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República de Angola

Ministério da Educação

Liceu (IPPS)

CURSO DE CIÊNCIAS ECONÓMICAS E JURÍDICAS

MANUAL DE APOIO À DISCIPLINA DE PSICOLOGIA

Por: Prof. Rossi Martins


Luanda, Setembro 22

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TEMA 1: A PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA

1.1 Breve historial da Psicologia e objeto de estudo da Psicologia como


ciência

Desde os tempos remotos, o homem sempre procurou compreender e


explicar os fenômenos psíquicos, o fenômeno das pessoas que o rodeavam,
porém, o baixo desenvolvimento das forças produtivas da cultura, ciência e
a técnica condicionam o pensamento do homem.

Psicologia não surgiu directamente como uma ciência. A Psicologia


começou como resultado da curiosidade dos filósofos para entender as
experiências místicas e actividades de pessoas e eventos como as suas
experiências na vida, os sonhos, a felicidade, a raiva, a vida materialista, as
motivações do comportamento das pessoas em diferentes situações, etc.

Assim, as primeiras ideias sobre a mente e o seu funcionamento foram


derivadas da filosofia grega. Uma dessas ideias foi colocada pelo médico
grego Alcmeão de Crotona no século VI a.C., que propõe que, “a vida mental
é uma função do cérebro”. Esta ideia fornece uma base para entender a
psique humana até na actualidade.

Outros filósofos gregos notáveis são Sócrates (469-399 aC), que reconhecia
a mente também, além da alma. Platão (428 / 7-348 aC) que considerava o
corpo e a mente como dois princípios independentes e antagónicos,
proclamou a alma imortal e imaterial e dividiu em 3 partes: inteligência,
valentia e desejo; estas partes eram objectivamente distribuídas pela cabeça
(Inteligência), tórax (Valentia) e abdómem (Desejo).

Aristóteles (384-322 aC), discípulo de Platão, acreditava na inseparabilidade


da alma e do corpo, afirmando que a mente é o resultado das actividades

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psicológicas. Onde há vida (alma), há alma e onde há alma, há vida, uma não
vive sem a outra. Para Aristóteles existem 3 formas de alma: vegetativa,
animal e racional, correspondendo respectivamente as plantas, animais e ao
homem.

Gradualmente à medida que as ideias científicas sobre a psicologia foram


desenvolvendo, a filosofia começou a perder sua proeminência, assim como
o termo a alma. Em seguida, a psicologia foi definida como “o estudo da
mente’. A palavra mente era menos misteriosa do que a alma e, portanto,
esta definição foi continuada por algum tempo.

1.2. Correntes Psicológicas e seus contributos para o desenvolvimento


da Psicologia
A Psicologia surgiu como uma ciência pelo estabelecimento do primeiro
laboratório de Psicologia experimental em 1879, em Leipzig, na
Alemanha, por Wilhelm Wundt (1832-1920). É aqui que os primeiros
psicólogos profissionais adquiriram as competências de trabalho
experimental para estudar o comportamento e a mente dos indivíduos.
Wundt definiu o estudo da estrutura da mente (conjunto de processos que
formam a mente) como o objecto da nova ciência, centrou seus estudos
nas experiências conscientes, substituiu o conceito de espírito
por consciência. Ele adoptou a introspecção como o método da Psicologia,
feitos que o eternizaram como o “Pai” da Psicologia Experimental.
Com o desenvolvimento da Psicologia como uma ciência independente,
alguns psicólogos começaram a questionar e rejeitar algumas abordagens e
os métodos de Wundt, por apresentarem muitas limitações e estarem
baseadas em especulações. Assim, outros psicólogos tentaram fornecer uma
base científica para o assunto e esses esforços resultaram no surgimento de

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diferentes correntes ou escolas de pensamento, fornecendo várias
abordagens para entender o comportamento, essas escolas são:
O estruturalismo, o funcionalismo, Behaviorismo ou comportamentalismo,
a Psicanalise, Gestaltismo, a Reflexologia, ou Construtivismo ou
interaccionismo e outras.
1.2.1 Estruturalismo/associacionismo
Esta escola centrou a sua atenção para estudar as experiências conscientes,
estrutura do cérebro e sistema nervoso que são responsáveis por tais
experiências.

O destaque entre os estruturalistas foi o próprio Wundt, Edward Titchener


(1867-1927) um psicólogo britânico que considerava a psicologia como
ciência da Consciência, e outros.O Estruturalismo tentou analisar os
elementos básicos da consciência: sensações, sentimentos e imagens, ou seja
para esta escola, a psicologia devia estudar os processos que formam a
estrutura da mente e a sua associação, por isso tem o nome de estruturalismo
ou associacionismo.

1.2.2 Funcionalismo
Esta escola foi iniciado por William James (1842-1910). Os outros
psicólogos importantes que pertenciam a esta escola foram John Dewey,
James Angell, etc. Os funcionalistas defendiam que a psicologia deveria
ocupar-se no estudo do funcionamento da mente e não dos estilhaços que a
formam, adoptando métodos objectivos como a experimentação.

1.2.3 Behaviorismo/condutismo
Esta escola de pensamento foi iniciada por John Watson(1878-1958). Os
outros psicólogos notáveis desta escola foram Thorndike, Pavlov, Skinner, e
outros.

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Watson definiu a psicologia como ciência do comportamento do
organismo. Ele concentrou sua atenção no estudo do comportamento
observável e nos estímulos ambientais que motivam este comportamento.
Rejeitou as forças internas invisíveis da mente.
Watson rejeitou ainda o método de introspecção, considerando-o não
confiável e não científico e defendeu o método de observação e a
experimentação.
O Behaviorismo enfatizou a necessidade de estudar o comportamento
humano e animal. Até o surgimento desta escola, os psicólogos se
concentravam apenas no estudo do comportamento humano e não havia
espaço para estudo do comportamento animal.
Watson salientou o papel do ambiente e dos estímulos na formação do
comportamento. Ele declarou que poderia fazer qualquer coisa de uma
criança – um mendigo, advogado, cientista ou criminoso.
1.2.4 A Psicologia da Gestalt/gestaltismo
Esta escola de pensamento foi criada no ano de 1912 por três psicólogos
alemães: Max Wertheimer (1880-1941) e seus colegas Kurt Koffka (1886-
1941) e Wolfgang Kohler (1887- 1967).
O termo Gestalt significa “Forma” ou “Configuração”. Para esses
psicólogos a mente não é composta de elementos e, portanto, pode ser
entendida melhor apenas se for estudada como um todo.
O princípio fundamental da escola Gestalt é “o todo é melhor do que a soma
total de suas partes“. De acordo com ela, o indivíduo percebe uma coisa
como um todo e não como um mero conjunto de elementos.
Por exemplo, quando olhamos para uma mesa de madeira, não vamos
enxergá-la como um conjunto de peças diferentes, mas como um todo, só
então percebemos como um objecto significativo.
Como resultado, o comportamento humano é caracterizado como um
comportamento inteligente, em vez de um mecanismo de estímulos e

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respostas simples. Desta forma, a psicologia da Gestalt se opôs fortemente
os pontos de vista das outras escolas.
1.2.5 Psicanálise
A Psicologia foi concentrando-se principalmente sobre a psique humana
normal, até a chegada de Sigmund Freud (1856-1939), que fundou a Escola
de Psicanálise. Esta teoria surgiu a partir da história clínica dos doentes
mentais.
Freud desenvolveu sua teoria baseada na motivação inconsciente. Ele inclui
diferentes conceitos como comportamento consciente, subconsciente e
inconsciente, estrutura da psique, a repressão, a catarse, o desenvolvimento
psicossexual da criança, líbido, análise de sonhos e outros que ajudam a
analisar o comportamento humano integral, especialmente do ponto de vista
do entendimento do comportamento anormal e das motivações
inconscientes.
Outros psicanalistas notáveis foram Jung, Eriksom, Winicott, Ana Freud,
Melani Clein.
1.2.5 Reflexologia
Reflexologia literalmente significa o estudo dos reflexos e corresponde à
escola de fisiologia de origem russa que teve como grande representante Ivan
P. Pavlov (1849-1936).
Reflexos são reacções a situações ou estímulos. Os reflexos condicionados
são as respostas aprendidas a um conjunto de estímulos que se associam;
para Pavlov todo o nosso comportamento dependia destes reflexos.
No decorrer de uma experiência sobre os reflexos digestivos, descobre que
para além dos reflexos inatos, se podem desenvolver nos animais e nos seres
humanos reflexos aprendidos: verifica que o cão salivava não só quando via
o alimento (reflexo inato), mas também perante outros sinais a ele
associados, como os passos do tratador ou o som de uma campainha (reflexos
aprendidos ou condicionados).

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Os reflexos condicionados – seria o fundamento das respostas dos indivíduos
a estímulos provenientes do meio. Os trabalhos de Pavlov representam um
grande passo na constituição da psicologia experimental.

1.2.6 Construtivismo/interaccionismo
Esta escola foi iniciada por Jean Piaget, segundo ele o construtivismo é a
teoria do desenvolvimento do conhecimento em resultado de uma interacção
com o meio. Piaget procurou determinar os processos de construção do
conhecimento desde as suas formas mais básicas até aos níveis mais
complexos, nomeadamente o conhecimento científico.
Piaget afirma que quando uma criança interage com o mundo à sua volta, ela
actua e muda a realidade que vivencia e isso lhe permite a construção do seu
conhecimento.
1.3 Relação da Psicologia com outras ciências
A Psicologia não é a única ciência que estuda o homem, outras ciências
compartilham com ela o mesmo objecto de estudo. A diferença entre elas
baseia-se na orientação de cada uma, embora na realidade se apresentem
como complementares.
 A Pedagogia – sua relação com a Psicologia explica-se pela influência
da educação sobre o desenvolvimento da psíque, a formação e
desenvolvimento da personalidade.
 A Filosofia – a relação desta com a Psicologia resume-se na
explicação da essência dos fenômenos psíquicos.
 A Física – fornece os instrumentos de medição de alguns processos
psicológicos.
 A Sociologia – estuda a conduta humana na perspectiva dos grupos ou
colectividades. As descobertas desta ciência são importantes para a
Psicologia porque o homem como ser social faz parte de diversos
grupos.

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 A Antropologia – os dados antropológicos são importantes para a
Psicologia, na medida em que dão ao psicólogo a consciência da
relactividade cultural dos valores, motivos, aspirações dos indivíduos,
factos que obrigam a ter em conta a influência da cultura na conduta
humana.
 A História – permite-nos conhecer o desenvolvimento do homem
através do tempo e compreender a partir dessa evolução, as
características actuais e as realidades sociais influentes no
comportamento do indivíduo.
 A Matemática ou Estatística – essas duas ciências ajudam a elaborar
ou fazer a quantificação dos fenômenos psíquicos.
 A Biologia – explica a constituição e estrutura do organismo humano
assim como os processos de maturação dos diferentes órgãos do corpo.
Tem relação com a Psicologia porque o desenvolvimento psíquico
depende da maturação ou crescimento do sistema nervoso.
 A Genética – fornece dados sobre os processos hereditários e tais
processos constituem uma das bases importantes do comportamento.
1.4 Ramos da Psicologia

A Psicologia é uma área independente do conhecimento, porém divide-se em


várias áreas com determinadas especificações.

Psicologia Clínica – é uma área da psicologia que se dedica ao estudo dos


transtornos e perturbações mentais, focando-se essencialmente nas doenças
mentais e implicações mentais das doenças “não mentais”. Nesta área inclui
o diagnóstico, classificação, etiologia e intervenção.

Psicologia da Educação – é uma área da psicologia que se foca nos aspetos


da educação. Fundamentalmente centra-se nos processos de aprendizagem e
nas dificuldades das mesmas. Estuda os processos cognitivos implícitos e
explícitos.
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Psicologia da Saúde – esta área da psicologia centra-se nas técnicas e
métodos psicológicos utilizados em prol da saúde física e mental. Estuda de
que forma como a mente influencia o corpo e vice-versa. Foca-se em temas
como doenças psicossomáticas e na prevenção e intervenção de doenças
físicas através da mente.

Psicologia das Organizações – área da psicologia que estuda os fenómenos


psicológicos presentes nas organizações. Atua principalmente sobre a gestão
de pessoas, escolhendo a pessoa certa para a função certa, em função da sua
motivação, interesses, personalidade, etc. Optimizando os processos
humanos das organizações e por consequência, a organização no seu todo.

Psicologia Ambiental – é uma área da psicologia que se foca na forma como


o meio ambiente (meio externo) influência o ser humano e o seu
comportamento. Centra-se nas formas de optimizar o ambiente para um
melhor bem-estar, para um comportamento mais adequado e produtivo. Esta
área converge princípios arquitectónicos a princípios psicológicos.

Psicologia Criminal – é a área da psicologia que estuda os crimes e o


comportamento do criminoso numa perspectiva psicológica. Estabelecendo
perfis, de personalidade e comportamento, descobrindo razões tendências,
visando não apenas descobrir o culpado, mas também prevenir que o crime
ocorra. Os profissionais desta área colaboram com autoridades e tribunais.

Psicologia do Desenvolvimento – esta área foca-se nas alterações do


comportamento relacionadas com as alterações do ciclo de vida e da idade.
Alterações ao nível motor, nível cognitivo, entendimento conceptual,
aquisição das várias competências e formação da identidade e personalidade.
Foca-se principalmente na infância e adolescência.

Psicologia Social – é a área da psicologia responsável por estudar o ser


humano e o seu comportamento inserido numa sociedade. Focando-se em

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como a sociedade e os seus fenómenos influenciam direta ou indiretamente
o ser humano.

Existem muitas outras áreas da psicologia (por ex: neuropsicologia,


psicologia do desporto, psicologia comunitária, etc.). É necessário referir que
não existe fronteira alguma a delimitar, qualquer das áreas, pois ambas têm
a mesma base e em ultima instancia um objetivo comum: o bem-estar e
felicidade do ser humano.

1.5 Métodos e técnicas de pesquisa em psicologia

Todas as ciências exigem provas baseadas na realização de cuidadosas


observações e experiências. Com o intuito de recolher os dados
sistematicamente, com objectividade, os Psicólogos utilizam diversos
métodos de pesquisa. Entre eles a observação natural, a experimentação, o
estudo de caso, os levantamentos (testes, entrevistas, questionários), e os
estudos correlacionais.

Método Científico: é o que utilizamos no decurso de uma determinada


ciência para alcançar um fim previsto, ou seja o modo, a via ou a maneira
que adoptamos para conseguir um fim de acordo o qual organizamos a
actividade. O método fornece cientificidade à Psicologia.

1.5.1 Métodos psicológicos

Métodos fundamentais (observação e experimentação)

1 - Observação: a) - interna subjectiva (introspecção) pode ser controlada e


não controlada. b) - Externa objectiva que pode ser participante e não
participante. c) - Cientifica d) – Quotidiana

2- Experimentação: pode ser natural ou laboratorial Métodos auxiliares


Inquérito: perguntas abertas ou fechadas Entrevista: controlada ou livre e

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teste Outros métodos - Comparativo, testes, clínico (estudo de caso),
estatístico, biográfico e correlacional.

2.1 - Método de observação

Os psicólogos utilizam este método para estudar o comportamento humano


e animal no seu próprio contexto. É assim denominado porque nele o
examinador observa atentamente o examinado na sua actividade ou conduta
(gestos, palavras) e todas as manifestações tais como: trabalho, estudo, jogo
e sua relação com os outros. A observação tem formas principais:

1 – Observação interna ou subjectiva ( auto observação) que é controlada


quando o indivíduo auto observa-se seguindo um roteiro ou plano. É não
controlada quando ocorre informalmente isto é espontânea sem planificação.

2 - Observação externa é participante quando o investigador está presente no


grupo a ser observado e, não participante quando o observador não está
dentro do grupo a ser observado. Os observados não se apercebem da
presença do observador. Ex: assistir ao jogo pela televisão. Observação
científica: consiste na observação sistemática e planificada, ela procura a
explicação da essência psicológica interna dos fenómenos registados. Aqui
precisa-se um plano de observação assim como o registo dos resultados,
depois os factos são analisados, comprovados para se chegar uma conclusão.
Observação quotidiana: consiste na observação do meio ambiente natural do
sujeito e realiza-se sob forma casual sem nenhuma planificação prévia, os
fenómenos são registados no momento em que ocorrem.

1.5.2 Método de experimentação

Método de experimentação: consiste em provocar a actividade do sujeito da


experimentação, criando condições entre as quais pode de um modo preciso
manifestar- se o fenómeno psicológico. Tem por objectivo comprovar ou
verificar uma ou mais hipóteses (que são suposições ou probabilidades entre

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dois factos). Características da experimentação 1- Objectividade: o
experimentador deve submeter-se aos factos e colocar de lado as preferências
pessoais para encontrar resultados verdadeiros (isto é que confere o carácter
científico). 2- Sistematização: deve haver uma programação para cada etapa.
3- Repetição: é um evento científico que confere ao experimentador chegar
aos mesmos resultados 4- Controlo - o experimentador para chegar aos
mesmos resultados deve ter controlo total sobre todos os factos
intervenientes da experimentação.

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