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BIBLIOTECA DO PROFESSOR • Educação e tecnologia

BIBLIOTECA DO PROFESSOR
Educação e tecnologia

A formação do professor para a adoção


de modelos pedagógicos apropriados ao
uso de novas mídias em sala de aula
Introdução
Nas últimas décadas, a disseminação das tecnologias digitais e de seu uso no processo de
ensino e aprendizagem tem colocado a questão de qual será o novo papel do professor no
século XXI. Ele já não é somente alguém que transfere informações e conhecimentos para
seus estudantes, como foi no passado, pois as transformações socioculturais ocorridas com
a globalização e a invenção de novas tecnologias estão modificando a função desse profis-
sional. Para melhor entender tal processo de mudança, vejamos como uma das atribuições
do docente – a de repassar conhecimentos pelo uso de tecnologias intelectuais – se deu em
diferentes momentos históricos.
As informações e os conhecimentos acumulados pelo ser humano foram repassados de
geração para geração por intermédio de várias tecnologias. No início da história da humani-
dade, quando ainda não existia a escrita, a fala era um elemento de permanência, o principal
veículo de transmissão e preservação de valores, conhecimentos e experiências. Nessa fase da
oralidade, a transmissão de conhecimentos ocorria por meio da memorização da informação,
que era repassada das antigas para as novas gerações. Com a invenção da escrita, por volta
de 4000 a.C., a informação e o conhecimento puderam ser transmitidos por diferentes tipos
de suportes, como pergaminhos, códices, papiros e, posteriormente, livros.
A invenção da escrita não significou, porém, a supressão da tradição oral. As sociedades
ágrafas da América e da África, por exemplo, têm conseguido preservar histórias e técnicas
ancestrais por meio do convívio das velhas com as novas gerações. Mesmo nas sociedades
ocidentais, onde a escrita se tornou uma das bases da organização do Estado, da economia
e da ciência, a oralidade continuou sendo veículo de transmissão de valores, costumes e co-
nhecimentos, especialmente nas comunidades camponesas.
Ao longo da história, vários suportes foram criados e aperfeiçoados para repassar conhe-
cimentos, sem que a invenção de um implicasse necessariamente na supressão do outro: a
pedra cinzelada com hieróglifos, o papiro (que deu origem à palavra papel), o pergaminho, o
manuscrito medieval, o livro impresso de Gutenberg em 1455, o telefone, o rádio, a televisão e,
hoje, os conteúdos digitais, agregados a muitos desses suportes anteriores. Todos esses meios
facilitaram a transmissão de conhecimentos e informações e tiveram um profundo impacto
na sociedade de sua época. E cada uma dessas formas de preservar e acessar conhecimentos
afetou o papel do professor. Na sociedade contemporânea, as tecnologias digitais afetam
profundamente a transmissão e a produção de conhecimentos e a atuação do professor em
sala de aula.
Por vários séculos, a aula expositiva, em que o professor apresenta um tópico específico
para os estudantes, foi e continua sendo o modelo dominante no processo de ensino e aprendi-
zagem. Não há dúvida de que existem variações na atuação do professor em sala de aula, mas
prevalece o modelo em que o professor palestra sobre determinada área do conhecimento,
enquanto os alunos ouvem, esclarecem dúvidas e assimilam as informações. Esse modelo foi
chamado de “sábio no palco”, do inglês “sage on the stage”.
Nesta reflexão, vamos primeiramente explorar as características da sociedade do
conhecimento, em especial as relacionadas com a educação, e fazer algumas considerações
sobre o impacto das tecnologias digitais, sobretudo no perfil do professor e do aluno, para
posteriormente considerar a importância da formação do educador no que se refere ao uso do
computador em sala de aula e propor modelos pedagógicos que têm alcançado bons resultados.
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1. A sociedade do conhecimento
A emergência da sociedade do conhecimento ou informacional, a partir do final do século
XX (Castells, 2007), afetou a sociedade em geral e a educação em particular. E, nesta última, o
estudante e o professor.
O conceito de sociedade do conhecimento remete ao período histórico pós-industrial,
iniciado por volta da década de 1970. Essa noção foi introduzida em 1969 por Peter Drucker e
se consolidou quando Daniel Bell publicou o livro O advento da sociedade pós-industrial, em
1973. Para Bell, a produção de conhecimentos se tornaria a forma dominante da atividade
econômica da sociedade contemporânea, o que se materializou nas últimas décadas. Tais mudan-
ças econômicas e sociais afetariam também a educação, a partir da introdução do computador
nos procedimentos de acesso, produção e compartilhamento de conhecimentos.
As novas tecnologias digitais, especialmente as tecnologias da informação e comunicação
(TICs), combinadas com vários outros recursos da web, como bancos de dados, jogos, simulações,
imersão virtual, realidade aumentada etc., formam uma vasta rede de aprendizagem que pode
ser acessada constantemente, 24 horas por dia, sete dias por semana (Harasim et al., 2005). Essa
rede global de informações permite o acesso a colegas e profissionais, a comunidades virtuais, a
conteúdos de diversas áreas e a muitas formas de networking que hoje fazem parte do cotidiano
de bilhões de crianças, jovens e adultos em todo o planeta.
As tecnologias digitais foram adotadas de forma acelerada no mundo todo, e seu uso conti-
nua a se expandir, modificando a sociedade e a cultura contemporâneas a ponto de já não ser
possível conceber um indivíduo que não esteja plugado à rede por meio de celulares, tablets e
notebooks, entre outros aparatos tecnológicos.

2. O uso do computador na educação


A utilização de mídias em sala de aula tem longa história: primeiro foi a mídia impressa,
representada principalmente pelo livro didático, pelas histórias em quadrinhos, pelos
jornais e pelas enciclopédias; depois, agregou-se a mídia audiovisual, por meio do cinema e da
televisão; hoje, a grande novidade foi a entrada da mídia digital, por meio da internet. A web tem
características únicas, bastante diferentes daquelas das mídias anteriores, particularmente ao
permitir o acesso imediato a todo tipo de informação e de conhecimento existente em formato
textual, multimídia e hipertextual, além de estabelecer interatividade com a informação acessada,
possibilitando o feedback instantâneo. O espaço de aprendizagem extrapolou as quatro paredes
da sala de aula e ampliou-se virtualmente, conectando o estudante à rede global (Teles, 1993).
O formato multimídia, hipertextual das informações e do conhecimento – com acesso a
imagens, textos, hipertextos, animações, experimentos virtuais, formas de feedback e interati-
vidade – facilita o desenvolvimento do processo cognitivo do indivíduo.
A introdução progressiva de computadores nas escolas, experiência adotada em escolas
públicas e privadas de muitos países, evidencia o reconhecimento da importância do uso das
novas tecnologias na educação. Em vários desses países, tal procedimento teve início nos anos
1980. No Brasil, o uso desses equipamentos se acelerou na década de 1990, mas apenas no início
do século XXI o debate a esse respeito se tornou mais significativo. O uso do computador na
educação, como geralmente ocorre diante de situações novas, gerou, a princípio, muita discus-
são e insegurança. Muitos, de maneira equivocada, chegaram mesmo a temer que ele pudesse
substituir o professor.
Em parte, esse temor expressava a dificuldade dos imigrantes digitais de integrar as novas
tecnologias a seu cotidiano. O termo imigrante digital refere-se à geração que nasceu antes das
novas tecnologias ou quando elas começaram a surgir. Já os nativos digitais – nascidos na
sociedade tecnológica – puderam fazer essa integração com mais facilidade (Prenski, 2002). Tais
mudanças afetaram a escola e o aluno e facilitaram a emergência de um novo tipo de estudante,
que estabeleceu uma harmoniosa convivência com a cibercultura (Lévy, 1999).
Como ferramenta educacional, o computador, conectado à internet, pode ser usado de várias
maneiras: com o processador de texto, estudantes fazem trabalhos escolares com a ajuda de cor-
retores gramaticais e ortográficos que possibilitam melhorar a qualidade da tarefa. Há também
diversos softwares que podem ser usados para a aprendizagem assistida por computador nas
diversas disciplinas, assim como para o acesso a bancos de dados e sites de busca que permitem
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visualizar informações atualizadas sobre temas tratados na escola. O computador pode viabilizar
ainda o compartilhamento de informações entre colegas, experts e outros internautas por inter-
médio de redes virtuais. Uma área bastante comum de suporte colaborativo em tempo real são
os inúmeros chats de sites em que usuários ou programadores podem, por exemplo, esclarecer
dúvidas de como instalar determinado aplicativo, até mesmo durante a execução de uma tarefa.
Basta o usuário expor o problema e poderá obter a solução em alguns minutos.

3. O perfil do novo aluno


Os seres humanos, em períodos históricos com características específicas, desenvolvem
e compartilham alguns valores e comportamentos comuns, que variam de uma cultura para
outra. Em relação à mídia, as gerações recentes passaram por várias mudanças. Os nativos
digitais caracterizam-se pelo uso cotidiano da internet e pela mobilidade nas comunicações
com conectividade constante. Eles compartilham o sentimento de pertencer a um grupo, que se
concretiza na formação de comunidades virtuais, que usam as redes sociais para trocar ideias,
marcar encontros, tirar dúvidas escolares e muitas outras coisas. Por essa razão, os nativos
digitais precisam ter um celular ou outro equipamento eletrônico de acesso à web para manter-
-se conectado ao grupo. Essas mudanças no comportamento das pessoas a partir da utilização
da internet ajudaram a criar uma nova cultura educacional na escola, atingindo os estudantes,
os professores e os funcionários da instituição.
No Brasil atual, mais de 80% dos jovens de 14 a 24 anos usam e-mail, redes sociais e outros
aplicativos da internet. Alguns anos atrás, dizia-se que era necessário levar o computador para
a sala de aula. Agora se pode dizer que ele já está nela, pois cada estudante tem seu equipa-
mento, seja um celular, um tablet ou um netbook. Também em casa o aluno pode ter acesso à
web, e 40% dos domicílios no país têm pelo menos um computador. Com um perfil que o leva
a conectar-se constantemente, o estudante se informa, aprende e compartilha conhecimentos
pela rede mundial.
O aluno utiliza cada vez mais o teclado para escrever trabalhos escolares, em detrimento da
escrita cursiva, feita com o lápis ou a caneta e o caderno. Também a leitura de textos escolares
ocorre progressivamente com o uso de computadores e de livros em versão digital (e-books).
Várias editoras começaram a oferecer livros em dois formatos: digital e impresso. Livrarias como
a Amazon.com anunciaram que, em 2011, suas vendas de e-books ultrapassaram as de livros em
versão impressa. Na Coreia do Sul, a partir de agora, os livros didáticos só serão disponibilizados
em formato digital. Portanto, o perfil do novo estudante é o de alguém já bastante familiarizado
com a internet, acessando-a durante horas e horas, todos os dias.
Os alunos de hoje apresentam um perfil midiático voltado para o acesso de informações
e conhecimentos pela internet, e os professores se deparam com um grande desafio: o de
lecionar para esse público novo e arrojado. Nesse contexto, faz-se necessário repensar o papel
do docente e sua atuação em sala de aula.

4. O perfil do novo professor


Ao contrário dos novos alunos, “nativos digitais” por excelência, um grande número de
professores ainda não domina a maioria das ferramentas digitais. Muitos resistem à mudança,
mas o que se observa com mais frequência é que eles carecem de programas de formação
para o uso dessas tecnologias (Jordan, 2011). Há escolas que disponibilizam computadores e
laboratórios para professores e alunos, mas não os recursos humanos necessários para que
possam utilizá-los adequadamente.
Em uma pesquisa recente, 64% dos professores afirmaram que seus alunos sabem usar
o computador e a internet melhor do que eles (Brum, Isis, 2011). Segundo Fred Litto, muitos
docentes ainda veem esse equipamento como um intruso na sala de aula (Leão, 2011).
Portanto, é preciso que as escolas adotem programas de formação de professores para facilitar o
desenvolvimento de atividades pedagógicas com o uso do computador em classe. E, nesse
processo de aprendizagem, é de suma importância que o docente veja seus alunos como parceiros e
esteja disposto a aprender com eles. A produção de novos conhecimentos se dá com assombrosa
velocidade, e o professor de hoje tem de estudar e se informar constantemente, a fim de atualizar-
-se em sua especialidade curricular. Ao mesmo tempo, deve aceitar que seu papel educacional
está mudando e ir perdendo aos poucos a função de “sage on the stage”.
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A introdução de novas tecnologias na educação sempre foi vista, inicialmente, com certo
receio. Mesmo na Grécia antiga, na transição da oralidade para a escrita, o filósofo grego Platão
criticava a palavra escrita, prática já milenar naquela época. No livro Fedro, uma de suas obras
mais importantes, o filósofo descreve o diálogo entre Fedro e Sócrates, quando este último
afirma que:

“a escrita tornará os homens esquecidos, pois deixarão de cultivar a memória; confiando


apenas nos livros de sinais e não em si mesmos. Logo, tu não inventaste um auxiliar para a
memória, mas apenas para a recordação. Transmites aos teus alunos uma aparência de sabe-
doria e não a verdade, pois eles recebem muitas informações sem instrução e se consideram
homens de grande saber, embora sejam ignorantes na maior parte dos assuntos [...]”

PLATÃO. Fedro. São Paulo: Martin Claret, 2004. p. 120.

É interessante notar que essa obra hoje pode ser lida por nós, no formato impresso ou digital,
graças ao fato de que Platão as escreveu. Desse modo, ele se contradisse ao fazer tal afirmação
(Ong, 1999).
Também houve grande resistência ao livro impresso de Gutenberg, sobretudo por parte dos
copistas, que temiam perder seus trabalhos com a invenção da imprensa. Nesse sentido, no
processo de adoção de inovações, sempre existe quem as abrace imediatamente e quem leve
mais tempo para utilizá-las (Rogers, 1962). O mesmo se dá em relação ao computador.
Segundo um estudo recente, quase um terço dos professores entrevistados acredita mais
nos métodos tradicionais de ensino – uso de livro, pesquisa em biblioteca e aula expositiva – do
que no uso das tecnologias de informação e comunicação para as práticas pedagógicas. Para
os pesquisadores, “o confinamento dos equipamentos em laboratórios (80% das atividades são
realizadas neles) – e não integrados à sala de aula – é uma demonstração do desconhecimento
do potencial do equipamento e da internet na sala de aula” (Brum, 2011).
Essa alteração no papel do docente implica uma transformação cultural que se expressa
na organização das tarefas em sala de aula de maneira diferente de como tem sido feita até o
momento. Quando o professor usa essas novas tecnologias, ele experimenta uma significativa
mudança em seu dia a dia. Mas o maior dificultador do uso de mídias digitais em sala de aula
parece ser a ausência de programas adequados de formação de professores.
As últimas mudanças geradas pela introdução de novas tecnologias na educação têm levado
o professor a assumir o desafio de construir métodos pedagógicos que incluam o uso do compu-
tador em sala de aula. Embora o modelo de aula expositiva ainda vigore, muitos professores já
começam a explorar, em sala de aula, vídeos do Youtube, fotos digitais e slides, além de acessar
blogs, grupos de e-mail e sites especializados.

5. A formação contínua do professor para o uso das novas tecnologias

“A formação de professores deverá ser permanente, continuada, diária; será preciso tam-
bém criar sistemas de sabáticas para que os professores disponham de tempo integral, por
algumas semanas ou meses, a cada ano, para sua dupla atualização: na disciplina que ensina
e nas técnicas de ensino.”

BUARQUE, Cristovam. Formação e invenção do professor no século XXI. In: LITTO, Fred; FORMIGA, Marcos.
Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson, 2011. p. 146.

Como já dissemos, uma pesquisa recente revelou que mais da metade dos professores afirma
saber menos do que os alunos sobre o uso da internet. Assim, a implementação de programas
de formação de professores para o uso do computador em sala de aula passa a ser um elemento
crítico. De acordo com a TIC Educação, 53% das escolas pesquisadas alegam ter programas de
capacitação de professores para a utilização do computador em classe. Entretanto, os docentes
entrevistados dizem que o desenvolvimento de competências tecnológicas vem sobretudo do
contato informal com outros profissionais de sua área.
Para desenvolver essas novas habilidades, o professor deve participar ativamente de
programas de formação para o uso do computador em sala de aula, discutir com seus colegas
de escola e compartilhar ideias sobre novos modelos pedagógicos. Poderá também atuar em
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comunidades virtuais de professores que ensinam a mesma disciplina e desejam intercambiar


projetos e receber informações sobre temas de interesse comum.
Ao mesmo tempo, a escola deverá disponibilizar os recursos tecnológicos e humanos para
facilitar o processo de formação do professor. Também se faz necessário um assistente técnico
que o apoie constantemente, pois seu trabalho diário de preparar e lecionar já lhe ocupa todo
o tempo. Sem esse apoio, é muito mais difícil para o docente utilizar qualquer tecnologia em
sala de aula.

6. Modelos pedagógicos para a sala de aula


Pelos dados existentes, é evidente que o computador cumpre, nos dias atuais, um papel
importante no processo educacional. Entretanto, o que ainda não está bem definido é como o
professor deve usá-lo em sala de aula. Vários modelos pedagógicos com suporte computacional
estão sendo testados por docentes em todo o mundo.
Em relação às atividades pedagógicas em classe, é possível distinguir dois tipos. Um deles é
executado com os estudantes acessando seus computadores ou tablets simultaneamente à aula.
Esse tipo de atividade pode ter início e conclusão na mesma sala ou durar horas, dias, semanas.
O outro tipo é aquele em que o estudante realiza um exercício em casa e o envia ao professor,
além de compartilhá-lo com colegas e apresentá-lo na classe. Neste último caso, o estudante
poderá fazer a atividade online, muitas vezes com outros alunos. Nas duas situações – seja em
sala de aula ou em casa –, o professor orienta seus estudantes na realização das tarefas solicitadas
e define quais serão os critérios de avaliação.
A seguir, discutimos seis modelos pedagógicos de ensino online que têm sido utilizados por
professores em todas as disciplinas do ensino médio. Neles se incluem alguns nomes de softwa-
res que poderão ajudar o professor. São sugestões que o docente deverá avaliar e selecionar.
Todos esses nomes podem ser acessados na web, com o uso de um buscador como o Google.

I. Aprendizagem assistida por computadores


Nesse tipo de aprendizagem, o aluno utiliza um software educacional para acessar compo-
nentes do currículo de todas as disciplinas do ensino médio. Para isso, basta seguir as instruções
passo a passo e completar o ciclo embutido no programa.
No ensino de Matemática, por exemplo, existem vários softwares de acesso livre, como o
GeoGebra, o Horos e o Winmath, que podem ser utilizados pelo estudante. Em Geografia, há
o Seterra, bastante recomendado. O Google Earth também pode ser usado para exploração de
mapas e áreas geográficas.
Antes, porém, é preciso que o professor conheça e avalie esses softwares, a fim de selecio-
nar qual(is) deles irá utilizar para pedir aos alunos tarefas sobre álgebra, geometria e equações,
cujos resultados poderão ser apresentados em sala de aula. Essas atividades com softwares de
aprendizagem assistida por computador podem ser realizadas na classe ou em casa, individu-
almente ou em grupo. Em Geografia, por exemplo, uma equipe de três estudantes pode montar
um mapa da cidade ou do bairro onde vivem, destacando aspectos relevantes sobre o tema.

II. Aprendizagem colaborativa de rede


Na aprendizagem colaborativa online, o professor organiza pequenos grupos de estudantes,
com três ou quatro membros, e estes realizam uma atividade do currículo, que pode ser feita em
software para trabalho de equipe, como o Googlegrupos, ou em plataformas como o Moodle, o
Teleduc etc. Todos os componentes dos grupos desempenham uma parte do trabalho online. Na
elaboração da atividade colaborativa de grupo, o professor deve considerar os seguintes itens:
1. definição clara da tarefa, como por exemplo, na disciplina de História, elaborar um trabalho
em formato multimídia (com vídeo, texto, fotos, animações) sobre a fundação de nossa cidade,
a ser apresentado em classe; 2. elementos que devem constar da apresentação, como o nome
dos fundadores, o período em que a cidade foi fundada, o contexto histórico em que isso se deu,
o porquê da escolha desse local geográfico particular, entre outros; 3. duração das tarefas; 4.
prazo para elaboração e apresentação em sala de aula; 5. definição do trabalho de cada membro
do grupo na elaboração da tarefa; 6. critérios de avaliação da tarefa.
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Pesquisas realizadas no Canadá sobre o trabalho colaborativo online evidenciam que esse
é um formato pedagógico que apresenta resultados bastante positivos no processo de ensino-
-aprendizagem (Harasim, 2011). Estudantes podem combinar reuniões presenciais e trabalho
online para realizar tarefas colaborativas. É importante que as tarefas a serem executadas pelos
alunos estejam bem explicadas, passo a passo.

III. Simulações e animações


Os softwares de simulação e animação baseiam-se na reprodução virtual de uma situação real
ou conceitual para serem utilizados no processo de aprendizagem. Um dos simuladores mais
conhecidos é o que replica o painel de controle de uma aeronave e é usado para treinar pilotos.
Simulações são também muito empregadas para a aprendizagem de Química ou de Física ao
reproduzirem experimentos de laboratórios físicos em formato virtual. Existem softwares de
simulação e animação para todas as disciplinas do ensino médio. Em História, por exemplo,
temos o Tríade, sobre a Revolução Francesa, desenvolvido na Universidade do Estado da Bahia
– Uneb. O Fisicalc é usado para calcular fórmulas de Física. Também no ensino dessa disciplina,
o Modellus é bastante recomendado por professores que o utilizam.

IV. Jogos educativos


Os jogos educativos online foram desenvolvidos a partir da premissa de aprender brincando
e, portanto, conduzem a aprendizagem do estudante por meio de atividades lúdicas e desafia-
doras, que podem ser feitas individualmente ou em grupo. Há jogos para todas as disciplinas.
Em Matemática, o MrMath2000 é muito usado. No ensino de Química Orgânica está o Ludo
Química, também recomendado por professores.

V. Pesquisa e apresentação em formato multimídia


Projetos de pesquisa são usados por docentes em todas as disciplinas do ensino médio,
pois permitem que o estudante investigue e explore um tema em profundidade. Quando esse
trabalho é realizado na internet, os alunos têm acesso a informações sobre o tema pesquisado
em vários formatos de mídia, como fotos, vídeos, animações, informação textual e hipertextual.
Os resultados da pesquisa podem ser apresentados com a ajuda de apresentadores de slides,
como o PowerPoint ou o Prezi, que possibilitam a integração dos vários tipos de mídias existen-
tes. Assim, os estudantes podem desenvolver o trabalho de pesquisa sobre o tema desejado e
apresentá-lo com bastante criatividade. Esse modelo pedagógico é um dos mais comuns e mais
empregados em salas de aula.
O professor deve especificar como será a apresentação multimídia. Por exemplo, se deve
conter fotos, vídeos, animações, textos, sons, interatividade, feedback e outros requisitos que
podem ser considerados para um bom trabalho.

VI. Utilização de redes sociais em ensino e aprendizagem


Nos últimos anos, os professores vêm utilizando também as redes sociais para o ensino e a
aprendizagem. Quando nos referimos a elas, frequentemente pensamos em Orkut, Facebook
ou Twitter. Mas há muitas outras redes de compartilhamento de fotos, vídeos, comentários e
questionamentos que vão além das três mencionadas e incluem blogs e sites como o Youtube
ou, ainda, páginas das próprias escolas. Uma enorme quantidade de vídeos que cobrem todo o
leque curricular está disponível no Youtube. O estudante pode acessá-los e postar perguntas e
comentários sobre seu conteúdo. No Facebook, os alunos podem criar um evento ou defender
uma causa e atrair inúmeros internautas para participar da atividade.
É importante começar a usar as redes sociais não apenas para reencontrar amigos, comentar
acontecimentos do dia ou trocar experiências. As redes sociais vêm cada vez mais sendo utiliza-
das para organizar movimentos, promover causas sociais, políticas e ambientalistas e denunciar
práticas de corrupção, tortura e exploração do trabalho infantil. Não podemos esquecer que o
movimento batizado pela imprensa de Primavera Árabe, que começou na Tunísia, no final de
2010, com a imolação de um jovem desempregado, ganhou força nos países do Oriente Médio
com sua divulgação nas redes sociais. É um claro exemplo do uso das novas tecnologias em
benefício da organização política pelas conquistas democráticas.
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7. Conclusões
Não são poucos os desafios de ser professor no século XXI. O docente que quer se atualizar e
utilizar as novas mídias em sala de aula necessita adotar uma nova atitude, aberta e criativa, que
o leve a repensar constantemente as atividades pedagógicas elaboradas para seus estudantes.
O modelo da palestra e da aula expositiva não precisa ser suprimido, mas não deve ser o único
nem ser predominante. Até esse antigo modelo pode ser acrescido de recursos multimídia
que tornem a exposição mais interessante e significativa. É melhor correr o risco de inovar e
melhorar a qualidade do ensino do que repetir o já conhecido. O planejamento das atividades
para a sala de aula com computadores deve ser bastante detalhado e testado com seus alunos.
Será a partir dos tropeços e avanços que se poderá criar uma nova prática pedagógica para o
professor de nosso século.
A formação de professores tem um papel importante nessa nova pedagogia, e o docente deve
buscar oportunidades de aprender continuamente e utilizar atividades inovadoras no processo
de ensino. Esse processo de aprendizagem do professor se dá de forma colaborativa com os
colegas e também com os estudantes, que são seus parceiros nessa aventura de inovação para
a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem.
Reconhecer a importância do uso das tecnologias digitais na educação e no nosso cotidia-
no não significa ignorar os riscos e os prejuízos de submeter o homem ao poder sedutor da
sociedade da informação, impedindo-o de pensar criticamente e de admitir que a internet não
necessariamente vai ajudar a construir um mundo melhor do que aqueles em que viveram as
antigas gerações. Se as mídias digitais vão ampliar a nossa capacidade de refletir e elaborar
conhecimento, de construir relações baseadas na tolerância e na cooperação e uma sociedade
mais justa e ética depende de ações, promovidas pelos governos, pelas empresas e pelas socie-
dades, voltadas para o uso social da ciência e da tecnologia.
A importância dessa reflexão é a base do trabalho de Nicholas Carr, estudioso norte-
-americano das novas tecnologias da comunicação que recentemente abriu um grande debate
alertando para a ameaça que representa a celebração fanática das inovações tecnológicas. A
seguir reproduzimos parte de um artigo que resume as ideias centrais de Carr.

”Nicholas Carr estudou Literatura no Dartmouth College e na Universidade Harvard, e tudo


indica que, na juventude, foi um voraz leitor de bons livros. Logo, como aconteceu com toda a
sua geração, descobriu o computador, a internet, os prodígios da grande revolução informá-
tica do nosso tempo, e não só dedicou boa parte de sua vida à utilização de todos os serviços
online como se tornou um profissional e especialista nas novas tecnologias da comunicação
sobre as quais escreve amplamente em prestigiosas publicações dos EUA e da Inglaterra.

Certo dia, descobriu que deixara de ser um bom leitor, e, praticamente, um leitor, inclusive.
Sua concentração desaparecia depois de uma ou duas páginas de um livro, e, principalmente,
se o que ele lia era complexo e exigia muita atenção, surgia em sua mente algo parecido a um
repúdio a continuar com aquele empenho intelectual. Ele conta: ‘Perco o sossego e o fio, come-
ço a pensar em outra coisa. Sinto como se tivesse de arrastar o meu cérebro desconcentrado
de volta ao texto. A leitura profunda que costumava vir naturalmente se tornou um esforço’.

Preocupado, tomou uma decisão radical. No fim de 2007, ele e a mulher abandonaram suas
instalações ultramodernas em Boston e foram morar nas montanhas do Colorado, onde não
havia telefone móvel e a internet chegava tarde, mal ou mesmo nunca. Ali, ao longo de dois
anos, escreveu o livro polêmico que o tornou famoso, The Shallows: What the Internet is Doing
to Our Brains (Superficiais: o que a internet está fazendo com nossas mentes?, Taurus, 2011). [...]

Carr não é um renegado da informática nem quer acabar com os computadores. No livro,
reconhece a extraordinária contribuição que Google, Twitter, Facebook ou Skype prestam à
informação e à comunicação, o tempo que esses recursos permitem economizar, a facilidade
com que uma imensa quantidade de seres humanos pode compartilhar de experiências, os
benefícios que tudo isso representa para empresas, pesquisa científica e desenvolvimento
econômico das nações.

Mas tudo isso tem um preço e, em última instância, significará uma transformação tão grande
em nossa vida cultural e na maneira de operar do cérebro humano quanto a descoberta da
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imprensa por Gutenberg no século XV, que generalizou a leitura de livros, até então exclusiva
de uma minoria insignificante de clérigos, intelectuais e aristocratas. O livro de Carr é uma
reivindicação das teorias do agora esquecido Marshall McLuhan, ao qual muitos nem deram
atenção, quando, há mais de meio século, afirmou que os meios de comunicação não são
nunca meros veículos de um conteúdo, que exercem uma influência dissimulada sobre este,
e, a longo prazo, modificam nosso modo de pensar e agir. McLuhan referia-se principalmente
à TV, mas a argumentação do livro de Carr, e as experiências e testemunhos abundantes que
ele cita como respaldo, indicam que essa tese tem uma extraordinária atualidade relacionada
ao mundo da internet.

Os defensores recalcitrantes do software alegam que se trata de uma ferramenta e que está ao
serviço de quem a usa e, evidentemente, há abundantes experiências que parecem corroborá-
-lo, sempre e quando essas provas sejam realizadas no campo de ação no qual os benefícios
daquela tecnologia são indiscutíveis: quem poderia negar que é um avanço quase milagroso
o fato de que, agora, em poucos segundos, clicando com o mouse, um internauta obtenha
uma informação que, há poucos anos, exigia semanas e meses de consultas em bibliotecas
e com especialistas? Mas também há provas conclusivas de que, quando a memória de uma
pessoa deixa de ser exercitada, por contar com o arquivo infinito que um computador põe ao
seu alcance, ela embota e se debilita como os músculos que deixam de ser usados.

Não é verdade que a internet seja apenas uma ferramenta. Ela é um utensílio que se torna um
prolongamento do nosso próprio corpo, do nosso próprio cérebro, o qual, também, de ma-
neira discreta, vai se adaptando pouco a pouco a esse novo modo de informar-se e de pensar,
renunciando paulatinamente às funções que esse sistema faz por ele e, às vezes, melhor que
ele. [...] Para que manter fresca e ativa a memória se toda ela está armazenada em algo que
um programador de sistemas definiu como ‘a melhor e maior biblioteca do mundo’? E para
que eu deveria aguçar a atenção se, apertando as teclas adequadas, as lembranças das quais
preciso vêm até mim, ressuscitadas por essas diligentes máquinas?

Não surpreende, por isso, se alguns fanáticos da internet, como o professor Joe O´Shea,
filósofo da Universidade da Flórida, afirma: ‘Sentar-se e ler um livro de cabo a rabo não faz
sentido. Não seria um bom uso do meu tempo, e com a internet posso ter todas as informa-
ções com mais rapidez. Quando uma pessoa se torna um caçador experimentado na internet,
os livros são supérfluos’. O mais atroz desta declaração não é a afirmação final, mas o fato
de esse famoso filósofo acreditar que uma pessoa lê livros somente para ‘informar-se’. Esse
é um dos estragos que o vício fanático da telinha pode causar. Daí, a patética confissão da
doutora Katherine Hayles, professora de Literatura da Universidade Duke: ‘Não consigo mais
que meus alunos leiam livros inteiros’.

Esses alunos não têm culpa de agora serem incapazes de ler Guerra e paz e Dom Quixote.
Acostumados a picotar a informação em seus computadores, sem ter a necessidade de fazer
prolongados esforços de concentração, eles perderam o hábito e até a capacidade de fazê-lo.
Foram condicionados a contentar-se com o borboletear cognitivo aos quais a Rede os acos-
tuma, tornando-se de certa forma vacinados contra o tipo de atenção, reflexão, paciência e
prolongado abandono ao que se lê, que é a única maneira de ler a grande literatura. Mas não
acredito que a internet torne supérflua apenas a literatura: toda obra de criação gratuita, não
subordinada à utilização pragmática, é excluída do conhecimento e da cultura propiciados
pela Rede. Sem dúvida, essa pode armazenar com facilidade Proust, Homero, Popper e Platão,
mas dificilmente suas obras terão muitos leitores. Para que dar-se ao trabalho de lê-las se no
Google podemos encontrar resumos simples e amenos do que inventaram nesses aborrecidos
calhamaços que os leitores pré-históricos costumavam ler?

A revolução da informação está longe de ter terminado. Ao contrário, nesse campo surgem
a cada dia novas possibilidades, conquistas e o impossível retrocede velozmente. Devemos
alegrar-nos? Se o gênero de cultura que está substituindo a antiga nos parecer um progresso,
sem dúvida sim. Mas deveremos nos preocupar se esse progresso significa o que um erudito
estudioso dos efeitos da internet em nosso cérebro e em nossos costumes, Van Nimwegen,
deduziu depois de um dos seus experimentos: Confiar aos computadores a solução de todos
os problemas cognitivos reduz ‘a capacidade das nossas mentes de construir estruturas está-
veis de conhecimento’. Em outras palavras, quanto mais inteligente for o nosso computador,
mais estúpidos seremos.”
LLOSA, Mario Vargas. A internet e o déficit de atenção. O Estado de S. Paulo, 14 ago. 2011. Disponível em:
<http://www.estadao.com.br>. Acesso em: 23 nov. 2011.
DVD do professor

BIBLIOTECA DO PROFESSOR • Educação e tecnologia

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