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014 e 015 – Teoria da Percepção 1 e 2

a) Teoria da Percepção integral


b) Questão dos quatro elementos

c) Conceito mais importante: tendência natural à energumenidade.


Quando se quer entender alguma coisa, o nível energético da sua
mente aumenta (está acendendo uma fogueira), o fogo está
aumentando, a expectativa de conhecimento é energizante para o
ser humano. É dessa energia que vem o substantivo “energúmeno”,
aquele que tem muita energia mental
i. Aquisição de conhecimento: movimento duplo de
atenção cognitiva no objeto, aquisição reflexiva no
objeto tal qual foi registrado na sua memória
.
ii. Alternar os vários tipos de atividade: tendência a se
tornar energúmeno – fica preso nos registros
mentais daquela realidade e pensa que, se montar
esses registros direitinho, se entenderá
perfeitamente

iii. Esse instinto de combinar as peças já catalogadas é


99% infrutífero. Termina com “nada faz sentido”. Cria
um hábito mental de esperança combinatória e
desespero da ignorância. Dá a impressão que
“conhecer algo” é puramente combinatório

iv. Alternância de febre cogitativa e “não deu nada, não


entendi nada” – quando esse hábito é forte ele é um
energúmeno

d) Conhecimento: adequação da sua inteligência à realidade. Isso


não é um processo, é um resultado de processos.
i. Investigar e procurar saber é um processo de alternância
entre inteligência e burrice
ii. No momento da burrice, há a séria impressão de que o
conhecimento é adquirido por meio de leituras e aulas
 Não é assim a não ser que seu estudo seja aquele
próprio discurso

iii. O aluno/leitor já conceituou/concebeu alguma coisa, e o


escritor/professor somente serve para tornar mais
inteligível aquela coisa e indicar que isso está articulado
com outras coisas que ele sequer tenha concebido ou
observado = levar a termo um processo que já havia
começado no aluno

e) O avanço em conhecimento não acontece no puro processo de


aula ou leitura. Ocorre quando ele tenta comparar os dados da
realidade que ele mesmo já observava com aquilo que a leitura/aula
proporciona
i. Os bons alunos/leitores fazem duas leituras: uma da
realidade e outra da própria aula/livro e tenta
articular as duas
ii. Só leva esse processo à bom termo DEPOIS da
leitura/aula. Quando tudo se tornar elemento de
memória

f) Ir à realidade da coisa e voltar para a realidade da sua


inteligência. Esse é o esforço filosófico/teorético/especulativo.
Atravessa-se a realidade do objeto ao sujeito inúmeras vezes –
conceber a imagem no quebra-cabeça não montado, achar o
princípio de coesão
 Unidade do conhecimento na unidade da
consciência e vice-versa

 A atividade da inteligência é a coisa mais viva que


existe, a coisa mais transcendental e menos mecânica
que existe. Exige uma intensidade quase que total do
sujeito (sem falar da vida mística, que está mais longe
ainda)

 O simples conhecimento filosófico/científico está


totalmente longe da escala dos computadores
g) A alma como um todo não tende para a atividade
intelectual/atenção cognitiva do real – não somos almas angélicas.
É um movimento em direção do objeto desconhecido (o
conhecimento está ali no objeto) para a minha inteligência, que é
subjetivamente o elemento mais luminoso que existe em mim, por
isso parece que o conhecimento está em mim e não na realidade
h) O problema dos quatro ou cinco elementos
a) Teoria dos quatro elementos em Aristóteles – teoria das formas
da corporalidade
i. Elementos em sentido abstrato/filosófico: o que é um corpo
e quais são as determinações formais necessárias para um
corpo? São as formas mais determinadas e fundamentais
(Teoria indiana dos cinco butas)

ii. Elementos em seu sentido ecológico, relacionado à sua


teoria física e do movimento das coisas naturais (mundo
corpóreo na sua totalidade, como ambiente): se divide em
cinco categorias muito diferentes

 Terra: aquela parte em que você pode se


apoiar;
 Água: embaixo da Terra
 Fogo: sobe
 Ar: acima das duas (terra e água), que se
move
 Éter (os astros) – não sobem nem
descem, as coisas acima da lua só têm o
éter, e abaixo só têm as quatro

 Características de movimento: a terra e a água descem;


o ar e o fogo sobem – OS ASTROS não sobem nem
descem, eles circulam

iii. Escolásticos: a causa eficiente, por ser eficiente pela


forma, comunica sua semelhança ao efeito. A causa
material restringe a semelhança

iv. Essa é a herança imaginal que substitui a pagã, depois do


imaginário da Grécia e Roma, quando chega o surgimento
do cristianismo. Isso já fazia parte do imaginário dos
cristãos

v. O imaginário principal das elites educadas na conversão


greco-romano com o cristianismo era esse de Aristóteles,
dos 5 elementos. Somente o pessoal camponês pensava
que os astros ainda eram deuses. Toda argumentação
patrística é: ora dirigida às elites, ora dirigida à visão
popular do campo pagã, que nos centros já não se
acreditava. Desalinhamento entre essas duas culturas,
como acontece hoje com a cultura de elite (totalmente
mecanicista) e a cultura do povo (que é de um cristianismo
empobrecido)

b) Essa visão (mundo astral é de éter e o mundo terreno é de quatro


elementos) não ofendia nem os cristãos nem os greco-romanos
i. Até favorecia o monoteísmo, porque desacreditava na
visão puramente pagã
ii. A grande objeção dos Santos Padres era em relação não
às ideias filosóficas em geral, mas sim em relação à ideia
de que o caminho da filosofia é igual ao caminho do
cristianismo. Era uma visão muito comum nas elites

c) Ainda houve algo que entravou na teoria dos elementos, e


retorna com o mesmo pé na época dos escolásticos. Surge um
outro problema: por um lado há o renascimento da filosofia no
período proto-escolástico e escolástico e, por outro, os únicos que
continuaram a estudar a filosofia aristotélica eram os “hermetistas”,
que foram os antecessores dos ocultistas. Esses caras, da alquimia,
amuletos, astrologia, estudavam também o mundo natural.
i. Em parte porque se diziam sucessores da tradição
hermética (anterior ao cristianismo e islamismo), de algo
místico, eles não eram muito populares. Eles tendem a se
constituir em sociedade cada vez mais secretas. Eles se
interessam em saber como o mundo funciona – como as
coisas se transformam de uma para outras

ii. Os novos filósofos – que queriam continuar Aristóteles,


Platão e Sócrates – não queria se misturar com esse
herméticos, porque eram fiéis às suas religiões. Mas esses
hermetistas são, na prática, a junção de gregos, romanos,
alexandrinos, egípcios, e por isso se dedicavam às ciências
herméticas (a maior parte dos médicos, astrólogos e etc.
eram eles, inclusive)

iii. Esse grupo era muito desigual (oculto, difícil de diferenciar


de charlates e verdadeiros), bem diferente dos escolásticos
(que eram francos, abertos, transparentes), por isso eram
mais iguais e uniformes em relação ao charlatanismo e
coisas do gênero. No ambiente hermético era muito
desigual
d) Em relação ao estudo da alma:
a) A grande diferença que isso causa é no estudo da alma – os
escolásticos e muçulmanos enfatizavam a alma imortal, sua
afinidade pelo Céu
i. Estudo da imortalidade da alma, analogia com o puro
espírito
ii. Os herméticos se dedicavam no estudo da alma na sua
continuidade com a corporalidade – como a alma afeta o
corpo e vice-versa (efeitos sutis), analogia com o corpo
b) O Renascimento foi a tentativa de uma síntese, como uma nova
ciência, entre os estudos herméticos e aqueles da imortalidade
da alma, dos escolásticos, mas não deu tanto certo
i. O imaginário muda antes da intelectualidade e, quando é
uma nova intelectualidade, cria sementes pra o novo
imaginário etc.
ii. Os renascentistas já eram pessoas cristianizadas ou
islamizadas. No seu imaginário, o mundo não era dividio
como os gregos. Era dividido como:
o O céu como o lugar das almas
o E a terra estendida aos planetas – planetas
retornaram ao domínio da ciência natural
iii. Agora é necessária uma nova teoria do movimento, pois a
de Aristóteles considerava os planetas como éter
iv. Eles cometem um erro: colocam o estudo da alma no
mesmo domínio da filosofia e da teologia, então eles
tendem, em relação a alma, a um pensamento cada vez
mais idealista e de cunho simplificado – esse é o
humanismo, quer dizer, a alma é uma coisa celestial e
divina e está na mesma categoria dos anjos e de Deus
v. Puxam os planetas para a terra e empurram a alma para o
céu. I
c) Tudo isso prepara o terreno para o idealismo cartesiano: é a
forma final e acabada desse processo histórico, tanto que ele entra
no mundo com a força da terra, com a força de um resultado, de
modo que essa teoria governa a terra há mais de 500 anos – até hoje

d) O estudo da manifestação sutil desaparece do universo de


estudo científico, e só vai voltar com uma vingança horrível,
com Freud (que é um herdeiro dos ocultistas), já sem nada de
hermetismo

e) Ideia de que a manifestação sutil – a ordem sutil, intermediária –


ser uma ordem geral de existência desaparece completamente.
i. O fato mesmo de usar alma e corpo – forma e matéria – e
pensar que isso já explica tudo, quer dizer, que é um
esquema muito abstrato
ii. Se a alma é uma forma no sentido aristotélico, que tem
afinidade com as ideias platônicas – que são imutáveis,
abstratas e universais -, logo, a alma humana só pode ser
estudada em certo sentido analiticamente, como Aristóteles
estuda os elementos
f) Ciência da alma – que não é deduzida de princípios abstratos –
desapareceu, a partir de Aristóteles e os escolásticos.

g) Algo que não é nem forma e nem corpo: essa é a manifestação


sutil, que é um meio de ligação entre as duas coisas – como as
duas coisas viram uma só.
i. Esse domínio desaparece. É notável na correspondência
do Wolfgang Smith com Malachi Martin
o O desaparecimento intelectual do estudo da
ordem intermediária, que torna uma série de
coisas incompreensíveis para as pessoas
o Inclusive, torna incompreensível uma teoria
completa dos elementos. Embora os elementos
pertençam à ordem corpórea, há uma diferença
entre alma e manifestação sutil
 Alma entendida no sentido estrito e
aristotélico: é o princípio vital de um
organismo vivo; forma aristotélica pura
ii. Estudo da manifestação sutil é, no máximo, reduzido ao
estudo da psicologia

h) Em sentido tradicional: alma é um ente real que pertence à


manifestação sutil
i. Existência corpórea
ii. Existência sutil
iii. Existência puramente espiritual

 Forma em sentido analógico e não unívoco, quando


aplicada a duas coisas diferentes.

i) O binário – forma e matéria – não é útil para entender as


relações entre o mundo corpóreo e o mundo sutil
j) O princípio das ciências herméticas não é um estudo de alma e
corpo como forma e matéria um do outro, mas um estudo de um
ternário:
i. Ambiente
ii. Corpo: ponto de encontro entre esses dois
iii. Ser vivo
 Alma não significa a mesma coisa que os escolásticos,
porque a alma do alquimista, a contrapartida dela é o
mundo físico e não o corpo, sendo o corpo o elo de
ligação – o Hermes que liga as duas
 Alma e mundo corporal como intrinsecamente ligadas,
esse é um pensamento alquímico – teoria ecológica
 Alma: polo subjetivo
 Mundo: polo objetivo
 Corpo: meio em que uma coisa passa para a outra

iv. O mundo corpóreo e a alma são mortais, o que é ou pode


tornar-se imortal é o seu corpo, segundo os alquimistas
v. Corpo = Hermes, o que liga dois planos que por si são
antagonistas, tendem a se divorciar
o Alma – dimensão vertical: afinidade com espírito
o Alma – dimensão horizontal: conaturalidade com
o mundo corpóreo

k) Fluido sutil para criação de 4 tipos de seres no mundo corpóreo:


i. Minerais
ii. Vegetais
iii. Animais
iv. Seres humanos
 Todos esses quatro tipos de seres são corpos
identificáveis e individualizáveis, que contém em si uma
dimensão corpórea (física pura) e dimensão sutil
 Interioridade sutil e exterioridade corpórea
 Alma é o nome do aspecto sutil dos vegetais, animais e
seres humanos, aquilo que dá a vida
 Este mundo é duplo, que formam entes os quais
reproduzem essa duplicidade de componentes – mundo
sutil e corpóreo
a) Escolásticos: a alma é uma espécie de expansão do espírito nos
seres humanos, portanto, ela é imortal.
b) Como posso prová-lo? Esse é o problema principal dos
escolásticos tal qual era o problema principal dos gregos em
relação ao movimento
c) Entre século X e XII, renascimento filosófico, não há
preocupação em relação ao movimento, mas sim em como
provar a imortalidade da alma

d) Manifestação sutil, manifestação pura e manifestação do Ser


a) Origem: existe a realidade, o mundo corpóreo percebido pelos
sentidos é auto evidente
b) Manifestação corpóreo: o mundo que é capaz de ser percebido,
mas não participa da esfera do ser ciente (polaridade entre sensível e
ser ciente)
i. Estudo da proporcionalidade entre sensível e ser ciente
ii. Conduz à ideia de que o que existe é um mundo corpóreo e
seus habitantes, que são interdependentes; os mais simples,
são os minerais isolados
iii. Mundo corpóreo é percebido pelo contato de superfícies
iv. O meio dos seres humanos: o ar, o percebo quando ele afeta
as outras superfícies
v. O fogo, sua superfície, é mais difícil, quer dizer: superfície
sensível pelo tato, e não cede a você, quente. É como uma
densidade energética, com uma superfície sensível e irradia
luz
vi. O céu: muda mas nunca cai.
vii. Para entender os habitantes do mundo, é necessários
entender o mundo em que eles habitam. O que são essas
superfícies?
c) CONCEITO DE FORMA: analógico, usado no sentido conceitual
universal, como um termo num silogismo, é algo que por si mesmo
pertence ao domínio da manifestação pura
a) Problema dos gregos: o mundo é formas arquetípicas, como ele
pode mudar?
b) Aristóteles: o mundo é uma composição de duas coisas que são
imutáveis, mas as composições são mutáveis
i. Forma e matéria – são os determinantes reais da
manifestação corpórea e sutil

c) Conceitos de buta e tantra – análogo aos elementos de


Aristóteles
a) Não sei se é real ou ilusório
i. Hindu: a percepção – confiabilidade da percepção no sentido
de discernimento, não enquanto tal
ii. Aristóteles: o movimento

b) Entrelaçar a perspectiva aristotélica (escolástica e hermética)


com a hindu/budista – teoria da percepção
i. Contato X Percepção (ordem budista clássica)
o Forma sensível/forma visual (rupa) – está na
coisa visível
o Sensação/Contato (vedana) – a coisa visual se
torna presente no seu olho
o Percepção (sanna) – prestar atenção, “isto está
lá”, pode testar com as faculdades de ação
(estimativa)
o Formações mentais (sankhara);
o Consciência (vinnana)

c) Proporcionalidade entre a percepção e a capacidade de ação


(estimativa)
a) Isso é a garantia de objetividade: que não houve ilusão na sua
atribuição

b) O próximo nível da percepção é:


i. Sankhara: formações mentais/imaginais – uma marca mais ou
menos integral -> noção de “fantasma”, de Aristóteles –
memória, não está na coisa, mas sim no sujeito
ii. Sem percepção não há sankhara -> sem sentido não há
fantasma (mas pode existir fantasma sem sentido, podendo
manipular as coisas na sua mente)
c) Corpo é o lugar de encontro da consciência e do mundo

d) Qual é o princípio da forma visível estar nas coisas? Esse


princípio tem que ser também o mesmo pelo qual essa coisa
seja ao órgão corpóreo que o vê
a) Existe uma virtude causal sutil que determina sua forma sensível,
modifica o meio eficientemente, e também modifica o órgão
eficientemente
b) Uma causa eficiente imprime sua semelhança no seu efeito (uma
causa material não): então a causa eficiente do contato – da
determinação azul – tem que ser ultimamente um princípio eficiente
na coisa corpórea
i. Nenhum corpo é por si mesmo um princípio eficiente
ii. O corpo possui uma virtude causal sutil – causa eficiente
capaz de agir num meio, e o meio causa um efeito análogo
no órgão

c) Hindu: a luz não é a causa eficiente da visão, porque a luz ambiente


é a mesma para todos os objetos visíveis no ambiente e, no entanto,
as formas visuais não parecem a luz que os ilumina. Cada uma
dessas coisas modifica eficientemente a luz ambiente
i. A luz ambiente é a matéria da forma visual, que é
modificada e diferenciada por ela
d) Mundo corpóreo: ele mesmo já envolve uma modalidade
corpórea e sutil
a) Envolve uma eficiência causal que já é sutil: a virtude causal da
forma visual da parede – o princípio causal disso não é objeto dos
sentis, mas sim da forma sutil da parede. Pode-se captar os efeitos
dessa virtude sutil: na parede, nos meios e no órgão (os olhos)

b) A forma sensível apreendida não é a mesma coisa que a virtude


causal que a provoca: porque a forma sensível é de ordem
corpórea, não sutil
i. O que se percebe não é a virtude causal, mas sim aquilo
que aquela virtude causal revela
ii. Princípios causais das formas sensíveis e veículos de
formas imaginais puras (ou arquétipos)
o Não se vê a virtude causal quando se olha para a
cor da parede, por exemplo
o Isso está na coisa corpórea, mas a conceituação
dessa virtude causal é por inferência
iii. Em última análise, o princípio causal não é nem a força
causal sutil, mas sim o arquétipo que ela revela fisicamente
iv. Há uma forma imaginal pura que determina o ser da coisa
visível

c) A xícara inclui na sua determinação real um arquétipo visual, dá


para a xícara uma virtude causal pela qual esse arquétipo se
comunica, primeiro, a superfície da xícara, segundo, à luz
ambiente, terceiro, ao órgão corpóreo, quarto, à consciência
pura e simples
i. Esse “espelho” que é o organismo que vai gerar a noção
de três ordens na manifestação
ii. Quando percebo uma coisa, essa coisa revela uma forma
pura dela
iii. A interioridade ontológica da xícara é um espelho exato da
minha interioridade ontológica. O meu corpo é o lugar em
que essas duas interioridades se encontram

d) Inferência da objetividade da percepção: não tentar formular, nem


conceituar essa inferência, mas somente partir de que a parede é
verde e, logo, indica que, ao perceber a parede, inclui atribuir a
verdura a ela (sentir a parede não necessariamente) [13:17]

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