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TERESINHA SERAGGI PEREIRA LIMA

POSSÍVEIS INTERVENÇÕES NO TRATAMENTO DE


PACIENTES COM TRANSTORNO DE PÂNICO

SÃO PAULO
2020
I

TERESINHA SERAGGI PEREIRA LIMA

POSSÍVEIS INTERVENÇÕES NO TRATAMENTO DE


PACIENTES COM TRANSTORNO DE PÂNICO

Monografia apresentada ao Curso


de Especialização em
Psicopatologia e Prática Clínica
na Instituição Psiquiátrica do
Serviço de Psicologia e
Neuropsicologia do Instituto e
Departamento de Psiquiatria do
HCFMUSP.

Orientadora: Marília Salgado


Paulino da Costa

SÃO PAULO
2020
II

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DE MONOGRAFIAS

Título do Trabalho: Possíveis Intervenções no Tratamento de Pacientes com


Transtorno de Pânico
Aluno: Teresinha Seraggi Pereira Lima

Orientador: Marília Salgado Paulino da Costa

Avaliador: Fabiana Saffi

Data:

Assinale para cada tópico o conceito considerado em sua avaliação

Monografia:

Monografia Satisfatório Insatisfatório


Título
Resumo
Introdução
Método
Resultados
Apresentação e Discussão dos Resultados
Conclusões
Referências Bibliográficas
Apresentação Geral da Monografia

Nota ________ ( ____________________________ )

Sugestões e correções

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________
III

AGRADECIMENTOS

A Deus que, na minha fé, me ampara e me guia ao trilhar os caminhos

da vida. À minha família, que ao transmitir valores sólidos, incentivos e amor

me ofereceram recursos para a construção de minha trajetória pessoal e

profissional. Às minhas filhas, Karina e Carolina, pela compreensão diante de

minha ausência, para que eu pudesse continuar a consolidar meu sonho de

me realizar profissionalmente. É para elas, acima de tudo, todo o meu esforço.

À minha orientadora, Marília Salgado, pela paciência na minha

orientação, e por suas considerações valiosas e fundamentais. À minha

parecerista, Fabiana Saffi, por aceitar meu convite em fazer a avaliação final

antes da entrega final. Duas profissionais altamente qualificadas e que me

enchem de orgulho em ser amparada por elas para a conclusão desta

monografia.

A todos os meus professores, colegas e funcionários do Curso de

Psicopatologia e Prática Clínica na Instituição Psiquiátrica do IPq - FMUSP,

que ampliaram minha visão tanto do ponto de vista da capacitação técnica

quanto da humanização e da empatia.

Aos todos os meus pacientes, com os quais aprendo diariamente, e nos

quais me inspirei para realizar esta busca por entender um pouquinho mais

como ajudá-los a solucionar seus próprios conflitos, e assim tornarem as suas

vidas um pouco mais possível e, quem sabe, um pouco mais bonitas de serem

vividas.
IV

ÍNDICE

Introdução 1
. Histórico 3
. Epidemiologia 6
Metodologia 7
Resultados 8
Discussão 11
. Transtorno do Pânico 11
. Diagnóstico e Tratamento Medicamentoso 14

Transtorno do Pânico Resistente ao Tratamento Medicamentoso 17


. Tratamento Psicológico do Transtorno do Pânico 18
Teorias Cognitivo-Comportamentais 18
Abordagem Psicanalítica 21
Psicoterapia Analítica Funcional 23
. Tratamentos Complementares 23
Yoga 23
Mindfulness 25
Enfoque Integrativo 26
Uso da Tecnologia 27
Conclusão 29
Referências Bibliográficas 31
V

LIMA, TSP. Possíveis Intervenções no Tratamento de Pacientes com


Transtorno de Pânico. [Monografia]. Serviço de Psicologia e Neuropsicologia,
Instituto e Departamento de Psiquiatria, Hospital das Clínicas, Faculdade de
Medicina, Universidade de São Paulo; 2020.

RESUMO

O Transtorno do Pânico é uma realidade cada vez mais presente em

nossa sociedade, com consequências muitas vezes incapacitantes, na

medida em que restringe a capacidade de ação das pessoas acometidas por

ele. Objetivo: realizar um levantamento acerca das possíveis intervenções

praticadas atualmente, a fim de contribuir da forma mais adequada possível

para a remissão dos sintomas apresentados por quem o porta. Método:

revisão de literatura, a partir de base de dados em canais de publicações

científicas e em bibliografia especializada. Resultados: Todos os tratamentos

mostraram-se de alguma forma eficazes para o tratamento do Transtorno do

Pânico, com ênfase aos resultados das terapias cognitivo-comportamentais,

havendo maior eficácia na combinação com o tratamento medicamentoso na

maior parte das vezes. Conclusão: A combinação de técnicas e o

aperfeiçoamento trazido por novas intervenções contribuem para o sucesso

das intervenções em pacientes com transtorno de pânico nos dias de hoje.

Palavras-chave: intervenções, pânico, transtorno de pânico.


1

Introdução

Os transtornos de ansiedade estão no grupo dos transtornos mentais

mais prevalentes no mundo, atualmente (Anselmi, Fleitlich-Bilyk, Menezes,

Araújo, & Rohde, 2010; Kessler, Chiu, Demler, Merikangas, & Walters, 2005

apud Hultz et al, 2016). A competição no mercado de trabalho, a cobrança por

resultados - cada vez mais presente, as demandas sociais e as expectativas

nas interações familiares constam entre as razões pelas quais estamos tão

ansiosos nos dias de hoje. (Hultz et al, 2016).

Para Muller et al, in Hultz et al (2016, p. 338), a ansiedade e o medo

são emoções necessárias à vida. A ansiedade é ativada quando pensamos

em algum evento futuro que nos desperta a sensação de ameaça, perigo, falta

de controle. Diante dessas circunstâncias, geralmente entramos em estado

de hipervigilância e tensão muscular, como se estivéssemos nos preparando

para uma situação de perigo iminente, na qual precisaremos agir com evitação

ou cautela. Já o medo é uma resposta emocional relacionada à situação de

luta ou fuga, associadas a picos de excitação autonômica do organismo.

Porém, quando ocorrem em excesso podem desencadear o que chamamos

transtorno de ansiedade – uma forma patológica de se apresentar, causando

prejuízos sociais, profissionais e muito sofrimento ao seu portador.

Segundo Petersen apud Muller et al, in Hultz et al (2016), “o modelo

etiológico dos transtornos de ansiedade, de acordo com a abordagem

cognitivo-comportamental, ocorre na interação de: 1) influências genéticas e

ambientais; 2) circuitos neurais envolvidos nas emoções; 3) processos

psicológicos; e 4) tendências comportamentais”.


2

Nesse sentido, é importante salientar que, a predisposição genética

não constitui fator determinante para que se estabeleça um quadro de

ansiedade patológica. Há outros aspectos que influenciam o desenvolvimento

do indivíduo, principalmente durante sua infância e adolescência. A família

tem papel importante, na medida em que os pais (ou cuidadores) servem

como modelo, a partir de suas próprias atitudes diante do que lhes acontece

no dia-a-dia. Além disso, podem agir de forma a incentivá-los mostrando-lhes

sua capacidade na resolução de problemas, o que interfere diretamente no

desenvolvimento de suas habilidades sociais e constituem-se em uma forma

de prepará-los para lidar com os desafios que enfrentarão no decorrer da vida

(Muller et al, in Hultz et al, 2016).

Já a partir do olhar psicanalítico e da psiquiatria psicodinâmica, a

ansiedade é vista de outra forma. Para Freud, considerado o pai da

psicanálise, a ansiedade foi conceituada tanto como uma manifestação

sintomática do conflito neurótico (agindo como um mecanismo de defesa,

para impedir que pensamentos e sentimentos inaceitáveis pudessem emergir

do inconsciente para nossa consciência), quanto como um sinal adaptativo

para afastar da consciência tal conflito, caso a primeira tentativa falhasse -

manifestando-se como uma ansiedade mais intensa e persistente (Gabbard,

2005)

Sendo assim, ainda de acordo com Gabbard (2005) “a ansiedade pode

estar ligada a um medo consciente e aceitável que mascara uma preocupação

mais profunda e menos aceitável. Alguns pacientes podem apresentar

ansiedade, mas não ter qualquer ideia da razão dela”.


3

De acordo com a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de

Transtornos Mentais (DSM - 5, 2014), são descritos os principais tipos de

ansiedade, a seguir: Transtorno de ansiedade de separação, mutismo

seletivo, fobia específica, transtorno de ansiedade social (fobia social),

transtorno de pânico, agorafobia e transtorno de ansiedade generalizada.

Neste trabalho de pesquisa bibliográfica, pretendo trazer informações

sobre o transtorno de pânico - sua conceitualização, as possíveis formas de

intervenção em situações nas quais o paciente apresenta as crises de pânico,

assim como o prognóstico, no que se refere à resposta ao tratamento.

Histórico

Até pouco tempo atrás, as pessoas que sofriam com sintomas de

ataques de pânico ou de agorafobia eram menosprezadas pela sociedade,

fato que aumentava sua baixa autoestima, sentimento já tão frequente entre

esses pacientes. Elas eram rotuladas como neuróticas, ansiosas e histéricas,

e pensava-se que os ataques seriam uma maneira inconsciente e patológica

de chamar a atenção de quem fosse próximo a elas. Os termos “síndrome do

pânico” e “ataques de pânico” são recentes, surgiram entre o final da década

de 1970 e início da década de 1980 (Demetrio et al, 2003). Existiram

diferentes formas de pensar sobre os quadros relacionados à ansiedade, ao

longo do tempo. Segue um breve resumo, com base nos escritos dos autores

citados acima:

Apesar de a ansiedade e a histeria serem sintomas identificados desde

a antiguidade, quando Hipócrates (reconhecido como o pai da Medicina)

descreveu quadros semelhantes a ataques de pânico, tais alterações eram


4

explicadas como resultado do “útero andante”, fato que afetaria o cérebro,

alterando assim o comportamento da mente e do corpo - explicando o

comportamento histérico como um traço feminino, uma característica de

fraqueza mental.

Esta visão médica, segundo eles, perdurou durante o período em que

a cultura greco-romana predominou no Ocidente. Porém, com a queda do

império romano, as concepções místicas e religiosas passaram a explicar as

manifestações psíquicas e, desta forma, os problemas mentais eram

atribuídos a causas sobrenaturais. Somente nos séculos IX e X os

conhecimentos da cultura greco-romana foram resgatados, através da

medicina islâmica, culminando com um tratado sobre a melancolia, formulado

por Ishaq ibn Amran, no qual eram descritos sintomas como preocupação

excessiva, agitação silenciosa e medo. (Demetrio et al, 2003).

Durante a Idade Média, deu-se cada vez mais importância aos

espíritos; assim, as doenças deixavam de ser explicadas a partir da medicina

e passavam a entrar no domínio religioso – o que permaneceu até os séculos

XV e XVI.

Com a queda de Bizâncio em 1453, inicia-se a “caça às bruxas” e, no


início do século XVI, o belga Jean Weier, imbuído do espírito
humanista, solicitava que as feiticeiras fossem entregues aos
médicos. Era o nascimento da psiquiatria, pois Felix Platter (1536-
1614) estabeleceu uma classificação para transtornos mentais
(mentis imbecilitas, mentis alienato, mentis defigatio e mentis
consternatio), embora ainda dando importância às causas do além. A
partir daí, a doença mental entrou definitivamente no domínio médico.
Demetrio et al (2003, p. 15)

Ainda de acordo com os autores citados, numerosas tentativas de

classificar os estados mentais surgiram desde então, através de estudiosos

como Kraepelin (1856-1926) “neurose de terror”, Ernst Kretschmer (1888-


5

1964) “tempestade de movimentos de ensaio impulsivo”, Georges M. Beard

(1869) ”neurastenia” Jacob da Costa (1871) “síndrome do coração irritável” –

esta foi a descrição mais próxima do conceito atual de síndrome do pânico,

quando da Costa concluiu tratar-se de uma disfunção do sistema nervoso

simpático. Em 1985, Freud, em uma crítica ao trabalho de Beard, que já havia

levantado a hipótese de origem sexual das neuroses, descreve a neurose de

angústia – os sintomas seriam derivados de disfunções da libido para as

esferas motora e afetiva. Já William James considerou a angústia como sendo

uma resposta a estímulos fisiológicos (taquicardia ou falta de ar) – a angústia

vista como uma percepção dos processos corporais. Ken (1937) fala sobre a

“síndrome de hiperventilação”, Pits (1967) faz uma associação entre os níveis

de lactato e crises de ansiedade. Cohen (1972) descreve a “astenia

respiratória” e, por fim, em 1972, Donald Klein postulou sobre os ataques de

pânico, momento no qual a síndrome do pânico entrou para as classificações

internacionais (CID – Classificação Internacional de Doenças e DSM – Manual

de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais da Associação

Psiquiátrica Americana).

Até então – desde o primeiro DSM, em 1952, não havia a divisão dos

transtornos de ansiedade – na primeira versão, considerava-se “reação

ansiosa” para vários tipos de ansiedade. Em sua segunda versão, em 1968,

praticamente não existia uma diferenciação entre ansiedade normal e

patológica, bastando aumentar a intensidade da ansiedade dita normal para

se chegar a um transtorno de ansiedade. Somente em sua terceira versão,

em 1980, chegamos ao conceito atual da síndrome do pânico, a partir de uma

divisão dos transtornos de ansiedade em síndrome de pânico, ansiedade


6

generalizada, transtorno obsessivo-compulsivo e fobias. (Demetrio et al,

2003)

Ou seja, a síndrome do pânico sempre existiu, mas até

aproximadamente 30 anos atrás era incluída em outros rótulos, o que não

permitia um olhar mais apurado, que possibilitasse alguma intervenção

terapêutica mais eficaz. Seu diagnóstico é clínico, realizado através de exame

psíquico, e exames complementares devem ser solicitados para que se

descarte a possibilidade de doenças com sintomas semelhantes, tais como a

anemia e o hipertireoidismo. Após realizado o diagnóstico, o início do

tratamento deve ser imediato, através de medicamentos e psicoterapia.

(Demetrio et al, 2003).

Epidemiologia

Em estudos levantados até 2015, apontou-se que “o transtorno de

pânico (TP) é uma condição psiquiátrica com prevalência de 1,2 a 3,1% em

12 meses e de 1,5 a 3,5% ao longo da vida. Os ataques de pânico (AP) têm

prevalência elevada; entre 7 e 28% das pessoas têm, pelo menos, um AP ao

longo da vida”. (Freire & Nardi, in Carvalho et al, 2015).

Para pacientes com TP, a remissão dos sintomas ocorre em cerca de

64,5% após um ano de tratamento, porém, cerca de 43,3% ainda apresentam

sintomas de AP. Dentre os que tiveram os sintomas remitidos, 21,4%

apresentam recidiva do TP em um prazo de dois anos. Cerca de 20 a 40%

dos pacientes não têm resposta adequada aos tratamentos padronizados,

apresentando cronificação do TP e agorafobia, perda da capacidade laboral e

dependência. (Freire & Nardi, in Carvalho et al, 2015).


7

Metodologia

Para este estudo foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o tema

“Possíveis Intervenções no Tratamento de Pacientes com Transtorno de

Pânico”, nas bases de dados BVS, SCIELO e PUBMED, no arquivo da

biblioteca do IPq – FMUSP, e em livros de Psiquiatria e Psicologia.

Os artigos foram separados de acordo com os seguintes critérios:

idioma (português e inglês); data (1997 a 2019); tipo de documento (livros,

artigos e teses).

O trabalho foi realizado com o objetivo de esclarecer as seguintes

questões: 1. De que forma intervir em situações nas quais o paciente

apresenta crises de pânico? 2. Em geral, quais as possíveis respostas a essas

intervenções? 3. Qual o prognóstico a partir destas intervenções?

Foram utilizados os seguintes termos de busca para a realização desta

pesquisa: “intervenções AND crise de ansiedade”; “manejo AND crises de

ansiedade”; “intervenções AND ansiedade” e “ansiedade”, “tratamento de

pânico”, “intervenções e pânico”, “transtorno do pânico”.

Para o critério de inclusão foram procurados materiais que contivessem

informações sobre tratamentos voltados aos sintomas de transtorno de pânico

e foram excluídos os artigos, teses e livros que não preencheram este pré-

requisito. Além dos 7 livros utilizados, de um total de 32 artigos e teses

encontrados, 23 foram selecionados e, destes, 8 foram utilizados para este

trabalho de pesquisa bibliográfica.


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Resultados

AUTOR DATA TÍTULO


Amaral 2019 O tratamento clínico dos transtornos de ansiedade e o uso
de técnicas de atenção plena como uma ferramenta auxiliar
do terapeuta cognitivo-comportamental
Carvalho et al 2008 Realidade virtual no tratamento do transtorno de pânico
Pezzato et al 2012 Intervenção baseada na psicoterapia analítica funcional em
um caso de transtorno de pânico com agorafobia
Santos & Lucena 2014 Transtorno do pânico: implicações e tratamento
Scarpato 2012 Pânico, regulação e vínculo: um enfoque integrativo
Shinohara 2005 Transtorno de pânico da teoria à prática
Vizeu & Ferraz 2019 Mindfulness e sua contribuição para a clínica da ansiedade
Vorkapic & Rangé 2011 Os benefícios do yoga nos transtornos de ansiedade

Amaral (2019) teve como objetivo avaliar os benefícios das

intervenções baseadas na atenção plena, como uma ferramenta auxiliar do

psicólogo cognitivo-comportamental, no tratamento clínico dos transtornos de

ansiedade. Para tal, foi realizado um estudo de revisão sistemática da

literatura, através de uma pesquisa bibliográfica em bases de dados

científicas. Os resultados mostraram que o uso das técnicas de atenção plena,

como ferramenta complementar à terapia cognitivo-comportamental, pode ser

considerado como um recurso positivo no manejo do tratamento da

ansiedade.

Carvalho et al (2008) objetivou divulgar o panorama do uso de

realidade virtual (RV) no tratamento do transtorno de pânico (TP). O método

utilizado por ele foi uma revisão de literatura sobre o TP a partir da RV, com

metodologia sistemática em base de dados. Relatou ter obtido bons

resultados e boa aceitabilidade por parte dos pacientes.


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Pezzato et al (2012) apresentaram a análise da relação terapêutica em

um caso de transtorno de pânico com agorafobia. A paciente estudada foi uma

mulher de 47 anos, com dificuldade de adesão a terapias tradicionais. Para

este estudo foi utilizada a Psicoterapia Analítica Funcional (FAP). Como

resultado, foi obtida uma diminuição do comportamento de esquiva e um

aumento do comportamento de enfrentamento das situações aversivas,

demonstrando-se a efetividade dos procedimentos adotados e a obtendo-se

a confirmação da possibilidade de utilização da FAP para o aumento da

eficácia do tratamento e do fortalecimento do vínculo terapêutico.

Santos & Lucena (2014), em seu artigo, tiveram como objetivo

identificar possíveis formas de tratamento para o indivíduo portador do

transtorno do pânico. Para tanto, foi realizada uma revisão narrativa da

literatura, em bases de dados e em livros-textos. Os autores obtiveram

evidências de que os pacientes procuram diversos atendimentos clínicos até

que o diagnóstico seja feito e, de que o tratamento pode ser realizado por

meio de psicoterapia e/ou psicofármacos. Enfatizam a necessidade do vínculo

terapêutico, do apoio familiar, da empatia, além da força de vontade do

paciente para que sejam obtidos resultados positivos no tratamento.

Scarparto (2012) apresentou um tratamento para pessoas com

transtorno de pânico, articulando conceitos e técnicas de terapia cognitivo-

comportamental e práticas de atenção plena. Utilizou-se de uma proposta

terapêutica estruturada em torno de 4 eixos: psicoeducativo, desenvolvimento

da capacidade de autogerenciamento, dessensibilização e elaboração

psicológica. O autor encontrou significativa eficácia clínica em sua proposta

de tratamento.
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Shinohara (2005) teve como objetivo mostrar os resultados obtidos no

tratamento do transtorno do pânico a partir da terapia cognitivo-

comportamental. Para tanto, forneceu informações e resultados a partir do

estudo de caso de um atendimento de um homem de 40 anos que vivenciava

ataques de pânico recorrentes. Foram realizados procedimentos com o

objetivo de ensinar o paciente a identificar, avaliar, controlar e modificar suas

crenças disfuncionais e a desenvolver habilidades de enfrentamento às

sensações corporais. Obteve como resultado a redução da ansiedade, a

diminuição dos comportamentos de fuga-esquiva e o retorno às atividades

sociais e esportivas.

Vizeu e Ferraz (2019) buscaram compreender como a mindfulness

pode contribuir para o tratamento psicoterápico do medo e ansiedade

excessivos, característicos dos transtornos de ansiedade. Realizaram uma

revisão bibliográfica narrativa e concluíram que o desenvolvimento da

habilidade de mindfulness pode trazer como benefício a possibilidade do

indivíduo de lidar com a ansiedade desadaptativa, bem como de melhoria na

sua qualidade de vida.

Vorkapic & Rangé (2011) promoveram uma discussão sobre a prática

da yoga como terapia de intervenção para tratamento de ansiedade.

Realizaram uma pesquisa em base de dados biomédicos e sites sobre

intervenções que incorporam técnicas de yoga no tratamento de transtornos

de ansiedade ou sintomas associados. De acordo com os autores, tal

intervenção diminui consideravelmente não só os níveis de ansiedade e de

estresse, mas também os diferentes domínios do estado de saúde mental do

indivíduo.
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Discussão

A partir do levantamento bibliográfico realizado, irei separar a

apresentação do conteúdo através dos seguintes tópicos:

- Transtorno do pânico (TP)

- Diagnóstico e tratamento medicamentoso

- Transtorno do pânico resistente ao tratamento medicamentoso

- Tratamento psicológico do transtorno do pânico

. Teorias cognitivo-comportamentais

. Abordagem psicanalítica

. Psicoterapia analítica funcional

. Tratamentos complementares

.. Yoga

.. Mindfulness

.. Enfoque integrativo

.. Uso da tecnologia

Transtorno do Pânico (TP)

As síndromes ansiosas são ordenadas inicialmente em dois grandes


grupos: quadros em que a ansiedade é constante e permanente
(ansiedade generalizada, livre e flutuante) e quadros em que há crises
de ansiedade abruptas e mais ou menos intensas. São as chamadas
crises de pânico, que podem configurar, se ocorrerem de modo
repetitivo, o transtorno de pânico. (Simeon apud Dalgalarrondo, 2008).

Considera-se transtorno de pânico quando o indivíduo é acometido por

ataques de pânico recorrentes. Os ataques de pânico são caracterizados por

muita ansiedade, sentimento de medo e sintomas somáticos. Geralmente,


12

atingem seu grau máximo em 10 minutos, e podem durar, em média, de 30 a

40 minutos. (Freire & Nardi, in Carvalho et al, 2015).

Ainda de acordo com os autores acima citados, muitas vezes o

indivíduo que passa por um ataque de pânico associa os sintomas ao local,

ou à situação em si. Deste modo, passam a se comportar de forma a evitar

realizar tal atividade novamente. Cerca de 2/3 dos pacientes desenvolvem

agorafobia em decorrência disso – o medo de se expor a situações das quais

não consiga escapar ou ter ajuda, no caso de ter um AP. Podemos pensar em

situações como estar em locais como cinema, teatro, transporte público,

avião, navio, locais com grandes aglomerações, por exemplo. Por esse

motivo, muitas pessoas que já tiveram AP esquivam-se de tais situações ou,

se as enfrentam, sentem grande desconforto.

Segundo Dalgalarrondo (2008), nas crises de pânico ocorre uma

importante descarga do sistema nervoso autônomo. Em decorrência deste

fato ocorrem sintomas como batedeira ou taquicardia, suor frio, tremores,

desconforto respiratório ou sensação de asfixia, náuseas, formigamentos em

membros ou lábios. De acordo com o autor, essas crises chegam ao seu pico

em cerca de 5 a 10 minutos, e geralmente duram menos do que uma hora.

Para esse autor, quando as crises são recorrentes, com o desenvolvimento

do medo de novas crises e preocupações sobre possíveis implicações desta

(como os citados no parágrafo anterior), denominamos o quadro transtorno de

pânico.

O DSM-5 conceitualiza o transtorno de pânico como “ataques de pânico

recorrentes e inesperados”. Informa, ainda, que “um ataque de pânico é um


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surto abrupto de medo intenso, ou desconforto intenso, que alcança um pico

em minutos, e durante o qual ocorrem 4 ou mais dos seguintes sintomas:

1. Palpitações, coração acelerado, taquicardia.

2. Sudorese.

3. Tremores ou abalos.

4. Sensações de falta de ar ou sufocamento.

5. Sensações de asfixia.

6. Dor ou desconforto torácico.

7. Náusea ou desconforto abdominal.

8. Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio.

9. Calafrios ou ondas de calor.

10. Parestesias (anestesias ou sensações de formigamento).

11. Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (sensação de

estar distanciando de si mesmo).

12. Medo de perder o controle ou “enlouquecer”.

13. Medo de morrer.”

A síndrome do pânico é um transtorno de ansiedade e cursa com


sintomas físicos e psicológicos, que aparecem repentinamente, sem
aviso prévio, repetindo-se com frequência, a ponto de impedir que a
pessoa consiga manter suas atividades habituais e muitas vezes
impedindo que consiga até mesmo sair de casa, com medo de ter uma
nova crise. Demetrio et al (2003).

Gentil et al. (1997) divide os sintomas e sinais associados à ansiedade

entre somáticos e psíquicos. Os sintomas somáticos, segundo o autor, são

ainda divididos entre autonômicos (taquicardia, vasoconstricção, suor,

aumento do peristaltismo, taquipneia, piloereção e midríase), musculares


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(dores, contraturas e tremores), e respiratórios (sensação de afogamento e

sufocação). Os sintomas psíquicos, de acordo com sua descrição, são:

tensão, nervosismo, apreensão, mal-estar indefinido, insegurança, dificuldade

de concentração, sensação de estranheza ou despersonalização e

desrealização).

O autor diz ainda que, em crises de pânico intensas os pacientes

podem ter sintomas como sensação de cabeça leve, corpo estranho, perda

de controle, estranhar-se a si mesmo – a chamada despersonalização. Pode

também ocorrer o que chamamos de desrealização – sensação de que o

ambiente parece estranho, diferente, não-familiar. Além disso, pode ocorrer

um considerável medo de morrer, ter um infarto, enlouquecer.

Diagnóstico e Tratamento Medicamentoso

De acordo com Carvalho et al (2015), para um correto diagnóstico de

transtorno de pânico faz-se necessário descartar outras patologias clínicas

(asma brônquica, tromboembolismo pulmonar, arritmias cardíacas,

hipertensão arterial sistêmica, hipertireoidismo, hipotireoidismo,

feocromocitoma, disfunção vestibular, epilepsia) que podem ser confundidas

com esta. Por este motivo, convém realizar uma avaliação médica detalhada,

incluindo-se exame físico e exames complementares.

Ainda segundo os autores acima citados, algumas medicações também

podem provocar ou agravar o transtorno de pânico (corticoides,

descongestionantes, medicações para Doença de Parkinson e para asma). E,

outras substâncias como cannabis, cafeína, derivados da folha de coca e


15

anfetaminas, a abstinência a sedativos como álcool e benzodiazepínicos

também podem produzir o mesmo efeito.

Importante lembrar que os ataques de pânico podem estar associados

a outras condições que não o transtorno de pânico. Podem estar associados

à ansiedade, em razão de ser avaliado por outras pessoas, pela lembrança

de um evento traumático ou pelo fato de ter obsessão ou ser impedido de

realizar comportamento compulsivo, respectivamente, em decorrência de

transtorno de ansiedade social, transtorno de estresse pós-traumático e

transtorno obsessivo-compulsivo. A partir da presença de alguma fobia

específica, em decorrência de episódios associados à ansiedade de

separação. (Carvalho et al, 2015).

Segundo Carvalho et al (2015), o tratamento para cada paciente deve

ser individualizado, e deve-se levar em consideração comorbidades com

outros transtornos psiquiátricos, patologias clínicas e uso de substâncias –

neste caso, pode ser necessária internação para desintoxicação do paciente

para somente depois iniciar-se o tratamento para transtorno de pânico.

Também se faz necessária uma abordagem específica para os pacientes com

transtornos de personalidade e que apresentam transtorno de pânico. Para

eles, na fase aguda, a resposta se dá de forma mais eficaz quando são

combinados os tratamentos farmacológico e psicológico do que quando são

realizados separadamente. Porém, em relação à prevenção de recaída, a

psicoterapia é tão eficaz quanto o tratamento combinado e, mais eficaz que o

tratamento medicamentoso isolado, segundo os autores.

De acordo com Demetrio et al (2003), para a síndrome do pânico

podemos dividir o tratamento farmacológico em duas etapas, as quais não se


16

excluem mutuamente, e que são o alívio dos sintomas e o bloqueio do

mecanismo que promove as crises. As medicações mais utilizadas para o

alívio dos sintomas são os benzodiazepínicos. Essas medicações são

amplamente utilizadas na medicina geral como pré-anestésicos e relaxantes

musculares e, em psiquiatria, como indutores do sono e ansiolíticos.

Estes autores informam que, dependendo da rapidez que o

benzodiazepínico inicia sua ação no organismo e do quanto ele demora para

ser eliminado, terá diferentes funções:

INÍCIO AÇÃO UTILIZAÇÃO


rápido intensa / curta duração indução do sono
rápido não muito intensa abortar crise de pânico
gradual prolongada evitar ataques de pânico
(Demetrio et al, 2003)

Apesar de os benzodiazepínicos serem medicamentos seguros e

eficazes, seu uso continuado provoca tolerância e podem causar dependência

química, o que significa que a pessoa precisará tomar doses maiores com o

passar do tempo, para que obtenha o mesmo efeito e, caso deixe de tomar,

poderá ter sintomas de abstinência (piora da ansiedade, tremores, mal-estar

geral), pelo fato de seu organismo ter se tornado dependente desta

substância. Por essa razão, os médicos procuram receitar os

benzodiazepínicos durante um curto espaço de tempo, enquanto o

antidepressivo que for prescrito concomitantemente (este não causa

tolerância e nem dependência) não estiver fazendo efeito, o que geralmente

ocorre em 3 a 4 semanas. A descontinuidade do benzodiazepínico deve

ocorrer de forma lenta e, com acompanhamento médico, tão logo o

antidepressivo comece a fazer efeito (Demetrio et al, 2003).


17

Transtorno do Pânico Resistente ao Tratamento Medicamentoso

De acordo com Carvalho et al (2015), alguns teóricos realizaram

estudos sobre TPRT – transtorno de pânico resistente ao tratamento. Os

psiquiatras alemães Borwin Bandelow e Eckart Rüther entendem como

pacientes resistentes aqueles que não apresentaram, pelo menos, 30% dos

sintomas após 6 semanas de tratamento. Para Hirschmann e colaboradores,

são pacientes resistentes aqueles que não tiveram resposta adequada após

o uso de 2 antidepressivos. Heldt e colaboradores os identificam quando

continuam a apresentar os sintomas de crises de pânico, ansiedade

antecipatória e esquiva fóbica após 4 meses de tratamento com

antidepressivo. Em outros estudos mencionados por Carvalho et al (2015),

foram considerados resistentes ao tratamento de transtorno de pânico

aqueles que não apresentaram resposta satisfatória após 2 tratamentos

medicamentosos com eficácia comprovada em transtorno de pânico ou,

terapia cognitivo-comportamental (TCC).

De acordo com Freire e Nardi apud Carvalho et al (2015), cerca de 30%

dos pacientes com transtorno de pânico não têm resposta satisfatória ao

tratamento de ISRS – inibidores seletivos de recaptação de serotonina. Neste

caso, a troca por outro medicamento ou por TCC pode funcionar, mas, mesmo

assim, 20 a 40% dos pacientes permanecem com sintomas, de acordo com

os autores.

Ainda segundo os autores, a combinação de antidepressivo e

benzodiazepínico ou a potencialização de ISRS com antidepressivos

tricíclicos, lítio, buspirona ou ácido vaproico pode ser eficaz, mas ainda assim,
18

10 a 20% continuam não respondendo ou tendo uma resposta apenas parcial

do tratamento.

Tratamento Psicológico do Transtorno do Pânico

Teorias Cognitivo-Comportamentais

De acordo com Shinohara (2005), há intervenções comprovadamente

eficazes, baseadas em técnicas comportamentais e cognitivas, além da

intervenção farmacológica. As técnicas de relaxamento, o desenvolvimento

de habilidades de enfrentamento e a reestruturação cognitiva são algumas

das estratégias utilizadas para o tratamento de sintomas relacionados a

ataques de pânico, segundo a autora.

Shinohara (2005) diz ainda que a psicoterapia se faz necessária na

medida em que variáveis de vulnerabilidade psicológica, como traços de

personalidade (passividade, dependência, ansiedade de separação,

dificuldade em lidar com os sentimentos) e, formas características de

interpretar as sensações corporais são fatores predisponentes para o

desenvolvimento desse transtorno, pois facilitam a catastrofização das

consequências dos ataques vivenciados e interferem na apreensão crônica

por novas crises – assim como, a hipervigilância sobre suas sensações

corporais.

A autora detalha alguns procedimentos sugeridos por David Barlow -

psicólogo americano e autor de livros sobre ansiedade e pânico, que

envolvem um trabalho baseado nas reações autonômicas dos indivíduos,

assim como na reestruturação cognitiva e em exposições graduais aos

eventos ou locais desencadeantes das crises de pânico. São eles:


19

1. Relaxamento muscular progressivo: técnica proposta pelo

médico e fisiologista americano Edmund Jacobson, realizada por meio de

contração e relaxamento de grupos musculares específicos (braços, pernas,

abdômen, tórax, ombros, pescoço, testa, olhos e boca), com o intuito de

desenvolver a capacidade de percepção da tensão muscular em seu corpo,

propiciando a possibilidade de relaxamento quando necessário.

2. Respiração diafragmática: técnica que atua mais

especificamente com a respiração, a fim de proporcionar uma mudança na

frequência respiratória e assim normalizar os níveis gasosos no organismo.

3. Identificação de pensamentos automáticos catastróficos e

posterior checagem de evidências que comprovem tais certezas, a fim de

questionar a validade destes, promovendo-se assim uma reestruturação

cognitiva.

4. Utilização de autoinstruções (formuladas pela própria pessoa ou

a partir de cartões prontos) podem contribuir para uma mudança de atitude

diante de situações ansiogênicas – alertando a pessoa de que não

necessariamente a ansiedade é um sentimento incapacitante, promovendo

assim a possibilidade de ações que a tirem do ciclo de pensamentos

catastróficos.

5. Técnica de distração durante o ataque de pânico, que consiste

em dirigir a atenção a uma atividade específica que se diferencie da situação

ansiogênica, resultando em diminuição da intensidade dos sintomas de

ansiedade extrema.

Após o desenvolvimento das habilidades de auto relaxamento e da

modificação das suas principais distorções cognitivas, torna-se possível a


20

exposição gradual a estímulos que causam medo ao indivíduo – ações que

suscitem alterações orgânicas, tais como a aceleração dos batimentos

cardíacos ou a sensação de tontura, provocadas artificialmente em

consultório, propiciando um aprendizado em lidar com estas sensações sem

disparar o alarme do medo. (Shinohara, 2005).

Santos & Lucena (2014) citam técnicas comportamentais, cognitivas e

cognitivo-comportamentais para o tratamento do pânico:

1. Relaxamento, com base na técnica de RMP – Relaxamento

Muscular Progressivo – no qual o paciente é treinado a realizar uma resposta

somática de relaxamento à tensão muscular, para posterior utilização em

situações ansiógenas;

2. Retreinamento da respiração – a fim de evitar a hiperventilação;

3. Inervação vagal – que consiste no controle da taxa cardíaca

através de massagens na carótida;

4. Exposição interoceptiva – reprodução para consequente

familiarização do paciente às sensações experimentadas durante uma crise

de pânico;

5. Reestruturação cognitiva – identificação e correção de

pensamentos distorcidos frente a eventos ansiógenos;

6. Treinamento assertivo – reprodução de situações da vida real e

identificação entre as respostas assertivas, agressivas e passivas

7. Exposição – na qual o paciente entra em contato com os

estímulos aversivos, de diferentes formas e/ou níveis de aproximação,

viabilizando os processos de habituação e extinção das respostas;


21

8. Exposição com prevenção de respostas (EPR) – semelhante ao

processo anterior, porém, com inibição de respostas de fuga ou esquiva;

9. Descatastrofização – estratégia de tratamento que auxilia o

paciente a colocar em xeque a validade de suas cognições, através de análise

lógica, cartões de enfrentamento, projeção no tempo;

10. Dessensibilização sistemática – através da imaginação ou

exposição ao vivo aos estímulos aversivos;

11. Autoinstrução – na qual o paciente é orientado a desenvolver

pensamentos adequados e funcionais em relação à situação ansiogênica;

12. Inoculação do estresse – na qual o paciente aprende a

desenvolver recursos pessoais de enfrentamento;

13. Treino de habilidades sociais – em situações diversas de contato

com outras pessoas: Iniciar e manter conversações, falar em público,

expressar amor, agrado e afeto, defender os próprios interesses e direitos,

pedir e receber favores, dizer não e recusar pedidos, aceitar e fazer elogios,

desculpar-se e aceitar críticas, sorrir e fazer contato visual adequado, realizar

entrevistas para solicitar emprego, solicitar mudanças de comportamento no

outro, expressar opiniões pessoais, mesmo que sejam divergentes e

desagradem ao outro.

Abordagem Psicanalítica

Pereira apud Santos & Lucena (2014), compartilha a postulação

freudiana de que “o sentimento de desamparo é o reflexo de um estado de

falência do funcionamento psíquico” e que, desta forma, o transtorno do


22

pânico é uma resposta psíquica por meio da qual o sujeito confronta-se com

o desamparo de sua existência a fim de evitar o risco de aniquilamento.

Freud, apud Gabbard (2005), a partir do modelo estrutural formulado

por ele entre 1926 e 1959, compreendia a ansiedade como sendo “resultante

de um conflito psíquico entre desejos inconscientes, sexuais ou agressivos,

originados no id, e ameaças correspondentes de punição por parte do ego.”

Portanto, para o autor, ela sinalizava a presença de um perigo

inconsciente, o qual “mobilizava mecanismos de defesa para impedir que

esses pensamentos e sentimentos inaceitáveis pudessem emergir para a

consciência” (Freud apud Gabbard, 2005).

De acordo com essa teoria, a ansiedade decorria da falha na

adequação de recursos defensivos do ego. Desta forma, era conceituada por

ele tanto como um sintoma do conflito neurótico quanto um sinal adaptativo

para afastar o conflito neurótico da consciência. Para Freud, a ansiedade era

um afeto do ego (instância que controla o acesso de impulsos instintivos do id

à consciência por meio da repressão, censurando tanto o próprio impulso

quanto sua representação intrapsíquica correspondente). Então, de acordo

com essa teoria, podemos pensar que desejos e impulsos reprimidos podem

expressar-se através de sintomas – e, a ansiedade é um deles. Portanto,

o tratamento psicodinâmico deve basear-se em compreender as origens

inconscientes dessa ansiedade. (Gabbard, 2005).

Ainda de acordo com Gabbard (2005), diferentemente do que se possa

imaginar, níveis de inconsciência mais primitivos não são “superados” de

acordo com a evolução do desenvolvimento de cada um. Eles continuam no

inconsciente e podem se manifestar mediante a ocorrência de eventos


23

traumáticos ou, que gerem estresse, ou mesmo diante de grandes grupos de

pessoas.

Psicoterapia Analítica Funcional

Pezzato et al (2012) trazem a ideia de que, tendo em vista a

possibilidade de esquiva fóbica mediante tratamento que envolva

procedimentos comportamentais e cognitivo-comportamentais de exposição

a enfrentamento de situações aversivas, a Psicoterapia Analítica Funcional

possa ser uma alternativa para tais reações do paciente, a fim de promover

respostas adequadas de enfrentamento.

O fortalecimento do vínculo terapêutico por meio de respostas não


verbais (sorrisos, abraços) e verbais (elogios, conversas sobre
assuntos aparentemente agradáveis à cliente) das terapeutas, bem
como a audiência não punitiva contribuíram para manutenção da
cliente na terapia. Entretanto, a alta frequência de respostas de
fuga/esquiva das atividades de observação, descrição de
contingências e enfrentamento das situações aversivas dificultavam o
engajamento no processo e melhora clínica da cliente. Logo, a
utilização do reforçamento positivo contingente as, inicialmente,
poucas respostas de enfrentamento da cliente (CCRs1) e reforçamento
diferencial de outras respostas (DRO) diante das respostas de
fuga/esquiva (CCRs2) podem ser consideradas estratégias
interventivas necessárias, e demonstraram eficácia, segundo esses
autores. Pezzato et al (2012).

Tratamentos Complementares

Yoga

Um estudo sobre intervenções que incorporam técnicas de yoga ou

técnicas baseadas em yoga, no tratamento de transtornos de ansiedade ou

sintomas associados foi realizado por Vorkapic & Rangé (2011). Tais autores

entendem que “há uma necessidade emergente de estratégias de autoajuda

confiáveis, já que não parece razoável passar uma vida inteira fazendo uso
24

de drogas ou submetendo-se a tratamentos psicológicos” (sic.) quando se

trata de combater sintomas de ansiedade na população geral.

É sugerido por ambos que a escolha por intervenções complementares

para tratamento de transtornos mentais se dê em consequência dos efeitos

adversos das medicações, pela falta de resposta dos tratamentos

convencionais, ou mesmo por uma preferência pessoal. Os autores apontam

para o fato de que estudos mostram eficácia limitada da farmacoterapia a

longo prazo, efeitos colaterais como sonolência e dependência, bem como

prejuízos cognitivos e mnêmicos, e disfunção sexual.

Durante pesquisa acadêmica, Vorkapic & Rangé (2011) encontraram

ensaios controlados que observaram o efeito do yoga nos níveis de

ansiedade, mensurados por parâmetros psicológicos padronizados. Seguem

alguns resultados:

Em um estudo de mulheres com sintomas de estresse, o tempo de

observação foi de 3 meses, e as atividades incluíam exercícios de respiração,

relaxamento e posturas. Em outro, foram estudados pacientes com neurose

de angústia, por 6 semanas, e um terceiro o alvo foi um grupo de estudantes

de medicina que estavam passando por um período que precedia provas e

exames importantes. O tratamento consistiu em meditação, posturas e

visualização, obtendo-se redução significativa em relação ao grupo-controle.

Alguns outros estudos também investigaram os efeitos do yoga relacionados

às respostas fisiológicas. Foram observadas reduções da atividade simpática

a níveis basais após relaxamento guiado, explicando assim a redução dos

níveis de ansiedade.
25

Mindfulness

“Mindfulness pode ser descrita como atenção plena, é a consciência

em relação ao momento presente, às sensações e as experiências, através

de uma postura sem julgamentos da experiência”. (Demarzo e Capayo, apud

Amaral, 2019)

De acordo com Germer, apud Vizeu & Ferraz (2019), “a mindfulness

também pode ser considerada uma habilidade que faz com que os indivíduos

se permitam ser menos reativos ao que acontece em um dado momento. A

prática apresenta uma forma de lidar com todas as experiências – positiva,

negativa ou neutra -, contribuindo para que o sofrimento possa ser diminuído

e a sensação de bem-estar aumentada”.

Para o autor, por meio desta técnica o paciente pode criar uma forma

de se relacionar com suas experiências internas, ao perceber seus

pensamentos de forma mais objetiva, tornando-as assim mais compassivas,

ao invés de ansiógenas.

Segundo Reis, apud Vizeu & Ferraz (2019), o uso da mindfulness nas
psicoterapias propiciou a observação de que a técnica atua sobre
regiões específicas do sistema nervoso central - funções cognitivas
diversas, tais como atenção e percepção, autorregulação, auto-
monitoramento, controle inibitório, memória, entre outras, podem
contribuir para o desenvolvimento e melhoria de outras funções e
capacidades relacionadas. Nesse caso particular, a técnica recruta
funções e atividades de áreas do sistema nervoso relacionadas ao
córtex pré-frontal responsável por vários aspectos das funções
executivas. (Reis apud Vizeu & Ferraz, 2019).

O autor diz ainda que, a partir da mindfulness, o indivíduo aprende a

respeitar seus pensamentos e sentimentos, vivenciando-os sem racionalizá-

los, além de encará-los pelo que são exatamente, ou seja, nada além, por

mais desagradáveis que possam ser.


26

Segundo Amaral (2019), a terapia baseada em mindfulness possibilita

treinar os indivíduos a relacionarem-se com seus pensamentos negativos de

uma nova forma e, ao invés de avaliá-los, observá-los sem julgamentos.

Dessa forma é possível trabalhamos a autorregulação da atenção e a

orientação para o momento presente, de acordo com a autora.

Leahy, Tirch & Napolitano, apud Amaral (2019) apresentam duas

práticas de atenção plena que visam o cultivo de habilidades que favorecem

a regulação emocional. Basicamente, são elas: prática do escaneamento

corporal, a qual visa direcionar a atenção, sem julgamentos, a uma parte do

corpo de cada vez; e técnica de atenção plena respiratória, onde a respiração

serve como uma espécie de âncora para a atenção. Ambas são utilizadas

como uma ferramenta complementar à terapia cognitivo-comportamental.

Enfoque Integrativo

Scarpato (2012) sugere um modelo de tratamento que articula

conceitos e técnicas de terapia cognitivo-comportamental (TCC) e práticas de

atenção plena (mindfulness). O processo terapêutico é estruturado em torno

de quatro eixos principais. Estes eixos vão determinar o foco principal em cada

momento da terapia, na seguinte sequência:

Eixo 1: Compreensão do processo de pânico – consiste em

psicoeducação visando a compreensão e aceitação do medo e da ansiedade

como sentimentos comuns a todos; do reconhecimento das crises de pânico

como uma experiência desconfortável, mas não perigosa; da compreensão

dos efeitos da hiperventilação e das reações decorrentes dela; do quanto a

ansiedade antecipatória influencia negativamente no desencadeamento de


27

novas crises e do reconhecimento de situações nas quais a mente possa

estar acelerada e voltada para o passado ou para o futuro;

Eixo 2: Desenvolvimento da Capacidade de Autogerenciamento –

apreensão de conceitos de técnicas de atenção plena e, corporais, de

autogerenciamento;

Eixo 3 – Dessensibilização e Aumento de Tolerância a Excitação –

baseia-se em aumentar a tolerância à excitação emocional, através de

exposição gradual às situações temidas;

Eixo 4 - Elaboração psicológica – por meio de uma perspectiva

psicodinâmica, identificar e trabalhar outros fatores psicológicos que estejam

influenciando o surgimento das situações de ansiedade, tais como ansiedade

de separação, medo de decepcionar o outro, crises e transições existenciais,

perdas, traumas, entre outras situações.

Uso da Tecnologia

A introdução tecnológica no tratamento do pânico não se trata de uma

nova abordagem, mas sim, de uma potencialização de tratamentos

psicoterápicos já existentes, a partir da experiência da presença virtual em

ambientes simulados por computador, de acordo com Carvalho et al (2008).

Segundo Kirsch et al, apud Carvalho et al (2008), “os estímulos temidos

são integrados em ambientes virtuais que permitem interação, possibilitando

ao paciente que agir em tais cenários da mesma maneira que agiria em um

ambiente real”.

Kirsch et al e Wiederhold & Wiederhold, apud Carvalho et al (2008)

argumentam que o ambiente virtual destinado ao tratamento de exposição é


28

bastante eficaz se comparado aos resultados obtidos com exposição

imaginária, na medida em que o paciente sente a ativação tanto de maneira

objetiva (ansiedade medida por instrumentos objetivos, como mensurações

fisiológicas) quanto de maneira subjetiva (a partir de auto relatos sobre a

ansiedade). Wiederhold & Wiederhold, apud Carvalho et al (2008) apontam

esta situação como sendo o conceito de sinchrony, que ocorre quando as

medidas objetivas e subjetivas acontecem juntas durante o tratamento, sendo

mais propicio advir em situações de grande ativação ansiogênica.

Tratamentos inovadores, a partir de aparelhos eletrônicos, são

disponibilizados para portadores de sintomas de pânico. Conhecidos como

Fear Fighter, são recomendados para quadros de ansiedade extrema,

transtorno de pânico, fobias, e alto nível de estresse, de acordo com Santos

& Lucena (2014).

De acordo com Santos & Lucena (2014), dentre os modelos mais

populares estão o Alpha-Stim, que produzem estimulação craniana por

eletroterapia – composto por dois eletrodos que são colocados nos lobos

auriculares do paciente, e a versão Alpha-Stim Stress Control System, na qual

os eletrodos podem ser utilizados em qualquer parte do corpo.

Segue, abaixo, um resumo das informações sobre os artigos e

monografias encontrados em base de dados eletrônica.


29

Conclusão

Conforme explicitado pelos teóricos da área da saúde, a farmacologia,

em conjunto com a psicologia, é fundamental para o resultado positivo de

grande parte dos casos. Porém, demonstrou-se que a longo prazo a

psicoterapia utilizada de forma isolada traz melhores resultados, uma vez que,

de acordo com Carvalho et al (2015), em relação à prevenção de recaída, a

psicoterapia é tão eficaz quanto o tratamento combinado e, mais eficaz que o

tratamento medicamentoso isolado.

A abordagem cognitivo-comportamental mostrou-se presente na maior

parte dos processos interventivos, mesclando-se a ela procedimentos de

terapias complementares, como a yoga, técnicas baseadas em atenção plena

e técnicas de relaxamento progressivo.

Em um segundo momento, quando as crises já estão controladas, a

intervenção psicanalítica mostra-se igualmente importante, na medida em que

traz a possibilidade de mudanças estruturais no contexto de vida do paciente,

decorrentes de mudanças internas que são processadas ao longo do

tratamento.

Em relação à utilização de aparelhos eletrônicos, as opiniões estão

divididas. Há um entusiasmo gerado pela possibilidade de sucesso no

tratamento, mas existe também cautela devido ao desconhecimento sobre

possíveis efeitos à saúde em médio e longo prazos, devido ao fato desta ser

uma terapia recente, e ainda não haver estudos suficientes sobre seus efeitos

colaterais.

No que se refere à resposta geral ao tratamento, pudemos observar em

todos os casos estudados, uma diminuição dos níveis de ansiedade,


30

sugerindo que, independentemente da técnica utilizada há remissão, ao

menos temporária, dos sintomas.

Apesar disso, há relatos de presença de recidiva, assim como de

pacientes que não apresentam uma resposta adequada aos tratamentos

padronizados (Freire & Nardi in Carvalho et al, 2015).

Com base neste trabalho, foi possível identificar diferentes alternativas

de intervenção, e todas mostraram-se eficazes quanto à diminuição da

ansiedade – fator principal para o desencadeamento das crises de pânico. A

combinação de técnicas, de acordo com a escolha mais adequada a cada

indivíduo, é imprescindível para a eficácia dos resultados. Ressalta-se que a

flexibilidade por parte do profissional para observar e identificar a necessidade

de cada paciente, assim como a busca constante por atualização teórica são

fundamentais para a melhor resposta ao tratamento do pânico.


31

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