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O TAO da Física

Fritjof Capra
Editorial Presença, Lisboa, 1989
(Este trabalho não pretende ser mais que um resumo livre do livro com a transcrição de partes da obra. Deseja-se que seja não um aperitivo
mas um rebuçado que provoque a vontade de ler tudo).

I – Os caminhos da Física

1 Física moderna – uma via coerente?

Escola de Mileto (Jónia, século VI a.C.) – Ciência, filosofia e religião não estavam
separadas.
A matéria era dotada de vida; não distinguiam entre animado e inanimado, espírito e
matéria. Todas as formas de existência eram manifestações de ”física”, dotadas de vida e
espiritualidade.
Era semelhante à visão filosófica indiana e chinesa, e o paralelismo era mais forte com
Heráclito de Éfeso que acreditava mais num mundo de contínua mudança.
Heráclito ensinava que todas as mudanças no mundo provinham da conjugação
dinâmica e cíclica dos opostos, e concebia qualquer par de opostos como unidades. A esta
unidade que contém e transcende todas as forças opostas, chamava de Logos.
A Escola de Eleia, sustentava um “Princípio Divino” estável acima dos Deuses e dos
Homens. Este princípio é identificado inicialmente com a unidade do universo, foi depois
encarado como um Deus inteligente e personalizado, que permanecia acima do mundo e que o
dirige. Começa assim uma tendência do pensamento de que resultou a separação entre matéria
e espírito e o dualismo que se tornou uma característica da filosofia ocidental.
Parménides de Eleia designou o seu princípio básico de Ser único e imutável.
Considerava não ser possível a mudança e encarou as alterações no mundo como meras
ilusões dos sentidos.
No século V a.C. os filósofos gregos tentam conciliar as duas visões, o Ser imutável de
Parménides e o eterno devir de Heráclito. Definiram assim que o Ser se manifesta em certas
substâncias invariáveis cuja mistura e separação dá lugar às mudanças do mundo conduzindo
ao conceito do átomo, a mais pequena unidade individual da matéria. Leucipo e Demócrito,
atomistas, definiram assim que a matéria era composta por “blocos de construção” ou
partículas passivas e intrinsecamente mortas que se mexiam no vazio, ideia que se tornou no
elemento essencial do pensamento ocidental, criando um dualismo entre matéria e espírito,
entre corpo e alma. Este esquema que foi sistematizado por Aristóteles ocupou o pensamento
ocidental durante mais de 2000 anos com o apoio da Igreja Cristã, acreditando que as
questões concernentes à alma humana e à contemplação da perfeição divina eram mais
importantes que as investigações sobre a matéria. Com o Renascimento no século XV, o
homem começou a libertar-se da influência aristotélica e da Igreja renovando o seu interesse
pela natureza, paralelamente ao interesse crescente na matemática o que levou à formulação
de teorias científicas corretas baseadas na experiência e expressas em linguagem matemática.
Galileu foi o primeiro a combinar o conhecimento empírico com matemática sendo
por isso considerado como o pai da Física Moderna.
Este nascimento da física moderna foi precedido e acompanhado por um
desenvolvimento do pensamento filosófico que conduziu a uma formulação extrema do
dualismo espírito-matéria. No século XVII, Descartes, fundava a sua visão da natureza numa
divisão fundamental em dois domínios diferentes: o da mente (res cogitans) e o da matéria
(res extensa). A visão cartesiana permitiu aos cientistas tratar a matéria como morta e
completamente separada de si próprios, e ver o mundo material como uma multiplicidade de
objetos diferentes, reunidos numa imensa máquina. Esta visão mecanicista do mundo foi
sustentada por Newton, que construiu a sua mecânica naquela base e a tornou no alicerce da
física clássica. Este modelo dominou todo o pensamento científico do século XVII ao século
XIX. As leis fundamentais da natureza, procurados pelos cientistas, eram então as leis de
Deus, invariáveis e eternas, às quais o mundo estava submetido.

A filosofia de Descartes «cogito ergo sum» (penso logo existo), levou os pensadores
ocidentais a equivaler a sua identidade com a sua mente, em lugar de com todo o seu
organismo. Isto levou a que muitos se concebessem como «egos» isolados que viviam
«dentro» dos seus corpos. A mente era assim separada do corpo, caracterizada pela fútil tarefa
de o controlar, causando um conflito entre a vontade consciente e os instintos involuntários.
Cada indivíduo foi assim cindido num grande número de compartimentos separados
de acordo com as suas atividades, talentos, sentimentos, crenças, etc., cisões essas
comprometidas em conflitos intermináveis, geradores de contínua confusão metafísica e
frustração.
O meio ambiente é encarado como se tratasse de partes separadas a ser exploradas por
diferentes grupos de interesses. Esta visão fragmentária estende-se à sociedade, dividida em
diferentes nações, raças, religiões e grupos políticos.
A visão cartesiana e a visão mecanicista do mundo foram benéficas e maléficas
simultaneamente. Foram bem sucedidas no desenvolvimento da física clássica e tecnologia,
mas tiveram consequências adversas para a civilização ocidental.
É fascinante verificar que, em meados do século XX, ultrapassa essa fragmentação e
regressa à ideia de unidade expressa nas primeiras filosofias gregas e orientais.
Em contraste com a visão mecanicista, no oriente a visão é orgânica. Tudo o que
existe e que é percecionado pelos sentidos está interligado, objetos, acontecimentos, etc., são
somente aspetos diferentes ou manifestações da mesma realidade última. A nossa tendência
para dividir o mundo em coisas singulares e isoladas é considerada como uma ilusão da nossa
mente contabilizadora e catalogadora. É denominada de «avidya» ou ignorância.

«Quando a mente está perturbada, produz-se a diversidade de coisas, mas quando a


mente está sossegada, a multiplicidade de coisas desaparece.»

Apesar das suas diferenças todas as escolas orientais realçam a unidade básica do
universo, característica fundamental dos seus ensinamentos. O objetivo é tornarem-se
conscientes da unidade e mútua inter-relação de todas as coisas, transcender a noção de
indivíduo isolado, e identificar-se com a realidade última. A urgência desta tomada de
consciência – conhecida como iluminação – não é só um ato intelectual, mas uma experiência
que envolve a pessoa como um todo. O cosmos é visto, nesta perspectiva, como uma
realidade inseparável – para sempre em movimento, vivo, orgânico; espiritual e material,
simultaneamente.

2 Conhecendo e observando

Conhecimento racional – deriva da experiência que temos com os objetos e


acontecimentos no dia-a-dia. Pertence ao domínio do intelectual cuja função é discriminar,
dividir, comparar, medir e categorizar. Assim, é criado um mundo de distinções intelectuais
de contrários que só podem existir como relações entre si. Por esta razão os budistas chamam
a este tipo de conhecimento de relativo.
Conhecimento absoluto – é uma experiência da realidade totalmente não intelectual,
experiência surgida num estado de consciência invulgar, que se pode chamar de “meditativo”
ou místico. Experiência diante da realidade, que transcende não só o pensamento intelectual
mas também a perceção sensorial. Experiência do indiferenciado, não dividido, indeterminado
«omnisciência».
O conhecimento científico é obtido pelo processo de investigação científica que pode
ser encarado em três fases. A primeira consiste em reunir os dados experimentais acerca do
fenómeno a ser investigado. Na segunda fase, os dados experimentais são relacionados com
símbolos matemáticos e é elaborado um esquema matemático que inter-relaciona esses
símbolos de uma maneira precisa e consistente. Tal esquema é normalmente designado por
modelo matemático ou, se é inteligível, uma teoria. Esta teoria é então usada para prever os
resultados de experiências posteriores levadas a cabo para verificar todas as suas implicações.
Nesta fase, os físicos podem ficar satisfeitos quando encontram um esquema matemático e
souberem como o usar para antecipar experiências. E como podem querer conversar sobre
este modelo com não físicos terão, por isso, de se exprimir em linguagem verbal neutra ou
vulgar de modo a traduzir o seu esquema matemático. Mesmo para os físicos, a formulação de
um tal modelo verbal, que constitui a terceira fase da investigação, será uma medida do
entendimento a que chegaram. Este modo de fundamentar todas as teorias é conhecido como
método científico.
Conhecimento e atividades racionais constituem a parte mais significativa da
investigação científica, mas por si só, seria de facto inútil se não fosse completada pela
intuição, credora de novos discernimentos e da criatividade dos cientistas.
Se na ciência há um fator intuitivo, também no misticismo oriental há um fator
racional. No entanto este fator varia de escola para escola. A fixação do conhecimento, do
misticismo oriental, na prática sugere um paralelo com a base experimental do conhecimento
científico. Este paralelo é reforçado pela natureza da experiência mística. Nas tradições
orientais, esta é descrita como uma visão direta, alheia ao domínio intelectual, e resultante
mais da atenção que do raciocínio; do olhar interior de cada um; de observação.
Este olhar, no taoismo “Kuan”, deve ser entendida num sentido metafórico; para os
místicos orientais o «olhar» refere-se a um modo de perceção que pode incluir o visual, mas
que o transcende sempre, para se tornar numa apreensão não sensorial da realidade.
Quando o espírito racional é silenciado, o modo intuitivo produz uma característica
extraordinária; o meio ambiente é sentido de uma forma direta, sem o crivo do pensamento
conceptual.
A nossa atenção intuitiva é realizada por momentos muito breves quotidianamente, no
misticismo oriental ela abrange longos períodos tornando-se uma qualidade constante. A
preparação do mental para este estado não conceptual da realidade pode ser realizada com a
meditação no sentido lato da palavra.
O silenciar o espírito pensante e deslocar o estado racional para o modo intuitivo de
consciencialização é o objetivo básico dessa técnica. Este silenciar é conseguido de muitas
maneiras como a respiração, pela concentração num único dado, um som, um mantra ou a
imagem de um mandala, mas não só. As formas de arte orientais são do mesmo modo formas
de meditação. A experiência da unidade com o ambiente é a característica mais importante
deste estado meditativo.
Na meditação profunda o espírito está completamente alerta.

3 Acerca da linguagem

O estudo do mundo dos átomos forçou os físicos a entender que a nossa linguagem
vulgar não é apenas inexata, mas completamente inadequada para descrever a realidade
atómica e subatómica. A teoria quântica e a da relatividade tornaram claro que a realidade
transcende a lógica clássica e que não podemos falar delas em linguagem comum.
Para descrever os aspetos paradoxais observados no mundo subatómico o misticismo
oriental desenvolveu vários caminhos diferentes. Os budistas chineses e os japoneses
adotaram uma técnica taoista de comunicação do sentir pelas simples exposição do seu
carácter paradoxal. Com o sistema koan desenvolveram uma maneira única de transmitir os
seus ensinamentos sem qualquer verbalização. Koans são charadas sem sentido,
cuidadosamente inventadas, que pretendem fazer o estudante entender as limitações da lógica
e do raciocínio da maneira mais dramática. O teor irracional e conteúdo paradoxal destes
enigmas torna-os impossíveis de resolver pelo pensamento. São destinados precisamente a
deter o processo de pensamento, e assim tornar o estudante apto para o sentir não verbal da
realidade.
Ex.:
Qual era a sua face original – a que tinha antes dos seus pais o conceberem?
Pode produzir o som do bater das mãos. Mas qual é o som de uma mão?

Com a ajuda da mais sofisticada tecnologia a visão das propriedades dos átomos
perderam a noção macroscópica de bolos, como aa bolas de bilhar, que permitiam uma
experiência sensorial, para ser aprofundada, descobrindo camada após camada, da molécula,
aos átomos a que se seguiram os seus componentes – núcleo e eletrões – e depois os
constituinte do núcleo – protões e neutrões e demais partículas subatómicas. Desapareceu a
noção sensorial macroscópica, impedindo de ver os próprios fenómenos investigados,
permitindo observar apenas as suas consequências, manchas ou rastros em chapas
fotográficas, sons em contadores Geiger, etc.
À medida que penetramos mais na natureza, temos de abandonar progressivamente as
imagens e conceitos da linguagem vulgar. Inquirindo dentro dos átomos e investigando a sua
estrutura, a ciência ultrapassou os limites da nossa imaginação sensorial. A partir deste
momento, não podia confiar completamente na lógica do senso comum. A física atómica
dotou os cientistas dos primeiros relances da natureza essencial das coisas. À semelhança dos
místicos, os físicos lidavam agora com a experiência não sensorial da realidade e, como eles,
tinham de enfrentar os aspetos paradoxais desta experiência. A partir de então, os modelos e
as imagens da física moderna tornavam-se aparentados dos da filosofia oriental.

4 A nova física

A física clássica era baseada na noção de corpos sólidos que se moviam no espaço
vazio. Por exemplo o átomo. Esta noção continua a ser válida na zona da experiência
quotidiana. Zona das dimensões médias. Só que tanto o corpo sólido como o espaço vazio são
noções que foram destruídas pela física moderna a física atómica.
Quando Rutherford bombardeou átomos com partículas alfa, obteve resultados
sensacionais e totalmente inesperados. Longe das partículas pesadas e sólidas que se
acreditava serem desde a antiguidade, os átomos passaram a consistir em vastas regiões de
espaço vazio, nas quais partículas extremamente pequenas – os eletrões – se moviam em volta
de um núcleo, a isso compelidos por forças elétricas.
Para fazer uma ideia de grandeza dos átomos, o diâmetro do átomo tem dimensões
próximas da centésima milionésima parte de um milionésimo do centímetro, assim para
visualizar este tamanho diminuto, imagina uma laranja inchada até ao tamanho da Terra. Os
átomos da laranja teriam então o tamanho de cerejas. Miríades de cerejas apertadas num globo
do tamanho da Terra – aí está um quadro dos átomos numa laranja.
Um átomo é extremamente pequeno comparado com “laranjas”, mas é imenso
comparado com o núcleo no seu centro. Para poder observar um núcleo, teríamos de tornar o
átomo do tamanho da cúpula do nosso Palácio de Cristal, só assim poderíamos ver o núcleo
do tamanho de um grão de areia, e partículas de poeira rodopiando à sua volta.
Apesar do núcleo ser 100.000 vezes mais pequeno que o átomo, é composto por
nucleões (protões e neutrões) que são 2000 vezes maiores que os eletrões.
A teoria quântica mostrou que os átomos apesar da frequência de colisões entre eles
mantêm as suas características. A velocidade com que as partículas giram dentro do átomo é
tal que não se diz que apresentam um duplo aspeto onda-corpúsculo da matéria. Esta
velocidade sofre influência da proximidade entre os seus constituintes. Por exemplo o eletrão
circula a 600 Km/s; esta enorme velocidade faz parecer que o átomo é semelhante a uma
esfera rígida, pois que a sua rotação não se faz na mesma orbita, mas em todo um espaço,
mantendo um equilíbrio que os faz girar em torno do núcleo a uma distância tal que se
encontre entre a atração para o núcleo e a sua relutância em ser aprisionada. Mas dentro do
núcleo, protões e neutrões giram a 40.000 Km/s, sendo portanto uma forma de matéria muito
diferente da que observamos no nosso mundo macroscópico.
II – O caminho do misticismo oriental

5 Hinduísmo

Não se pode designar como filosofia, nem é uma religião bem definida. É uma ampla e
complexa estrutura sócio religiosa constituída por inúmeras seitas, cultos e sistemas
filosóficos, envolvendo múltiplos rituais, cerimónias e disciplinas espirituais, bem como a
adoração de um sem-número de deuses e deusas. As múltiplas facetas desta estrutura,
espelham as complexidades geográficas, raciais, linguísticas e culturais do vasto
subcontinente indiano.
As manifestações do hinduísmo vão das filosofias altamente intelectuais, até ao nível
de práticas rituais ingénuas e infantis das massas. Se a maioria dos hindus é de proveniência
humilde o hinduísmo criou nas suas fileiras mestres espirituais a produzir profundos
raciocínios.
A fonte espiritual reside nos Vedas, sem o Rigveda o mais importante e antigo (1700-
500 a.C.). O Upanishade é o último livro dos Vedas e contém a parte espiritual do hinduísmo.
O grosso do povo indiano recebeu os ensinamentos do hinduísmo não através do
Upanishade, mas de um grande número de contos populares, coloridos em enormes épicos,
que são a base da vasta e colorida mitologia indiana.
O Mahabharata contém o lindo poema espiritual que é o Bhagavad Gita onde
“Krishna, disfarçado de cocheiro de Arjuna, dirige o carro para o meio dos dois exércitos, e
neste cenário dramático do campo de batalha começa a revelar a Arjuna as verdades mais
profundas do hinduísmo. À medida que o deus fala, o teatro realista da guerra entre as duas
famílias cedo se desvanece e torna-se claro que a batalha de Arjuna é a batalha espiritual da
natureza humana, a batalha do guerreiro na busca da luz interior.
A base da instrução de Krishna, como de todo o hinduísmo, é a ideia de que a
multiplicidade das coisas e acontecimentos à nossa volta são apenas manifestações diversas
da mesma realidade última. Esta realidade, chamada Brahman, é o conceito unificador que
confere ao hinduísmo o seu carácter monístico essencial apesar da veneração de inúmeros
deuses e deusas.” Todos os deuses são apenas reflexos de uma realidade última.
Só ele (Brahman) é todos os deuses. A manifestação do Brahman na alma humana é
denominada de Atman, e a ideia que Atman e Brahman, a una e última realidade, são a
mesma coisa, é a essência da Upanishade.
O tema básico na mitologia hindu é a criação do mundo pelo autossacrifício de Deus –
sacrifício no sentido original de «tornar sagrado» – por meio de Deus vem o mundo que no
fim, se torna de novo Deus. Esta atividade criativa do divino é designada de “lila”, o
desempenho de Deus, e o mundo é visto como o palco do desempenho divino. Brahman é o
grande mágico que se transforma no próprio mundo e desempenha este feito como o seu
«poder mágico criativo», que é o significado original de maya no Rigveda. Maya, uma das
palavras mais importantes na filosofia indiana, foi alterando o seu significado ao longo dos
séculos. Da «força», ou «poder», do divino ator e mágico, tornou-se sinónimo do estado
filosófico de qualquer pessoa sob o fascínio de um desempenho magico. Enquanto
confundirmos as miríades de formas do divino lila com a realidade, sem apreender a unidade
de Brahman sublinhando todas estas formas, estamos sob a influência de maya.
Maya, portanto, não significa que o mundo seja uma ilusão. A ilusão está meramente
no nosso ponto de vista, se pensarmos que as formas e estruturas, coisas e acontecimentos que
nos rodeiam são realidades da natureza, em vez de entender que são conceitos do nosso
espírito quantificador e categorizador. Maya é a ilusão de tomar estes conceitos pela
realidade, de confundir o mapa com o território.
Na visão hindu da natureza todas as formas são relativas, fluidas e maya em contínua
mudança, conjuradas pela grande magia da atividade divina. O mundo de maya muda
continuamente porque o divino lila é um desempenho rítmico e dinâmico. A força dinâmica
da atividade é Karma que significa ação. É o princípio ativo do desempenho, o universo total
em ação, onde tudo está divinamente relacionado com tudo o resto. Nas palavras do Gita,
«karma é a força da criação, donde todas as coisas retiram a sua vida».
O significado de Karma, como o de maya, foi trazido do seu nível cósmico original
para o nível humano, onde adquiriu um sentido psicológico. Enquanto a nossa visão do
mundo for fragmentada, enquanto estivermos sob o fascínio de maya e pensarmos que
estamos separados do nosso meio e podemos agir independentemente, estamos dominados por
karma. Ser livre do vínculo de karma significa entender a unidade e harmonia de toda a
natureza, incluindo nós próprios e agir adequadamente.
Ser livre do fascínio de maya, quebrar as amarras de karma, significa entender que
todos os fenómenos que apreendemos com os nossos sentidos são parte da mesma realidade.
Significa sentir, concreta e pessoalmente, que tudo, incluindo nós próprios, é Brahman. Este
sentir é denominado Moksha, ou «libertação» na filosofia hindu, e é a própria essência do
hinduísmo.
A escola mais intelectualizada é a védica, que é baseada no Upanishade, realça
Brahman como um conceito impessoal, metafísico, livre de qualquer conteúdo mitológico.
Envolve uma meditação diária e outros exercícios espirituais para atingir a união com
Brahman.
Outro método é o ioga, que significa «emparelhar», «juntar» e que se refere à união da
alma individual com Brahman. Existem várias escolas, ou vias, de ioga envolvendo treino
físico diário e variadas disciplinas mentais concebidas para pessoas de tipos diferentes e de
níveis espirituais diferenciados.
Sendo Brahman a realidade única, o Todo, na Índia são venerados mais de 30.000
divindades, constituindo todas facetas de Brahman. As três mais veneradas são: Brama, o
Criador, Vishnu, o Conservador e Shiva, o Destruidor, conhecidos como Trimurti e Shakti a
mãe divina.
Todos eles podem surgir com outros nomes como por exemplo Shiva com Mahesvara
e Nataraja, Vishnu surge como Krishna no Bhagavad Gita, etc.

Moksha – Libertação
Lila – atividade criativa do divino
Maya – “força ou poder divino”, é a ilusão de tomar as formas, estruturas, coisas e
acontecimentos como a realidade; de confundir o mapa com o território.
Karma – força dinâmica da atividade e significa ação.
Atman – É a manifestação de Brahman na alma humana.

6 Budismo

Ao contrário do hinduísmo o Budismo tem um único fundador: Siddhartha Gautama, o


Buda “histórico”, que viveu na Índia no século VI a.C. (566-486), durante um período em que
viveram, Confúcio, Lao Tzu, na China, Zaratustra na Pérsia, Pitágoras e Heráclito na Grécia.
Se a essência do hinduísmo é mitológico e ritualista, o budismo é psicológico.
Gautama não estava interessado em satisfazer a curiosidade humana acerca da origem do
mundo, a natureza do Divino ou questões semelhantes. Estava preocupado com a situação
humana, com o sofrimento e frustrações dos seres humanos. A sua doutrina não era do tipo
metafísico mas de psicoterapia. Indicou a origem das frustrações humanas e a maneira de as
ultrapassar. Para isso tomou os conceitos tradicionais indianos de maya, karma, nirvana, etc.,
conferindo-lhes uma interpretação psicológica fresca, dinâmica e diretamente relevante.
Depois de Buda a sua doutrina desenvolveu-se em duas escolas principais, a
Hinayana, ou Pequeno veículo, escola ortodoxa que se prende aos ensinamentos de buda e
Mahayana ou Grande Veículo, com uma atitude mais flexível, acreditando que o espírito da
doutrina é mais importante que a sua formulação original.
A Hinayana estabeleceu-se no Ceilão, Birmânia e Tailândia enquanto a Mahayana se
difundiu pelo Nepal, Tibete, China e Japão. Na Índia, Buda foi absorvido como uma
encarnação de Vishnu.
As quatro Nobres Verdades são uma apresentação compacta da doutrina essencial de
buda. Na primeira, dukkha, sofrimento e frustração, afirma a característica emergente da
situação humana. A segunda diz respeito à causa do sofrimento, Trishna que é pegajoso ou
ávido. Na terceira afirma que o sofrimento e frustração podem ter fim. É possível ultrapassar
o círculo vicioso de samsara, para nos libertarmos da sujeição de karma, e atingir um estado
de total libertação, o nirvana. A quarta é a prescrição de buda para acabar com o sofrimento, a
oitava via para o autodesenvolvimento que conduz ao estado de buda.

7 O pensamento chinês

Durante o século VI a.C., os dois aspetos da filosofia chinesa desenvolveram-se em


duas escolas completamente distintas: confucionismo e taoísmo.
O confucionismo (Kung Fu Tzu = Confúcio) era a filosofia da organização social, do
senso comum e do conhecimento prático. Assegurava à sociedade chinesa um sistema de
educação e um sem número de convenções estritas de etiqueta social. Um dos seus objetivos
principais era o de formar uma base ética para o tradicional sistema de família chinesa, com
toda a sua complexa estrutura e os seus rituais de adoração dos antepassados.
O taoísmo, por outro lado, procurava principalmente, a observação da natureza e a
descoberta do seu rumo, ou Tao. A felicidade humana, para os taoistas, é alcançada quando se
segue a ordem natural, se atua espontaneamente ou se confia no próprio conhecimento
intuitivo.
Apesar de estas duas tendências de pensamento representarem polos opostos na
filosofia chinesa, para os próprios chineses esta dualidade foi sempre encarada como um e o
mesmo aspeto da natureza humana, e como tal, complementares. O confucionismo era
enfatizado na educação das crianças que tinham de aprender as regras e convenções
necessárias à vida em sociedade, enquanto que o taoísmo era seguido por grupos etários mais
idosos, para recuperarem e desenvolverem a espontaneidade original que fora destruída pelas
convenções sociais.

A tradição chinesa associou Confúcio com os denominados “Seis Clássicos”, antigos


livros de pensamento filosófico, rituais, poesia, música e história, que representavam a
herança cultural e espiritual dos «sábios sagrados» do passado chinês. A cultura moderna, no
entanto, afirma que Confúcio não encarnava nenhuma relação com estes clássicos, as suas
ideias próprias ficaram conhecidas através do Lun Yü, ou analectos confucianos, uma
compilação de aforismos feita por alguns dos seus discípulos.

O criador do taoísmo foi Lao Tzu, cujo nome significa literalmente, «o sábio velho» e
que era, de acordo com a tradição, um contemporâneo, mais velho de Confúcio. Diz-se ter
sido o autor de um pequeno livro de aforismos, que é considerado como a principal escritura
do taoísmo, o Tao Te Ching, (“Clássico do Caminho e do Poder”). Outro livro importante do
pensamento taoista é Chuang-tzu, cujo autor Chuang Tzu viveu duzentos anos depois de Lao
Tzu. De acordo com a cultura moderna, ambas as obras não podem ser consideradas como
sendo de um único autor, constituindo antes uma compilação de escritos taoistas feita por
autores diferentes em épocas diferentes.

Os chineses, tal como os indianos, acreditam na existência de uma realidade última


que está subjacente e unifica a multiplicidade de coisas e acontecimentos que observamos:

“Existem três formas – «completo», «tudo abarcante» e «o todo». Estas palavras são
diferentes, mas a realidade nelas contidas é a mesma: refere-se à coisa única. Chuang Tzu

Chamavam a esta realidade o Tao, que significa o caminho. É o caminho, ou processo,


do universo, a ordem da natureza. No sentido cósmico é a realidade última e indefinível, e
como tal, o equivalente hindu a Brahman e do Dharmakaya budista.
As características do Tao são a sua natureza cíclica e o seu movimento e mudança
incessantes. «O retorno é o movimento do Tao», diz Lao Tzu e «progredir significa
retroceder». A ideia envolvida é que todos os desenvolvimentos na natureza, aqueles do
mundo físico e os das situações humanas, exibem características cíclicas oscilantes, de
expansão e contração.

À noção de padrões cíclicos na dinâmica de Tao foi dada uma estrutura bem definida
pela introdução dos polos opostos yin e yang. São eles que impõem os limites para os ciclos
de mudança:
O yang, tendo o seu clímax, retrocede em favor do yin: o yin, tendo atingido o seu
clímax, retrocede em favor do yang. (Wang Ch’ung)
O significado original das palavras yin e yang era o dos lados de uma montanha, – o
luminoso, exposto ao sol, e o sombrio – uma analogia que fornece um bom exemplo da
relatividade dos dois conceitos:
“Aquilo que, ora permite a escuridão, ora permite a luz, é o Tao.”

A ilustração do Yin Yang é um símbolo chinês denominado de T’ai-chi T’u, ou


«Diagrama do derradeiro final».
O diagrama é um arranjo simétrico entre o escuro do yin e a luminosidade do yang,
mas esta simetria não é estática. É uma simetria embebida num sentido de rotação, sugerindo,
de uma forma intensa, um movimento cíclico contínuo. Os dois pontos simbolizam a ideia de
que, ao alcançarem o máximo, as duas forças contêm em si a semente do seu oposto.
“A vida”, diz Chuang Tzu, “é a mistura harmoniosa do yin e do yang”.

O I Ching, ou o Livro das Mudanças, é o principal dos Seis Clássicos tradicionais


chineses e deve ser considerado como a obra que se situa no centro do pensamento e da
cultura chinesa. (semelhante à Bíblia). A sua origem retrocede à antiguidade mítica e tem
ocupado a atenção dos mais eminentes académicos chineses até aos tempos presentes. Quase
tudo o que é mais importante e significativo nos três mil anos de cultura e história chinesas
teve a sua inspiração neste livro, ou então exerceu uma forte influência na interpretação
deste texto. Assim, pode afirmar-se com segurança que esta sabedoria milenária foi
empregue na construção do I Ching.

O ponto de partida para o livro foi um conjunto de sessenta e quatro figuras, os


«hexagramas», que se baseiam no simbolismo do yin (linhas descontinuas) e yang (linhas
contínuas) e que eram empregues como oráculos. O propósito não é só conhecer o futuro mas
descobrir a disposição da situação presente. Esta atitude elevou o I Ching do nível da simples
adivinhação, tornando-se num livro de sabedoria. Inspirou pensadores como o Lao Tzu e o
Confúcio que estudaram a maioria dos comentários existentes no livro.

8 O Taoísmo

Das duas correntes principais do pensamento chinês é o Taoísmo que tem maior cariz
místico. Tal como o hinduísmo e o budismo, o taoísmo está relacionado com a sabedoria
intuitiva, em vez do conhecimento racional.
A desconfiança no conhecimento convencional e no raciocínio é mais forte no taoísmo
do que em qualquer outra filosofia oriental. Baseia-se na sólida crença de que o intelecto
humano nunca poderá compreender o Tao. Nas palavras de Chuang Tzu:
“O conhecimento mais profundo não se compreende, necessariamente a si próprio; o
raciocínio não torna os homens mais sábios. Os sábios são contra ambos estes métodos.”

“A não ação não significa ficar parado ou manter o silêncio. Deixem que tudo o que
acontece naturalmente aconteça, de tal forma que a sua natureza se satisfaça.” Chuang Tzu
“Se alguém pergunta o que é o Tao e o outro responde” diz Chuang Tzu “então
nenhum dos dois o conhece.”

9 O Zen

A introdução do budismo indiano na sociedade chinesa estimulou os pensadores


chineses e levou-os a interpretar os seus ensinamentos à luz das suas próprias filosofias.
Surgiu assim uma frutuosa troca de ideias, a qual culminaria na escola chinesa de budismo
Hua-yen (em sânscrito avatamsaka) e na escola japonesa Kegon.
Por outro lado o pragmatismo da mentalidade chinesa respondeu ao impacto do
budismo indiano concentrando-se nos seus aspetos práticos, desenvolvendo-os numa espécie
de disciplina espiritual, à qual foi atribuído o nome de ch’an, uma palavra traduzida por
meditação. Esta filosofia ch’an foi provavelmente adotada pelo Japão por volta de 1200 d.C.,
tendo-se aí desenvolvido sob o nome de Zen até aos nossos dias.
O Zen é assim uma fusão única das filosofias e idiossincrasias de três culturas
diferentes. É uma forma de vida tipicamente japonesa refletindo, no entanto, o misticismo
indiano, a afeição taoista pela naturalidade e espontaneidade e o pragmatismo minucioso da
mentalidade confuciana.
O Zen é puramente budista, pois que, tal como Buda, o seu propósito é o de alcançar
um estado iluminado, que no Zen se chama satori, sendo a única escola de filosofia oriental a
concentrar-se no conhecimento iluminado, não se interessando por qualquer outra
interpretação. A essência do budismo Zen é o de alcançar o despertar, tudo o resto é
suplementar sem qualquer tipo de abstração ou conceptualização. Não tem qualquer tipo de
filosofia ou doutrina própria, nenhum credo ou dogma, e afirma que só assim é
verdadeiramente espiritual.
Existem no Japão duas escolas Zen. A escola Rinzai, ou «súbita», emprega o método
Koan e a escola Soto ou «gradual» com um amadurecimento gradual do estudante Zen,
invocando um «estado de quietude» e o usar o trabalho quotidiano como duas formas de
meditação.
As duas escolas atribuem grande importância ao zazen, ou meditação sentada, praticada
diariamente nos mosteiros Zen durante muitas horas.

Pacificamente sentado, sem nada fazer,


A Primavera vem, e a erva cresce por si só.

III – Os paralelos
Ou um paralelismo entre a visão mística de conhecimento no oriente e a as características fundamentais
da visão do mundo emergente da física moderna.

10 A unidade de todas as coisas

Todas as coisas são vistas como partes interdependentes e inseparáveis de um todo


cósmico, diferentes manifestações de uma realidade definitiva. As tradições orientais referem-
se constantemente a esta última, indivisível realidade que se manifesta a si mesma em todas as
coisas, e da qual todas as coisas fazem parte. É referida como Brahman no hinduísmo,
Dharmakaya no budismo e Tao no taoismo. Porque transcende todos os conceitos e
categorias, os budistas também lhe chamam Tathata, ou Omnisciência:
O significado espiritual de Omnisciência é a unicidade de toas as coisas, o grande
todo que tudo inclui.

O carácter único do universo não é só a característica central do conhecimento místico,


como é também uma das revelações mais importantes da física moderna.
A teoria quântica revela a interconexão essencial que rege o universo. Mostra que
podemos decompor o mundo em pequenas unidades que existem independentemente. À
medida que penetramos na matéria, descobrimos que ela é feita de partículas, mas estas não
são os «blocos básicos de construção» descritos por Demócrito ou Newton. São apenas meras
abstrações que s tornam úteis de um ponto de vista prático, mas que não têm realidade em si.
Nas palavras de Niels Bohr, «partículas isoladas de matéria são abstrações, as suas
propriedades são definíveis e observáveis apenas através da sua interação com outros
sistemas».

A nível atómico, os objetos materiais da física clássica dissolvem-se em padrões de


probabilidade, e esses padrões não representam probabilidades de coisas, mas sim
probabilidades de interconexões. A teoria quântica força-nos a ver o universo não como uma
coleção de objetos físicos, mas sim como uma complicada teia de relações entre as várias
partes de um todo unificado. Esta é também a forma segundo a qual os místicos orientais têm
sentido o mundo, e alguns deles exprimem-no em palavras que são quase idênticas às usadas
pelos físicos atómicos. Eis dois exemplos:

O objeto material torna-se… algo de diferente do que agora vemos, não um objeto
separado de um fundo natural, mas sim uma parte indivisível e, até de uma forma subtil, uma
expressão da unidade do todo que observamos.
Sri Aurobindo, in Síntese do Yoga

As coisas derivam a sua natureza e porvir de uma dependência mútua e não são nada
isoladamente.
Nagarjuna, in T.R.V. Murti

Se estas asserções pudessem ser tomadas como uma representação da natureza na


física atómica, então as próximas, de físicos atómicos podiam ser tomadas como uma
descrição do sentir místico da natureza:

Uma partícula elementar não é uma entidade que exista independentemente. É, em


essência, um conjunto de relações que abrange externamente outras coisas.
H.P. Stapp

O mundo aparece assim como uma complicada confluência de acontecimentos, no


qual ligações de diferentes tipos se alternam, sobrepõem ou combinam, e assim determinam a
textura do todo.
W. Heisenberg in Physics and Philosophy

No misticismo oriental, este enredo universal inclui sempre o observador humano e a


sua consciência e isto é também verdade na física atómica. Ao nível atómico, os «objetos»
podem ser entendidos apenas em termos da interação entre os processos de preparação e
medição. O fim desta cadeia de processos situa-se sempre na consciência do observador
humano. As medições são interações que criam «sensações» na nossa consciência – por
exemplo, a sensação visual de um clarão de luz, ou de um ponto negro numa chapa
fotográfica – e as leis da física atómica dizem-nos com que probabilidade um objeto atómico
causará uma determinada sensação se o deixarmos interatuar connosco. A «ciência natural»,
diz Heisenberg, «não apenas descreve e explica a natureza; é uma parte de uma ação recíproca
entre a natureza e nós mesmos».
A caraterística crucial da física atómica é o facto de o observador humano ser
necessário, não só para observar as propriedades de um objeto, mas também para as definir.
Em física atómica, não se pode falar acerca das propriedades de um objeto em si mesmo, que
apenas tem significado no contexto da interação do objeto com o observador. Nas palavras de
Heisenberg, «o que observamos não é a própria natureza, mas a natureza exposta pelo nosso
método de questionar». O observador decide qual vai ser o método empregue para quantificar
e esta opção vai determinar, de alguma forma, as propriedades do objeto observado. Se a
opção é modificada, as propriedades do objeto observado modificar-se-ão
correspondentemente.

Em física atómica o cientista não pode desempenhar o papel de um observador


objetivo e destacado – fica envolvido no mundo que observa ao influenciar as propriedades
dos objetos observados. John Wheeler vê este envolvimento do observador como a
característica mais importante da teoria quântica e, por esse motivo, sugeriu que a palavra
«observador» fosse substituída pela palavra «participador».
O conceito de participador em vez de observador, recentemente formulado na física
moderna, é uma ideia bastante familiar a qualquer estudioso do misticismo. O conhecimento
místico nunca pode ser obtido somente pela observação, mas apenas pela participação
empenhada de todo o nosso ser.
Na meditação profunda alcançam um ponto em que a distinção entre observador e
observado se desfaz por completo, onde sujeito e objeto se fundem num todo indiferenciável e
único.
Esta é a súmula da unidade de todas as coisas. É alcançada – como dizem os místicos
– num estado de consciência onde a nossa individualidade se dissolve num estado único
indiferenciável, onde o mundo dos sentidos é transcendido e se abandona a noção de «coisas».
Nas palavras de Chuang Tzu:
Dissolve-se a minha ligação entre o corpo e os seus membros. Os meus órgãos
percetivos são ignorados. Assim, abandonando a minha forma material e lançando um adeus
ao meu conhecimento, eu torno-me uno como o grande omnipresente. A isto chamo estar e
esquecer todas as coisas.

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