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MACHADO DE ASSIS

O REALISMO MACHADIANO
 Embora seja realista, Machado extrapolou os pressupostos
mais caros à estética.
 Seu realismo se configura na abordagem de situações que
guardam estreita relação com a realidade.
 A maneira, entretanto, como aborda aponta para uma
estrutura que foge às características realistas-naturalistas.
 Machado enceta várias inovações estruturais que, em alguns
casos, chegam antecipar características modernistas.
 Em Memórias póstumas de Brás Cubas, o narrador é um
defunto-autor, o que quebra a verossimilhança.
 Em Dom Casmurro, o narrador quer provar a culpabilidade
da esposa, através de argumentos de natureza subjetiva.
 Em contos, como Uns braços e Missa do galo, a temática é
intensamente psicológica, porque toda a trama está
centrada nas sensações interiores das personagens.
 Os pressupostos cientificistas, tão em moda na época, são
ironizados em várias de suas narrativas, mas aparecem
com mais contundência em o Alienista.
AS DUAS FASES MACHADIANAS
 A produção romanesca de Machado de Assis, de acordo com a crítica, é
dividida em duas fases: uma romântica e outra realista.
 Na fase romântica, destacam-se romances como A Mão e a Luva,
Helena, Ressurreição, e Iaiá Garcia, e alguns contos, como Miss Dolar.
 A chamada fase realista, a mais substancial de sua produção, engloba
romances e contos, em que se destacam:
 Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro,
Esaú e Jacó e Memorial de Aires, romances, e os contos O Alienista, A
Cartomante, Uns braços, O Enfermeiro e Missa do galo.
A FASE ROMÂNTICA
 Os romances da fase romântica apresentam ainda um enredo com estrutura
de folhetim, em que a trama parece ser o elemento fundamental, a exemplo
do que acontecia com o romance romântico.
 Entretanto, já é possível perceber a propensão machadiana para esboçar o
caráter das personagens, através de um enredo em que se evidencia ações
embasadas no interesse e em conflitos psicológicos.
 A temática do amor platônico, calcada em torno de dois personagens,
desaparece nos romances da primeira fase de Machado, ocorrendo um
insinuado triângulo amoroso, que será elemento fundamental na fase realista
do autor.
 Também o chamado final feliz, tão caro aos românticos, em suas obras
desaparece, dando lugar a um desfecho em que as personagens não
conseguem resolver satisfatoriamente os seus conflitos de ordem sentimental.
SINTETIZANDO AS CARACTERÍSTICA DA PRIMEIRA FASE

Os romances dessa fase ainda não possuem densidade


psicológica.
Os personagens ainda não são complexos, apresentando-se
lineares.
Os enredos ainda são eivados de peripécias, constituindo-se
em romances de ação.
Os romances ainda possuem estrutura de folhetim.
O enredo é estruturado em torno de uma história de amor, se
bem que não seja platônico.
Percebe-se já a tendência do narrador aos comentários, às
digressões de ordem psicológica.
Os personagens já agem por interesse amoroso, inclusive o
amor já é materialista.
Nos desfechos das narrativas, observa-se já uma ponta de
pessimismo.
ROMANCES DA PRIMEIRA FASE
 Em Ressurreição, Machado já adverte: Não quis fazer romance de costumes; tentei o
esboço de uma situação e o contraste de dois caracteres; com esses simples
elementos busquei o interesse do livro.
 A trama é centrada em torno do Dr. Félix, que, apesar de não acreditar no amor, se
apaixona por uma viúva, a bela Lívia, sendo emocionalmente instável e sacudido a
todo momento por impulsões devido ao temperamento desconfiado e inseguro, o que
leva Lívia a romper com a situação.
 Em a Mão e a luva, narra-se a história de Guiomar, moça altiva e segura de si, que
procura, com frieza e cálculo, realizar o ambicioso plano de ascender socialmente,
compensando a sua modesta origem. A obra relata com ironia o casamento, visto como
troca de favores e movido pelo dinheiro e pela ambição.
 Neste romance, já aparecem personagens com um certo grau de complexidade
psicológica, como Guiomar, a heroína, que tem a sua volta três pretendentes: Estevão,
sentimental; Jorge, calculista; Luís Alves, ambicioso. A estes três junta-se a baronesa,
sob cuja proteção encontra-se a órfã Guiomar e a inglesa Mrs. Oswald, dama de
companhia.
 Em Helena, observa-se a temática da ambição social como elemento
condutor da narrativa, mas a trama ainda guarda resquícios da
estrutura folhetinesca do Romantismo.
 A história gira em torno do Conselheiro Vale, um homem importante e
rico, que mantém caso amoroso com uma mulher que tinha se parado
do marido devido a dificuldades financeiras. A mulher já possuía uma
filha, que, mais tarde, foi perfilhada pelo amante rico.
 Helena sabe que não é filha do Conselheiro, mas aceitando a situação
por interesse na herança, mas acaba se apaixonando por Estácio que,
por sua vez, está comprometido com Eugênia, cuja família está
interessado na riqueza do rapaz.
 No desfecho, Helena adoece e morre, antes revelando que amava
Estácio e que, na verdade, não era irmão dela, mas a felicidade da
possível união amorosa não se concretiza.
 Em Iaiá Garcia, o enredo se constitui de uma série de incidentes que
giram sempre em torno do mesmo ponto, a realização ou a não-
realização de um casamento. Todos os atos das personagens são
conduzidos, de modo direto ou indireto, para a consecução ou para o
impedimento desse objetivo.
 O romance trata do conflito social entre as classes, aproveitando como
eixo o romance entre Jorge, um cavalheiro de alta sociedade e Estela,
uma jovem pobre. A adolescente Iaiá funciona como observadora dos
fatos que se desenrolam à sua frente.
 A mãe de Jorge, Valéria Gomes, viúva rica, não quer para seu filho
uma esposa pobre e sem lustro social, a moça era filha de Luís Garcia,
um ex-empregado de seu falecido pai.
 Com o retorno de Jorge da guerra do Paraguai, sua mãe já morta,
encontros e desencontros, risos e lágrimas, Jorge por fim acaba por se
casar com Iaiá.
A LINGUAGEM MACHADIANA E A
ESTRUTURA DOS ROMANCES
REALISTAS.
AS OBRAS DA SEGUNDA FASE MACHADIANA

 Memórias póstumas de Brás Cubas


 Quincas Borba
 Dom Casmurro
 Esaú e Jacó
 Memorial de Aires
 A maioria dos contos

Nestas obras, Machado inova na linguagem e na estrutura, tornando-


se, desta maneira, um precursor do Modernismo.
DIÁLOGO COM O LEITOR/ O LEITOR INCLUSO
Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele
 Machado insere o leitor na me canse: eu não tenho que fazer; e, realmente,
narrativa com o objetivo de expedir alguns magros capítulos para esse mundo
sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade.
torná-lo cúmplice e ao mesmo Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz
tempo ironizá-lo. certa contração cadavérica: vício grave, e aliás
ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu,
 No diálogo com o leitor o leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda
narrador metalinguisticamente devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o
estabelece uma teoria da estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo
são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda,
narrativa, constituindo-se, pois, andam e param, resmungam, urram, gargalham,
numa inovação para a época. ameaçam o céu, escorregam e caem...
PERSONAGENS
• São geralmente burgueses – classe dominante;

• Procura desmascarar o “jogo” das relações sociais;

• Enfatiza o contraste entre aparência x essência;

• Mostra-nos de maneira impiedosa e ajuda a vaidade, a


futilidade, a hipocrisia, a inveja, o prazer carnal.
O NARRADOR INTRUSO, AMBIGUIDADE DO FOCO
NARRATIVO E A POLIFONIA
 O narrador onisciente do romance “Este Quincas Borba, se acaso me fizeste o
realista com Machado penetra na favor de ler as Memórias póstumas de Brás
Cubas, é aquele mesmo náufrago da
narrativa, dando opiniões, existência, que ali aparece, mendigo, herdeiro
comentando e participando dos fatos inopinado, e inventor de uma filosofia. Aqui o
narrados. tens agora em Barbacena.”
( ... )
 Essa atitude provoca ambiguidade,
com o narrador oscilando entre “Se a guerra não fosse isso, tais
demonstrações não chegariam a dar-se, pelo
primeira e terceira pessoa. motivo real de que o homem só comemora e
ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo
 Embora suas narrativas possuam um motivo racional de que nenhuma pessoa
narrador, percebe-se a presença de canoniza uma ação que virtualmente a destrói.
várias vozes narrativas, o que provoca Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor,
as batatas.”
uma polifonia.
INTERTEXTUALIDADE/CITAÇÕES BIBLÍCAS, FILOSÓFICAS,
CLÁSSICAS, PROVÉRBIOS POPULARES E PARÓDIAS.
CONSTANTEMENTE MACHADO USA DO RECURSO DA INTERTEXTUALIDADE PARA EXPLICAR,
JUSTIFICAR, IRONIZAR, SATIRIZAR E PARODIAR. AS IDEIAS ORIGINAIS CITADAS SÃO
DESMISTIFICADAS.
“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou
pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a
minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento,
duas considerações me levaram a adotar diferente método: a
primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um
defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a Segunda é que o
escrito ficaria assim mais galante e mais novo, Moisés, que também
contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo: diferença
radical entre este livro e o Pentateuco.”
DIGRESSÕES/ COMENTÁRIOS/EXPLICAÇÕES
As narrativas machadianas são por natureza digressivas, ou seja, comentadas e
explicadas, recurso que favorece ao seu realismo atípico, bastante preocupado
com o entendimento dos comportamentos.

“Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um


emplasto anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade.
Na petição de privilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse
resultado, verdadeiramente cristão. Todavia, não neguei aos amigos as vantagens
pecuniárias que deviam resultar da distribuição de um produto de tamanhos e tão
profundos efeitos. Agora, porém, que sou cá do outro lado da vida, posso
confessar tudo: o que me influiu principalmente foi o gosto de ver impressas nos
jornais, mostradores, folhetos, esquinas e enfim nas caixinhas do remédio, estas
três palavras: Emplasto Brás Cubas.”
 INTROSPECÇÃO/ O PSICOLOGISMO/ ANÁLISE PSICOLÓGICO-PSICANALÍTICA DAS
PERSONAGENS

A Machado interessa muito mais sondar a alma humana, entender seus comportamentos interiores
do que suas ações. São as chamadas narrativas interiorizadas, introspectivas. Esse recurso
machadiano antecipa as narrativas psicanalíticas do século XX.

 LINGUAGEM LACUNAR/ LINGUAGEM ELÍPTICA/ O NÃO DITO

Considerado um recurso inovador, Machado contraria o conceito de racionalismo dos realistas ao


criar um discurso ambíguo e cheio de não ditos. Abre, portanto, para inexatidão dos fatos,
deixando o leitor em dúvida no desfecho das narrativas.

 LINGUAGEM CORROSIVA – IRONIA FINA, HUMOR SUTIL E PERMANENTE, SÁTIRA E


PARÓDIA.

Machado antecipa a linguagem corrosiva dos modernistas ao criar um discurso que desconstrói as
ideologias vigentes, através de um senso de humor sem precedentes. Assim Machado cria uma
caricatura da sociedade que retrata, parodiando os costumes e as ideias.
 METALINGUAGEM
O narrador machadiano sente uma necessidade de explicar o narrado, principalmente suas inovações estruturais.
Os recursos intertextuais servem à metalinguagem.

 QUEBRA DA ESTRUTURA LINEAR/ ENREDO NÃO LINEAR/ FLASH-BACK


O flashback por si só não provoca quebra, mas Machado abusa desse recurso, narrando não só no recuo, mas
também em ziguezague. Por isso quebra constantemente a sequência lógica e temporal.

 CAPÍTULOS CURTOS/ MICROCAPÍTULOS DIGRESSIVOS


Os capítulos curtos, por um lado, são em decorrência da intenção de Machado em não querer enfadar o leitor
com longos comentários, mas, por outro, é um recurso que favorece aos comentários.

 QUEBRA DA VEROSSIMILHANÇA

Contrariando as regras do Realismo, Machado quebra a verossimilhança na criação de elementos irreais, sem
lógica, como acontece com Brás Cubas que é um defunto autor.

 A FUSÃO OBJETIVIDADE/SUBJETIVIDADE

As narrativas machadianas contrariam o Realismo de escola ao fundir objetividade e subjetividade. Em outras


palavras, os fatos são objetivos, mas a interpretação dada pelo narrador ou personagens é subjetiva.
A TEMÁTICA MACHADIANA
 O ADULTÉRIO
A temática da infidelidade amorosa, em Machado, ocorre com os seguintes objetivos:
 Desmistificar o chamado amor romântico.
 Satirizar as relações sociais burguesas.
 Desnudar as aparências sociais da sociedade burguesa.
 Satirizar as relações sociais e culturais da sociedade burguesa.

A AMBIGUIDADE FEMININA
A exemplo de Alencar, Machado cria os chamados perfis de mulheres. São mulheres dissimuladas,
ambíguas, interesseiras e ardilosas.

 Capitu – Dom Casmurro.


 Vigília, Marcela, Dona Plácida – Memórias Póstumas de Brás Cubas.
 Sofia – Quincas Borba.
 Conceição – Missa do Galo.
 Dona Severina – Uns braços.
 Rita – A cartomante.

Ao contrário do que se pensa Machado não dá a essas mulheres um conceito negativo, mas
principalmente, uma atitude de defesa diante de uma sociedade machista e patriarcal.
 A FALTA DE GRANDEZA NO HOMEM: HIPOCRISIA, PERFIDIA, DISSIMULAÇÃO,
INTERESSE.

Machado possui uma visão radicalmente pessimista do ser humano. O homem é por natureza
mau caráter.

 A DUALIDADE DO SER HUMANO / A CONTRADIÇÃO/ SER E PARECER

A visão machadiana sobre o homem é desidealizada. Segundo ele, o homem já traz em seu
interior um comportamento contraditório. Por isso, suas atitudes são de aparência,
escondendo evidentemente a sua essência. Para Machado, o homem tem inclinação a ser
mau-caráter.

 A DÚVIDA, O TALVEZ

Machado é cético em relação à previsibilidade dos comportamentos humanos e das relações


sociais. Ao contrariar o que preceituava a ciência da época, Machado abre espaço para a
dúvida quando aos valores humanos e sociais autênticos.
VISÃO METAFÍSICA RELATIVISTA DE TODOS OS VALORES HUMANOS.

A dúvida em relação aos comportamentos humanos e sociais proporciona a Machado a


relativizar as atitudes do homem e aos valores sociais. A autenticidade é uma questão
de conveniência.

O PESSIMISMO/ A VISÃO NIILISTA

Decorre de sua visão cética do homem e da sociedade. Para Machado, o homem e a


sociedade burguesa não abrem possibilidade de melhorar.

CONFUSÃO ENTRE RAZÃO E LOUCURA

Machado ironiza os conceitos de loucura do século XIX com duas narrativas


impecáveis: Quincas Borba e o Alienista. Em ambas percebe-se a inversão dos
conceitos de loucura. Os que pensam são loucos, e os que são loucos raciocinam.
SÁTIRA AOS CONCEITOS CIENTÍFICOS E FILOSÓFICOS

Machado relativiza os conceitos das ciências e das filosofias do século XIX,


principalmente, no tocante á pretensão de verdade absoluta. Cético quanto a esta
questão, Machado ironiza os conceitos criando personagens e situações pelo avesso.

TEORIAS FREUDIANAS: PROIBIDO X PERMITIDO/ EXPLÍCITO X IMPLÍCITO/


DESEJOS REPRIMIDOS

Machado antecipa a psicanálise de Freud do século XX ao trabalhar com temas


desconhecidos e pouco esclarecidos em sua época. O desejo reprimido é o tema mais
explorado em seus romances.
ANÁLISE DOS PRINCIPAIS
ROMANCES MACHADIANOS
MEMÓRIAS PÓSTUMAS
DE BRÁS CUBAS
 O romance é narrado em primeira pessoa, narrador personagem Brás Cubas,
portanto, um defunto autor.
 Brás Cubas é uma espécie de anti herói, que narra sarcástica e ironicamente
sua trajetória existencial desde sua sepultura.
 A narração de Brás Cubas é eivada de ironia, mas uma ironia fina em que se
percebe a intenção de desnudar a aparência da sociedade em que viveu.
 Brás Cubas faz um inventário das relações sociais, afetivas e políticas da
sociedade burguesa da segunda metade do século XIX.
 Ganham destaque, por conseguinte, as relações com a família, principalmente,
com o pai que queria vê-lo casado e a brilhar como deputado ou ministro.
 As relações afetivas também são destacadas, principalmente, com Virgília,
Marcela, Eugênia e Eulália com as quais Brás Cubas namorou.
 No final de sua vida, Brás Cubas conhece Quincas Borba, mendigo inicialmente, e
depois, rico e filósofo. Tenta fazer Brás Cubas entender sua filosofia, que,
ironicamente, explica o fracasso do protagonista.

 A filosofia de Quincas Borba, Humanitas, cujo desenvolvimento vai acontecer no


romance Quincas Borba, é baseada no aforismo: “Ao vencedor as batatas”.

 Durante toda a sua trajetória existencial, Brás Cubas perseguiu a fama, o


reconhecimento e a celebridade, fracassando em todas as suas tentativas.

 No desfecho tenta comercializar sua descoberta; o emplasto Brás Cubas, mas contrai
uma pneumonia e morre.

 Mesmo diante do fracasso social e existencial, Brás Cubas se considera um


vencedor: “Não teve filhos, portanto não transmitiu a nenhuma criatura o legado de
nossa miséria” e também” não precisou do suor do rosto para ter o pão de cada dia”.
 Espécie de anti modelo, anti herói, personagem símbolo da ironia
machadiana quanto ao ideal burguês de "vencer na vida".

 A figura de Brás Cubas constitui uma inversão da travessia dos heróis


burgueses, tematizados pela literatura racionalista.

 Brás Cubas em toda a sua trajetória fracassa em sua tentativa de glória


e de riqueza.
QUINCAS BORBA
 O romance é narrado em terceira pessoa, narrador onisciente, mas com
passagens em que ele se torna intruso.

 O romance acompanha a trajetória do modesto professor Rubião, que de pobre


se torna rico e depois volta a ser pobre.

 Rubião mora em Barbacena, Minas Gerais, e além de professor cuida como


enfermeiro de Quincas Borba, um filósofo semilouco que já apareceu no
romance Memórias Póstumas de Brás Cubas.

 Ao morrer, na casa de seu amigo Brás Cubas, no Rio de Janeiro, Quincas deixa
toda a sua herança para Rubião que decide também morar no Rio de Janeiro.

 Para ter toda a herança. Rubião terá também de tomar conta do cachorro
Quincas Borba, condição para manter sua riqueza em mãos.
 Durante sua doença, o velho filósofo tenta ensinar a Rubião uma filosofia, chamada
de Humanitas que é uma sátira aos conceitos científicos do Positivismo e do
Darwinismo.

 Humanitas conceitua o homem como sendo “o lobo do próprio homem” e tem como
máxima a frase “ao vencedor as batatas”.[

 Rubião, muito ingênuo, não compreende a essência da filosofia, o que só vai ser
possível mais tarde quando fica louco.

 De posse da riqueza, Rubião vai morar no Rio de Janeiro, onde é explorado por um
casal: Cristiano Palha e Sofia.

 Enquanto Sofia engana Rubião fingindo namorá-lo, Palha subtrai todo o dinheiro do
ex-professor que fica totalmente pobre.
 Sem Sofia, que prefere trair o marido com Carlos Maria, Rubião
enlouquece paulatinamente, e volta para Barbacena.

 Já em Minas, Rubião contrai uma pneumonia, e morre em companhia


do cachorro Quincas Borba a quem abandonou quando estava no Rio
de Janeiro.

 Neste romance, Machado de Assis ironicamente critica o cientificismo


darwiniano e o positivismo de Augusto Conte, através da
pseudofilosofia, Humanitas.
DOM CASMURRO
 Romance narrado em primeira pessoa, narrador personagem Dom
Casmurro.
 Dom Casmurro é advogado sexagenário que leva uma vida solitária, no
Rio de Janeiro, e com uma intensa crise existencial.
 Na tentativa de fugir ao tédio resolve escrever um livro, História dos
subúrbios, mas desiste, escrevendo a sua própria história.
 Para escrever sua autobiografia, o velho escritor toma todas as
providências, inclusive fazendo uma casa igual a que morava na Rua
Matacavalos, na infância.
 Seu grande objetivo é “restaurar na velhice a adolescência”.
 Mas Dom Casmurro acaba se concentrando mesmo na história dele
com Capitu, com quem namorou e depois casou.
 O leitor percebe que a intenção do narrador é alinhavar provas contra sua ex-esposa,
que segundo ele o traiu com seu melhor amigo: Escobar.
 Assim é que Dom Casmurro vai levantando algumas provas, num tom irônico e
satírico, da época em que se chamava Bentinho, desde seu tempo de menino, de
seminarista, de casado, até a separação.
 As provas, segundo Dom Casmurro, são as semelhanças de seu único filho Ezequiel
com Escobar, provável amante de sua mulher, Capitu.
 Na narrativa, Capitu aparece ao leitor pela visão de Bentinho, cujo melhor retrato é
dado pelo agregado José Dias: “Olhos de cigana, oblíqua e dissimulada.”
 É também de José Dias outra frase insinuadora: “O filho do homem”, para se referir a
Ezequiel.
 A personalidade de Bentinho se revela em suas confissões como sendo de um
homem ciumento e extremamente subjetivo o que lhe confere um status de “não
confiável”.
 No desfecho do romance, conclui suas confissões certo de que foi traído pela
esposa a quem abandona, inclusive ao filho que morre em Jerusalém.
 Para o leitor, entretanto, as provas de Bentinho sobre o suposto adultério de
Capitu são, no mínimo, duvidosas e ambíguas.
 Obra em que o leitor tenta desvendar o verdadeiro caráter do narrador de primeira
pessoa, Bentinho, que se revela não confiável, pois umbilicalmente está envolvido
com o que conta por sua personalidade ciumenta, invejosa, cruel e perversa.
 Bentinho destrói todos ao seu redor, inclusive, as pessoas que o amam, por
suspeitas que o leitor atento perceber serem no mínimo discutíveis.
 A grande razão do romance é a sua construção formal ambígua, não dando
margem ao leitor fazer conclusões exatas sobre o acontecido.
 O grande destaque desse romance é a personagem Capitu, com seus olhos de
cigana, oblíqua e dissimulada, e o próprio narrador que se revela ambíguo e
construtor de um ponto de vista unilateral.
ESAÚ E JACÓ
ESSA HISTÓRIA, ESPEREM POR MIM!!!!
JÁ ESTOU VOLTANDO...
Nichele Antunes
CONTOS, TEATRO, POESIA, CRÔNICA E CRÍTICA
 Os contos de Machado de Assis, em sua maioria, possui as características e
temáticas mais inovadoras do autor.
 Cada conto é uma espécie de reafirmação da abordagem psicológica e das
inovações de linguagem e de estrutura que procede em sua obra.
 Destacam-se O Alienista pela ironia ao Positivismo e ao Darwinismo, através da
história de Simão Bacamarte, um cientista que trata da loucura de seus
pacientes.
 Em O Enfermeiro, a questão da consciência humana volúvel e do remorso é
colocado à prova, através do enfermeiro Procópio depois do crime que
cometeu.
 Em Missa do galo, ganha relevo a questão do não dito, ou seja, a insinuação de
um possível adultério da personagem Rita com um rapaz que morava em sua
casa.
 A mesma temática reaparece no conto Uns braços, em que Dona Severina vê-
se tentada por um rapaz que é obcecado pelos braços da senhora.
 A poesia machadiana, por sua vez, apresenta estrutura formal impecável, o que
revela fortes influências parnasianas, mas os temas abordados giram em torno da
melancolia e tristeza romântica ou o seu conhecido pessimismo, através de um
tom filosófico.
 Em suas peças teatrais, como O caminho da porta, O protocolo e Lição de
botânica revelam um Machado de Assis observador das relações sociais e
culturais do contexto em que viveu.
 As crônicas de Machado são verdadeiros exercícios crítico do cotidiano do Rio de
Janeiro da segunda metade do século XIX, e, em alguns casos, se aproximam do
mesmo nível dos contos.
 Seus textos críticos são de uma importância extraordinária para o conhecimento
de sua concepção de literatura brasileira, constituindo-se, “Instinto de
nacionalidade” seu texto principal, principalmente, porque aponta como se
construir uma literatura verdadeira nacionalista.
A CAROLINA

Querida, ao pé do leito derradeiro


Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro


Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.

Trago-te flores, - restos arrancados


Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos


Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.

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