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BIBLIOTECA DO PROFESSOR
Educação e tecnologia
1. A sociedade do conhecimento
A emergência da sociedade do conhecimento ou informacional, a partir do final do século
XX (Castells, 2007), afetou a sociedade em geral e a educação em particular. E, nesta última, o
estudante e o professor.
O conceito de sociedade do conhecimento remete ao período histórico pós-industrial,
iniciado por volta da década de 1970. Essa noção foi introduzida em 1969 por Peter Drucker e
se consolidou quando Daniel Bell publicou o livro O advento da sociedade pós-industrial, em
1973. Para Bell, a produção de conhecimentos se tornaria a forma dominante da atividade
econômica da sociedade contemporânea, o que se materializou nas últimas décadas. Tais mudan-
ças econômicas e sociais afetariam também a educação, a partir da introdução do computador
nos procedimentos de acesso, produção e compartilhamento de conhecimentos.
As novas tecnologias digitais, especialmente as tecnologias da informação e comunicação
(TICs), combinadas com vários outros recursos da web, como bancos de dados, jogos, simulações,
imersão virtual, realidade aumentada etc., formam uma vasta rede de aprendizagem que pode
ser acessada constantemente, 24 horas por dia, sete dias por semana (Harasim et al., 2005). Essa
rede global de informações permite o acesso a colegas e profissionais, a comunidades virtuais, a
conteúdos de diversas áreas e a muitas formas de networking que hoje fazem parte do cotidiano
de bilhões de crianças, jovens e adultos em todo o planeta.
As tecnologias digitais foram adotadas de forma acelerada no mundo todo, e seu uso conti-
nua a se expandir, modificando a sociedade e a cultura contemporâneas a ponto de já não ser
possível conceber um indivíduo que não esteja plugado à rede por meio de celulares, tablets e
notebooks, entre outros aparatos tecnológicos.
visualizar informações atualizadas sobre temas tratados na escola. O computador pode viabilizar
ainda o compartilhamento de informações entre colegas, experts e outros internautas por inter-
médio de redes virtuais. Uma área bastante comum de suporte colaborativo em tempo real são
os inúmeros chats de sites em que usuários ou programadores podem, por exemplo, esclarecer
dúvidas de como instalar determinado aplicativo, até mesmo durante a execução de uma tarefa.
Basta o usuário expor o problema e poderá obter a solução em alguns minutos.
A introdução de novas tecnologias na educação sempre foi vista, inicialmente, com certo
receio. Mesmo na Grécia antiga, na transição da oralidade para a escrita, o filósofo grego Platão
criticava a palavra escrita, prática já milenar naquela época. No livro Fedro, uma de suas obras
mais importantes, o filósofo descreve o diálogo entre Fedro e Sócrates, quando este último
afirma que:
É interessante notar que essa obra hoje pode ser lida por nós, no formato impresso ou digital,
graças ao fato de que Platão as escreveu. Desse modo, ele se contradisse ao fazer tal afirmação
(Ong, 1999).
Também houve grande resistência ao livro impresso de Gutenberg, sobretudo por parte dos
copistas, que temiam perder seus trabalhos com a invenção da imprensa. Nesse sentido, no
processo de adoção de inovações, sempre existe quem as abrace imediatamente e quem leve
mais tempo para utilizá-las (Rogers, 1962). O mesmo se dá em relação ao computador.
Segundo um estudo recente, quase um terço dos professores entrevistados acredita mais
nos métodos tradicionais de ensino – uso de livro, pesquisa em biblioteca e aula expositiva – do
que no uso das tecnologias de informação e comunicação para as práticas pedagógicas. Para
os pesquisadores, “o confinamento dos equipamentos em laboratórios (80% das atividades são
realizadas neles) – e não integrados à sala de aula – é uma demonstração do desconhecimento
do potencial do equipamento e da internet na sala de aula” (Brum, 2011).
Essa alteração no papel do docente implica uma transformação cultural que se expressa
na organização das tarefas em sala de aula de maneira diferente de como tem sido feita até o
momento. Quando o professor usa essas novas tecnologias, ele experimenta uma significativa
mudança em seu dia a dia. Mas o maior dificultador do uso de mídias digitais em sala de aula
parece ser a ausência de programas adequados de formação de professores.
As últimas mudanças geradas pela introdução de novas tecnologias na educação têm levado
o professor a assumir o desafio de construir métodos pedagógicos que incluam o uso do compu-
tador em sala de aula. Embora o modelo de aula expositiva ainda vigore, muitos professores já
começam a explorar, em sala de aula, vídeos do Youtube, fotos digitais e slides, além de acessar
blogs, grupos de e-mail e sites especializados.
“A formação de professores deverá ser permanente, continuada, diária; será preciso tam-
bém criar sistemas de sabáticas para que os professores disponham de tempo integral, por
algumas semanas ou meses, a cada ano, para sua dupla atualização: na disciplina que ensina
e nas técnicas de ensino.”
BUARQUE, Cristovam. Formação e invenção do professor no século XXI. In: LITTO, Fred; FORMIGA, Marcos.
Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson, 2011. p. 146.
Como já dissemos, uma pesquisa recente revelou que mais da metade dos professores afirma
saber menos do que os alunos sobre o uso da internet. Assim, a implementação de programas
de formação de professores para o uso do computador em sala de aula passa a ser um elemento
crítico. De acordo com a TIC Educação, 53% das escolas pesquisadas alegam ter programas de
capacitação de professores para a utilização do computador em classe. Entretanto, os docentes
entrevistados dizem que o desenvolvimento de competências tecnológicas vem sobretudo do
contato informal com outros profissionais de sua área.
Para desenvolver essas novas habilidades, o professor deve participar ativamente de
programas de formação para o uso do computador em sala de aula, discutir com seus colegas
de escola e compartilhar ideias sobre novos modelos pedagógicos. Poderá também atuar em
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Pesquisas realizadas no Canadá sobre o trabalho colaborativo online evidenciam que esse
é um formato pedagógico que apresenta resultados bastante positivos no processo de ensino-
-aprendizagem (Harasim, 2011). Estudantes podem combinar reuniões presenciais e trabalho
online para realizar tarefas colaborativas. É importante que as tarefas a serem executadas pelos
alunos estejam bem explicadas, passo a passo.
7. Conclusões
Não são poucos os desafios de ser professor no século XXI. O docente que quer se atualizar e
utilizar as novas mídias em sala de aula necessita adotar uma nova atitude, aberta e criativa, que
o leve a repensar constantemente as atividades pedagógicas elaboradas para seus estudantes.
O modelo da palestra e da aula expositiva não precisa ser suprimido, mas não deve ser o único
nem ser predominante. Até esse antigo modelo pode ser acrescido de recursos multimídia
que tornem a exposição mais interessante e significativa. É melhor correr o risco de inovar e
melhorar a qualidade do ensino do que repetir o já conhecido. O planejamento das atividades
para a sala de aula com computadores deve ser bastante detalhado e testado com seus alunos.
Será a partir dos tropeços e avanços que se poderá criar uma nova prática pedagógica para o
professor de nosso século.
A formação de professores tem um papel importante nessa nova pedagogia, e o docente deve
buscar oportunidades de aprender continuamente e utilizar atividades inovadoras no processo
de ensino. Esse processo de aprendizagem do professor se dá de forma colaborativa com os
colegas e também com os estudantes, que são seus parceiros nessa aventura de inovação para
a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem.
Reconhecer a importância do uso das tecnologias digitais na educação e no nosso cotidia-
no não significa ignorar os riscos e os prejuízos de submeter o homem ao poder sedutor da
sociedade da informação, impedindo-o de pensar criticamente e de admitir que a internet não
necessariamente vai ajudar a construir um mundo melhor do que aqueles em que viveram as
antigas gerações. Se as mídias digitais vão ampliar a nossa capacidade de refletir e elaborar
conhecimento, de construir relações baseadas na tolerância e na cooperação e uma sociedade
mais justa e ética depende de ações, promovidas pelos governos, pelas empresas e pelas socie-
dades, voltadas para o uso social da ciência e da tecnologia.
A importância dessa reflexão é a base do trabalho de Nicholas Carr, estudioso norte-
-americano das novas tecnologias da comunicação que recentemente abriu um grande debate
alertando para a ameaça que representa a celebração fanática das inovações tecnológicas. A
seguir reproduzimos parte de um artigo que resume as ideias centrais de Carr.
Certo dia, descobriu que deixara de ser um bom leitor, e, praticamente, um leitor, inclusive.
Sua concentração desaparecia depois de uma ou duas páginas de um livro, e, principalmente,
se o que ele lia era complexo e exigia muita atenção, surgia em sua mente algo parecido a um
repúdio a continuar com aquele empenho intelectual. Ele conta: ‘Perco o sossego e o fio, come-
ço a pensar em outra coisa. Sinto como se tivesse de arrastar o meu cérebro desconcentrado
de volta ao texto. A leitura profunda que costumava vir naturalmente se tornou um esforço’.
Preocupado, tomou uma decisão radical. No fim de 2007, ele e a mulher abandonaram suas
instalações ultramodernas em Boston e foram morar nas montanhas do Colorado, onde não
havia telefone móvel e a internet chegava tarde, mal ou mesmo nunca. Ali, ao longo de dois
anos, escreveu o livro polêmico que o tornou famoso, The Shallows: What the Internet is Doing
to Our Brains (Superficiais: o que a internet está fazendo com nossas mentes?, Taurus, 2011). [...]
Carr não é um renegado da informática nem quer acabar com os computadores. No livro,
reconhece a extraordinária contribuição que Google, Twitter, Facebook ou Skype prestam à
informação e à comunicação, o tempo que esses recursos permitem economizar, a facilidade
com que uma imensa quantidade de seres humanos pode compartilhar de experiências, os
benefícios que tudo isso representa para empresas, pesquisa científica e desenvolvimento
econômico das nações.
Mas tudo isso tem um preço e, em última instância, significará uma transformação tão grande
em nossa vida cultural e na maneira de operar do cérebro humano quanto a descoberta da
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imprensa por Gutenberg no século XV, que generalizou a leitura de livros, até então exclusiva
de uma minoria insignificante de clérigos, intelectuais e aristocratas. O livro de Carr é uma
reivindicação das teorias do agora esquecido Marshall McLuhan, ao qual muitos nem deram
atenção, quando, há mais de meio século, afirmou que os meios de comunicação não são
nunca meros veículos de um conteúdo, que exercem uma influência dissimulada sobre este,
e, a longo prazo, modificam nosso modo de pensar e agir. McLuhan referia-se principalmente
à TV, mas a argumentação do livro de Carr, e as experiências e testemunhos abundantes que
ele cita como respaldo, indicam que essa tese tem uma extraordinária atualidade relacionada
ao mundo da internet.
Os defensores recalcitrantes do software alegam que se trata de uma ferramenta e que está ao
serviço de quem a usa e, evidentemente, há abundantes experiências que parecem corroborá-
-lo, sempre e quando essas provas sejam realizadas no campo de ação no qual os benefícios
daquela tecnologia são indiscutíveis: quem poderia negar que é um avanço quase milagroso
o fato de que, agora, em poucos segundos, clicando com o mouse, um internauta obtenha
uma informação que, há poucos anos, exigia semanas e meses de consultas em bibliotecas
e com especialistas? Mas também há provas conclusivas de que, quando a memória de uma
pessoa deixa de ser exercitada, por contar com o arquivo infinito que um computador põe ao
seu alcance, ela embota e se debilita como os músculos que deixam de ser usados.
Não é verdade que a internet seja apenas uma ferramenta. Ela é um utensílio que se torna um
prolongamento do nosso próprio corpo, do nosso próprio cérebro, o qual, também, de ma-
neira discreta, vai se adaptando pouco a pouco a esse novo modo de informar-se e de pensar,
renunciando paulatinamente às funções que esse sistema faz por ele e, às vezes, melhor que
ele. [...] Para que manter fresca e ativa a memória se toda ela está armazenada em algo que
um programador de sistemas definiu como ‘a melhor e maior biblioteca do mundo’? E para
que eu deveria aguçar a atenção se, apertando as teclas adequadas, as lembranças das quais
preciso vêm até mim, ressuscitadas por essas diligentes máquinas?
Não surpreende, por isso, se alguns fanáticos da internet, como o professor Joe O´Shea,
filósofo da Universidade da Flórida, afirma: ‘Sentar-se e ler um livro de cabo a rabo não faz
sentido. Não seria um bom uso do meu tempo, e com a internet posso ter todas as informa-
ções com mais rapidez. Quando uma pessoa se torna um caçador experimentado na internet,
os livros são supérfluos’. O mais atroz desta declaração não é a afirmação final, mas o fato
de esse famoso filósofo acreditar que uma pessoa lê livros somente para ‘informar-se’. Esse
é um dos estragos que o vício fanático da telinha pode causar. Daí, a patética confissão da
doutora Katherine Hayles, professora de Literatura da Universidade Duke: ‘Não consigo mais
que meus alunos leiam livros inteiros’.
Esses alunos não têm culpa de agora serem incapazes de ler Guerra e paz e Dom Quixote.
Acostumados a picotar a informação em seus computadores, sem ter a necessidade de fazer
prolongados esforços de concentração, eles perderam o hábito e até a capacidade de fazê-lo.
Foram condicionados a contentar-se com o borboletear cognitivo aos quais a Rede os acos-
tuma, tornando-se de certa forma vacinados contra o tipo de atenção, reflexão, paciência e
prolongado abandono ao que se lê, que é a única maneira de ler a grande literatura. Mas não
acredito que a internet torne supérflua apenas a literatura: toda obra de criação gratuita, não
subordinada à utilização pragmática, é excluída do conhecimento e da cultura propiciados
pela Rede. Sem dúvida, essa pode armazenar com facilidade Proust, Homero, Popper e Platão,
mas dificilmente suas obras terão muitos leitores. Para que dar-se ao trabalho de lê-las se no
Google podemos encontrar resumos simples e amenos do que inventaram nesses aborrecidos
calhamaços que os leitores pré-históricos costumavam ler?
A revolução da informação está longe de ter terminado. Ao contrário, nesse campo surgem
a cada dia novas possibilidades, conquistas e o impossível retrocede velozmente. Devemos
alegrar-nos? Se o gênero de cultura que está substituindo a antiga nos parecer um progresso,
sem dúvida sim. Mas deveremos nos preocupar se esse progresso significa o que um erudito
estudioso dos efeitos da internet em nosso cérebro e em nossos costumes, Van Nimwegen,
deduziu depois de um dos seus experimentos: Confiar aos computadores a solução de todos
os problemas cognitivos reduz ‘a capacidade das nossas mentes de construir estruturas está-
veis de conhecimento’. Em outras palavras, quanto mais inteligente for o nosso computador,
mais estúpidos seremos.”
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