Você está na página 1de 12

Universidad Nacional de Misiones

Facultad de Humanidades y Ciencias


Sociales

Curso de Graduação em Português

Disciplina: Literatura Portuguesa.

Docente Titular: Claudia Nuñez.

Analise de obras literarias:


Amor de perdicão- Camilo Costelo Branco

Autor: Sanhueza Saucedo Walter Ramon

Posadas, 20/11/2018
Romantismo

Na segunda metade do século XVIII, realizou-se uma expressiva


transformação na vida cultural do Ocidente, com o surgimento da burguesia
moderna e, com ela, do individualismo e da valorização da originalidade,
inviabilizando a concepção de estilo como comunidade espiritual.
Rompendo com as prerrogativas culturais da aristocracia, a burguesia tem
no Romantismo a legítima expressão do sentido burguês da vida e um meio
eficaz na luta contra a mentalidade aristocrática, classicista e propensa ao
normativismo que pretende estabelecer, com antecipação, o que é
universalmente válido e valioso.
A partir da ascensão da burguesia, esta, tornando-se rica e influente,
manifesta um padrão artístico próprio, através do qual opõe à aristocracia
sua peculiaridade e afirma sua própria linguagem, uma linguagem que, à
frieza da inteligência, contrapõe a emoção e o sentimento; à opressão
rigorosa das regras artísticas opõe a insubordinação do gênio criador. O
surgimento da burguesia como classe ascendente e a manifestação do
espírito romântico constituem fenômenos inseparáveis.
O individualismo, característica mais marcante do Romantismo, é
visto por Arnold Hauser como um protesto contra uma ordem social em
que o homem se aliena, cumprindo funções onde ele é anônimo.
Assim como o individualismo, o destaque às emoções presta-se à
burguesia como meio de expressão de sua independência cultural em
relação à aristocracia. A valorização das emoções e dos sentimentos de um
homem pertencente a uma classe por tanto tempo desprezada age como um
resgate da minimização sofrida.
A apreciação da repercussão do Romantismo só pode ser feita
tendo-se em vista que, nesse momento, cria-se, a rigor, o público leitor. A
antiga aristocracia cortês não constituía propriamente um público leitor. Os
poetas, nas cortes, eram servos prescindíveis, mantidos muito mais para
prestígio dos senhores do que pelo valor de sua produção artística. Mesmo
assim, os destinatários da literatura eram alguns poucos nobres
desocupados. Além disso, a educação da mulher como leitora só se iniciaria
no século XVIII. Por essa razão, o Romantismo conta com um público
novo para uma arte nova, produzida por uma classe em ascensão que se
assume como sentimental e exaltada, em oposição a uma aristocracia
reservada e contida.
Do mesmo modo, o moralismo da burguesia existe em oposição aos
costumes na vida da corte. A simplicidade, a honradez e a piedade
constituem-se em protestos contra a frivolidade e a prodigalidade da vida
cortês, com o agravante de que esse padrão de vida dos aristocratas era
sustentado pelo trabalho anônimo do burguês.
O individualismo, o emocionalismo e o moralismo são, segundo
esse prisma, as características marcantes do início do Romantismo. A estas,
acrescenta-se mais tarde a propensão à melancolia e ao pessimismo. O
homem romântico sofreu a discrepância entre o sonho e a realidade, vítima
do conflito entre as ilusões e a trivialidade da vida burguesa.
Como decorrência do individualismo, a luta pela liberdade é outro
traço marcante do estilo e essa luta se trava, principalmente, contra o
princípio da tradição.
outro aspeto importante do romantismo é o interesse pelo passado.
Os românticos buscavam analogias na história e inspiração em fatos e
personagens de outras épocas.
O passado atrai pelo exótico, por estar distante. É pela mesma
razão, pelo desejo de escapar ao circunstancial, que se manifestam no
Romantismo o sonho, a loucura, a utopia, as reminiscências de infância.
Em relação à mulher, surgem, nos textos românticos, a mulher
santa, assexuada e digna de amor — que será a mãe, a irmã e aquela que,
com estas, possa ser assemelhada —, e a mulher satânica, a que se dirige o
desejo e cuja voluptuosidade torna ameaçadora e nociva.
Na ampla abrangência internacional do Romantismo, houve sempre
prevalência dos caracteres locais, individualizando o estilo nos diversos
países em que se manifestou e fazendo da arte expressão do temperamento
poético nacional. O autor busca a captação da atmosfera local, seja exterior
ou interior.

O autor: Camilo Castelo Branco e contexto de produção

Nasceu em 16 de março de 1825, na região de Lisboa. Portugal


então vivia uma turbulência política e social, desde que, duas décadas
antes, a família Real partiu, fugindo de Napoleão Bonaparte, para a então
colônia, o Brasil.

Os anos que se seguiram foram duros para Portugal e eclodiram na


independência da antiga colônia. Brasil, se tornava império sob a liderança
de D. Pedro I. Isso aconteceu poucos anos antes de nascer o "príncipe da
lira", assim ficou conhecido Camilo Castelo Branco em seu país.

A sociedade internacional enfrentava uma mudança de


pensamentos, que geravam novas posturas políticas e outras formas de
enxergar o mundo. Aí surgia uma corrente liberal de fazer política. Um
estado agindo sob uma constituição - uma ideia bem moderna para uma
sociedade que vinha de séculos de absolutismo monárquico.

Em Portugal, essa foi a raiz de mais uma guerra. Conhecida como


"a guerra dos Irmãos", quando D. Pedro retorna do Brasil para destronar
seu irmão Miguel e instaurar de vez uma política liberal, e quebrar por fim
o absolutismo da monarquia.

Camilo vivenciou toda essa carga quando ainda era uma criança e
que por inconveniência do destino, se viu órfão aos dez anos de idade
apenas.

Desde aí, o romancista, levou sempre uma característica de


insatisfação com a vida e uma inquietude quanto a paixões. Assim, Camilo,
longe de ter uma vida familiar exemplar, casou-se diferentes vezes, a
primeira com apenas 16 anos.

Escreveu para jornais, desde crônicas, críticas, folhetins, novelas,


até romances. foi o primeiro escritor português a viver exclusivamente de
seus textos. Sofreu repressão e violência no começo da carreira por emitir
críticas políticas em e seus textos, acabou afrontando alguns sujeitos
poderosos e foi alvo de violência, o que o fez mudar-se para Porto e tentar
uma carreira na medicina. Não concluiu. Tentou direito, não concluiu.
Pensou em abdicar a bohemia e se tornar religioso, se retirou ao seminário,
porém, sujeito instável quando o assunto não era escrever, não conseguiu
novamente. De volta a Bohemia.

Foi apaixonado por uma mulher, que era casada com outro homem.
A seduziu. Logo foram presos por adultério. Após um período na cadeia,
conseguiram liberdade e se casaram de fato, Camilo, carregou esse
romance até o fim da vida, quando arrebatado, pela sífilis e a cegueira,
cometeu o suicídio (1 de junho de 1890).
Enredo

I-Exposição:

O corregedor Domingos Botelho e sua mulher Rita Preciosa têm


cinco filhos, entre eles Simão, que desde pequeno demonstra um
temperamento explosivo e indolente, e Manuel, calmo e ponderado. O
primeiro vai estudar em Coimbra depois de uma confusão doméstica, em
que toma a defesa de um criado da família. Lá, adota os ideais igualitários
da Revolução Francesa e acaba preso durante seis meses por badernas e
arruaças. Quando sai da cadeia, volta a Viseu, onde conhece e se apaixona
por Teresa, sua vizinha que tem 15 anos e é filha de uma família inimiga da
sua. Com o objetivo de separar Simão e Teresa, o pai da moça ameaça
mandá-la para o convento, enquanto Domingos Botelho envia Simão de
volta a Coimbra. Uma velha mendiga faz o papel de pombo-correio do
casal, levando as cartas trocadas entre os dois jovens apaixonados.

Movido pelo amor a Teresa, Simão decide se regenerar e estudar


muito.

II-Conflito:

Nesse período, o irmão Manuel, que chegara a Coimbra, foge para a


Espanha com uma açoriana casada. A irmã caçula de Simão – Ritinha – faz
amizade com Teresa. O pai da heroína quer casá-la com o primo Baltasar
Coutinho – ordem que a moça se nega a cumprir. As intenções do pai de
sua amada fazem Simão retornar clandestinamente para Viseu,
hospedando-se na casa do ferreiro João da Cruz, antigo conhecido da
família Botelho. Simão combina encontrar-se às escondidas com Teresa no
dia do aniversário da moça, mas o encontro é transferido porque Teresa é
seguida.
III-Aumento da ação.

Na data combinada, Simão vai ao encontro marcado levando


consigo o ferreiro João da Cruz e outros amigos. Depara-se com Baltasar
que, na companhia de alguns criados, fora até o local para matar Simão. Na
briga, dois dos criados de Baltasar são mortos. Ferido, Simão convalesce na
casa de João da Cruz. Teresa vai para um convento. Mariana, filha do
ferreiro apaixonada por Simão, empresta a ele suas economias para que vá
atrás de Teresa, dizendo que o dinheiro pertence à mãe do próprio Simão.

IV- Clímax:

No dia previsto para que Teresa mude de convento, Simão decide


raptá-la. Dá-se um novo confronto com Baltasar Coutinho, que leva um tiro
na testa e morre.

Simão entrega-se à polícia e dispensa a ajuda da família para sair da


cadeia.

V- Ação descendente:

Levado a julgamento, é condenado à forca. Enquanto isso, Mariana


enlouquece de amor e a saúde de Teresa definha no convento. Na cadeia,
Simão passa os dias lendo e escrevendo cartas. João da Cruz é assassinado
pelo filho do criado de Baltasar Coutinho. Mariana, que estava na cidade
do Porto, volta a Viseu para tomar posse da herança, confiada a Simão.
Tardiamente, o pai de Simão pede que sua pena seja comutada em dez anos
de prisão, mas o filho rejeita a ajuda paterna. Prefere o desterro para as
Índias.

VI-Resolução:

Na data em que a nau dos condenados parte, Teresa morre no


convento. Ao saber da morte de sua amada, Simão adoece, vindo a falecer
no décimo dia de viagem. Quando seu corpo é jogado ao mar, Mariana que
o havia acompanhado, lança-se da proa, suicidando-se abraçada à mortalha
do amado.

Narrador

O narrador apresenta-se em primeira pessoa na introdução falando


sobre a história de sua família. No decorrer dos capítulos seguintes passa a
se apresentar em 3 pessoa caracterizando-se como narrador onisciente por
penetrar e desvendar o que se passa nas mentes e corações das personagens.
Esta fórmula busca a veracidade no que é dito. A primeira pessoa do inicio
funciona como suporte para esta verdade e confirma o que será relatado. Já
o uso da terceira pessoa nos outros capítulos concretiza esta veracidade
precisando datas, descendências e costumes da época, além das
circunstancias vividas pelas personagens. Passa a intervir, a criticar,
permitindo-se também introduzir na história (não somente revelando, mas
também comentando os comportamentos e os atos além de expor os seus
pontos de vista).

Personagens

Simão Botelho: A princípio mostra-se como um rebelde de


temperamento incontrolável e cruel. Um grande perturbador e agitador da
ordem pública e uma fonte interminável de desgostos para seus pais. Tem
seu comportamento modificado de forma brusca quando começa a nutrir
sentimentos pela jovem vizinha Tereza de Albuquerque. O amor o
transforma, redime, modifica, apresentando Simão a partir de então um
caráter cheio de virtudes e um sentimento realmente puro e verdadeiro.
Torna-se honesto, estudioso e responsável, pois deseja obter condições de
sustento para viver com a amada. O único sentimento que Simão não perde
apesar de toda a transformação em sua personalidade é o sentimento
incoercível de vingança que culmina com o assassinato de Baltazar
Coutinho, primo de Tereza. A passionalidade de Simão também é
recuperada a partir deste episódio na medida e que ele foge das tentativas
de absolvição deste crime declarando-se sempre como culpado e
demonstrando-se firme e obstinado. Simão é o estereótipo do típico herói
ultra-romântico.

Tereza de Albuquerque: Tereza de Albuquerque é a protagonista


feminina da trama. Uma jovem de apenas quinzes anos que se apaixona de
forma proibida pelo vizinho Simão Botelho. Tereza, aparentemente frágil,
assim como o amado, sustenta uma personalidade de caráter firme e
resoluto que enfrenta tudo e todos pelo seu sentimento. Atua de forma
inflexível perante as sucessivas ameaças de seu pai, um homem cruel e
autoritário. Ela não age diretamente como Simão (devido principalmente a
condição subjugada a mulher de sua época), porém demonstra a mesma
obstinação do amado preferindo até mesmo o martírio, o enclausuramento e
até a perda a vida do que ceder a vontade de um casamento forçado por seu
pai. Age guiada somente pelo amor. Por estas e outras características,
Tereza assume a posição de heroína romântica que tanto vigorou no
Romance Romântico.

Mariana: É a terceira peça principal desta história formando o


segundo triangulo amoroso mesmo que de forma não correspondida e
indireta. É uma moça humilde, abnegada e triste, sendo considerada em
muitas das vezes como a personagem mais romântica deste livro. Cuida de
Simão com extremo devotamento quando este mais necessita, passando a
nutrir um amor puro, mas sem esperanças, que tudo suporta e tudo perdoa
até mesmo a paixão deste por Tereza. Seu amor é sublimado, dedicado,
fazendo esta de tudo para ajudar o amado, tornando-se até mesmo cúmplice
da sua paixão proibida, nunca rivalizando com Tereza. Quando Simão é
preso, Mariana abandona o pai e passar a viver em sua companhia na
prisão. Sua entrega culmina com seu suicídio quando se joga ao mar ao ver
o corpo de Simão ser lançado. Ela é a própria personificação do espírito de
sacrifico.

Domingos Botelho e Tadeu de Albuquerque: São as personagens


que atuam como impossibilitadoras da concretização do amor dos
protagonistas. Nutrem uma profunda aversão um pelo outro. Odeiam-se por
causa de um litígio em que o corregedor Domingos Botelho deu ganho de
causa contrário aos interesses De Tadeu de Albuquerque. Radicais em seus
comportamentos preferem o padecimento dos filhos a abrir mãos de suas
convicções pérfidas e odiosas. Representam o conservadorismo, as
manifestações egoísticas e cruéis, o apego ao nome e a honra e a hipocrisia
social da época desmoralizadas pelo narrador da obra.

Baltazar Coutinho. É um primo de Tereza que nutre grande desejo


pela moça. Muito apreciado por seu tio conquista rapidamente a posição de
pretendente da jovem. Torna-se então cúmplice do tio nas armações contra
o casal preparando até mesmo uma emboscada para Simão. É dissimulado,
hipócrita, perverso e prepotente, despertando somente a aversão e o asco de
Tereza. Fidalgo arrogante e traiçoeiro representa o vilão da história e o
rival do protagonista Simão Botelho. É o personagem que constitui o
primeiro triangulo amoroso na história.
João da Cruz: Pai de Mariana e grande amigo do jovem Simão
Botelho sentindo-se responsável pela vida e bem estar do jovem desde que
este se separa da família. Agindo por um ato de gratidão ao pai de Simão
que o livrará em certa feita da prisão, torna-se o protetor do jovem e
auxiliando-o com seus conselhos e estratégias. Toma atitudes de extrema
coragem e até violência para defender e proteger o rapaz. Sua vida é muito
simples e de grande amor pela única filha. Sua honradez, sua fortaleza de
espírito e seus grandes atos de coragem fazem com que o leitor esqueça e
até perdoe seus crimes. É a representação do homem do campo daquela
época em Portugal.

Tempo

O amor entre Simão e Tereza desenvolve-se num período de sete


anos. O tempo cronológico é, portanto, desta forma minuciosamente
demonstrada. Os acontecimentos se desenvolvem de forma bastante linear
privilegiando a ação ao invés da descrição. O tempo psicológico da mesma
forma é profundamente explorado através da angustia, do sofrimento e do
clima denso e repleto de inquietações experimentado pelas personagens. A
história desenrola-se no século XIX.

Espaço

A história se passa em Portugal.

Tudo começa na cidade provinciana de Viseu (revelando assim o


provincianismo português da época arraigado a tradição ao
convencionalismo e as exigências sociais em detrimento da liberdade e do
individualismo do indivíduo).
A obra também percorre Coimbra (onde Simão passa um período
estudando), e Na cidade do Porto (marcada profundamente pelo desfecho
trágico das personagens).

Critica social

Amor de Perdição, destaca um sociedade preconceituosa fazendo


com que o amor de dois jovens termine em desespero e morte.

No decorrer do enredo da historia pode-se notar que no século XVIII,


em que se passa, a liberdade de amar era muito reprimida pelos pais, esse é
um dos principais pontos em que se baseava o romance.

O sofrimento amoroso era retratado de forma exagerada de modo a


transformar os personagens no decorrer da historia, foi o que aconteceu em
Amor de Perdição.

Bibliografia

 Camilo Castelo Branco “Amor de Perdição” .

 Cademartori Ligia “Periodos Literarios”.

Você também pode gostar