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Apostila de Iniciação

Científica
Introdução à ciência através da história do
pensamento filosófico e científico da humanidade

Professor: Daniel Sias da Silva


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Mito x Filosofia
Tipos de mitos

Mitos cosmogônicos – Tratam da origem de tudo, na Grécia antiga, parte da mitologia buscava
explicar uma origem organizada do universo, dos deuses e dos homens.

Mitos escatológicos – Explicação do que acontece após a morte ou o fim através de catástrofes,
debatendo também a finalidade do homem.

Mitos épicos – os mitos relacionados as narrativas heroicas, dos grandes feitos de indivíduos ou
grupos de pessoas.

Origem dos mitos

A ideia de mito está relacionada, em nosso imaginário, ao povo grego, primeiramente por seu
universo mitológico ser mais abordado em nossa cultura pop, como em livros, séries e filmes, mas
tambem, porque na Grécia ocorreu o debate mais importante em torno dos mitos, quando o homem
buscou ser parcialmente independente a estes através de sua própria capacidade de pensamento,
desenvolvendo assim, a filosofia.

Uma particularidade dos mitos gregos, é, portanto, a análise e questionamento feita pelos gregos
sobre estes. A filosofia ao mesmo tempo que questionou os mitos, tambem os utilizou como ponto
de partida para desenvolver suas distintas teorias.

O respeito dos antigos gregos por seus mitos, ao mesmo tempo que buscavam alternativas para
compreender o mundo circundante, é o que possibilitou a Grécia, ser considerada o berço da
filosofia e do pensamento ocidental.
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Epistemologia Antiga e Medieval


Introdução à Epistemologia
Epistemologia ➔ compreensão/estudo do conhecimento

Conhecimento ➔ O conceito atual refere-se à capacidade do indivíduo de descrever, calcular ou


prever fenômenos e objetos.

Conhecimento na antiguidade ➔ Divisão em dois tipos de conhecimento: Sensível ou empírico


(Aprender por meio dos sentidos e sensações) e o inteligível ou intelectual (aprender por meio do
raciocínio e reflexão).

Conhecimento na Idade Média ➔ No período medieval foi agregado à concepção de


conhecimento da antiguidade a ideia de fé que é proporcionada pela revelação divina como
verdade.

Doxa e Episteme

A Epistemologia surgiu com os filósofos pré-socráticos (lembra deles?) em seu esforço de


apresentar a realidade apreendida por eles que buscavam passar para outras pessoas.

Doxa ➔ Opinião (sem aprofundamento do conhecimento)

Episteme ➔ Conhecimento

Para o filósofo Parmênides (lembre de pensamento imobilista – Toda a transformação é uma ilusão)
apreender a realidade do mundo através dos sentidos era desenvolver a Doxa.

Atividades da Semana

Argumentação escrita: O que é Epistemologia? A partir da leitura e discussão das primeiras


páginas do livro, apresente sua concepção sobre como começamos a conhecer e por que este
conhecimento se modifica com o passar do tempo? (Mínimo cinco linhas)
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Surgimento da Filosofia e a Cosmologia: A questão da Arché


- A filosofia como exercício de reflexão explicito e objetivo sobre a nossa existência e tudo que nos
rodeia foi criada na Grécia antiga

- A filosofia surge como questionamento do pensamento mítico, centrado em narrativas religiosas,


para explicar a realidade

- Na filosofia a percepção da realidade se dá através do uso cincos sentidos para a observação do


mundo circundante, tal ato refere-se à necessidade humana de conhecer, prática incessante, pela
qual os primeiros filósofos denominaram Razão

- Na narrativa mítica de criação os gregos acreditavam que existia a natureza/matéria(physis), o


princípio eterno que se transforma (Arché) e a força da vida/vitalidade(psyche), conceitos que foram
adotados pela filosofia.

A filosofia surgiu como alternativa de explicação do mundo circundante através das dúvidas
geradas pelo pensamento mítico e da percepção do homem de sua capacidade de compreender e
explicar o mundo através de seus próprios sentidos e racionalidade. A Filosofia apesar de manter-
se ligada a alguns conceitos míticos gregos, buscou afastar-se destes e criar narrativas alternativas
sobre o mundo e tudo o que faz parte dele.

A primeira busca da filosofia foi encontrar a origem e composição de tudo o que existe no planeta
através de um elemento(arché) que estivesse presente em tudo. Isto é chamado de princípio único.

Tales de Mileto ➔ sua concepção da água como arché (principio único de tudo que existe surge
como um dos primeiros posicionamentos relevantes de questionamento da narrativa mítica e busca
por explicar a realidade pela observação humana). Por essa explicação Tales se afasta da narrativa
mítica ao afirmar que ao nascermos temos água em nossos corpos e que ao perdermos a vida,
nossos corpos secam, sendo essa, portanto, o princípio e fim de tudo.

Heráclito de Éfeso ➔ Fogo – O fogo transforma-se em água sendo que metade vai ao céu como
vapor e a outra parte vira terra.

Pitágoras de Samos ➔ Números seriam sinônimos de harmonia e tudo no mundo se daria através
da proporção e da medida, portanto o princípio único seriam os números.

Empédocles de Agrigento ➔ Quatro elementos – Tudo no mundo se dá através da combinação


e separação destes quatro elementos e, portanto, nada muda, tudo se mantem como está.
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Demócrito ➔ Átomos – natureza composta por partículas infinitas eternas, imutáveis e indivisíveis
que se combinavam para dar origem a diferentes corpos

Sofistas X Sócrates: Retórica e Dialética


Sofistas

Compreendiam que a verdade era relativa e mutável, o que foi certo no passado, pode não ser hoje
e provavelmente não será no futuro. O que se pode fazer é chegar a um consenso provisório sobre
valores, práticas, decisões, etc.

Sócrates

Sócrates foi um filósofo que revolucionou toda a filosofia de seu período, sendo considerado muito
importante até os dias atuais. As bases de sua ação filosófica era a compreensão das nossas
limitações individuais quanto ao conhecimento e a nossa necessidade na construção incessante
deste, que pode ser demonstrada na sua marcante frase que ficou para a posteridade: “Só sei que
nada sei”. Outra importante frase relacionayha ao ato de construção do conhecimento é o
“Conhece-te a ti mesmo” que busca desenvolver o exercício de auto-questionamento de suas
próprias verdades, cotidianamente.

A construção do conhecimento para Sócrates ocorria através do exercício dialético, com uso de
perguntas incessantes e questionamento das certezas de interlocutores durante discussões. A vida
de Sócrates estava fundamentada na construção deste conhecimento através de grandes debates
diários com os cidadãos da pólis de Atenas, até o momento que este, já idoso, foi condenado por
doutrinar a juventude e questionar a existência dos deuses, tendo como pena a exclusão da cidade
ou morte por envenenamento, optando por este último e morrendo cercado de seguidores.

Para Sócrates existia uma verdade que deveria ser alcançada através da dialética, por um método
que ele chamava maiêutica

Dialética ➔ Exercício de diálogo e contraposição de distintos pontos de vista para chegar mais
próximo de uma verdade comum (ver exemplo no quadro da página 21)

Maiêutica ➔ Fazer outra pessoa perceber a verdade por ela mesmo através do dialogo
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Um exemplo de maiêutica (perguntas).

Você considera como antagonista um ladrão.

Sim, pois esse provoca mal às pessoas.

Um ladrão sempre provocará mal às pessoas?

Julgo que enquanto ele estiver roubando, certamente!

O que leva um ladrão ao roubo, seria seu mal caráter?

Sim juntamente a sua má índole!

Uma pessoa de mal caráter, frente ao entendimento de alguém, poderá executar alguma ação
que beneficie outrem?

Presumo que não.

E caso um ladrão cometa um furto pois estava a necessitar de algum suprimento para o
sustento de sua família, seria o mal caráter o responsável por essa ação?

Nesse caso ele estaria pensando somente em si e em pessoas próximas, de tal forma a permitir
um prejuízo àqueles que venderiam tal mercadoria. Claro que se trata do mal caráter, pois se ele
detivesse uma boa índole procuraria um emprego.

Se não houvesse emprego a ele, e rapidamente fora de sua necessidade a obtenção de dados
produtos, para tanto concluiu um furto. Isso revelaria um indivíduo mal?

Incontestavelmente, ele poderia usar de outros meios para conseguir o que precisava.

E se a ele não houvessem sido permitidas qualificações e instruções, deixando-o


circunscrito a um meio o qual citasse que a única forma de abater suas necessidades seria
através de um roubo. Tratar-se-ia ainda um problema relativo à maldade individual, ou uma
patologia estrutural de uma sociedade a qual atende o interesse dos mais ricos privando os
mais humildes de determinados recursos?

Talvez em razão a essa situação ele fora estimulado a algo que não necessariamente
correspondesse aos seus princípios.
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Então nesse caso, um ladrão não seria precisamente um antagonista social, porém poderia
ser alguém em busca de algum fator o qual fora privado por um fundamento da atual
sociedade, devido a sua condição social.

Há essa possibilidade.

Platão: Teoria das Ideias


Assim como Parmênides que confrontava a capacidade do homem de conhecer ao distingui-la em
dois conceitos, doxa e episteme, Platão, também dedicou-se a compreender a capacidade humana
de apreender a realidade. Através de seus estudos ele criou a teoria das ideias ou teoria das
formas, em que o homem buscava desvendar a realidade por meio dos sentidos (mundo sensível)
ou do racionalismo (mundo inteligível), sendo esta última a forma mais correta de alcançar a
verdade.

A realidade, para Platão, era dividida em dois planos distintos: o mundo sensível e o mundo
inteligível

Mundo sensível – plano do constante movimento e transformação das coisas, nada e fixo e tudo
aparente e ilusório. Segundo Platão, o movimento é uma ilusão assim como o conhecimento
através dos sentidos. Plano da mutabilidade

Mundo inteligível – plano onde se encontram as verdades e formas absolutas e imutáveis em que
se pode tentar chegar apenas através da busca pelo conhecimento. Neste mundo existem as
formas perfeitas e as verdades que não mudam. Plano da imutabilidade

Todas as formas e ideias são concebidas através de comparação com outras, sendo aplicado
tambem as concepções de virtude, beleza e verdade, que temos como ideais em nossa mente
mesmo que, na pratica, não apliquemos com sucesso.

Em síntese, o mundo sensível é aquilo que vemos, que usamos nossa percepção que é falha,
tornando tudo que vemos algo distorcido, por isso não enxergamos a realidade de forma
homogênea. Por sua vez, o mundo inteligível é o alcance das formas reais através dos logos, da
razão humana que busca a essência e o alcance da maior proximidade possível da realidade e da
verdade.
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As formas vão além da percepção humana, pois se dá, sim, através do uso da inteligência em
relacionar função e forma do objeto para padronizar/categorizar. A inteligência humana reconhece
formas em objetos, pessoas e ações como modelos de algo bom, ruim, virtuoso, falho, etc.

Alegoria da caverna

Atividades semanais

1. O que representa a alegoria da caverna?


2. Qual a relação desta com a teoria das Formas de Platão?
3. Podemos relacionar a busca pela verdade sobre as coisas, do prisioneiro, e a negação dos
demais quanto ao que ele relatou, com alguns exemplos na atualidade?

Aristóteles: Organização do conhecimento e abstração


Nesta aula será abordada a concepção aristotélica de conhecimento. Lembre-se que Aristóteles foi
aluno de Platão e desenvolveu suas teorias a partir do pensamento de seu mestre. Aristóteles
destacou-se na criação de métodos de classificação dos seres (Base da taxonomia atual) e do
estudo das causas para existências dos seres/objetos.

Tipos de conhecimento para Aristóteles

Produtivas ➔ representadas pelas artes e pelas técnicas, como agricultura, tecelagem e


engenharia.

Práticas ➔ representadas pela Ética e pela Política, às quais interessavam as condutas do ser
humano como indivíduo e cidadão.
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Teoréticas ➔ representadas pela Matemática, pela Física e, principalmente, pela Filosofia,


saberes teóricos ligados à reflexão e à busca de uma compreensão intelectual da realidade

Lembre-se que a arte para Platão era dispensável, porque este filósofo considerava que o homem
percebia o mundo de forma errônea por ser traído por seus instintos, portanto, a arte ao querer
representar o mundo, o fazia como uma cópia errada (o ato de produzir a obra artística) de outra
cópia errada (a nossa percepção do mundo). Aristóteles não concordava neste ponto com o seu
mestre, para ele, a arte era importante assim como a nossa percepção do mundo através dos
sentidos, os quais o filósofo chamou de “formas sensíveis”.

Cada um dos cinco sentidos seriam capazes de captar formas sensíveis próprias, o que ele
denominou “sentidos próprios”. O ser humano, para Aristóteles, tambem seria capaz de perceber
formas sensíveis comuns como quietude e movimento, a isto, Aristóteles nomeou “sentidos
comuns”.

As sensações eram marcas deixadas nos sentidos próprios e sentidos comuns pelas formas
sensíveis. Aristóteles afirmava que estas eram derivadas de:

Fantasia ➔ capacidade de constituir imagens das formas sensíveis;


Memória ➔ capacidade de conservar imagens das formas sensíveis;
Experiência ➔ resultado da acumulação de imagens sensíveis na memória.

Para Aristóteles, aprendemos a partir da experiência e relação com os seres e fenômenos


existentes ao nosso redor que nos possibilita desenvolver as capacidades inteligíveis (racionais).
Portanto, nossa possibilidade de aprendizado era chamada intelecto potencial e nosso estado
intelectual de intelecto atual. O conhecimento para Aristóteles, é, portanto, resultado da abstração
através das sensações obtidas no mundo circundante.
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Filosofia Medieval: Patrística e a Teoria da Iluminação divina de Santo Agostinho


A Filosofia medieval é dominada por duas grandes correntes filosóficas, a Patrística, que dominou
a Alta Idade Média e a Escolástica, que predominou na Baixa Idade Média.

A Patrística teve como principal filósofo a Agostinho de Hipona, também chamado de Santo
Agostinho. Este filósofo renegou o ceticismo e adotou e retransformou o neoplatonismo,
relacionando o conceito de Uno a um ser superior e perfeito, gerador de tudo que existe no universo:
Deus.

Santo Agostinho afirmava que todos os seres e objetos do mundo eram ideias de Deus e que o
Homem possuía um corpo e uma alma. O corpo poderia ser modificado por objetos materiais e a
alma produziria sensações a partir dessa interação. O conhecimento, seria verdadeiro e estável
quando referindo-se a conhecimentos eternos e imutáveis como a matemática.

Sobre o conhecimento, Agostinho afirmava que o conhecimento mutável através dos sentidos era
falho, porque era gerido pelo homem, um ser falho e imperfeito em definição. O conhecimento
apenas seria verdadeiro quando relacionado ao mundo inteligível, já que este estava relacionado
ao ser superior e perfeito: Deus. Sendo assim, como o homem poderia alcançar o conhecimento
verdadeiro?

Para alcançar o conhecimento verdadeiro, Agostinho criou a teoria da iluminação divina, a


capacidade dada por Deus, ao homem, para que este alcance a verdade sobre um fenômeno/ser.

Intelecto e Conhecimento

Na Alta Idade Média, período em que, na filosofia medieval, predominou a influência de Platão, as
ideias de Aristóteles eram pouco conhecidas e só foi adotada e transformadas para a filosofia
medieval a partir da Baixa Idade Média e das interações e trocas culturais entre os europeus e os
árabes. A partir deste maior contato com a filosofia aristotélica, inicia-se um novo período da
filosofia medieval, a escolástica (lembre-se que o primeiro período dominado pelo Neoplatonismo
se chama Patrística)

A escolástica reorganizou a filosofia cristã, ainda que algumas afirmações de Aristóteles não eram
possíveis de adaptar aos textos bíblicos. Neste momento inclusive a educação foi reorganizada,
apresentando um esforço pelo debate entre estudantes, que possivelmente criaria
questionamentos e embates filosóficos sobre a crença cristã, que seriam a semente do
racionalismo desenvolvido desde o Renascimento.
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Filosofia Medieval: Escolástica e São Tomás de Aquino


A corrente filosófica dominante na Baixa Idade Média, a Escolástica, teve como principal expoente,
Tomás de Aquino, que se destacou por adaptar o pensamento de Aristóteles para a filosofia cristã,
assim como Agostinho de Hipona havia feito mil anos antes com a filosofia de Platão.

Tomás de Aquino afirmava que era possível chegar ao conhecimento inteligível através da
compreensão de elementos sensíveis, apontando cinco formas de conhecimento sensível:

sentido próprio – os sentidos particulares seriam afetados pelos objetos que lhes são próprios (a
visão pela cor, a audição pelo som, etc.);

sentido comum – as impressões seriam percebidas em uma unidade, assim como as sensações
que as acompanham;

imagem ou fantasia – as imagens das coisas sensíveis seriam conservadas (como uma
espécie de memória passiva);

memória ou reminiscência – as imagens poderiam ser evocadas deliberadamente (como


uma espécie de memória ativa);

razão particular – objetos e situações particulares seriam imediatamente percebidos como


benéficos ou nocivos

Utilizando-se de Aristóteles e sua observação de fenômenos e interpretação através de causa e


efeito, Tomás de Aquino buscou comprovar a existência de Deus, através das “cinco
vias(argumentos) para demonstrar a existência de Deus”:

• primeiro argumento - oriundo da Física de Aristóteles, crê que, se tudo que move é movido
por algo, não pode ser admitida uma regressão ao infinito, devendo existir um primeiro motor.
Deus, assim, é o Primeiro Motor.
• segundo argumento - oriundo da Metafísica de Aristóteles, defende a ideia de que, se
perguntássemos a qualquer fenômeno do mundo sua causa e continuássemos
sucessivamente perguntando as “causas de suas causas”, em todos os casos chegaríamos
a Deus.
• terceiro argumento - baseado nas noções de necessidade e contingência de Aristóteles,
acredita que, se tudo na natureza fosse contingente, passageiro, é preciso que algo do que
existe seja perene. Deus é o primeiro ser, origem de toda necessidade.
• quarto argumento - inspirado na Metafísica de Aristóteles, pensa que, se todas as coisas
na natureza têm uma qualidade, em maior ou menor grau (tamanho, força etc.), é preciso
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um parâmetro, a perfeição, que é Deus, portador de todos os atributos e qualidades em


máximo grau.
• quinto argumento - pensa que se, como observa Aristóteles, a natureza possui um
propósito, deve haver uma finalidade para toda a criação, caso contrário o universo não
tenderia para o mesmo fim ou resultado. A causa inteligente do universo é Deus.

Para Tomás de Aquino não existia contradição entre filosofia e teologia porque a Razão vinha da
mesma fonte, Deus.

Epistemologia Moderna
Epistemologia Moderna e o Método científico
A Razão, ou nossa capacidade de conhecer, sempre foi alvo de interesse dos humanos, desde os
mitos como o de Prometeu que deu à humanidade o fogo/conhecimento para que esta estivesse
mais próxima da capacidade dos deuses.

Na Idade Moderna, filósofos buscavam compreender a Razão humana, em um período em que o


racionalismo foi super valorizado em contraposição aos instintos. Além dos instintos, estes
estudiosos também menosprezavam o conhecimento medieval, por apontarem que estava
impregnado de misticismo, chamando este período de “Idade das Trevas”, ou seja, Idade onde não
teve desenvolvimento considerável do conhecimento humanos, o que, atualmente, considera-se
uma acusação errônea dos pensadores da Idade Moderna. Este período foi marcado pela busca
de métodos exatos para a ciência e crença na capacidade humana de desvendar os mistérios da
natureza e adaptá-la a sua vontade.

Uma diferenciação considerável entre a ciência antiga e a ciência moderna está na busca da ciência
moderna por fragmentar-se em áreas de conhecimento e disciplinas, levando a uma maior
especialização de cada área, isto pode ser percebido inclusive pelos estudiosos que passaram a
ser especialistas, não envolvendo-se em investigações de outras áreas. Por exemplo, um biólogo
não se envolve em investigações de um historiador e vice-versa.

Atividade da semana

Explique o que seria um método para qualquer atividade e explique o que você conhece como
método científico consolidado (você estudou o método científico nas aulas de sociologia)
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Leitura do Mito de Prometeu


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Francis Bacon e o Método Experimental


Enquanto os filósofos medievais consideravam que o mundo era regido por forças divinas, os
pensadores modernos defendiam que este era regido por leis naturais e que o homem, deveria
buscar compreender estas leis.

Galileu Galilei foi um dos grandes pensadores a romper com o modelo medieval-aristotélico de
compreensão do mundo. Para Galileu o mundo era compreendido por modelos matemáticos e
deveria ser estudado por meio de observação e experimentação, com afinco, pelo homem, para
alcançar novas respostas. Suas afirmações causaram tanta comoção em sua época que foi
chamado a um tribunal da Santa Inquisição e obrigado a desmentir suas afirmações com perigo de
execução caso se negasse.

Francis Bacon, por sua vez, buscou contestar os modelos de conhecimento da antiguidade e do
período medieval. Defendeu a máxima “saber é poder”, apontando a humanidade como capaz de
desvendar e dominar a natureza através da ciência e da técnica.

Bacon utilizava-se de um método rigoroso chamado de tábuas de investigação e focava seu estudo
na observação empírica de fenômenos. As tabuas centravam-se em um método de afirmação,
negação e comparação de fenômenos.
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Francis Bacon ficou conhecido por introduzir o método de indução nas ciências, que, em resumo é
a observação de um fenômeno particular e sua localização em um âmbito geral.

Indutivo ➔ Particular – Geral

Dedutivo ➔ Geral – particular

Atividade da semana

1.Qual o grande significado do reflorescimento da ciência no período moderno, influenciado, sem


dúvida, por personagens como Galileu Galilei e Francis Bacon?

2.Quais as principais contribuições de Galileu e Francis Bacon para a ciência moderna?

3.Qual a diferença entre método indutivo e método dedutivo?


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Racionalismo de René Descartes: Inatismo


Em contraposição do método empírico, surgiu o Racionalismo. Lembre-se, o empirismo
considerava que podíamos chegar a novas conclusões sobre as leis que regem o universo
e sobre fenômenos no mundo circundante através da observação e análise por meio de
nossos sentidos.

O Racionalismo se contrapunha a tais afirmativas, pois considerava que a melhor forma de


apreensão da realidade seria a Razão, pois os sentidos podiam causar enganos, enquanto
a Razão possibilitava alcançar a verdade, por meio do ato de aprender através de ideias
inatas (presentes no intelecto), tendo alguma relação com a concepção platônica de
apreensão da verdade e da realidade através de ideias existentes na “alma”.

Um dos grandes expoentes do Racionalismo foi René Descartes, conhecido pela famosa
frase “Cogito, ergo sum” (Penso, logo, existo). Para este filosofo, a apreensão da verdade
se daria através destas ideias inatas que temos naturalmente em nosso intelecto.

Através da afirmação que por meio da Razão chegaríamos à verdade, Descartes


considerava que a filosofia poderia alcançar verdades tão incontestáveis quanto a
matemática. Para isto, desenvolveu um método de quatro etapas com o fim de submeter
qualquer teoria ou interpretação a esta prova de “Razão”:
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Atividade da semana
1. Apresente, através de suas palavras, a diferença entre Empirismo e Racionalismo.

2. Quais os tipos de verdades existentes e possíveis de alcançar a partir da concepção de


René Descartes?

Racionalismo: Inatismo – Parte II


As ideias de Descartes influenciaram outros pensadores como o alemão Leibniz,
filósofo e matemático que buscou desenvolver usar uma lógica a partir de fórmulas
matemáticas a fim de diminuir os equívocos gerados pela argumentação da linguagem
escrita comum. Para este pensador, a linguagem gerava enganos que impossibilitavam
chegar a verdades absolutas, levando a filosofia a um sem fim de argumentações e contra
argumentações, que, não possibilitava chegar a verdade. Com uma linguagem direta e
exata, influenciada pela matemática, as ciências humanas, segundo Leibniz, poderiam
alcançar verdades inquestionáveis.
Para Leibniz, assim como para Descartes, alguns conceitos e ideias já nascem
conosco, sendo este filósofo, adepto, igualmente, do Racionalismo/Inatismo.
Verdades de Razão ➔ Aquilo que é, não pode “não ser”.
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Exemplo: É impossível que um triangulo não tenha três lados.

Verdades de fato ➔ São empíricas porque referem-se a coisas que podem ser diferentes
do que são. Tudo o que existe tem uma causa e pode ser conhecido pelos sentidos tambem.
Exemplo: Um cravo vermelho, onde o vermelho não está relacionado com o conceito de
cravo, podendo este ser branco, amarelo ou outra cor.
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Atividade da Semana
Resolução dos exercícios abaixo
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John Locke e o Empirismo


Os empiristas, ao contrário dos racionalistas, afirmavam que a experiência era fonte do
conhecimento pois ocorre a partir dos sentidos e não através de conhecimentos inatos, como
afirmavam os racionalistas.
Um dos grandes empiristas foi John Locke, que contrariava os racionalistas, afirmando que
nada existia na mente e que todo o conhecimento era gerado a partir dos sentidos, sendo
nossa mente, quando nascemos, uma “tábula rasa”. Para os empiristas, nossa
aprendizagem sobre o mundo se dava através dos cinco sentidos, pelos quais nós
poderíamos ter sensações e percepções da realidade.
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Experiência X Hábito
John Locke e David Hume são filósofos empiristas, mas que possuem uma diferença
marcante entre os dois. Enquanto o primeiro considera possível chegar ao conhecimento e
a verdade, o segundo é cético, ou seja, considera que alcançar uma verdade absoluta é um
feito impossível e, portanto, o conhecimento não é totalmente seguro.
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Hume acreditava que o conhecimento se estruturava em nossas mentes por meio de uma
relação entre sujeito (que interpreta) e objeto (que é interpretado) e ocorria a partir de três
categorias: Associação, tempo-espaço e causalidade. O conhecimento seria, portanto,
apenas um reflexo do mundo externo, a partir de nossa interpretação que ocorre pela
observação/experiência, e que a causalidade dos fenômenos seria apenas um hábito nosso
e não necessariamente a realidade.

Atividade da Semana

Leitura do texto e resolução da questão Abaixo:


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Kant e o Criticismo
Nas últimas aulas, estudamos as concepções científicas de empiristas e racionalistas.
Podemos identificar duas concordâncias entre estes pensadores:

Ambos, portanto, consideravam o objeto como algo pronto que deveria ser conhecido pelo
sujeito.
Analisando esta concordância, um importante filósofo alemão do século XVIII, Immanuel
Kant, buscou conciliar estas concepções, colocando o “sujeito conhecedor” no centro da
análise, e não o objeto, como faziam empiristas e racionalistas, a mudança de concepção
foi tão grande que é chamada de Revolução Copernicana da filosofia, comparando com a
mudança produzida por Copérnico ao apontar que o planeta Terra não era o centro do
universo.

Para Kant, não era possível apreender a realidade em si, então devíamos centrar nossas
atenções em nossa capacidade de interpretar o objeto/fenômeno, afirmando que não
podemos chegar a uma verdade sobre a coisa em si, mas a uma interpretação dela limitada
por nossa mente, que tem limite de compreensão em todos os humanos. Em outras palavras,
Kant aponta os limites da Razão humana.

Herdeiro do pensamento empirista de Hume, Kant apontava dois conceitos relativos à realidade:

Noumeno – Coisa em si.

Fenômeno – Interpretação da coisa como apresentada ao ser humano segundo a sua


racionalidade.

Para Kant, a metafísica até Hume dedicava-se a entender o noumeno (representado por conceitos
como Deus, alma, mundo, etc), o que seria um ato falho, visto que, segundo este pensador,
somente os fenômenos, chegavam a nossa análise racional.

Para Kant, não podemos compreender o objeto/ser em si, mas relacionar quatro categorias
de entendimento sobre este: Quantidade, qualidade, relação, modalidade
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