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Grandes autores da língua portuguesa

Eça de Queirós (Portugal, 1845- França, 1900)


Eça foi um escritor realista do século XIX. As suas obras são conhecidas pela presença
de críticas sociais, pela exploração da sociedade portuguesa da sua época, revelando as
injustiças sociais, a corrupção e as questões morais. O escritor apresentava um estilo
fortemente irónico e satírico.
Começou a escrever ainda jovem, muito antes de começar a introduzir ideias realistas.
Estudou direito em Coimbra e mais tarde foi para Lisboa, onde exercia advocacia e
jornalismo, juntando-se com amigos em tertúlias, onde discutiam ideias filosóficas,
culturais e estéticas.
Durante toda a sua vida colaborou esporadicamente em jornais e revistas.
A maior parte da vida do escritor foi passada no estrangeiro como cônsul. Esteve em
Cuba, Inglaterra e finalmente em França onde acabou por morrer com 54 anos.
Embora tenha publicado poucas obras, pois era muito perfecionista e nunca considerava
que a obra estava completa, tal não o impediu de se tornar um grande escritor.
Produção estética queirosiana
Pode ser dividida em 3 fases (segundo alguns críticos):
 Textos influenciados pela estética romântica (romantismo social e romantismo
satânico). 1867-1870
Estes primeiros textos foram publicados na revista “Gazeta de Portugal”. Mais
tarde, Jaime Batalha Reis convence Eça a publicar os textos produzidos durante
a sua juventude, no entanto estes apenas são reunidos após a morte de Eça numa
compilação nominada Prosas Bárbaras. Contudo, a equipa de editores publicou-
a com o título Textos publicados na Gazeta de Portugal.
 Textos subsumíveis às convenções da estética realista. 1871-1879
Em que o objetivo não é comover o leitor, mas sim demonstrar a realidade tal
como ela é.
 Textos de confluência de convenções estéticas de origens diferentes. 1880-1890
Neste período, Eça introduz novas técnicas e estratégias, mas ainda tem
influência da estética realista.

O romantismo: O romantismo foi um movimento que durou algum tempo e teve


várias gerações.
1. Garret e Alexandre Herculano
2. Ultrarromantismo
3. Terceiro Romantismo. Esta terceira geração divide-se entre romantismo social,
que se distingue por ter uma maior preocupação social, Victor Hugo foi a grande
figura desta vertente (romance Os Miseráveis) e Antero foi o seu representante
em Portugal; e o romantismo satânico (no sentido de rebeldia).

Bibliografia
 O Mistério da Estrada de Sintra 1870
 O Crime do Padre Amaro 1875
 A Tragédia da Rua das Flores 1877-78
 O Primo Basílio 1878
 O mandarim 1880
 A Relíquia 1887
 Os Maias 1888
 Uma Campanha Alegre 1890-91
 Correspondência de Fradique Mendes 1900
 Dicionário de Milagres 1900
 A Ilustre Casa de Ramires 1900
Publicado depois da morte do autor:
 A Cidade e as Serras 1901
 Contos 1902
 Prosas Bárbaras 1903
 Cartas de Inglaterra 1905
 Ecos de Paris 1905
 Cartas familiares e bilhetes de Paris 1907
 Notas contemporâneas 1909
 Últimas páginas 1912
 A Capital 1925
 Etc.

Os textos queirosianos d'O Distrito de Évora


Em janeiro de 1867, Eça parte para Évora, contratado para ocupar o cargo de diretor de
um jornal de província, O Distrito de Évora.
Eça não se limitou a dirigir o jornal, redigiu-o no que foi uma atividade febril de escrita,
desdobrada por vários registos e formatos. Teve de preencher as diversas secções:
política nacional, política estrangeira, crónicas, traduções, revista de imprensa,
correspondências enviadas de Lisboa. Tudo isto consistia num engenhoso processo de
desdobramento, o escritor editou ininterruptamente o jornal, praticamente sem
quaisquer colaboradores.
A breve, mas intensa aventura no jornal foi uma oportunidade privilegiada para o
escritor olhar para a realidade e refletir sobre a vida política e social portuguesa. Criou
diferentes tipos de texto, de géneros literários distintos, o que lhe conferiu grande
experiência na escrita.
Portugal passava por uma época de transformação, pela Revolução Industrial e
Capitalismo e, sendo assim, Eça exprimia a sua preocupação social.

Reflexões metaliterárias sobre a crónica


Crónica:
 Pequena dimensão comparativamente a um conto, novela ou romance;
 Marcada pela subjetividade;
 Baseia-se em factos/acontecimentos;
 Trabalho estilístico elaborado- principalmente as de Eça, daí serem alvo de
estudo. Eça aproxima a crónica jornalística na literatura à caricatura na pintura,
ou seja, é a representação satírica de uma realidade. Procede, por exagero de
traços, a uma sátira ou comédia de algo ou alguém.
 Utilização do cómico e ironia.
Eça critica o clientelismo, ou seja, o jornalismo compra os cronistas e distorce as
notícias de acordo com a vontade de quem suborna. Crítica a um jornalismo
corrompido e não independente.
 É um texto de combate, capaz de ferir os alvos da mesma (apesar do humor e do
seu caráter mais leve).

As Farpas
Eça identifica como terrível a falta de educação da população, o que depois se torna
tema muito explorado, nomeadamente n’As Farpas, que correspondem à transição entre
o 1º e o 2º período da produção literária de Eça. São publicadas ainda antes das
Conferências de Casino.
Eça e Ramalho Ortigão, seu grande companheiro, decidem criar uns folhetos de sátira
política e social. São textos muito irreverentes, sem grande pretensão senão a de fazer
rir. E rir sempre foi a melhor maneira de educar e de consciencializar.
Durante cerca de um ano, As Farpas foram saindo periodicamente, mas, entretanto, Eça
teve de ir trabalhar para Cuba como cônsul e foi Ramalho Ortigão quem aguentou,
durante vários anos as publicações, por isso a maioria dos textos são da sua autoria.
Já vários anos mais tarde, Eça compilou os seus textos num volume a que deu o nome
Uma Campanha Alegre, publicada em dois volumes em 1890/91.
Todos os textos têm um caráter cómico, exceto dois que apresentam um caráter mais
sério, mais doutrinário. Um deles é sobre as meninas solteiras e o outro é sobre o
adultério, os vícios da vida familiar da burguesia de Lisboa.
A capa original d’As Farpas é representada por um diabrete a olhar por um óculo a
sociedade, de modo a conseguir observá-la detalhadamente, no sentido de a criticar,
apontar os seus defeitos e ridicularizá-la. Os autores convidam também o leitor a
observar a sociedade para além das aparências para perceberem o estado “deficiente”
em que se encontra o país.

Em suma:
 Publicações periódicas em forma de crónica satírica;
 1871/72 foi a data da sua publicação;
 Escritas juntamente com Ramalho Ortigão, que aguentou as publicações
enquanto Eça estava em Cuba, como cônsul;
 Objetivo: mostrar o estado decadente em que se encontrava o país, tinham uma
intenção político-ideológica;
 Capa: diabrete a espreitar por um óculo, a avaliar a sociedade;
 Escritas para um público alargado, requerem apenas que o leitor tenha bom
senso.
 As crónicas são irónicas (ligado à ideia de crítica), alegres (não são textos de
tom moralizante) e justas;
 Os escritores chamam o leitor, convidam-no a “espreitar”, num clima de
proximidade conferido pelo pronome “tu” - estratégia discursiva de proximidade
ou aproximação com o leitor;
 Alvos da sátira:
- Imprensa: nulidade, insuficiência, superficialidade, clientelismo, demagogia
-Política: nulidade, insuficiência, superficialidade, clientelismo, demagogia,
corrupção
-Educação: carência, atraso, conservadorismo
 É feita uma crítica à imoralidade (o cidadão não tem valores morais/éticos,
princípios), ao individualismo (falta de solidariedade), à falta de ética, à
decadência moral e à desonestidade. As pessoas tomam decisões com base no
poder económico e na vantagem social que lhe transmite.
 Crítica à literatura: não tem ideias nem originalidade, é convencional, hipócrita,
falsa e inexpressiva.
 Os autores utilizam a expressão “progresso da decadência” com o intuito de
ridicularizar os políticos e a sua prestação, pois eles utilizam diversas vezes a
palavra “progresso” nos seus discursos e o país não evolui.
As Farpas não vão criar uma revolução nem provocar alterações no funcionamento do
país ou do governo, vão sim tentar alertar e consciencializar a sociedade.

Farpa “a menina solteira”


As mulheres têm um papel fundamental na educação das crianças, cabe-lhes a elas a
transmissão de valores. Por isso, Eça afirma que é preciso garantir a boa educação das
mulheres para consequentemente os seus filhos possuírem também bons valores. Os
ensinamentos das mães ficam guardados para sempre, contrariamente aos que nos
chegam por intermédio de outros, quem têm maior tendência para se apagar. O pai
possui menos feição pelos filhos pois é o homem do trabalho. Eça vai analisar as
raparigas de 1872 para assim prever as futuras gerações.
Em geral, as raparigas têm um aspeto pouco saudável (magras e pálidas), todas padecem
de clorose que ataca os seres privados de sol (passam os dias no sofá com as janelas
fechadas, logo tem falta de ar puro). A menina lisboeta não tem hábitos de vida
saudáveis, contrariamente às inglesas ou alemãs (cuja postura física revela a postura
moral: direita e certa). As atividades diárias das meninas burguesas são propícias a
atitudes de sensualidade e lascívia (de “pomba amorosa”). Alimentam-se mal, são muito
gulosas. A toilette também é uma das causas do seu mau aspeto pois usam roupas muito
apertadas e desconfortáveis. Eça critica a moda do figurino: as lisboetas usam o que está
na moda, não tendo em atenção os aspetos do meio e abandonado a originalidade e o
próprio gosto pessoal.
As moças portuguesas revelam fraqueza moral: preguiça, vaidade, tédio, medo de tudo,
passividade, falta de iniciativa, indeterminação. Possuem uma religião muito superficial,
associada à superstição. São educadas pelo método de memorização, recitam os
ensinamentos de cor, mas não os percebem, que é o mais importante. Ensinam-lhes que
Deus é alguém para se ter medo, o catecismo alternativo. Uma mulher educada desta
forma está à mercê de todos os perigos.
Crescem na mentira porque quando uma criança, ainda pequena, mente os pais acham
engraçado. São curiosas, sendo que há dois tipos de curiosidade: a que se baseia em
perceber os porquês e faz avançar o mundo e a que é baseada em mexericos e
coscuvilhices, as mulheres portuguesas preferem a segunda.
As mulheres eram excluídas de tudo o que tinha a ver com a vida pública, logo só lhes
restava serem educadas para o casamento que era a sua única forma de subsistência.
Há um grande contraste entre as mulheres burguesas e as mulheres do campo: as
meninas burguesas são bonecas que possuem desejos impuros, tímidas e extremamente
medrosas e as mulheres da aldeia brincam, correm, divertem-se e são decididas, sabem
defender-se sem medo.
Outro grande mal tem a ver com os colégios, estes causam tédio que por sua vez cobiça
a curiosidade. O colégio feminino estimula camaradagens promíscuas, onde as meninas
perdem a inocência. Eça acredita que as mulheres, pela natureza do seu cérebro, não
possuem aptidão para o estudo. Não se interessam pela ciência, interessam-se pela
literatura de autores que estimulam a imaginação sexual e analisam a paixão.
Com este tipo de educação a mulher encontra-se demasiado desarmada, se o preço que
tivesse de pagar para ter tudo o que quisesse fosse trair o marido, ela provavelmente
aceitaria.
Contexto histórico
Movimento da Regeneração/Fontismo (1851): Pretendia trazer um grande avanço ao
país, acompanhando o progresso do estrangeiro.
A designação do fontismo deriva do nome Fontes Pereira de Melo, líder do partido
Regenerador. O fontismo foi um período de evolução/crescimento que evitou que
Portugal se atrasasse ainda mais em relação a outros países europeus (como a França). A
principal intenção de Fontes Pereira de Melo era regenerar o país, modernizando-o. Fez
entrar em Portugal novas tecnologias, nomeadamente para uso na agricultura (como
máquina e técnicas especiais), desenvolveu o caminho de ferro e das locomotivas a
vapor (comboios e barcos), promoveu o desenvolvimento industrial (aparecimento de
fábricas de operários), permitiu a construção de novas estradas e pontes e a instalação
dos primeiros telégrafos/telefones. Estas medidas só foram possíveis devido a
empréstimos de outros países (nomeadamente França e Inglaterra), o que fez aumentar a
dívida pública.
O desenvolvimento industrial fez com que as pessoas se deslocassem para as cidades,
onde viviam em muito más condições. Nasce assim uma nova classe social: o
operariado. Trabalhavam nas indústrias com fracas condições e muitas vezes era exigida
mão de obra infantil.

Farpa “Estudo social de Portugal em 1871”


O autor convida os leitores a analisar a sociedade com ele. Há uma decadência moral
generalizada, onde a população guia a sua vida pelo que é mais favorável, tanto
economicamente como socialmente. As pessoas não têm princípios, apresentam uma
grande falta de ética e são guiadas pela imoralidade. A sociedade é caraterizada como
individualista.
A burguesia, que conquistou poder, vive de riquezas acumuladas e empresta dinheiro
aos mais necessitados, com juros. O povo mostra-se cada vez mais miserável à custa da
sociedade capitalista, este grupo social não vive, sobrevive. Ninguém faz nada que
mude o estado deplorável da sociedade. Os autores afirmam que não se querem tornar
cúmplices da indiferença nacional, por isso, adotam o humor como uma estratégia que
têm como princípio a justiça. A posição dos autores é criticar o seu mundo atual,
contemporâneo e não se importarão de criticar tudo o que considerarem que se encontra
mal. As Farpas não vão originar uma revolução, mas vão tentar consciencializar a
sociedade. Isto mostra a humildade dos autores, sabem que não vão mudar muito, mas
preferem falar do que “enterrar a cabeça na areia”. Os autores são completamente
imparciais, não vão de encontro a nenhum partido.
Eça volta a sua crítica para a imprensa, constituído por um jornalismo partidário e
superficial. A literatura não tem originalidade e é convencional. Os romances nada
estudam e nada explicam, limitam-se a contar histórias que sensibilizem os leitores. O
teatro também é alvo da crítica, perdeu a sua finalidade,
Portugal encontra-se em pobreza geral.

Farpa “Os quatro partidos político: 1871”


Os quatro partidos portugueses são: o histórico, o regenerador, o reformista e o
constituinte. Estes partidos são “completamente antagónicos”, estão constantemente a
criticar-se uns aos outros. O autor afirma, com ironia, que nada têm em comum, porém
quando se analisa os princípios que cada um defende, constatamos uma
repetição/inversão de fatores e que na verdade os partidos são todos iguais. Criticam as
decisões dos que se encontram no poder, mas quando estão na mesma posição são
exatamente as mesmas.

Farpa “A abertura das conferências do casino: 1871”


Antero de Quental foi o primeiro orador das conferências de casino. Eça considera que
as Conferência do Casino são uma espécie de “revolução”, onde os portugueses têm a
palavra. Até à primeira conferência, apenas se ouviam opiniões distintas, vozes isoladas,
porém as conferências vêm para alterar isso, vão dar destaque à voz do povo. O cronista
acredita ser possível que as conferências apresentem resistências por parte da audiência,
mas pede que o façam apenas depois de ouvirem os conferencistas e se eles mentirem
ou errarem, aí sim, a audiência deve opor-se.
As conferências procuram a tão desejada reforma social que os portugueses esperam.

Farpa sobre o teatro em 1871


O teatro em Portugal está acabado. Os teatros portugueses não têm competência, a nível
de atores e encenação, para produzir determinados tipos de peças e, por isso, não atraem
público para os teatros.
A decadência deplorável dos teatros tem várias causas, uma delas é a literatura
dramática que não é própria do autor português, outra é o público, que apenas vai ao
teatro para passar o tempo (não vão pela curiosidade nem pela beleza do espetáculo, vão
para combater o tédio). Os atores são outra causa para a decadência do teatro porque, no
geral, são quase todos maus, não por falta de talento, mas sim elo estado em que se
encontram: sem estudos, sem ordenado e por falta de público. Existe uma falta de
investimento por parte do governo no teatro e devia-se investir mais para contribuir para
o enriquecimento do património intelectual.
Eça critica o teatro de São Carlos, que não aumenta o património literário e apenas
divulga e populariza a ópera e a escola italianas. Há um público exclusivo que adere a
este teatro e por isso não é rentável, mas o governo continua a apoiá-lo financeiramente.
O autor acredita que o governo deve parar de subsidiar o teatro estrangeiro, que
funciona como um luxo, e passar a ajudar o teatro nacional, que é uma necessidade (que
se torne uma escola, um centro de arte e um elemento de cultura).

O tema da instrução pública n’As Farpas e a desvalorização da educação


pelo Estado em 1872
Eça reflete sobre o estado das escolas públicas nacionais. A instrução está toda a cargo
do governo, só existem escolas públicas. Em 1844 foi instruída uma lei que concedeu às
câmaras auxílio para a fundação e restauração das escolas primárias, mas desde esse ano
que só foi fundada uma escola.
Dizer que no campo as famílias são contra a ida das crianças à escola é falso. As
famílias precisam do trabalho das crianças para subsistir/perdurar. A solução proposta
por Eça é criar cursos noturnos, desta forma as crianças poderiam ajudar as famílias e
conseguir instrução simultaneamente. Mas, a verdade é que em 1862 apenas existiam 62
cursos noturnos e Eça ironiza que é com este investimento na educação que se criam as
bancarrotas desastrosas. Em 1867, o ministro promoveu a criação de 545 cursos
noturnos, que as câmaras se ofereceram para auxiliar, no entanto, restam menos de 100
cursos.
Os professores ganham muito pouco e é muito difícil sobreviver com o ordenado que
recebem. As escolas são desorganizadas e as crianças são ensinadas com base em
decorar os conteúdos. Não há inspeções nas escolas, o que consequentemente faz com
que as mesmas se desleixem. Eça termina pedindo ao governo que resolva a situação da
indiferença profunda e bestial que há pela instrução.

Conferências do Casino
O contexto das Conferências de Casino
As conferências de casino foram criadas para discutir aspetos importantes.
Objetivos: abrir uma tribuna onde se possa falar, discutir, comunicar para agitar a
opinião.
Os autores de As Farpas e os conferencistas partilham a mesma opinião: Portugal
encontra-se atrasado relativamente a outros países (França, por exemplo).
Programa das Conferências de Casino:
 Abrir uma tribuna onde tenham voz as ideias e os trabalhos que caraterizam este
momento do século, com principal preocupação com a transformação social,
moral e política dos povos.
 Ligar Portugal com o movimento moderno, fazendo-o assim nutrir-se dos
elementos essenciais para uma sociedade civilizada;
 Agitar a opinião pública e as grandes questões da filosofia e das ciências
modernas;
 Estudar as condições da transformação política, económica e religiosa da
sociedade portuguesa.

1. O espírito das conferências. Antero de Quental


2. Causa da decadência dos povos peninsulares. Antero de Quental (foi a responsável
pelo encerramento das conferências).
Os povos peninsulares encontram-se em decadência devido ao catolicismo. Não se
conseguem “livrar” dos valores e da opressão da Inquisição.
3. A literatura portuguesa contemporânea. Augusto Soromenho
4. A literatura nova. O realismo como expressão na arte. Eça de Queirós
5. A questão do ensino. Adolfo Coelho
As conferências de casino foram encerradas pelo Marquês de Ávila e Bolama.
Ainda estavam previstas:
6. Os historiadores críticos de Jesus. Salomão Saragga
7. O socialismo. Jaime Batalha Reis
8. A República. Antero de Quental
9. A instrução primária. Adolfo Coelho
10. A dedução positiva da ideia democrática. Augusto Fuschini

A Conferência proferida por Eça de Queirós nas Conferências do Casino


Eça foi o orador de uma das Conferencias de Casino em que o tema principal foi o da
literatura moderna ou, como refere o orador no ato da sua palestra, o Realismo como
nova expressão da arte. A conferência de Eça de Queirós teve por base o ponto de vista
de que, tendo a arte uma influência poderosa sobre os costumes e sobre a moral, deveria
contribuir o mais possível para realizar a justiça. O realismo aparece-nos com uma
finalidade que tem um caráter pedagógico-orientador pertencendo ao artista o trabalho
de analisar a realidade social de uma maneira objetiva.
Uma arte que não acompanhe a sua época é uma arte falsa pois desacompanha os
desinteresses do mundo. Eça critica a arte anterior ao Romantismo pois este tipo de arte
nada diz sobre a realidade contemporânea.
O realismo é uma base filosófica, uma lei, um roteiro do pensamento humano na eterna
região artística do belo, do bom e do justo. O Realismo não se carateriza apenas pelo
processo descritivo, mas também pelo intuito moral de justiça e de verdade.

Realismo
A divulgação dos princípios do Realismo, a ilustração com exemplos e a explicação
do seu sentido pedagógico do Realismo
O realismo é uma forma de expressão artística que procura reproduzir de forma mais ou
menos evidente e naturalista o mundo e os objetos da realidade envolvente, surgindo de
forma cíclica ao longo da história e tendo como principal impulsionador a França.
É uma arte que reforma, moralizando, quando expõe os podres de uma sociedade que a
arte dos clássicos e o sentimento dos românticos tinham deixado camuflados. É evidente
a preferência pelo pormenor descritivo.
Oposição razão/sentimento: oposição estratégica do movimento realista em
contrapartida do movimento anterior (romantismo). O realismo quer mostrar de forma
verdadeira a sociedade e não “romantizá-la”.

O realismo na pintura e na literatura


Eça de Queirós marcou o realismo português.
O realismo é um movimento que surge na pintura da Europa. O realismo na pintura
portuguesa só surge anos mais tarde.
Estética realista: tem como objetivo representar a realidade sem a embelezar e sem a
idealizar. Quer representar o real e, por isso, as figuras são representadas com feições
acentuadas e expostas nas suas atividades e comportamentos. Valoriza-se a dureza da
vida e do trabalho.
Caraterísticas da arte realista:
 Objetividade;
 Rejeição de temas metafísico (como mitologia e religiosidade);
 Representação da realidade “crua”: As coisas tal como elas são;
 Realidade imediata e não imaginada;
 Politização: a arte passa a ser um meio para denunciar uma ordem social injusta.
A arte manifesta um protesto a favor dos oprimidos.
 Caráter de denúncia de desigualdades.

As bases ideológicas: socialismo utópico e positivismo


O socialismo utópico é uma corrente de pensamento filosófico que esteve baseada num
modelo idealizador, utópico. O seu maior objetivo era a criação de uma sociedade ideal,
mais justa e igualitária. Estas ideias surgiram com o aumento dos problemas sociais
desenvolvidos pela Revolução Industrial. Tem como antecedentes algumas comunidades
organizadas de forma comunitária: sistema colaborativo, diminuição do poder estatal, as
mesmas oportunidades por parte das diferentes classes.
Caraterísticas do socialismo utópico: Busca da sociedade ideal, cooperativismo,
trabalho coletivo e igualdade social.
O positivismo é uma corrente filosófica que surgiu na França no início do séc.XIX.
Defende a ideia de que o conhecimento científico seria a única forma de conhecimento
verdadeiro. Podemos afirmar que o positivismo é a “romantização da ciência”,
depositando a sua fé na competência da razão. A metodologia básica positivista é a
observação dos fenómenos, desconsiderando todo o conhecimento que não possa ser
comprovado cientificamente.

A ficção realista e as teorias da ficcionalidade


 O realismo recorre a personagens-tipo que representam classes socias,
ambientes, estatutos sociais, posições políticas.
 Perspetiva omnisciente do narrador. O narrador é fiável, o leitor pode confiar
nele pois o que ele vai narrar é verdade.
 Descrição do espaço (social, psicológico e físico), tal como de ambientes.
Estratégias de fazer crer:
 Ocultação da ficção: protocolo de acreditação;
 Enquadramento da série;
 Figuração do narrador: fiabilidade sob aparente imparcialidade.
Jogo do espaço-tempo: contemporaneidade, espaço reconhecível, nomes identificáveis.

Estratégias compositivas:
 Lógica causal e ordem narrativa adequada conduzem a intriga disfórica.
Percebe-se que no final da trama as personagens não atingem o sucesso que
poderiam atingir.
 Personagens-tipo, temas de crítica social, descrição enumerativa e em pormenor.
 Polifonia-contexto que possui uma pluralidade de vozes, de discursos, sem uma
voz que se sobreponha às demais. O narrador omnisciente conta a história e as
personagens estabelecem diálogos, fazendo entender ao leitor os
acontecimentos.
 Mudanças de ponto de vista, sátira, caricatura e ironia.
 Intenção pedagógica da qual os elementos anteriores são suporte. O leitor tem
que tirar lições sobre o que acontece na obra.

Princípio da realidade: Ligações ao que conhecemos da realidade empírica.


Princípio do mútuo acreditamento: Pressupõe o jogo de acreditamento do público.

Conto “No Moinho”


O conto “No Moinho”, de Eça de Queirós, tem como personagem principal Maria da
Piedade, uma bela mulher quer era apreciada por toda a vila. De família modesta, mãe
“desagradável” e pai bêbado, Maria da Piedade vê como única saída casar-se com João
Coutinho, um homem doente, mas rico, com quem teve 3 filhos (2 meninas e 1 menino)
que, por herança genética, também eles nasceram doentes. Assim, restava-lhe viver
como enfermeira, cuidando das doenças do marido e dos filhos.
Um dia, João Coutinho recebe uma carta do seu primo Adrião, romancista de Lisboa,
anunciando a sua chegada para a venda de uma propriedade rural. Imediatamente João
manda providenciar estadia para o seu primo e isso deixa Maria da Piedade apavorada
por ter em casa um estranho que quebraria a tão organizada rotina da residência. Porém,
o primo decide ficar alojado na estalagem do Tio André. Adrião desejava vender uma
fazenda, mas não conseguia arranjar comprador e João pede a Maria para o acompanhar
e para o ajudar pois entende desse tipo de negócios. Na presença de Adrião, Maria
sente-se valorizada devido aos elogios que ele lhe faz e passa a vê-lo com outros olhos.
No dia em que vão à fazenda, Maria acaba por convidá-lo para irem visitar o moinho e
Adrião percebe que está “interessado por aquela criatura tão triste e doce”, tão diferente
das demais mulheres que ele conhecera.
Como combinado, foram ao moinho e, cansada da caminhada, Maria da Piedade senta-
se numa pedra e Adrião começa a comparar o moinho com o paraíso e a imaginar como
seria se ambos ficassem ali para sempre. Então, Maria cora e ri. De repente, o primo de
João abraça-a e beija-a profundamente. Apesar de, em parte se sentir arrependido, no
fundo estava contente pela sua generosidade por saber que, tendo em conta a vida que
Maria levava, nunca mais teria um momento como aquele. No entanto, Adrião acaba por
partir e voltar para Lisboa, para a sua antiga vida.
Maria da Piedade ao sentir e visualizar outras possibilidades para a sua existência, além
de ser enfermeira do marido e dos filhos, reflete sobre a vida que leva e começa a achar
os seus “fardos injustos”. Sentindo-se injustiçada, restava-lhe o amor que sentia por
Adrião, com quem passara a sonhar, e a imaginar o homem forte, extraordinário, belo
como sendo a razão da sua vida. Leu todos os seus livros e, enquanto lia, acalmava a sua
própria dor pois enquanto chorava pelas dores das heroínas dos romances, sentia alívio
pelas suas. Assim, Maria da Piedade passou a sentir a necessidade de ler romances
constantemente, “criando no seu espírito um mundo artificial e idealizado”. Com a
perspetiva dos romances, a sua realidade tornou-se odiosa e com isso apareceram as
suas primeiras revoltas, tornou-se impaciente e áspera. O seu amor desprendeu-se da
imagem de Adrião e alargou-se para um ser vago feito de tudo que a encantara nos
heróis dos romances que lia (oposto da figura raquítica do seu marido).
Às vezes, ao pé do leito do marido, sentia vontade de lhe apressar a morte. O momento
noturno proporcionava reflexão e solidão à personagem, que apesar de rodeada de
amantes fictícios, terminava chorosa e solitária à noite. Abandona a família, deixa a casa
suja, os filhos sujos e com fome e o marido a gemer na alcofa, e passar a ser amante do
praticante da botica.

O conto encaixa-se na perspetiva naturalista e critica o idealismo romântico pois o


instinto prevalece à razão, por meio do espaço corrompido moralmente pela traição,
assim provando que o meio é capaz de influenciar o Homem.
A falta de coerência marca a trajetória que vai da senhora modelo (que vive para cuidar
do marido inválido e dos filhos doentes) à mulher promíscua (que pensa em apressar a
morte do marido e deixa os filhos sujos e sem comida até tarde). Reflete a
transformação de caráter provocada pelo beijo do primo Adrião.

Os eventos são relatados linearmente, delineando 3 situações diferentes:


 Maria da Piedade como enfermeira zelosa;
 Maria da Piedade conhece e apaixona-se por Adrião;
 Maria da Piedade entrega-se a leituras românticas desencadeadoras de cenários
imaginários e falsos.

O final adúltero é a consequência lógica e determinista deste percurso. O elemento


desencadeador da ação é Adrião, cuja chegada altera o decorrer monótono, mas
pacífico, da vida de Maria da Piedade, causando diferentes atitudes e comportamentos.
A sua visita instaura o conflito necessário à narrativa.
Espaço: vila de província; Casa que é comparada a um hospital.
A doença é uma questão hereditária.

Temas: Adultério, posição da mulher no séc.XIX, pobreza, violência, infância,


hereditariedade, paixão, desejo, decadência, saúde, vícios da burguesia, casamento
como convenção social de aparência, falta de valores morais, destino, educação da
mulher, vida contemporânea, conservadorismo da Igreja, mentira, mulher anjo que se
revela como mulher promíscua.

Este conto pertence a uma fase do Eça em que o escritor pretende representar a
sociedade de então e mostrar o panorama em que ela se encontra, as chamadas “Cenas
Portuguesas”.
Cenas Portuguesas: construção de uma série de romances que fizessem a análise da
sociedade portuguesa moderna.

Conto “Singularidades de uma rapariga loura”


“Singularidades de uma rapariga loura” (1874) é o primeiro conto de caráter realista
português.
Conta uma história de amor entre um jovem honesto e trabalhador, Macário, e uma
rapariga loura chamada Luísa, que é aparentemente dócil. Macário apaixona-se por ela a
ponto de sair de casa do seu tio Francisco (é expulso, pois, o tio não permitiu o
casamento entre os dois), onde trabalhava como escriturário e ir até Cabo Verde em
negócios, só para merecer a mão da rapariga.
O conto não segue a ordem cronológica dos eventos, apresentando analepses e regressos
ao tempo no qual o protagonista (Macário) narra a sua história.
No conto verifica-se uma grande analepse introduzida por um narrador confidente da
desventura de Macário, este disse que o seu caso era simples. O narrador e o
protagonista conheceram-se numa estalagem no Minho, portanto eles conhecem-se
quando Macário já tem uma certa idade.
Numa estalagem do Minho, o narrador e o Macário partilham o mesmo quarto o que
facilita a confidência e o relato da vida de Macário, suscitado por uma conversa ao
jantar sobre a beleza feminina das terras do Norte. A reação a esta conversa fez perceber
ao narrador que há alguma história por detrás do silêncio de Macário a estes
comentários.
Macário conta a sua história ao companheiro de hospedagem, já no quarto. Assim é
incutido no leitor a ideia de que se trata de uma história verídica, desencadeando a
estratégia de fazer crer, própria do realismo. É suposto o leitor acreditar que o narrador
ouviu as confidências de Macário e só desta forma consegue transmitir a história. Está
presente a ideia de que é verdade tudo o que se conta e que a história surge através de
um narrador que se declara realista e que mostra em que circunstâncias ouviu o relato
do próprio protagonista, mas logo o narrador se apodera desse relato e só muito
esporadicamente reaparece o diálogo entre Macário e o narrador.
A história de Macário organiza-se em diversas sequências temporais configurando
situações diferentes, mas com uma certa simetria:
1. Primeiro, encontramos Macário como guarda-livros, trabalhando na casa
comercial do seu tio Francisco e enamorado de Luísa que vem morar em frente.
2. Numa segunda situação, vemos Macário sem dinheiro e a procurar emprego,
porque o tio não consente o seu casamento e expulsou-o de casa.
3. Num terceiro momento, relata-se a partida de Macário para Cabo Verde numa
comissão de serviço e o seu regresso com dinheiro para noivar.
4. Uma quarta situação mostra-nos Macário novamente pobre por ter servido de
fiador de uma loja de ferragens cujo negócio vai por água abaixo. Macário honra
a sua palavra e paga, mas fica pobre novamente.
5. Num quinto momento, conta-se a readmissão de Macário na casa do tio
Francisco, finalmente com licença para casar.
6. Desenlace triste.

Para além da analepse, verifica-se que a história tem uma estrutura repetitiva: por duas
vezes Macário fica pobre e por duas vezes consegue vencer esta situação seja com uma
partida em trabalho para Cabo Verde, seja com o regresso ao primeiro local de trabalho
porque o tio Francisco lhe perdoa a teimosia em casar. A composição do conto serve-se,
portanto, do paralelismo de situações e o conto evolui porque estas situações
semelhantes apresentam também alguns avanços. Com efeito, na primeira vez que
Macário, sem dinheiro, vai falar com o tio, encontra uma resposta negativa e, em
contrapartida, na segunda vez, o tio reconhece o caráter honrado do sobrinho e permite-
lhe regressar ao seu emprego inicial. O conto vai assim progredindo dentro do
paralelismo.
Há alguns indícios do desenlace: O pormenor do vistoso leque usado por Luísa, objeto
com demasiado valor para ser usado por pessoas com poucos recursos financeiros. O
desaparecimento dos lenços da Índia na loja e, mais tarde, de uma peça de ouro de um
jogo numa noite de convívio na casa de Luísa.
É nesta altura que o narrador reintroduz o diálogo, regressando ao tempo da narração de
Macário. “Foi neste ponto que Macário me disse com a sua voz singularmente sentida: -
Enfim, meu amigo, (…) resolvi-me casar com ela. – Mas a peça? - Não pensei mais
nisso.”
Após este diálogo, o narrador apodera-se novamente da narração em terceira pessoa.
Este corte funciona como uma chamada de atenção para o leitor que, mais tarde, acabará
por perceber o porquê do desaparecimento da peça do jogo e dos lenços da Índia.
Já noivos, Macário leva Luísa a escolher um anel e, enquanto escolhem um, Luísa tira
outro anel. Este elemento do roubo funciona como elemento surpresa que precede o
final do conto, com a conclusão que Macário enuncia “És uma ladra!”.
O conto compõe-se de duas partes: a primeira é mais descritiva, através da qual se
configuram as personagens e o contexto em que se movem e na segunda parte abunda o
diálogo. Portanto, compositivamente, este conto apresenta dois andamentos narrativos
de extensão desigual: o tempo dos eventos narrados que compõem a intriga e o tempo
de encontro entre o narrador e o protagonista, onde é suposto o primeiro ter
conhecimento dos eventos.
Para além da duplicidade temporal, o conto também se servo do paralelismo das
situações para permitir a evolução do enredo. Este tipo de composição permite um
maior distanciamento do leitor relativamente à história contada, sugerindo que o leitor
acione o seu espírito crítico de modo a não se deixar levar pelas aparências como
aconteceu com Macário. À boa maneira realista, o caso de Macário deve funcionar
como uma lição e evitar que o leitor incorra num erro semelhante.
A Relíquia
Temas: enriquecimento, hipocrisia, luxúria, quebra da palavra e do valor da honra.
Motivos (aquilo que move as personagens, motor da intriga): ganância, dependência,
enganos, viagens.
Outras caraterísticas: atitude anti-heroica do narrador, esteriotipização de personagens.

 Prólogo
Cruzamento entre a verosimilhança (relatam-se acontecimentos como se fossem
verdadeiros, possíveis de serem encontrados na sociedade de então) e do registo
“fantasista” (dimensão da imaginação, transposição do século atual para o tempo de
Jesus Cristo).
Texto escrito na primeira pessoa, é autobiográfico, com a intenção das memórias
servirem de exemplo para alguém. O autor escreve as memórias para que estas
fiquem registadas como se fosse uma obra literária.
O narrador, de nome Teodorico, narra a sua própria vida. As memórias relatam uma
grande mudança na vida dele, fez uma viagem à Palestina (enviado pela sua tia
Dona Patrocínio das Neves). A história dá-se em 1875, mas aquando da viagem à
Palestina há um recuo temporal à época de Jesus Cristo (“Testemunhei,
miraculosamente” - não testemunhou verdadeiramente).
A imagem de Jerusalém traçada no livro contrasta com as idealizações que poderia
haver na altura. Não é uma obra que consiste num guia pitoresco de Jerusalém (tal
como o narrador deixa explícito). O companheiro de viagem do narrador (doutor
Topsius) escreveu esse guia que pinta Teodorico como um crente (beato).
No prólogo do livro, o narrador explica o seu objetivo: narrar a sua viagem e
mostrar que a versão narrada por Topsius não é verdadeira e que o desacredita
perante a burguesia liberal.
As memórias vão ser contadas com realismo, mas também com algumas
caraterísticas da farsa.
Farsa: Texto dramático com um teor satírico/caricatural. É uma peça curta,
normalmente possui apenas um ato, e com poucas personagens (personagens-tipo).

 Capítulo 1
Conhecem-se os antecedentes familiares de Teodorico Raposo. O seu avô era o
padre Rufino da Conceição (padre católico, supostamente não poderia ter
relações. Dimensão crítica relativamente à Igreja Católica enquanto instituição).
O pai, Rufino da Assunção Raposo, era “afilhado de Nossa Senhora da
Assunção”, uma vez que os padres não podiam ter filhos.
Hagiografia: descrição da vida dos santos.
Rufino da Assunção Raposo vivia em Évora com a mãe (avó de Teodorico) e
escrevia no “Farol do Alentejo”, jornal de província com caraterísticas
românticas.
A avó chamava-se Filomena Raposo, conhecida como “repolhuda”
(rechonchuda), o que demonstra um bom estatuto económico. Era doceira e teve
uma relação com o padre (Rufino da Conceição).
Teodorico perde a mãe Dona Rosa, irmão de Dona Patrocínio das Neves, muito
cedo e mais tarde acaba por perder também o pai, que morre com uma
apoplexia.
O protagonista teve uma breve paixão pela criada da tia (Vicência).
A Titi tinha problemas de fígado.
Princípio de obediência: Teodorico tinha de concordar com tudo o que a titi
dissesse pois iria herdar a sua fortuna.
Parte da educação do protagonista foi feita no colégio dos Isidoros (formação
religiosa, de seminário). Não havia escolas públicas, a Igreja era responsável
pela maior parte da educação que existia em Portugal. Era uma educação
tradicional, baseada na memória e avessa às novas ideias. Era uma educação
baseada em temer o castigo de Deus em caso de pecado.
Crispim era um amigo de infância/adolescência de Teodorico, era um burguês
suficientemente favorecido para poder estudar no seminário.
Em Coimbra, onde estudou Direito, Teodorico vive uma vida de boémia
estudantil, demora imenso tempo a acabar o curso e só o acaba por medo da tia.
Teodorico “Raposão” é mentiroso e hipócrita. Vive uma vida dupla, é religioso
à frente da tia e é boémio sem a sua presença. Imagina muitas vezes a morte da
tia.
Tia Patrocínio/Titi: Apresenta uma religiosidade superficial pois não segue os
princípios em que acredita. Tem falta de caridade e solidariedade, é
supremamente hipócrita, despreza as relações carnais e valoriza as espirituais.
Em Lisboa, numa das visitas à Titi, Teodorico conhece Adélia, com que
manteve um caso. Quando acabou o curso e se mudou definitivamente para
Lisboa, para agradar a tia, passou a ser profundamente beato (ia todos os dias à
igreja, rezava, levava uma vida de devoto convicto). No entanto, tudo isto não
passava de um plano para herdar a fortuna da tia. Como consequência da
devoção exacerbada do rapaz, ele acaba por deixar Adélia de lado e ela, farta de
não receber a atenção que estava habituada, desistiu de Raposão e envolveu-se
com outro homem, o senhor Adelino.
Na verdade, Teodorico deseja conhecer Paris, mas a Titi nunca o permitiria uma
vez que é a cidade das “relaxações”. A hipótese de viagem posta pelo Doutor
Margaride é o principal motivo da viagem de Teodorico, com a possibilidade
comprar o perdão (crítica ao catolicismo). A Titi pede a Teodorico que este lhe
traga uma relíquia milagrosa de Jerusalém para que ela a guarde e que a salve
das aflições e doenças.

 Capítulo 2
O capítulo inicia com Teodorico e Topsius em Alexandria, no Egito. Topsius e
Teodorico conheceram-se em Malta e, dando-se conta que ambos iam para
Jerusalém, tornam-se companheiros.
Topsius e Teodorico tornaram-se companheiros na viagem. Topsius corresponde
à figura caricatória do investigador científico, acentuando os seus defeitos. A
figura de Topsius indica-nos vários elementos acerca da relação do protagonista
com ele: inteligência vs ignorância (saber histórico de Topsius vs o catolicismo
decorado de Teodorico).
Miss Mary: Tem um caso amoroso com Teodorico. O episódio da camisa é
fundamental neste capítulo. Miss Mary dá a Teodorico a sua primeira relíquia, a
sua camisa de dormir para que ele se lembre das noites que passaram juntos,
juntamente com uma carta de amor. Esta sua primeira relíquia revela a sua
essência e, por isso, deve ser escondida do mundo.
Os companheiros chegam finalmente a Jerusalém após uma viagem repleta de
aventuras.
Aborrecido, Teodorico observa uma moça ruiva a tomar banho. O pai dela,
agressivo, vê-o com os olhos postos no buraco da fechadura e dá-lhe uma sova.
Assim foi a primeira noite do protagonista em Sião: espancado.
A figura de Jesus aparece como alguém que vem pregar uma nova religião, uma
rebeldia contra a ordem que estava estabelecida.
Teodorico quer encontrar uma relíquia para a titi e encontra o galho de uma
árvore, acreditando que essa mesma árvore foi utilizada para fabricar a Coroa de
Espinhos. Vai falar com Topsius para confirmar a sua dúvida e este pensa em
contestar dizendo que a Coroa de Espinhos foi criada a partir de uma silva, mas
lembra-se das “Razões de Família” de Teodorico e confirma o que o
protagonista lhe havia dito. A ideia de Teodorico era colocar o galho no formato
de uma coroa de espinhos e dar à tia, considerava o presente perfeito para
conquistar o seu coração e garantir a herança que tanto desejava. Esta segunda
relíquia revela a sua aparência, por isso deve ser mantida à vista.
O protagonista mostra a sua vontade na morte da tia para herdar a sua fortuna.
As verdades científicas são alcançadas a partir de raciocínios e experiências,
mas podem ser contestadas, é necessário a constante procura de novas ideias e
hipóteses.

 Capítulo 3
Teodorico adormece e sonha com o tempo de Jesus Cristo. São postos em causa
alguns dogmas da Igreja Católica, nomeadamente a Imaculada Conceição e a
Santíssima Trindade.
(Imaculada Conceição: A Virgem Maria foi preservada do pecado original desde
o momento da sua conceção, toda a sua vida foi completamente livre de pecado.
Santíssima Trindade: Define Deus como 3 pessoas consubstanciais, Pai, Filho e
Espírito Santo, três pessoas distintas que são concebidas como um todo).
Templo de Salomão (IX a.C.): edifício religioso desaparecido, destruído ou
demolido. Construído no reinado de Salomão (rei de Israel e da Judeia).
Segue-se de perto a figura bíblica de Jesus, mas é descrita de forma
humanizada.
Herodes pergunta “O que é a verdade?”, mas Jesus não responde. Não há uma
verdade absoluta.
Os judeus vão condenar Jesus Cristo. Os judeus têm um estereótipo de serem
espertos, possuírem boa retórica e boa argumentação, serem cultos e
inteligentes.
Este capítulo marca um devaneio de sono ou a presença do fantástico dentro do
realismo. Esta estrutura é a forma pela qual Eça de Queirós foge do presente e
vai até à época de Cristo para dessacralizar a história ideologicamente
construída pela manipulação católica dos dados que se referem ao nazareno.
Estavam, então, em Jericó do século I, era sexta-feira da paixão de Cristo e este
iria ser crucificado.
O trecho vivenciada em sonho por Teodorico é uma amostra de que participou
na história e de que o relato dela, por ter elementos que se diferenciam da que é
tomada como oficial, é uma prova de que o papel pode aceitar diversas versões
e os Homens aproveitam-se daquela que mais lhes convém. Assim, a viagem no
tempo (farsa) pode provar a verdade escondida na farsa criada pela Igreja,
segundo a obra.
Enfim, Cristo passou pelo julgamento contra Barrabás e foi condenado à
crucificação após Pôncio Pilatos lavar as mãos. Segundo a visão desta obra,
José de Arimateia deu-lhe uma bebida anestésica que seria anulada após o
enterro. Retiraram, então, o corpo de Messias e deixaram a porta do sarcófago
onde o depositaram aberta. No entanto, o antídoto não fizera efeito e Jesus
acabou por morrer. A noite termina. Têm de voltar para Jerusalém.

 Capítulo 4
Rumaram para Jerusalém e visitam alguns locais de lá. Teodorico está farto de
tanta religião e o seu corpo reclama por satisfação carnal. Em Jerusalém, ocupa-
se a embalar as relíquias menores para a Titi. Despede-se de Topsius, que parte
para o Egito.
 Capítulo 5
Uma semana depois, chega a Lisboa. O seu interesse maior, a herança, ainda
estava longe pois a Titi ainda se encontrava de boa saúde. Mas a grande hora
chegou, Teodorico ia entregar a coroa de espinhos a coroa de espinhos, a grande
relíquia que lhe prometera. O ritual fez-se na presença de padres e o pacote foi
colocado num altar, entre Jesus e Maria. Esta cena é a maior ironia da obra pois
o protagonista engana-se nos pacotes, deitou fora o pacote que tinha a coroa de
espinhos e ficou com a prenda de Miss Mary. A camisola de uma prostituta
mistura-se com a santidade de Titi. É como se o autor quisesse demonstrar que
não é possível esconder sob um manto diáfano (a camisola) a verdade.
Teodorico é expulso de casa e vive do dinheiro que fez com a venda das
relíquias menores que trouxera da viagem. Viveu meses assim, a falsificar as
relíquias e a comercializá-las. A Titi morre finalmente com uma congestão nos
pulmões. A herança foi direcionada ao padre Negrão, que mais tarde o
protagonista descobre que está junto com Adélia, e Teodorico ficou apenas com
uns óculos da sua tia, o que corresponde a uma grande ironia, pois ele só
conseguiria ter uma imagem daquilo que queria.
A revolta do protagonista foi tanta que ele evocou a sua consciência para, na
voz de Cristo, explicar-lhe a inutilidade da hipocrisia. Desta forma, mentir era
um ato inocente, porém outro ensinamento lhe era dado no mesmo instante: se
começar uma mentira, tem de ir com ela até ao fim e nunca recuar. E é com este
último ensinamento que ele lamenta ter dito a verdade à Titi, devia ter-lhe dito
que a camisola não era de Miss Mary, com a desculpa que pertencia a Maria
Madalena (aproveitando as iniciais com que a carta fora terminada “M.M.”) e,
desta forma, funcionaria como uma prova que ele resistiu ao pecado das
“relaxações”.
O protagonista reencontra o seu velho amigo Crispim. Falido, Teodorico aceita
o emprego que ele lhe oferece, conhece a sua irmã, Dona Jesuína, e ambos se
apaixonam e acabam por se casar. Ele consegue comprar o mosteiro onde
morava a Titi e é de lá que, calmamente, relata as suas memórias sem a
necessidade de esconder nada, sem o “manto diáfano da fantasia”.

O final não é trágico, caraterística típica da farsa.


Intriga realista: desfecho disfórico.

Modelo da narrativa picaresca


A Relíquia corresponde à transformação de elementos compositivos da narrativa
picaresca (é um texto em prosa, geralmente satírico e que descreve, com detalhes
realistas e muitas vezes humorísticos, as aventuras de um herói malandro de classe
baixa, que vive por sua inteligência numa sociedade corrupta).
 O protagonista tem semelhanças com o pícaro (personagem-tipo).
 Narrativa autobiográfica (o próprio pícaro é responsável pela narração da
história).
 Dupla temporalidade.
 Estrutura fechada (prólogo inicial, desfecho (anti) moralizante).
 Caráter moralizante (crítica à sociedade onde o pícaro vive).
 Caráter satírico.
Não é uma narrativa picaresca, assemelha-se a uma, mas tem as suas diferenças e as
suas próprias caraterísticas.

O significado da epígrafe d’A Relíquia


“Sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia”
A epígrafe tornou-se célebre uma vez que sintetiza a aliança entre o realismo e a
imaginação, naturalismo e fantástico, união presente na obra e confirmada na introdução
(na qual se diz que a realidade vive na obra “ora embraçada e tropeçando nas pesadas
roupagens das História, ora mais livre e saltando sob a carcaça vistosa da farsa”).

Paródia (caraterísticas)
Procedimento estilístico na composição de uma obra de arte. É inclusiva (vai buscar
aspetos antigos), diferencial (recria-os), relacional (relacionam-se uns com os outros),
dialógica (dialogam entre si) e multidimensional (diferentes dimensões das obras). Toda
a paródia é híbrida e de voz dupla.

Fradique Mendes
A personagem Fradique Mendes tem a sua origem nos textos de “O Distrito de Évora”
como Manuel Eduardo, protofigura de Fradique Mendes. Esta figura é já apresentada
com alguns dados biográficos e os mais importantes encontram-se intimamente ligados
ao tema da viagem: Manuel Eduardo é um viajante “a pé” que irá aparecer na realização
da sua tão sonhada viagem. Manuel Eduardo também é reconhecido por terceiras
pessoas. Porém, estas não aparecem totalmente identificadas.
Em 1869, nasce o heterónimo coletivo Carlos Fradique Mendes, cujos autores são Jaime
Batalha Reis, Antero de Quental e Eça de Queirós.
Fradique Mendes nasce com o objetivo de corresponder a uma figura representante do
romantismo satânico (à moda de Boudelaire). Antero de Quental, Jaime Batalhas Reis e
Eça de Queirós escreviam textos em nome dessa figura e publicavam-nos no folhetim
do jornal “A Revolução de setembro”.
Os dados biográficos que foram apresentados, o conhecimento e reconhecimento de
terceiras pessoas (nomeadamente de personalidades literárias conhecidas), produzem
um “efeito de real” que o conduz o leitor a aceitar Fradique como uma personagem real
e que realmente existiu.
Carlos Fradique Mendes aparece na obra Mistério da Estrada de Sintra (1870). Com o
seu aparecimento nesta obra, salienta-se o alargamento do leque de informações
biográficas a que Fradique é submetido. Curiosamente, algumas dessas informações
aproximam-se da caraterização de Manuel Eduardo, nomeadamente a excentricidade e o
fascínio pelo Mar do Norte.
A singularidade do Fradique queirosiano de 1888 n’A Correspondência de Fradique
Mendes
Subtítulo da obra: Memórias e notas
A Correspondência de Fradique Mendes foi publicada em 1888, mas idealizada por Eça
em 1885. É uma obra ficcional que se divide em duas partes: uma narração
autobiográfica e as cartas de Fradique Mendes.
Na primeira parte da obra, um narrador em primeira pessoa apresenta a personagem de
Fradique Mendes: grande homem, poeta visionário e detentor de uma grande sabedoria.
É um narrador anónimo (atípico do Realismo): Narrador-testemunha, homodiegético,
presenciou/testemunhou/ contaram-lhe o que está a narrar.
Num primeiro momento, o narrador encontra-se num café enquanto lê o jornal
“Revolução de setembro”, que contém uma coletânea de poemas de Fradique Mendes:
as “Lapidárias”. Para o narrador, o poeta seria uma figura extremamente original (temas
novos e modernos). Após isto, surge uma nova figura: Marcos Vidigal, amigo de
faculdade do narrador, que sendo parente de Fradique Mendes, promete apresentar os
dois. Vidigal passa a narrador (narrador omnisciente) e conta a história da vida de
Fradique.
 É filho de uma família rica dos Açores. É educado pela sua madrinha. Estuda
Direito em Coimbra e, após a morte da sua madrinha, permanece em Paris
onde espera atingir a maioridade para poder receber uma enorme herança.
Livre e rico, participa em vários acontecimentos históricos e trava contacto
com grandes personalidades, por exemplo Victor Hugo.
Terminado o relato de Vidigal, volta o narrador inicial. Este é apresentado a Fradique
Mendes e inicia-se uma certa amizade. Os dois conversam sobre a arte, literatura e
questões sociais. Acabam por se encontrar no Cairo onde discutem as diferenças entre o
Ocidente e o Oriente (Fradique acredita que estão ambos em decadência). No restante
da primeira parte, são contados vários factos sobre Fradique, criando a ilusão que a
personagem existiu realmente. O narrador conta que não sobrou nenhuma obra impressa
de Fradique e especula-se que tenha deixado uma marca perdida que contém
manuscritos. De concreto, só restam cartas.

Começa então a segunda parte da obra, a parte epistolar que consiste em cartas que
Fradique escreveu aos amigos, aos intelectuais da época. As cartas são endereçadas
tanto a pessoas reais (Oliveira Martins, Ramalho Ortigão) quanto a personagens fictícias
(quase se acreditava que elas existiam também).
As cartas de Fradique à sua amante Clara servem de contraponto às demais, uma vez
que, nas outras, Fradique é uma personagem intelectual e distante, mas, nas que são
direcionadas a Clara ele fala com um sentimento amoroso.
As cartas são um tipo de texto que têm como objetivo comunicar algo a outrem
(destinador, destinatário).
Carta I: Visconde. Pressupõe a troca de correspondência entre os dois.
Carta III: Oliveira Martins. A história e os homens poderosos que a fazem.
Carta V: Guerra Junqueiro. A religião.
Carta VI: Ramalho Ortigão. O adultério.
O uso de personagens de apoio, tanto ficcionais quanto verídicas, a alternância entre
narradores, o discurso direto e o discurso indireto servem para dar veracidade ao texto
de modo a fazer o leitor acreditar que Fradique é uma personagem real.
Através da personagem Fradique Mendes, o descontentamento com a decadência em
Portugal no final do século XIX ganha voz. Fradique teria sido um grande homem,
detentor de ideias originais, preocupado com valores morais e sociais do seu povo, um
verdadeiro nacionalista. Desiludido com a situação de Portugal, resolve sair pelo mundo
para se tentar entender a si mesmo a sua nação. É nesse contacto com o estrangeiro que
Fradique volta para o Portugal das grandes navegações, o Portugal de um passado
glorioso, a fim de resgatar as raízes da sua nação.
Fradique Mendes é considerado como um semi-heterónimo de Eça de Queirós. O termo
é polémico uma vez que se está a aplicar um conceito que só surgiu mais tarde, com
Fernando Pessoa, no século XX. O estilo de escrita de Fradique é muito semelhante ao
de Eça de Queirós.
Do ponto de vista da linearidade do discurso, esta obra consiste numa analepse. As
analepses são muito frequentes no realismo com um propósito determinista (dar a
conhecer as origens, a família e o percurso do protagonista).

Caraterísticas do dândi: o elegante e o esteta. Fradique: o culto e viajante diletante


Fradique Mendes introduz uma inovação no panorama das obras de Eça de Queirós: o
dândi.
Valores e atitudes do código de conduta do dândi:
 A apresentação e o vestuário são elementos essenciais. Apresentação cuidada,
elegante, mas sem exagero. Abominação pelo vestuário demasiado vistoso. O
requinte da aparência exterior funciona como uma forma de distinção pessoal.
 Possui muita cultura.
 Não tem ocupação. É rico e, portanto, passa o tempo a viajar e a conhecer
novas culturas, mergulha nelas e aprende muito.
 Turista da inteligência. Curiosidade de conhecimento sobre vários temas.
 Aristocrata que vive no seio da burguesia (contradição).
 Inconformismo.

Caraterização de Fradique Mendes


 Aversão às ideias feitas e à banalidade.
 Viajante que se define como turista da inteligência. Sede de conhecimento sobre
variados assuntos. As viagens são o contributo essencial para a cultura de
Fradique.
 Diletante: errância, aventura, conhecimento de novas terras e gentes, viagens.
 Vasta cultura: línguas clássicas, línguas modernas, ciências naturais, ciências
sociais (sobretudo história).
 Esteta. Valoriza a junção de cores, o figurino elegante. Torna a preocupação
estética um trabalho.
 O toque aristocrático conservador.
 Perspicácia na apreensão de elementos do real.
Fradique, para manter a sua imagem, transformava-se em “cidadão das cidades que
visitava”. Mantinha, por princípio, que se devia momentaneamente crer para bem
compreender uma crença.

A excecionalidade fradiquista enquanto posicionamento finissecular


Fradiquismo: longe da representação realista (tipos sociais).
Nota de singularismo, excecional, extraordinariamente culto. Distingue-se pelo estilo,
tem uma marca distintiva.
A caraterização de Fradique é feita através do narrador homodiegético e das cartas.
Polifonicamente caraterizado, diferente da estética realista em que predomina apenas
um narrador e uma perspetiva.

Últimas obras de Eça de Queirós


Complexidade compositiva
3º momento literário de Eça:
 Figurativismo esteticista e simbólico. Mistura da nudez realista com o diáfano da
fantasia. Obras cada vez mais complexas.
 Predicado ou qualidade estética dominante: Fantasioso, fantástico e paródia.
A escrita de Eça de Queirós vai evoluindo e este vai introduzindo novos aspetos nas
subas obras. Na 3ª fase da sua produção estética há uma confluência de diferentes
estilos, começando a aparecer outros elementos que não os realistas.
Podemos considerar este último Eça algo multímodo, numa constante ânsia de
originalidade, de se ultrapassar a si próprio e criar coisas diferentes. Esta última fase
tem a exploração de diferentes elementos estéticos e procedimentos, pelo que é mais
complexo do ponto de vista compositivo.

As duas histórias de A ilustre casa de Ramires


Gonçalo Mendes Ramires é um fidalgo, morador da pequena Vila Clara que ambiciona
participar da política. Vê a sua grande chance de ter o nome reconhecido e ingressar na
política quando um amigo o convida para publicar um romance. Dessa forma, o
protagonista torna-se um autor de uma novela história que se passaria no séc. XIII e
teria como personagem principal um ancestral seu, Tructesindo Ramires. Este é o fiel
companheiro do rei D. Sancho I. Porém, toda a narrativa de Gonçalo não passa de uma
versão em prosa, frouxa e mal elaborada de um poema escrito anos atrás por um tio e
publicado num jornal de província. Os seus talentos literários não passam de uma mal
dissimulada cópia, tal como a sua estrutura moral não passa de um jogo hábil de
interesses e conveniência social.
A presença destas duas histórias paralelas faz desta obra um romance de formação, ou
seja, um romance sobre a arte de escrever. Eça mostra a escrita como um trabalho árduo
pois narra Gonçalo cansado após horas de produção num gabinete fechado ou
pressionado pelo editor e sem páginas concluídas.

Conto “A civilização”
Neste conto é relatada a vida de Jacinto, um homem novo e culto que vivia
luxuosamente rodeado das mais sofisticadas e recentes invenções e das mais belas
obras-primas da literatura. Porém, toda essa vida cheia de regalias não fez dele uma
pessoa feliz. Vivia entediado devido à civilização material. Jacinto procurava fugir ao
tédio e à carência através da incorporação das invenções científicas na sua vida
quotidiana. Era fortemente influenciado pela corrente positivista, valorizando
supremamente a ciência e o progresso.
Para superar o tédio e recuperar o ânimo de viver, Jacinto decide abandonar a
civilização. Escolhe um lugar longe da sua cidade, partiu para o Norte, para Torges, e
separa todos os utensílios que considera essenciais para viver bem, posteriormente
envia-os para a sua nova morada. No entanto, quando chega ao seu destino, percebeu
que todos os utensílios que o deixariam com uma vida luxuosa não chegaram à casa,
foram perdidos. Jacinto considera este acontecimento uma enorme tragédia, sentindo-se
desmoralizado por vir para um lugar tao longe de todos os seus pertences.
Jacinto é subitamente invadido e transformado pela beleza e simplicidade da vida
campestre e pouco a pouco, vai-se integrando neste estilo de vida. Retoma a alegria de
viver e o prazer que as coisas simples trazem aos seres humanos.
Ao contrapor a vida moderna com o estilo rural, Eça faz uma crítica à sociedade
burguesa, materialista e industrial.
Algumas partes da narrativa vão além da descrição naturalista e assiste-se à dura sátira
por parte do autor. Toda a sociedade burguesa é alvo de crítica em episódios cómicos,
tal como as grandes invenções que prometem facilitar o estilo de vida do ser humano.
O leitor depara-se com a contradição dos dois modos de viver. A princípio, a tecnologia
e as facilidades da civilização parecem estar ligadas aos sentimentos positivos, mas,
mais tarde, apercebe-se que a felicidade e o prazer não dependem disso, mas sim das
coisas simples. Eça mostra como, afastando-se do mundo moderno, Jacinto é curado do
lixo da civilização que acomete o homem. Este vivia focado em obtenções matérias,
mas todo o horror que tinha pela vida do campo, no final do conto acaba por passar para
a cidade. Apercebe-se dos excessos e da artificialidade da mesma.

O narrador do conto é homodiegético, apenas sabe o que testemunhou.


A biblioteca de Jacinto é exuberante. O gabinete de trabalho de Jacinto denota o avanço
tecnológico, era composto por máquina de escrever, os autocopistas, o telégrafo Morse,
o fonógrafo, o telefone, o teatrofone.
Referências ao avanço tecnológico:
 É suposto a tecnologia trazer avanços na qualidade de vida do homem, porém
há uma crítica àqueles que são dominados por ela.
 Evolução tecnológica permitida pelo avanço científico.
 Caráter impiedoso dos aparelhos.

O conto “Civilização” é a base para a escrita da obra A Cidade e as Serras.


A Cidade e as Serras:
 Expansão do conto “Civilização”.
 Receita da suma felicidade: suma ciência + suma potência.
 Excesso de materiais leva ao tédio.
 Valorização do retorno à pátria.
 Contraposição de Francisco com a personagem de José Fernandes.
 Para caraterizar o final do século, Eça faz Jacinto encontrar-se com um amigo
antigo (Maurício), com o qual discute as correntes ideológicas de pensamento
em que participou. De forma humorística, Eça fala sobre as correntes de
pensamento que caraterizaram o final de século (Babel= diversidade,
multiplicidade, variedade).
Tendências místicas do final do século XIX: Idealismo e positivismo.

Biografia de José Saramago


José de Sousa Saramago (16 de novembro de 1922 – 18 de junho de 2010). Galardoado
com o Nobel da literatura em 1998. Ganhou o Prémio Camões em 1995. Formação
autodidata. Esteve muito tempo ligado a jornais. Partido comunista. Autor polifacetado,
escrevia vários tipos de textos. Começa a ser reconhecido como escritor relativamente
tarde. O seu tipo de escrita procura aproximar-se da linguagem oral.
Fases da sua produção
1. Romances que revelam uma grande preocupação com a história ou temas
históricos. Romances de “portugalidade intensa”.
Obras: Levantado do Chão e Memorial do Convento
Saramago não gostava da etiqueta “romance histórico” pois vai buscar a visão
histórica dos factos. O autor gostava de dar importância/relevância às
personagens consideradas menos importantes socialmente.
2. Romance universal, mais alegórico.
Obras: Ensaio sobre a Cegueira e A Caverna
3. “Romances Fábula”: Humor e o pendor cómico como estratégia discursiva.
Romances leves, onde a sátira e a crítica ganham uma tonalidade cómica.
As Intermitências da Morte e A Viagem do Elefante

Conto “Refluxo”
“Refluxo” é um conto que parte de um hipotético reino e de um hipotético rei temente à
morte, que vê na presença de cemitérios ou em rituais fúnebres o anúncio da sua própria
morte. O rei simboliza o poder, não é necessariamente um rei específico. Expõe uma
realidade em que o poder soberano dita o confinamento da morte física através da
construção de um cemitério de proporções gigantescas. A construção deste projeto não
implica apenas o depósito de cadáveres futuros, mas também de cadáveres passados. A
construção foi mandada construir pelo rei, mas é graças ao dinheiro do povo que é
construído.
O progressivo afastamento da dor e da morte é problemático. Evolução através da dor.
O narrador chama à atenção aos personagens mais desfavorecidos (caraterística típica
de Saramago) pois não existe o poder sem eles sofrerem:
 Pagam impostos e a construção do cemitério só é possível graças a esse dinheiro.
 Dedicam-se à construção do cemitério e que acabam por sofrer acidentes no
trabalho e alguns acabam mesmo por morrer.
A imposição do poder acontece pela apropriação dos despojos humanos existentes desde
que o país se instituiu. Em causa está a posse do que resta de um passado, para além da
dor causada. O desrespeito pelo descanso dos mortos mostra-se também pelo
desrespeito pela vontade dos vivos, que se veem “obrigados” a cumprir desígnios
alheios. Apesar de a ordem do rei não ter sido contestada, há uma crítica inerente à
apropriação dos corpos, da movimentação dos mesmos, sem a vontade dos mortos e dos
vivos ter sido analisada.
A construção do cemitério implica que todos os caminhos, uma vez que se construíram
quatro estradas em cada um dos pontos cardeais que se encaminham para o mesmo, vão
dar, metaforicamente, para a morte.
A intriga evolui segundo uma lógica de problema/solução, uma vez que para a
construção do cemitério, mais especificamente para a recuperação dos cadáveres
antigos, é posto em causa por alguns problemas que surgem:
 Após se retirarem os corpos dos antigos cemitérios, aperceberam-se que há
morte por todo o país e inventaram uma máquina que sinalizava quando
encontrava corpos.
 A máquina não distinguia os corpos mortos dos corpos vivos, logo introduziu-se
uma ideia fixa de que só poderia encontrar corpos mortos ou restos.
 A máquina não distinguia os cadáveres humanos dos animais. Isto mostrou-se
benéfico pois o rei percebeu que não valia retirar a morte humana se os animais
mortos continuassem espalhados.
O nome do conto, “Refluxo”, pressupõe a existência de movimentos contrários: o
ordenado (cemitério, morte) e o caótico (vida, movimentação). A cidade vai surgindo à
medida das necessidades, de forma caótica. Há um contraste, o cemitério surge de forma
planeada enquanto a cidade em redor nasce de forma natural.
O conto funciona como uma alegoria, tem um sentido para lá do que está escrito. A
alegoria é um procedimento artístico (presente na literatura, mas também em outras
artes) que implica um jogo de representação onde o significado parte de elementos
concretos para alcançar sentido abstratos ou espirituais.

As Intermitências da Morte
A obra As Intermitências da morte, de 2005, constrói uma utopia da eternidade e
desmitifica esse sonho que se tornaria num enorme pesadelo.
“No dia seguinte ninguém morreu” é a frase que inicia o livro. Através de um cenário
irreal, a morte deixa de desempenhar a sua função, deixa de matar e as pessoas param de
morrer.
Num determinado país e no primeiro dia do ano, as pessoas deixam de morrer. Até
mesmo aqueles que, segundo diagnóstico médico, não teriam qualquer salvação, como
por exemplo os que sofreram acidentes de aviação gravíssimos. Segundo as leis da
física, os acidentados deveriam estar mortos. Greve da morte. Um caso que comprova o
assunto é o da rainha-mãe (figura importantíssima) que se encontrava às portas da
morte, sem qualquer esperança de salvação, e não morreu, ficando como suspensa no
tempo.
O boato da ausência da morte começou a espalhar-se e chegou aos meios de
comunicação. Espalham-se pelas ruas imensos jornalistas curiosos com esta situação
atípica. Uma jornalista encontrou um jovem que lhe contou um caso muito parecido
com o da rainha-mãe, o seu avô encontrava-se às portas da morte, sem qualquer
esperança de vida, e não morreu, “como se se tivesse arrependido”.
Com isto, a jornalista insistiu para que o jovem desse o seu testemunho na televisão,
porém ela estava enganada pois acreditava que o avô se tinha realmente arrependido, em
sentido literal. A ignorância das pessoas, nomeadamente da jornalista, em relação à
sintaxe resultou num quiproquó, engano com as palavras.
O escritor tece uma crítica às notícias atuais e ao jornalismo sensacionalista: as notícias
são rasas, existe uma falta de estudo e de trabalho. Caricatura do jornalismo fácil, mas
que comete grandes erros.
No meio desta situação toda, o governo ainda não tinha tomado nenhuma atitude,
apenas o ministro da saúde deu a cara, mas acabou por não o fazer da maneira correta.
Prudência dos ministros em relação à greve dos mortos: Com o intuito de apaziguar as
vozes de protesto, o ministro faz questão de pedir calma às populações, uma vez que o
governo tinha tudo sob controlo. Esta tendência de mandar as pessoas manterem a
calma é compara, por Saramago, a um redil (onde se guardam as ovelhas, que são
sossegadas tal como as pessoas, não pensam fora do que lhes dizem).
No comunicado oficial do primeiro-ministro, este lembra que se poderia tratar de uma
casualidade acidental. Termina o mesmo afirmando que o governo está preparado para
todas as eventualidades. Este comunicado tinha como objetivo tranquilizar a população
alvoraçada.
O cardeal entra em contacto com o primeiro-ministro pois, sendo ele o representante da
Igreja, tem o dever de reclamar. Sem morte, a lógica religiosa deixa de fazer sentido,
pois não existe a ressurreição.
Durante a noite, o cardeal teve um ataque de apendicite aguda e até pensou em pedir a
morte a Deus, uma vez que assim iria ser considerado o vencedor da morte.
As pessoas começaram a pendurar bandeiras nas suas casas, quem não as pusesse
significava que se tinha vendido à morte. Eram poucas as pessoas que tinham a coragem
de ir contra a força da opinião geral, dizendo que esta exposição de bandeiras não fazia
sentido, o que lhes trouxe consequências.
Saramago vai enumerando, humoristicamente, os problemas causados pela greve da
morte:
1. As primeiras reclamações vieram das agências funerárias.
Solução: enterrar os animais domésticos.
2. Os hospitais, tanto públicos como privados, não tardaram a ir bater à porta do
ministério.
Solução: os doentes devem ficar encarregues aos seus familiares.
3. Os problemas dos lares de terceira e quarta idades.
Solução: Abrir mais lares.
4. As companhias de seguro também se viram com problemas. As pessoas não
viam sentido algum em continuar com os seus seguros de vida, uma vez que não
iam morrer.
Solução: os clientes deviam continuar a pagar o seguro até aos seus 80 anos.

A ausência de morte deu origem a um debate teológico e filosófico. Um filosófico


pessimista concluiu que sem mortes, não há ressurreição, ou seja, a existência da
religião justifica-se com a morte. Os delegados da religião católica decidem realizar
procissões com o intuito de fazer regressar a morte.
Conclusão dos filósofos: A filosofia precisa tanto da morte como a religião, porque só
filosofam porque sabem que vão morrer.

O autor dá o exemplo de uma família de camponeses que possui 2 membros em “morte


parada”, o avô e um recém-nascido. A morte não atinge apenas os mais velhos, mas sim
qualquer faixa etária.
É o avô que apresenta uma solução: levá-los à fronteira, visto que no país vizinho ainda
se morria. Assim que passam a fronteira, os dois moribundos morrem e são enterrados
no outro país.
A solução é criticada, mas depois acaba por ser replicada. Sem saberem, a família de
agricultores deu início a um tráfico. Mas nem todos o fizeram com boas intenções.
O governo passou a limitar a passagem na fronteira. A princípio, o plano do governo
estava a correr bem, porém com o passar do tempo, as forças armadas passaram a
receber ameaçadas e a serem violentadas. A origem destes ataques está numa
organização que tem por nome “máphia”. Máphia com ph tem apenas a vontade de se
distinguir da tradicional pois os governos não fazem acordos com esse tipo de
sociedades. Com esta não haveria problemas em fazer acordos pois cumprem sempre o
que prometem e são um grupo totalmente organizado.
O ministro sugere uma contraproposta, uma vez que para manter as aparências, os
militares não podiam simplesmente abandonar os seus postos.
O ministro do interior tem uma ideia para diminuir a afluência da máphia, criar nos
familiares dos doentes um sentimento de solidariedade que os impeça de se “livrarem”
deles e fariam isso através de campanhas. O primeiro-ministro mostra-se cético em
relação à ideia e só resta aceitar o acordo com a máphia.
Os habitantes do país sem mortes achavam que iriam ser invadidos devido à inveja que
os países vizinhos iriam sentir por não haver mortes, mas na verdade, os países vizinhos
estavam fartos que passassem as suas fronteiras para matar e enterrar pessoas.
Acordo entre a máphia e as agências funerárias: a máphia encarrega-se de lhe levar os
mortos e as agências de fornecer as técnicas e os meios para os enterrarem.
Saltos temporais: Uma sociedade dividida em povo, nobreza e claro, mas usufrui de
temas atuais.
Surge na secretária do diretor geral um sobrescrito que anuncia o regresso da morte.
A morte é representada por uma mulher.

A disrupção do irreal e a presença de elementos fantásticos


A obra As Intermitências da Morte está assente numa situação irreal. A obra convoca a
caraterização do fantástico colocando a irrupção do anormal dentro de uma realidade. A
sociedade funciona na normalidade, porém surge um elemento irreal, a ausência da
morte, que levanta vários problemas.

Estratégias do fantástico
1. Acronia: não consideração do fator tempo. Intemporalidade. Mistura
contraditória do natural e do sobrenatural.
2. Casualidade inexplicável: acontece algo que não tem explicação lógica. Magia,
encantamento. Conceção anormal do espaço-tempo. Mudanças na natureza.
Metamorfoses.
3. Fusão paradoxal do dissemelhante. Incerteza. Coalescência real-fantástico.
4. Redução ao absurdo do real quotidiano. Transfiguração do real. Conceção
anormal do espaço-tempo. Ambiguidade.
5. Referência do irreferente (algo inventado). Deuses, entes fabulosos, objetos
mágicos, monstros, fantasmas.

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