasil com a missão de contrariar a imagem revelada
naquele retrato.
Como um desafio e uma aposta que fizera consigo mesmo. Havia sido traído pelo intruso e sua câmera.
Não podia admitir que aquela fosse a sua imagem mais verdadeira: a expressão de espanto diante do
desconhecido. Havia sido pego de surpresa pelo fotógrafo, antes de poder dizer qualquer coisa. E
embora depois tenham se tornado amigos, por muito tempo o estranho não conseguiria tirar outra foto
dele. Até irromper um dia em seu apartamento, sem avisar, decidido a fotografá-lo de qualquer jeito,
depois de ter sabido que ele estava de partida para o Brasil.
Queria uma lembrança do amigo antes de embarcar para a selva da América do Sul. Eu só sei que esse
estranho era você.