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Resumo AULA 2.

O INATISMO NOS FILÓSOFOS DA ANTIGUIDADE


O inatismo, sistema filosófico que postula que as ideias são inatas, teve sua origem na antiguidade, com
Platão e seus discípulos. Para Platão, as ideias estão na alma do homem, não na natureza, e o conhecimento
é obtido através da reflexão sobre o mundo das ideias. Seu método é a dialética, que busca encontrar ideias
como justiça e bondade. Aristóteles, por outro lado, acreditava que a realidade reside nos objetos
perceptíveis pelos sentidos e que o conhecimento é adquirido através da experiência e observação. Ambos
defendem posições inatistas e ambientalistas, que posteriormente foram classificadas como racionalistas e
empiristas. Platão também discorreu sobre a alma humana e a organização da sociedade, enquanto
Aristóteles focou em estudar o mundo animado, sendo considerado um realista. Essas discussões
influenciaram a Psicologia Filosófica até o século XVII, quando surgiram debates sobre a fonte do
conhecimento: se advém das sensações, com a importância da experiência, ou se depende da razão para
fornecer uma visão precisa da realidade.

O INATISMO NAS ÉPOCAS MEDIEVAL E MODERNA


Na Idade Média, a filosofia escolástica, influenciada por Aristóteles, debateu sobre a realidade das ideias
gerais. Surgiram três escolas: o realismo, o nominalismo e o conceptualismo. Santo Agostinho retomou
ideias platônicas, adaptando-as à doutrina cristã. São Tomás de Aquino, inspirado em Aristóteles, também
teve destaque na Escolástica. A revolução científica iniciada por Nicolau Copérnico, com a teoria
heliocêntrica, e continuada por Galileu Galilei, marcaram a Idade Moderna. Esse período viu o surgimento
do empirismo e do racionalismo, com Descartes e Locke como principais representantes. O cartesianismo
privilegia a razão como fonte de conhecimento, enquanto Locke rejeita as ideias inatas, defendendo que todo
conhecimento deriva da experiência sensorial. Essas discussões influenciaram a formação das faculdades
mentais na psicologia, buscando compreender a relação entre pensamento e realidade percebida.

O INATISMO NA IDADE CONTEMPORÂNEA


No final do século XIX, surgiram avanços significativos nas ciências físicas e naturais, destacando-se dois
cientistas que mudaram as concepções sobre o ser humano, três séculos após Galileu. Louis Pasteur, através
de seus estudos sobre micro-organismos, revelou que muitas doenças são causadas por esses seres
microscópicos, desafiando a ideia de que as pessoas morriam por desígnios divinos. Pasteur desenvolveu a
técnica de pasteurização para evitar a fermentação e propôs vacinação para conter epidemias, demonstrando
o papel dos micro-organismos na transmissão de doenças.

Por sua vez, Charles Darwin, com sua obra "A Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural",
publicada em 1859, propôs a teoria da evolução das espécies, baseada na seleção natural e na adaptação
gradual ao ambiente. Essa teoria desafiou o criacionismo defendido pela religião católica, ao sugerir que as
espécies se desenvolvem ao longo do tempo por meio de processos naturais, sem a necessidade de
intervenção divina direta.

Atualmente, novos fatores são considerados na evolução das espécies, como variações genéticas e
somáticas, determinantes geográficos e isolamento de populações. Esses avanços científicos na biologia
deslocaram o ser humano do centro da criação, confrontando antigas concepções sobre sua posição
privilegiada no mundo natural.
O INATISMO E A PSICOLOGIA
Até o final do século XIX, a Psicologia estava fortemente ligada à filosofia, mas nas últimas décadas desse
período, houve uma tendência de separação, visando torná-la uma ciência independente. Esse movimento
também afetou a Educação, que passou a buscar na Psicologia embasamento para teorias educacionais
científicas, originando a Psicologia da Educação no início do século XX. A busca por cientificidade foi
impulsionada por Claude Bernard, promovendo métodos experimentais precisos na medicina. Esse método
tornou-se padrão em várias áreas, incluindo a Psicologia, que passou por uma fase experimental até o final
do século passado. Apesar de críticas, a teoria evolucionista se desenvolveu com novas evidências e
contribuições da etologia e genética, revolucionando a compreensão do ser humano em evolução.

INATISMO NA PSICOLOGIA E NA EDUCAÇÃO


O inatismo na psicologia e na educação surge com a busca pela cientificidade, seguindo o caminho das
ciências naturais. Wilhelm Wundt estabelece o primeiro Laboratório de Psicologia Experimental em 1879,
liderando o movimento do estruturalismo, que foca na consciência e utiliza a introspecção para analisar os
processos mentais em seus elementos. Além disso, os estruturalistas procuram identificar as estruturas no
sistema nervoso relacionadas a esses processos. No início do século XX, houve avanços na criação de testes
e instrumentos de medida, como o teste Stanford-Binet de Alfred Binet, que possibilitou a avaliação da
inteligência. Esses testes foram desenvolvidos para medir tanto um fator geral de inteligência quanto fatores
específicos relacionados à capacidade intelectual. Outros testes foram criados para medir habilidades e
aptidões, visando determinar as capacidades dos alunos em relação à aprendizagem, como parte da onda
psicométrica que buscava facilitar o trabalho dos educadores.

ALÉM DA DICOTOMIA INATISMO-AMBIENTALISMO


Além da dicotomia inatismo-ambientalismo, é importante entender que a Psicologia e a Filosofia, em seus
primórdios, se confundiam. As relações entre Psicologia e Educação também eram influenciadas por
premissas filosóficas. Contudo, é necessário reconhecer que as teorias psicológicas e educacionais
avançaram além dessa dicotomia, incorporando conhecimentos de diversas áreas.

A dicotomia inato-ambiental simplifica a complexa diversidade humana em apenas duas possibilidades,


como hereditário versus aprendido, essencialismo versus construtivismo social, sociedade versus natureza
ou ainda "natureza" versus "cultura". No entanto, é insuficiente tentar entender os fenômenos psíquicos
apenas por essas duas vertentes. É preciso considerar que tanto processos externos quanto internos têm
significância anterior à existência do ser humano, influenciados pela história da sociedade em que ele está
inserido.

Na Psicologia da Educação, foram fundamentais os estudos sobre diferenças individuais, processos e tipos
de aprendizagem, e desenvolvimento infantil. Essas áreas foram influenciadas por diversas disciplinas, como
Astronomia, Psicologia cognitiva e ciências biológicas.

A aprendizagem é um processo complexo que envolve tanto fatores inatos quanto ambientais, relacionados
aos contextos políticos, econômicos, históricos e ideológicos. É mais abrangente do que a dicotomia inato-
ambiental sugere, podendo ser estudada em várias dimensões, não apenas como uma dicotomia.

As teorias cognitivas da aprendizagem se aproximam do inatismo, pois enfatizam a importância das


representações mentais e dos processos cognitivos. O construtivismo piagetiano, por exemplo, também
possui princípios ligados ao inatismo, baseados na maturação biológica e na interação do sujeito com o meio
para o desenvolvimento cognitivo.
Essas teorias desafiam a dicotomia inatismo-ambientalismo, sugerindo uma visão mais interacionista, onde a
criança interage com o meio para a formação do pensamento. Assim, os termos inatismo e ambientalismo
adquirem conotações diferentes em diferentes áreas do conhecimento, indicando a necessidade de uma
abordagem mais ampla e integrada.

O INATO NA PERSPECTIVA ETOLÓGICA


A Etologia, como a biologia do comportamento, trouxe uma nova abordagem inatista para entendermos o
comportamento animal. Surgindo na Europa, ela se concentrou inicialmente nos instintos das espécies em
seus ambientes naturais, com pesquisas pioneiras de Lorenz e Tinbergen sobre o imprinting e outros
comportamentos inatos em aves. Esses comportamentos, geneticamente programados, são essenciais para a
sobrevivência da espécie e do indivíduo, muitas vezes ocorrendo independentemente da experiência ou
aprendizagem.

Os estudos etológicos revelaram a importância dos estímulos sinais na ativação de comportamentos inatos,
como o alerta de predadores em aves. Além disso, destacaram a ideia de que muitos comportamentos
animais são fixos e inatos, ocorrendo espontaneamente e sendo desencadeados por causas internas. Lorenz
defendeu que o comportamento humano segue as mesmas leis causais da natureza, mas compreendê-las
pode aumentar nosso autocontrole.

Posteriormente, a etologia influenciou áreas como a psicologia, especialmente a psicologia evolucionista,


ampliando a compreensão das causas do comportamento humano. Essa integração de perspectivas
biológicas e sociais é essencial para entendermos completamente o ser humano, visto que somos seres tanto
biológicos quanto sociais. A teoria da evolução, como pressuposto teórico, pode enriquecer nossa
compreensão dos motivos por trás do comportamento humano.

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