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FACULDADES INTEGRADAS MARIA THEREZA

CURSO DE PSICOLOGIA

EMILLY COSTA FERREIRA

O TRANSTORNO DE PÂNICO NA PERSPECTIVA JUNGUIANA

Niterói
2021
EMILLY COSTA FERREIRA

O TRANSTORNO DE PÂNICO NA PERSPECTIVA JUNGUIANA

Trabalho de Conclusão do Curso


apresentado a Coordenação de
Psicologia das Faculdades
Integradas Maria Thereza como
requisito parcial para a obtenção do
grau de Bacharel em Psicologia.

Orientador: Prof.ª Carla Maria Portella Dias Bezerra

Niterói
2021
EMILLY COSTA FERREIRA

O TRANSTORNO DE PÂNICO NA PERSPECTIVA JUNGUIANA

Trabalho de conclusão do curso


apresentado a Coordenação de Pós
Graduação das Faculdades Integradas
Maria Thereza como requisito parcial
para a obtenção do grau de Pós
Graduada em Psicologia Junguiana.

Aprovado em: ___/___/___

BANCA EXAMINADORA:

____________________________________________________________________
Profª. Ms. Carla Maria Portella Dias Bezerra – Orientadora
Faculdades Integradas Maria Thereza - FAMATH

____________________________________________________________________
Profª. Ms. Bárbara Penteado Cabral
Faculdades Integradas Maria Thereza - FAMATH

____________________________________________________________________
Profª. Dra. Leda Lucia Garcia Rosa Rebello
Faculdades Integradas Maria Thereza - FAMATH
A todos que estiveram comigo
nessa jornada heroica.
AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente à essa força poderosíssima que me conduziu até


aqui.
A minha família que esteve comigo constantemente nesse processo, me
dando sábios conselhos, suporte e muito carinho nessa jornada.
Sou muito grata as minhas amigas que sempre me encorajaram, me
acolheram e tiraram muitas risadas.
Minha eterna gratidão a minha psicóloga Cristina, ela acreditou tanto em mim,
no meu potencial, me auxiliou das formas mais magníficas nessa minha jornada de
individuação.
Agradeço grandemente a Carla Portella, minha orientadora, supervisora,
professora que esteve comigo nesse processo de forma continua, agregando muito
para o meu conhecimento, de forma sábia e amorosa.
Eu serei a heroína da minha própria
história.

Anne Cuthbert.
FERREIRA, Emilly C. O Transtorno de Pânico na Perspectiva Junguiana. Monografia,
Curso de Graduação em Psicologia. Faculdades Integradas Maria Thereza, Niterói,
2021.

Orientador(a): Prof.ª Ms Carla Maria Portella Dias Bezerra

RESUMO

Muitas pessoas têm sido acometidas pelo transtorno de pânico em nossa


contemporaneidade, esse trabalho buscará compreender a simbologia por de trás
desse fenômeno embasado na Psicologia Analítica. O objetivo desse trabalho é
refletir sobre o transtorno de pânico como um possível sinalizador do distanciamento
do indivíduo em relação ao seu processo de individuação e de suas potencialidades.
A metodologia utilizada para sua construção foi a revisão bibliográfica. Foi relatado
o percurso epistemológico da palavra ansiedade desde os tempos antigos até a
contemporaneidade, os principais conceitos da teoria junguiana e o extravio da
individuação e sua relação simbólica com o Deus Pã. Ademais, foi analisado
também o manejo clínico da(o) psicóloga(o) junguiana(o) com os pacientes que
sofrem com esse transtorno.

Palavras-chave: Pânico. Ansiedade. Deus Pã. Psicologia Analítica. Individuação.


ABSTRACT
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................

2 HISTÓRICO DA ANSIEDADE NOS TEMPOS ANTIGOS ATÉ A


CONTEMPORANEIDADE.......................................................................

2.1 GRÉCIA ANTIGA......................................................................................

2. 2 ANSIEDADE NOS SÉCULOS XVII, XVIII, XIX e XXI..............................

2. 3 A CLASSIFICAÇÃO DOS TRANSTORNOS ANSIOSOS NOS MANUAIS DE


PSIQUIATRIA..............................................................................................

3 APRESENTANDO A PSICOLOGIA ANALÍTICA DE C.G JUNG E OS


PRINCIPAIS CONCEITOS..........................................................................

3.1 A PSICOLOGIA ANALÍTICA DE C.G JUNG................................................

4 A INDIVIDUAÇÃO E SEUS CAMINHOS....................................................

4.1 O EXTRAVIO DA INDIVIDUAÇÃO...................................................................

4.1.1 O Deus Pã...................................................................................................

4.2 O TRABALHO TERAPÊUTICO DO PSICÓLOGO ANALÍTICO COM O


TRANSTORNO DE PÂNICO..................................................................

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................

REFERÊNCIAS..........................................................................................
11

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho intitulado “O Transtorno de Pânico na Perspectiva Junguiana”,


tem o objetivo trazer a simbologia do Deus Pã e sua relação com as manifestações
desse transtorno. A questão que me impulsionou ao desenvolver esse trabalho foi
analisar a relação do extravio de individuação e o transtorno de pânico. Minha
motivação diz respeito da minha própria vivência com esse fenômeno e minha
experiência analítica com a mesma.
O objetivo geral dessa pesquisa está relacionado a refletir sobre o transtorno
de pânico como um possível sinalizador do distanciamento do indivíduo em relação
ao seu processo de individuação e de suas potencialidades. Os objetivos gerais
compõem traçar um percurso epistemológico da ansiedade desde a Grécia Antiga
até a contemporaneidade, descrever os principais conceitos da Psicologia Analítica
de C. G. Jung, relatar sobre a individuação e seus caminhos, tecer sobre o extravio
da individuação e sua relação simbólica com o transtorno de pânico, apresentar o
trabalho terapêutico da(o) psicóloga(o) junguiana(o) frente ao transtorno de pânico.
A proposta metodológica para esse estudo foi a pesquisa bibliográfica
O trabalho trará a cronologia epistemológica da ansiedade, desde a Grécia
Antiga até nossa contemporaneidade. Na antiguidade essas manifestações eram
consideradas como possessões divinas advinda do Deus Pã. Ao decorrer do tempo
à ansiedade foi ganhando lugar na linguagem médica, posteriormente na psiquiatria,
foi compreendido que para além dos fatores biológicos tinha também o cunho de
questões emocionais envolvidas com a mesma. Surgem então assim as primeiras
concepções psicossomáticas dos transtornos mentais na França, nas quais os
ataques de pânico eram compreendidos como crises agudas de angústia, conforme
os estudos de Landré-Beuvais. No século XX teremos a criação do DSM-1, a
primeira edição do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, foi
publicada pela Associação de Psiquiatria Americana (APA) em 1953, sendo o
primeiro manual de transtornos mentais focado na aplicação clínica. O DSM-I
consistia basicamente em uma lista de diagnósticos categorizados. Com o decorrer
do tempo houve as atualizações do DSM e a que utilizamos atualmente é o DSM-5,
ao qual descreve toda sintomatologia do transtorno de pânico.
Posteriormente será apresentado a Psicologia Analítica desenvolvida por Carl
Gustav Jung e seus principais conceitos. Proporcionando assim uma perspectiva
12

ampliada e simbólica do funcionamento da psique. Serão descritos os conceitos de


psique, ego, complexos, inconsciente pessoal, inconsciente coletivo, arquétipos,
sombra, persona, self, individuação e energia psíquica.
Por fim, será relatada sobre a individuação e seus caminhos, a relação do
extravio da individuação com o Deus Pã e o trabalho terapêutico da psicóloga(o)
junguiana(o) com os pacientes que têm essas vivências.
13

2 HISTÓRICO DA ANSIEDADE NOS TEMPOS ANTIGOS ATÉ A


CONTEMPORANEIDADE

Este capítulo apresentará o percurso histórico do conceito de ansiedade e


como a mesma estruturou-se frente aos sintomas que são conhecidos atualmente,
através dos seus desdobramentos na história desde a antiguidade até os tempos
atuais. Entende-se que o conceito da mesma surgiu de forma evidenciada em nossa
contemporaneidade, sendo assim muito discutida e analisada pelos psicólogos e
psiquiatras.
Pode-se então compreendê-la como um fenômeno grandioso em nossa
sociedade. No entanto, antes de buscar sua composição sintomatológica e sua
vasta dimensão em nossa contemporaneidade, é importante compreender sua
trajetória na história, com a atribuição de sentidos que foram dados no decorrer de
sua construção. Para assim compreendê-la de forma analítica e ampliada em nossa
atualidade.
Ceccarelli (2005) fará um resgate interessante ao que concerne o significado
da palavra Psicopatologia, isto é, o campo que estuda os adoecimentos psíquicos.
Ele elucidará sua complexidade a partir da sua etimologia e buscará a compreensão
amplificada da palavra, ou seja, o todo que a compõe, evitando assim a
fragmentação da mesma. Buscando como base uma compreensão dos sofrimentos
psíquicos, mas, distante de uma postura fixada como pode-se analisar abaixo:

A palavra "Psico-pato-logia" é composta de três palavras gregas: "psychê",


que produziu "psique", "psiquismo", "psíquico", "alma"; "pathos", que
resultou em "paixão", "excesso", "passagem", "passividade", "sofrimento",
"assujeitamento", "patológico" e "logos", que resultou em "lógica",
"discurso", "narrativa", "conhecimento". Psicopatologia seria, então, um
discurso, um saber, (logos) sobre a paixão, (pathos) da mente, da alma
(psiquê). (CECCARELLI, 2005, p.1)

2.1 GRÉCIA ANTIGA

Conforme Nardi (2013) na Grécia Antiga existiam possíveis sinais que


poderiam trazer algumas reflexões quanto aos sintomas, mesmo que a palavra
ansiedade nunca tivesse sido utilizada. Suas formas de expressão nos sujeitos se
davam como “possessões” divinas. Na antiguidade clássica os relatos de ataques de
14

pânico eram provindos do Deus Pã1, existente na mitologia Grega. Pessotti (1995)
relata que o sofrimento psíquico era um castigo dos deuses irritados com a hybris
(arrogância) dos homens.
Nardi (2013) aponta que os possíveis sintomas atrelados ao medo excessivo
que compõem aos quadros de ansiedade, também podiam ser interpretados
mediante o distanciamento das pessoas com Deus, segundo a bíblia na visão cristã:

Na Grécia Antiga, apesar de não existir uma palavra para descrever a


ansiedade, já se usavam termos como mania, melancolia, histeria e
paranoia para definir sentimentos pouco conhecidos, porém vividos em sua
plenitude. Relatos bíblicos apontam que os sintomas de medo excessivo já
apareciam naquela época e eram atribuídos ao relacionamento com Deus e
ao distanciamento deste. (NARDI, 2013, p. 1)

Com relação a etimologia grega designada a palavra ansiedade e seus


desdobramentos na história, Michels (2019) trará uma reflexão importante quanto da
simbologia.

A origem da palavra ansiedade deriva-se do grego agkho, que possui o


significado de estrangular, sufocar ou oprimir. A ansiedade pode ser
analisada ao longo da história humana, por diferentes povos e culturas, que
registraram seus modos de viver. (…) Na obra Ilíada, de Homero, escrita por
volta de VIII A.C., os estados de medo e ansiedade são retratados como
decorrentes de fenômenos divinos, como a visitação ou intrusão dos deuses
no indivíduo. (MICHELS, 2019, p.3)

2.2 A ANSIEDADE NOS SÉCULOS: XVII, XVIII, XIX e XX

Ainda na cronologia traçada por Nardi (2013), a partir do século XVII


precisamente em seu início, um novo sentido é atribuído à ansiedade, seu
aparecimento se deu nos relatos médicos como doença mental. Nesta época ainda
não se falava sobre a psiquiatria, então não havia um local para a palavra ansiedade
na linguagem médica. O responsável por sua criação foi o Johann Reil, no ano de
1808 como pode-se analisar abaixo:

O uso do termo ansiedade também significava o início de uma distinção


entre os níveis normais vividos pela população em geral depois de
desapontamentos no amor, preocupações financeiras e problemas de saúde
1
Relatos da Antiguidade apontam a ansiedade como uma característica presente no cotidiano dos
homens na Grécia Antiga. Na mitologia desse país, por exemplo, Pã, o Deus dos bosques, dos
campos, dos rebanhos e dos pastores, era temido por aqueles que necessitavam atravessar as
florestas à noite. Com sua aparência assustadora, metade homem e metade carneiro, causava
sustos, gritos, medos, pavores e sofrimento àqueles que cruzavam as matas. As trevas e a solidão
das travessias induziam os que as realizavam a pavores súbitos, desprovidos de qualquer causa
aparente, como um “ataque de pânico”. Daí a origem da palavra pânico (NARDI, 2013, p. 1).
15

e os níveis excessivos apresentados por pessoas que reagiam de forma


mais intensa a eventos similares. Em acréscimo, o que hoje consideramos
síndromes de ansiedade grave era, naquele período, vinculado a quadros
depressivos. (NARDI, 2013, p. 2)

Segundo Nardi (2013) no século XVIII, os médicos voltaram a sua atenção


para os pacientes que tinham delírios e transtornos que necessitavam de cuidado
institucional. Então a ansiedade ficou sendo considerada uma especialidade do
campo biológico, devido a sua estrutura física e os sintomas atrelados a mesma.
Como descrito pelo médico escocês Cullen (1710-1790), nesse período era comum
associar a ansiedade a algum tipo de “doença do nervo”, uma vez que o sistema
nervoso era claramente acionado, o que deu origem ao termo neurose.
No século XIX, os sintomas relacionados à ansiedade encontravam-se no
ramo da medicina, sendo sua manifestação caracterizada pelas seguintes partes do
corpo: coração, orelha, intestino e cérebro. Logo o olhar relacionado à mesma se
encontrava no que concerne ao físico e seu tratamento voltado para ele também.
Conforme Nardi (2013) o distúrbio relacionado ao quadro de ansiedade
corresponderia a um distúrbio do órgão sintomático, sendo assim relatados desta
forma nos livros de medicina da época, considerando-os fontes de estudos para a
historicidade dos transtornos de ansiedade. Ainda no século XIX começou uma
mudança significativa no que rege o âmbito da saúde mental, na qual as doenças
mentais apresentariam um cunho psicológico e não somente físico como é relato a
seguir:

Nessa época, já se tentava entender o medo de falar em público, a aversão


a animais, a agitação excessiva, a angústia e a dificuldade para dormir,
conferindo-se explicações psicossomáticas a tais sintomas. Considerava-se
que ansiedade intensa e tristeza poderiam levar a condições orgânicas
(NARDI, 2013, p. 2)

Conforme Nardi (2013), por volta de 1813, Landré-Beuvais compreendeu e


relatou que a ansiedade seria uma síndrome integrada por conteúdos de vertentes
emocionais e reações fisiológicas. Surgem então assim as primeiras concepções
psicossomáticas dos transtornos mentais na França, nas quais os ataques de pânico
eram compreendidos como crises agudas de angústia.
No final do século XIX os tratamentos e estudos direcionados à ansiedade
ocuparam o campo da psiquiatria. Ainda segundo Nardi (2013) na primeira fase
16

relacionava-se ao diagnóstico, o trabalho clínico ainda não era considerado, a não


ser pelo psiquiatra Kraepelin (1856-1926) que desenvolveu um sistema
classificatório dos transtornos mentais, publicado em 1918 com a ideia de ser uma
classificação utilizada em hospitais e de possibilitar uma melhor comunicação entre
clínicos e cientistas e por conseguinte, os mesmos poderiam ser tratados pelo viés
clínico. No entanto, esse sistema desenvolvido por ele não foi popularizado.
Vianna, Campos e Fernandez (2010) relatam que foi a partir dos trabalhos
clínicos desenvolvidos por Freud (1836-1939) que os transtornos ansiosos tiveram
uma classificação mais sistemática. Freud descreveu de forma objetiva os quadros
clínicos que causavam disfunções relacionadas à ansiedade, nomeando-as assim
como: crise aguda de angústia, neurose de angústia e expectativa ansiosa.
Atualmente esses quadros recebem o nome de ataque de pânico, transtorno de
pânico e transtorno de ansiedade generalizada. De acordo com Fernandez e Cruz
(2007) devido ao sistema de classificação psicanalítico não ser embasado em
pressupostos teóricos que se sustentam em dados empíricos, houve-se a
necessidade de desenvolver novos modelos de classificação pautados no método
científico.

2.3 A CLASSIFICAÇÃO DOS TRANSTORNOS PSICOLÓGICOS NOS MANUAIS


DIAGNÓSTICOS

Ainda segundo Nardi (2013), no ano de 1946, percebeu-se a importância de


sistemas classificatórios para a terminologia em saúde mental, sendo criado o
National Institute of Mental Health. Ribot contribuiu muito para o conceito de
ansiedade, identificando diferentes tipos de transtornos de ansiedade, tais como:
TAG que é o transtorno de ansiedade generalizada e fobias específicas. Em 1948
eles foram inclusos na categoria dos transtornos mentais na sexta edição do CID e
no ano de1952 acontece a primeira publicação do DSM pela APA.
De acordo com Araújo e Neto (2013) a primeira edição do Manual diagnóstico
e estatístico de transtornos mentais, o DSM, foi publicada pela Associação de
Psiquiátrica Americana (APA) em 1953, sendo o primeiro manual de transtornos
mentais focado na aplicação clínica. O DSM-I consistia basicamente em uma lista de
diagnósticos categorizados, com um glossário que trazia a descrição clínica de cada
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categoria diagnóstica. Apesar de rudimentar, o manual serviu para motivar uma série
de revisões sobre questões relacionadas às doenças mentais.
Em 1968 os transtornos de ansiedades são colocados no DSM-II; em 1980
ocorre a publicação da terceira edição do DSM e o mesmo foi revisado em 1987
para DSM-III (DSM-III-R). Havia uma crença de que as questões hereditárias e
biológicas poderiam influenciar nas emoções que compõem assim os transtornos de
ansiedade, Vianna, Campos e Fernandes (2010) para elucidarem essas questões,
relatam o caso do pequeno Hans, um paciente de Sigmund Freud, que tinha 5 anos
e possuía um quadro de neurose fóbica. Houve-se assim um interesse dos médicos
da época em se debruçarem nos estudos desses casos clínicos frente à
compreensão dos mesmos. Outro fator importante a se mencionar que gerou um
grande interesse dos médicos da época, em especial do Spilberger (1973), foi em
relação ao alto índice das crianças órfãs devido à segunda Guerra Mundial e uma
possível ligação com o quadro sintomático das mesmas.
Vianna, Campos e Fernandez (2010) relatam que por um longo período as
categorias nosológicas (a parte da medicina que estuda a descrição e classificação
das doenças) relacionadas à ansiedade estavam descritas conceitualmente em
manuais como o DSM ou a CID circunscritas à idade adulta. Essa noção difundida
até então era a de que os medos e as preocupações durante a infância eram de
curso transitório. Ainda de acordo com os autores, em 1975, a CID-9 incluiu a
descrição de uma categoria mais ampla, nomeada de distúrbios das emoções, com
início específico na infância, que incluía dois distúrbios ansiosos: o distúrbio de
ansiedade excessiva e o distúrbio da sensibilidade, timidez e retração social. O
DSM-III em 1980, seguindo a mesma tendência, apresentou uma nova seção
destinada aos transtornos mentais diagnosticáveis pela primeira vez na infância.
Por volta de 1994 foi lançada a quarta edição do DSM. Em 2000 houve a
publicação do DSM revisado, chamando-o assim de DSM- IV (DSM-IV-TR). Pode-se
perceber no que concerne ao primeiro DSM e os transtornos de ansiedade uma
ligação com os transtornos psicogenéticos, ou seja, sua origem se dava sem uma
explicação ou uma causa estabelecida, sendo assim assinalados como transtornos
psiconeuróticos, originando desta forma o termo utilizado atualmente. Segundo
Nardi (2013) foram classificados da seguinte forma:
18

1. Reação de ansiedade; esse transtorno foi referido como “difuso e não


restrito a situações ou objetos definidos”. 2. Reação fóbica; esse transtorno
ocorre quando a ansiedade “torna-se destacada a partir de uma ideia, objeto
ou situação na vida diária e é substituída por uma ideia simbólica ou
situação sob a forma de um medo neurótico específico [...] O paciente tenta
controlar a sua ansiedade evitando os objetos fóbicos ou situações fóbicas”.
3. Reação obsessivo-compulsiva; essa condição foi descrita como
ansiedade “associada com a persistência de ideias indesejadas e repetitivas
de impulso para a prática de atos que podem ser considerados mórbidos
pelo paciente. O próprio paciente pode considerar suas ideias e
comportamentos como sem sentido, mas mesmo assim se sente obrigado a
realizar seus rituais”. (NARDI, 2013, p.7)

Com o decorrer do tempo algumas modificações foram realizadas no que


caracterizam o quadro classificatório da ansiedade, essas alterações podem ser
observadas na versão mais atualizada do DSM, ou seja, o DSM-V. Como pode-se
ver abaixo:

O capítulo dos "Transtornos de ansiedade" foi reformulado nesta nova


edição do manual e os diagnósticos de "Transtorno obsessivo-compulsivo",
"Transtorno de estresse agudo" e "Transtorno de estresse pós-traumático"
foram realocados em novos capítulos.
O diagnóstico de quadros fóbicos (agorafobia, fobia específica e "Transtorno
de ansiedade social") deixou de exigir que o indivíduo com mais de dezoito
anos reconheça seu medo como excessivo ou irracional, visto que muitos
pacientes tendem a superestimar o perigo oferecido pelo objeto ou evento
fóbico em questão. A duração mínima para o diagnóstico desses transtornos
passa a ser de seis meses para todas as idades.
O "Transtorno de pânico" e a agorafobia foram separados como
diagnósticos independentes, reconhecendo a existência de casos nos quais
a agorafobia ocorre sem a presença de sintomas de pânico. Além disso, a
observação de que o "Ataque de pânico" pode ocorrer como comorbidade
em outros transtornos mentais além da ansiedade fez com que o DMS-5
incluísse o "Ataque de pânico" como especificador para todos os demais
transtornos.
O "Transtorno de ansiedade de separação" e o "Mutismo seletivo" saíram
do extinto capítulo dos "Transtornos geralmente diagnosticados pela
primeira vez na infância ou na adolescência" e passaram a compor os
"Transtornos de ansiedade". Os critérios diagnósticos para o "Transtorno de
ansiedade de separação" são semelhantes aos do antigo manual, mas
aceitam que os sintomas tenham início em indivíduos com mais de dezoito
anos. Os critérios para o diagnóstico de "Mutismo seletivo" seguiram
praticamente inalterados. (ARAÚJO; NETO, 2013, p.6)

A partir de uma ampliação de sentido relacionado a “psicopatologia”, ou seja,


o adoecimento da alma, os autores Zanoni e Serbena (2011) trazem uma concepção
importante quanto a mesma, com base nos estudos do Psicólogo Arquetípico James
Hillman. Essa nova visão considera a psicopatologia como um campo que
propiciaria um discurso ou um saber sobre a paixão da alma, isto é, um local que
recebe essa fala representada de significados e que simbolizariam esse o sofrimento
19

psíquico. Para poder compreender a ideia deste pensamento, Zanoni e Serbena


(2011) retrataram da seguinte forma:

Para o contemporâneo psicólogo arquetípico James Hillman, a palavra


pathos também representa algo que se experimenta, uma comoção e a
capacidade de comover-se, assim como as trocas que a alma sofre. Para
ele, a patologia está presente na vida de todas as pessoas e o sofrimento é
a sua imagem comum. Ela representa um movimento da psique (ou da
alma) válido, autêntico e necessário (ZANONI; SERBENA, 2011, p.3).

No próximo capítulo serão abordados a história de Carl Gustav Jung e alguns


conceitos que fundamentam a Psicologia Analítica. O caminho que será percorrido
no capítulo seguinte, buscará descrever esses conceitos e sua importância para a
ampliação do funcionamento da psique do indivíduo. Considerando assim sua
jornada para a individuação.
20

3 APRESENTANDO A PSICOLOGIA ANALÍTICA DE C. G. JUNG E OS


PRINCIPAIS CONCEITOS

Segundo Silveira (1981), Carl Gustav Jung nasceu em 26 de julho de 1975,


em Kesswil na Suíça. Foi um psiquiatra revolucionário, fez grandes descobertas com
relação a complexidade e a totalidade do sujeito e sua relação com seu
inconsciente, tanto pessoal quanto arquetípico. Considerava assim as narrativas de
seus pacientes de forma profunda, e buscava a ampliação delas, muito inspirado
pela mitologia, pela filosofia, pela alma primitiva, dentre outras fontes que
complementaram de forma abundante sua gama de estudos e trabalhos realizados
no decorrer de seu trajeto. Encantado pela alma humana, viajou para África do
Norte, conviveu um período com os índios Pueblo da América, e esteve Monte Elgon
na África Oriental Inglesa. Nessas suas viagens pode assim perceber a cultura de
cada local e como elas faziam parte do processo de subjetivação das pessoas,
através dos seus símbolos, mitos, ritos, fazendo parte então da construção das
dinâmicas de cada uma.

3.1 A PSICOLOGIA ANALÍTICA DE C.G JUNG

De acordo com Hall e Nordby (1980) na Psicologia Junguiana a personalidade


é denominada de psique. Essa palavra deriva do latim e significa originalmente
“espírito” ou “alma”. Com o decorrer dos tempos modernos, passou a significar
“mente”, como em psicologia, a ciência da mente. Logo a psique abrange todos os
pensamentos, sentimentos e comportamentos, sendo eles conscientes e
inconscientes. O conceito de psique sustenta-se na ideia primordial e fundante de
Jung que uma pessoa, em primeiro lugar, é um todo. Jung não considera que a
psique seja de alguma forma separada em partes, ou seja, uma reunião de
acontecimentos que foram acrescentadas pela experiência e pelo aprendizado.
Ainda segundo Hall e Nordby (1980) o trabalho analítico do psicólogo é fazer
com que o sujeito afirme essa existência e desenvolva todo esse essencial, levando-
o até o mais alto grau possível de coerência, diferenciação e harmonia, se atendo
então para que ele não se fracione em sistemas separados, autônomos e
conflitantes. O trabalho de Jung direcionava-se auxiliar seus pacientes recuperando
21

a unidade perdida, ajudando então a fortalecer lhes a psique, para que ela pudesse
resistir a qualquer futuro desmembramento.
Segundo Grinberg (2017), o ego é o centro da consciência, logo, as imagens,
emoções, sentimentos e ideias só podem ser conscientes se estiverem associados
ao ego. Não é possível haver consciência sem o ego. O ego representa o indivíduo e
todas suas tentativas de adaptação na vida e realização por meio de suas vontades.
Ele possui um papel muito importante dentro da economia psíquica, sendo aquele
que organiza, avalia, raciocina e organizar os conteúdos da vida do sujeito.
De acordo com Grinberg (2017), o ego possui certa quantidade de energia, e
mediante a concentração da mesma, o indivíduo pode escolher alguns conteúdos e
se livrar de determinados conteúdos. Canalizando assim essa energia para mudar
processos reflexos ou instintivos, ou seja, a vontade. Além da vontade a memória
também se inclui na parte psíquica do ego, ela é responsável pela relação com a
aprendizagem e a capacidade da conscientização de situações que se atrelam na
vida do indivíduo.
Conforme Grinberg (2017), é através da memória que pode adquirir-se um
sentido contínuo e histórico de identidade pessoal. Logo, só pode-se estar
consciente de si mesmo se o sujeito puder lembrar-se do que fez e puder também
planejar as atividades futuras. Por esse motivo, para dar um sentido à existência é
fundamental estar consciente dela. É através do ego que cada indivíduo tem a
consciência de sua existência e o sentimento de ser igual a si mesmo. No entanto,
essa identidade do ego consigo mesmo, é fundamentada na consciência das
percepções do próprio corpo. Grande parte dessas percepções são subliminares,
inconscientes, sendo assim indispensável o empenho e a vontade conscientes para
conhecê-las.

Para Jung, a consciência não é algo fixo e imutável, mas em


desenvolvimento. Ela vem evoluindo e se transformando ao longo do tempo
e deve ser vista sempre de maneira relativa, considerando-se o contexto
histórico e cultural no qual ela se insere. Pode-se afirmar que a consciência
é relativizada pela história, não sendo possível avaliá-la de modo objetivo
uma vez que é parte da realidade histórica que tenta compreender.
(GRINBERG, 2017, p. 87)

Segundo Grinberg (2017) todos os conteúdos que o indivíduo não sabe, não
se encontram ligados ao seu ego, ou seja, ao centro do campo de consciência, logo,
esses conteúdos são inconscientes e fazem parte do inconsciente pessoal. E esses
22

assuntos desconhecidos podem afeta-los de forma eminente. O inconsciente pode


comunicar-se com a consciência de inúmeras formas, através dos sonhos, dos
mitos, da linguagem poética, da fantasia e das inspirações. Os psicólogos analíticos
encontram nos sonhos dos pacientes aspectos importantes, que lhes possibilitam
conhecer o mundo interno deles e o que eles precisam para obter um equilíbrio
emocional. Silveira (1981) descreverá o inconsciente pessoal como:

Às camadas mais superficiais do inconsciente, cujas fronteiras com o


consciente são bastante imprecisas. Aí estão incluídas as percepções e
impressões subliminares dotadas de carga energética insuficiente para
atingir o consciente; combinações de ideias ainda demasiado fracas e
indiferenciadas; traços de acontecimentos ocorridos durante o curso da vida
e perdidos pela memória consciente; recordações penosas de serem
relembradas; e, sobretudo, grupos de representações carregados de forte
potencial afetivo, incompatíveis com a atitude consciente (complexos).
Acrescente-se a soma das qualidades que nos são inerentes, porém, que
nos desagradam e que ocultamos de nós próprios, nosso lado negativo,
escuro. Esses diversos elementos, embora não estejam em conexão com o
ego, nem por isso deixam de ter atuação e de influenciar os processos
conscientes, podendo provocar distúrbios tanto de natureza psíquica quanto
de natureza somática. (SILVEIRA, 1981, p. 64)

Ainda segundo os relatos de Silveira (1981), Jung desenvolveu o teste de


associação de palavras, ao qual consistia numa lista de palavras sem qualquer
relação significativa entre si. O sujeito examinado era convidado a trazer a primeira
palavra lhe viesse a cabeça em relação a palavra indutora. O tempo da reação
dessas palavras era medido, seus ritmos mudavam bastante de acordo com cada
indivíduo, alguns eram curtos e outros prolongados. Havia indivíduos que não
respondiam com uma palavra só ao teste, eles respondiam com uma frase, repetiam
a palavra indutora, riam, hesitavam, ficavam ruborizados, transpiravam, dentre
outros. Essas palavras geraram um grande interesse em Jung, ele descobriu a
existência dos complexos a partir do teste de associação de palavras. Conforme
pode-se ver abaixo:

Ele descobriu o que acontecia: todas essas perturbações indicariam que a


palavra indutora havia atingido um conteúdo emocional, oculto no íntimo do
examinando, no inconsciente. Esses conteúdos seriam "complexos de
ideias dotadas de forte carga afetiva”. Jung denominou-os “complexos
afetivos" ou simplesmente "complexos”. Ficava assim demonstrada
experimentalmente a existência do psiquismo inconsciente. (SILVEIRA,
1981, p. 26)
23

Jung em seus estudos com os testes de associação de palavras percebeu


que quando o experimentador falava uma palavra e o sujeito demorava a responder,
ou havia falhas na resposta poderia, assim, ter tocado num complexo. Segundo
Grinberg (2017) a partir dessas experiências, Jung descobriu que o inconsciente tem
certa autonomia e que é capaz de impor-se à mente consciente. Sendo assim, essa
autonomia quando imposta, fazia a pessoa dizer coisas que não queria dizer
conscientemente. Desta forma, podia-se então perceber que essas perturbações
indicavam que uma palavra-estímulo fora atingida, ou seja, um ponto sensível do
inconsciente da pessoa foi tocado.
Ainda, segundo Grinberg (2017), essas observações que Jung fez quanto aos
complexos, levaram-no a descobrir no inconsciente uma espécie de núcleo que
funcionava como um imã e com a capacidade de atrair conteúdos da consciência
para perto de si. Esse núcleo central ao qual Jung se referia constituía-se pelo
arquétipo, ao seu redor orbitam numerosas associações e ideias de conteúdo
afetivo, em que possuíam uma grande quantidade de energia psíquica acumulada. A
este conjunto Jung nomeou de complexo e explicou seu funcionamento da seguinte
forma:

Hoje em dia podemos considerar como mais ou menos certo que os


complexos são aspectos parciais da psique dissociados. A etiologia de sua
origem é muitas vezes um chamado trauma, um choque emocional, ou
coisa semelhante, que arrancou fora um pedaço da psique. Uma das
causas mais frequentes é, na realidade, um conflito moral cuja razão última
reside na impossibilidade aparente de aderir à totalidade da natureza
humana. Esta impossibilidade pressupõe uma dissociação imediata, quer a
consciência do eu o saiba quer não. Regra geral, há uma inconsciência
pronunciada a respeito dos complexos, e isto naturalmente lhes confere
uma liberdade ainda maior. Em tais casos, a sua de assimilação se revela
de modo todo particular, porque a inconsciência do complexo ajuda a
assimilar inclusive o eu, resultando daí uma modificação momentânea e
inconsciente da personalidade, chamada identificação com o complexo.
(JUNG, 2000, p.20)

De acordo com Silveira (1981), o inconsciente pessoal está ligado as


camadas mais superficiais do inconsciente, onde os limites com o consciente são
bem incertos. Neste contexto estão integradas as percepções e impressões
subliminares contempladas de cargas energéticas e que são insuficientes para
atingir o consciente. Logo, essas ideias não se diferenciam, podem estar atreladas
aos acontecimentos da vida do sujeito que foram perdidas pela memória consciente.
24

É possível que essas vivências tenham sido muito dolorosas para a pessoa,
carregando assim um intenso potencial afetivo que difere da atitude consciente.
Segundo Silveira (1981), o inconsciente pessoal contém também as
características que não agradam o sujeito por alguma razão, isto é, os atributos de
sua personalidade que ele nega de si próprio, compondo assim o lado sombrio. Por
mais que esses componentes não estejam integrados ao ego, eles não deixam de
atuar e devem-se influenciar os processos conscientes. Sendo capazes de gerarem
distúrbios de natureza psíquica e somática.
Já o inconsciente coletivo segundo Hall e Nordby (1980) é a parte da psique
que se distingue do inconsciente pessoal, pois, os conteúdos do inconsciente
pessoal já foram de certo modo conscientes, enquanto os conteúdos do inconsciente
coletivo jamais foram vivenciados na vida desse sujeito. Sendo assim, o
inconsciente coletivo é um reservatório de imagens latentes denominadas de
“imagens primordiais” por Jung. Primordial porque elas representam e significam o
que é de “primeiro” ou “original”, ou seja, essa imagem primordial diz respeito ao
desenvolvimento mais primitivo da psique.
De acordo com Hall e Nordby (1980) o homem herda tais imagens do
passado ancestral, incluindo todos os antecessores humanos, como os pré-
humanos ou animais. Estas imagens étnicas não são herdadas no sentido de o
sujeito lembrar-se de forma consciente, ou ter visões como as dos antepassados,
elas são predisposições ou potencialidades no experimentar e na forma com que a
pessoa responde ao mundo tal como os antepassados.
Silveira (1981) relata, que os arquétipos são matrizes arcaicas, onde suas
configurações, análogas ou semelhantes, tomam forma. Grinberg (2017) descreve
que o inconsciente coletivo é a camada mais profunda do inconsciente e
corresponde a imagem do mundo que levou eras e eras para se formar, ou seja,
nessa imagem cristalizou-se os arquétipos de acordo com as leis, princípios
dominantes e correspondentes, eventos que aconteceram no clico de experiências
da alma humana. Não se pode ver o inconsciente coletivo, pode-se apenas perceber
sua existência a partir de várias imagens e símbolos que independem de raça ou
cultura, os quais surgem através dos mitos, nos contos de fadas, nos sonhos e no
folclore de todas épocas e lugares.
Silveira (1981) desenvolve esse conceito:
25

Seja qual for sua origem, o arquétipo funciona como um nódulo de


concentração de energia psíquica. Quando esta energia, em estado
potencial, atualiza-se, toma forma, então teremos a imagem arquetípica.
Não poderemos denominar esta imagem de arquétipo, pois o arquétipo é
unicamente uma virtualidade. Nunca nos maravilharemos bastante se
pensarmos neste prodigioso fenômeno que é a formação de imagens
interiores. Como elas se configuram às custas da energia psíquica, ninguém
sabe. Também não se conhece o como das transformações energéticas das
quedas d’água em luz, da luz em calor. Mas a prova da transformação de
energia psíquica em imagens nos é dada todas as noites nos nossos
próprios sonhos, quando personagens conhecidos ou estranhos surgem das
profundezas para desempenhar comédias ou dramas em cenários mais ou
menos fantásticos. (SILVEIRA, 1981, p.70)

A partir da perspectiva junguiana Hall e Nordby (1980) apresentam alguns


exemplos de representações arquetípicas: o nascimento, o renascimento, a morte, o
poder, a magia, herói (a), a criança, o velho sábio, a mãe terra, as árvores, o sol, a
lua dentre outros. Alguns arquétipos têm muita importância na formação da
personalidade. Jung debruçou-se num estudo mais minucioso e aprofundado nos
seguintes arquétipos: persona, sombra, self dentre outros.
Jung (2000) define a persona como uma simples máscara da psique coletiva.
No entanto, a persona refere-se a um papel no qual retrata a psique coletiva. Ao
analisar a persona, pode-se perceber que se trata-se de uma parte do coletivo. A
persona tem uma função no compromisso da pessoa com a sociedade, através das
características coletivas que o indivíduo possui, como: nome, título, ocupação,
dentre outros. Esses dados são de alguma forma reais, mas, no que concerne a
individualidade essencial do sujeito torna-se algo secundário.
Ainda, de acordo com Jung (2000) apesar da consciência do ego identificar-
se inicialmente com a persona, essa figura ao qual a pessoa assume um
compromisso diante da coletividade não extingue o inconsciente, logo, ele não pode
ser reprimido de forma que desapareça. Sua força irá se manifestar principalmente
no caráter especial dos conteúdos contratantes e compensadores do inconsciente.
O papel da persona na personalidade pode ser tanto boa quanto ruim, Hall e Nordby
(1980), relatam que ela se torna prejudicial quando:

O indivíduo deixa-se enlear demais ou se preocupa excessivamente com o


papel que está desempenhando, e seu ego começa a se identificar
unicamente com tal papel, os demais aspectos de sua personalidade são
postos de lado. Tal indivíduo governado pela persona torna-se alheio à
natureza e vive em estado de tensão em razão do conflito entre persona
superdesenvolvida e as partes subdesenvolvidas de sua personalidade. Dá-
se o nome de inflação à identificação do ego com a persona. (HALL;
NORDBY, 1980, p.37)
26

Jung estudou os efeitos de uma persona inflada. Hall e Nordby (1980)


relatam que durante a análise com Jung os pacientes começavam a entender que se
iludiram durante anos, numa vida sem sentido, vazia, e que eram hipócritas em
relação aos seus sentimentos e interesses, ou seja, fingindo se interessar por coisas
que de fato não lhe interessavam. Torna-se necessário no tratamento para desinflar
uma pessoa que outros aspectos da natureza individual tenham permissão para se
afirmarem.
Outro arquétipo essencial e que é muito trabalhado na clínica Junguiana, é a
sombra. Segundo Silveira (1981) a sombra é a parte obscura onde estão todos os
conteúdos que não agradam ao sujeito, ou que causam medo. Ela faz parte da
personalidade total. As características que o indivíduo não aceita em si mesmo, e
que de certa forma trazem uma repugnância, são reprimidos e projetados 2 em
objetos externos. Essas figuras podem estar relacionadas ao vizinho, o inimigo
político, ou um símbolo como a figura do demônio.
Ainda de acordo com Silveira (1981), o sujeito continua inconsciente desses
conteúdos que o habitam, logo, é necessário lançar luz sobre esses temas obscuros
afim de propiciar uma ampliação de c consciência. Pois, quanto maior for a
repressão com a sombra, maior será sua proporção e sua nebulosidade. Ela é uma
massa consistente e de inúmeros elementos, que vão desde as fraquezas, aspectos
imaturos ou inferiores, complexos reprimidos, até forças assustadoras. No entanto
na sombra podem ser vistas características positivas, qualidades preciosas que não
puderam desenvolver-se mediante as condições externas e desfavoráveis para o
indivíduo. Ou também pelo fato dele não ter tido energia suficiente para potencializar
essas aptidões.
Grinberg (2017) relata, que as pessoas tendem também a ocultar sentimentos
que podem causar frustração como: inveja, cobiça, ambição, ciúme, desemparo,
impotência, solidão, sofrimento, dentre outros. Ele descreve o porquê o encontro
com a sombra é tão essencial na análise junguiana:

O encontro com a Sombra é uma das passagens essenciais na análise


junguiana, pois por meio dele é que os complexos poderão ser integrados,
as projeções retiradas e a energia necessária para o desenvolvimento do
ego restituída. Em nossa Sombra é que se encontram as ferramentas e os

2
A projeção é um processo inconsciente automático, através do qual um conteúdo inconsciente para
o sujeito é transferido para um objeto, fazendo com que este conteúdo pareça pertencer ao objeto.
(Jung, 2000)
27

tesouros necessários ao desenvolvimento de nossa personalidade.


(GRINBERG, 2017, p.188)

A anima torna-se uma função psicológica da mais alta importância. Função


de relacionamento com o mundo interior, na qualidade de intermediária
entre consciente e inconsciente, função de relacionamento com o mundo
exterior na qualidade de sentimento conscientemente aceito. (SILVEIRA,
1981, p.88)

O self é um arquétipo fundamental para a psicologia analítica, de acordo com


Hall e Nordby (1980) este conceito se refere a personalidade total ou a psique,
sendo assim um aspecto central. Ele é o princípio organizador da personalidade, isto
é, o principal arquétipo do inconsciente coletivo. É através do self que é possível a
organização e unificação dos demais arquétipos, criando assim uma harmonia entre
eles e suas ações nos complexos e na consciência. Ele une a personalidade dando-
lhe um entendimento de unidade e firmeza. Quando o indivíduo se sente bem, em
paz consigo mesmo e com o mundo, é possível dizer que o arquétipo do self está
proporcionando de forma eficaz seu trabalho.
Conforme Hall e Nordby (1980) se o indivíduo não se sente bem, se sente
deslocado, insatisfeito, num conflito intenso e tem a impressão que as coisas ao seu
redor estão desabando, pode ser um indício em o self não está trabalhando de
forma adequada. O intuito final de qualquer personalidade é chegar a um estado de
auto realização e de conhecimento do próprio self. Não é um processo fácil, é um
trabalho demorado e dificilmente pode ser realizado de forma completa.
Ainda de acordo com Hall e Nordby (1980) e suas observações nas obras de
Jung, o arquétipo do self se torna mais evidenciado na maturidade, tendo em vista
que é necessário que a personalidade chegue em seu desenvolvimento mais pleno.
Assim o self pode tornar-se mais evidente de forma mais ou menos completa.
Chegar ao estado de autoconhecimento requer uma grande ajuda do ego, porque,
se ele desconsiderar as mensagens provindas do self, será impossível uma
compreensão e harmonia entre os mesmos. É necessário que todo material
inconsciente se torne consciente, para que então surja o processo de individuação
da personalidade de forma eficaz.
Moraes (2011) relata, sobre um dos conceitos fundamentais para psicologia
analítica, a energia psíquica. Essa teoria busca compreender a dinâmica da psique,
Jung considerou que a energia psíquica teria uma fundamentação finalista ou
teleológica, isto é, Jung analisa o efeito em relação ao conteúdo que foi manifesto
28

para entender o motivo. Ele embasou-se na física para contextualizar esse conceito.
Ao que concerne esse campo energético não é possível afirmar suas características
ou suas virtudes em sua genealogia, somente é possível compreende-lo em sua
expressão final. Pode-se observar a quantidade de energia que foi envolvida no
fenômeno devido a sua intensidade.
Ainda de acordo com Moraes (2011), Jung entendeu que para ter uma
compreensão adequada da psique num modelo teórico deveria considerar um
sistema energético relativamente fechado. A energia nesse sistema seria
teoricamente a mesma, o que mudaria seria a distribuição da energia entre o
inconsciente e a consciência. Logo, a vida psíquica pode ser entendida como a
fluidez da energia entre o sistema psíquico constituído pelo inconsciente e a
consciência. No momento em que ocorre um desiquilíbrio, uma distribuição
inapropriada ou ocorre um bloqueio da distribuição dessa energia psíquica, acontece
o que se pode compreender como o adoecimento psíquico. A energia psíquica é
conjuntamente o “psiquismo” e o “combustível” que traz o movimento ao psiquismo.
As ações e os processos psíquicos necessitam de energia disponível ou da
transformação da energia de um nível para outro. Moraes (2011) descreve, a
concepção de progressão e regressão que é essencial nesse processo da seguinte
forma:

Os conceitos de Progressão e Regressão estão relacionados com o


movimento da energia psíquica entre a consciência e o inconsciente. Na
progressão a energia flui do inconsciente para a consciência para atender
as necessidades de adaptação ao meio externo; enquanto na regressão a
energia flui para o inconsciente para atender as necessidades internas. A
progressão enquanto processo contínuo de adaptação às exigências do
mundo ambiente assenta na necessidade vital de adaptação. A necessidade
compele o indivíduo a se orientar inteiramente para as condições do mundo
ambiente e a reprimir aquelas tendências e virtualidades que servem ao
processo de individuação. (MORAES, 2011, p.3)

Outro conceito importante descrito por Moraes (2011), é o princípio da


entropia, ela é está relacionada a complementação da conservação de energia. Isto
é, refere-se a energia que flui em um sistema de acordo com a diferença de
potencial, ao qual as oscilações produzidas nesse movimento vão buscar o
equilíbrio. No sistema psíquico, a entropia é compreendida como a busca do
equilíbrio psíquico entre o inconsciente e a consciência. A entropia é um princípio
complementar, ou seja, o princípio de constância, apontando que sempre ocorrerá
29

um movimento em busca de equilíbrio. Moraes (2011) relata, sobre outro conceito


fundamental que seria a enantiodromia e metanóia como pode-se ver abaixo:

Jung adotou o termo “enantiodromia” em referência ao princípio que foi


esboçado por Heráclito, “correr para o outro oposto”. Isto é, quando há uma
excessiva concentração energética em um ponto, a energia tende a buscar
o ponto oposto como uma forma de manter o equilíbrio. Por exemplo, uma
atitude excessivamente unilateral do Ego, pode ativar no inconsciente o
princípio contrário. (MORAES, 2011, p. 4)

Segundo Moraes (2011), a enantiodromia é um processo inconsciente de


mudança de perspectiva, onde o oposto negado eleva-se e se institui a atitude da
consciência. Frequentemente isto ocorre relacionado com sintomas neuróticos. A
metanóia significa uma mudança de pensamento ou de caminho, sendo assim um
processo específico da jornada de individuação. O que difere a enantiodromia e a
metanóia é a participação da consciência, na enantiodromia o movimento é em
busca do oposto e voltado para o inconsciente, na metanóia a busca é voltada para
uma participação ativa da consciência. Esse movimento procura uma integração do
oposto, mas, levando em consideração os valores anteriores. Logo, a metanóia é o
processo da enantiodromia que se desenvolve de forma mais ampliada, onde
envolve a consciência no processo de individuação. Moraes (2011) explicita a
relação dessa compensação da seguinte forma:

Assim, toda atividade inconsciente que visa complementar atitude


consciência (seja para corrigir ou para reforçar) é uma compensação. Desse
modo, as formações do inconsciente como os sonhos, atos falhos, chistes
são atividades compensatórias naturais. Via de regra, a compensação pelo
inconsciente não é um contraste, mas uma equilibração ou complementação
da orientação consciente. O inconsciente dá, por exemplo, no sonho, todos
os conteúdos constelados para a situação consciente, mas inibidos pela
seleção consciente, cujo conhecimento seria indispensável para a
consciência se adaptar plenamente. (MORAES, 2011, p. 5)

O processo de individuação é um conceito fundamental e muito significativo


para Jung. Segundo Hall e Nardy (1980) a individuação é um processo autônomo e
inato, ou seja, não precisa de estimulação externa para começar a existir, a
personalidade da pessoa está destinada a individualizar-se como o corpo que está
destinado a crescer. É através da conscientização que o sistema de personalidade
pode caminhar para sua individuação.
Ainda segundo Hall e Nordby (1980) um ego subdesenvolvido dispõe de
poucos e simples recursos para se fazer consciente, no entanto conforme ele vai se
30

individuando, sua gama de atos conscientes se expande enormemente, tal como


uma larva transforma-se numa borboleta. O ego individualizado é capaz de proceder
a sutis discriminações entre suas percepções do mundo; ele consegue captar
relações tênues entre as ideias e esquadrinha de forma mais profunda o significado
dos fenômenos objetivos, ou seja, o homem busca de forma contínua símbolos mais
ampliados, Jung traz a concepção que a individuação crescente necessita de vias
mais elaboradas. A psicoterapia em suma é o processo da individuação como
descreve Jung:

Individuação significa tornar-se um ser único, na medida em que por


“individualidade” entendemos nossa singularidade mais intima, ultima e
incomparável, significando também que nos tornamos como o nosso próprio
si-mesmo. Podemos, pois, traduzir “individuação” como “tornar-se si-
mesmo”. (JUNG, 2000, p. 63)

No próximo capítulo serão abordadas algumas formas do processo de


individuação e seus possíveis caminhos, pois, eles são inúmeros. Eles acontecem
de forma singular na vida de cada sujeito. Nenhum processo de individuação é igual
ao outro, eles possuem particularidades únicas que pertencem à dinâmica ímpar de
cada sujeito. Também será relatado sobre o extravio da individuação e sua relação
simbólica com o transtorno de pânico. Por fim, será discutido o trabalho terapêutico
do psicólogo analítico com os pacientes que sofrem com o transtorno do pânico.
31

4 A INDIVIDUAÇÃO E SEUS CAMINHOS

Segundo Stein (2020) o caminho da individuação apresentado por Jung é


muito vasto. O processo da individuação tem como essência lançar a luz sobre a
escuridão da vida psicológica, tendo também como objetivo integrar as inúmeras
polaridades e tensões que nela habitam, ou seja, tem como finalidade o despertar e
o desenvolvimento da consciência. Criando assim uma ponte consciente com os
vários aspectos da personalidade até então desconhecidos.
O processo de individuação na sua experiência subjetiva sugere a
intervenção ativa e criadora de uma força supra pessoal, de acordo com Franz
(2016) é como se fosse possível sentir que o inconsciente está conduzindo o sujeito
a um caminho secreto. Seria como se algo estivesse olhando, atento ao que
acontece, mas, o sujeito não consegue perceber. Uma das formas de poder ampliar
esses conteúdos seria através dos sonhos. No entanto, só é possível que esse
aspecto ativo e criativo do núcleo psíquico se configure quando o ego se diferencia
de todos os projetos determinados e entrega-se a uma forma de existência mais
profunda e fundamental. Ou seja, quando o ego é capaz de ouvir de forma atenta e
entrega-se ao impulso interior de crescimento, os sinais orientadores vem da
totalidade da psiquê, o self.
Conforme Franz (2016) cada sujeito tem uma forma singular de se
autorrealizar, mesmo que alguns problemas possam ser parecidos eles não são
idênticos. Por isso é tão difícil resumir os infinitos caminhos para o processo de
individuação, pois, cada pessoa terá que realizar algo diferente e exclusivamente
seu. O processo de individuação buscará uma harmonia do consciente com o centro
regulador, o self. Geralmente isso ocorrerá quando há um dano a personalidade,
advindo de um sofrimento psíquico. Esse choque inicial é como se fosse um apelo,
com o intuito de chegar luz aos conteúdos ocultos. Porém nem sempre o sujeito
reconhece-o como um sinalizador.
De acordo com Franz (2016) o ego sente-se preso no que concerne suas
vontades ou desejos, então projeta essas insatisfações e frustrações num objeto
exterior, como: Deus, a situação econômica, o(a) chefe, o(a) cônjuge, dentre outros.
Essas figuras tornam-se responsáveis por seus desgostos com a vida. Algumas
vezes parece estar tudo bem externamente, mas, no íntimo a pessoa pode estar
sofrendo um tédio mortífero, que torna sua vida vazia e sem sentido. Esta crise
32

inicial que acontece na vida da pessoa marca seu percurso, isto é, o sujeito buscará
algo impossível de se achar ou que quase nada sabe. Dar conselhos para essa
pessoa do que deveria ou não fazer em nada auxilia, pois, só há uma atitude que
pode alcançar um resultado, a pessoa voltar-se para esses conteúdos sombrios que
se aproximam, sem nenhum pudor, preconceitos e com toda simplicidade tentar
descobrir qual o objetivo oculto e o que mesmo vem solicitar do sujeito. Conforme
relata a Franz:

O propósito secreto dessas trevas que se avizinham geralmente é tão


invulgar, tão especial e inesperado que, via de regra, só se consegue
percebê-lo por meio dos sonhos e das fantasias que brotam do
inconsciente. Se focalizarmos nossa atenção sobre o inconsciente sem
suposições precipitadas ou rejeições emocionais, o propósito há de surgir
num fluxo de imagens simbólicas de grande proveito. (FRANZ, 2016, p. 221)

Para Franz (2016), a finalidade oculta desses aspectos sombrios não são
vulgares, ao contrário, são muito especiais e surpreendentes. Aparecem através dos
sonhos e das fantasias que surgem através do inconsciente. Se o analista focar sua
atenção ao inconsciente sem ideias apressadas e reprovações emocionais,
perceberá um curso de imagens simbólicas muito proveitosas. Porém não é sempre
que isso acontece, em algumas situações o que surgem são certificações dolorosas
de que existe algo “errado” no sujeito e em suas atitudes conscientes.
Silveira (1981) relata, que toda pessoa se destina a realizar o que já existe em
si, a crescer, a completar-se. O desenvolvimento dessas forças potentes reside no
inconsciente. Quando o sujeito consegue criar um elo entre seu consciente e seu
inconsciente, eles se unem então numa síntese. O processo de individuação não é
linear, é um movimento de circunvolução, ou seja, é realizado em círculo e leva o
indivíduo à um novo centro psíquico. Silveira (1981) diz, que existem duas
confusões que permeiam o conceito de individuação e que necessitam ser
esclarecidas, são elas:

Em primeiro lugar não se pense que individuação seja sinônimo de


perfeição, aquele que busca individuar-se não tem a mínima pretensão a
tornar-se perfeito. Ele visa completar-se. O que é muito diferente. E para
completar-se terá de aceitar o fardo de conviver conscientemente com
tendências opostas, irreconciliáveis, inerentes à sua natureza, tragam estas
as conotações de bem ou de mal, sejam escuras ou claras. Outro erro grave
seria confundir individuação com individualismo. “Vindo a ser o indivíduo
que é de fato, o homem não se torna egoísta no sentido ordinário da
palavra, mas meramente está realizando as particularidades de sua
natureza, e isso e enormemente diferente de egoísmo ou individualismo"
33

(Jung). Note-se que o trabalho no sentido da individuação toma em atenta


consideração os componentes coletivos da psique humana (conteúdos do
inconsciente coletivo), o que desde logo permite esperar que daí resulte
melhor funcionamento do indivíduo dentro da coletividade. (SILVEIRA,
1981, p. 81)

Ainda de acordo com Silveira (1981), neste trabalho de individuação o sujeito


aprende em sua experiência que a estrutura básica de sua vida psíquica
corresponde de forma similar a estrutura básica da psique de todos os humanos.
Ocorre então nessas relações interpessoais uma mudança no desenvolvimento da
personalidade, liquidando assim as projeções e as relações de dependência.
Gradativamente o sujeito modifica-se para conceber ao outro o respeito por cada
vida humana.
Segundo Hall e Nordby (1980), somente através da conscientização que a
personalidade pode seguir para seu processo de individuação. É fundamental tornar
conscientes os conteúdos inconscientes, podendo assim extrair do sujeito coisas
que já estão presentes nele em estado nascente. Para que a pessoa tenha um
desenvolvimento proveitoso, é necessário que ela disponha de inúmeros modos e
oportunidades para a personalidade se individualizar. Após a integração desses
conteúdos inconscientes, o segundo estágio da individuação é chamado de função
transcendente. Hall e Nordby (1980) elucidam esse processo da seguinte forma:

Essa função é dotada da capacidade de unir todas as tendências contrárias


da personalidade e de trabalhar para que se atinja a meta da totalidade. O
objetivo da função transcendente, escreve Jung, é “a realização, sob todos
os seus aspectos, da personalidade originalmente oculta no plasma do
germe do embrião; a produção e desdobramento da totalidade potencial
original”. A função transcendente é o instrumento da realização da unidade
ou arquétipo do eu. Tal como o processo de individuação, a função
transcendente é inerente à pessoa. (HALL; NORDBY, 1980, p. 73)

Stein (2020) descreve, que a função transcendente emerge da união dos


conteúdos conscientes com os conteúdos inconscientes, e por esse motivo retrata o
quadro mais completo de toda psique e da individualidade. A principal ferramenta
para ativar a função transcendente é através da imaginação ativa. O principal papel
da imaginação ativa é encontrar ao nível da consciência imagens e fantasias que
estão acionadas nas tramas do complexo do ego. Elas podem refletirem-se no
espelho e serem observadas. Na imaginação ativa começa um diálogo entre os
conteúdos conscientes e inconscientes da psique, ao qual há um momento para
cada se revelar e formar uma terceira coisa. Essa terceira coisa representa a união
34

das duas partes, esta é a função transcendente, que se manifesta como uma virtude
de opostos conjugados. Nesse processo podem surgir muitas sincronicidades como
explicita Stein (2020):

No decorrer desse processo irracional observaram-se inúmeras


sincronicidades importantes. Descobri que a sincronidade acompanha
efetivamente a individuação a partir do momento em que o processo
irracional a que me refiro aqui se instala. Se o ego puder ser induzido a
abandonar a necessidade de controle absoluto e a confiar no fluxo de um
processo de vida governado por algo exterior a ele mesmo, outro conjunto
de fatores entra em cena, abrindo caminhos para uma nova exploração.
(STEIN, 2020, p. 38)

Hall e Nordby (1980) relatam, que o processo de diferenciação e de


unificação trabalham de forma conjunta no desenvolvimento da personalidade do
sujeito. Eles possibilitam as oportunidades para a individuação, ou seja, através da
diferenciação e da unificação, o sujeito pode expressar em atos conscientes seus
conteúdos que estavam reprimidos. Toda ação consciente exprime os dois lados da
natureza da pessoa. Ao invés de separar ou opor esses conteúdos, a mistura deles
resultam numa harmonia para o sujeito. Hall e Nordby (1980) acrescentam, que
existem fatores importantes e que devem também ser considerados no processo de
individuação, sendo eles: uma possível hereditariedade e o meio social. Eles
explicam da seguinte forma:

Jung julgava possível que a hereditariedade estivesse subjacente a uma


forte disposição a uma personalidade assimétrica. Uma pessoa pode nascer
com uma forte disposição para a extroversão ou para a introversão; talvez
esteja destinada a se encaixar mais no tipo sensível que no pensador; a
natureza de sua anima ou a natureza de sua sombra pode ser fraca ou
forte. A influência da hereditariedade sobre a personalidade é assunto que
pouco conhecemos. A outra influência poderosa sobre o desenvolvimento
da personalidade é, evidentemente, a ambiental. Jung foi um crítico social.
Quer isto dizer que identificou e analisou os fatores que lhe pareciam
responsáveis pelo retardamento ou pela deformação do desenvolvimento. É
o que faz sempre que alimenta as qualidades inerentes do indivíduo ou
contribui para equilibrá-las. Ele atrapalha o desenvolvimento quando priva a
pessoa de alimentos necessários, ou quando lhe oferece os suprimentos
errados. (HALL; NORDBY, 1980, p. 74)

4.1 O EXTRAVIO DA INDIVIDUAÇÃO

Segundo Magalhães (2019), a ansiedade e a individuação são fenômenos


arquetípicos, andam sempre juntos. Esses encontros acontecem de inúmeras
formas, por vezes se apoiam, às vezes se corrigem, esbarram-se e existem conflitos
35

entre eles. No entanto eles se afinam de forma mútua como expressão da natureza
evolutiva e a habilidade de autorregulação da Psique.

4.1.1 O Deus Pã

Ainda de acordo com Magalhães (2019), a situação mais grave das crises de
angústia foi nomeada de pânico, transtorno de pânico. A palavra “pânico” provém do
deus grego da natureza, o deus Pã, ao qual já propagava terror pelos bosques da
Arcádia, há mais dez séculos antes de Cristo. Segundo a mitologia grega, Pã é filho
do deus Hermes com a princesa Dríope, sua fisionomia pavorosa causou um temor
em seu nascimento. Pã é metade humano e metade bode da cintura pra baixo,
quando sua mãe o viu fugiu apavorada. Logo ele surge no mundo realizando seu
propósito de vida, trazendo o pânico nos humanos.
Magalhães (2019) relata que no Olimpo Pã foi muito bem recebido, com alegria
e festa pelos os outros deuses, no entanto essa receptividade não se deu com os
humanos. Pã cresceu com o corpo peludo, pernas, cascos, chifres e barbicha de
bode. Sua imagem brutal e selvagem era destacada pela feição bestial e perversa,
devido às aparições inesperadas em locais ermos e que ocorriam com frequência no
meio da noite. As vítimas de Pã (as Ninfas) eram tomadas de pavor diante de sua
feição brutal e o ataque inesperado, eram pegas num instante de distração nos
bosques. Magalhães (2019) conta, que Pã e as Ninfas fazem parte da mesma
psique, como pode-se ver abaixo:

Jung primeiro, e depois diversos de seus seguidores, entre eles James


Hillman (2015) e Rafael Lopes-Pedraza (1999), interpretam esse conjunto
imaginal em torno do deus Pã como expressão simbólica de nossos
instintos mais primitivos, indomados, arcaicos, animais, que antecedem e
forçosamente acompanham a consciência recentemente adquirida
(simbolizada pelas ninfas graciosas e frágeis), em sua caminhada evolutiva,
onto e filogeneticamente. Ambos, inconsciente antigo e consciência recente,
Pã e Ninfas, fazem parte da mesma Psique em um equilíbrio débil, tenso,
em uma Bellica Pax que a qualquer momento pode se romper, com a
invasão desgovernada dos instintos primitivos sobre o território ordenado da
consciência, a custo conquistado pela civilização. É a ela, consciência, que
Pã apavora, a mais ninguém. (MAGALHÃES, 2019, p. 16)

Ulson (1984) relata, que desde o início da nossa era e no decorrer de toda a
Idade Média a imagem de Pã estava associada ao demônio, perdendo assim todo
seu lado positivo. Contrera (2002) conta que, Pã era precisamente um autêntico
representante desse mundo, um deus grotesco, que significa “da gruta”, isto é, um
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deus que vive no interior das cavernas, das grutas, no útero da Mãe Terra. Sua
aparência híbrida, metade homem, metade bode, significa a aproximação com o
mundo animal, com um mundo vívido e pulsante dos campos e das plantações.
De acordo com Ulson (1984), conforme nossa cultura foi se tornando cada
vez mais racionalista, mais Pã foi visto como o próprio mal.
Ulson (1984) diz, que os gregos eram muito conscientes de seus lados
positivos e negativos. Observavam neles uma ameaça de dissociação e
fragmentação, no entanto, havia também seu aspecto de unificação e que
proporcionava a vivência total do sujeito. Portanto, quando a morte de Pã foi
anunciada no primeiro século depois de Cristo, houve-se uma grande repressão
para o inconsciente da dinâmica desse grande deus. Na psicologia analítica
entende-se os Deuses como arquétipos do inconsciente coletivo, e que atuam na
psique humana mesmo que sejam suprimidos da consciência. Prosseguem em suas
ações e fazendo-se presentes com outros nomes. Os deuses tornaram-se doenças.
Não procuramos mais os Deuses no Olimpo, nem nos antigos cultos, templos ou
estátuas do passado, nem mesmo em seus dramas e narrativas míticas. Em vez
disso, os Deuses aparecem em nossas desordens (HILLMAN, 1993).
Ainda segundo Magalhães (2019), nas crises de ansiedade a consciência
perde-se, encontra-se imatura. O indivíduo está debilitado em relação ao
desenraizamento do inconsciente, sente-se em um cerco, tomado por uma presença
ameaçadora de forças as quais ele não possui nenhum controle e fica atemorizado.
Magalhães (2019) explica, que o horror ao grande Pã se tornou a Síndrome do
Pânico, como pode-se ver abaixo:

Estamos tão expostos ao Grande Pã como sempre estivemos. O


pensamento mágico que pretende exorcizar o demônio através da
linguagem, explicando-o ou trocando o seu nome, aqui, falhou. E a
consciência imatura queda paralisada, violentada, invadida, transida de
horror, com o sujeito dominado pela mesma sorte de sintomas físicos e
psíquicos que sempre nos dominaram, quando nossos antepassados se
encontravam com o astuto Pã, nas encruzilhadas mal-assombradas das
noites da antiguidade. É o mesmo fenômeno. A Arcádia grega, a qual nos
referimos, não é o lugar geográfico do Mediterrâneo, mas o lugar imaginal
da Psique, habitado hoje e ontem pelas mesmas presenças misteriosas,
personificadas ontem, conceituadas hoje, mas as mesmas presenças
misteriosas. (MAGALHÃES, 2019, p. 18)

Magalhães (2019) relata, que todos os sintomas físicos e psíquicos que


compõem essas crises de ansiedade simbolizam a presença real, material, corporal,
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biológica e psicológica do deus Pã no sujeito moderno. Essas expressões


concernem ao arquétipo da Sombra. O terror que o pânico provoca é a resposta da
consciência à ameaça de ser suprimida por ele, de ser possuída por forças
descontroladas e incontroláveis. Assinala assim o momento tenebroso em que todas
as defesas do Eu desmoronam e a consciência compreende sua exposição a essas
forças.
Segundo Magalhães (2019) conta, que as vítimas de Pã possuem a
consciência imatura, fragilizada e infantil (as ninfas), é uma consciência enraizada
no processo de individuação. A jornada em direção ao processo de individuação é
vital de realização de todo potencial do indivíduo. Não é um caminho fácil, é um
percurso árduo, estreito, espinhento, ao qual o indivíduo transforma-se
vagorosamente no que ele já é potencial, ou seja, desde seu nascimento. A firmeza
em continuar em seu caminho de individuação é que leva o sujeito a conquistar
atributos heroicos, como a força e a coragem para vencer as dificuldades deste
trajeto. Distanciando-se assim cada vez mais das características da Sombra.
Magalhães (2019) compara, os ataques de pânico como o distanciamento do
indivíduo e seu percurso no caminho de individuação, como segue abaixo:

As crises de ansiedade, à maneira da febre, são os sinais da psique


ancestral de que o indivíduo pegou o caminho errado, e os ataques de
pânico, à semelhança das convulsões febris, de que ele já se aprofundou
demais nele, e já encontrou o antigo e inarredável habitante daquelas
veredas, que está lá, em um primeiro momento, para expulsar o indivíduo
de lá. (MAGALHÃES, 2019, p. 22)

Magalhães (2019) conclui, que para o indivíduo encontrar o tesouro de sua


verdadeira existência, a pedra preciosa, isto é, suas potências, torna-se necessário
seu engajamento em seu processo de individuação. É preciso que sua consciência
não fique acuada mediante as consecutivas frustações e a impeça de criar uma
relação segura as forças psíquicas dentro de si. É nessa ligação que o sujeito pode
dispor de todas as forças naturais que já possui, cada potencial para sua própria
realização. A busca terapêutica eficiente é pela sua alma que se perdeu em algum
lugar, mas, que pode ser encontrada nessa jornada heroica.
Ulson (1984) relata, que as crises de pânico geralmente podem acontecer em
fases de transição da vida do sujeito, ou seja, uma passagem para uma nova etapa
de vida. Solicitando então do sujeito reações variadas mediante das que estavam
sendo vivenciadas anteriormente. Essas crises são encontradas com mais
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frequência nos adolescentes, em pessoas na meia idade e no princípio da velhice.


Essas pessoas realizam grandes conquistas no meio profissional, social, acadêmico,
dentre outros. Porém, elas temem bastante o mundo dos instintos, procuram realizar
suas habilidades intelectuais, racionalizando tudo em sua vida, inclusive sem campo
afetivo. Ulson (1984) conta, que esses feitos conseguem ser realizados até certo
ponto, posteriormente esses componentes primordiais da natureza tomam seu lugar,
como pode-se analisar abaixo:

Como o deus Pã que, ao ser negado por nossa cultura se transformou no


demônio, também ao nível individual tais arquétipos se manifestam sob a
forma de fobias, pesadelos e crises de pânico. No trabalho clínico temos
encontrado, próximo às crises de pânico, sonhos e fantasias com imagens
aterrorizadoras. Nesses sonhos aparecem fantasmas, bandidos, símbolos
ligados à morte ou o próprio diabo. O sonhador se apresenta,
frequentemente numa atitude passiva, como observador da ação,
perseguido ou acometido de um pavor tão grande que permanece
paralisado, sem forças para esboçar uma reação. Em alguns casos
observamos que a pessoa acordava gritando sem conseguir se recordar do
sonho. Outras vezes se lembravam de, durante o sonho temer “algo”, de
estar sendo ameaçada por alguma coisa inefável, indefinível. (ULSON,
1984, p. 87)

4.2 O TRABALHO TERAPÊUTICO DO PSICÓLOGO ANALÍTICO

Segundo Ulson (1984) no decorrer das crises do pânico o paciente enxerga-


se envolto por um tremendo caos de emoções, o medo de abrir um quadro psicótico
ou de suicídio costumam apresentar-se com frequência. Em alguns casos as crises
de pânico tiveram início pela primeira vez no decorrer da análise. Esses fatos se
deram por terem tocado em complexos, núcleos, sentidos perigosos para a
integridade da consciência. No decorrer da terapia é importante que o psicólogo
perceba esses padrões da crise de pânico. Deve-se estar alerta para o surgimento
de emoções muito violentas ao se constelarem no inconsciente. Manejando assim
de forma adequada e impedindo que a crise ecloda. Essa intervenção pode ter êxito
através do número de sessões realizadas com o paciente. Observando a
necessidade de aumentá-las ou diminui-las, buscando assim manter o curso e o
nível emocional da análise em fogo brando, para que o paciente possa chegar as
suas elaborações calmamente. Ulson (1984) diz, que a tarefa do analista é a
seguinte:
A tarefa do analista frente a uma crise de pânico consiste, em primeiro
lugar, em oferecer um continente e o amparo necessário para a livre
expressão das emoções, a fim de aliviar a pressão dos conteúdos
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inconscientes. Em seguida auxiliar o paciente a se confrontar com estas


imagens e através da compreensão do seu significado profundo, promover a
integração na Consciência de partes negadas e reprimidas. A descoberta do
significado dessas imagens facilita a resolução dos conflitos, promovendo
uma dessensibilização dos fatores causadores do medo e da angústia. É
importante lembrar que esta compreensão não deve ser apenas racional,
mas sim vivencial. (ULSON, 1984, p. 88)

Segundo Ulson (1984), o estabelecimento do vínculo terapêutico funciona


como um alicerce e uma possibilidade de saída desse quadro tão angustiante. Com
base neste ponto seguro, ao qual se refere à relação positiva com o analista, que é
possível a reestruturação das partes fragilizadas e ainda não tão desenvolvidas de
sua personalidade. Deve-se sempre levar em consideração que o pânico é um
sinalizador de que algo muito grave está acontecendo com o paciente. O pânico
como outras expressões sintomáticas psíquicas necessitam não só o olhar para
seus signos, ou seja, seus significados, mas, também o olhar simbólico. Logo esse
símbolo faz parte do mundo dos significados, ele contém uma razão existencial e
que necessita observar seus aspectos futuros também. Ulson (1984) elucida esses
aspectos da seguinte forma:

Frente a um paciente em pânico ou com medo de voltar a sofrer nova crise,


temos a obrigação de perguntar-nos e estimular o cliente a se questionar
como, o porquê e com que finalidade ele se encontra neste estado. O que
falta na vida desta pessoa ou o que ela tem em excesso, para chegar a este
ponto. Somente assim estaremos vendo este indivíduo na sua totalidade
psicofísica que ele realmente é. (ULSON, 1984, p. 88)

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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A partir dos estudos desenvolvidos nesse artigo sobre a relação simbólica do


Deus Pã e o extravio de individuação, foi muito importante mergulhar nesse mundo
simbólico do inconsciente pessoal e coletivo com os autores. Quantos tesouros
podem ser descobertos através dessa relação entre a consciência e os conteúdos
desconhecidos, podendo assim abrir portas jamais visitadas e essas descobertas
são fantásticas.
É de suma importância que a partir das pesquisas, dos casos, possamos
compreender o ser humano em sua totalidade. Considerando assim as inúmeras e
diversas formas de existir. A psicóloga (o) tem o papel fundamental de proporcionar
um ambiente acolhedor, ao quais esses conteúdos reprimidos possam ganhar voz,
serem vivenciados, simbolizados e transformados. É através desse processo que o
indivíduo pode entrar em contato novamente com sua alma, que foi perdida, mas,
que pode ser encontrada a partir dessa jornada heroica.
As potências que foram extraviadas e sinalizadas pelos sintomas, podem
ganhar um novo significado, uma vida mais autêntica. E é em busca dessa vida mais
harmoniosa, com os desejos das pessoas sendo priorizados juntamente com seu
caminho de individuação, que essa pesquisa buscará novos aprofundamentos. Este
artigo tem o intuito de dar continuidade ao estudo vasto dos processos de
individuação e como o sujeito pode resgatar suas potencialidades através dos seus
percursos.

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