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Lafayette, em Paris
Autora:
Professora Ivy Judensnaider
Módulos
1 – A Sociologia: origens e escopo
Charles Darwin, naturalista inglês
2 – Auguste Comte e Física Social
3 – Durkheim e a reflexão sobre
fatos sociais
4 – Max Weber e os estudos sobre
religião, autoridade e
burocracia
5 – Cultura Monteiro Lobato, escritor e editor brasileiro
6 – A reflexão sociológica sobre educação
7 – A sociedade civil e a política
8 – Marx e o materialismo dialético histórico: um
método para a reflexão sobre as
transformações sociais e um instrumento de
luta e intervenção.
A Sociologia:
1 origens e escopo
Neste módulo, entenderemos o campo de inves- sobre nossas relações com os outros e sobre as
tigação da Sociologia, o momento em que ela se relações sociais entre diferentes povos e culturas? O
organiza enquanto ciência, os temas com os quais ela que torna, então, a Sociologia uma ciência? E o que
se ocupa e as principais características do seu olhar difere esse nosso olhar comum sobre o mundo do olhar
para o mundo que nos cerca. sociológico científico?
A resposta é bastante simples: a Sociologia aplicou
1. O contexto histórico do métodos científicos ao nosso olhar para a sociedade.
surgimento da Por isso, ela buscou ir além do senso comum, dos
julgamentos e das reflexões que fazemos de forma
Sociologia cotidiana, no nosso dia a dia.
Fotoarena
? Saiba
mais O sr. Gradgrind caminhava da escola para casa
Sugerimos que você veja Lincoln (dir. Steven Spielberg, em estado de considerável satisfação. Era sua
150 minutos, 2012). Esse filme narra os conflitos nos escola, e ele pretendia que ela fosse um modelo.
Estados Unidos, entre nortistas e sulistas, tendo como Pretendia que cada criança nela fosse um
modelo
contexto as lutas pelo fim da escravidão.
– como os jovens Gradgrinds eram todos
modelos.
2 SOCIOLO Havia cinco jovens Gradgrinds, e cada um deles a mais tenra infância; adestrados, 3
como pequenas
SOFCILIO
GIA era um modelo. Haviam sido doutrinados desde lebres. Assim que puderam correr sozinhos, foram
LSOGFIA
obrigados a correr para a sala de palestras. O contabilidade botânica. Gás e ventilação, serviço
primeiro objeto com o qual tiveram uma de água e esgoto, tudo de primeira. Traves e
associação, ou do qual conservaram alguma abraçadeiras de ferro, à prova de fogo de cima a
lembrança, foi um grande quadro-negro no qual baixo; elevadores para as criadas, e todas as
um Ogro seco desenhava a giz sinistros suas escovas e vassouras; tudo que o coração
algarismos brancos. poderia desejar.
Não que conhecessem, por nome ou natureza, Tudo? Bem, suponho que sim. Os pequenos
qualquer coisa sobre os ogros. Os Fatos os Gradgrinds também tinham gabinetes para vários
livrem! Uso a palavra apenas para definir um campos da ciência. Tinham um pequeno
monstro que vivia num castelo de palestras, só gabinete de conquiliologia, um pequeno gabinete
Deus sabe com quantas cabeças manipuladas de metalurgia e um pequeno gabinete de
numa só, e capturava a infância, arrastando-a mineralogia; e os espécimes estavam todos
pelos cabelos para tenebrosos covis estatísticos. ordenados e rotulados, e as amostras de pedras
Nenhum dos pequenos Gradgrinds jamais vira e minérios pareciam ter sido extraídas com
um rosto na Lua; já ocupavam alturas lunares instrumentos extremamente rígidos, como seus
antes de falar direito. Nenhum pequeno próprios nomes; e, para parafrasear a estúpida
Gradgrind jamais aprendera a tola musiquinha: rima de Peter Piper, que nunca foi dita pelas
"Brilha, brilha, estrelinha! Lá no céu, babás dos pequenos Gradgrinds, se os
pequenininha!". Nenhum pequeno Gradgrind gananciosos Gradgrinds ganhassem mais do que
jamais fora impreciso sobre o tamanho de uma isso, o que, em nome da Grande Graça,
estrela, já que, aos cinco anos, cada pequeno ganhariam os gananciosos Gradgrinds?
Gradgrind já dissecara a Ursa Maior como um
O pai dos pequenos Gradgrinds continuava
professor Owen e dirigira o Grande Carro como
caminhando satisfeito e otimista. Ele era um pai
um maquinista de trem. Nenhum pequeno
afetuoso, à sua maneira; porém era provável que
Gradgrind jamais associara uma vaca no pasto
se descrevesse (se fosse obrigado a dar uma
àquela famosa vaca do chifre torcido que chifrou
definição, como Sissy Jupe) como um pai
o cão que perseguiu o gato que matou o rato
"eminentemente prático". Orgulhava-se da frase
que comeu o grão, ou àquela vaca, ainda mais
"eminentemente prático", que parecia ter um
famosa, que engoliu o Pequeno Polegar: nunca
significado particular quando aplicada a ele. Em
ouvira falar dessas celebridades, e fora
qualquer reunião pública em Coketown, sobre
apresentado às vacas apenas como quadrúpedes
qualquer assunto, algum cidadão decerto
graminívoros e ruminantes, com vários
aproveitaria a ocasião para aludir ao seu
estômagos.
eminentemente prático amigo Gradgrind. O que
Àquele prosaico lar, batizado de Stone Lodge, o sempre agradava ao eminentemente prático
sr. Gradgrind dirigia seus passos. Ele estava amigo. Este sabia que tal alusão não era mais do
praticamente aposentado do comércio de que lhe era devido, mas o que lhe era devido era
ferragens por atacado quando construiu Stone aceitável.
Lodge, e agora procurava uma oportunidade Ele chegara ao terreno neutro das cercanias
adequada para fazer uma figura aritmética no da cidade, que não era nem cidade nem
Parlamento. Stone Lodge situava-se numa campo e, no entanto, a perspectiva de ambos
charneca distante uma ou duas milhas de uma foi arruinada quando ele ouviu o som da música.
grande cidade – que será batizada de Coketown A banda desengonçada e desafinada,
neste fiel guia que aqui se apresenta. adjacente ao estabelecimento hípico que se
Stone Lodge era um elemento bastante regular instalara em um pavilhão de madeira, zurrava
na superfície da região. Nenhuma dissimulação a plenos pulmões. Uma bandeira, tremulando
atenuava ou obscurecia aquele intransigente fato no alto do templo, proclamava à humanidade
da paisagem. Uma casa enorme e quadrada, que o "Circo Hípico Sleary" reivindicava sua
com um pórtico pesado que obscurecia as intercessão. O próprio Sleary, uma corpulenta
janelas principais, assim como as pesadas estátua moderna com um mealheiro junto do
sobrancelhas de seu dono ensombreavam seus cotovelo, num nicho eclesiástico de arquitetura
olhos. Uma casa calculada, planejada, gótica primitiva, recolhia o dinheiro. A srta.
equilibrada e testada. Seis janelas de um lado da Josephine Sleary, segundo anunciavam
porta, seis do outro; doze no total numa ala, folhetos impressos muito longos e estreitos,
doze no total na outra ala; vinte e quatro, iniciava os entretenimentos com seu gracioso
somando-se as alas de trás. Um gramado, um carrossel tirolês. Naquela tarde, entre outras
jardim e uma pequena entrada, todos regrados e maravilhas agradáveis e sempre estritamente
medidos como um livro de honestas que se deveria ver para crer, Signor
Jupe "mostraria as divertidas proezas de seu
cão altamente treinado, Patas Felizes".
Também
4 exibiria "seu espantoso feito de lançar setenta e
SOCIOLO
sucessão por cima da cabeça, formando uma fonte de ferro
GIA
cinco pesos de cinquenta quilos em rápida em pleno ar, um feito que jamais se tentou neste ou em
qualquer outro país, arrancando aplausos
Até mesmo em função da escolha da matemática
arrebatados de multidões entusiasmadas, e por
como instrumento para a construção do saber, a
isso não pode deixar de fazer parte do
mensuração sob a forma de estatísticas e de
espetáculo". O mesmo Signor Jupe animaria "os
recenseamentos ganhou impulso na Europa. Tudo
vários números, a intervalos frequentes, com
gracejos castos e réplicas shakespearianas". Por
deveria ser medido e calculado:
último, ele brindaria a plateia interpretando seu
personagem favorito, o sr. William Button, da nascimentos, óbitos, doenças, preços, produção,
rua Tooley, na "recentíssima e hilariante comédia animais, condenados por crimes, prostituição,
hípica, 'A Viagem do Alfaiate a Brentford'". o uso do solo, da água e do ar, quantidade de
bosques, de moinhos, de rebanhos e de
É claro que Thomas Gradgrind não prestou
vinhedos (JUDENSNAIDER, 2012, p. 56).
nenhuma atenção a essas trivialidades, mas
passou como um homem prático deveria passar,
espantando do pensamento os insetos Essas eram as informações que a burguesia que
barulhentos, ou trancando-os na Casa de triunfara a partir da Revolução Industrial e da Revolução
Correção. Mas a curva da estrada levou-o aos Francesa tanto desejava: conhecer a sociedade e o
fundos do pavilhão, e nos fundos do pavilhão mundo social a partir das lentes da ciência e dos
havia numerosas crianças em numerosas métodos científicos.
atitudes furtivas, esforçando-se para espiar as
glórias secretas do lugar.
Aquilo o fez parar. "Ora, e pensar que esses
vagabundos", disse ele, "estão atraindo jovens
hordas para longe de uma escola-modelo".
Reúna seus amigos e discutam o texto de Charles Se o mundo estava em constante avanço e
Dickens. As crenças do Sr. Gradgrind ainda são progresso, fazia-se mais do que necessário conhecer
atuais? Há traços e marcas dessa concepção de esse processo para melhor administrá-lo e para dele se
ciência nas notícias dos jornais impressos e nos obter mais benefícios. Dessa forma, a Sociologia como
documentários televisivos? ciência surgiu nesse momento, em meio a profundas
transformações sociais provocadas pela industrialização,
pela crescente urbanização e pelo aumento do poder
político da burguesia.
As décadas seguintes – na verdade, o século
seguinte – tornariam as relações sociais cada vez
mais complexas, o que fez com que a Sociologia
ocupasse um lugar de destaque entre as ciências
humanas. Afinal, sem a Sociologia o mundo pareceria
? Saiba mais confuso, menos compreensível.
Para Mills (1975), a Sociologia reúne conhecimentos
mais que permitem a compreensão dos nexos estabelecidos
Com base em outra obra do mesmo autor, o diretor
Roman Polanski filmou Oliver Twist (Dir. Roman Polanski. entre as relações e os processos de interação social.
Reino Unido; República Checa; França; Itália: Sony Dito de outra forma, a Sociologia atua como
Pictures, 2005. 130 minutos). Recomendamos que você “autoconsciência” da sociedade. Ela é a ciência capaz de
assista ao filme, em especial para conhecer a situação de estimular o diálogo entre a razão e a realidade social;
mendicância das crianças nas cidades inglesas tomadas enquanto ciência, ela investiga os fenômenos sociais
pela industrialização. com rigor científico, fazendo uso de métodos
apropriados para a compreensão daquilo que é seu
objeto: a vida em sociedade e as transformações
sociais.
2. A Sociologia e
SOCIOLO o senso comum 5
GIA
Todos somos capazes de falar sobre o mundo social Claro que, muitas vezes, a ciência nega aquilo que o
em que vivemos, mesmo que não tenhamos estudado senso comum indica como verdadeiro. Na verdade, as
Sociologia. Podemos, a partir do nosso repertório de revoluções científicas acontecem quando a ciência
saberes diários, emitir opiniões a respeito de diferentes explica algum fenômeno de forma totalmente diversa
culturas, diferentes formas de viver em sociedade, daquela até então conhecida. Imagine o esforço
diferentes formas de trabalhar e de apreender o mundo. necessário para provar que a Terra se movia e girava
Todos somos dotados de senso comum, e com base em torno do Sol... Afinal, “qualquer criança” pode
nele fazemos julgamentos e previsões, tomamos perceber a imobilidade da Terra! No entanto, embora
decisões e formulamos opiniões a respeito do ambiente nossos sentidos e sensações pareçam indicar a
que nos cerca. No entanto, embora esse senso comum imobilidade da Terra, sabemos que ela se move. A
nos ajude no dia a dia, ele é insuficiente para dar conta ciência nos mostra, e nos prova, que ela se move.
da explicação e da busca de aproximação com a
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verdade que é, em geral, obtida por meio do uso de
instrumentos
científicos.
Vejamos um exemplo: você pode afirmar que os
jovens, há algumas décadas, amadureciam mais
rapidamente do que ocorre com os jovens nos dias
de hoje. No entanto, esse discurso marcado pelo
senso comum, essa maneira descomprometida de
pensar a realidade, é insuficiente para que você
afirme, com algum grau de certeza, que os jovens
eram mais maduros em tempos passados. Para que
você possa fazer uma análise objetiva sobre o tema,
seria necessário: a) explicar o que você entende por Figura 3. Embora nossos sentidos e sensações pareçam indicar a imobilidade
da Terra, sabemos que ela se move. A ciência nos mostra que ela se
maturidade; b) mostrar de que forma é possível move.
reconhecer mais ou menos maturidade por parte dos
jovens; c) levantar dados, por meio de entrevistas ou É possível que, a essa altura, você também esteja
por meio de estatísticas; d) refletir a respeito dos se perguntando: mas, e se compararmos a Sociologia
dados levantados; e e) concluir, com algum grau de com outras ciências, por exemplo as ciências naturais?
segurança, sobre o nível de maturidade dos jovens de Podemos afirmar ser a Sociologia “tão científica”
hoje em relação aos jovens do passado. quanto as outras ciências? Esse é um tema bastante
O senso comum formula opiniões sem qualquer complexo, que não pode ser respondido de forma
compromisso com provas ou evidências. A ciência, por simples. É correto afirmar que a própria concepção de
sua vez, ocupa-se em descobrir o "porquê", em explicar ciência que temos reforçou a ideia de diferentes graus
por que as coisas acontecem da forma como de cientificidade das ciências sociais e das ciências
acontecem, em identificar as variáveis que tornam naturais. Essa crença foi se construindo ao longo do
determinados fenômenos possíveis e outros impossíveis. século XIX, persistiu no século XX e, ao que parece,
Podemos, então, afirmar que o senso comum é mantém-se viva ainda no século XXI.
irrelevante? De forma alguma! O senso comum, na A concepção de diferentes graus de cientificidade
maior parte das vezes, alimenta o espírito científico repousa no fato de as ciências naturais fazerem uso de
na formulação dos problemas de pesquisa e nos métodos “mais científicos”. Aparentemente, o fato de
questionamentos em relação à realidade. Tal ser possível medir e pesar objetos justifica concluir que
contexto nos permite, inclusive, concluir: a ciência o conhecimento alcançado pelas ciências naturais é mais
reflete sobre o senso comum. O especialista, o seguro do que o saber construído pelas ciências sociais.
detentor do conhecimento científico, é quem busca Se nossa visão do mundo e da matéria for
ultrapassar os limites do senso comum, objetivando mecanicista, quer dizer, apoiada numa concepção de que
identificar relações causais entre as variáveis: “A” faz a realidade funciona de forma mecânica (portanto,
com que “B” aconteça? O que acontece quando, em previsível), talvez a diferença de cientificidade entre as
vez de “A”, “C” interage com “B”? ciências faça sentido. No entanto, a natureza não
funciona de forma mecânica, tampouco a sociedade e a
cultura estão fora do alcance de possibilidades de
investigação racional e científica. Segundo Santos (1996,
6 p. 14): SOCIOLO
GIA
De forma quase irônica, o que antes era explicativo do “atraso” das ciências sociais hoje é
justificativa do “avanço” das ciências naturais. Ao
serem derrubados os mitos de certeza e verdade 3. Grandes temas da Sociologia
inquestionáveis das ciências da natureza, pro-
moveu-se a aproximação epistemológica entre as É improvável que um trabalhador, ao chegar na
duas vertentes científicas. fábrica, reflita a respeito das relações sociais de
produção. Quando compramos algo no supermercado,
provavelmente, sequer nos damos conta das interações
Observação: sociais que foram necessárias para que aquela
A aproximação epistemológica mencionada por mercadoria fosse produzida e colocada à nossa
Santos (1996) diz respeito à semelhança entre os disposição. Quando mandamos uma mensagem para
diferentes métodos e concepções assumidos por um amigo via WhatsApp, também não pensamos sobre
cada ciência. As transformações e os desen- a construção e os limites da vida virtual. Em resumo, no
volvimentos das ciências naturais mostraram, nas nosso dia a dia, não “[dispomos] [...] da qualidade
últimas décadas, que o conhecimento que temos a
intelectual básica para sentir o jogo que se processa
respeito dos fenômenos físicos não é tão certo e tão
entre os homens e a sociedade, a biografia e a história,
seguro quanto imaginávamos. Nossa subjetividade
o eu e o mundo” (MILLS, 1975, p. 10).
também age quando estamos medindo ou pesando
objetos. Assim, a impossibilidade de objetividade
completa alcançou as ciências naturais, tornando-as Caso, porém, resolvamos refletir sobre todos esses
próximas das ciências sociais. temas, como poderemos compreendê-los de forma a
explicá-los? Segundo Mills (1975, p. 11), a resposta a
essa pergunta é simples:
Devemos também considerar outro aspecto de
extrema relevância: não há como investigar O que precisam, e o que sentem precisar, é uma
determinados objetos sem fazer uso da colaboração de qualidade de espírito que lhes ajude a usar a
informação e a desenvolver a razão, a fim de
vários saberes e de diferentes especialistas. As
perceber, com lucidez, o que está ocorrendo no
fronteiras do conhecimento, embora difíceis de serem
mundo e o que pode estar ocorrendo dentro deles
transpostas, estão se tornando mais tênues em função
mesmos. É essa qualidade [...] que jornalistas e
do necessário diálogo entre as várias áreas das ciências. professores, artistas e públicos, cientistas e editores
Portanto, não faz sentido afirmar ser a Física ou a estão começando a esperar daquilo que poderemos
Biologia mais “científicas” do que a Sociologia. Para chamar de imaginação sociológica.
Santos (1996, p. 17):
A imaginação sociológica é fruto dos valores e das
Como a Sociologia lida com esse novo paradigma
relações sociais que se constroem no tempo histórico
emergente? A resposta é simples: desen-
em que vivemos. Desenvolvemos hábitos, criamos arte,
volvendo métodos de análise que tornam a ação
social humana explicável. A Sociologia, como relacionamo-nos com nossa família a partir daquilo que
ciência, procura explicações que sejam mais existe no contexto do nosso próprio tempo. Somos
profundas, que estejam baseadas em determinados pela história e, ao mesmo tempo,
conhecimentos precisos. O conhecimento com construímos a história. Somos determinados pelo
base científica é crítico, pois procura bases mundo físico e, ao mesmo tempo, transformamos o
sólidas, justificações claras e exatas, enquanto o mundo físico, transformando-nos também. Nós
senso comum limita-se ao conhecimento construímos o nosso tempo histórico, e ele determina as
superficial. possibilidades e circunstâncias de nossas vidas.
O conhecimento científico sobre a realidade social A imaginação sociológica constitui um novo olhar. Esse
não é construído a partir de acasos ou de coincidências. olhar busca ir além do que é individual e, portanto,
Em primeiro lugar, ele é fruto de uma certa noção de envolve a busca de respostas para inúmeras questões:
ordem social; afinal, se não há ordem, não há como • Como cada sociedade está organizada?
explicar ou prever fenômenos. Em segundo, parte do • Como a organização social mudou ao longo do
princípio de que é possível compreender e explicar a tempo?
realidade social à luz da razão. • Quais os comportamentos dos homens e dos
A seguir, vamos refletir sobre os grandes temas que grupos humanos em cada sociedade e em cada
interessam à Sociologia. momento histórico? Quanto a cultura, como
produto da ação humana, é capaz de determinar as
formas de organização social?
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? Saiba
mais
O primeiro museu criado no Brasil foi o Museu do
Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico
Pernambucano. Sugerimos uma visita ao site do museu,
acessando:
Fotoarena
sobre o mundo social para além do que é individual.
Segundo Arruda (1994), entre os grandes temas da Essa área reúne os estudos sobre pesquisas
Sociologia, encontram-se: eleitorais, investigações sobre formas de representação
política, cidadania, violência social, políticas públicas e
1. Teoria Sociológica, Metodologia e Epistemologia relações internacionais.
Exercícios Propostos
➊ (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, com modificações) – Leia a charge a seguir.
A análise da charge nos remete ao fenômeno da insegurança no emprego, que, nas últimas décadas, tornou-se um tópico de
discussão essencial dentro da Sociologia do Trabalho. Sobre os efeitos nocivos da insegurança no emprego, é correto afirmar que
a) produz sensação de apreensão quanto à continuidade futura de um cargo e/ou de um papel dentro do ambiente de trabalho.
b) o maior aumento da insegurança no trabalho ocorreu, em meados dos anos de 1990, entre os trabalhadores que exercem
atividades na área de serviços, notadamente na área de Tecnologia de Informação.
c) trata-se de um fenômeno recente, até então desconhecido, causado por profundas alterações no contexto do mercado de
trabalho.
d) os estudos apontam que a insegurança no emprego é restrita ao ambiente de trabalho, não afetando a saúde e a vida pessoal
dos empregados.
Ⓢ (CESPE/UnB – SEDUC/CE, com modificações) – Assinale a opção correta a respeito do surgimento da sociologia.
a) A sociologia surgiu devido às transformações causadas pela Revolução Industrial e pela Revolução Francesa.
b) Desde o princípio, os sociólogos pretenderam o distanciamento da realidade social, com o intuito de obter uma perspectiva
adequada das sociedades em estudo.
c) A sociologia é uma ciência a serviço da classe dominante e da necessidade de controlar as classes subalternas.
d) A sociedade passou a ser objeto de estudo devido ao absolutismo, pois a unificação dos estados nacionais exigiu o
desenvolvimento de uma tecnologia de administração da população.
Referências
Textuais
ARRUDA, M. A. do N. A trajetória da pesquisa na Sociologia. Estudos Avançados, [s.l.], v. 8, n. 22, p. 315-324, 1994.
JUDENSNAIDER, I. John Stuart Mill: a Economia Política e o debate metodológico dos Oitocentos. Revista de Economia Política e
História Econômica, São Paulo, n. 28, p. 48-66, 2012.
MILLS, W. C. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1975. SANTOS,
B. de S. Um discurso sobre as ciências. Porto: Afrontamento, 1996.
1. O contexto histórico do
surgimento da Sociologia
e as ideias de Comte
O progresso – ou a sensação de progresso –
impregnava os ares do final do século XIX. A revolução
industrial já se alastrara por quase toda a Europa
Ocidental e parte da América do Norte. Como duvidar
que o destino humano estava irremediavelmente
atrelado ao progresso da sociedade?
Não havia quem negasse que a história da
humanidade era uma jornada rumo ao progresso. E, se
a evolução era o caminho natural desta história, seria
possível identificar as leis que explicavam e
desvendavam o progresso. A razão e o saber
permitiriam conhecer estas leis. A previsibilidade da
trajetória rumo ao progresso possibilitava o
desvendamento delas.
Tal como acontecia com o aumento da
complexidade da vida social, a ciência traduzia essa
marcha de progresso e de avanço; afinal, ela caminhava
para a frente, sempre acumulando conhecimento,
sempre somando e corrigindo os erros do passado. Ao
menos, era assim que os pensadores e estudiosos
entendiam o desenrolar do processo de construção do
saber.
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A classificação e a categorização eram fundamentais para a elaboração de leis que permitissem ao homem
operar, agir. O homem necessita dominar a natureza, e
por isso precisava compreendê-la, bem como às suas
leis de funcionamento. Ainda: tal como a ciência havia ? Saiba
evoluído por meio de estágios, e da mesma forma como mais
a natureza havia evoluído dos organismos mais simples Para saber mais sobre a vida de Darwin e sobre as ideias
para os mais complexos, o conhecimento também expostas em A Origem das Espécies, sugerimos consultar:
deveria percorrer esse caminho de progresso evolutivo. converted/pdf/2009_OriginPortuguese_F2062.7.pdf>.
Acesso em: 23 jul. 2014.
Concebe-se, com efeito, que o estudo racional
de cada ciência fundamental (...) não pode fazer
progressos reais (...) a não ser depois de um
grande desenvolvimento das ciências anteriores, Herbert Spencer (1820-1903), um dos mais notáveis
relativas a fenômenos mais gerais, mais representantes do darwinismo social, aplicou o conceito
abstratos, menos complicados e independentes de evolução e de seleção natural ao contexto da história
dos outros. É pois, nessa ordem que a social e criou uma teoria sobre o progresso. Em tempos
progressão, embora simultânea, necessitou ter de viagens marítimas, de conquista de terras distantes e
ocorrido (COMTE, 1978, p. 34). de contato com povos do Novo Mundo, esta parecia ser
a explicação ideal para justificar a colonização de
3. As influências do positivismo nativos na América, na Ásia e na África. Afinal, todos
eles estavam em um estágio inferior de
nas investigações sociais desenvolvimento, problema que seria resolvido se o
homem branco conseguisse educá-los e trazê-los para a
O positivismo exerceu uma profunda influência na modernidade. Assim, o darwinismo social deu um cunho
forma de pensar dos anos Oitocentos, associado ou não científico para o etnocentrismo do século XIX.
a outras teorias. Em especial, a partir das suas relações
com o darwinismo, ele acabou por ensejar a concepção
Observação:
do darwinismo social.
O darwinismo social mesclou elementos da teoria O etnocentrismo diz respeito à percepção de
darwiniana da evolução com elementos do outras culturas a partir da sua própria, ou seja,
positivismo. Se as espécies evoluíam por conta da sua tomando a sua própria cultura como parâmetro de
habilidade de adaptação, as manifestações sociais só comparação e de ideal a ser atingido.
poderiam obedecer a essa mesma trajetória. Assim,
supunha-se que comunidades mais primitivas, aos
poucos, houvessem evoluído para formas mais No início do século XX, o darwinismo social ainda
complexas de organização social. influenciou outras concepções, em especial as teorias
eugênicas, que defendiam a melhoria da raça humana a
partir de processos artificiais de seleção: como a
evolução e o progresso eram a marca do
desenvolvimento humano, parecia razoável imaginar que
seres humanos melhores surgissem por meio da
combinação de portadores de “bons genes”.
O estatístico inglês Francis Galton (1822-1911) foi
um dos maiores defensores da eugenia, concepção que
se manteve viva até o final da Segunda Guerra Mundial,
quando a crueldade e o absurdo das experiências
nazistas provaram o quão equivocada era a crença de
“melhoria” genética dos seres humanos.
Por mais surpreendente que possa parecer aos
nossos olhos de hoje, vigorou nos Estados Unidos, até
os anos de 1920, uma legislação que defendia a
esterilização de pessoas portadoras de deficiências,
impedia o casamento de indivíduos portadores de
Figura 3. Charles Darwin (1809-1882), naturalista inglês. “genes” inadequados (ou casamentos interraciais) e
estimulava à procriação os indivíduos supostamente
“superiores”. Até a década de 1970, também era
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permitido utilizar negros ou deficientes como cobaias para testes experimentais de remédios.
4. O positivismo no Brasil
O positivismo exerceu uma profunda influência no
pensamento político do Brasil ao final do século XIX e
início do século XX. Afinal, a apologia do progresso
parecia servir perfeitamente às necessidades de um
país em construção: a República era uma experiência
recente e a escravidão fora extinta há pouco. Assim, a
ideia de evolução social encontrava aderência aos
ideais da intelectualidade brasileira que havia sido
instruída na Europa.
Os ideais positivistas acabaram por se alastrar,
constituindo, inclusive, um contexto que negava as
bases do positivismo comteano. Criou-se a Igreja
Positivista do Brasil, veículo por meio do qual se
expressava a adoração por Clotilde de Vaux; as vacinas
e outras aplicações científicas foram rechaçadas;
cultos foram realizados e instituíram-se Semanas
Santas para homenagear Comte e Clotilde. Todo esse
entorno religioso acabou por construir um halo místico
em torno de Comte, imagem essa que batia de frente
Figura 5. Incansável defensor da ciência, Lobato utilizou a literatura infantil
com aquilo que o pensador havia proposto a vida toda: para ensinar Matemática, História e Geografia às crianças. Também valorizou a
o apoio à construção de um aparato científico e cultura e o folclore brasileiro por meio das lendas e fábulas.
racional que permitisse a compreensão do mundo.
A influência dos positivistas pode ser percebida na Amigo de Rui Barbosa, Lobato conviveu com os
nossa bandeira, que contém os dizeres “ordem e políticos de sua época, quase todos eles sob forte
progresso”. Afinal, ordem e progresso eram as ideias influência das ideias positivistas. Convidado pelo
que apoiavam a ciência positiva. presidente Washington Luiz, assumiu o cargo de
adido nos Estados Unidos, país no qual morou por
muitos anos e que se constituiu no exemplo de
desenvolvimento e progresso que ele tanto almejava
para o Brasil.
Com a chegada do Estado Novo, Lobato envolveu-
se na luta política pelo fim da repressão e das práticas
autoritárias da ditadura varguista e do regime de Gaspar
Dutra. Ainda, por conta do momento político do país,
acabou por se aproximar do Partido Comunista.
A trajetória não linear da carreira de Lobato –
algumas vezes até contraditória – pode explicar, em
Figura 4. No Brasil, o movimento republicano apoiou-se em ideias positivistas
parte, as críticas que seu trabalho recebeu, nos
para a formulação da ideologia da ordem e do progresso. primeiros anos do século XXI, em referência aos
elementos preconceituosos e racistas na sua obra. De
fato, admirador da eugenia, Lobato acreditava que a
O positivismo também está materializado na obra miscigenação (a “mistura” entre raças)
de um dos maiores escritores brasileiros: Monteiro “comprometia” a formação do povo brasileiro. As
Lobato (1882-1948). Promotor e fazendeiro, Lobato personagens negras dos seus livros, inclusive os
lutou pela implantação de um parque editorial no Brasil infantis, em geral eram retratadas como ignorantes e
e se dedicou à literatura infantil e didática. Nacionalista, incapazes de entender o progresso. No entanto, é
participou da campanha pela exploração do petróleo necessário considerar que o escritor, ao mesmo
apenas pelas empresas brasileiras. tempo em que atribuía aos negros um papel de
inferioridade racial, demonstrava respeito pela
sabedoria popular da qual eram portadores e pela
importância da África na nossa formação cultural.
Defensor da ordem e do progresso capitalista, ao joão-de-barro. Pura biboca de
Lobato acreditava que a “catequização” do caboclo bosquímano.
brasileiro era necessária para que a sociedade brasileira Mobília, nenhuma. A cama é uma
pudesse progredir e evoluir. Um de seus mais famosos espipada esteira de peri posta sobre
personagens, Jeca Tatu, simbolizou a crença do autor o chão batido.
no caráter deformado do caipira caboclo: como
podemos perceber no trecho de Urupês, obra de 1918,
Jeca Tatu é indolente, preguiçoso, um sujeito sem
ambição política, econômica ou cultural. Conformado
com o estado de miséria no qual vivia, e de índole
fatalista, Jeca Tatu tornou-se símbolo do atraso e do
subdesen- volvimento contra os quais Lobato lutaria por
toda a vida.
➊ O filósofo Auguste Comte (1798-1857) preenche sua d) neutralidade, fraternidade e aplicação de princípios
doutrina com uma imagem do progresso social na metafísicos.
qual se conjugam ciência e) reflexão filosófica, êxtase religioso, sociedade regulada por
e política: a ação política deve assumir o aspecto de uma ação científica e a
leis semelhantes às da natureza e neutralidade científica.
política deve ser estudada de maneira científica (a física social). Desde
que a Revolução francesa favoreceu a integração do povo na vida social,
o positivismo obstina-se no programa de uma comunidade pacífica. E o
Estado, instituição do “reino absoluto da lei”, é a garantia da ordem que
impede o retorno potencial das revoluções e engendra o progresso.
(C. Ruby. Introdução à filosofia política. São
Paulo: Unesp, 1998. Adaptado.)
A característica do Estado positivo que lhe permite garantir Ⓢ (IFRR, com modificações) – O fato novo que orientava a
não só a ordem, como também o desejado progresso das reflexão de um conjunto de intelectuais, entre eles Comte, no
nações, é ser início do século XIX, era a indústria. Os observadores da época
a) espaço coletivo, onde as carências e desejos da população percebiam que algo de original estava acontecendo em relação
se realizam por meio das leis. ao passado.
b) produto científico da física social, transcendendo e Podemos afirmar que, para Comte:
transformando as exigências da realidade. a) a oposição entre empresários e operários era secundária,
c) elemento unificador, organizando e reprimindo, se pois era reflexo da má organização da sociedade industrial
necessário, as ações dos membros da comunidade e poderia ser corrigida por meio da liberdade religiosa e de
d) programa necessário, tal como a Revolução Francesa, expressão.
devendo portanto se manter aberto a novas insurreições. b) Os economistas liberais eram metafísicos, já que se
e) agente repressor, tendo um papel importante a cada esforçavam para considerar os fenômenos de economia
revolução, por impor pelo menos um curto período de política separados da materialidade do setor social.
ordem. c) a oposição entre empresários e operários seria central e
conduziria a crises cíclicas, cuja saída seria a constituição
de uma sociedade plenamente positiva e socialista, cuja
base seria a aplicação da ciência no processo de
organização do trabalho.
d) existe um desejo de construir uma sociedade justa,
igualitária e fraterna, no marco da Revolução Francesa, ao
entender que os problemas sociais que abalavam as
Ⓢ (UERR, com modificações) – Os séculos XVIII e XIX foram estruturas da época poderiam ser solucionados por meio da
palco de crises e desordens na organização da sociedade, insurreição popular e da instauração de um governo
advindas das transformações trazidas pela industrialização da socialista.
produção econômica e no aparecimento do e) a produção industrial, que levou à concentração de massas
trabalho assalariado. A necessidade de buscar soluções a esse de trabalhadores nas cidades, seria o cerne de um tipo de
clima de mudanças na ordem social fez surgir o sociedade cuja ciência deveria ser positiva, levando em
positivismo, movimento que influenciou as primeiras formas consideração a dinâmica organizadora e a incapacidade de
de pensamento social no Brasil. as crenças religiosas darem conta de explicar a natureza.
As principais características do positivismo são:
a) objetividade científica nortada pela experiência e pela
indução, e sociedade regulada por leis semelhantes às da
natureza.
b) progressismo, evolucionismo e relativismo cultural.
c) organicismo, materialismo e aplicação de métodos
metafísicos e filosóficos.
➍ (FGV, com modificações) – Leia atentamente o texto decorrência das crescentes demandas de substâncias
abaixo e depois assinale a alternativa correta: estimulantes por parte das sociedades que experimentavam
a intensificação do ritmo de vida e da cadência do trabalho.
As bases de inspiração dessas novas elites eram as
correntes cientificistas, o darwinismo social do inglês (N. Sevcenko. “Introdução”. In: História da vida privada no Brasil.
Spencer [...] e o positivismo francês de Auguste São Paulo: Cia. das Letras, 1998, p. 14.)
Comte. Sua principal base de apoio econômico e
político procedia da recente riqueza gerada pela a) A difusão das teorias cientificistas e evolucionistas ao longo do
expansão da cultura cafeeira no Sudeste do país, em século XIX forneceram argumentos para a crítica das práticas
neocolonialistas, favorecendo o processo de
descolonização.
b) A influência das teorias cientificistas no Brasil é
exemplificada, principalmente, pela formação de uma elite
que buscou excluir da sociedade todos os membros de ➎ A eugenia, tal como originalmente conce- bida, era
organizações religiosas. a aplicação de “boas práticas de melhoramento”
c) Apesar de o consumo do café estar adequado à aceleração ao aprimoramento da
do ritmo social no século XIX, a industrialização brasileira espécie humana. Francis Galton foi o primeiro a sugerir com destaque o
acabou por expulsar, nesse período, o comércio de valor da reprodução humana controlada, considerando-a produtora do
produtos naturais. aperfeiçoamento da espécie.
d) A incorporação do positivismo pelos militares brasileiros foi (M. Rose. O espectro de Darwin. Rio
impedida pelas definições de Comte sobre o tipo militar de Janeiro: Ziai, 2000. Adaptado.)
como característico do regime teológico, marcado pelo
domínio da força, da guerra e do comando irracional, ao Um resultado da aplicação dessa teoria, disseminada a partir da
contrário do tipo industrial que se manifestava na segunda metade do século XIX, foi o(a)
cooperação, na livre produção e na aceitação racional. a) aprovação de medidas de inclusão social.
e) A adoção do ideário cientificista favoreceu a separação da b) adoção de crianças com diferentes características físicas.
Igreja e do Estado, bem como repercutiu no projeto de c) estabelecimento de legislação que combatia as divisões
modernização conservadora das elites brasileiras no sociais.
período republicano. d) prisão e esterilização de pessoas com características
consideradas inferiores.
e) desenvolvimento de próteses que possibilitavam a
reabilitação de pessoas deficientes.
Referências
Textuais
COMTE, A. Curso de filosofia positiva. São Paulo: Abril Cultural, 1978. Coleção Os Pensadores.
FONSECA, R. M. O positivismo,“historiografia positivista” e história do direito. Argumenta Journal Law, Jacarezinho, v. 10, n. 10, p.
143-166, 2009.
FAUSTINO, R. C.; GASPARIN, J. L. A influência do positivismo e do historicismo na educação e no ensino de história. Acta
Scientiarum. Human and Social Sciences, Maringá, v. 23, p. 157-166, 2001.
GIANNOTTI, J. A. Auguste Comte: vida e obra. In COMTE, A. Curso de filosofia positiva. São Paulo: Abril Cultural, 1978. Coleção Os
Pensadores.
HEILBRONER, R. A história do pensamento econômico. São Paulo: Abril Cultural, 1996. Coleção Os Economistas.
LOBATO, M. Contos completos. São Paulo: Biblioteca Azul, 2014.
ROSSI, P. Naufrágios sem espectador: a ideia de progresso. São Paulo: Editora UNESP, 2000.
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no contexto da França do final do século XIX. Ao final,
propomos alguns exercícios sobre o tema.
1. O contexto histórico
Na França do final do século XIX e início do XX, a
sociedade burguesa discutia o divórcio, o ensino
religioso, a educação cívica e várias outras questões,
relacionadas aos problemas causados pela
industrialização, pela urbanização, pelo desenvolvimento
tecnológico e pelo aumento populacional.
As sucessivas crises econômicas e políticas
combinavam-se com a euforia com as invenções e o
avanço da ciência, que modificavam o modo de vida da
sociedade moderna. A admiração pelos aviões e
submarinos, pelas vacinas e pelas inovações
tecnológicas somava-se ao medo das revoltas
populares, da miséria e da violência.
Paris realizara a Exposição Universal de 1900, um
evento que trouxera para a França o que havia de
mais moderno no mundo e que anunciara novos
tempos de progresso e desenvolvimento científico.
Móveis e utensílios feitos à mão foram substituídos
por produtos fabricados em massa. O conhecimento
científico era disseminado por meio da ação de uma Figura 1. Ao final do século XIX e início do XX, a art nouveau
invadiu as artes e a arquitetura, mesclando elementos geométricos
progressiva indústria gráfica que colocara em circulação com padrões florais.
livros baratos e acessíveis. O cinema enchia os olhos
dos espectadores com imagens em movimento. Nas
grandes cidades, a população urbana e abastada
divertia-se em cabarés, imersos em um clima que 2. Durkheim e
festejava a paz enfim conquistada após intensos e as bases da Sociologia
sangrentos conflitos por toda a Europa: a Belle
Époque e a art nouveau representavam a cultura urbana
David Émile Durkheim (1858-1917), nascido no seio
da diversão e da apologia da beleza.
de uma família judaica, bacharelou-se em Filosofia e,
logo em seguida, interessou-se pelo estudo da
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vem moldando a vida em sociedade.
Para compreender esses fenômenos, Durkheim Figura 3. Cada sociedade constrói um sistema educacional que se encarrega de
transmitir as características e os valores tidos como adequados.
desenvolveu os conceitos de coerção, solidariedade,
autoridade e representações coletivas. Para ele, a
Para Durkheim, na educação não era uma questão
educação era responsável pela transmissão de normas,
individual; na medida em que ela era responsável pela
culturas e valores, impondo, de forma coercitiva, os
formação do cidadão, e de acordo com as necessidades
costumes e valores vigentes na sociedade. Como a
do espaço público, ela se transformava em um fato
social. O professor, por meio da autoridade, transmitia verdade, porém, há em toda sociedade
aos alunos os valores e as crenças aceitos pelo grupo um grupo determinado de fenômenos
social; apenas posteriormente os alunos poderiam com caracteres nítidos, que se distingue
exercer autonomia, escolhendo ou declinando de daqueles estudados pelas outras ciências
da natureza.
normas aprendidas no ambiente escolar.
[...]
Esse talvez seja um dos motivos de crítica às ideias Esses tipos de conduta ou de
de Durkheim: conservador, ele não percebeu o quanto a pensamento não são apenas exteriores
educação poderia ser também um instrumento de ao indivíduo, são também dotados de um
transformação da sociedade. Ainda, ele não incluiu a poder imperativo e coercitivo, em virtude
questão de classes sociais em sua análise. do qual se lhe impõem, quer queira, quer
A seguir, apresentamos alguns trechos da obra de não. Não há dúvida de que esta coerção
não se faz sentir, ou é muito pouco
Émile Durkheim, As Regras do Método Sociológico. Nesta
sentida quando com ela me conformo de
obra, Durkheim buscou apresentar o conceito de fatos bom grado, pois então torna-se inútil.
sociais, diferenciando-os de outros objetos de Mas não deixa de constituir caráter
investigação científica. intrínseco de tais fatos, e a prova é que
[...]
Antes de indagar qual o método que convém ao
estudo dos fatos sociais, é necessário saber que
fatos podem ser assim chamados. A questão é
tanto mais necessária quanto esta qualificação é
utilizada sem muita precisão. Empregam-na
correntemente para designar quase todos os
fenômenos que se passam no interior da
sociedade, por pouco que apresentem, além de
certa generalidade, algum interesse social.
Todavia, desse ponto de vista, não haveria por
assim dizer nenhum acontecimento humano que
não pudesse ser chamado de social. Cada se afirma desde que tento resistir. Se
indivíduo bebe, dorme, come, raciocina e a experimento violar as leis do direito,
sociedade tem todo o interesse em que estas estas reagem contra mim de maneira a
funções se exerçam de modo regular. Porém, se impedir meu ato se ainda é tempo; com
todos esses fatos fossem sociais, a Sociologia o fim de anulá-Io e restabelecê-Io em sua
não teria objeto próprio e seu domínio se forma normal se já se realizou e é
confundiria com o da Biologia e da Psicologia. Na reparável; ou então para que eu o expie
se não há outra possibilidade de reparação. Mas, coerção é menos violenta; mas não deixa de
e em se tratando de máximas puramente existir. Se não me submeto às convenções
morais? Nesse caso, a consciência pública, pela mundanas; se, ao me vestir, não levo em
vigilância que exerce sobre a conduta dos consideração os usos seguidos em meu país e na
cidadãos e pelas penas especiais que têm a seu minha classe, o riso que provoco, o afastamento
dispor, reprime todo ato que a ofende. Noutros em que os outros me conservam, produzem,
casos, a embora de maneira mais atenuada, os mesmos
efeitos que uma pena propriamente dita. Noutros
setores, embora a coerção seja apenas indireta,
não é menos eficaz. Não estou obrigado a falar o
mesmo idioma que meus compatriotas, nem a
empregar as moedas legais; mas é impossível
agir de outra maneira. Minha tentativa
fracassaria lamentavelmente, se procurasse
escapar desta necessidade. Se sou industrial,
nada me proíbe de trabalhar utilizando processos
e técnicas do século passado; mas, se o fizer,
terei a ruína como resultado inevitável. Mesmo
quando posso realmente me libertar destas
regras e violá-Ias com sucesso, vejo-me sempre
obrigado a lutar contra elas. E quando são
finalmente vencidas, fazem sentir seu poderio de
maneira suficientemente coercitiva pela
resistência que me opuseram. Nenhum inovador,
por mais feliz, deixou de ver seus
empreendimentos se chocarem contra oposições
deste gênero. Estamos, pois, diante de uma
ordem de fatos que apresenta caracteres muito
especiais: consistem em maneiras de agir, de
pensar e de sentir exteriores ao indivíduo,
dotadas de um poder de coerção em virtude do
qual se lhe impõem. Por conseguinte, não
poderiam se confundir com os fenômenos
orgânicos, pois consistem em representações e
em ações; nem com os fenômenos psíquicos,
que não existem senão na consciência individual
e por meio dela. Constituem, pois, uma espécie
nova e é a eles que deve ser dada e reservada a
qualificação de sociais. Esta é a qualificação que
lhes convém; pois é claro que, não tendo por
substrato o indivíduo, não podem possuir outro
que não seja a sociedade: ou a sociedade política
em sua integridade, ou qualquer um dos grupos
parciais que ela encerra, tais como confissões
religiosas, escolas políticas e literárias,
corporações profissionais, etc. Por outro lado, é
apenas a eles que a apelação convém; pois a
palavra social não tem sentido definido senão
sob a condição de designar unicamente
fenômenos que não se englobam em nenhuma
das categorias de fatos já existentes, constituídas
e nomeadas. Estes fatos são, pois, o domínio
próprio da Sociologia. É verdade que o termo
coerção, por meio do qual o definimos, corre o
risco de amedrontar os zelosos partidários de um
individualismo absoluto. Como professam que o
indivíduo é inteiramente autônomo, parece-Ihes
que o diminuímos todas as vezes que fazemos
sentir que não depende apenas de si próprio.
Porém, já que hoje se considera incontestável
que a maioria de nossas ideias e tendências não
são elaboradas por nós, mas nos vêm de fora, con-
clui-se que não podem penetrar em nós senão mesmo sentido, cavou para si própria, etc. Sem
através de uma imposição; eis todo o significado dúvida, se os fenômenos de ordem morfológica
de nossa definição. Sabe-se, além disso, que
toda coerção social não é necessariamente
exclusiva com relação à personalidade individual.
[...]
Esta definição do fato social pode, além do mais,
ser confirmada por meio de uma experiência
característica: basta, para tal, que se observe a
maneira pela qual são educadas as crianças. Toda
a educação consiste num esforço contínuo para
impor às crianças maneiras de ver, de sentir e de
agir às quais elas não chegariam
espontaneamente, observação que salta aos
olhos todas as vezes que os fatos são encarados
tais quais são e tais quais sempre foram. Desde
os primeiros anos de vida, são as crianças
forçadas a comer, beber, dormir em horas
regulares; são constrangidas a terem hábitos
higiênicos, a serem calmas e obedientes; mais
tarde, obrigamo-Ias a aprender a pensar nos
demais, a respeitar usos e conveniências,
forçamo-Ias ao trabalho etc. Se, com o tempo,
esta coerção deixa de ser sentida, é porque
pouco a pouco dá lugar a hábitos, a tendências
internas que a tornam inútil, mas que não a
substituem senão porque dela derivam. É
verdade que, segundo Spencer, uma educação
racional deveria reprovar tais procedimentos e
deixar a criança agir em plena liberdade; mas
como esta teoria pedagógica não foi nunca
praticada por nenhum povo conhecido, não
constitui senão um desiderato pessoal, não
sendo fato que possa ser oposto àqueles que
expusemos atrás. Ora, estes últimos se tornam
particularmente instrutivos quando lembramos
que a educação tem justamente por objeto
formar o ser social; pode-se então perceber,
como que num resumo, de que maneira este ser
se constitui através da história. A pressão de
todos os instantes que sofre a criança é a
própria pressão do meio social tendendo a
moldá-Ia à sua imagem, pressão de que tanto os
pais quanto os mestres não são senão
representantes e intermediários.
[...]
A estrutura política de uma sociedade não é mais
do que o modo pelo qual os diferentes
segmentos que a compõem tomaram o hábito de
viver uns com os outros. Se suas relações são
tradicionalmente estreitas, os segmentos
tendem a se confundir; no caso contrário,
tendem a se distinguir. O tipo de habitação a nós
imposto não é senão a maneira pela qual todo o
mundo, em nosso redor – e em parte as
gerações anteriores –, se acostumaram a
construir as casas. As vias de comunicação não
passam de leitos que a corrente regular das
trocas e das migrações, caminhando sempre no
fossem os únicos a apresentar esta fixidez, (DURKHEIM, 1972, p. 1-11).
poder-se-ia acreditar que constituem uma
espécie à parte. Mas as regras jurídicas Vejamos um exemplo prático da aplicação das ideias
constituem arranjos não menos permanentes de Durkheim. Você certamente já ouviu falar em tribos
do que os tipos de arquitetura e, no entanto,
urbanas. Pois bem: as tribos urbanas são grupos de
são fatos fisiológicos. A simples máxima moral
pessoas que apresentam hábitos e interesses comuns.
é seguramente mais maleável; porém,
apresenta formas muito mais rígidas do que os
Temos tribos urbanas que deixaram de existir (por
meros costumes profissionais ou do que a exemplo, os hippies das décadas de 1960 e 1970) e
moda. Existe toda uma gama de nuanças que, temos tribos urbanas que surgiram em função de novos
sem solução de continuidade, liga os fatos de contextos culturais e econômicos.
estrutura mais característicos a estas livres Uma das tribos urbanas mais conhecidas é a dos
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correntes da vida social que não estão ainda nerds. Os nerds são pessoas tímidas, extremamente
presas a nenhum molde definido. O que quer interessadas em atividades intelectuais, apaixonadas por
dizer que não existem entre eles senão ficção científica e games. Este grupo tem atitudes e
diferenças no grau de consolidação que
crenças próprias, características estas que o diferenciam
apresentam. Uns e outros não passam de vida
dos demais grupos. Porém, ao mesmo tempo em que
mais ou menos cristalizada. Pode, sem dúvida,
ser mais interessante reservar o nome de
cria essas normas, o grupo impõe essas normas às
morfológicos para os fatos sociais concernentes pessoas que desejam dele participar. Em outras
ao substrato social, mas sob a condição de não palavras, caso você queira se juntar a um grupo de
perder de vista que são da mesma natureza nerds, deverá comportar-se de uma forma bastante
que os outros. Nossa definição compreenderá, específica, de acordo com o que é esperado de alguém
pois, todo o definido, se dissermos: É fato que faça parte de grupo. Como explica Durkheim, há
social toda maneira de agir, fixa ou não, condutas que exercem um poder coercitivo sobre os
suscetível de exercer sobre o indivíduo uma membros de um grupo, ou sobre membros que desejam
coerção exterior; ou, ainda, que é geral ao
fazer parte de determinados grupos. Estas condutas não
conjunto de uma sociedade dada e, ao mesmo
são de natureza orgânica, tampouco psíquica: são
tempo, possui existência própria, independente
condutas sociais.
das manifestações individuais que possa ter
Estaríamos hoje expostos a sofrimentos que os
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? Saiba Figura 5. Para Durkheim, é mais favorável ao ser humano uma existência
modesta. O prazer é algo efêmero, enquanto a felicidade é duradoura
mais (HERCULANO, 2006).
Um filme extremamente interessante sobre o poder
coercitivo do grupo é A ONDA (direção de Dennis Gansel.
Alemanha: Christian Becker, Nina Maag e Anita
Schneider, 2008, 107 minutos). Responsável por ensinar
aos alunos a natureza de aparelhos estatais autocráticos
um professor adota a estratégia de permitir que os alunos,
por meio da coerção, submetam os colegas a práticas
autoritárias e violentas.
Para Durkheim, a divisão do trabalho ocorre à
medida que cresce a complexidade da sociedade e os
desafios da sobrevivência. Na verdade, ao invés de se
configurar como causadora de hostilidades e
Voltemos aos fatos sociais: para Durkheim, a
divergências entre os homens, a divisão de trabalho
sociedade poderia ser investigada a partir dos hábitos
protegeria o indivíduo de lutas e conflitos
coletivos estabelecidos, materializados sob a forma de
desnecessários. Em outras palavras, a divisão do
códigos, estatísticas, monumentos históricos e tradições
trabalho representaria um
culinárias, bem como quaisquer outros comportamentos
determinados pela sociedade e por ela impostos. “desfecho brando”, pois substitui a eliminação
A partir deste ponto de vista, Durkheim investiga a mútua pela convivência. A divisão do trabalho,
questão da divisão do trabalho. Tida como resultado do por isso, só é possível em uma sociedade já
desejo humano de aumentar a felicidade (resultante da constituída, pois ela precisa de laços morais
posse de bens materiais, do status social e da (HERCULANO, 2006, p. 27).
intensidade de prazer experimentada), Durkheim Afinal, “é preciso que haja um sentimento de
apresenta outra interpretação. Para ele, identidade, de união, de partilhamento de coisas em
comum, de fraternidade, para que exista cooperação”
ao contrário, a capacidade de felicidade humana
(HERCULANO, 2006, p. 27).
é restrita e tende a ser estável, assim como a
Com base nesta análise, Durkheim elabora o
saúde. Ambas – felicidade e saúde – dizem
respeito a um estado de equilíbrio geral e conceito de anomia social, fenômeno associado ao
constante: quem busca mais saúde adoece, esgarçamento do tecido social e à ausência de regras
assim como quem busca mais felicidade, que é para o convívio social. Nas sociedades modernas, a
definida por Durkheim como sendo a saúde da anomia ocorreria em função de a industrialização
vida psíquica e moral. [...] O ser “civilizado” não obrigar os homens ao trabalho repetitivo e monótono; a
seria mais feliz que o selvagem [...], uma vez falta de um ideal moral, portanto, reduziria o homem à
que a civilização trouxe também uniformidade e dimensão econômica, impedindo o seu aperfeiçoamento
impôs ao homem trabalhos monótonos e e debilitando a vida social.
contínuos.
Na verdade, sublinha Durkheim, é só na
sociedade organizada que podemos falar de
indivíduo e de liberdade individual, pois ambos
se desenvolvem
com a divisão do trabalho social. Enquanto as
Para Durkheim, há dois tipos de solidariedade:
sociedades inferiores, segmentares, têm seus
laços, sua solidariedade, assegurados pela comu-
nidade das crenças e dos sentimentos, as a) a mecânica, típica das sociedades mais
sociedades organizadas têm na interdependência, primitivas, ocorre quando os indivíduos estão
trazida pela divisão do trabalho, o seu vínculo conectados diretamente ao grupo por meio do
moral (HERCULANO, 2006, p. 33). compartilhamento de crenças e interesses.
Neste grupo, a divisão de trabalho é mais rara e
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➊ A sociologia ainda não ultrapassou a era das Ⓢ (ENADE-com modificações) – Émile Durkheim, consi-
construções e das sínteses filosóficas. Em vez de derado fundador das ciências sociais, desenvolveu
assumir a tarefa de lançar luz sobre interpretações e conceitos sobre o mundo social que
uma parcela restrita do campo social, ela prefere buscar as brilhantes permanecem como referências de análise até os tempos
generalidades em que todas as questões são levantadas sem que atuais. Nesse sentido, assinale a opção correta a respeito de
nenhuma seja expressamente tratada. Não é com exames sumários e por interpretações e conceitos elaborados pelo referido autor.
meio de intuições rápidas que se pode chegar a descobrir as leis de uma a) Émile Durkheim, ao analisar a determinação da sociedade
realidade tão complexa. Sobretudo, generalizações às vezes tão amplas sobre o indivíduo, formulou os conceitos de consciência
e tão apressadas não são suscetíveis de nenhum tipo de prova. coletiva e fato social.
(E. Durkheim. O suicídio: estudo de sociologia.
b) Émile Durkheim, ao desenvolver o conceito de fato social,
São Paulo: Martins Fontes, 2000.)
afirmou que os indivíduos exercem um poder coercitivo
sobre determinados grupos sociais.
O texto expressa o esforço de Émile Durkheim em construir c) Émile Durkheim sustentou que o indivíduo determina a
uma sociologia com base na sociedade, não sendo possível o processo inverso (a
a) vinculação com a filosofia como saber unificado. sociedade determinando o indivíduo).
b) reunião de percepções intuitivas para demonstração.
d) Émile Durkheim desenvolveu, em detalhes, a ideia de a
c) formulação de hipóteses subjetivas sobre a vida social. propaganda incentivar determinados hábitos de consumo.
d) adesão aos padrões de investigação típicos das ciências
e) Émile Durkheim desenvolveu a ideia de pessoas estarem
naturais. sempre sujeitas à coerção do grupo em função de
e) incorporação de um conhecimento alimentado pelo características biológicas e orgânicas.
engajamento político.
Ⓢ (IFRN-com modificações) – Um fato social reconhece-se pelo
poder de coerção externa que exerce ou é suscetível de exercer sobre
os indivíduos.
(E. Durkheim. As regras do método sociológico.
São Paulo: Martin Claret, 2001.)
Referências
Textuais
DURKHEIM, E. "O que é fato social?" In As regras do método sociológico. Trad. por Maria Isaura Pereira de Queiroz. 6. ed. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1972. p. 1-4, 5, 8-11.
HERCULANO, Selene. Em busca da boa sociedade. Niterói/RJ: Editora da Universidade Federal Fluminense (EDUFF), 2006.
PILETTI, N.; PRAXEDES, W. Sociologia da Educação. São Paulo: Ática, 2010.
RODRIGUES, J. A. Introdução: a Sociologia de Durkheim. In DURKHEIM, E. Sociologia. São Paulo: Ática, 1984.
TURA, M. L. R. Sociologia para educadores. 4. ed. Rio de Janeiro: Quartet, 2006.
Audiovisual
A Onda. Dir. Dennis Gansel. Alemanha: Christian Becker, Nina Maag e Anita Schneider, 2008. 107 minutos.
Max Weber e os estudos sobre religião,
4 autoridade e burocracia
Neste módulo, estudaremos as principais ideias de mesmo esquema lógico de prova, tanto nas
Max Weber (1864-1920), dentre as quais aquelas
relacionadas à sociologia da religião e aos fenômenos
da autoridade, da racionalização e da burocratização. Ao
final do módulo, vamos propor alguns exercícios sobre
esses temas.
1. Introdução
Max Weber, por pertencer a uma família alemã de
alta classe média, teve uma excelente educação
secundária e pôde desenvolver estudos superiores,
especialmente nas áreas de história, filosofia e
economia.
Depois de um colapso nervoso, abandonou o
exercício da docência na Universidade de Berlim e foi
trabalhar como editor de uma revista voltada aos
estudos sociológicos. Sua abordagem estava centrada
na extração do conteúdo simbólico das ações humanas,
ou seja, na captação da relação de sentido originada
nas interações sociais.
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II. Os princípios de hierarquia de cargos e de funda-se em documentos escritos (“arquivos”) que serão
diversos níveis de autoridade implicam um conservados de forma original ou como projetos. Existe,
sistema de subordinação ferreamente assim, um pessoal de subalternos e escribas de toda
organizado, onde os funcionários superiores classe. O conjunto dos funcionários “públicos” estáveis,
controlam os funcionários inferiores. Este bem como o correspondente aparato de instrumentos e
sistema permite que os governados possam arquivos, integram uma “repartição”; isto é o que na
apelar, mediante procedimentos preestabe- empresa privada chama-se “escritório”. A organização
lecidos, a decisão de uma repartição inferior moderna do serviço civil separa, em princípio, a
à sua autoridade superior. Um alto desen- repartição do domicílio privado do funcionário e,
volvimento do tipo burocrático leva a uma geralmente, a burocracia considera a atividade oficial como
organização monocrática da hierarquia de um âmbito independente da vida privada. Os fundos e
cargos. O princípio de autoridade hierárquica equipamentos públicos estão separados da propriedade
de cargos dá-se em qualquer estrutura privada do funcionário: este fator condicionante é, em
burocrática: nas estruturas estatais e eclesiás- todos os casos, o resultado de um longo processo.
ticas, nas grandes organizações partidárias e nas Atualmente, dá-se tanto nas empresas públicas quanto nas
empresas privadas. Carece de importância para privadas; nas privadas, o princípio atinge, inclusive, o
a índole da burocracia que a sua autoridade seja empresário principal. O escritório do executivo está, em
considerada “privada” ou “pública”. A plena princípio, separado do lar, e também o estão a
realização do princípio de “competência” correspondência de negócios da privada e o capital do
jurisdicional na subordinação hierárquica não negócio das fortunas particulares. Estas separações são tão
implica – pelo menos nos cargos públicos – que sólidas quanto mais arraigadas se encontra a prática do
a autoridade “superior” esteja simplesmente tipo de administração empresarial moderna.
autorizada a cuidar dos assuntos da “inferior”. O [...]
normal é, na realidade, o contrário. Uma vez
criado e depois de ter cumprido a sua missão,
um cargo tende a continuar existindo e a ser
desempenhado por outro titular.
III. A administração do cargo moderno
IV. Administrar um cargo, e
administrá-lo de forma especializada,
implica, geralmente, uma preparação
cabal e experta. Isto exige-se cada vez
mais do executivo moderno e do
empregado das empresas privadas,
bem como exige-se do funcionário
público.
V. Se o cargo está em pleno
desenvolvimento, a atividade do
funcionário requer toda a sua
capacidade de trabalho, além do
fato de que a sua jornada
obrigatória no escritório está
estritamente fixada. Normalmente,
isto é somente produto de uma
prolongada evolução, tanto nos
cargos públicos quanto nos privados.
Anteriormente, em todas as situações,
o normal era o contrário: as tarefas
burocráticas consideravam-se uma
atividade secundária.
VI. A administração do cargo ajusta-se
a normas gerais, mais ou menos
estáveis, mais ou menos precisas, e
que podem ser aprendidas. O
conhecimento destas normas é um
saber técnico particular que o
funcionário possui. Envolve a
jurisprudência, ou a administração
pública ou de empresas. A natureza
em si da administração moderna
de um cargo requer o ajuste a normas.
Por exemplo, a teoria da administração
pública moderna supõe que a
autoridade, para dispor certos
assuntos por decreto – legalmente
concedida às autoridades públicas –
não lhe dá à repartição direito algum
para regular a questão por meio de
ordens dadas para cada caso, mas
Ingimage / Fotoarena
somente para regulá-la de forma
geral (WEBER, 2012, p. 9-12).
Exercícios Propostos
Referências
Textuais
OLIVEIRA, Carla M. Método e Sociologia em Weber: alguns conceitos fundamentais. Revista Eletrônica Inter-Legere, Rio Grande do
Norte, n. 3, 2008. Disponível em: <https://repositorio.ufrn.br/jspui/handle/123456789/18501>. Acesso em: 20 dez. 2019.
TRAGTENBERG, Maurício. Apresentação. In WEBER, Max. Textos selecionados. São Paulo: Nova Cultural, 1997.
WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 4. ed. São Paulo: Pioneira, 1985.
. Textos selecionados. Traduções de Maurício Tragtenberg, Waltensir Dutra, Calógeras A. Pajuaba, M. Irene de Q. F.
Szmrecsányi, Tamás J. M. K. Szmrecsányi. São Paulo: Nova Cultural, 1997.
. O que é a Burocracia. Brasília: Conselho Federal de Administração, 2012.
Audiovisuais
ELIZABETH. Direção: Shekhar Kapur. Reino Unido, 1998, 124 minutos.
EU, Daniel Blake. Direção: Ken Loach. Reino Unido/França/Bélgica, 2017, 101 minutos.
LUTERO. Direção: Eric Till. Alemanha/Estados Unidos, 2003, 120 minutos.
Cultura
5
Neste módulo, estudaremos várias questões Entendemos neste caso que a cultura diz
relacionadas à cultura. Veremos as várias formas de respeito a uma esfera, a um domínio, da vida
conceituá-la, investigaremos seu caráter dinâmico e social (SANTOS, 1987, p. 21).
discutiremos algumas ideias enviesadas que costumam
impregnar os debates sobre a cultura. Ao final do Não faz o menor sentido hierarquizar culturas em
módulo, proporemos alguns exercícios. termos de qualquer escala evolutiva: não há culturas
melhores do que outras, não há culturas mais
1. Introdução avançadas que outras. Cada cultura deve ser julgada a
partir de seus próprios critérios, e não é legítimo
Segundo Santos (1987), a cultura é o conjunto de traçarmos uma linha que suponha o “avanço” de uma
modos a partir dos quais uma sociedade se organiza, ou cultura no tempo ou em função de localização geográfica
seja, a cultura reúne as formas que a sociedade escolhe da sociedade que a construiu.
para viver, habitar, vestir, trabalhar, comer e criar Claro está que esta é uma moderna contemporânea
filhos, entre outros aspectos. Evidentemente, essas de investigar a questão. No século XIX, até mesmo por
formas são construídas ao longo do tempo, e resultam conta das políticas imperialistas, tornou-se comum tratar
da história de cada sociedade e das maneiras como ela os nativos das colônias como selvagens. O europeu
enfrenta e se relaciona com as condições materiais de bran- co representava a cultura a ser apreendida pelos
sua existência. Assim, “o estudo da cultura contribui no nativos, e a inferioridade cultural destes era, inclusive,
combate a preconceitos, oferecendo uma plataforma uma das justificativas para a sua submissão às nações
firme para o respeito e a dignidade nas relações europeias.
humanas” (Santos, 1987, p. 8).
Não foi difícil perceber nessa concepção de
Há duas formas de definirmos cultura. A primeira
evolução por estágios uma visão europeia da
concebe a cultura como conjunto formado por todos
humanidade, uma visão que utilizava concepções
os aspectos referentes à realidade social, ou seja, europeias para construir a escala evolutiva, e
envolve múltiplos aspectos da vida social, tais como que além do mais servia aos propósitos de
tradições, ritos, vestimentas, hábitos nutricionais e legitimar o processo que se vivia de expansão e
manifestações culturais (música, artes, teatro). A consolidação do domínio dos principais países
segunda forma trata mais especificamente das ideias e capitalistas sobre os povos do mundo. As
crenças, do conhecimento de determinada sociedade. concepções de evolução linear foram atacadas
Cultura, nesse sentido, está associada ao arsenal de com a ideia de que cada cultura tem sua própria
saberes de uma comunidade. verdade e que a classificação dessas culturas em
escalas hierarquizadas era impossível, dada a
multiplicidade de critérios culturais (SANTOS,
A primeira dessas concepções preocupa-se
1987, p. 12).
com todos os aspectos de uma realidade
social. Assim, cultura diz respeito a tudo aquilo
que caracteriza a existência social de um povo
Marcos Amend / Pulsar Imagens
Observação:
O etnocentrismo diz respeito à visão da sua própria
etnia como superior às demais.
? Saiba mais
tty Images
Sugerimos que você assista ao filme Hannah Arendt – Ideias que
chocaram o mundo (2012), que narra a cobertura jornalística feita
pela filósofa Hannah Arent do julgamento do nazista Adolf
Eichmann. Arendt, sobrevivente da perseguição nazista, e já
àquele tempo filósofa de renome, foi convidada por uma revista
norte-americana para fazer a cobertura do julgamento de um
dos mais conhecidos colaboradores do nazismo. Eichmann havia
escapado dos julgamentos de Nurembert (série de julgamentos
realizados pelos países vitoriosos da Segunda Guerra Mundial,
que buscaram culpabilizar e punir os criminosos de guerra
nazistas); oficial de segundo escalão das SS (forças especiais do Figura 3. O nazismo foi a ideologia que orientou a ação da
regime nazista), ele atuou na organização e na execução do Alemanha ao tempo de Adolf Hitler. Fortemente
transporte dos judeus de toda a Europa para os campos de marcado pelo anticomunismo, pelo antissemitismo e pelo
autoritarismo, o regime nazista defendeu a guerra como
extermínio. Após o final da guerra, Eichmann escondeu-se na forma de expandir os territórios alemães e escravizar os
Argentina; em 1961, foi capturado por agentes secretos povos conquistados.
israelenses; julgado e condenado à morte em Israel, foi
enforcado em 1962.
normas, regras e leis.
Alexandre Tokitaka / Pulsar Imagens
Essas suposições não são endossadas pela um arco, arma de uso exclusivo dos homens. Até
comunidade científica. Não há qualquer associação muito pouco tempo, a carreira diplomática, o
quadro de funcionários do Banco do Brasil, entre
entre características genéticas e padrões culturais. Mais:
outros exemplos, eram atividades exclusivamente
a biologia sequer justifica determinados padrões de
masculinas. O exército de Israel demonstrou que a
comportamento em função do gênero biológico. Não há sua eficiência bélica continua intacta, mesmo depois
nada, biologicamente falando, que determine que uma da maciça admissão de mulheres soldados (LARAIA,
mulher deva cozinhar e passar roupa, enquanto o 1997, p. 19).
homem é responsável por trabalhar fora de casa e
prover a família. Homens e mulheres estão igualmente Da mesma forma, não há qualquer evidência científica de
aptos a dirigir helicóptero, jogar futebol ou trabalhar na que a geografia determine padrões de comporta- mento. Isso
área de Física Aplicada. não equivale a negar a influência de fatores geográficos na
construção de traços culturais. No entanto, uma coisa é
A espécie humana se diferencia anatômica e reconhecer a influência da geografia na formação cultural de
fisiologicamente através do dimorfismo sexual, uma comunidade; outra bem distinta é afirmar que a
mas é falso que as diferenças de comportamento geografia determina traços culturais, quer dizer, define total e
existentes entre pessoas de sexos diferentes completamente as características da cultura deste grupo de
sejam determinadas biologicamente. A indivíduos. Por exemplo, o fato de os pampas terem
antropologia tem demonstrado que muitas influenciado a cultura do povo gaúcho não permite que
atividades atribuídas às mulheres em uma afirmemos ser a cultura gaúcha o que é tão somente por
cultura podem ser atribuídas aos homens em conta da presença de pampas na região sul do Brasil. Outros
outra. A verificação de qualquer sistema de
fatores além dos geográficos colaboraram para o
divisão sexual do trabalho mostra que ele é
desenvolvimento desta cultura, tal como a influência de
determinado culturalmente e não em função
correntes migratórias da Europa para o sul brasileiro, ou a
de uma racionalidade biológica. O transporte
de água para a aldeia é uma atividade
proximidade com fronteiras internacionais (e, portanto, a
feminina no Xingu [...]. Carregar cerca de vinte existência de uma tradição militar de defesa do território).
litros de água sobre a cabeça implica, na
verdade, um esforço físico considerável, muito
maior do que o necessário para o manejo de
Caso uma criança nascida no Japão seja habitam o Norte do Parque, são excelentes
adotada por uma família brasileira, os hábitos, os caçadores e preferem justamente os mamíferos
costumes e as tradições que esta criança absorverá de grande porte, como a anta, o veado, o caititu
serão as da família adotiva; em outras palavras, o etc.
fato de ter nascido no Japão não determinará a Figura 5. Parque Indígena do Xingu. Segundo Laraia (1997, p. 24),
presença de características culturais tipicamente "não é possível admitir a ideia do determinismo geográfico, ou seja, a
admissão da 'ação mecânica das forças naturais sobre uma humanidade
japonesas no comportamento nesta criança. Da
puramente receptiva'".
mesma forma, se uma criança brasileira for
adotada por uma família tradicional japonesa, ela
absorverá os padrões culturais e comportamentais
da família adotiva, e não os do seu país de origem. 4. Alguns processos
Aliás, caso a geografia determinasse padrões
culturais, não haveria diversidade cultural num culturais: endoculturação,
mesmo espaço geográfico. Como exemplifica aculturação, hibridação e
Laraia (1997, p. 24), podemos encontrar tal
fenômeno no Parque Nacional do Xingu. apropriação cultural
Os xinguanos propriamente ditos Por ser um produto histórico, social e economi-
(Kamayurá, Kalapalo, Trumai, Waurá etc.) camente determinado, a cultura é construída por meio
desprezam toda a reserva de proteínas de um processo dinâmico: ela se transforma ao longo
existentes nos grandes mamíferos, cuja do tempo, assumindo novas características, adaptando
caça lhes é interditada por motivos ou abandonando outras. O reconhecimento do seu
culturais, e se dedicam mais intensamente caráter dinâmico, portanto, torna imprescindível que
à pesca e caça ele aves. Os Kayabi, que investi-
guemos os fenômenos culturais a partir do contexto do comportamento, crenças, hábitos e rituais; por meio do
qual emergem: a cultura não é um estoque imutável de convívio social, somos colocados em contato com a
Marcos Amend / Pulsar Imagens
hábitos, tradições e crenças, ela não está imobilizada no cultura da comunidade da qual fazemos parte e vamos,
tempo e no espaço. Ao contrário, ela é porosa e, no
contato com outras condições materiais ou outras
relações sociais, modifica-se.
A endoculturação (ou enculturação) é o processo
por meio do qual os homens aprendem e absorvem a
cultura do grupo ao qual pertencem. Nascemos no meio
de comunidades que desenvolveram padrões de
Temos também que considerar que culturas símbolo de alguma luta ou representa algo importante
distintas entram em contato e podem trocar para a cultura da qual foi extraído. Um exemplo clássico
informações ou entrar em conflito, construindo é o estilo dread de cabelo. Caracterizado por mechas
processos de aculturação ou hibridação. emaranhadas, o dread foi símbolo do movimento
Falamos de aculturação quando há o domínio de rastafari (movimento jamaicano das primeiras décadas
uma cultura sobre a outra. Como exemplo, podemos do século XX, que mesclou elementos do cristianismo,
citar a evangelização dos índios brasileiros durante a
do misticismo e da política de autoafirmação das
colonização; afinal, por meio da força e da opressão, os
comunidades negras) e também esteve presente em
colonizadores obrigaram os índios a desistir de sua
algumas manifestações religiosas na Etiópia, na Índia,
cultura, absorvendo valores e crenças europeias.
no Japão, no Senegal, na Nova Zelândia e em Angola.
A hibridação ocorre quando há troca de infor-
Tem sido associado ao movimento de empoderamento
mações entre duas culturas de maneira natural.
da etnia negra (fortalecimento da identidade negra) e
Como exemplo, podemos citar o sincretismo religioso
seu uso por pessoas brancas é considerado apropriação
brasileiro, que estabeleceu conexões entre os santos
cultural.
católicos e os ritos religiosos africanos.
Na sua opinião, a fantasia carnavalesca de índio é
Finalmente, falamos de apropriação cultural quando
uma apropriação cultural? Propomos essa reflexão e, em
uma cultura apropria-se (toma posse) de um elemento
seguida, sugerimos que você resolva os exercícios
de outra cultura. Em geral, a apropriação cultural é
apresentados a seguir.
criticada quando o elemento apropriado é um
Exercícios Propostos
Ⓢ É amplamente conhecida a grande diver- sidade ➍ Após a Declaração Universal dos Direitos
gastronômica da espécie humana. Humanos pela ONU, em 1948, a Unesco
Frequentemente, essa diversidade é utilizada para publicou estudos de cientistas de todo o
classificações depreciativas. Assim, no início do século, os americanos mundo que desqualificaram as doutrinas racistas e demonstraram a
denominavam os franceses de “comedores de rãs”. Os índios kaapor unidade do gênero humano. Desde então, a maioria dos próprios
discriminam os timbiras chamando-os pejorativamente de “comedores cientistas europeus passou a reconhecer o caráter discriminatório da
de cobra”. E a palavra potiguara pode significar realmente “comedores pretensa superiori- dade racial do homem branco e a condenar as
de camarão”. As pessoas não se chocam apenas porque as outras aberrações cometidas em seu nome.
comem coisas variadas, mas também pela maneira que agem à mesa. Como (SILVEIRA, R. Os selvagens e a massa: papel do racismo
utilizamos garfos, surpreendemo-nos com o uso dos palitos pelos científico na montagem da
japoneses e das mãos por certos segmentos de nossa sociedade. hegemonia ocidental. Afro-Ásia, n. 23, 1999. Adaptado.)
(LARAIA, R. Cultura: um conceito antropológico. c) comportamento hostil em zonas de conflito.
São Paulo: Jorge Zahar, 2001. d) constatação de agressividade no estado de natureza.
Adaptado.) e) transmutação de valores no contexto da modernidade.
Referências
Textuais
DAMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986. Coleção Primeiros Passos.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 11 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997 [1986].
SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
Audiovisuais
Hannah Arendt – Ideias que chocaram o Mundo. Dir. Margarethe von Trotta. França, Alemanha, Luxemburgo: Heimatfilm,
Bayerischer Rundfunk e Westdeutscher Rundfunk, 2012. 109 minutos.
Hotel Ruanda. Dir. Terry George, Reino Unido, Itália, África do Sul, Estados Unidos, 2004. 121 minutos.
Inimigo Meu. Dir. Wolfgang Petersen, Estados Unidos, 1985. 108 minutos.
O enigma de Kaspar Hauser. Dir. Werner Herzog. Alemanha Ocidental, 1974. 110 minutos.
A reflexão sociológica sobre
6 educação
Neste módulo, iremos estudar alguns aspectos científicos e preparar a mão de obra necessária nas
relacionados à educação e ao seu papel na transmissão indústrias e nos empreendimentos capitalistas.
dos valores de uma sociedade. A escola, junto com a Émile Durkheim (1858-1917), sociólogo francês,
família, é um dos ambientes mais importantes para a preocupou-se com o fato de a educação estar a serviço
socialização dos indivíduos, e tanto uma quanto a outra das necessidades das indústrias e da economia; em seu
relacionam-se entre si, moldando e fortalecendo os ponto de vista, era preciso não apenas treinar as
modos de vida adotados pelos grupos sociais. Ao final pessoas no espírito do capitalismo, como também
do módulo, trazemos alguns exercícios que poderão provê-las de uma educação moral capaz de propiciar
ajudar na reflexão sobre os temas aqui discutidos. uma formação ética que estimulasse o amor pela
coletividade, dentro dos parâmetros defendidos pelo
1. Um breve panorama Estado e pela nação.
histórico: Durkheim, Marx e Na opinião de Durkheim, a educação era essencial
para a sociedade industrial; no entanto, além da
Engels formação profissional, era fundamental que a sociedade
desenvol- vesse um mínimo de consenso social. Por
A educação é um dos temas mais importantes da
isso, o sociólogo consagrou-se como um incansável
Sociologia, já que por meio dela ocorrem os processos
defensor da escola pública e laica.
de socialização dos indivíduos e a transmissão dos
sistemas morais da sociedade. Em especial nas
sociedades modernas, é por meio da educação que os Observação:
grupos sociais preparam seus membros para dar A escola laica é aquela que não defende quaisquer
continuidade às suas tradições e aos seus modos de valores religiosos específicos. É uma escola que
vida; também cabe ao contexto educacional – e a suas pretende pautar-se pela ciência e pelos valores do
instituições – a reprodução dos valores associados às cotidiano, ao contrário das instituições religiosas, que
formas de produção e consumo adotados pela orientam e são orientadas por um repertório
sociedade. religioso, independentemente de qual seja ele.
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2. Althusser e a escola como
Aparelho Ideológico de
Estado (AIE)
A partir da metade do século XX, estava claro aos
sociólogos e educadores que a educação era
fundamental no processo de socialização e apreensão
das regras do grupo. No entanto, algumas perguntas
continuavam sem resposta: deveriam os educadores Figura 3. Os aparelhos repressivos fazem uso da força para manter suas
se preocupar com a exclusão social, com a prerrogativas e garantem as condições políticas necessárias para que os
ideológicos possam funcionar.
concentração de renda, com as reduzidas
oportunidades profissionais para segmentos imensos Podemos ser mais precisos, retificando essa
da sociedade? Deveriam os educadores educar para distinção. Com efeito, diremos que todo
superar as diferenças sociais? Afinal, quais eram as Aparelho de Estado, seja repressor ou
relações entre a educação e o entorno social e ideológico, “funciona”, simultaneamente, por
econômico, e quais as possibilidades transformadoras meio da violência e da ideologia, mas com
passíveis de serem realizadas por meio da educação? uma diferença muito importante (…) o
Aparelho (repressor) de Estado funciona, de
O filósofo e sociólogo francês Louis Althusser (1918-
maneira maciça e predominante, por meio da
1990), sob nítida influência do marxismo, desenvolveu a
repressão (inclusive, física), embora
ideia de que a escola era parte integrante do Aparelho funcionando, secun- dariamente, por meio da
Ideológico de Estado (AIE). A partir dessa perspectiva, a ideologia (…). Da mesma forma, mas
escola passava a ser reconhecida como instrumento de inversamente, deve-se dizer que, por sua
reprodução da ideologia do Estado capitalista, conta, os Aparelhos ideológicos de Estado
dificultando os movimentos sociais interessados em pôr funcionam, de maneira maciça e
fim à exclusão e à desigualdade social. predominantemente, por meio da ideologia,
embora funcionando secundaria- mente por
meio da repressão, nem que fosse no limite,
mas somente no limite, muito atenuada,
dissimulada, até mesmo simbólica
(ALTHUSSER, 1999, p. 266).
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De que maneira a escola funciona como aparelho criança criada em um ambiente familiar bilíngue, ou de
ideológico? Ela funciona através da reprodução da uma criança que pôde viajar com a família para
ordem vigente ou da ordem que se pretende vigente. A diferentes cidades e países, ou de uma criança que
escola reproduz a ideologia do grupo dominante e, ao pôde assistir a óperas e frequentar museus. Da
mesmo tempo, reforça essa ideologia. mesma forma, parece razoável considerar a situação
de desvantagem de crianças que moram em regiões
sem saneamento básico, sem acesso a serviços de
? Saiba saúde, ou de crianças que precisam trabalhar para
mais colaborar com a renda familiar. Assim, a distinção
Sugerimos que você assista ao filme A Onda (2008). A social do ambiente familiar das crianças manter-se-á
narrativa envolve a estratégia de um professor ao ser também na escola, ou seja, crianças com maior capital
perguntado por seus alunos se seria possível que uma cultural irão ter mais facilidades e oportunidades
ditadura violenta se estabelecesse na Alemanha moderna. comparativamente a outras crianças. Mais: o capital
Evidentemente, tal questionamento faz alusão ao regime cultural faz parte do que Bourdieu chamou de habitus.
nazista que, durante as décadas de 1930 e 1940, provocou
uma guerra mundial e executou uma política de genocídio A cada classe de posições corresponde uma
étnico. Ao orientar seus alunos na direção de posições classe de habitus (ou de gostos) produzidos
autoritárias e estimular a exclusão de opiniões divergentes, pelos condicionantes sociais associados à
o professor vai construindo, aos poucos, um cenário condição correspondente e, pela intermediação
bastante similar ao de governos ditatoriais. Dentre os desses habitus e de suas capacidades
vários elementos interessantes abordados pelo filme, vale a geradoras, um conjunto sistemático de bens e
pena atentar para os seguintes aspectos: o poder de de propriedades vinculadas entre si (…) Uma
convencimento da maioria e o papel da escola na formação das funções da noção de habitus é a de dar
de padrões conta da unidade de estilo que vincula as
de comportamento. práticas e os bens de um agente singular ou
de uma classe de agentes (…) Os habitus são
princípios geradores de práticas distintas e
distintivas – o que o operário come, e
sobretudo sua maneira de comer, o esporte que
3. Bourdieu: capital cultural e pratica e sua maneira de praticá-lo, suas
habitus opiniões políticas e sua maneira de expres- sá-
las diferem sistematicamente do consumo ou
O sociólogo e filósofo Pierre Félix Bourdieu (1930- das atividades correspondentes do empre-
2002) desenvolveu a ideia de que a escola seria uma sário industrial; mas são esquemas classifica-
das instituições responsáveis pela reprodução do status tórios, princípios de visão e de divisão e gostos
quo, portanto, da estrutura desigual da sociedade. Sob diferentes. (BOURDIEU, 1996, pp. 21-22).
influência de Durkheim, Bourdieu concluiu que a escola
e a família, ambientes primários do processo de O habitus seria o conjunto de preferências, saberes
socialização, reproduziam os valores associados a uma e práticas condicionados socialmente por meio da
sociedade dividida em classes sociais e organizada em ação familiar e que, interiorizado, acompanharia o
termos das necessidades do sistema capitalista. Era da indivíduo até a escola ou ao ambiente profissional.
natureza da escola evitar qualquer mudança que Assim, caso a escola não tivesse em mente as
alterasse a ordem social estabelecida; por sua vez, este limitações e as condições proporcionadas pelo habitus
caráter reprodutor estendia-se também à família, já que de origem dos alunos, acabaria por reforçar as
a ação familiar seria responsável pela formação do diferenças sociais dadas em momento anterior ao início
repertório cultural de cada indivíduo. da vida escolar. Em outras palavras, alunos com grande
Para Bourdieu, tudo o que a criança aprende em capital cultural ou que viviam em ambientes mais
casa forma algo chamado capital cultural que pode se favorecidos social e culturalmente continuariam a ter
transformar em vantagem no ambiente escolar. vantagens em relação a outros alunos, legitimando e
Vejamos um exemplo: parece razoável supormos a reproduzindo a desigualdade social.
vantagem em termos de capital cultural de uma
seja ela dedicada a manter o status quo social ou a provocar
transformações deste mesmo ambiente.
De forma quase análoga, o ambiente escolar
equipara-se ao ambiente militar, onde a disciplina, a
ordem e o treinamento são colocados a serviço da
adequação do comportamento do indivíduo ao que é
esperado e desejado. A escola, portanto, colabora para
condicionar e ajustar o comportamento das pessoas,
fazendo uso da organização hierárquica, do controle das
relações sociais e da divisão do trabalho (MANNHEIM,
1977).
Figura 4: Para Bourdieu (1996, p. 53 apud PILETTI e PRAXEDES,
2010, p. 84-85),“as diferenças entre as classes são ignoradas pelo
processo escolar, possibilitando aos que chegam à escola com os saberes e 5. Foucault: vigiar e punir
competências mais valorizados a chance de serem mais bem-sucedidos nas
atividades do cotidiano escolar e nos exames, obtendo diplomas mais As questões relativas à vigilância e à punição são
respeitados socialmente”. A escola, então, coloca-se a serviço da legitimação
das desigualdades sociais e culturais existentes na sociedade. elementos essenciais na obra do filósofo e sociólogo
francês Michel Foucault (1926-1984). O que o
preocupou foram, em essência, a falta de limite das
? Saiba estruturas de poder e o excessivo controle sobre os
indivíduos. Do ponto de vista da educação, duas
mais perguntas emergem dessa abordagem teórica: como a
Sugerimos que você assista ao filme O Preço do Desafio classe dominante exerce o poder? Como o ambiente
(1988). Um professor de origem mexicana convence os escolar se relaciona com as estruturas de poder e qual é
alunos de uma escola pobre de Los Angeles a prestarem o seu papel no controle social?
um exame de matemática bastante complexo e que, por Foucault estabeleceu uma profunda relação entre a
isso mesmo, só costuma ser realizado por alunos de escolas
escola e o presídio. Em Vigiar e Punir, obra em que
privilegiadas do ponto de vista social. É interessante
explicita essas preocupações, o sociólogo explica o
observar que, em alguns casos, a família do aluno é o
funcionamento da disciplina no ambiente escolar, bem
maior obstáculo a ser enfrentado pelo professor.
como seu papel no adestramento e na vigilância.
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4. Mannheim e a planificação
democrática
O sociólogo húngaro Karl Mannheim (1893-1947) foi
outro pensador que reconheceu a importância da
educação para a construção de uma sociedade viável e
democrática. Para ele, a educação, enquanto técnica
social, prestar-se-ia a colaborar para a manutenção e o
controle de uma sociedade pautada por critérios Figura 5. Os regimentos escolares colaboram para a eficácia dos instrumentos
racionais. As técnicas sociais seriam instrumentos de controle que buscam conter a insubordinação, a independência, o corpo e a
sexualidade. O silêncio é imposto para que a comunicação entre os alunos
fundamentais para evitar a desordem e o caos no
não afronte a autoridade do professor. As punições servem para o
ambiente social, sendo a educação uma das mais adestramento, desestimulando atitudes de confronto ou rebeldia.
estratégicas: por meio dela, seria possível fortalecer e
reproduzir práticas democrá- ticas, eliminando as Cabe ao ambiente escolar vigiar e punir, padro-
imperfeições e colaborando para o fortalecimento de nizando as condutas sociais, preparando-as para a vida
uma sociedade pautada por valores democráticos. em sociedade.
Para Mannheim, a técnica social é um conjunto de A escola torna-se uma espécie de aparelho de
práticas que têm como objetivo influenciar o compor- exame ininterrupto que acompanha em todo o
tamento humano, de forma a enquadrá-lo nos padrões seu cumprimento a operação de ensino,
desejáveis de interação social. Nesse sentido, a submetendo os indivíduos à disciplina exigida
educação escolar pode ser compreendida como uma pelos examinadores que detêm o controle sobre
a situação do exame. (PILETTI; PRAXEDES,
técnica social,
2010, p. 92).
É sobre esse ambiente que Foucault reflete em lições avançando para o meio da sala... Cada um
Vigiar e Punir. dos alunos terá seu lugar marcado e nenhum o
Pouco a pouco – mas principalmente depois de deixará nem trocará sem a ordem e o
1762 – o espaço escolar se desdobra; a classe consentimento do inspetor das escolas. [Será
torna-se homogênea, ela agora só se compõe de preciso fazer com que] aqueles cujos pais são
elementos individuais que vêm se colocar uns ao negligentes e têm piolhos fiquem separados dos
lado dos outros sob os olhares do mestre. A que são limpos e não os têm; que um escolar
ordenação por fileiras, no século XVIII, começa a leviano e distraído seja colocado entre dois bem
definir a grande forma de repartição dos comportados e ajuizados, que o libertino ou fique
indivíduos na ordem escolar: filas de alunos na sozinho ou entre dois piedosos.(18) As
sala, nos corredores, nos pátios; colocação disciplinas, organizando as "celas", os "lugares" e
atribuída a cada um em relação a cada tarefa e as "fileiras" criam espaços complexos: ao mesmo
cada prova; colocação que ele obtém de semana tempo arquiteturais, funcionais e hierárquicos.
em semana, de mês em mês, de ano em ano; São espaços que realizam a fixação e permitem a
alinhamento das classes de idade umas depois circulação; recortam segmentos individuais e
das outras; sucessão dos assuntos ensinados, estabelecem ligações operatórias; marcam
das questões tratadas segundo uma ordem de lugares e indicam valores; garantem a obediência
dificuldade crescente. E nesse conjunto de dos indivíduos, mas também uma melhor
alinhamentos obrigatórios, cada aluno, segundo economia do tempo e dos gestos. São espaços
sua idade, seus desempenhos, seu compor- mistos: reais pois que regem a disposição de
tamento, ocupa ora uma fila, ora outra; ele se edifícios, de salas, de móveis, mas ideais, pois
desloca o tempo todo numa série de casas; projetam-se sobre essa organização
umas ideais, que marcam uma hierarquia do caracterizações, estimativas, hierarquias
saber ou das capacidades, outras devendo (FOUCAULT, 1987, s/p).
traduzir materialmente no espaço da classe ou
do colégio essa repartição de valores ou dos
méritos. Movimento perpétuo onde os indivíduos 6. A educação e sua pesquisa
substituem uns aos outros, num espaço
escondido por intervalos alinhados. A
no Brasil
organização de um espaço serial foi uma das
grandes modificações técnicas do ensino Afinal, que tipo de educação deve existir? Quais
elementar. Permitiu ultrapassar o sistema conhecimentos devem ser garantidos a todos os
tradicional (um aluno que trabalha alguns cidadãos? São necessários projetos educacionais
minutos com o professor, enquanto fica ocioso e diferentes para as populações urbanas e para as
sem vigilância o grupo confuso dos que estão populações rurais? É importante conceber escolas
esperando). Determinando lugares individuais distintas de acordo com as potencialidades econômicas
tornou possível o controle de cada um e o
das cidades? Alfabetizar um adulto requer os mesmos
trabalho simultâneo de todos. Organizou uma
métodos utilizados para alfabetizar crianças? O que deve
nova economia do tempo de aprendizagem. Fez
ser levado em consideração quando a educação for
funcionar o espaço escolar como uma máquina
de ensinar, mas também de vigiar, de pensada como etapa fundamental do
hierarquizar, de recompensar. J.-B. de La Salle desenvolvimento de cada indivíduo? É função da
imaginava uma classe onde a distribuição educação combater as desigualdades sociais?
espacial pudesse realizar ao mesmo tempo toda Este cenário justifica a existência de inúmeros
uma série de distinções: segundo o nível de estudos sobre o papel da escolarização na construção
avanço dos alunos, segundo o valor de cada um, das identidades e sobre as novas formas de
segundo seu temperamento melhor ou pior, socialização. Ainda, paulatinamente, os estudos a
segundo sua maior ou menor aplicação, segundo respeito dos usos de novas tecnologias no processo
sua limpeza, e segundo a fortuna dos pais.
educativo têm oferecido oportunidades para novas
Então, a sala de aula formaria um grande quadro
vertentes de investigação e pesquisa.
único, com entradas múltiplas, sob o olhar
cuidadosa- mente "classificador" do professor: Podemos considerar a ocorrência de duas perspec-
Haverá em todas as salas de aula lugares tivas distintas na Sociologia da Educação, em especial
determinados para todos os escolares de todas no caso brasileiro. Uma delas, mais vinculada aos
as classes, de maneira que todos os da mesma modelos teóricos marxistas, entende que a educação se
classe sejam colocados num mesmo lugar e coloca a serviço da reprodução das desigualdades do
sempre fixo. Os escolares das lições mais modelo capitalista. Outra corrente, chamada de
adiantadas serão colocados nos bancos mais funcionalista, tem como objetos de interesse os
próximos da parede e em seguida os outros processos sociais produzidos no ambiente escolar e seus
segundo a ordem das efeitos nas comunidades onde ocorrem.
Consideremos, de maneira a conciliar as duas sionais. Assim, a pobreza reproduz a pobreza.
vertentes, que a Sociologia da Educação tem como
principal objetivo investigar como a educação contribui
para a produção e reprodução de normas e grupos
sociais e, em especial, como a escola “participa na
formação e consolidação da ordem social. Para isto é
decisiva a transmissão e inculcação diferenciada de
certas ideias, valores, modos de percepção, estilos de
vida, em geral sintetizados na noção de ideologia”
(SILVA, 1990, p. 4). Da mesma forma, também é
papel da Sociologia da Educação estudar o ambiente
escolar e as relações entre ele e outros processos
sociais.
É evidente que, no Brasil, dada a diversidade
cultural existente no país e as desigualdades sociais que
permeiam as relações, os temas associados à
dominação e à submissão, e ao preconceito e à
discriminação são cons- tantes nas investigações sobre
o contexto educacional e as práticas educativas. De fato,
as mudanças ocorridas nos primeiros anos deste século
provocaram transformações profundas nas formas de
viver e trabalhar: as mulheres aumentaram sua
participação no mercado de trabalho; tornaram-se
comuns as unidades familiares chefiadas por elas;
finalmente, a percepção da vulnerabilidade de minorias
étnicas e de portadores de necessidades especiais
passou a demandar políticas públicas destinadas à
redução do quadro de desigualdade.
Observação:
Os dados revelam que o homem branco tem uma
renda 56% mais elevada do que a mulher branca.
Ainda, a mulher branca recebe 14% a mais, em
termos de renda, do que o homem negro. O abismo
torna-se maior quando comparamos a renda da
mulher negra com a do homem negro: o homem
negro tem uma renda 53% maior do que a renda da
mulher negra. Resumindo, e para deixar mais claro o
quadro de desigualdade social, o homem branco
ganha 174% a mais do que uma mulher negra.
Ingimage / Fotoarena
as desigualdades de oportunidades (RIBEIRO,
2010, p. 2).
Exercícios Propostos
➊ Um volume imenso de pesquisas tem sido conformação dos eventos internacionais quanto o Conselho de Segurança
produzido para tentar avaliar os efeitos dos Nacional. As instituições religiosa, educacional e familiar não são
programas de televisão. A maioria desses centros autônomos de poder nacional; pelo contrário, essas áreas
estudos diz respeito às crianças — o que é bastante compreensível
descentralizadas são cada vez mais moldadas pelos três grandes poderes,
pela quantidade de tempo que elas passam em frente ao aparelho e pelas nos quais ocorrem hoje os eventos de consequência decisiva e
possíveis implicações desse comportamento para a socialização. Dois
imediata.
dos tópicos mais pesquisados são o impacto da televisão no âmbito do
(WRIGHT-MILLS, C. A elite do poder: militar, econômica e política.
crime e da violência e a natureza das notícias exibidas na televisão.
In: FERNANDES, H. R. (org.). Wright-Mills: sociologia.
(GIDDENS, A. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.)
São Paulo: Ática, 1985, p. 70.)
RESOLUÇÃO:
As religiões, as escolas, as universidades e as famílias são instituições
extremamente poderosas e que exercem influência nos processos de
Ⓢ (UEM, com modificações) – Dentro da sociedade norte- socialização dos indivíduos, bem como na formação de comportamentos.
americana, o principal poder nacional reside hoje nos domínios As universidades, assim como outras instituições, estão sob a influência
de grupos dominantes e de interesses de determinados segmentos sociais.
econômico, político e militar. Outras instituições
Resposta: B.
parecem colocadas do lado de fora da história moderna e, de vez em
quando, subordinam-se convenientemente àqueles domínios. Nenhuma
família é tão diretamente poderosa em questões nacionais quanto
qualquer grande corporação: nenhuma igreja é tão diretamente
poderosa nas histórias de vida externas dos jovens norte-americanos Ⓢ (UEM, com modificações) – Considerando as análises
hoje quanto o Exército dos EUA; nenhuma universidade é tão sociológicas sobre a família, é correto afirmar que
poderosa na I. a família, em nossa sociedade, é responsável pelos
processos iniciais e informais de socialização.
II. a família é uma instituição social rígida que não está
submetida a transformações históricas ou sociais.
III. a diversidade social, as políticas sociais de
proteção às famílias e as lutas por direitos civis, verificadas
no Brasil e no mundo nas últimas décadas, têm favorecido
a proteção de organizações familiares que não se encaixam
perfeitamente nos moldes tradicionalmente associados aos
papéis de pai, de mãe e de filhos.
Está correto o que se afirma em: c) I e III, apenas. d) I e II, apenas.
a) I, II e III. b) II e III, apenas. e) III, apenas.
III. ao ocultar seu papel na legitimação e na reprodução dos
saberes, dos valores e das experiências dos grupos
dominantes, a instituição escolar esconde também os seus
➍ (UEM, com modificações) – A escola exclui, como sempre, mas
ela exclui agora de forma continuada, a todos os níveis de curso, e mantém mecanismos “sutis” de exclusão dos grupos marginalizados.
no próprio âmago daqueles que ela IV.um dos principais desafios colocados para os atuais
exclui, simplesmente marginalizando-os nas ramificações mais ou menos sistemas de ensino no Brasil tem sido a necessidade de
desvalorizadas. Esses “marginalizados por dentro” estão condenados a assegurar a inclusão educacional de indivíduos e de grupos
oscilar entre a adesão maravilhada à ilusão proposta e a resignação aos sociais que historicamente foram marginalizados pela
seus veredictos, entre a submissão ansiosa e a revolta impotente. escola regular.
(BOURDIEU, P. (org.). A miséria do mundo. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 485.)
Está correto o que se afirma em:
Tendo como base as ideias expostas no texto acima, podemos a) I, apenas. b) I e II, apenas.
afirmar que c) III e IV, apenas. d) I, III e IV, apenas.
I. o melhor desempenho escolar de certas pessoas está e) II, III e IV, apenas.
ligado ao dom natural para os estudos que desperta logo
no nascimento, pois as aptidões intelectuais facilitam o
aprendizado e permitem conseguir notas mais altas.
II. Historicamente, a escola tem sido uma instituição
democrática que respeita as diferenças econômicas, sociais
e culturais da sociedade e garante oportunidades iguais
para as pessoas que se esforçam nos estudos.
Referências
Textuais
ALTHUSSER, L. Sobre a reprodução. Petrópolis: Vozes, 1999.
BOURDIEU, P. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 1987.
KONDER, L. Marx e a Sociologia da Educação. In: TURA, Maria de L. R. (org.) Sociologia para educadores. Rio de Janeiro: Quartet,
2004.
MANNHEIM, Karl. A educação como técnica social. In: PEREIRA, Luiz; FORACCHI, Marialice (orgs.). Educação e sociedade:
leituras de Sociologia da Educação. São Paulo: Ed. Nacional, 1977.
PILETTI, N.; PRAXEDES, W. Sociologia da Educação. São Paulo: Ática, 2010.
RIBEIRO, C. A. C. Desigualdade de oportunidades e resultados educacionais no Brasil. Dados: Rio de Janeiro, v. 54, n. 1, 41-87. 2011.
Disponível em: <http://lanic.utexas.edu/project/etext/llilas/vrp/ribeiro.pdf>. Acesso em: 15 set. 2014.
SILVA, T. T. A Sociologia da Educação entre o funcionalismo e o pós-modernismo: os temas e os problemas de uma tradição. Aberto:
Brasília, v. 9, n. 46, 1990.
TOMAZI, N. D. Sociologia da Educação. São Paulo: Atual, 1997.
Audiovisuais
A ONDA. Direção: Dennis Gansel. Alemanha: Constantin Film; Highlight Film, 2008, 107 minutos.
O PREÇO DO DESAFIO. Direção: Ramón Menéndez. Estados Unidos: American Playhouse; Olmos Productions; Warner Bros.,
1988, 103 minutos.
A sociedade civil e a política
7
Neste módulo, estudaremos várias questões A ausência do Estado que gera boa parte dessas
relacionadas à política, ao Estado e à sociedade civil. situações de vulnerabilidade. Não por acaso são
Estas questões envolvem tanto os aspectos
relacionados à organização e às funções do Estado,
como também os conflitos que surgem a partir das
relações que ocorrem entre os indivíduos e o
aparelho estatal. Ainda, entenderemos que as formas
como o Estado se organiza, em grande parte, são
resultado das mudanças que a sociedade promove no
sentido de proteger direitos e ampliar as condições de
cidadania. Ao final do módulo, proporemos alguns
exercícios.
1. Introdução
No início de 2020, a revista Isto É publicou a
seguinte notícia:
Quase 132 anos após a abolição da
escravatura no Brasil, situações análogas ao
trabalho escravo ainda são registradas.
Somente o Ministério Público do Trabalho
(MPT) tem hoje 1,7 mil procedimentos de
investigação dessa prática e de aliciamento e
tráfico de trabalhadores em andamento.
Segundo dados do Radar da Subsecretaria de
Inspeção do Trabalho (SIT) da Secretaria
Especial de Previdência e Trabalho do Ministério
da Economia, em 111 dos 267
estabelecimentos fiscalizados em 2019, houve
a caracterização da existência dessa prática
com
1.054 pessoas resgatadas em situações desse
tipo. O levantamento apresentado hoje (28)
aponta ainda que, no ano passado, o número de
denúncias aumentou, totalizando 1.213 em todo
o país, enquanto em 2018 foram 1.127.
[...]
O levantamento mostra que entre 2003 e 2018,
cerca de 45 mil trabalhadores foram resgatados
e libertados do trabalho análogo à escravidão no
Brasil. Segundo dados do Observatório Digital do
Trabalho Escravo, isso significa uma média de
pelo menos oito trabalhadores resgatados a cada
dia. Nesse período, a maioria das vítimas era do
sexo masculino e tinha entre 18 e 24 anos. O
perfil dos casos também comprova que o
analfabetismo ou a baixa escolaridade tornam o
indivíduo mais vulnerável a esse tipo de
exploração: 31% eram analfabetos e 39% não
haviam sequer concluído o 5º ano.
em municípios com baixo IDH [Índice de escravidão, como é possível que pessoas trabalhem
Desenvolvimento Humano], com pouca como escravas, impedidas de se movimentar, vivendo e
infraestrutura estatal, com pouca oferta de trabalhando em condições insalubres e sem qualquer
serviços públicos que esses trabalhadores remuneração? Para que respondamos a essas questões,
são encontrados ou saem para serem devemos nos deslocar para o campo da reflexão a
explorados, são traficados”, ressaltou o
respeito da política, do Estado e da sociedade civil.
chefe da Divisão de Fiscalização para a
O termo política tem sua origem na palavra grega
Erradicação do Trabalho Escravo
polis, que significa “cidade”. A polis é soberana e dona
(DETRAE), Matheus Alves Viana. Segundo
ele, hoje os desafios são muito grandes, de seu destino, não se submetendo a qualquer poder
especialmente porque os exploradores externo. Por sua vez, o politiko é o indivíduo que
desenvolveram uma contrainteligência e participa das decisões sobre o destino da polis, o
sabem se esconder. “O sucesso se dá cidadão que encontra nessa atividade uma extrema
quando e Estado está presente e se faz satisfação já que a comunidade política, o Estado (ou
forte. Nenhuma instituição de nenhum seja, o conjunto de instituições e pessoas que detêm o
Poder consegue fazer nada de forma poder sobre um determinado território ou conjunto de
isolada”, ressaltou Viana. pessoas) é quase que uma extensão da própria
condição humana.
Disponível em: https://istoe.com.br/brasil-teve-mais-de-mil-
Em tempos anteriores ao surgimento do Estado, o
pessoas- resgatadas-do-trabalho-escravo-em-2019/;
20 maio 2020. senhor feudal era o dono da vida e da morte das
pessoas que viviam sob o seu poder; o Estado surge
justamente com a desestruturação do feudalismo,
O texto choca pelo fato de, nos dias de hoje, constituindo-se em fonte de poder que, num primeiro
em pleno século XXI, ainda ser possível encontrar instante, é exercido pelo rei e soberano. O Estado irá
pessoas vivendo em condições análogas às dos criar as leis que regerão a vida social, distanciando-se
escravos. A escravidão, afinal, não foi extinta ao dos costumes e das tradições. Assim, quando do
final do século XIX? Se há leis condenando a nascimento dos
estados modernos, o sistema monárquico irá garantir a (Rousseau).
centralização do poder para que impostos possam ser
instituídos e cobrados, fronteiras estejam em condições Como Maquiavel (1469-1527) bem descreve na sua
de serem defendidas, e exércitos profissionais possam obra maior, O Príncipe, o Estado não era o terreno em
ser mantidos e organizados. que se materializavam comportamentos naturais dos
Há várias vertentes do pensamento sociológico que seres humanos, tampouco em que operavam ideais
buscaram refletir a respeito do Estado e dos direitos éticos. O Estado era a organização que resultava da ação
civis. Uma abordagem foi a do jusnaturalismo, que humana, e sua atuação não se submetia (ou não deveria
entendia existirem leis naturais no universo, cabendo se submeter) ao poder da fé ou dos valores morais
aos homens a tarefa de descobri-las. Essas leis naturais individuais; ao contrário, o Estado deveria ser laico e
teriam como origem a ordem do mundo (ou as leis suas leis poderiam ser diversas daquelas que
divinas), a partir da qual o Estado organizaria a sociedade. organizavam as vidas privadas dos indivíduos que o
O iluminismo tingiu a ideia do jusnaturalismo com o constituíam. Na verdade, os indivíduos abriam mão de
princípio do contratualismo. Para os contratualistas, o seus direitos individuais em prol da segurança e da
contrato social teria determinado a passagem da vida preservação da vida de todos, elementos esses que
humana do estado de natureza para o estado civil. Ao eram defendidos pelas instituições criadas para dar
Estado (inicialmente representado pelo monarca e, conta das funções atribuídas ao Estado.
posteriormente, pelo parlamento ou outras formas de
governo) ficaria a tarefa de fazer cumprir as normas Observação:
estabelecidas nesse contrato. Segundo Cintra (2017, p. O Estado laico é a organização regida por leis
28), elaboradas pelos indivíduos, não se submetendo a
valores ou juízos de ordem religiosa. Vejamos um
as teorias jusnaturalistas tiveram grande exemplo: caso a religião predominante em um
influência na própria configuração dos Estados determinado país proíba o consumo de certos
territoriais modernos e nas revoluções do século alimentos, não é esperado que todos os cidadãos
XVII e XVIII. Elas afirmam o primado do poder
respeitem, obrigatoriamente, essa norma.
temporal/secular sobre o poder espiritual
(Maquiavel, Hobbes), os princípios liberais de
limitação do poder estatal (Locke) e a
fundamentação democrática do poder político
Não houve unanimidade entre os pensadores Esta tradição liberal e iluminista vai encontrar
iluministas em relação às percepções sobre a oposição na obra e nas ideias de Karl Marx (1818-1883).
natureza humana e o papel do Estado. Thomas Para compreender a origem do lucro, Marx empreendeu
Hobbes (1588- 1679) e John Locke (1632-1704) uma análise histórica na qual as condições materiais de
acreditavam que o contrato social que instituía o sobrevivência do homem haviam determinado sua
Estado tinha como principal objetivo proteger a vida organização social e política. Dessa forma, a posse dos
ou a propriedade (direitos tidos como naturais); em meios de produção por parte de um segmento da
outras palavras, o Estado surgia como uma sociedade (a burguesia) havia permitido a apropriação
continuação de direitos dados, já existentes. Para das horas trabalhadas e não pagas ao trabalhador, que
Locke, inclusive, era legítimo um Estado que apenas tinha a sua força de trabalho para vender em
protegesse e respeitasse o direito da maioria. Jean- troca do salário necessário à subsistência.
Jacques Rousseau (1712-1778), ao contrário, Neste contexto, o Estado não representava os
considerava que o Estado surgira justamente para dar interesses sociais, mas tão somente os interesses de
conta dos males gerados pela sociedade: antes da vida uma determinada classe social, a burguesia, que detinha
social, o homem era bondoso e generoso e, se a vida o poder econômico em função de ter a posse dos meios
em sociedade havia corrompido o ser humano, era de produção.
importante que o Estado preservasse a ordem por
meio da contenção desta corrupção natural. Trata-se de uma concepção do Estado-
instrumento, isto é, que o entende como um
O Estado de natureza de Rousseau é caracte- aparelho que é mobilizado pela classe dominante
rizado não só pela igualdade e liberdade, mas para ampliar e conservar seu domínio. Ganham
também pela felicidade e pela paz. A guerra relevo nessa análise os aspectos repressivos do
não surge no estado de natureza, mas já no Estado que funcionam para conservar a ordem
estado civil, isto é, quando os homens já estão burguesa: a polícia, o exército, as garantias
socializados e vivem em sociedades políticas. jurídicas à propriedade privada, enfim, toda a
Nesse sentido, a guerra só pode ser uma estrutura estatal que tem como objetivo
relação entre Estados – jamais uma relação conservar e ampliar a dominação da burguesia
entre indivíduos (CINTRA, 2017, p. 26). sobre os trabalhadores assalariados (CINTRA,
2017, p. 31).
O Estado não era necessariamente uma estrutura Estado e sociedade. O Estado está acima da sociedade,
a favor dos interesses coletivos; ao contrário, atuava tendo sido por ela criado justamente para dar conta de
de acordo com os interesses da classe dominante. Por organizar a vida de todos, de forma autônoma. Considera- se,
isso, em função de o capitalismo ter sido assim, que a sociedade civil nasce com a criação do Estado:
historicamente engendrado por essas classes em outras palavras, a sociedade civil surge como fruto da
dominantes, não era possível dissociar o Estado dos ação do Estado, o ente que criará as condições para a
modos de produção de uma sociedade. Assim, “o existência de uma esfera privada. Em resumo: os indivíduos
Estado é compreendido no interior de uma totalidade criaram o Estado, e a sua existência fez surgir a esfera da
histórica caracterizada pelas contradições do modo de sociedade civil, privada.
produção capitalista que se traduzem politicamente no
conflito entre capital e trabalho, entre burgueses e
proletários” (CINTRA, 2017, p. 32).
Qual o caminho proposto por Marx para destruir o
capitalismo e o Estado por ele constituído? Em primeiro
lugar, os operários deveriam tomar o poder, assumindo
a posse dos meios de produção. A ditadura do
proletariado significaria, portanto, a extinção da ordem
burguesa, bem como dos aparatos jurídicos por ela
constituídos. Posteriormente, o Estado deixaria de ter
qualquer razão para existir: o comunismo significaria o
fim da propriedade privada e, nesses termos, não
haveria qualquer razão que justificasse o aparelho Figura 1. No patrimonialismo, as esferas públicas e privadas confundem-se de
estatal. forma indevida. Um servidor público pode, por exemplo, fazer uso de um bem que
pertence ao Estado enquanto no exercício de sua atividade. No entanto, ele não pode
As atuais doutrinas modernas da teoria política têm agir como se esse bem lhe pertencesse. Da mesma forma, um agente público não
focado seu interesse na questão da separação entre pode abusar do seu poder e da sua autoridade, já que estes (e seus limites) são
estabelecidos por lei.
entre dois territórios, a criação do Estado determinou a
A ideia do surgimento da sociedade civil a partir do construção de uma fronteira entre o que é resultado da
nascimento do Estado é de fundamental importância. sua ação e o que é fruto da ação espontânea ou
Da mesma forma como uma fronteira estabelece o organizada da sociedade. Assim, a sociedade civil
limite engloba iniciativas e ações que não emanam do Estado,
tampouco são por ele tuteladas. Um bom exemplo são
as Organizações Não Governamentais que atuam nas
mais diferentes áreas (educação, saúde e outros
projetos de cidadania): essas organizações não surgem
a partir da ação do Estado; ao contrário, elas surgem
por decisão de grupos de indivíduos que se organizam
em prol de determinados objetivos, em geral no
contexto de áreas em que o Estado falha no
atendimento às necessidades dos indivíduos ou ao
respeito de direitos elementares.
Evidentemente, quanto mais democrático for o
Estado, maiores oportunidades para a sociedade civil se
organizar. Em contrapartida, quanto mais autoritário,
menos chances a sociedade civil tem de participar da
vida política e defender seus interesses.
Observação:
Não foram poucos os casos em que o Estado acabou
por se tornar uma ameaça aos indivíduos: em geral,
isso tem ocorrido com governos extremamente
autoritários e em regimes não democráticos.
? Saiba
mais
em Preto e Branco (2014). Reunindo os acontecimentos na
música, na política e no futebol, o documentário tem a
Campanha das Diretas-Já como cenário para as narrativas
Inicialmente,
sobre os manifestantes
a Democracia Corintiana, foram tratados pela
um movimento que
imprensa
procurouedemocratizar
pela polícia as
de decisões
forma violenta
no clubee de
negativa.
futebol
AoCorinthians,
longo das semanas; no entanto,
sob a liderança uma mudança
dos jogadores Sócratesnae
percepção
Casagrande. O documentário está disponível noprotestos
da mídia fez com que os Youtube,
ganhassem
no link publicidade e apoio, da mesma forma como
acesso em 02 com
aconteceria jun. 2020.
protestos no mundo árabe
(conhecidos como Primavera Árabe, nos quais a
população exigiu que regimes ditatoriais fossem
substituídos por regimes democráticos) e no mundo
ocidental (por exemplo, com o Occupy Wall Street ).
As manifestações de 2013 também ficaram
conhecidas como Movimento dos Vinte Centavos, ou
Jornadas de Junho.
➊ Na década de 1990, os movimentos sociais c) restringe o direito de voto a apenas uma parcela da
camponeses e as ONGs tiveram destaque, ao lado sociedade civil.
de outros sujeitos coletivos. Na d) resulta em uma situação em que algumas pessoas
sociedade brasileira, a ação dos movimentos sociais vem construindo possuem mais direitos que outras.
lentamente um conjunto de práticas democráticas no interior das escolas, e) consagra a ideia de que as diferenças devem se basear na
das comunidades, dos grupos organizados e na interface da sociedade capacidade de cada um.
civil com o Estado. O diálogo, o confronto e o conflito têm sido os
motores no processo de construção democrática.
(M. A. Souza. Movimentos sociais no Brasil.
Disponível em: http://www.ces.uc.pt.
Acesso em: 30 abr. 2010. Adaptado.)
.
$
Texto I
Texto II
$ Tecnocracia e democracia são antitéticas: se o preferência para decidir, pois a democracia se confunde com a
protagonista da sociedade industrial é o especialização.
especialista, impossível que venha a ser o d) uma forma de democracia na qual todos podem opinar, mas
cidadão qualquer. A democracia sustenta-se sobre a hipótese de que todos apenas dentro de sua especialidade.
podem decidir a respeito de tudo. A tecnocracia, ao contrário, pretende e) a inclusão do conhecimento técnico como critério de julgamento,
que sejam convocados para decidir apenas aqueles poucos que detém visto que ele serviria para agilizar o processo de escolha.
conhecimentos específicos.
(N. Bobbio. O futuro da democracia.
São Paulo: Paz e Terra, 2000.)
Textuais
CINTRA, Wendel Antunes. Estado e Sociedade. Salvador: UFBA, 2017.
GOMES, Ronaldo Martins. A democracia deliberativa de Jürgen Habermas. Anais do Seminário dos Estudantes da Pós-Graduação em
Filosofia da UFSCar, 2012. Disponível em: http://www.ufscar.br/~semppgfil/wp-content/uploads/2012/05/39-Ronaldo-Martins-
Gomes-A-democracia-deliberativa-de-Jurgen-Habermas.pdf. Acesso em: 07 jun. 2020.
MOTTA, Luiz Eduardo. Estado e sociedade civil num contexto democrático: arenas de conflitos e de constituição de direitos. Alceu,
v. 8, n. 6, 2008. Disponível em: http://revistaalceu-acervo.com.puc-rio.br/media/alceu_n16_Motta.pdf; 20 maio 2020.
Audiovisuais
Democracia em preto e branco. Dir. Pedro Asberg. Documentário. Brasil, 2014. 90 minutos.
Junho. Dir. João Wainer. Documentário. Brasil, 2014. 91 minutos.
Marx e o materialismo dialético histórico: um método
para a reflexão sobre as transformações sociais e um
8 instrumento de luta e intervenção
As mudanças ocorridas ao final do século XIX e início do do produto do trabalho. A práxis (as práticas da vida) não era
século XX provocaram transformações profundas nas maneiras de determinada pelas ideias, mas as ideias eram construídas por
se ver e entender a realidade. Neste módulo, estudaremos as meio da práxis material (MARX; ENGELS, 2009).
ideias de Marx e como elas determinaram, a partir dali, a Karl Marx (1818 – 1883) nasceu na Alemanha, filho de um
abordagem das relações econômicas e o conflito entre as classes advogado público. Inicialmente, seus estudos superiores foram na
sociais. área do Direito, mas, depois de ter sua carreira pública impedida
por sua oposição ao governo, Marx resolveu estudar Filosofia.
Sem conseguir sucesso nas suas tentativas de trabalhar como
1. Introdução professor, dedicou-se ao jornalismo econômico. Depois de o seu
jornal ter sua circulação proibida, Marx casou-se com a filha de
Foram muitas as mudanças ocorridas ao final do século XIX um barão alemão (FUSFELD, 2013).
e início do século XX, inclusive no contexto do desenvolvimento
do conhecimento científico. Àquele instante, o positivismo de
Auguste Comte (1798-1857) havia levado a sociedade a acreditar
que o mundo caminhava – de forma linear e sistemática – em direção
Ingimge / Fotoarena
a um futuro em que o progresso era inevitável; a genética,
inclusive, poderia ser utilizada para eliminar indesejadas
características da espécie humana e comprovar a suposta
superioridade racial dos europeus (HOBSBAWM, 2009). A
matemática, por sua vez, distanciava-se de qualquer
correspondência com o real, impedindo que as pessoas – por
meio da experiência e dos sentidos – conseguissem entender seus
postulados. No campo da Física, as teorias da física quântica, de
Max Plank (1858-1947) e da relatividade, de Albert Einstein (1879-
1955) davam um golpe mortal na concepção de um mundo
mecânico cujo funcionamento poderia ser acessado por meio dos
sentidos e da lógica. Afinal, aquele foi um tempo de muitas
indagações: se a Terra já existia antes do surgimento da espécie
humana, seriam os objetos criação do pensamento humano? Era o
pensamento que criava os objetos (conforme afirmavam os
idealistas) ou a matéria precedia o pensamento (como
preconizavam os materialistas)?
A concepção materialista histórica tem como
origem os trabalhos de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Figura 1: Karl Marx
Engels (1820-1895), e a base desta concepção foi a realidade
material, um mundo que envolvia pessoas reais, vivendo num Segundo Fusfeld (2013), Marx passou a circular por entre os
mundo real e buscando satisfazer necessidades reais. Para os dois
círculos socialistas; lá, conheceu Proudhon, que o influenciou de
pensadores, as estruturas construídas socialmente – o Estado, a
forma significativa. A ideia de Proudhon a respeito de a propriedade
linguagem, a religião, as ideologias e as formas de organização
privada ser um roubo ecoou na mente de Marx. Posteriormente, ele
familiar – haviam resultado da luta do ser humano pela
romperia com Proudhon em função da discordância sobre a pressão
sobrevivência, dadas as condições materiais que determinavam
do aumento populacional sobre os níveis de salários, mas é inegável
a divisão do trabalho e a luta entre classes sociais pela
a influência do filósofo francês na obra marxista. Nesse círculo de
apropriação
amizades, Marx também conheceu Engels (1820-1895), filho de
um rico industrial alemão.
Marx e Engels formaram uma longeva e produtiva parceria.
Foram amigos, além de colaboradores: por várias vezes, Engels
socorreu a família Marx, especial- mente quando esta se via 2. O contexto revolucionário do
envolta em problemas financeiros. final do século XIX e início do
século XX
Não foi apenas a oposição ao idealismo filosófico que
? Saiba mais
estimulou a investigação materialista histórica: os resultados da
A dialética, segundo Stalin (1945), “quer dizer diálogo ou
segunda onda da Revolução Industrial haviam deixado rastros de
polêmica. Os antigos entendiam por dialética a arte de
miséria, fome e degradação das condições de vida dos
descobrir a verdade evidenciando as contradições
trabalhadores. Não à toa, a Europa assistia, assustada, às
implícitas na argumentação do adversário e superando essas
inúmeras greves e manifestações revolucionárias promovidas
contradições. Alguns filósofos da antiguidade entendiam
pelos trabalhadores. Era necessário não apenas explicar o caos
que o descobrimento das contradições no processo
histórico mas, acima de tudo, esclarecer como os conflitos entre o
discursivo e o choque das opiniões contrapostas era o melhor
capital e o trabalho poderiam ser resolvidos.
meio para encontrar a verdade. Esse método dialético de
pensamento, que mais tarde se fez extensivo aos fenômenos
naturais, converteu-se no método dialético de conhecimento da
?
natureza, consistente em considerar os fenômenos naturais
Saiba como sujeitos a perpétuo movimento e transfor- mação e o
mais desenvolvimento da natureza como o resultado do
Esse período ficou marcado pela disseminação das desenvolvimento das contradições existentes nesta última,
correntes do socialismo utópico, pela publicação do como o resultado da ação mútua das forças contraditórias no
Manifesto Comunista (1848), pela organização da seio da natureza” (STALIN, 1945).
Primeira Internacional (1864), pela Segunda Josef Stalin (1878-1953), autor do trecho acima citado, foi
Internacional (1889), pela publicação de O Capital um dirigente soviético que comandou a União Soviética
(1867), pelos escritos anarquistas, pela Comuna de Paris durante mais de três décadas. Segundo uma corrente
(1871) e pela mobilização política sindical e partidária do historiográfica, Stalin foi um ditador, tendo perseguido de
operariado. forma implacável seus inimigos políticos, entre eles Leon
Sugerimos que você assista ao filme Os Miseráveis Trotsky (1879- 1940), que acabou sendo assassinado no
(2012). A narrativa fala sobre a reinserção social de um México por um agente stalinista.
ex-condenado (e a busca obsessiva de um policial que O pensamento de Trotsky é ainda uma vertente
deseja prendê-lo novamente) e tem como pano de fundo extremamente importante do marxismo, da mesma forma que o
os movimentos revolucionários de julho de 1830, quando são as ideias de Stalin. As ideias de Stalin formaram o que
o povo francês e a burguesia liberal realizaram contínuos se convencionou chamar de marxismo-leninismo, tornando-se
atos de levante contra o rei. a base do governo revolucionário e da ação comunista fora da
União Soviética. Após a sua morte, inúmeros documentos
comprovaram os atos de violência sob o seu comando, e
que incluíram deportações, repressões em massa e
A concepção materialista da história previra isso: a história
execuções.
nada mais era do que uma sucessão de relações recheadas de
Sugerimos que você assista ao filme O Eleito (cujo título
conflitos e contradições. O mundo sensível era “um produto
original é El Elegido), de 2016, que narra o assassinato de
histórico, resultado de várias gerações; sem a sobrevivência
Trotsky.
material dos seres humanos, não haveria fazer histórico”
(ENGELS, 2016,
p. 21). Ainda, havia sido o processo dialético entre o sujeito e o
Segundo o materialismo histórico, se os fenômenos da natureza
objeto o que determinara a formação da consciência e da
ocorriam de forma articulada e única, e se esses fenômenos eram
inteligência humana.
interdependentes, o estudo do mundo material e da sociedade
exigia a compreensão do contexto, dos seus movimentos e das
suas trans- formações.
O mundo estava em constante movimento, e a história não
era uma sucessão de fatos isolados:
se todos os fenômenos estão vinculados entre si e se (STALIN, 1945).
condicionam uns aos outros, é evidente que todo regime
social e todo movimento social que aparece na história Qual era o fator determinante dos eventos históricos e dos sistemas
deve ser julgado não do ponto de vista da ‘justiça eterna’ econômicos? Para Marx e Engels, as necessidades materiais
ou de qualquer outra ideia preconcebida, que é o que determinavam as ações humanas, o modo de produção determinava a
costumam fazer os historiadores, mas do ponto de vista das vida em sociedade e a posse dos meios de produção determinava as
condições que engendraram esse regime e esse relações sociais. O modo de produção compreendia as formas como as
movimento sociais e às quais se acham vinculados
quais bens e serviços eram produzidos; os meios de produção – venção e luta. Os fenômenos do mundo material e da história
incluído o trabalho – eram os recursos necessários para que os poderiam ser transformados, e Marx e Engels, em o Manifesto
bens e serviços pudessem ser produzidos. Comunista, propuseram novas alternativas para um futuro melhor
para o proletariado (os operários). Afinal, havia uma contradição
inerente ao modelo capitalista:
3. O lucro do capital.
A mais-valia. A alienação
Para Marx, o capitalismo seria uma forma de organização
econômica em que diferentes agentes se inter-relacionavam e se
comunicavam. O papel que cada um dos agentes desempenhava
dependia do papel que os demais desempenhavam. Assim, o
capital era capital porque era investido em atividades produtivas,
comprando força de trabalho. Em outras palavras, o capital não seria
capital sem a força de trabalho. A força de trabalho não faria
Figura 3. Nota de cem rublos impressa em 1910. sentido algum tomada individualmente; ela só era força de trabalho
quando pensada como insumo de produção que o capitalista iria
adquirir para produzir mercadorias.
A sociedade funcionava de forma análoga a um prédio: a base (a
infraestrutura) era formada pelas relações de classes
? Saiba estabelecidas em determinado sistema econômico. A
mais superestrutura, por sua vez, correspondia ao aparato estatal e às suas
instituições, à cultura, às ciências, às artes e aos demais
A família imperial foi presa pelo Governo Provisório de
componentes ideológicos (superestrutura ideológica).
Kerensky. Em 1918, os bolcheviques executaram a tiros o
czar Nicolau II e sua família, com o objetivo de impedir
que a família imperial fosse resgatada por anticomunistas.
Ingimge / Fotoarena
Os corpos foram enterrados em dois locais diferentes,
depois de queimados. Até hoje, as pesquisas históricas
não encontraram evidências sobre a identidade do
mandante da execução.
➊ Na produção social que os homens realizam, Ⓢ (FGV) – Com base no materialismo histórico de Karl Marx, o estudo
eles entram em determinadas relações da sociedade deve ter como ponto de partida
indispensáveis e independentes
de sua vontade; tais relações de produção correspondem a um estágio a) uma ideia ou conceito previamente fixado pelo pesquisador.
definido de desenvolvimento das suas forças materiais de produção. A b) o entendimento das intenções subjetivas dos atores sociais.
totalidade dessas relações constitui a estrutura econômica da sociedade – c) as ideias da classe dominante e sua relação de dominação com a
fundamento real, sobre o qual se erguem as superestruturas política e sociedade.
jurídica, e ao qual correspondem determinadas formas de consciência d) a análise das relações do homem com a natureza e das relações
social. entre homens na atividade produtiva.
(K. Marx. Prefácio à Crítica da economia política. In. K. e) o comportamento humano diante dos problemas nascidos nas
Marx, F. Engels. Textos 3. São Paulo. Edições Sociais, relações familiares.
1977. Adaptado.)
Textuais
ENGELS, Friedrich. Ludwing Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã. São Paulo: Edições Iskra, 2016. GORENDER, J. introdução. In:
Karl Marx. São Paulo: Nova Cultural, 1986.
FUSFELD, D. A Era do Economista. São Paulo: Saraiva, 2013.
HEILBRONER, R. A História do Pensamento Econômico. Coleção Os Economistas. São Paulo: Abril Cultural, 1996. HUBERMAN, L. História
da Riqueza do Homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1974.
MARX, K. H.; ENGELS, F. O Manifesto Comunista. Ebooks Brasil, 1999.
MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. Tradução de Álvaro Pina. 1. ed., São Paulo: Expressão Popular, 2009.
PRADO JÚNIOR, C. Teoria marxista do conhecimento e método dialético materialista. In: Discurso. Revista do Departamento de Filosofia da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, ano IV, no. 4, pp. 41-78, 1973.
STALIN, J. V. Sobre o materialismo dialético e o materialismo histórico. Rio de Janeiro: Horizontes, 1945. Disponível em: Acesso em: 11 set.
2020.
Visuais
O Eleito (El Elegido). Direção: Antonio Chavarrias. Espanha: Oberón Cinematográfica, 2016). 125 min.
Os miseráveis. Direção: Tom Hooper. Reino Unidos; Estados Unidos: Working Title Films, 2012). 158 min.
Tempos Modernos: Direção: Charles Chaplin. Estados Unidos: Charles Chaplin, 1936). 86 min. Disponível em: Acesso em: 11 set. 2020.
Anotações
Anotações