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Aula 3

História da educação a distância:


quando e como tudo começou?

Veronica Ramos Gomes


Aula 3 • História da educação a distância: quando e como tudo começou?

Meta

Apresentar a trajetória histórica da Educação a Distância no mundo.

Objetivos

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
1. Identificar as diferentes gerações da Educação a Distância no mundo;
2. Conhecer a história da Educação a Distância no mundo.

Pré-requisito

Para melhor compreensão desta aula, é indicada a leitura da discussão


teórica proposta nas aulas anteriores.

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Educação a distância

Introdução

Olá, estudante!
Nas aulas passadas, levamos você a conhecer e pensar sobre os di-
versos conceitos e características de Educação a Distância, assim como
a relação entre a evolução da EaD e os avanços tecnológicos ocorridos
na sociedade.
Passamos agora para a história da Educação a Distância no mundo:
como a modalidade caminhou até ser possível que este material chegas-
se a suas mãos.

Quando e como tudo começou?

Olá! Está pronto para nossa para viagem ao passado da EaD?


A troca de correspondências com orientações para a população exis-
te desde a Antiguidade, primeiramente na Grécia e posteriormente em
Roma. Uma rede de correspondência visava a levar informação, instru-
ção e orientação aos cidadãos; era uma forma de afirmação do poder
central desses impérios.
Mas antes de continuarmos nossa trajetória, pense e responda: Para
você, essas formas de comunicação e instrução já se caracterizariam
com EaD?

O pioneiro da EaD

Para o autor Otto Peters, o apóstolo Paulo seria um dos pionei-


ros na utilização de um ensino assíncrono, mediado pela escrita.
Isto porque o apóstolo criou epístolas (cartas) para ensinar a vida
cristã às comunidades da Ásia Menor (corresponde hoje à porção
asiática da Turquia). Eram tempos difíceis para aqueles que pro-
fessavam o Cristianismo.
Peters, Otto. A educação a distância em Transição: tendências e
desafios. RS: Editora Unisinos, 2004

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Avançaremos numa viagem panorâmica...


O primeiro registro sobre um curso a distância é de um anúncio do
jornal Gazeta de Boston, no qual, em 20 de Março de 1728, o professor
Taquigrafia de taquigrafia Cauleb Phillips enviaria suas lições semanalmente, por
Termo geral que define correspondência, para todo aluno inscrito.
todo método abreviado ou
simbólico de escrita com Embora fosse uma ação isolada, já era de profunda importância para
o objetivo de melhorar a
velocidade ao escrever. as pessoas envolvidas, pois constituía uma forma de levar instrução
numa época de muito isolamento. Em todo o mundo, o sistema regular
de ensino ainda atendia a uma parte restrita da população.
Por isto, respondendo à pergunta do nosso parágrafo inicial, a tro-
ca de correspondência, levando algum tipo de instrução ou orientação,
pode ser considerada educação a distância, tendo em vista logicamen-
te a realidade histórica daquela época. As cartas não tinham objetivos
educacionais, mas as instruções contidas naquele tipo de comunicação
orientavam e instruíam as pessoas, facilitando suas vidas.
Lembramos que a evolução da educação a distância sempre cami-
nhou junto com as transformações sociais, econômicas, culturais e tec-
nológicas de cada época.
Somente, então, na metade do século XIX, teve início o desenvol-
vimento de uma ação institucionalizada de educação a distância. Seu
pano de fundo histórico foi o processo industrial, que emergia com for-
ça, e a falta de pessoas qualificadas para enfrentar esta nova realidade
econômica, principalmente na Europa, numa sociedade ainda campo-
nesa e artesã.
A EaD passou por várias etapas, fases ou, como consta na literatu-
ra, por várias gerações. Embora autores como Moore e Kearsley (2007)
proponham a ideia de que a EaD passou por cinco gerações, trabalhare-
mos com três gerações, como apresenta Peters (2001), por entendermos
que elas são abordadas de forma mais sucinta, mas ao mesmo tempo
abrangentes.

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Educação a distância

Atividade 1

Atende ao objetivo 1

Pesquise em um site de busca sobre as cinco gerações que os autores Mi-


chael G. Moore e Greg Kearsley apresentam. Destaque cada uma delas e
escreva as principais características.

Resposta comentada
Além das três gerações que abordaremos aqui, eles classificam a criação
da UA ( universidade aberta) como a geração três; a videoconferência
com a chegada dos satélites como a geração quatro; o uso dos computa-
dores e internet como a geração cinco.

Sendo assim, vamos conhecer cada uma dessas três gerações, come-
çando com a primeira, que é baseada em material escrito enviado por
correspondência, beneficiado pelo avanço das ferrovias e serviços pos-
tais regulares, confiáveis e baratos.
A segunda geração é marcada pelos veículos de comunicação de
massa eletrônicos; primeiro, o rádio, depois a TV, posteriormente o ví-
deo e as fitas cassetes. É também marcada pela criação da primeira uni-
versidade aberta do mundo.
A terceira geração integra a invenção da internet, o uso do computa-
dor pessoal, a mediação das tecnologias de informação e comunicação,
a busca de um design didático mais criativo. É a nossa atual fase!
É importante que tenhamos clareza de que o meio tecnológico
empregado em qualquer geração não exclui a utilização de outros meios

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de comunicação das gerações anteriores. Por exemplo, o material im-


presso está presente até hoje, ou seja, ele caminhou junto com a evo-
lução dos novos meios de comunicação. Assim como o rádio e a TV,
convivem em cursos cuja principal ferramenta é o uso do comutador.
Além disso, o aparecimento de novas tecnologias no meio educacio-
nal não significa necessariamente melhoria na qualidade da educação,
visto que o fato implicaria reformulação de currículo, aprimoramento do
professor e outras questões envolvidas, pois, como afirma Kenski, 2008:

“ Para que as novas tecnologias não sejam vistas apenas como


mais um modismo, mas com o poder educacional transforma-
dor que elas possuem, é preciso refletir sobre o processo de en-
sino de maneira global. Antes de tudo, é necessário que todos
estejam conscientes e preparados para assumir novas perspecti-
vas filosóficas, que contemplem visões inovadoras de ensino e de
escola (...) para a concretização de um ensino crítico e transfor-
mador de qualidade.”

Veremos, a seguir, as características de cada geração mencionada.

Primeira Geração: estudo ou


educação por correspondência

A história da EaD tem início e se fortalece em todos os lugares onde


o processo industrial modificou o espaço e a forma de produção da so-
ciedade. Isso significa que a sua caminhada começa com cursos de ins-
trução, capacitando indivíduos para trabalhar nas indústrias, pois essa
era a nova realidade do mercado de trabalho. Eram chamados usual-
mente como estudos por correspondência, estudos em casa ou estu-
dos independentes.
Pela primeira vez, as pessoas receberiam em sua casa ou no trabalho
material impresso, preparado por um professor a distância. Isto ajuda-
ria os estudantes que foram deixados de lado pelo sistema educacional
da época e pessoas desejosas de ascender socialmente e melhorar sua
condição de vida.
Ora! Podemos perceber, desde o início, a vocação de democratização
do conhecimento da EaD, no sentido de abarcar pessoas que ficaram
fora do modelo presencial das instituições de ensino.

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Educação a distância

Originalmente, a comunicação na EaD não incorporava a possibili-


dade de diálogo ou de apoio ao estudante, centralizando-se na instrução
e condução do professor (tendendo ao estabelecimento de uma relação
vertical, de total subordinação do primeiro para com o segundo). Ape-
sar disso, tais propostas já carregavam em seu bojo um notável sentido
democratizante, pois representavam, para muitas pessoas, a única pos-
sibilidade de acesso à oferta educativa.
Continuando nossa viagem...
Com o passar do tempo, outros cursos por correspondência se suce-
deram ao do professor Cauleb. No Reino Unido, o educador Isaac Pitman
criou seu curso de taquigrafia em 1840; em 1850, o francês Charles Tous-
santi e o alemão Gustav Langenscheidt iniciaram um intercâmbio de lín-
guas, o que levou à criação de uma escola de idiomas por correspondên-
cia. Esses cursos só floresceram pela credibilidade dos serviços postais.
Assim, a partir 1878, já eram oferecidos cursos de Literatura (com
duração de quatro anos) pelo Círculo Literário e Científico Chautau- Chautauqua
qua; eram cursos complementares de verão. Cidade americana
localizada no estado
Os educadores que pensavam EaD na época tinham várias ideias so- do Kansas.

bre como utilizar a modalidade de forma a atender as necessidades do


momento na sociedade; uns achavam que a universidade deveria atuar
de forma mais direta na vida das pessoas, afastando-se mais dos conhe-
cimentos preestabelecidos pela academia e auxiliando mais no dia a dia.
Assim, prosperaram cursos de introdução às práticas de agricultura,
engenharia, administração e economia doméstica, dentre outros, como
um curso de segurança em minas de carvão, na Pensilvânia (EUA), com
o nome de Colliery Engineer Schools, cujo sucesso foi enorme. Chama-
mos a atenção para o fato de o carvão ser o combustível da primeira
revolução industrial, empregando grande número de pessoas. Uma ati-
vidade perigosa, cujos acidentes eram frequentes.
Dentre aqueles objetivos iniciais dos educadores por correspondên-
cia, atender a pessoas sem acesso ao ensino formal, no contexto cultural
do século XIX, incluía as mulheres.
As mulheres desempenharam, por esta razão, um papel importante
na história da EaD. Uma líder notável foi Anna Eliot Ticknor, que, já
em 1873, criou uma das primeiras escolas de estudos em casa, a Society
to Encourage Estudies at Home. A finalidade era ajudar as mulheres, a
quem era negado, em grande parte, o acesso às instituições educacio-
nais formais.

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Há outros exemplos de cursos destinados às mulheres. Em 1900,


surgiu um programa destinado às mulheres da área agrícola do norte
do estado de Nova York, a Cornel University. No intervalo de três anos,
havia três cursos destinados a elas e, ao final de cinco anos, o programa
abarcava mais de vinte mil mulheres inscritas.
As particularidades geográficas de determinados países também
contribuíram para o sucesso da EaD, como já citamos na Aula 1. Como
levar educação formal em países de grande extensão territorial? Países
como Rússia e Canadá utilizaram a modalidade e, muito frequente-
mente, com apoio do rádio, pois esses países, além da grande extensão,
também apresentavam barreiras naturais importantes, como parte do
território coberto de gelo, isolando algumas regiões.
Outros países também utilizaram a modalidade em determinados es-
tágios históricos por outras situações como, por exemplo, a baixa densi-
dade demográfica, fazendo com que os governos não investissem numa
escola regular. A educação via correspondência ajudava a vencer estas
barreiras. Como disse Coicaud (1997), “nestes países, a distância geo-
gráfica muitas vezes se sobrepõe a distância histórica, social e cultural”.
Imperialismo O Imperialismo europeu utilizou a modalidade a distância, a fim de
Política de expansão firmar seus domínios e ideologia. Ao expandir suas fronteiras, conquis-
e domínio territorial,
cultural e econômico de tando territórios em outros continentes, a educação a distância auxiliou
uma nação sobre outras aqueles que estavam longe de seus países de origem a concluírem seus
ou sobre várias regiões
geográficas. estudos, principalmente nas colônias da África e nas Américas.
Neste contexto, estão incluídos os soldados das forças armadas, prin-
cipalmente os britânicos. Eles tinham que se preparar sozinhos para os
exigentes exames da Universidade de Londres. Eram auxiliados por vá-
rias universidades por correspondência e contavam com o transporte
marítimo.
Estes cursos eram verdadeiramente assíncronos (consulte o signifi-
cado da palavra no verbete da Aula 1); estes materiais levavam, em mé-
dia, dois meses para chegar ao seu destino.
Naquele momento, a École Universelle, de Paris, também teve muitas
matrículas de soldados franceses em missão nas colônias francesas na
África.
Chamamos atenção para o fato de esses soldados, tanto os franceses
quanto os americanos, serem ainda jovens, com formação escolar in-
completa, fazendo com que, em 1943, as Forças Armadas Americanas

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Educação a distância

criem o United States Armed Forces Institute (USAFI). Ele era chefiado
por William Young, que chegou a oferecer duzentos cursos por corres-
pondência, cobrindo disciplinas dos cursos elementar, médio, superior,
técnico e vocacional (Moore, Kearsley, 2007).
Em 1966, sete milhões de membros das Forças Armadas fizeram
cursos de ensino médio e mais de 200 mil pessoas se matricularam em
cursos universitários (Brothers, 1971).
A USAFI fechou em 1971, mas deixou sua marca, pois foi a primeira
instituição a distância na informatização de notas e atividades, dispo-
nibilizando, durante 24 horas, um serviço de orientação para os alunos
numa era incipiente da Informática.

O que Mahatma Gandhi e


Nelson Mandela têm em comum?

Fontes: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/14/Nelson_Mandela-2008_
(edit).jpg
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/03/MKGandhi.jpg

Ambos lutaram pela liberdade de seus países através da não-vio-


lência e fizeram seus cursos de bacharelado em Direito a distância
pela Universidade de Londres.
Mandela fez o curso na prisão, na África do Sul, e só recebeu seu
diploma depois de libertado.

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Como vimos, as forças armadas dos grandes países imperialistas


utilizaram a EaD como forma de qualificar seus soldados em missões
fora do país. A utilização da EaD pelas forças armadas foi tão intensa
que, em 1968, o mais completo estudo já feito até então sobre educação
por correspondência (denominado Projeto Pesquisa em Educação por
Correspondência), feita por um grupo de americanos, indicou que mais
ou menos três milhões de norte- americanos estudavam por este meio.
Deste total, 50% pertenciam às forças armadas e estavam em missão
fora do país (Moore, Kearsley, 2001).
Apesar de termos citado até aqui algumas universidades americanas,
os Estados Unidos da América investiram mais em cursos livres, cur-
sos de extensão e cursos instrucionais, não dando ênfase aos cursos de
graduação, ao contrário da Europa, que trabalhou paralelamente com
graduação e instrução, sendo o berço da primeira universidade aberta.

Segunda geração: Rádio/ Tv /


Universidade Aberta

No começo do século XX, com a nova tecnologia do rádio, muitos


educadores se entusiasmaram com esta nova ferramenta. Entretanto, o
rádio, como tecnologia de informação e educação, não atendeu às ex-
pectativas iniciais. Não que não fosse um veículo de comunicação im-
portante, mas pelo desinteresse dos docentes ligados às universidades
e pela falta de experiência das pessoas que se prontificaram a levar os
projetos de EaD via rádio.
Em 1921, aconteceram os primeiros programas radiofônicos com
fins educativos, ainda com perfil informativo. Em fevereiro de 1925, a
State University of Iowa oferecia seus primeiros cursos de cinco créditos,
por rádio. Dos oitenta alunos que se matricularam naquele primeiro se-
mestre, sessenta e quatro acabaram completando o programa do curso
na universidade (Pittman, 1986).
Já a primeira transmissão oficial de televisão se deu oficialmente em
1935. Em 1936, a mesma State University of Iowa realizou transmissões
pela televisão sobre os temas higiene oral e astronomia. Após a Segun-
da Guerra Mundial, foram distribuídas várias frequências de televisão
com canais concedidos para uso não comercial. Além da transmissão
de programas de variedades, alguns programas educativos foram pro-
duzidos. A NBC levou ao ar o Continental Classroom, da Johns Hopkins

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Educação a distância

University, que algumas instituições de educação superior usaram para


instrução, valendo créditos (Moore, Kearsley, 2007).
Estes acontecimentos foram pontuais, principalmente nos EUA. Só
a partir dos anos de 1970 há um incremento na união rádio e TV, po-
dendo ser caracterizado com o uso simultâneo do rádio e da TV. Estas
novas tecnologias foram utilizadas de forma simultânea e integrada, ou
seja, cursos radiofônicos que tinham uma versão para televisão eram
um diferencial de certos cursos, pois a TV não tinha a popularidade que
tem hoje.
O mesmo ocorreu primeiro com a reprodução de aulas em fitas cas-
setes e as videoaulas: conforme o avanço tecnológico, as novas ferra-
mentas vão se agregando à EaD, como já pontuado na Aula 2.
É nesta segunda geração que surge um fato importante na modali-
dade: a criação das Universidades Abertas, ou seja, instituições dedi-
cadas a oferecer somente cursos a distância. Até então, todos os cursos
oferecidos estavam ligados a instituições de ensino convencional, ou
seja, presencial. Então, em 1968, surge a primeira universidade aberta
do mundo, a Open University, em Londres, fruto da ideia lançada, desde
1926, pelo educador e historiador J. C. Stobart, quando trabalhava na
BBC de Londres.
Nos anos 70, teve início o primeiro curso nessa universidade e, já nos
anos 80, ela se consolidava como centro científico importante.

Atividade 2

Atende ao objetivo 2

Faça uma pesquisa sobre as universidades abertas no mundo, abordan-


do, por exemplo, os seguintes temas:
• a que países pertencem;
• a forma de comunicação utilizada;
• quais as áreas com mais oferta de cursos a distância;
• se possível, o público-alvo.
Faço um resumo nas cinco linhas abaixo.

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Resposta comentada
Citaremos, como exemplo, a Universidade Macquarie, em Sydney (Aus-
trália).
Atende a cerca de seis mil estudantes com uma ampla área de estudo,
voltados principalmente para as necessidades da sociedade de informa-
ção e conhecimento pós-industrial. Sua estrutura inovadora é integrada
na aprendizagem baseada na web. É uma universidade essencialmente
virtual. (PETERS, 2004)

Com a criação da Universidade Aberta, há um maior financiamento


governamental nos projetos a distância, já que os governos viram na
EaD uma forma de implementar e reforçar suas políticas governamen-
tais. Estes financiamentos proporcionam aos cursos da modalidade o
desenvolvimento de um material didático de melhor qualidade, tra-
zendo profissionais qualificados, em face da valorização da EaD, com
produção de aulas especiais para rádio e TV e materiais impressos mais
adequados.
Com os investimentos públicos, ocorre um acesso maior de adultos
ao sistema de ensino, principalmente o superior, e espaço para experi-
mentação pedagógica voltada para EaD.

“As consequências destas ações foram um aumento surpreen-


dente de interesse sobre o assunto; “a educação a distância tor-
nou-se uma matéria que, agora, era abordada pelos pesquisado-
res da área de educação a até discutida em jornais e periódicos”
(Peter 2001).

Em 1965, a Conferência Mundial do International Council on Corres-


pondence Education (Conselho Internacional de Educação por Corres-
pondência) reuniu um grupo pequeno, cerca de oitenta e cinco pesqui-
sadores de quatro países: Austrália, EUA, Canadá e Japão. A conferência
passou a se reunir de quatro em quatro anos.

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Educação a distância

Em 2001, num encontro em Dusseldorf, Alemanha, havia mais de


mil e duzentos especialistas de oitenta e cinco países.
Estas ações: “tornaram a EaD mais relevantes que antes. Agora esta
forma de aprendizagem foi não apenas reconhecida com também finan-
ciada pelos governos. A educação a distância nunca havia sido tão impor-
tante quanto nos anos de 1979 e 1980” (Peters2001).
Neste momento histórico da EAD, é interessante observarmos que
algo novo aconteceu. Com o advento do rádio e, principalmente da TV,
muitos cursos criaram salas para que grupos de alunos assistissem às
aulas. Dessa forma, turmas se formavam e, nesses encontros, eram tro-
cadas dúvidas e dificuldades.
Dentro deste contexto, foge-se da definição mais tradicional de EaD,
já vista por você na Aula 1. Vou, então, destacar a definição de Moore e
Kearsley (2007.p.1), que ressalta a ideia de aprendizagem, em que pro-
fessores e alunos estão separados fisicamente.
O pesquisador Otto Peters, especialista em EaD, que durante os anos
70 foi reitor da Universidade Aberta de Hagen, na Alemanha, apresenta
uma teoria polêmica: ele usa conceitos da sociologia e economia para
definir a EaD. O autor identifica características do modelo fordista de
produção na Educação.
Peters identifica três princípios fordistas que se aplicariam à EaD; são
eles: “racionalização, divisão do trabalho e produção em massa” (Belloni,
2008).
Observando nosso texto, podemos dizer que, pela trajetória per-
corrida até o momento pela EaD, o modelo com tais características se
aplicaria mais aos primeiros anos da modalidade ou à EaD tradicional.
Nesta fase, trabalhava-se com módulos de instrução programada, com
o objetivo de atender ao maior número possível de pessoas.
Hoje, as novas demandas educacionais convergem para uma propos-
ta de EaD mais aberta e flexível, podendo inclusive coexistirem os dois
modelos, ou seja, cursos com módulos fechados de instrução e outros
mais flexíveis, como destaca Lucena (2010) “a EaD no modelo tradicio-
nal oferece ao estudante apenas a comunicação escrita do saber, trans-
formando-o em um receptor de informação e um ‘fazedor’ de exercícios
e provas. Na perspectiva atual de educação a distância cabe ao professor
auxiliar o aluno a se tornar um sujeito autônomo...”.

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Aula 3 • História da educação a distância: quando e como tudo começou?

Na década de 1990, outro mercado se interessou pela EaD: as empre-


sas. Elas estavam interessadas na utilização da modalidade para a educa-
ção continuada dos seus profissionais, pois todas as profissões estavam
passando por reformulações rápidas. Veiculada pela televisão, vídeo, áu-
dio e posteriormente internet, era vantajoso para a empresa, pois capaci-
taria seus empregados sem tirá-los das suas atividades dentro da empre-
sa. Hoje, chamada EaD corporativa, é uma realidade em todo o mundo.

Modelo fordista de produção

Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_kugtWQPERNc/TA2_efMf
_UI/AAAAAAAAADY/jQgQlkK8Zb0/s320/LINHA+PRODU%
C3%87%C3%83O.jpg

Fordismo é um sistema de produção criado pelo empresário norte-


-americano Henry Ford, cuja principal característica é a fabricação
em massa. Ford criou este sistema, em 1914, para a sua indústria de
automóveis, projetando um sistema baseado numa linha de mon-
tagem com o objetivo de reduzir ao máximo os custos de produção.
O fordismo foi o sistema que mais se desenvolveu no século XX,
sendo responsável pela produção em massa de mercadorias das
mais diferentes espécies.

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Educação a distância

O que é Educação Corporativa?

A Educação Corporativa é um projeto de formação desenvolvi-


do pelas empresas, que tem como objetivo “institucionalizar uma
cultura de aprendizagem contínua, proporcionando a aquisição
de novas competências vinculadas às estratégias empresariais”
(Quartiero & Cerny, 2005, p.24). A ideia é modelar os funcioná-
rios para as necessidades da empresa.
No Brasil, grandes empresas também utilizam estes artifícios. Citare-
mos aqui a Eletrobrás e a Petrobras, duas grandes instituições do país.
Concebida para desenvolver competências em seu corpo funcio-
nal, a Universidade Corporativa do Sistema Eletrobrás (Unise)
surge no momento em que a empresa se prepara para cumprir
com excelência seu papel num setor estratégico, como o elétrico.
Os cursos da Universidade do Sistema Eletrobrás são oferecidos a
todos os empregados das empresas do grupo, com base em técni-
cas educacionais de ensino a distância – como os recursos on-line
e videoconferências – e cursos presenciais. A estruturação dos
treinamentos da Unise é feita à luz do Banco de Competências e
Talentos – ferramenta capaz de identificar as habilidades e as ca-
rências dos quadros da empresa, minimizar estas últimas e apro-
veitar melhor o potencial de seus colaboradores.
Dê uma olhada:
http://www.eletrobras.com/elb/data/Pages/LUMIS70805430PT-
BRIE.htm
A Universidade Petrobras é o órgão da Petrobrás para treinamen-
to e desenvolvimento de pessoal. Nela, algumas categorias pro-
fissionais de nível médio e superior recém-admitidos (nos casos,
sem exigência de experiência prévia) passam até quinze meses
antes de começarem a efetivamente trabalhar. Ali, eles recebem
treinamento técnico e conhecimentos organizacionais, contextu-
ais e vivenciais sobre a Petrobras e a indústria de petróleo.
Dê uma olhada:
http://portal.iff.edu.br/processos-seletivos/universidade-petrobras

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Aula 3 • História da educação a distância: quando e como tudo começou?

Terceira geração: computador,


internet e EaD on-line

Esta é a nossa atual fase, a geração cuja tecnologia se baseia no uso


do microcomputador, do videotexto, da tecnologia de multimídia, do
hipertexto e de redes de computadores; consequentemente, chegamos
aos cursos on-line.
Outro diferencial desta geração é que há uma integração das mídias
anteriores que convergem para as tecnologias multimídia e o computa-
dor. Mesmo com o uso intensivo do computador e da internet, os cursos
a distância não podem, por exemplo, dispensar o material impresso, a
mais antiga ferramenta da EaD.
Por volta de 1995, acontece o que os pesquisadores chamam de rup-
tura nos cursos a distância com o desenvolvimento intensivo da internet
e o aparecimento dos cursos on-line. Assim surge um novo território
para a educação: o espaço virtual de aprendizagem digital, baseado na
rede mundial de computadores. Ele é “um novo formato do processo en-
sino/aprendizagem, aberto, centrado no aluno, baseado no resultado, inte-
rativo, participativo, flexível quanto ao currículo” (Maia & Mattar, 2007).
O advento do uso da internet intensifica a ideia de usar a EaD com
propósitos de formação continuada, atitude gerada na segunda geração,
mas que no contexto tecnológico atual se fortalece. Isso provém da ideia
de que a boa formação é a base num mercado de trabalho cada vez mais
competitivo.
Desde os anos 90, há um crescimento muito grande de universidades
abertas, ou seja, destinadas somente a EaD; elas podem ser encontradas
em vinte e seis países. Isso porque “... muitos governos utilizam este novo
tipo de universidade para atender a algumas de suas necessidades educa-
cionais e de treinamento mais urgente” (Peters, 2001).
Outro dado importante é que frequentemente nestas universidades
há um número bem maior de estudantes a distância do que nas universi-
dades presenciais de seu país. Isto se aplica à Open University, no Reino
Unido, à CNDE, na França, à Universidade Aberta de Portugal, à Fern
Universitát da Alemanha, à Universidade da África do Sul e outras mais.
Estas universidades têm como modelo a pioneira Open University.
“São instituições autônomas, em geral de abrangência nacional, que fun-
cionam com orçamento independentes (públicos e próprios) e estão habili-
tadas a fornecer seus próprios diplomas (...) tendo seus diplomas o mesmo
valor formal que os do ensino convencional.” (Belloni, 2008).
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Educação a distância

As condições sociais e as diferenças culturais levaram à criação de


versões muito particulares de universidades e de curso, marcando, assim,
uma flexibilidade no currículo, apesar do uso das mesmas tecnologias.

Atividade 3

Atende ao objetivo 2

Faça uma pesquisa sobre a educação a distância no continente asiático.


Veja a situação da EaD nos países com maiores destaques econômicos,
como China, Japão, Coreia do Sul, Hong Kong e outras mais que a sua
curiosidade lhe levar...
Para essa atividade, leve em considerações os seguintes tópicos:
• Desde quando a modalidade é utilizada.
• Como são países que passaram por guerras, esse fato histórico teve
alguma influência na evolução ou no atraso na utilização da EaD.
• Há universidades abertas? Caso afirmativo, cite alguma?
• Os países que mais utilizam a modalidade.

Resposta comentada
A Ásia é um grande continente com uma diversidade cultural muito
grande e com grandes conflitos internos. Nos últimos quinze anos, há
um crescente interesse pela EaD. A Universidade Aberta da Coreia do
Sul tem capacitados professores para EaD em países mais pobres do
continente, como a Malásia e o Vietnã. Existe também uma Associação
Asiática de Universidades Abertas.

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Aula 3 • História da educação a distância: quando e como tudo começou?

Conclusão

Percebam que avançamos na história e sempre voltamos ao ponto de par-


tida: a educação a distância como forma de atender às pessoas sem acesso
ao ensino formal e aos que querem se aperfeiçoar e não têm tempo.
Maastricht O Tratado de Maastricht, por exemplo, que formaliza a criação da
Uma das mais antigas União Europeia, bloco econômico, político e social, que reúne vinte e
cidades da Holanda; foi
palco da assinatura do sete países da Europa, fez constar o seguinte no seu parágrafo 26: ”pro-
tratado, que leva seu mover a educação a distância com o objetivo de equiparar os países mem-
nome, para formalização
da União Europeia. bros do bloco através da educação e capitação dos seus cidadãos”. Isso
porque economicamente há grandes diferenças entre os países mem-
bros do bloco.
Para finalizarmos, veja a tabela com alguns momentos da Educação
a Distância no mundo.
Tabela 3.1: Tabela com alguns eventos que marcaram a trajetória de Ead.
1728 EUA - Gazeta de Boston: Ensino por correspondência
1840 Reino Unido - Faculdades Sir Isaac Pitman: 1º Instituição por
correspondência da Europa
1856 Alemanha/Berlin – Instituto Toussaine/Laugenschied:
Curso de Francês por Correspondência
1891 Estados Unidos/ Universidade da Pensilvânia - Instituto de
Estudos por Correspondência: Cursos sobre medidas
de segurança em mineração
1922 União Soviética: Cursos por correspondência
para 350.000 alunos
1969 Reino Unido – Fundada a British Open University:
Educação superior a Distância
1985 Fundação da Associação Europeia das escolas por correspondência
1987 Resolução do Parlamento Europeu sobre
Universidades abertas na Comunidade Europeia
1987 Fundação da Associação Europeia de Universidades
de Ensino a Distância
1987 Bélgica – Fundado o Centro de estudos Abertos HoherOnderwijs
1990 Implantação da rede Europeia de Educação a Distância, baseada
na Declaração de Budapeste
Fonte: (adaptado de) Berbat (2006, pp. 06-08)

Terminando nossa viagem panorâmica, ressaltamos a importância


da EaD nos tempos atuais, a relevância da modalidade para a sociedade
do mundo globalizado e com acesso a tecnologia de ponta.

78
Educação a distância

O que falta agora são ajustes no acesso a estas tecnologias em todas


as partes do planeta e, como afirma Lucena (2010), “qualquer melhoria
ou inovação em educação passa necessariamente pela formação de educa-
dores, não privilegiando uma perspectiva tecnicista, mas passando a enfo-
car uma perspectiva mais complexa e mais ampla, considerando também
as dimensões culturais, sociais e política do processo educativo”.

Cinco ganhadores do Prêmio Nobel,


em algum momento de sua formação,
utilizaram a EaD.

São eles:
• Frederick G. Hoptins – Nobel de Medicina (1929).
• Wole Soyinka- Nobel de Literatura (1986)
• Ronald Coase- Nobel de Economia (1991)
• Derek Walcott- Nobel de Literatura (1992)
• Nelson Mandela- Nobel da Paz (1993)
• Vocês sabem o que é o Prêmio Nobel?
O Prêmio Nobel foi criado por Alfred Nobel, químico e industrial
sueco e inventor da dinamite. Os prêmios são entregues no dia 10
de dezembro, data de sua morte. Os contemplados são pessoas
que fizeram pesquisas importantes, criaram técnicas pioneiras ou
deram contribuições destacadas à sociedade.
Dê uma olhada:
http://www.mundoeducacao.com.br/curiosidades/premio-nobel.htm

79
Aula 3 • História da educação a distância: quando e como tudo começou?

Atividade final

Atende aos objetivos 1 e 2

Nesta atividade final, faça um resumo sobre as três gerações pelas quais
a EaD passou, dizendo em que geração você mais se enquadra.

Resposta comentada
Você deve escrever sobre a geração em que a correspondência era usada,
a importância do serviço postal seguro. A segunda geração, marcada
pelos veículos de comunicação de massa e a criação da UA; e a terceira,
com a chegada dos computadores e da internet.
A outra resposta é pessoal, pois ainda há pessoas que resistem muito
ao computador ou não têm acesso mesmo, e se adaptam melhor com o
material impresso e a correspondência, etc.

Resumo

• troca de correspondências com fins educativos existem desde a An-


tiguidade. No Cristianismo, as epístolas de Paulo seriam um bom
exemplo, ensinando aos cristãos como proceder frente às hostilida-
des enfrentadas para seguir na sua fé.
• A Revolução Industrial foi o fato histórico que impulsionou a EaD
no mundo, pela necessidade de formação de mão de obra urgente.
• O avanço dos meios de comunicação e transporte também viabiliza-
ram a modalidade.

80
Educação a distância

• A EaD sempre teve entre seus objetivos a absorção daqueles que, por
algum motivo, estavam fora do sistema educacional, incluindo aí as
mulheres.
• As gerações pelas quais a EaD passou são três: a 1ª, via correspondên-
cia; a 2ª, o uso de meios de comunicação de massa, como rádio e TV;
a 3ª é a atual e integra a internet, o uso do computador pessoal, etc.
• Na atual fase, todas as tecnologias anteriores se relacionam.
• A primeira universidade aberta do mundo foi a Open University, em
Londres.
• O pesquisador Otto Peters identifica características da produção for-
dista na educação a distância.
• A EaD é muito utilizada para formação continuada, num mundo em
que a boa formação é essencial.

Informações sobre a próxima aula

Até a Aula 4, quando abordaremos a história da EaD no Brasil!


Até breve!

Referências
BELLONI, Maria Luiza. Educação a Distância. São Paulo: Edito-
res Associados, 2008.
Berbat, Marcio da Costa. Formação de Professores de Geografia
na Educação Superior a Distância: Contextos Institucionais em
Questão. Rio de Janeiro: UERJ, 2008. Link de acesso completo:
http://www.cibergeo.org/artigos/PPGEO-geografia-uerj-marcio-
-berbat-08072008.pdf
Coiçaud, S. A Colaboração na Educação a Distância. In
LITWIN, Educação a Distância: temas para o debate de uma
nova agenda educativa. Porto Alegre: Artmed, 2001.
Kenski, Vani Moreira. Tecnologias e Ensino Presencial e a Distân-
cia. São Paulo: Papirus,2008.
Lucena, Solange Medeiros Pitombeiras de. Afinal, o que é Educa-
ção a Distância. Educação a Distância Vol.1: Cederj, 2010

81
Aula 3 • História da educação a distância: quando e como tudo começou?

Maia, Carmem; Mattar João. ABC da EaD A Educação a distân-


cia hoje. São Paulo: Pearson Prentice, 2007.
Moore, M; Kearsley, G. Educação a Distância: uma visão integra-
da. São Paulo: Thomsom Learning,2007.
PETERS, O. A Educação a Distância em Transição: tendências e
desafios. Rio Grande do Sul: Unisinos, 2004.

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