Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2. O Movimento realista.
O século XIX foi para Arte um dos séculos mais profícuos, senão o maior,
talvez nem tanto em efetiva qualidade estética, mas com certeza em profusão e
Cauan E.E.Schettini. 2.º Ano – ADM. ETEC Mandaqui. LPCP.
3. O Realismo brasileiro.
Durante as décadas de 1870 e 1880, o realismo apresentou-se no Brasil,
principalmente, como um movimento estritamente antirromântico, com, em
1881, a publicação de “O Mulato”, de Aluísio de Azevedo, colocando o
naturalismo nas páginas, e também “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de
Machado de Assis, primeiro romance realista do Brasil, como também é o
primeiro da trilogia realista machadiana.
França, figura esta que Rubião, na sua loucura, pensa que é, Dom Pedro II, em
1889, também perde. Logo, é uma fina paródia de Machado ao colocar esses
dois imperadores (e Rubião sendo, de certa forma, esses dois) na obra.
Outra características singular do realismo em Machado, na obra Quincas
Borba, é o aparente triângulo amoroso entre Palha, Sofia e Rubião. Aparente
porque Sofia nunca efetivamente cometeu o adultério, tema recorrente nas
obras realistas (como em Madame Bovary), mas continuamente flertava e
dissimulava paixões com Rubião. Machado consegui colocar uma maior
complexidade ainda mesmo num tema tão comum, que é o adultério, pois, em
verdade, a paixão de Sofia é majoritariamente vaidade. Verifica-se isso em
diversas passagens, até o próprio marido sabe disse e se utiliza da vaidade de
Sofia para granjear seus negócios. Sofia, ao contrário, mais deseja a vaidade,
ser o centro de atenções, e a reputação social, enquanto seu marido busca a
todo momento a elevação social por meio do dinheiro. Ambos, de formas
diferentes, no final das contas, ainda continuam como os cães brigando pelo
“simples osso nu”. Ou seja, Machado de Assis vai além do realismo
documental, ele apresenta as diversas nuances psicológicas dos personagens
e, talvez por isso, Harold Bloom o considerasse o Stendhal brasileiro.
Na sua ingenuidade de professor de Barbacena, Rubião deixou-se levar pelas
circunstâncias, não percebendo que o seu capital era usado como moeda em
troca de sua inserção na alta sociedade fluminense. Eis o grande equívoco de
Rubião: pensar que, em terra de cães famintos, eles deixariam um pedaço do
osso para ele. Na verdade, para os cães, pouco importa de onde vem o osso, o
que importa é somente o osso, tanto é que, mesmo na loucura, alguns ainda
continuam se aproveitando de Rubião, pouco ligando se ele está ou não louco,
até mesmo assentindo com suas loucuras somente em busca do, mais uma
vez, “simples osso nu”. É de se esperar que Rubião acabasse louco, pois a
loucura é efetivamente um sentimento de não-pertencimento àquela realidade -
e isso que, desde o começo, embora ele bem pudesse dissimular, ele sentia.
Demonstrando-se, portanto, incapaz de racionalizar os acontecimentos, como
em certa medida fizeram Cubas e Bentinho nos outros romances machadianos,
tudo leva para a loucura e, por isso, é necessário a narração em terceira
pessoa; Rubião não conseguiria narrar a sua própria história, porque acabou
louco.
Cauan E.E.Schettini. 2.º Ano – ADM. ETEC Mandaqui. LPCP.
Ao final, diz o narrador: "O cruzeiro do sul que Sofia não quis fitar está assaz
alto para não discernir os risos e as lágrimas dos homens”, por isso, antes, diz
o narrador, que podemos chorar ou rir, tanto faz. Compadecemo-nos ao ler a
história de Rubião, podemos chorar; achamos ela ridícula por vezes, podemos
rir. Mas, no final das contas, para o Humanitas, tanto faz: Rubião (e nós), ao
fim e ao cabo, somos somente bolhas transitórias. O narrador, agora
explicitamente, toma uma perspectiva de indiferença diante dos sentimentos
humanos, pois o que prevalece não são os sentimentos, a nossa história ou a
história do Rubião, o que prevalece é o Humanitas. Pode-se dizer junto com
Rubião e Quincas Borba: “Ao vencedor as batatas!”.
Vê-se, assim, uma estreita relação entre a teoria humanitista de Quincas Borba
e alguns discursos atuais sobre a pandemia da Covid-19, que, tal qual a teoria
já mencionada, são ridículos e insensatos.
Não deixemo-nos levar pela retórica de Quincas Borba e pela sua teoria, pois,
senão, acabaremos como Rubião.