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Ongep - Organização Não-Governamental para a Educação

Popular

Leituras obrigatórias da UFRGS

Várias histórias, de Machado de Assis

Profes Leonardo Rava e Priscila Martini Pedó


Na segunda metade do século XIX, a
Europa é impactada pela II
Revolução Industrial, que com seus
avanços tecnológicos e progressos
científicos transformava a vida nas
potências capitalistas, promovendo um
surto de industrialização.

A consequência foi a aglomeração


desordenada de massas de
trabalhadores em grandes centros
urbanos, resultando em pobreza,
violência, repressão policial e Pobres recolhendo carvão de uma mina
problemas de saúde pública. exaurida (1894), Nikolai Kasatkin (1859-1930)
(1815-1905)
O espírito da época era de investigação
científica do mundo. Nesse período surgem
algumas fundamentais postulações teóricas
nos campos das ciências humanas e naturais,
como o Positivismo, de Auguste Comte
(1798-1857), a teoria da evolução das
espécies, de Charles Darwin (1809-1882), e o
Socialismo, de Karl Marx (1818-1883) e
Friedrich Engels (1820-1895).

Em tal ambiente, os escritores do período se


propõem a colocar sua literatura a serviço
de uma abordagem crítica dos caracteres
humanos e da sociedade. É nesse contexto
O jovem Karl Marx (2017), dir. Raoul Peck que surge o REALISMO.
Consideramos como marco inicial do
Realismo na Literatura, a publicação de
Madame Bovary, de Gustave Flaubert, na
França, em 1857. No Brasil, o marco inicial
do Realismo se dá com a publicação de dois
romances: O Mulato, de Aluísio Azevedo, e
Memórias Póstumas de Brás Cubas, de
Machado de Assis, ambos em 1881.

Em greve (1891), Hubert von Herkomer ()


Características do texto realista
● Distanciamento do sentimentalismo e dos mitos idealizantes que cercavam, por
exemplo, a natureza, a mulher, o herói e a pátria romântica;
● Esforço, por parte do escritor realista de aproximar-se impessoalmente dos fatos, objetos
e pessoas;
● Busca pela objetividade, respondendo aos métodos científicos que se desenvolvem nas
últimas décadas do século XIX;
● Presença de temas sociais e denunciatórios, além de críticas à vida burguesa e às
práticas e influência religiosa;
● Descrições detalhadas dos espaços, em sua maioria urbanos;
Machado de Assis (1839-1908)
Nascido no Rio de Janeiro, filho de pai negro e mãe
portuguesa, neto de escravizados alforriados,
Machado de Assis era um “mestiço” de origem
humilde. Foi tipógrafo, repórter, e chegou a altas
esferas do funcionalismo público. Admirado desde
cedo, aos cinquenta anos já era considerado o
principal escritor do país. Foi o primeiro
presidente da Academia Brasileira de Letras.

PRINCIPAIS OBRAS: Fase “romântica”: Contos


fluminenses (1870), Helena (1876), Iaiá Garcia (1878); Fase
realista: Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), Papéis
Foto colorizada para a campanha avulsos (1882), Quincas Borba (1891/1892), Várias histórias
Machado de Assis Real, da Faculdade (1896), Dom Casmurro (1899/1900), Esaú e Jacó (1904).
Zumbi dos Palmares (SP), em 2019.
Várias histórias

Várias histórias é o quinto livro de contos


publicado por Machado de Assis, em 1896,
quando o autor estava no auge da sua carreira
literária. Os 16 textos que fazem parte dessa
antologia já haviam sido publicados no
periódico Gazeta de Notícias entre os anos de
1884 e 1891.
Características gerais dos contos de Várias histórias:

● Narrador: a maior parte dos contos é narrada em 3ª pessoa;


● Tempo: segunda metade do século XIX;
● Espaço: urbano, a cidade do Rio de Janeiro;
● Linguagem: coloquial, repleta de ironias, humor e sátiras;
● Estrutura dos contos: tradicional, com início, meio e fim (que normalmente não é
feliz;
● Contos alegóricos: narrativa aparente versus não aparente; conteúdo moral;
● Construção de um retrato da sociedade brasileira da segunda metade do século XIX
Temas frequentes em Várias histórias:

● Os triângulos amorosos (A cartomante, A desejada das gentes, A causa secreta, Trio


em Lá menor, D. Paula);
● Os desejos não realizados (Um homem célebre, Uns braços, A desejada das gentes,
Trio em Lá menor, O diplomático, Mariana);
● Substrato bíblico ou mítico (Entre Santos, Adão e Eva, Viver!);
● A natureza humana (O enfermeiro, Conto da escola, Viver!);
● A metalinguagem (O cônego ou a metafísica do estilo);
● O horror (A causa secreta, O enfermeiro, A cartomante);
● A dualidade entre o ser e o parecer.
Os 16 contos de Várias histórias

A Cartomante O Enfermeiro
Entre Santos O Diplomático
Uns Braços Mariana
Um Homem Célebre Conto de Escola
A Desejada das Gentes Um Apólogo
A Causa Secreta D. Paula
Trio em Lá Menor Viver!
Adão e Eva O Cônego ou Metafísica do Estilo
Advertência

"Meu amigo, contemos sempre histórias... O tempo passa, e a história da vida acaba sem que percebamos."
Diderot

As várias histórias que formam este volume foram escolhidas entre outras, e podiam ser
acrescentadas, se não conviesse limitar o livro às suas trezentas páginas. É a quinta coleção que dou
ao público. As palavras de Diderot que vão por epígrafe no rosto desta coleção servem de desculpa
aos que acharem excessivos tantos contos. É um modo de passar o tempo. Não pretendem
sobreviver como os do filósofo. Não são feitos daquela matéria, nem daquele estilo que dão aos de
Mérimée o caráter de obras-primas, e colocam os de Poe entre os primeiros escritos da América. O
tamanho não é o que faz mal a este gênero de histórias, é naturalmente a qualidade; mas há sempre
uma qualidade nos contos, que os torna superiores aos grandes romances, se uns e outros são
medíocres: é serem curtos.

M.de A.
A cartomante
● Narração: 3ª pessoa
● Tempo: 1886
● Espaço: a cidade do Rio de Janeiro
● Personagens: Rita, Vilela e Camilo
● Rita é casada com Vilela, mas vive um romance com Camilo, grande amigo do esposo.

Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois
primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no
funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não
ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No princípio de 1869, voltou Vilela da província,
onde casara com uma dama formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado.
Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo.
[...]
Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse desastre,
que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do
inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor. Como daí chegaram ao amor,
não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela, era a sua enfermeira moral,
quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di femmina: eis o que ele aspirava nela, e
em volta dela, para incorporá-lo em si próprio.
● Camilo recebe cartas anônimas dizendo que todos sabem do romance proibido. Como
medida de precaução, passa a visitar menos a casa de Rita e Vilela, até parar por completo
com as visitas.

Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta anônima, que lhe chamava imoral e pérfido, e dizia que a
aventura era sabida de todos. Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as
visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências. Camilo respondeu que o motivo era uma paixão
frívola de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram
inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor-próprio, uma intenção de
diminuir os obséquios do marido, para tornar menos dura a aleivosia do ato.

Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu à cartomante para consultá-la sobre a
verdadeira causa do procedimento de Camilo. Vimos que a cartomante restituiu-lhe a confiança, e
que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez. Correram ainda algumas semanas. Camilo recebeu
mais duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser advertência da virtude,
mas despeito de algum pretendente; tal foi a opinião de Rita, que, por outras palavras mal
compostas, formulou este pensamento: — a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem
papel; só o interesse é ativo e pródigo.
● Depois de alguns meses, Camilo recebe um bilhete de Vilela, onde se lê: “Vem já, já à nossa
casa; preciso falar-te sem demora” . No caminho para a casa do amigo, muito preocupado,
passa pela frente da casa da cartomante que Rita costumava visitar e, mesmo em conflito por
causa de suas crenças, decide consultar-se com ela.
● A cartomante acerta o motivo que levou Camilo até a sua casa e afirma que ele pode
tranquilizar-se, pois “o outro” não sabe nada sobre o que acontece entre ele e Rita.

— As cartas dizem-me...
Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe que não tivesse medo
de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era
indispensável muita cautela: ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza
de Rita. . . Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na
gaveta.
— A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por cima da mesa e
apertando a da cartomante.
Esta levantou-se, rindo.
— Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato...
● Ao chegar na casa do amigo, aliviado pelas palavras da cartomante, Camilo depara-se com
Rita morta e é assassinado a tiros por Vilela.

— Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?

Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta
interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror: — ao fundo sobre o canapé, estava
Rita morta e ensangüentada. Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto
no chão.
Entre santos
● Narração: 1ª pessoa
● Tempo: não marcado
● Espaço: Igreja de São Francisco de Paula, Rio de Janeiro
● Personagens: um padre, São José, São Miguel, São João Batista, São Francisco
de Sales e São Francisco de Paula
● Um padre, já velho, relembra um fato inusitado que presenciou quando era capelão da igreja
de São Francisco de Paula: em determinada noite, as imagens de cinco santos, São José, São
Miguel, São João Batista, São Francisco de Sales e São Francisco de Paula ganharam vida.
● O narrador reproduz o diálogo entre os santos, que discutiam a conduta das pessoas que os
haviam procurado naquele dia através de pedidos e orações. Enquanto alguns dos santos
mostram mais incredulidade com relação aos humanos, São Francisco de Sales mantém-se
esperançoso.

Dois dos três santos do outro lado, S. José e S. Miguel (à direita de quem entra na igreja pela porta
da frente), tinham descido dos nichos e estavam sentados nos seus altares. As dimensões não eram
as das próprias imagens, mas de homens. Falavam para o lado de cá, onde estão os altares de S. João
Batista e S. Francisco de Sales. Não posso descrever o que senti. Durante algum tempo, que não
chego a calcular, fiquei sem ir para diante nem para trás, arrepiado e trêmulo. Com certeza, andei
beirando o abismo da loucura, e não caí nele por misericórdia divina. Que perdi a consciência de
mim mesmo e de toda outra realidade que não fosse aquela, tão nova e tão única, posso afirmá-lo; só
assim se explica a temeridade com que, dali a algum tempo, entrei mais pela igreja, a fim de olhar
também para o lado oposto. Vi aí a mesma cousa: S. Francisco de Sales e S. João, descidos dos
nichos, sentados nos altares e falando com os outros santos.
● São José conta aos santos a história de uma mulher que viera naquele dia pedir-lhe que a
ajudasse a afastar-se do homem com quem se relacionava. Ao rezar, seu pensamento
perdeu-se na lembrança do amante e ela saiu da igreja sem completar seu pedido.

Começou rezando bem, cordialmente; mas pouco a pouco vi que o pensamento a ia deixando para
remontar aos primeiros deleites. As palavras paralelamente, iam ficando sem vida. Já a oração era
morna, depois fria, depois inconsciente; os lábios, afeitos à reza, iam rezando; mas a alma, que eu
espiava cá de cima, essa já não estava aqui, estava com o outro. Afinal persignou-se, levantou-se e
saiu sem pedir nada.
● São Francisco de Sales conta a história que ocupa a maior parte do conto: um homem
extremamente avarento pede ao santo que salve sua mulher, que sofria de erisipela. Apesar de
amar a esposa, o homem não é capaz de oferecer nenhum bem material ao santo,
prometendo-lhe primeiro 300 Padre-Nossos e 300 Ave Marias, e depois aumentando a
promessa para 1000 repetições. O homem perde-se pensando em uma cifra tão alta e deixa a
igreja sem cumprir a promessa.

E repetia enfático: trezentos, trezentas, trezentos... Foi subindo, chegou a quinhentos, a mil
padre-nossos e mil ave-marias. Não via esta soma escrita por letras do alfabeto, mas em algarismos,
como se ficasse assim mais viva, mais exata, e a obrigação maior, e maior também a sedução. Mil
padre-nossos, mil ave-marias. E voltaram as palavras lacrimosas e trêmulas, as bentas chagas, os
anjos do Senhor… 1.000 — 1.000 — 1.000. Os quatro algarismos foram crescendo tanto, que
encheram a igreja de alto a baixo, e com eles, crescia o esforço do homem, e a confiança também; a
palavra saía-lhe mais rápida, impetuosa, já falada, mil, mil, mil, mil ... Vamos lá, podeis rir à
vontade, concluiu S. Francisco de Sales.

E os outros santos riram efetivamente, não daquele grande riso descomposto dos deuses de Homero,
quando viram o coxo Vulcano servir à mesa, mas de um riso modesto, tranqüilo, beato e católico.
Uns braços
● Narração: 3ª pessoa
● Tempo: 1870
● Espaço: a casa do solicitador Borges, Rua da Lapa, Rio de Janeiro
● Personagens: Inácio, Borges, Dona Severina
● Inácio, um menino de quinze anos, é enviado pelo pai para viver na casa de Borges, um
solicitador, e de D. Severina, sua esposa, com a intenção de que auxiliasse o solicitador e
aprendesse um ofício. Por ser constantemente maltratado por Borges, Inácio pensa em fugir,
mas é detido pela paixão que desenvolve por D. Severina, cujos braços descobertos o atraem.

Nunca ele pôs os olhos nos braços de D. Severina que se não esquecesse de si e de tudo.
Também a culpa era antes de D. Severina em trazê-los assim nus, constantemente. Usava mangas
curtas em todos os vestidos de casa, meio palmo abaixo do ombro; dali em diante ficavam-lhe os
braços à mostra. Na verdade, eram belos e cheios, em harmonia com a dona, que era antes grossa
que fina, e não perdiam a cor nem a maciez por viverem ao ar; mas é justo explicar que ela os não
trazia assim por faceira, senão porque já gastara todos os vestidos de mangas compridas. De pé, era
muito vistosa; andando, tinha meneios engraçados; ele, entretanto, quase que só a via à mesa, onde,
além dos braços, mal poderia mirar-lhe o busto. Não se pode dizer que era bonita; mas também não
era feia. Nenhum adorno; o próprio penteado consta de mui pouco; alisou os cabelos, apanhou-os,
atou-os e fixou-os no alto da cabeça com o pente de tartaruga que a mãe lhe deixou. Ao pescoço, um
lenço escuro, nas orelhas, nada. Tudo isso com vinte e sete anos floridos e sólidos.
● D. Severina percebe os sentimentos de Inácio e fica confusa: por um lado, ela o vê como uma
criança; por outro, também o deseja. Em uma tarde de domingo, quando o marido sai de casa
e Inácio dorme na rede, sonhando com ela, D. Severina beija-o na boca, sem que ele acorde.

Que não possamos ver os sonhos uns dos outros! D. Severina ter-se-ia visto a si mesma na
imaginação do rapaz; ter-se-ia visto diante da rede, risonha e parada; depois inclinar-se, pegar-lhe
nas mãos, levá-las ao peito, cruzando ali os braços, os famosos braços. Inácio, namorado deles,
ainda assim ouvia as palavras dela, que eram lindas, cálidas, principalmente novas, — ou, pelo
menos, pertenciam a algum idioma que ele não conhecia, posto que o entendesse. Duas três e quatro
vezes a figura esvaía-se, para tornar logo,vindo do mar ou de outra parte, entre gaivotas, ou
atravessando o corredor com toda a graça robusta de que era capaz. E tornando, inclinava-se,
pegava-lhe outra vez das mãos e cruzava ao peito os braços, até que inclinando-se, ainda mais,
muito mais, abrochou os lábios e deixou-lhe um beijo na boca.

Aqui o sonho coincidiu com a realidade, e as mesmas bocas uniram-se na imaginação e fora dela.
● Aturdida pela própria ação, D. Severina passa a tratar Inácio com mais frieza e a cobrir os
braços com um xale. Dias depois, Borges despede o menino, que volta para a casa paterna sem
entender a brusca mudança de comportamento de D. Severina para com ele.
● Anos depois, Inácio ainda guarda na memória a sensação do beijo que recebeu, crendo que
foi apenas um sonho.

Tanto pensou que acabou supondo de sua parte algum olhar indiscreto, alguma distração que a
ofendera, não era outra cousa; e daqui a cara fechada e o xale que cobria os braços tão bonitos...
Não importa; levava consigo o sabor do sonho. E através dos anos, por meio de outros amores, mais
efetivos e longos, nenhuma sensação achou nunca igual à daquele domingo, na Rua da Lapa,
quando ele tinha quinze anos. Ele mesmo exclama às vezes, sem saber que se engana: E foi um
sonho! um simples sonho!
Um homem célebre
● Narração: 3ª pessoa
● Tempo: 1875-1885
● Espaço: Rio de Janeiro
● Personagens:
○ Pestana → protagonista do conto, pianista de 30 anos, vive o conflito entre vocação e aspiração
○ Maria → cantora de 27 anos, tísica, com quem casa Pestana
○ Viúva Camargo → viúva de 60 anos, festa no início do conto
○ Sinhazinha Mota → jovem de 20 anos, admiradora de Pestana
○ Editor → não nomeado, é responsável por publicar as polcas de Pestana, interessa-se apenas pelo
sucesso comercial
Um homem célebre
● Pestana toca piano na festa de aniversário da viúva Camargo → Não bula comigo,
Nhonhô
● Publicada há 20 dias, é um estrondoso sucesso na cidade.
● Alega dor de cabeça e sai da festa

Despiu-se, enfiou uma camisola, e foi para a sala dos fundos. Quando o preto acendeu o gás da sala,
Pestana sorriu e, dentro d'alma, cumprimentou uns dez retratos que pendiam da parede. Um só era a
óleo, o de um padre, que o educara, que lhe ensinara latim e música, e que, segundo os ociosos, era o
próprio pai do Pestana. Certo é que lhe deixou em herança aquela casa velha, e os velhos trastes, ainda
do tempo de Pedro I. [...] Os demais retratos eram de compositores clássicos, Cimarosa, Mozart,
Beethoven, Gluck, Bach, Schumann, e ainda uns três, alguns, gravados, outros litografados, todos mal
encaixilhados e de diferente tamanho, mas postos ali como santos de uma igreja. O piano era o altar; o
evangelho da noite lá estava aberto: era uma sonata de Beethoven. (p. 90)
Um homem célebre
● Pestana almejava compor uma peça de música erudita, que o pusesse ao lado dos
grandes, mas não conseguia.

Começou a tocar alguma cousa própria, uma inspiração real e pronta, uma polca, uma polca buliçosa,
como dizem os anúncios. [...] Vida, graça, novidade, escorriam-lhe da alma como de uma fonte perene.
Em pouco tempo estava a polca feita. [...] Dois dias depois, foi levá-la ao editor das outras polcas suas,
que andariam já por umas trinta. O editor achou-a linda. [...] Veio a questão do título. Pestana, quando
compôs a primeira polca, em 1871, quis dar-lhe um título poético, escolheu este: Pingos de Sol. O editor
abanou a cabeça, e disse-lhe que os títulos deviam ser, já de si, destinados à popularidade, ou por alusão
a algum sucesso do dia, — ou pela graça das palavras; indicou-lhe dois: A Lei de 28 de Setembro, ou
Candongas Não Fazem Festa.
— Mas que quer dizer Candongas Não Fazem Festa? perguntou o autor.
— Não quer dizer nada, mas populariza-se logo. (p. 92-93)
Um homem célebre
● Pestana casa com Maria, uma jovem cantora tísica, a fim de buscar inspiração.
● Um dia a chama para ouvir uma peça que compunha. Maria reconhece a
composição de Chopin.
● No natal de 1876, morre Maria. Pestana tenta fazer um Réquiem em sua
homenagem, mas não consegue.

Enterrada a mulher, o viúvo teve uma única preocupação: deixar a música, depois de compor um
Réquiem, que faria executar no primeiro aniversário da morte de Maria. Escolheria outro emprego,
escrevente, carteiro, mascate, qualquer cousa que lhe fizesse esquecer a arte assassina e surda. (p. 96)

● Em 1878, aparece o editor oferecendo um novo contrato para compor mais


polcas. Como estava mal financeiramente, Pestana aceita.
Um homem célebre
● Pestana volta a compor polcas com a facilidade e originalidade de sempre.

A fama do Pestana dera-lhe definitivamente o primeiro lugar entre os compositores de polcas; mas o
primeiro lugar da aldeia não contentava a este César, que continuava a preferir-lhe, não o segundo, mas
o centésimo em Roma. (p. 98)

● Em 1885, seu editor pede-lhe uma polca em ocasião da chegada dos


conservadores ao poder. Pestana está acamado devido a uma febre, que o
mataria pouco depois.

— Olhe, disse o Pestana, como é provável que eu morra por estes dias, faço-lhe logo duas polcas; a outra
servirá para quando subirem os liberais.
Foi a única pilhéria que disse em toda a vida, e era tempo, porque expirou na madrugada seguinte, às
quatro horas e cinco minutos, bem com os homens e mal consigo mesmo. (p. 99)
A desejada das gentes
● Narração: o conto é estruturado em forma de diálogo
● Tempo: a história contada pelo conselheiro ocorre entre 1855 e 1859
● Espaço: Rio de Janeiro
● Personagens:
○ Conselheiro → advogado, detinha este título honorífico do Império (de conselheiro), é
apaixonado por Quintília, narra o causo para seu interlocutor
○ Interlocutor não nomeado → estudou medicina, conheceu Quintília de vista
○ Quintília →moça muito bela, magra e alta, rica, elegante, tinha 30 anos na época em que
conheceu o conselheiro, era cortejada por muitos homens, mas rejeitava a todos; morreu em 1859
○ João Nóbrega → companheiro de escritório do conselheiro, a disputa pelo amor de Quintília com
o amigo causa o término da amizade, morre na Bahia
○ Tio de Quintília → apoia sua decisão de não casar
○ D. Ana → prima, viúva
A desejada das gentes
● Os dois personagens caminham pelo Rio de Janeiro, o conselheiro lembra-se de
uma história do passado ao avistar a antiga casa de Quintília.
● O conselheiro começa a falar de Quintília, a quem o interlocutor apenas
conhecera de vista:

Trinta anos; mas em verdade, não os parecia. Lembra-se bem que era magra e alta; tinha os olhos como
eu então dizia, que pareciam cortados da capa da última noite, mas apesar de noturnos, sem mistérios
nem abismos. A voz era brandíssima, um tanto apaulistada, a boca larga, e os dentes, quando ela
simplesmente falava, davam-lhe à boca um ar de riso. Ria também, e foram os risos dela, de parceria
com os olhos, que me doeram muito durante certo tempo. (p. 104)

● Um dia, durante uma ópera, o conselheiro ouve dois pretendentes de Quintília


conversando sobre a moça, perplexos com seu celibato.
A desejada das gentes
● O conselheiro conta o acontecido ao amigo e eles decidem cortejar Quintília
● Quando começam a empreitada, ambos acabam “enfeitiçados violentamente”
por Quintília. Brigam em um mês.
● Primeiramente, dissimulam seu interesse. No fim de seis meses, já tinham
escritórios de advocacia separados.
● João Nóbrega tem seu desfecho trágico.

— Tragédia, diga tragédia; porque daí a pouco tempo, ou por desengano verbal que ela lhe desse, ou por
desespero de vencer, Nóbrega deixou-me só em campo. Arranjou uma nomeação de juiz municipal lá
para os sertões da Bahia, onde definhou e morreu antes de acabar o quatriênio. E juro-lhe que não foi o
inculcado espírito prático de Nóbrega que o separou de mim; ele, que tanto falara das vantagens do
dinheiro, morreu apaixonado como um simples Werther. (p. 107)
A desejada das gentes
● Muitos pretendentes eram recomendados por amigas de Quintília, mas esta
consultava o tio, que sempre incentivava a recusa.

Quintília declarou que nada faria sem consultar o tio, e o tio aconselhou a recusa, — coisa que ela sabia
de antemão. O bom velho não gostava nunca da visita de homens, com receio de que a sobrinha
escolhesse algum e casasse. Estava tão acostumado a trazê-la ao pé de si, como uma muleta da velha
alma aleijada, que temia perdê-la inteiramente. (p. 108)

● O conselheiro torna-se muito próximo de Quintília: conversavam largamente,


ela o preferia a todos os pretendentes, a ponto de ele crer que se casariam.
● No princípio de 1857, morre o pai do conselheiro.
A desejada das gentes
● Logo depois, morre também o tio de Quintília. Ela estava vivendo agora na
mesma casa, mas com a prima viúva, d. Ana.
● O conselheiro resolve pedir Quintília em casamento. O conselheiro ainda treme
ao lembrar da conversa. Quintília recusa o pedido, censura-o por ter encerrado a
amizade com João Nóbrega por sua causa, e insiste que sigam amigos.

— Quintília adivinhara, pelo transtorno do meu rosto, o que lhe ia pedir, e deixou-me falar para
preparar a resposta. A resposta foi interrogativa e negativa. Casar para quê? Era melhor que ficássemos
amigos como dantes. Respondi-lhe que a amizade era, em mim, desde muito, a simples sentinela do
amor; não podendo mais contê-lo, deixou que ele saísse. Quintília sorriu da metáfora, o que me doeu, e
sem razão; ela, vendo o efeito, fez-se outra vez séria e tratou de persuadir-me de que era melhor não
casar. (p. 110)
A desejada das gentes
● Após uma ausência de três semanas para resolver questões referentes ao inventário
do pai, o conselheiro recebe uma carta de Quintília.

Quintília afirmava ter esperado por mim todos os dias, não cuidando que eu levasse o egoísmo até não
voltar lá mais, por isso escrevia-me, pedindo que fizesse dos meus sentimentos pessoais e sem eco uma
página de história acabada; que ficasse só o amigo, e lá fosse ver a sua amiga. E concluía com estas
singulares palavras: "Quer uma garantia? Juro-lhe que não casarei nunca." Compreendi que um vínculo
de simpatia moral nos ligava um ao outro; com a diferença que o que era em mim paixão específica, era
nela uma simples eleição de caráter. Éramos dois sócios, que entravam no comércio da vida com
diferente capital: eu, tudo o que possuía; ela, quase um óbolo [esmola]. (p. 111-2)

● O conselheiro retoma a amizade com Quintília a muito custo.


● Nesse meio tempo, surge um diplomata austríaco que se encanta por Quintília,
provocando algum ciúme no conselheiro.
A desejada das gentes
● Logo depois, Quintília adoece. Sofria da espinha (coluna vertebral). Era 1859.
● Quintília confirma com o médico que não havia chance de salvação e resolve
cumprir a promessa ao conselheiro. Casam-se e ela morre dois dias depois.

— Não me relembre essa triste cerimônia; ou antes, deixe-me relembrá-la, porque me traz algum alento
do passado. Não aceitou recusas nem pedidos meus; casou comigo à beira da morte. Foi no dia 18 de
abril de 1859. Passei os últimos dois dias, até 20 de abril ao pé da minha noiva moribunda, e abracei-a
pela primeira vez feita cadáver.
— Tudo isso é bem esquisito.
— Não sei o que dirá a sua fisiologia. A minha, que é de profano, crê que aquela moça tinha ao
casamento uma aversão puramente física. Casou meio defunta, às portas do nada. Chame-lhe monstro,
se quer, mas acrescente divino. (p. 114)
A causa secreta
● Narração: 3ª pessoa
● Tempo: a história retoma acontecimentos ocorridos em 1862
● Espaço: Rio de Janeiro
● Personagens:
○ Garcia → médico, interessado em decompor os caracteres humanos, “tinha o amor da análise”, era
amigo do casal Fortunato
○ Fortunato Gomes da Silveira→ capitalista (vive de renda), cerca de quarenta anos, homem de
expressão dura e fria, marido de Maria Luísa, sente prazer com o sofrimento alheio (sadismo)
○ Maria Luísa → esposa de Fortunato, muito bela, delicada, “tinha olhos meigos e submissos”, 25
anos.
A causa secreta
● O conto se inicia com os três protagonistas sentados na sala da casa do casal Fortunato.
Há um certo constrangimento no ar.
● Como os três já estão mortos, diz o narrador que pode contar a história sem disfarce.
● Garcia conhece Fortunato em 1860, um ano antes de se formar em medicina, avista-o
em um teatro.

A peça era um dramalhão, cosido a facadas, ouriçado de imprecações e remorsos; mas Fortunato ouvia-a
com singular interesse. Nos lances dolorosos, a atenção dele redobrava, os olhos iam avidamente de um
personagem a outro, a tal ponto que o estudante suspeitou haver na peça reminiscências pessoais do
vizinho. No fim do drama, veio uma farsa; mas Fortunato não esperou por ela e saiu; Garcia saiu atrás
dele. Fortunato foi pelo beco do Cotovelo, rua de S. José, até o largo da Carioca. Ia devagar, cabisbaixo,
parando às vezes, para dar uma bengalada em algum cão que dormia; o cão ficava ganindo e ele ia
andando. No largo da Carioca entrou num tílburi, e seguiu para os lados da praça da Constituição. Garcia
voltou para casa sem saber mais nada. (p. 120)
A causa secreta
● Quando ambos socorrem um homem ferido até que chegue um médico, o
comportamento de Fortunato intriga Garcia.

Fortunato saiu pouco antes de uma hora; voltou nos dias seguintes, mas a cura fez-se depressa, e, antes de
concluída, desapareceu sem dizer ao obsequiado onde morava. Foi o estudante que lhe deu as indicações
do nome, rua e número.
— Vou agradecer-lhe a esmola que me fez, logo que possa sair, disse o convalescente.
Correu a Catumbi daí a seis dias. Fortunato recebeu-o constrangido, ouviu impaciente as palavras de
agradecimento, deu-lhe uma resposta enfastiada e acabou batendo com as borlas do chambre no joelho.
Gouvêa, defronte dele, sentado e calado, alisava o chapéu com os dedos, levantando os olhos de quando
em quando, sem achar mais nada que dizer. No fim de dez minutos, pediu licença para sair, e saiu.
— Cuidado com os capoeiras! disse-lhe o dono da casa, rindo-se. O pobre-diabo saiu de lá mortificado,
humilhado, mastigando a custo o desdém, forcejando por esquecê-lo, explicá-lo ou perdoá-lo, para que
no coração só ficasse a memória do benefício; mas o esforço era vão. (p. 122)
A causa secreta
● Garcia e Fortunato são vizinhos, a familiaridade de ambos, enseja a amizade.
● Garcia passa a frequentar a casa do casal Fortunato.

Garcia, à segunda vez que lá foi, percebeu que entre eles havia alguma dissonância de caracteres, pouca
ou nenhuma afinidade moral, e da parte da mulher para com o marido uns modos que transcendiam o
respeito e confinavam na resignação e no temor. (p. 123-4)

● Garcia conta para Maria Luísa sobre a ocasião em que Fortunato atuou como
enfermeiro. Brinca sobre as qualidades de seu esposo e que o convidaria para
enfermeiro se fundasse uma casa de saúde.
● Fortunato gosta da ideia e insiste até que Garcia aceite. Fortunato torna-se o
administrador e chefe de enfermeiros na casa de saúde.
A causa secreta
● Fortunato chama a atenção de Garcia pela dedicação ao trabalho e a frieza diante das
situações mais graves.
● Garcia passa a frequentar a casa diariamente e encanta-se por Maria Luísa.

Garcia tornou-se familiar na casa; ali jantava quase todos os dias, ali observava a pessoa e a vida de Maria
Luísa, cuja solidão moral era evidente. E a solidão como que lhe duplicava o encanto. Garcia começou a
sentir que alguma coisa o agitava, quando ela aparecia, quando falava, quando trabalhava, calada, ao
canto da janela, ou tocava ao piano umas músicas tristes. Manso e manso, entrou-lhe o amor no coração.
Quando deu por ele, quis expeli-lo para que entre ele e Fortunato não houvesse outro laço que o da
amizade; mas não pôde. Pôde apenas trancá-lo; Maria Luísa compreendeu ambas as coisas, a afeição e o
silêncio, mas não se deu por achada. (p. 125)
A causa secreta
● Fortunato começa a estudar anatomia, dedicava-se a “rasgar e envenenar gatos e cães”.
Como os guinchos dos animais atordoavam os pacientes, mudou o laboratório para a
casa.
● Maria Luísa pede a Garcia que convença Fortunato a parar com a prática, o que ocorre.
● Dois dias depois, Garcia vai jantar na casa e encontra Fortunato torturando um rato
que roera um papel importante seu.
Garcia lembrou-se que na véspera ouvira ao Fortunato queixar-se de um rato, que lhe levara um papel
importante; mas estava longe de esperar o que viu. Viu Fortunato sentado à mesa, que havia no centro do
gabinete, e sobre a qual pusera um prato com espírito de vinho. O líquido flamejava. Entre o polegar e o índice da
mão esquerda segurava um barbante, de cuja ponta pendia o rato atado pela cauda. Na direita tinha uma tesoura.
No momento em que o Garcia entrou, Fortunato cortava ao rato uma das patas; em seguida desceu o infeliz até a
chama, rápido, para não matá-lo, e dispôs-se a fazer o mesmo à terceira, pois já lhe havia cortado a primeira.
Garcia estacou horrorizado.
— Mate-o logo! disse-lhe.
— Já vai.
E com um sorriso único, reflexo de alma satisfeita, alguma coisa que traduzia a delícia íntima das sensações
supremas, Fortunato cortou a terceira pata ao rato, e fez pela terceira vez o mesmo movimento até a chama. O
miserável estorcia-se, guinchando, ensangüentado, chamuscado, e não acabava de morrer. Garcia desviou os
olhos, depois voltou-os novamente, e estendeu a mão para impedir que o suplício continuasse, mas não chegou a
fazê-lo, porque o diabo do homem impunha medo, com toda aquela serenidade radiosa da fisionomia. Faltava
cortar a última pata; Fortunato cortou-a muito devagar, acompanhando a tesoura com os olhos; a pata caiu, e ele
ficou olhando para o rato meio cadáver. Ao descê-lo pela quarta vez, até a chama, deu ainda mais rapidez ao
gesto, para salvar, se pudesse, alguns farrapos de vida.
Garcia, defronte, conseguia dominar a repugnância do espetáculo para fixar a cara do homem. Nem raiva, nem
ódio; tão-somente um vasto prazer, quieto e profundo, como daria a outro a audição de uma bela sonata ou a vista
de uma estátua divina, alguma coisa parecida com a pura sensação estética. Pareceu-lhe, e era verdade, que
Fortunato havia-o inteiramente esquecido. Isto posto, não estaria fingindo, e devia ser aquilo mesmo. A chama ia
morrendo, o rato podia ser que tivesse ainda um resíduo de vida, sombra de sombra; Fortunato aproveitou-o para
cortar-lhe o focinho e pela última vez chegar a carne ao fogo. Afinal deixou cair o cadáver no prato, e arredou de si
toda essa mistura de chamusco e sangue.
Ao levantar-se deu com o médico e teve um sobressalto. Então, mostrou-se enraivecido contra o animal, que lhe
comera o papel; mas a cólera evidentemente era fingida.
"Castiga sem raiva", pensou o médico, "pela necessidade de achar uma sensação de prazer, que só a dor alheia lhe
pode dar: é o segredo deste homem". (p. 127-128)
A causa secreta
● Maria Luísa descobre estar tísica, Fortunato faz de tudo para salvá-la
Fortunato recebeu a notícia como um golpe; amava deveras a mulher, a seu modo, estava acostumado
com ela, custava-lhe perdê-la. Não poupou esforços, médicos, remédios, ares, todos os recursos e todos os
paliativos. Mas foi tudo vão. A doença era mortal. (p. 129)

● Nesse meio tempo, Fortunato fica ao lado dela, saboreando seu sofrimento. Algum
tempo depois, Maria Luísa morre.
● Garcia e Fortunato velam o cadáver. Fortunato vai dormir um pouco e quando retorna,
encontra Garcia muito emocionado despedindo-se de Maria Luísa.
● Supondo ser aquela reação o “epílogo de um livro adúltero”, deleita-se assistindo a
cena.
Fortunato saiu, foi deitar-se no sofá da saleta contígua, e adormeceu logo. Vinte minutos depois acordou, quis
dormir outra vez, cochilou alguns minutos, até que se levantou e voltou à sala. Caminhava nas pontas dos pés
para não acordar a parenta, que dormia perto. Chegando à porta, estacou assombrado.
Garcia tinha-se chegado ao cadáver, levantara o lenço e contemplara por alguns instantes as feições defuntas.
Depois, como se a morte espiritualizasse tudo, inclinou-se e beijou-a na testa. Foi nesse momento que
Fortunato chegou à porta. Estacou assombrado; não podia ser o beijo da amizade, podia ser o epílogo de um
livro adúltero. Não tinha ciúmes, note-se; a natureza compô-lo de maneira que lhe não deu ciúmes nem inveja,
mas dera-lhe vaidade, que não é menos cativa ao ressentimento. Olhou assombrado, mordendo os beiços.
Entretanto, Garcia inclinou-se ainda para beijar outra vez o cadáver; mas então não pôde mais. O beijo
rebentou em soluços, e os olhos não puderam conter as lágrimas, que vieram em borbotões, lágrimas de amor
calado, e irremediável desespero. Fortunato, à porta, onde ficara, saboreou tranqüilo essa explosão de dor moral
que foi longa, muito longa, deliciosamente longa. (p. 129-131)
Trio em lá menor
● Narração: 3ª pessoa
● Tempo: a história retoma acontecimentos ocorridos em 1862
● Espaço: Rio de Janeiro
● Personagens:
○ Garcia → médico, interessado em decompor os caracteres humanos, “tinha o amor da análise”, era
amigo do casal Fortunato
○ Fortunato Gomes da Silveira→ capitalista (vive de renda), cerca de quarenta anos, homem de
expressão dura e fria, marido de Maria Luísa, sente prazer com o sofrimento alheio (sadismo)
○ Maria Luísa → esposa de Fortunato, muito bela, delicada, “tinha olhos meigos e submissos”, 25
anos.
Trio em lá menor
● Narrado em 3ª pessoa e dividido em quatro movimentos musicais.
● Apresenta a estrutura de uma sonata: adagio cantabile (lento e cantável), allegro ma
non troppo (rápido, mas não muito), allegro appassionato (rápido e apaixonado) e
menuetto (forma francesa marcada por leveza e solenidade).
● Na primeira parte, é informado ao leitor que a protagonista, Maria Regina, possui dos
pretendentes e não consegue decidir com qual deles deve ficar.
● O primeiro é Maciel, que tem 27 anos, e o segundo, Miranda, tem 50 anos.
● Em uma tarde, a moça recebe ambos em casa e, na companhia deles e do avô, toca
uma sonata. Após a sonata, fica pensativa sobre qual escolher.
● No dia seguinte (já na segunda parte), a carruagem de Maria Regina e do avô quase
atropela um menino que corre pela rua.
● O acidente é evitado por Maciel, que salva o garoto, mas se fere.
Trio em lá menor
● O jovem, que se mostra mais preocupado com as vestes do que com o próprio
machucado, é convidado à casa de Maria Regina, onde conversa com a avó dela sobre
as novidades da cidade.
● Na terceira parte, quando a conversa se desenrola, Maria Regina percebe que o jovem
é materialista e fofoqueiro.
● Ao longo da conversa, a moça perde sua admiração por Maciel. Chega a imaginar o
rosto dele, mas com a voz de Miranda.
● Aparece então Miranda e Maciel sai em seguida.
● Embora o rosto duro do velho Miranda não a atraísse, há algo no jeito de Miranda que
traduz muito do que Maria Regina pensa das coisas.
● Além disso, ambos compartilham os mesmos gostos pela arte.
● De novo, a moça imagina o Miranda, mas com o rosto de Maciel.
Trio em lá menor
● Na quarta e última parte, cerca de três meses se passam, e, sem conseguir escolher
um, Maria Regina perde ambos os pretendentes.
● O conto termina com a moça sonhando que morria e que sua alma voava em direção
a uma bela estrela dupla.
● O astro então se desdobrava e cada porção ia para uma direção diferente.
● Maria Regina perseguia, uma após a outra, as porções da estrela, mas sem nunca se
sentir como quando havia contemplado a estrela completa.
● Ao final do sonho, uma voz misteriosa lhe informou que ela estava fadada a orbitar
entre dois astros incompletos, uma vez que procurava incessantemente a perfeição.
Adão e Eva
● Narração: 3ª pessoa
● Tempo: “pelos de anos 1700 e tantos”
● Espaço: casa de d. Leonor, uma senhora de engenho, na Bahia
● Personagens: d. Leonor, frei Bento, sr. Veloso
Adão e Eva
● O conto se passa na casa de uma senhora de engenho do século XVIII, D. Leonor,
quando ela está reunida com seus amigos ao redor da mesa, os quais convidou para
experimentar um doce em particular.
● Um carmelita, chamado frei Bento, lhe questiona de qual doce se trata.
● D. Leonor chama-o de curioso, o que inicia uma discussão sobre a curiosidade ser um
atributo masculino ou feminino e se foi culpa de Adão ou de Eva a perda do paraíso.
● Sr. Veloso, um juiz de fora (nomeado pela Coroa para atuar em uma localidade
diferente da de seu nascimento), começa uma divertida paródia sobre a história
bíblica da criação do mundo.
Adão e Eva
● Segundo ele, a Terra teria sido criada pelo Tinhoso (o diabo), e não por Deus, que só
havia contribuído com alguns ajustes: o diabo criou as trevas, Deus criou a luz; ao ver
que o Tinhoso havia criado Adão e Eva, Deus lhes deu consciência e sentimentos,
também criou um paraíso e os manteve ali.
● Contudo, avisou a eles que não deveriam comer da árvore proibida.
● O Tinhoso se enfureceu por não poder entrar no paraíso e mandou uma serpente
tentar convencer Adão e Eva a comer o fruto proibido.
● Eles não caíram na tentação, e Deus, como recompensa, pediu ao anjo Miguel que os
levasse aos céus.
● Ao final do conto, todos olham surpresos para Sr. Veloso, que é acusado por D.
Leonor de ter enganado os presentes com a versão contada.
Adão e Eva
● Ele assume que a história poderia não ter acontecido, mas que, se tivesse, não
estariam ali saboreando o doce.
● Essa curta narrativa discorre sobre como acontecimentos passados e a forma como
são contados influenciam a visão das pessoas no presente.
O enfermeiro
● Narração: 1ª pessoa pelo enfermeiro Procópio
● Tempo: a história retoma acontecimentos ocorridos a partir de 1859 ao longo da
década de 1860
● Espaço: uma vila no interior do Rio de Janeiro e a cidade do Rio de Janeiro
● Personagens: enfermeiro Procópio e coronel Felisberto
O enfermeiro
● O enfermeiro Procópio José Gomes Valongo, às vésperas de sua morte, narra a
história do período em que cuidou de um coronel velho e doente no interior.
● O paciente o insultava e o agredia, até que em uma noite eles acabam se
desentendendo e brigando, o que leva o coronel à morte (“arrebentara o aneurisma”)
● Assombrado pelo assassinato, Procópio cuida dos preparativos do enterro com medo
de ser descoberto.
● Em seguida, retorna ao Rio de Janeiro sentindo-se culpado.
● Descobre que, em testamento, o coronel o designou seu herdeiro universal e que está
rico.
● De posse do dinheiro e com o passar do tempo, convive melhor com seu crime.
● A história é finalizada com a irônica frase, a qual o narrador gostaria que estivesse em
sua lápide: “Bem-aventurados os que possuem, porque eles serão consolados.”
O diplomático
● Narração: 3ª pessoa
● Tempo: uma noite de São João em 1854
● Espaço: uma reunião festiva na casa do escrivão João Viegas e de d. Adelaide, no
Rio de Janeiro
● Personagens: Rangel, Joaninha, Queirós, João Viegas e d. Adelaide
O diplomático
● O conto narra a história de Rangel, um homem de 41 anos que buscou em toda a sua
juventude achar a esposa ideal, mas, não tendo sido capaz de achá-la, acabou por se
manter solteiro.
● Muito fantasioso, em sua imaginação era capaz de conquistar aquilo que almejava, porém,
na realidade, era um homem de poucas ações.
● A narrativa se passa em uma noite de São João de 1854, em uma reunião festiva na casa do
escrivão João Viegas e de D. Adelaide, amigos próximos de Rangel e pais de Joaninha -
moça de dezenove anos que o protagonista está cortejando.
● O homem considera aquele momento uma ótima oportunidade de investida, uma vez que
é íntimo da casa e conhece a jovem desde criança.
● No começo da noite, Rangel está lendo o livro de sortes para alguns convidados, mas
espera que, quando iniciar o Jogo de Prendas, fique livre para entregar uma carta à moça.
O diplomático
● Um novo convidado chega, um amigo de João Viegas, que é acompanhado de um jovem
chamado Queirós, bonito e desenvolto.
● No jantar, Rangel, conhecido por falar eloquentemente, é requisitado por todos a fazer um
brinde.
● Rangel fica abalado ao perceber os olhares entre Joaninha e Queirós e não atende às
expectativas dos presentes.
● Três minutos depois, o belo jovem o complementa e é aclamado.
● Rangel fica indisposto, mas é chamado por Joaninha para jogar cartas como sua dupla.
● Ao fim do jogo, já havia esquecido o contratempo.
● No desfecho da noite, Rangel percebe que Joaninha e Queirós desenvolveram afeto um pelo
outro e decide, então, voltar para casa.
● Em casa, desaba em lágrimas de tristeza e culpa.
● Seis meses depois, Queirós e Joaninha se casam, e o protagonista se mantém o mesmo.
Mariana
● Narração: 3ª pessoa
● Tempo: 1890
● Espaço: Rio de Janeiro e Paris
● Personagens: Evaristo, Mariana, Xavier
Mariana
● Dividido em três capítulos.
● A narrativa se inicia com a volta de Evaristo, que até então estava na cidade de Paris,
ao Rio de Janeiro.
● O ano é 1890 e a personagem estava ausente desde 1872.
● No passado, ele havia se apaixonado por Mariana, que lhe correspondia os
sentimentos.
● Porém, Mariana estava comprometida com outro homem, chamado Xavier.
● Por causa do amor impossível, os dois haviam jurado amor eterno, e Evaristo tinha se
mudado para a Europa.
● A ideia de Evaristo era ficar dois anos, mas ele fica 18.
● Agora Mariana tinha quase 50 anos e estava casada com Xavier, que estava doente à
beira da morte.
Mariana
● No capítulo 2, Evaristo decide encontrar Mariana, indo à sua casa, onde ocorre um
flashback.
● Ao entrar na sala, encontra tudo como era há 18 anos e se depara com o retrato de sua
amada aos 25 anos de idade.
● Ela então “desce do retrato” e eles revivem uma cena de décadas atrás, de declaração
mútua de amor, embora a moça, na época, já fosse casada havia sete anos com Xavier.
● A cena de carinho entre os amantes é interrompida, pois o criado de Mariana entra na
sala.
● No capítulo 3, é informado que, na realidade, a mãe de Mariana é quem havia
interrompido a relação entre Evaristo e a jovem anos atrás.
Mariana
● Por não ter podido ficar com o amado, Mariana havia chegado a tomar veneno em um
ato de desespero.
● Na época, Evaristo sequer conseguiu vê-la antes de seguir para a Europa.
● Agora, após o reencontro, Xavier falece e todos os encontros de Evaristo e Mariana
ocorrem por meio dos eventos fúnebres, aos quais o protagonista faz questão de
comparecer.
● A reunião entre os dois, entretanto, diferentemente de como acontece no flashback,
ocorre de forma distante e fria.
● Por fim, o sentimento jurado entre os dois é esquecido diante das circunstâncias da
vida, pois Mariana havia se apaixonado pelo marido durante os anos em que Evaristo
esteve fora.
Mariana
● Evaristo, após essa constatação, volta à França, momento em que a narrativa
estabelece um paralelismo entre a vida amorosa de Evaristo e o teatro.
● Ao consolar um amigo após sua comédia ser retirada do teatro, Evaristo lhe diz que
algumas peças de teatro ficam, porém outras caem; assim, pois, acontece na vida:
alguns amores ficam e outros se vão.
Conto de escola
● Narração: 1ª pessoa por Pilar
● Tempo: a história retoma acontecimentos ocorridos em 1840
● Espaço: Rio de Janeiro
● Personagens: Pilar, Raimundo, professor Procópio e Curvelo
Conto de escola
● Pilar é um menino que gosta de faltar às aulas, embora seja um aluno inteligente.
● A história trata da vez em que Raimundo, filho do professor Policarpo, tentou, durante
a aula do pai, pagar uma moeda a Pilar para que ele lhe ensinasse secretamente uma
lição de sintaxe, matéria com a qual tinha dificuldades.
● O conto reproduz a atmosfera da negociação entre os meninos e do medo de serem
pegos no ato da cola.
● O medo se justifica porque Policarpo, além de pai de Raimundo, é um mestre rigoroso.
● Outro menino, Curvelo, vê tudo e delata as crianças ao professor, que joga pela janela a
moedinha de prata e dá doze bolos com palmatória (castigo comum à época, 1840) em
cada um.
Conto de escola
● Na saída da aula, Pilar tenta se vingar de Curvelo, mas ele desaparece.
● No dia seguinte, já com o humor melhorado, Pilar tenta chegar mais cedo à escola para
reaver a moeda de prata.
● O menino acaba sendo distraído por uma companhia do batalhão de fuzileiros e passa a
segui-los.
● Começa a caminhar pela cidade, terminando na Praia da Gamboa.
● O conto se encerra com uma breve reflexão de Pilar que, apesar de não ter recuperado a
moeda, havia aprendido uma lição sobre a corrupção e a delação.
Um apólogo
● Narração: 3ª pessoa (mas no último parágrafo o narrador assume a 1ª pessoa)
● Tempo: não determinado
● Espaço: casa de uma baronesa
● Personagens: agulha, linha, alfinete, costureira, baronesa e “um professor de
melancolia”
Um apólogo
● Como se fosse uma fábula, traz como personagens uma agulha e um novelo de linha,
que conversam sobre qual dos dois é mais importante na confecção de vestidos.
● Enquanto a agulha argumenta que ela é essencial, pois fura o pano e puxa a linha, o
novelo rebate que, embora a agulha vá adiante, é a linha quem prende, liga e ajunta.
● Nesse momento, entra a costureira da baronesa e começa a costurar um vestido.
● A agulha, entre os dedos ágeis da mulher, provoca a “senhora linha” dizendo que
somente com ela a costureira se importa; a linha não diz nada.
● Passado algum tempo, o vestido fica pronto, e a linha provoca perguntando quem vai ao
baile e quem vai voltar para a caixinha da costureira.
Um apólogo
● A agulha não responde, mas um alfinete decide repreendê-la, dizendo-lhe que é tola
por abrir caminhos para a linha, a qual aproveita a vida enquanto a agulha ficará presa
dentro de uma caixa.
● Por isso, deveria ser como o alfinete e permanecer no lugar onde lhe espetam.
● Ao final do conto, o narrador cita que contou a história para um “professor de
melancolia”, que havia balançado a cabeça tristemente ao escutar a narrativa e
confessado já ter servido de agulha a “muita linha ordinária”.
D. Paula
● Narração: 3ª pessoa
● Tempo: maio de 1882
● Espaço: Rio de Janeiro (especialmente na Tijuca, onde mora d. Paula)
● Personagens: d. Paula, Venancinha, Conrado e Vasco
D. Paula
● Esse conto trata da história de D. Paula, uma senhora que vai acudir a sobrinha,
Venancinha, após uma briga conjugal com Conrado.
● Na casa da sobrinha, D. Paula descobre que a briga foi causada por ciúmes do marido
em relação a um rapaz com quem a esposa havia dançado em um baile na noite
anterior.
● Como resposta, o marido a ameaçou com a separação.
● D. Paula decide ir até o escritório de Conrado e lá estabelece um acordo com ele: levar a
sobrinha até sua casa na Tijuca, por alguns meses, onde falará com mais calma com a
moça e a aconselhará.
● Conrado informa à D. Paula o nome do moço que havia causado a briga: Vasco Maria
Portela.
D. Paula
● D. Paula fica em choque, pois se trata do filho de um embaixador que foi um caso
amoroso seu na juventude.
● Já na Tijuca, a D. Paula ouve toda a história da sobrinha com reações ambíguas, porque
também o depoimento de Venancinha lhe traz lembranças saborosas da juventude.
● D. Paula percebe que as acusações de Conrado tinham fundamento e que a sobrinha
havia vivido só o prólogo do adultério.
● Vasco chega a ir à Tijuca, mas Venancinha se esconde do rapaz.
● Dessa forma, o possível caso entre os dois não tem continuidade, uma vez que D. Paula
havia aconselhado Venancinha.
● O conto se encerra com D. Paula, à noite, acordada diante da janela e pensando sobre
seu passado.
Viver!
● Narração: apresenta estrutura similar ao de uma peça de teatro, desenvolve-se
pelo diálogo.
● Tempo: “fim dos tempos”
● Espaço: não determinado
● Personagens: Ahasverus, Prometeu e duas águias
Viver!
● O conto mobiliza figuras míticas/bíblicas.
● Trata-se de uma conversa entre Ahasverus, o judeu errante, e Prometeu, o titã da
mitologia grega, em relação ao fim dos tempos.
● Enquanto o Ahasverus foi condenado a viver para sempre vagando sem rumo por não
ter tido misericórdia com Cristo, Prometeu foi condenado por ter roubado o fogo dos
deuses e dado aos humanos (no conto, Prometeu aparece também como criador dos
homens).
● Viver é um conto filosófico sobre a natureza dos homens e da vida.
O cônego ou a metafísica do estilo
● Narração: 3ª pessoa (embora o narrador se dirija ao leitor frequentemente em 1ª
pessoa)
● Tempo: não determinado
● Espaço: Rio de Janeiro
● Personagens: cônego Matias
O cônego ou a metafísica do estilo
● O conto passa-se, em parte, dentro da cabeça do cônego Matias, enquanto escreve um
sermão que lhe foi solicitado.
● De maneira muito inventiva, o narrador fala da busca das palavras por um par, como
“homens” ou “mulheres”, da maneira como se encontram ou se perdem dentro da
cabeça do cônego a construir o estilo do sermão que está escrevendo.
● É um conto metalinguístico sobre o que seja “escrever” e de amor à literatura e às
palavras.
Referências
ASSIS, Machado. Várias histórias. São Paulo: Ateliê Editoral, 2009.

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 2003, 41ª ed.

GONZAGA, Sergius. Curso de literatura brasileira. Porto Alegre: Leitura XXI, 2010, 4ª ed.

GUEDES, Diogo. Imagens revelam Machado de Assis para além do embranquecimento. Jornal do
Commercio, Recife, 19 mai. 2019. Disponível em:
https://jc.ne10.uol.com.br/canal/cultura/literatura/noticia/2019/05/19/imagens-revelam-machado-de
-assis-para-alem-do-embranquecimento-378943.php. Acesso em: 11 out. 2020.

LEITE, Carlos Augusto Bonifácio. “Várias histórias” In: PINHATA, João Eduardo Watanabe. Análise de
obras da UFRGS. Fortaleza: Sistema Ari de Sá de Ensino, 2022 (Coleção Pré-Universitário).

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