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O Cortiço – Aluísio de Azevedo

1. Contexto histórico da obra e do autor.


2. Considerações sobre o movimento literário da obra.
3. Resumo da obra.
4. Principais personagens.
5. Relacionar a obra com as características do movimento literário do qual
faz parte

> Contexto histórico da obra e do autor


- A partir da segunda metade do século XIX, o ambiento social na Europa,
sofreu mudanças. A civilização burguesa, industrial e materialista começou
a se fortalecer.
As ciências naturais se desenvolveram, o único método cientifico de
observação a ser aceitável e o da realidade.
O realismo surgiu na França, em 1857, com a publicação do romance
Madame Bovary, de Gustave Flaubert. Os escritores realistas começaram a
tratar mais objetivamente da vida social, contando o que realmente
acontecia na época, abandonado o idealismo romântico.
Em Portugal o poeta romântico Antônio Feliciano de Castilho, criticava as
novas ideias literárias postas em circulação por alguns jovens estudantes,
principalmente por Teófilo Braga e Antero Quental, que respondeu a crítica
escrevendo uma carta aberta que foi divulgada com o título de “Bom senso
e bom gosto”.
Antero defendia a liberdade de pensamento, a independência de novos
escritores, ele também atacava a decadente literatura romântica.
Assim nasceu a Questão Coimbra, que passou a ser o marco divisor entre o
Romantismo e o Realismo.
Na década de 1880, o Brasil não vivia o processo de desenvolvimento
industrial, ao contrário do que acontecia na Europa. No fim dessa década
ocorreram ainda o fim da escravidão e a proclamação da República.
Com o fim da escravidão, começou a ser estimulado a vinda de imigrantes
para o trabalho nas fazendas, aos poucos eles passaram a trabalhar
também nas casas de família, nas fabricas e no comercio.
O marco inicial do Realismo no Brasil foi a publicação de dois romances: O
mulato, de Aluísio de Azevedo, e Memórias póstumas de Brás Cubas, de
Machado de Assis.
+ O Cortiço no Contexto Histórico da República Velha
A obra o Cortiço foi escrita no ano de 1890, sucedendo a Proclamação da
República e a recente abolição da escravatura, onde a sociedade ainda não
estava adaptada às novas formações sociais que a política e a economia do
momento representavam, sendo que em várias regiões mais distantes da
capital levaram-se anos para tomar conhecimento das mudanças que
ocorriam nos centros metropolitanos.
Na obra historiográfica “A Formação das Almas” constatou-se que o modelo
republicano foi importado de um ideal francês, onde este era representado
por uma mulher forte, audaciosa, libertadora, independente, honrosa e
plena de virtudes. No Brasil esta concepção foi aceita entre a elite, porém,
nas classes média e baixa (escravos recém libertos, imigrantes e pobres)
esta ideologia não foi incorporada, até porque ainda estavam vinculados ao
paternalismo instituído pelo regime monarquista, fazendo brotar um
sentimento de repudio a república, que transforma esta mulher idealizada
pelos franceses e pela elite em uma prostituta vadia. Numa república onde
poucos foram os homens que se envolveram, como mulheres ainda castas
e do lar envolver-se-iam, pois, política era assunto masculino, onde
senhoras não participavam. A mulher se fosse pública era prostituta, daí a
alegoria de vincular o público com o promíscuo. (CARVALHO, 1990, p.92).
Exatamente neste contexto republicano é que se deram as formações dos
cortiços, que possuem a finalidade de instalar a grande massa populacional
que busca nos grandes centros industriais oferecer-se como mão de obra.
Em “Mulheres e Menores no Trabalho Industrial”, são caracterizadas como
se acomodavam habitacionalmente estes excedentes populacionais, onde a
autora Esmeralda Blanco B. de Moura demonstra as condições subumanas
destas instalações.
A cidade sofre, então, a pressão do crescimento demográfico: falta de
«habitações decentes e baratas e necessidade de residir «perto do lugar de
emprego dada à insuficiência e o alto custo do transportes » provocam um
verdadeiro confinamento do trabalhador nas habitações coletivas. [...}
Casebres e cortiços multiplicam-se próximo aos estabelecimentos
industriais, em «ruas infectas, sem calçamento», denunciando a precária
situação socioeconômica do trabalhador. Residindo em habitações coletivas
ou em casinhas – [...] aglomerando-se «para dormir» nos chamados hotéis
cortiços. (MOURA, 1982, pg.22).
Esta característica verifica-se claramente no cortiço construído por João
Romão, personagem da obra O Cortiço, que busca lucrar primeiramente
com o material de segunda mão para construção das casinhas e após com
o aluguel obtido por elas. Pelo fato de ser localizado próximo a uma
pedreira locava suas habitações aos operários que lá trabalhavam. Além
dos trabalhadores da pedreira, lá residiam suas famílias, imigrantes, ex-
escravos, as mulheres lavadeiras e pessoas que não possuíam condições
financeiras de melhor habitarem.

> Considerações sobre o movimento literário da obra


+ O movimento literário da obra era o Movimento Naturalista
- O Naturalismo foi um movimento artístico e cultural que se manifestou na
literatura, no teatro e nas artes plásticas, e teve como principais
características a objetividade, a impessoalidade e o retrato fiel da realidade.
Ele surgiu na França, em meados do século XIX, e se espalhou
rapidamente para outros países da Europa e do mundo.
Oposto ao Romantismo, que apresentava uma face sonhadora, com
idealizações, subjetivismos e fuga da realidade, o naturalismo prezou pelo
objetivismo científico.
Influenciado pelas correntes científicas e filosóficas que surgiam na Europa
como o determinismo, o darwinismo e o cientificismo, para os artistas
naturalistas, tudo estava determinado e possuía uma explicação lógica
pautada na ciência.
Através de uma visão imparcial dos fatos, nada era sugerido ou
apresentado de maneira subjetiva. O ser humano passou a ser visto como
uma máquina, sem livre arbítrio, e influenciado pelo meio social e físico em
que está inserido.
Assim, surge uma arte de denúncia social, focada nos temas da pobreza,
das desigualdades, da disputa de poder e das patologias sociais.
+ Características do Naturalismo
- As características do naturalismo seguem os ideais do realismo, ou seja,
estão relacionadas com a percepção da realidade. No entanto, trata-se de
um realismo mais exagerado e que abrange sobretudo, os problemas da
realidade social e de seus personagens.

 Radicalização do realismo
 Oposição aos ideais românticos
 Cientificismo e Determinismo
 Positivismo e Darwinismo
 Linguagem coloquial, clara e objetiva
 Descrições minuciosas
 Visão mecanicista do homem
 Romance experimental
 Temas sociais, obscuros e polêmicos
 Personagens patológicas (mórbidas, desequilibradas e doentias)
 Foco na análise de comportamentos humanos
 Sensualismo e erotismo
 Impessoalidade e engajamento
 Explicação pelas forças da natureza
> Resumo da Obra
- Dono do Cortiço, João Romão é um português ambicioso que explora
seus empregados. Além de proprietário da habitação coletiva, ele é dono de
uma pedreira e uma taverna.
Ainda que não seja o personagem principal da trama, muitas passagens do
romance revelam sua ascensão social.
Ao mesmo tempo, é demostrada a degradação social dos menos
favorecidos que vivem no cortiço.
Ao lado do cortiço aparece o sobrado aristocrático, em que vive o burguês
Miranda, comerciante de tecidos, casado com Estela. Eles vivem um
casamento infeliz, e Estela o trai sempre.
Miranda demostra-se incomodado com o crescimento do cortiço e por esse
motivo, entra em rivalidade com João Romão.
No entanto, com o intuito de ter um status social parecido com o de seu
rival, João Romão casa-se com a filha de Miranda e Estela: Zulmira. A partir
daí ele consegue alcançar melhores condições sociais.
João Romão, tem uma escrava chamada Bertoleza. Ele forjou uma carta de
alforria para ela, que por fim, torna-se sua amante e passa a trabalhar para
ele.
Entretanto, após seu casamento, Romão entrega sua escrava fugitiva.
Desiludida com essa ação, Bertoleza se mata.
No cortiço, a vida é simples e dura. Grande parte do enredo retrata a vida
de seus moradores e de seus envolvimentos. Rita baiana é uma mulata de
grande carisma e que conhece todos os moradores da habitação coletiva.
De natureza sedutora, teve um envolvimento com Firmo e mais tarde, com
o português Jerônimo. Esse envolvimento, levou ao assassinato de Firmo.
Jerônimo é um homem honesto que trabalha na pedreira de João Romão. É
casado com a portuguesa Piedade e juntos tem uma filha.
Após se envolver com a sedutora Rita Baiana, sua esposa descobre a
relação e começa a beber.
Enciumado pelo envolvimento anterior que Rita teve com Firmo, Jerônimo
resolve assassinar seu rival. Por fim, Jerônimo abandona sua família para
ficar com Rita.
O incêndio no cortiço foi um dos fatores principais para que muitos
moradores se transferissem para outro cortiço, o “cabeça-de-gato”. Com
isso, o local foi reformado e a avenida recebeu o nome de “Avenida São
Romão”.
> Principais Personagens
 João Romão: português dono do cortiço, da venda e da pedreira.
 Bertoleza: escrava amante de João Romão que trabalha para ele.
 Miranda: português burguês casado com Estela e que vive ao lado do
cortiço.
 Estela: esposa infiel do português Miranda.
 Zulmira: filha de Estela e de Miranda, além de esposa de João Romão.
 Jerônimo: português que administra a pedreira de João Romão. Tem
um caso com Rita Baiana.
 Rita Baiana: mulata sedutora que vive no cortiço. Teve um caso com
Firmo, e mais tarde se envolveu com o português Jerônimo.
 Piedade: esposa de Jerônimo que ao descobrir sua traição com Rita
Baiana, entrega-se ao alcoolismo.
 Firmo: amante de Rita Baiana, ele foi morto pelo português Jerônimo.
 Pombinha: moça bonita, discreta e educada que se prostitui por
influência da prostituta Léonie.
 Libório: habitante miserável e solitário do cortiço, vivia como um
mendigo.

> Relação da obra com o Naturalismo


- "O Cortiço" é considerado o melhor representante do movimento
naturalista brasileiro. O romance difunde as teses naturalistas, que explicam
o comportamento dos personagens com base na influência do meio, da
raça e do momento histórico. A obra retrata a vida das pessoas simples em
um cortiço (habitação coletiva) do Rio de Janeiro. Com um teor crítico, trata-
se de uma exímia representação da realidade brasileira do século XIX. O
autor naturalista tinha uma tese a sustentar sua história. A intenção era
provar, por meio da obra literária, como o meio, a raça e a história
determinam o homem e o levam à degradação. A mistura de raças em um
mesmo meio desemboca na promiscuidade sexual, moral e na completa
degradação humana, segundo a tese de Aluísio Azevedo.

> Análise literária da obra

- Ao ser lançado, em 1890, “O Cortiço” teve boa recepção da crítica,


chegando a obscurecer escritores do nível de Machado de Assis. Isso se
deve ao fato de Aluísio Azevedo estar mais em sintonia com a doutrina
naturalista, que gozava de grande prestígio na Europa.
O livro é composto de 23 capítulos, que relatam a vida em uma habitação
coletiva de pessoas pobres (cortiço) na cidade do Rio de Janeiro.
O romance tornou-se peça-chave para o melhor entendimento do Brasil do
século XIX. Evidentemente, como obra literária, ele não pode ser entendido
como um documento histórico da época. Mas não há como ignorar que a
ideologia e as relações sociais representadas de modo fictício em “O
Cortiço” estavam muito presentes no país.
Essa obra de Aluísio Azevedo tem como influência maior o romance
“L’Assommoir” do escritor francês Émile Zola, que prescreve um rigor
científico na representação da realidade. A intenção do método naturalista
era fazer uma crítica contundente e coerente de uma realidade corrompida.
Zola e, neste caso, Aluísio combatem, como princípio teórico, a degradação
causada pela mistura de raças. Por isso, os romances naturalistas são
constituídos de espaços nos quais convivem desvalidos de várias etnias.
Esses espaços se tornam personagens do romance.
É o caso do cortiço, que se projeta na obra mais do que os próprios
personagens que ali vivem. Em um trecho do romance o narrador compara
o cortiço a uma estrutura biológica (floresta), um organismo vivo que cresce
e se desenvolve, aumentando as forças daninhas e determinando o caráter
moral de quem habita seu interior.
Mais do que empregar os preceitos do naturalismo, a obra mostra práticas
recorrentes no Brasil do século XIX. Na situação de capitalismo incipiente, o
explorador vivia muito próximo ao explorado, daí a estalagem de João
Romão estar junto aos pobres moradores do cortiço. Ao lado, o burguês
Miranda, de projeção social mais elevada que João Romão, vive em seu
palacete com ares aristocráticos e teme o crescimento do cortiço. Por isso
pode-se dizer que “O Cortiço” não é somente um romance naturalista, mas
uma alegoria do Brasil.
O autor naturalista tinha uma tese a sustentar sua história. A intenção era
provar, por meio da obra literária, como o meio, a raça e a história
determinam o homem e o levam à degradação. A obra está a serviço de um
argumento. Aluísio se propõe a mostrar que a mistura de raças em um
mesmo meio desemboca na promiscuidade sexual, moral e na completa
degradação humana. Mas, para além disso, o livro apresenta outras
questões pertinentes para pensar o Brasil, que ainda são atuais, como a
imensa desigualdade social.
+ Narrador
- A obra é narrada em terceira pessoa, com narrador onisciente (que tem
conhecimento de tudo), como propunha o movimento naturalista. O
narrador tem poder total na estrutura do romance: entra no pensamento dos
personagens, faz julgamentos e tenta comprovar, como se fosse um
cientista, as influências do meio, da raça e do momento histórico. O foco da
narração, a princípio, mantém uma aparência de imparcialidade, como se o
narrador se apartasse, à semelhança de um deus, do mundo por ele criado.
No entanto, isso é ilusório, porque o procedimento de representar a
realidade de forma objetiva já configura uma posição ideologicamente
tendenciosa.
+ Tempo
- Em “O Cortiço”, o tempo é trabalhado de maneira linear, com princípio,
meio e desfecho da narrativa. A história se desenrola no Brasil do século
XIX, sem precisão de datas. Há, no entanto, que ressaltar a relação do
tempo com o desenvolvimento do cortiço e com o enriquecimento de João
Romão.
+ Espaço
- São dois os espaços explorados na obra. O primeiro é o cortiço,
amontoado de casebres mal-arranjados, onde os pobres vivem. Esse
espaço representa a mistura de raças e a promiscuidade das classes
baixas. Funciona como um organismo vivo. Junto ao cortiço estão a
pedreira e a taverna do português João Romão.
O segundo espaço, que fica ao lado do cortiço, é o sobrado aristocratizante
do comerciante Miranda e de sua família. O sobrado representa a burguesia
ascendente do século XIX. Esses espaços fictícios são enquadrados no
cenário do bairro de Botafogo, explorando a exuberante natureza local
como meio determinante. Dessa maneira, o sol abrasador do litoral
americano funciona como elemento corruptor do homem local.

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