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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM TERAPIA

COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

LUCIENE SILVA FARIA FERREIRA

O Papel da ferramenta de redação sob o tema “Quem Sou eu?”


na identificação das Distorções Cognitivas no processo
terapêutico

São Paulo – 2016


1

LUCIENE SILVA FARIA FERREIRA

O Papel da ferramenta de redação sob o tema “Quem Sou eu?”


na identificação das Distorções Cognitivas no processo
terapêutico

Trabalho de conclusão de curso de especialização

Área de Concentração: Terapia Cognitivo-Comportamental

Orientadora: Prof.ª Dra. Renata Trigueirinho Alarcon

Coorientadora: Prof. Me. Eliana Melcher Martins

São Paulo

2016
2

LUCIENE SILVA FARIA FERREIRA

O Papel da ferramenta de redação sob o tema “Quem Sou eu?” na identificação das
Distorções Cognitivas no processo terapêutico

Trabalho de conclusão de curso de especialização

Área de Concentração: Terapia Cognitivo-Comportamental

Orientadora: Prof.ª Dra. Renata Trigueirinho Alarcon

Coorientadora: Prof. Me. Eliana Melcher Martins

BANCA EXAMINADORA

________________________________________
Prof.ª Dra. Renata Trigueirinho Alarcon
Orientadora

________________________________________
Prof.

________________________________________
Prof.
3

FERREIRA, Luciene S.F.

O Papel da ferramenta de redação sob o tema “Quem Sou eu?” na


identificação das Distorções Cognitivas no processo terapêutico – 2016.
22 f. + CD-ROM

Trabalho de Conclusão de Curso (especialização) – Centro de Estudos


em Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC). 2016. Orientação: Dra
Renata Trigueirinho Alarcon Profª. Coorientação: Profª. Msc Eliana
Melcher Martins

1.. O Papel da ferramenta de redação sob o tema “Quem Sou eu?” na


identificação das Distorções Cognitivas no processo terapêutico 2. LIVRO
IMPRESSO. 3.EBOOK. I. FERREIRA, Luciene S.F.. II. Alarcon, Renata
Trigueirinho, orient III.Martins, Eliana Melcher . coorient. IV. Título
4

A El Shaday que me orienta e me sustenta em todos os caminhos.

E, aos meus pacientes que me possibilitam através das

suas dificuldades o meu crescimento constante.


5

AGRADECIMENTOS

A meu companheiro, Claudio S. Ferreira A. e minha amada filha Laura S.

Ferreira, por me apoiarem na tomada de decisão deste curso e por, continuamente,

me estenderem seu apoio, amor e verdadeiro interesse, que me auxiliou a construir

este trabalho. A minha querida amiga Regiane Guadacholi, que possibilitou através

do seu conhecimento da Terapia Cognitiva Comportamental a minha nova

perspectiva de ajudar os meus pacientes com uma teoria com resultados mais

eficazes.

À Eliana Melcher, minha coorientadora em TCC, por ter me ensinado a

terapia cognitivo-comportamental. E, à minha orientadora, Renata T. Alarcon, pela

atenção e cuidado com que me conduziu na realização desta monografia.

Aos meus pais, Marlene e Oswaldo e irmãos, pelo amor e por acreditarem em

mim e continuamente me apoiarem em meus projetos de vida. As amigas que de

forma direta ou indiretamente contribuíram para a construção deste trabalho, em

especial Maíra Curti. E principalmente a Deus que me sustentou e possibilitou

energia e benefícios para chegar até aqui.


6

RESUMO

Este trabalho tem o objetivo de propor o uso da ferramenta de redação com o tema

Quem Sou Eu?, como instrumento para contribuir na análise das distorções

cognitivas e crenças na Terapia Cognitivo-Comportamental. Utilizou-se um estudo

de caso fictício de uma paciente hipoteticamente com Depressão e Transtorno de

Ansiedade Generalizada. Foram sugeridos a análise dos pensamentos descritos na

redação e posteriormente a utilização deles para diferenciar Distorções Cognitivas e

Crenças, o que pode ajudar o paciente no processo de psicoeducação e clareza sob

seu modelo cognitivo.

Palavras-Chave: Terapia Cognitivo-Comportamental em Grupo. Redação. Distorções

Cognitivas, Crenças.
7

ABSTRACT

This work aims to propose the use of the wording with the theme Who Am I? as a

tool to contribute to the analysis of cognitive distortions and beliefs in cognitive-

behavioral therapy. We used a fictional case study of a hypothetical patient with

Depression and Generalized Anxiety Disorder. It was suggested to analyze the

thoughts described in writing and later use them to differentiate Cognitive Distortions

and beliefs, which can help the patient in the psychoeducation process and clarity in

their cognitive model

Keywords: Cognitive-Behavioral Therapy Group. Wording. Cognitive

Distortions, beliefs.
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Lista de Anexos

Anexo 1: Lista de Distorções Cognitivas

Anexo 2: Lista de Crenças

Anexo 3: Termo de Responsabilidade Autoral


9

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................. 10

2. OBJETIVOS................................................................................................. 14

3. METODOLOGIA DA PESQUISA................................................................ 15

4 RESULTADOS DISCUSSÃO...................................................................... 16

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 23

6 REFERÊNCIAS............................................................................................ 24

7 ANEXOS......................................................................................................... 25
10

1. INTRODUÇÃO

Os componentes comportamentais do modelo de terapia cognitivo-


comportamental (TCC) tiveram seu início nos anos de 1950 e 1960, aplicando as
ideias de Pavlov, Skinner e outros behavioristas experimentais (BECK, 2013).
WOLPE e EYSENCK foram pioneiros na exploração do potencial das intervenções
comportamentais, como a dessensibilização (contato gradual com objetos ou
situações temidos) e treinamento de relaxamento. Muitas das abordagens iniciais ao
uso dos princípios comportamentais para a psicoterapia prestavam pouca atenção
aos processos cognitivos envolvidos nos transtornos psiquiátricos. Pelo contrário, o
foco era moldar o comportamento mensurável com reforçadores e eliminar as
respostas de medo através de exposição (BECK, 2013).

A TCC está baseada no modelo cognitivo, o qual parte da hipótese de as


emoções, os comportamentos e a fisiologia de uma pessoa são influenciadas pelas
percepções que ela tem de eventos (BECK, 2013). Esses eventos quanto expressos
nas atividades propostas da TCC podem contribuir na forma como cada um
interpreta as situações vividas no seu dia a dia.

O Psiquiatra Aaron T. Beck foi a primeira pessoa a desenvolver


completamente teorias e métodos para aplicar as intervenções cognitivas e
comportamentais a transtornos emocionais (BECK, 2013). A TCC desenvolvida por
este autor fornece através de diversas técnicas a possibilidade de identificação dos
pensamentos que evidenciam as visões que cada paciente tem sobre si mesmo,
sobre as pessoas que os rodeiam e sobre o futuro.

Segundo WRIGTH e colaboradores (2008):

“Um grande número de pensamentos que temos a cada dia


faz parte de um fluxo de processamento cognitivo que se
encontra logo abaixo da superfície da mente totalmente
consciente. Esses pensamentos automáticos normalmente são
privativos ou não declarados, e ocorrem de forma rápida à
medida que avaliamos o significado de acontecimentos em
nossas vidas”.
11

Os métodos para descobrir e modificar os pensamentos automáticos


desadaptativos encontram-se no cerne da abordagem cognitivo comportamental e o
uso de ferramentas apoiam este trabalho. Um dos construtos básicos mais
importantes da TCC é que existem padrões distintivos de pensamentos automáticos
nos transtornos psiquiátricos e que o trabalho de modificar esses estilos de
pensamento pode reduzir significativamente os sintomas. Portanto, os terapeutas
cognitivos comportamentais geralmente dedicam uma grande parte das sessões à
tarefa de trabalhar com os pensamentos automáticos (WRIGTH, 2008).

Esses pensamentos automáticos são avaliados constantemente na TCC, visto


que a partir deles o paciente será capaz de modificar sua forma de pensar e,
consequentemente, as ações que lhe trazem desconforto emocional. Esses
pensamentos são um fluxo de pensamentos que coexistem com um fluxo de
pensamentos mais manifestos (BECK, 2013). Assim sendo, melhor definição é que
são cognições que passam rapidamente por nossas mentes quando estamos em
meio a situações (ou relembrando acontecimentos). Embora possamos estar
subliminarmente conscientes da presença de pensamentos automáticos,
normalmente essas cognições não estão sujeitas a análise racional cuidadosa.
(WRIGTH, 2008).

No nível mais imediato estão os pensamentos automáticos que surgem


espontaneamente, parecem válidos e estão associados a comportamentos
problemáticos ou emoções perturbadoras. Esses pensamentos automáticos podem
ser classificados de acordo com vieses ou distorções específicas, por exemplo:
leitura da mente, personalização, rotulação, adivinhação do futuro, catastrofização
ou pensamento dicotômico (do tipo tudo ou nada) (LEAHY, 2006).

No contexto terapêutico, com o máximo de dados possíveis em relação ao


significado e a importância dos pensamentos automáticos, se faz necessária a
clareza em relação às distorções ou erros cognitivos. Tudo isso deve ocorrer após
um processo de psicoeducação com o paciente.

As sessões de TCC são estruturadas, ou seja, haverá um direcionamento


para o pacientes referente algumas etapas do processo, que normalmente são as
seguintes: estabelecimento de Metas, estabelecimentos de agenda, realização de
12

avaliação e checagem de sintomas, ponte entre as sessões, feedback e o uso de


diversas ferramentas terapêuticas. Esse tipo de sessão tem como finalidade
proporcionar conforto para o paciente, pois desta forma, este sabe o que esperar de
cada sessão. Ajuda também o terapeuta e paciente a se manterem focados nos
problemas e metas da terapia e também ajuda a estabelecer um aprendizado
contínuo de ferramentas apresentadas nas sessões, através de tarefas e revisões
de tarefas (SUDAK, 2008).

De ordem prática o terapeuta utiliza a seguinte pergunta: “O que está


passando pela sua cabeça agora?”. As respostas inicialmente podem estar repletas
de incertezas, já que diferenciar os pensamentos das emoções nem sempre será
uma tarefa fácil para o paciente. Um exemplo é quando o paciente diz “minha vida
não tem nada que valha a pena”. Neste momento percebe-se que há uma distorção
do tipo “tudo ou nada” e o terapeuta poderá ajudá-lo a compreender outros aspectos
positivos da sua vida que não favorecem essa afirmação extremamente categórica.

Existem diversas técnicas e ferramentas que podem ser utilizadas na


identificação das distorções cognitivas, como por exemplo: Lista de Erros Cognitivos,
Debate Socrático, Avaliação das Emoções e Crenças, Registro de Pensamentos
Automáticos etc. Todavia a relevância dos fatos da história do paciente pode trazer
a tona diversas distorções construídas ao longo de toda a sua vida. Entender o
processo dos pensamentos automáticos através das ferramentas contribui de forma
expressiva nos questionamentos sobre de onde vêm os pensamentos automáticos.
A resposta tem a ver com fenômenos cognitivos mais permanentes: as crenças
(BECK, 2013).

Há diversas ferramentas sugeridas na TCC, e o terapeuta possui a liberdade


de adaptá-las para cada realidade e momento do paciente, como também,
desenvolver novas ferramentas que podem ser úteis para o processo como um todo.
Nesse contexto, a redação pode ser uma ferramenta útil para auxiliar nos
questionamentos sobre pensamentos automáticos, já que, quando se tem a
oportunidade de escrever sobre a própria história, inicia-se uma percepção dos
motivos que o levaram para o estado atual, que normalmente são ideias inexatas
(BECK, 2013).
13

No Brasil o uso da redação em vestibulares tem como objetivo geral avaliar a


escrita com fluência, argumentação e crítica sobre textos e assuntos variados,
usando a linguagem de maneira adequada. Esta ferramenta também é muito
utilizada em processos de recrutamento e seleção, tendo como objetivo avaliar a
escrita, raciocínio e conteúdo da história do candidato. Em alguns processos
seletivos a redação é utilizada com foco na grafologia (estudo pseudocientífico que
utiliza a análise da escrita para inferir sobre traços de personalidade). Propõem
discutir, através de um caso fictício, a possibilidade dessa ferramenta adaptada ao
contexto terapêutico poder oferecer uma análise dos principais pensamentos
expressos sobre si, suas distorções cognitivas, crenças.

Também se sugere como apoio da construção da conceitualização de caso,


que se define da seguinte forma:

Conceitualização de caso é um processo em que o terapeuta e o cliente


trabalham em colaboração para primeiro descrever e depois explicar os problemas
que o cliente apresenta na terapia. A sua função primaria é guiar a terapia de modo
a aliviar o sofrimento do cliente e a desenvolver a sua resiliência (KUYKEN, 2010).

Considerando a relevância dessa ferramenta de redação, simulou-se a


utilização da mesma no contexto terapêutico com o tema Quem Sou eu?, o que em
um setting terapêutico possibilitaria a cada paciente descrever a sua própria história.

Diante do exposto e considerando a facilidade de aplicação da redação,


entendimento rápido da sua importância pelo paciente, este trabalho teve como
objetivo demonstrar como a redação com o tema Quem Sou Eu? pode ser utilizada
para psicoeducação sobre TCC e identificação de pensamentos automáticos e
crenças no processo terapêutico.
14

2 OBJETIVO

Apresentar um caso hipotético de uma paciente utilizando a ferramenta de


redação sob o tema Quem sou eu?, mostrando como pode ser utilizada como
método de identificação de pensamentos e crenças, no processo de psicoeducação
na abordagem da TCC.
15

3 METODOLOGIA DE PESQUISA

Para a realização deste trabalho foi utilizado como método de investigação o


estudo de caso fictício. Este consiste em um estudo detalhado de um objeto, e
busca de uma visão do funcionamento daquilo que se pesquisa.

Neste trabalho foi analisado um estudo de caso da Paciente fictícia M. 40


anos, solteira, contadora afastada do INSS com diagnóstico de depressão e
ansiedade generalizada, que através da redação teve a possibilidade de identificar
suas principais distorções e suas crenças.
16

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Proposta de aplicação da Redação Quem sou eu?

Procedimento

A primeira sessão procura-se ouvir o motivo que trouxe o paciente para o


consultório, fazer psicoeducação sobre como funciona a TCC, principalmente o
Modelo Cognitivo. Nesta psicoeducação ressaltar a importância das tarefas de casa
e uso da agenda que pode fundamental para atingir metas traçadas. E como ultima
etapa da primeira sessão sugerir como tarefa de casa ao final da primeira sessão a
redação com o tema Quem sou eu?,

Sugere-se uma reflexão sobre o funcionamento do GPS (Aparelho Eletrônico


de localização via satélite) e como funciona, o paciente pode saber o lugar onde se
pretende chegar e a reflexão tem como objetivo levar a consciência da importância
de olhar para onde estamos hoje, ou seja, Quem Sou Eu?.

Após a ilustração do funcionamento do GPS, orienta-se que escreva durante


a semana sua história de vida, onde trará dados relevantes de todas as fases da sua
vida, desde a infância ate o momento atual. Elencando suas perdas, vitórias sonhos,
pontos fortes, fracos e projetos. Sugere-se escrever no mínimo 30 linhas, dando
liberdade para utilizar o computador ou a escrita manual. Porém entregue de forma
impressa, para que o terapeuta use durante a sessão.

Análise da redação

O terapeuta pode realizar a leitura da redação em voz alta para o paciente


logo no inicio da sessão. A partir de o conteúdo iniciar a identificação das principais
distorções cognitivas e crenças, usando como base uma lista com as principais
características de algumas distorções (Anexo I) e também um quadro com outras
características das crenças (Anexo II).
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Após o término da leitura avalia-se com o paciente sobre quais pensamentos


e sensações sentiu a ouvir a sua própria historia sendo narrada por outra pessoa.
Essas novas informações também são anotadas para serem utilizadas
posteriormente.

Em seguida o paciente receberá uma listagem com distorções cognitivas


(anexo I) que usaremos elementos da sua própria historia para exemplificar o seu
significado.

Pode acontecer de o paciente produzir uma redação com o tema Quem Sou
Eu, muito extensa, que necessite de outras sessões para analise. É muito
importante que ele perceba que o terapeuta teve a preocupação com cada detalhe
da sua historia, que possibilitara um fortalecimento do vinculo paciente-terapeuta.

Esta mesma redação quando rica em pensamentos que interferem no


comportamento do paciente também poderá ser utilizada para iniciar a
Conceitualização de caso.

O caso fictício

A senhora M. tem 40 anos, é solteira, sem filhos e atua profissionalmente


como administradora, mas está afastada há 1 ano pelo INSS com diagnóstico
Transtorno misto ansioso e depressivo. CID 10 F41.2.
Com queixas relacionadas ao medo de trabalhar e de dirigir no transito
recorrente. Evita sair de casa, mantem uma rotina pouco saudável, engordou 25
quilos, tem uma vida social restrita a família e fica depressiva e ansiosa sempre que
precisa passar por pericia medica para retornar ao trabalho. Seu ultimo
relacionamento afetivo ocorreu há 15 anos. Reside com seus pais e sua rotina é
baseada nas atividades do seu único sobrinho de 6 anos. Passou por uma perda
familiar há 1 ano, quando seu cunhado foi assassinado durante o trabalho por um
assaltante.
Senhora M. foi hipoteticamente submetida a sessões de TCC, com
diagnósticos para depressão e ansiedade generalizada. Os sintomas depressivos e
ansiosos podem ser acompanhados através do Inventário Beck para depressão e
Inventário Beck para ansiedade, tendo como principais intervenções as estratégias e
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técnicas cognitivo-comportamentais. Após escuta e avaliação das queixas e


elaboração do histórico de vida e familiar (Anamneses de Padesck) e avaliação do
uso de medicações e drogas e do risco de suicídio, sugere-se a seguinte ferramenta:
redação sob o tema “Quem Sou eu?”. A aplicação desta ferramenta pode ocorrer ao
final da primeira sessão, porém pode ser adaptada ao contexto de cada paciente.

São os pensamentos não declarados muitas vezes durante a sessão que se


propõe que a ferramenta da redação sob o tema “Quem sou eu?” tenha como
objetivo avaliar. Nota-se que os pensamentos automáticos dentro da rotina diária
tendem ficar mais intensos, portanto, o ato de escrever em casa, ambiente de
trabalho ou outro lugar o qual se tenha certa intimidade, pode produzir um relato
mais detalhado da vida, relato esse acompanhado de muitos pensamentos
automáticos e consequentemente distorções cognitivas e crenças.

A identificação de cada distorção dentro da redação poderá não ocorrer de


forma imediata, sendo necessárias outras sessões, já que há a possibilidade das
emoções de cada paciente serem afloradas e o terapeuta deverá acolher cada
momento expresso na sessão.

Redação sob o tema “Quem sou eu?”

Meu nome é M, tenho 40 anos, sou solteira e resido com meus pais em casa
própria. Falar de si não e uma tarefa fácil, mas pretendo descrever o que vier nas
minhas lembranças.
A minha infância foi com momentos bons e ruins. Sempre brincava muito em
nossa casa simples, mas tinha muito medo da minha mãe, porque ela era brava e
sempre chegava muito nervosa do trabalho. Tenho uma irmã G. de 33 anos e
sempre tinha que protegê-la. Certa vez quando tinha 8 anos quase morri de susto,
porque estávamos brincando e ela caiu e bateu a cabeça e minha mãe disse: se ela
morrer a culpa e sua! Até hoje me lembro desse dia com tristeza e antes eu nem
falava desse assunto.
Minha mãe sempre foi ocupada e não tinha tempo para brincar ou conversar,
mas nunca deixou faltar nada junto com meu pai. Ele sempre foi mais calmo, mas
19

ausente devido ter que trabalhar muito. Fazia muitas horas extras quando trabalhava
como motorista de ônibus, hoje ainda trabalha como taxista.
Na escola sempre fui tímida e com dificuldade para fazer novos amigos, só
consegui me envolver mais com os colegas a partir da 5 serie e para isso ajudava
eles com as matérias e trabalhos escolares. Mas terminar o ensino fundamental,
antiga 8 serie, foi muito traumático, por que tive que mudar de escola e perder todos
os meus amigos de uma vez. Fiquei muito arrasada, eu achava que nunca mais teria
novos amigos.
Fui ter o meu primeiro namorado com 16 anos, eu gostava muito dele, mas
terminamos quando eu tinha 18 anos, ele aprontava muito, gostava de sair e me
deixar sozinha e também saia com outras garotas. Meses depois conheci meu
segundo namorado, namoramos por 1 e meio e terminamos porque ele se
interessou por outra pessoa, nossa fiquei muito mal. Sempre fui abandonada.
Depois não me relacionei mais com ninguém, mas tive duas paixões, mas foram
platônicas eles nunca souberam. Hoje ninguém tem interesse por mim.
Eu também comecei a trabalhar com 16 anos de idade e foi medonho, porque
eu não fazia nada o dia todo e as pessoas eram super mal educadas, eu era
recepcionista e me sentia uma inútil. Trabalhei lá por 1 ano e fui demitida devido
corte de custo na empresa.
Quando terminei o colégio, decidi fazer faculdade sem saber qual área queria,
mas resolvi fazer contabilidade porque todos diziam que era uma profissão que eu
poderia ter dinheiro. Foi difícil pagar e fazer um curso que não gostava tanto. Mas é
melhor do que não fazer nada.
Com 20 anos consegui um emprego na área administrativa de um banco,
gostava de trabalhar lá, ajudava a todos, tinha alguns amigos, mas o banco foi
vendido e fui para outro banco que comprou e fomos realocados para um lugar
longe, não queria ir, foi difícil perder tudo que conquistei e recomeçar de novo.
Neste novo banco tive uma chefe mega carrasca, era tudo muito diferente do
que estava acostumada, novas regras, muita pressão, cansaço devido o transito e o
bairro perigoso. Não quero voltar a trabalhar naquele lugar, sei que será muito pior
quando eu voltar, porque naquela época ela gritava e dizia que eu era muito lenta,
imagino como seria hoje. Neste período chorava sempre para ir trabalhar e para tirar
o estresse comprava algumas coisas do tipo Cds, livros e sapatos. Hoje tenho
muitos no meu quarto, que é meu refugio e a única parte da casa que me sinto bem,
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porque o restante a minha mãe não me da liberdade para fazer nada, sempre
lembra que a casa é dela. Nos sempre brigamos muito e uma relação baseada na
chantagem emocional, tudo ela começa a gritar e passar mal e eu acabo entrando
no jogo e faço igual. Cresci sem muito carinho, cresci sem falar ou ouvir a palavra
“eu te amo” então eu não consigo falar isso para ninguém.
Lembro que um momento marcante foi quando minha irmã foi se casar com
um namorado que ninguém gostava, foi horrível, me senti traída e sozinha porque eu
sempre fiz tudo por ela, neste dia ate pensei em me matar, porque estava perdendo
a minha melhor amiga, mas com o tempo me acostumei e ate me tornei amiga do
meu cunhado. Mas infelizmente há 1 ano ele foi assassinado por um assaltante na
loja que trabalhava e nossa vida ficou mais difícil, sempre que lembro que ele se foi
fico péssima. Hoje ajudo a minha irmã que vive deprimida e cuido do meu sobrinho.
Tudo que faço penso nele antes, a minha rotina e baseada nas necessidades dele,
trato ele como se fosse meu filho, mas minha irmã não reconhece e isso acaba
comigo. Acho ela uma ingrata.
Hoje me sinto uma incapaz, onde atrapalho a rotina da minha mãe e não
tenho nada de concreto na minha vida.
Já fiz terapia antes, mas não tive muitos resultados. Sinto que hoje preciso
mudar e ter mais força para conquistar meus sonhos e descobrir quais são eles.
Quero um dia ter meu próprio negocio e ter uma relação melhor com minha mãe.
Acho que isso sou eu!

Análise da Ferramenta: Redação sob o tema “Quem sou eu?”

É possível que alguns pacientes apresentem certa resistência ou dificuldades


para expressar suas emoções através da escrita, porém incentivá-los permitirá uma
possível reflexão sobre acontecimentos que “achavam” ser irrelevantes, onde a
proposta será perceber como as situações do passado podem influenciar os
pensamentos do seu presente.
Inicialmente esta ferramenta poderá dar ao paciente a sensação que terá uma
continuidade da sessão no decorrer dos dias e que também será o responsável para
trazer suas questões nas próximas sessões, o que se denomina agenda. O paciente
21

tem a liberdade de realizar a tarefas no caderno da terapia ou fazer no computador


ou até escrever em folhas avulsas.
No caso apresentado da M. há destaque para algumas distorções na sua
escrita como, por exemplo:
- Eu achava que nunca mais teria novos amigos. (Catastrofização)
- Me sentia uma inútil. (Orientação para Remorso)
- Mas é melhor do que não fazer nada. (Desqualificação do aspecto positivo)
- Me senti traída e sozinha (Raciocínio Emocional)
- Eu achava que nunca mais teria novos amigos. (Adivinhação do futuro)
- Não quero voltar a trabalhar naquele lugar, sei que será muito pior quando
eu voltar. (Catastrofização)
Pensamentos automáticos são cognições que passam rapidamente por
nossas mentes quando estamos em meio a situações (ou relembrando
acontecimentos). Embora possamos estar subliminarmente conscientes da presença
de pensamentos automáticos, normalmente essas cognições não estão sujeitas a
analise racional cuidadosa. (WRIGTH, 2008).
Através de uma tabela (anexo 1) apresentada para a paciente com enumeras
distorções cognitiva podemos notar que Catastrofização, Adivinhação do futuro,
Raciocínio emocional são distorções que podem indicar como direcionam a sua
forma de pensar. Espera-se que após desenvolver a percepção clara sobre cada
pensamento e suas respectivas distorções ela possa adquirir a capacidade de ter
pensamentos alternativos para diminuir seus desconfortos emocionais. Para auxiliar
nesse processo serão usadas também outras ferramentas da TCC.
Muitas vezes ao citar exemplos de outras pessoas ou de livros para
esclarecer as distorções, os pacientes têm dificuldades para utilizar as ferramentas
da TCC. Todavia existe a possibilidade de que, ao usar a ferramenta de redação sob
o tema “Quem Sou eu”?, a paciente tenha mais entendimento para realizar outras
tarefas como exemplo o RPD (Registro de Pensamentos Automáticos) e entender
melhor dentro da sua história seus erros cognitivos.
Provavelmente, após a identificação das principais distorções de M., o
terapeuta terá condições de identificar junto com a paciente suas crenças (Anexo 2),
sendo que algumas são descritas na redação:
Neste caso hipotético existe dados através da sua escrita que reforçam como
crença central possivelmente o de Desamparo.
22

- “Porque eu sempre fiz tudo por ela”


- “Me sinto uma incapaz”
- “Sempre fui abandonada”.
- Tudo que faço penso nele antes
- “Cresci sem muito carinho, cresci sem falar ou ouvir a palavra “eu te amo”
então eu não consigo falar isso para ninguém. ”
Durante as sessões de terapia procura-se explorar cada um destes níveis de
organização, partindo dos pensamentos automáticos até chegar ao sistema de
crenças do sujeito. Então as crenças são testadas a partir de argumentos e
propostas de exercícios que o paciente realizará durante a terapia e em demais
contextos (SHINOHARA, 1997).
23

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

.Neste trabalho descritivo e com análise de um caso hipotético observa-se


que a terapia cognitivo-comportamental possibilita trabalhar com diversas
ferramentas já elaboradas e instruídas em diversas literaturas e cursos. Porém, a
partir de todo conceito aprendido, o terapeuta pode propor outras possibilidades de
ferramentas para atingir resultados eficazes durante o tratamento, como por
exemplo a redação sob o tema “Quem Sou eu”?

Há uma expectativa do terapeuta que após a identificação dos seus principais


erros cognitivos, o paciente possa aderir com mais empenho o uso de muitas outras
ferramentas, visto que os exemplos são da sua própria história de vida destacadas
nesta redação.

Este trabalho aborda de forma insuficiente as particularidades da ferramenta


sugerida, devido o caso ter um olhar hipotético. Mas propõe a utilização de uma
ferramenta simples que pode ser utilizada em psicoeducação sobre TCC e também
como ferramenta de identificação de pensamentos automáticos disfuncionais e
crenças. Dessa forma, sugere-se o avanço da pesquisa para estudos de casos
reais, com objetivo de preencher as lacunas e desenvolver adaptações que
possibilitem o uso constante no contexto terapêutico.
24

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6320. Informação e


documentação: Referências – Elaboração. Rio de Janeiro, 2002.

BECK, J.S. Terapia cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 207.

BECK, J.S. Terapia cognitivo-comportamental: teoria e pratica. Porto Alegre:


Artmed, 2013.

CABALLO, V. E. Manual de técnicas de terapia e modificação do comportamento.


São Paulo: Santos Livraria Editora, 1999.

KUYKEN, W.; PADESKY, C.A.; DUDLEY, R. Conceitualização de casos


colaborativos: o trabalho em equipe com pacientes em terapia cognitivo-
comportamental. Porto Alegre: Artmed, 2010.

LEAHY, R.L. Técnicas de terapia cognitiva: manual do terapeuta. Porto Alegre:


Artmed, 2006.

SHINOHARA, H. O. Conceituação da terapia cognitivo-comportamental. Em:


BANACO, R.A. Sobre comportamento e cognição: aspectos teóricos, metodológicos
e de formação em análise do comportamento e terapia cognitiva. São Paulo: Editora
Arbytes, 1997.

SUDAK, D. M. Terapia cognitivo-comportamental na prática. Porto Alegre: Artmed,


2008.

WRIGTH, J.H.; BASCO, M.R.; THASE, M.E. Aprendendo a terapia cognitivo-


comportamental: um guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed, 2008.
25

ANEXO I

Lista de Verificações das Distorções Cognitivas


1- LEITURA MENTAL: Você imagina que sabe o que as pessoas pensam sobre você, sem ter evidências. Por exemplo:
”Ele acha que sou um fracasso.”

2- ADIVINHAÇÃO DO FUTURO: Você prevê o futuro com pessimismo, onde as coisas vão piorar ou onde há perigos
pela frente. Por exemplo: ” Não conseguirei o emprego.” “Jamais irei casar.”

3- CATASTROFIZAÇÃO: Quando o pensamento tem a tendência de exagerar, você acredita que o que aconteceu ou
vai acontecer é tão terrível e insustentável, que não será capaz de suportar. Por exemplo: ”Estou com tosse. Pode
ser um tumor pneumonia.”

4- ROTULAÇÃO: Você atribui traços negativos a si e aos outros baseados em uma ou duas análises. Por exemplo:
”Sou indesejável” ou ” Ela gosta de roupas curtas, deve ser uma mulher vulgar.”

5- DESQUALIFICAÇÃO DOS ASPECTOS POSITIVOS: Você afirma que as realizações positivas, suas ou alheias, são
triviais. Por exemplo: ”Emagrecer apenas algumas gramas não conta, quero elogios somente quando atingir minha
meta.”

6- FILTRO NEGATIVO: Você foca quase exclusivamente os aspectos negativos e raramente nota os positivos. Por
exemplo: ”Ninguém gosta de estar ao meu lado.”

7- SUPERGENERALIZAÇÃO: Você percebe um padrão global de aspectos negativos com base em um único
incidente. Por exemplo: ”Sempre serei um fracassado” ou ” Fui traído uma vez, não se pode confiar em ninguém.”

8- PENSAMENTO DICOTÔMICO: Você vê eventos ou pessoas, em termos de tudo-ou-nada. Por exemplo: ”Tudo isso
foi uma perda de tempo” ou ”Ou faço a dieta rigorosamente ou melhor não fazer nada”.

9- AFIRMAÇÃO DO TIPO ”DEVERIA”: Você interpreta os eventos baseado em como deveriam ser, em vez de se
concentrar no que elas realmente são. Por exemplo: ” Eu tenho que me sair bem, senão serei um fracasso” ou ” Sou
honesto, todos deveriam ser também.”

10- PERSONALIZAÇÃO: Você atribui a si mesmo uma culpa desproporcional por eventos negativos e não consegue ver
que certas situações também são provocados pelos outros. Por exemplo: ” Meu casamento terminou porque eu
falhei.” ou ” Sou ingênuo pois fui traído no relacionamento.”

11- ATRIBUIÇÃO DE CULPA: Você se concentra na outra pessoa como fonte de sentimentos negativos e se recusa a
assumir responsabilidade pela mudança. Por exemplo: ” Estou me sentindo assim faz tempo por culpa dela” ou
”Meus pais são a causa de todos os meus problemas.”

12- COMPARAÇÕES INJUSTAS: Você interpreta um evento em termos de padrões irrealistas, comparando-se com
pessoas que se mostraram melhor que você em uma situação, concluindo então que você é inferior a todos. Por
exemplo: ” Ela é mais bem-sucedida que eu” ou ” Os outros se saíram melhor que eu na prova.”
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13- ORIENTAÇÃO PARA O REMORSO: Você fica preso à ideia de que poderia ter feito melhor no passado em vez de
focar o que pode ser melhorado agora. Por exemplo: ”Eu poderia ter conseguido um emprego melhor se tivesse
tentado.”

14- E SE…? Você faz uma série se perguntas do tipo” e se…?”, e nunca fica satisfeito com as respostas. Por exemplo:
”Sim, mas e se eu ficar ansioso?”

15- RACIOCÍNIO EMOCIONAL: Você deixa os sentimentos sempre guiarem sua interpretação da realidade, raramente
tentando achar uma resposta racional. Por exemplo: ”Estou deprimida, consequentemente, meu casamento não está
indo bem.”

16- INCAPACIDADE DE REFUTAR: (refutar = contestar). Você rejeita qualquer argumento que possa contradizer o
pensamento negativo. Por exemplo: ”Muitos dizem que sou inteligente, mas não falam a verdade.”

17- FOCO NO JULGAMENTO: Você avalia a si, aos outros e aos eventos em termos de preto-e-branco, 8 ou 80. Está
sempre analisando os padrões bom-mau; superior-inferior, em vez de simplesmente descrever, aceitar e
compreender um meio termo ou algo diferente do padrão que você julga adequado. Por exemplo: ”Aquela pessoa
magoou o amigo, ele não presta” ou ”Veja como ela faz sucesso, eu não consigo.”

18- Vitimização: Coloca-se numa posição onde que acontece e exclusivo a si. Exemplo: “Minha vida é uma ruina”,
“Sempre estou com problemas”.

Fonte: BECK, 2013, adaptado pela autora


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ANEXO II
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ANEXO III

Termo de Responsabilidade Autoral

Eu LUCIENE SILVA FARIA FERREIRA, afirmo que o presente trabalho e suas

devidas partes são de minha autoria e que fui devidamente informado da responsabilidade

autoral sobre seu conteúdo.

Responsabilizo-me pela monografia apresentada como Trabalho de

Conclusão de Curso de Especialização em Terapia Cognitivo Comportamental, sob

o título “O Papel da ferramenta de redação sob o tema “Quem Sou eu?” na

identificação das Distorções Cognitivas no processo terapêutico”, isentando,

mediante o presente termo, o Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-

Comportamental (CETCC), meu orientador e coorientador de quaisquer ônus

consequentes de ações atentatórias à "Propriedade Intelectual", por mim praticadas,

assumindo, assim, as responsabilidades civis e criminais decorrentes das ações

realizadas para a confecção da monografia.

São Paulo, __________de ___________________de______.

_____________________________

Assinatura do (a) Aluno (a)

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