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Dorca Eulália Francisco Nhaca Ismael

Docente

MCS. Manuel Tapela Chicava

Módulo

Diagnóstico de Intervenção Psicoterapêutica

Tema

Psicoterapia Breve na Psicocanalítica

Mestrado em Psicologia Clinica

Instituto Superior de Ciências e Tecnologias Alberto Chipande

Pemba

Agosto de 2021
Resumo

Este trabalho discute o lugar do diagnóstico na psiquiatria e na psicanálise, bem


como seus efeitos para a condução do tratamento. Na psiquiatria aborda, a partir da
história das sistematizações diagnósticas, os elementos presentes na constituição
dos quadros psicopatológicos. No campo da psicanálise aponta a diferença dessa
abordagem diagnóstica frente à psiquiatria, através de estudos de comentadores
que se debruçaram sobre o tema na perspetiva Freud-Lacaniana.e outros. O
diagnóstico carrega em si a pretensão de dar um veredicto, enunciar uma verdade
sobre o sujeito. No campo da saúde, o trabalho diagnóstico baseia-se em variáveis
observáveis, em que a regularidade, ou, a repetição das ocorrências, determinam o
tipo de intervenções, a partir de uma relação causa/efeito. No diagnóstico estrutural
em Psicanálise o saber é construído ao longo de uma atividade, a relação
terapêutica, sendo a ênfase colocada na interação entre dois sujeitos, no qual o
único instrumento disponível é a escuta do analista, na dimensão do discurso do
analisando, para delimitar o campo de investigação - que é a estrutura do sujeito, o
que implica em uma avaliação subjetiva. Pela forma em que se dispõe a fazer um
diagnóstico pode-se colaborar para desconstruir as categorias psicopatológicas, e
adentrar na gênese da formação dos processos e na dinâmica dos mecanismos
clínicos. Para ilustrar essa discussão apresenta-se um caso clínico que ilustra a
rotulação proveniente de um diagnóstico dado às pressas. Nesse sentido, a reflexão
técnico-teórica, discute o diagnóstico diferencial a partir da construção diagnóstica
clínica e da psicanalítica. Conclui-se que o erro no reconhecimento de um
diagnóstico pode levar a condução clínica que nem sempre é a melhor para o
paciente, se essa não for passível de ser colocada a prova e revisada.

Palavras Chave: Diagnóstico psiquico, Psicanalítico, neuroses

ABSTRACT
This paper discusses the place of diagnosis in psychiatry and psychoanalysis, as
well as its effects on the conduct of treatment. In psychiatry, from the history of
diagnostic systematizations, it addresses the elements present in the constitution of
psychopathological conditions. In the field of psychoanalysis, it points out the
difference of this diagnostic approach in relation to psychiatry, through studies by
commentators who have focused on the theme from a Freud-Lacanian perspective.

The diagnosis carries with it the pretension of giving a verdict, stating a truth about
the subject. In the field of health, the diagnostic work is based on observable
variables, in which the regularity, or the repetition of occurrences, determine the type
of interventions, based on a cause/effect relationship. In the structural diagnosis in
Psychoanalysis, knowledge is built along an activity, the therapeutic relationship,
with the emphasis placed on the interaction between two subjects, in which the only
instrument available is the analyst's listening, in the dimension of the analysand's
discourse, to delimit the field of investigation - which is the structure of the subject,
which implies a subjective evaluation. By the way in which one is willing to make a
diagnosis, one can collaborate to deconstruct the psychopathological categories,
and enter the genesis of the formation of processes and the dynamics of clinical
mechanisms. To illustrate this discussion, a clinical case is presented that illustrates
the labeling coming from a diagnosis given in haste. In this sense, the technical-
theoretical reflection discusses the differential diagnosis from the clinical and
psychoanalytic diagnostic construction. It is concluded that the misrecognition of a
diagnosis can lead to clinical management that is not always the best for the patient,
if this cannot be tested and revise.

Key Words: Psychic Diagnosis, Psychoanalytic, Neuroses.

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem, como tema, as reflexões, no campo da psicologia,
relacionadas a Psicoterapia Breve na Psicanalítica. O trabalho consiste em uma
revisão bibliográfica, de carácter exploratório, acerca do tema apresentado. Tem-se
como objetivo, conceituar a diferença entre psicodiagnóstico interventivo e
psicoterapia, bem como, o que marca a semelhança entre eles. E isso somente se
tornará viável através da reflexão sobre a prática desses dois processos.

Enfocaremos a psicoterapia breve de orientação psicanalítica, como uma prática


psicoterápica legítima, válida e, muitas vezes, como uma indicação absolutamente
precisa para determinado tipo de paciente.

Objetivamos com a apresentação deste trabalho, poder dar uma ideia da


Psicoterapia Breve e, principalmente dar a ela o lugar que lhe cabe enquanto uma
prática psicoterápica absolutamente lícita, fundamentada e que, em alguns casos,
se faz necessária frente à demanda que se nos apresenta por determinados
pacientes, onde uma questão de "tempo" deverá ser entendida como algo real e não
como uma "defesa" em relação à psicanálise, por exemplo. Entendemos também
que a psicoterapia de objetivos e tempo limitados acaba por satisfazer uma
necessidade assistencial, mesmo que em certos casos não seja a indicação mais
adequada.

O trabalho tem importância para profissionais e estudantes da área da psicologia,


tendo, como foco, colaborar para a melhor e mais ampla compreensão do assunto
apresentado. O Psicodiagnóstico é o processo de avaliação onde o principal
objetivo é identificar e compreender a queixa e os possíveis distúrbios que o cliente
apresenta para que o terapeuta consiga formular hipóteses diagnósticas mais
precisas relacionadas às questões levantadas.

O trabalho aborda o lugar do diagnóstico psiquiátrico e psicanalítico, além de


apontar para a condução diagnóstica no campo da psiquiatria e da psicanálise de
orientação Freud-lacaniana. Inicialmente tratamos do conceito do diagnóstico em
sua relação com a psiquiatria, desde sua base com a medicina até os tratados de
construção de manuais diagnósticos. Em seguida, abordamos o diagnóstico na
psicanálise através de comentadores que, referidos às obras de Freud e Lacan,
discutem o conceito. Diferente da clínica médica, a clínica psicanalítica apresenta
uma acepção muito peculiar do diagnóstico. Esse não é realizado de maneira
objetiva e direta, ou seja, de acordo com o conjunto de sintomas definindo
imediatamente a doença ou distúrbio.

Como perspetiva clínica, a atuação profissional do psicanalista, não se vale de


roteiros previamente definidos a serem seguidos. Os roteiros fenomenológicos que
orientarão a investigação devem ser estabelecidos dentro do espaço analítico, a
partir da condição de transferência, para determinar a direção do tratamento. A
precipitação em estabelecer o diagnóstico, sob o risco de rotular o paciente em uma
patologia, pode empobrecer, em muito, a escuta, ao torná-la hipersensível a certas
falas do sujeito e/ou surda a outras (COUTINHO, 2007).

1.1 Objetivos

Objetivo Geral

● Mostrar o conceito e a finalidade do Psicodiagnóstico como um processo


técnico de coleta e análise de sinais orientando um processo terapêutico.

Objetivos Específicos

● Fazer levantamento de vantagens do Psicodiagnóstico para apurar a


necessidade e importância do mesmo na terapia
● Compreender qual a origem histórica e filosófica da psicoterapia, e sua
evolução até a atualidade.
● Explicar a aplicação do diagnóstico no processo de interação do cliente e
terapeuta ou analisante.
CAPÍTULO II: METODOLOGIA

Este estudo consistiu em uma pesquisa bibliográfica por meio de leituras e de


carácter analítico a respeito da Psicoterapia Breve na Psicanlítica, abordando,
especificamente, neuroses de transferência, diagnóstico psíquico e psicanalítico e
relação do emaocional do terapêuta diante do paciente do tipo N, P e EL. As
descobertas que aplicam intervenções psicológicas nos diferentes modelos
terapêuticos apresentados aos clientes que procuram soluções para os seus
problemas.

O estudo obedece uma estrutura feita de resumo, introdução, desenvolvimento,


considerações finais e a respetiva ficha de referências bibliográficas.

A colecta de dados e informação, foi realizada no período de 27 de Julho a 12 de


Agosto de 2021, e utilizou-se para a pesquisa a lista de literatura apresentadas no
último capítulo do presente trabalho.
CAPÍTULO III: CONTEXTUALIZAÇÃO

3.1. Diagnóstico

Etimologicamente, psicodiagnóstico é o conhecimento de sintomas psíquicos, vem


de diagnostikos = hábil em discriminar, em discernir, de gnosis = conhecimento. O
psicodiagnóstico é uma avaliação psicológica feita com propósito clínicos,
portanto, não abrange todos modelos de avaliação psicológica de diferenças
individuais. É um processo que visa identificar fraquezas e forças no funcionamento
psicológico, com um foco na existência ou não de psicopatologia. O
psicodiagnóstico derivou da psicologia clínica, introduzida por Lighter Witmer, em
1896, e criada sob a tradição da psicologia acadêmica e da tradição médica. Consta
que nem ao fundador da psicologia clínica agradou a designação “clínica”, adotada
apenas por falta de melhor alternativa (Garfield, 1965).

O psicodiagnóstico é uma avaliação feita com o propósito de identificar sintomas


que possibilitem a compreensão do momento pelo qual o sujeito está passando,
bem como buscar fatores que o ajude em possíveis saídas para enfrentar os
conflitos vividos. Para tal, é preciso desenvolver um plano de avaliação com o
objetivo de programar a aplicação dos instrumentos adequados e específicos para
cada sujeito na busca de respostas para as perguntas iniciais (Cunha, 2002). Ainda
Cunha segue afirmando que:
Psicodiagnóstico é um processo científico, limitado no tempo, que utiliza
técnicas e testes psicológicos, em nível individual ou não, seja para entender
problemáticas à luz de pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos
específicos, seja para classificar o caso e prever seu curso possível,
comunicando os resultados, na base dos quais são propostas soluções, se
for o caso (Cunha, 2000, p. 26).

Pode-se afirmar também que a Avaliação Psicológica é um conjunto de


procedimentos para a colecta de informações necessárias e suficientes para
responder às questões relacionadas ao problema que se pretende investigar
(Guzzo, 2001).

O psicodiagnóstico pode ser compreendido como uma forma específica de


avaliação psicológica, conduzida com propósitos clínicos e visando identificar forças
e fraquezas no funcionamento psíquico, tendo como expectativa a descrição e
compreensão, o mais profunda e completamente possível da personalidade do
paciente ou do grupo familiar (Cunha, 2002; Campo, 2003). Psicodiagnóstico é um
processo científico, limitado no tempo, que utiliza técnicas e testes psicológicos
(input), em nível individual ou não, seja para entender problemas à luz de
pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos específicos, seja para classificar
o caso e prever seu curso possível, comunicando os resultados (output), na base
dos quais são propostas soluções, se for o caso. Essa investigação se configura
como um processo científico, limitado no tempo, que utiliza técnicas e testes
psicodiagnósticos, seja para entender problemas à luz de pressupostos teóricos,
identificar e avaliar aspectos específicos, seja para classificar o caso e prever seu
curso possível, comunicando os resultados, a partir dos quais são propostas
soluções (Cunha e cols., 2002; Anchieri & Cruz, 2003).

A realização de um diagnóstico é importante para a organização e orientação de


uma proposta de tratamento. A partir daquele, define-se as ações prioritárias deste.
Não obstante, é frequente se observar casos em que a melhora do quadro clínico
não se evidencia. Nestes é comum se verificar que o tratamento realizado encontra-
se inadequado em função de um diagnóstico equivocado (ARZENO, 1995; CUNHA,
2003; DUARTE, 2013).

Figueiredo e Machado (2000) orientam que para situar o diagnóstico em psicanálise,


o profissional é levado a interrogar o estatuto do inconsciente em relação à
realidade. A psicanálise indica que toda relação do sujeito com o mundo é mediada
pela realidade psíquica. Essa tem no inconsciente sua fonte primária de
reconhecimento da realidade psíquica (entendida como a internalização mental da
realidade factual).Para a promoção do diagnóstico o analista passa a ser incluído no
funcionamento psíquico do sujeito por meio da transferência. O sujeito endereça ao
analista sua fala, ou seja, sua produção discursiva. A partir da escuta do discurso
dos aspetos considerados importantes pelo sujeito o diagnóstico começa a ser
construído (QUINET, 2005).

O diagnóstico pode ser tomado como um mal necessário, ou como um bem


perigoso. Vieira (2001) adverte que, apoiado em um diagnóstico, se conhece o
indivíduo, mas se perde o sujeito. Assim, aponta três razões para o uso do
diagnóstico; inicialmente para troca de ideias, ou, apresentação do caso. Uma
segunda considera, também, conhecer o estilo do analisante, onde verifica-se se
sua demanda se adequa a um tratamento psicanalítico. Por fim, caso o estilo seja
adequado, encaminhar o cliente para condução do tratamento. Segundo Santiago
(2011), para que o sintoma represente alguma coisa para o sujeito, é preciso que o
mesmo adquira um sentido (frequentemente de incômodo ou desprazer) para o
analisando. Para promover tal sentido, o analista pode ocupar o lugar de intérprete
do sintoma. Entretanto sua oferta não deve restringir-se a uma nomeação. O
analista deve possibilitar ao sujeito Diagnóstico clínico e diagnóstico em psicanálise
a importância da escuta na construção do diagnóstico diferencial que lhe traz um
sintoma, enquanto uma formação do inconsciente que faz com que o mesmo
tropece, a chance da palavra o levantar. Neste caso, não deveria haver chance de
se apresentar pelo silêncio, que aliena o sujeito e o transforma em pura
determinação.

O diagnóstico clínico, habitualmente, contempla o órgão, ou região anatômica,


afetada, as funções comprometidas e as causas dessas alterações. As
probabilidades de manifestação de determinadas doenças, de acordo com a faixa
etária, estilo de vida (nível de renda, escolaridade e trabalho) e localização
geográfica do paciente, também são levadas em conta. O bom diagnóstico clínico
tem como base a orientação profissional e a postura ética. Nesse sentido, faz-se
mister reconhecer que, anterior ao diagnóstico, existe alguém que sofre, que está
com algum problema. Há algo que incomoda o sujeito, e esse deve ser indagado
para a identificação da verdadeira causa de seu mal estar (ARZENO, 1995).

Para o acolhimento do sujeito, as entrevistas podem ter a função de oferecer ao


sujeito um espaço de escuta. A entrevista psicológica é uma técnica impreterível e
de fundamental importância para o processo de diagnóstico psicológico. A partir do
campo de entrevista, que se configura em função da estrutura psicológica particular
do entrevistado. Com ela, o psicólogo poderá ter acesso a alguns aspetos da
personalidade do cliente e aos motivos que o levaram à solicitação da entrevista,
através das angústias, ansiedades e defesas que surgirão na comunicação (ABEL,
2013; SANTIAGO, 1984). É fundamental que o psicólogo saiba observar, perceber,
escutar com tranquilidade e aproximar-se do paciente cuidadosamente, convidando-
o a se colocar em trabalho. Somente assim,o psicólogo poderá ter acesso às
motivações inconscientes do paciente que se constituem,verdadeiramente, como
responsáveis por suas aflições (CUNHA, 2003).

1.1.. Semelhanças e diferenças de psicodiagnóstico e Psicoterapia


1.1.1. Semelhanças
Relações entre psicodiagnóstico e psicoterapia, pressupondo que a prática da
psicoterapia implica duas dimensões não coincidentes. Por um lado, é uma prática
social reconhecida e regulamentada, uma dimensão pública. Por outro lado, é um
certo tipo de relação entre pessoas, uma dimensão privada.
O ensaio começa abordando a relação entre a prática do psicodiagnóstico e o
debate teórico sobre a doença mental e seu tratamento que tem dominado o
panorama da Psicologia e da psiquiatria no século XX. Em seguida, apresenta
rapidamente a teoria dos tipos lógicos, assentando as bases das análises que se
seguirão. Então, examina a prática psicodiagnóstica e psicoterápica em busca de
problemas causados pela tensão entre as determinações impostas por aquelas
duas dimensões. Finalmente, argumenta por um debate colectivo que permita a
construção e o progressivo aperfeiçoamento dos parâmetros que devem balizar a
prática do psicodiagnóstico e da psicoterapia.

1.1.2. . Diferenças
O psicodiagnóstico é um tipo de avaliação psicológica, mas nem todo o processo de
avaliação psicológica é um psicodiagnóstico. A avaliação caracterizada por
propósitos clínicos é chamada de psicodiagnóstico, função exclusiva do psicólogo
que utiliza técnicas e testes psicológicos. É um processo de avaliação psicológica
com uma abordagem clínica. Utiliza outros instrumentos, além de testes, para
abordar dados psicológicos de forma sistemática, científica, orientada para a
resolução de problemas (CUNHA,1993). Psicoterapia é um método de tratamento
de sofrimentos psíquicos, por meios essencialmente psicológicos. Conforme o
procedimento empregado, a psicoterapia procura, ou fazer desaparecer uma
inibição, ou um sintoma incômodo para a paciente, ou recompor o conjunto de seu
equilíbrio psíquico. Os critérios de cura, também, variam conforme o procedimento
psicoterápico e a teoria que lhe serve de base: melhor adaptação familiar e social,
maior liberdade interior e capacidade de ser feliz, conhecimento mais apurado de si,
de seus limites e de suas possibilidades (PAROT, 2007).
É possível definir o que é psicoterapia através de quatro elementos: seus meios,
seu objeto, sua função e suas metas. Portanto, a psicoterapia é um tratamento que
se opera por meio de processos psicológicos. Ela exerce sua ação no quadro da
relação estabelecida entre o paciente e uma pessoa, chamada psicoterapeuta, que
têm uma função psicoterapêutica. A psicoterapia tem como o objeto os conflitos que
se exprimem na vida interior do paciente ou em suas relações com seu meio
ambiente. Ela implica em sua ação um processo de mudança cujo termo final só é
parcialmente previsível (MORO E LACHAL, 2008).
É preciso rever antigas concepções que encaram o psicodiagnóstico apenas como
um referencial para o encaminhamento psicoterápico e consideram que seu valor é
apenas compreensivo, uma vez que a relação com o paciente, mesmo quando
enfocada sob o ângulo da transferência e contratransferência, não pode ser usada
como instrumento de trabalho. Do mesmo modo, é preciso abandonar a ideia de
que o psicodiagnóstico não tem objetivos terapêuticos e empenhar-se em fazer dele
uma prática cujos efeitos sejam terapêuticos ( LOPEZ, 1995).
carácter explicativo sobre os fenómenos psicológicos, cuja finalidade é subsidiar os
trabalhos nos diferentes campos de atuação do psicólogo, como nas áreas da
saúde, educação, trabalho e em outras em que ela se fizer necessária).
Ocorre dentro de um contexto de avaliação que objetiva encontrar respostas sobre
questões psicológicas, por meio de um processo que contempla coleta de dados,
avaliação e análises que respondam a questões propostas, visando à solução de
problemas (Cunha, 2000; Urbina, 2007).

2. DIAGNÓSTICO CLÍNICO

Quando se fala em diagnóstico, reporta-se à utilização de um termo da área médica.


Cabe ao profissional estabelecer um diagnóstico, utilizando-se de técnicas e
instrumentos que permitam um exame direto, observável, objetivando determinar a
natureza da afecção e localizá-la a nível nosológico (ROMARO, 1999).

A necessidade de um nome para a doença, um diagnóstico, constitui o principal e


mais imediato problema do paciente, ele necessita nomear seu sofrimento. Para
isso, a medicina se serve inicialmente do modelo biológico. Em segundo plano, o
médico considera com detalhes a experiência subjetiva de adoecer que o paciente
vive (BRASIL, Marcos, 1996). O estudo da doença mental inicia pela observação
cuidadosa de suas manifestações. A mesma passa também pela grande dificuldade
de classificar e definir diferenças específicas, uma vez que o conceito de saúde e
normalidade em psicopatologia não é bem definido. Por isso, há, no processo
diagnóstico, uma relação dialética permanente (DALGALARRONDO, 2008).Existem
sintomas que são comuns para diversas doenças. Essa similaridade em
determinadas síndromes pode gerar confusão. Nesses casos, há necessidade de
um diagnóstico diferencial. Contudo esse não pode ser apenas normativo, pois
servirá para escolher o tratamento mais apropriado à condição clínica do
sujeito/paciente (ADRADOS, 2004).Posto isso, apresenta-se a definição de
diagnóstico em psicanálise. Tal visa expor as diferenças e similaridades presentes
no processo de trabalho do clínico

2.1. Aplicações do Psicodiagnóstico em contexto Hospitalar

O propósito da psicologia hospitalar é o acolhimento aos pacientes de todas as


faixas etárias, bem como seus familiares, em sofrimento psíquico resultante de
patologias, internações e tratamentos, contemplando ações de assistência, ensino e
pesquisa. Configurando-se como mais um espaço no qual a psicologia pode
oferecer escuta e compreensão, precisamente nesse momento em que valores são
revistos e há todo um imaginário envolvendo o adoecer.

O diagnóstico de uma doença e seus possíveis tratamentos pode trazer como


consequência tanto problemas práticos e materiais (trabalho e questões
financeiras), como emocionais e não materiais (medo, insegurança e problemas
interpessoais). Liberato e Macieira (2008) apontam que o modo como cada pessoa
enfrenta as circunstâncias advindas deste processo depende de características
individuais e da significação do adoecer, relacionado ao momento da vida em que a
pessoa se encontra. Com o desenvolvimento e avanços no campo das ciências da
saúde nos últimos anos, o hospital passou a considerar dentre as diversas
especialidades, a psicologia hospitalar. Desse modo, a inserção do psicólogo no
hospital deu se na busca de superar a relação dicotómica mente-organismo.
A psicologia hospitalar tem ganhado destaque dentre as especialidades no campo
das ciências da saúde. Dentre as várias possibilidades de atuação, encontra-se a
avaliação psicológica. A avaliação psicológica é uma área aplicada da psicologia
que permite a operacionalização das teorias psicológicas de forma sistemática, ao
integrar teoria e prática (Primi, 2003). É definida pelo Conselho Federal de
Psicologia - CFP como um processo técnico e científico realizado com pessoas ou
grupos, conforme área de conhecimento e suas metodologias específicas, e ainda
de forma dinâmica, ao constituir-se como fonte de informações d

3. O Diagnóstico e a Psiquiatria

Para Sadock (2007, p. 319) a classificação, na psiquiatria, é “uma parte integral da


teoria e da prática da medicina”. Vê-se a presença e a pertinência desse aspecto
teórico dentro do campo psiquiátrico, no qual o diagnóstico tem uma incidência
fundamental para o saber do psiquiatra e para a sua prática . Assim, como afirma
Szajnbok (2013), a história dos diagnósticos se fez intrincada com a da medicina.
Desde os tempos de Hipócrates dedica-se, nessa disciplina que contém uma práxis,
a um refinamento dos métodos de observação para discernir melhor as doenças,
com a expectativa de oferecer a terapêutica mais eficaz e/ou específica. Têm-se
ainda um marco: os pilares da influência de Pinel, que apontou o recurso da filosofia
para caracterizar a doença mental (DUNKER; NETO, 2011a). A história dos
diagnósticos é referida às ciências médicas do século XIX com Kraepelin, que
publica em 1896 seu Tratado de psiquiatria, como a primeira sistematização dos
transtornos mentais, alicerçada na etiologia fisiológica e organicista (SZAJNBOK,
2013). A partir de 1946 intentou-se uma convenção diagnóstica que alcançasse uma
amplitude internacional. Organizaram-se as primeiras propostas de manuais de
classificação das doenças mentais. Certa comunhão de saber que continha as
influências das ideias de Adolf Meyer através de conceitos como “quadros reativos”,
a lógica de adoecimento de Kraepelin, além de contribuições freudianas vinculadas
ao campo da neurose (LEITE, 1999).O CID-6 (Código Internacional das Doenças)
foi a primeira versão deste manual de patologias a incluir os transtornos mentais.
Trazia nomenclaturas válidas no serviço médico aos veteranos da guerra que
buscavam classificar os quadros psíquicos dos que retornavam aos EUA.
Paralelamente a isso há o intento da American Psychiatric Association (APA) em
desenvolver a primeira versão do Diagnostic and Statistical Manual: Mental
Disorders (DSM-I), publicado em 1952. Havia nele uma espécie de descrição clínica
que trazia a influência da visão psicobiológica de Adolf Meyer, na qual os
transtornos representavam reações da personalidade a elementos biológicos,
sociais e psicológicos (SZAJNBOK, 2013).

A esse respeito, Quinet (2001) aponta que naquele momento havia um sistema de
intercâmbio entre os campos da psicanálise e da psiquiatria, no qual a
psicopatologia pôde prosperar, e onde se podiam encontrar importações conceituais
entre os campos referidos; zonas de confluências metodológicas entre outros
fatores de intercessão. O DSM-I não refletia uma clara separação entre a
normalidade e a patologia; sua pretensão era um consenso terminológico em uma
prática clínica alastrada em várias direções (DUNKER; NETO, 2011a). A produção
do DSM-II (a partir de uma revisão do CID-8 em 1968) é vista como reflexo da
primeira versão, com uma relevante participação da psiquiatria psicodinâmica,
acompanhada da etiologia biológica e das raízes das classificações de Kraepelin. A
sintomatologia não era especificamente apresentada na proposição dos distúrbios.
Os sintomas tinham sua etiologia em conflitos ou reações inadequadas diante das
problemáticas da vida (DUNKER; NETO, 2011a). Houve uma rápida associação da
psiquiatria com outras áreas da medicina, e alguns campos, antes distantes,
tornavam-se fecundos terrenos para a produção de saber e de práticas vinculadas à
disciplina da psiquiatria (DUNKER; NETO 2011b). Já o DSM-III é uma torção de
discurso para o campo da psiquiatria, pois propunha uma visão a-teórica, a-histórica
e a-doutrinária na edificação de suas classificações. Numa anulação das influências
anteriores sobre o processo etiológico e patogênico das doenças mentais, fez-se
enquanto tentativa meramente descritiva, de troca de informação e permissível aos
conformes da ciência empírica (LEITE, 1999).

Esse cunho teórico é proposto no intuito de evitar incongruências e impasses no


saber e na prática da psiquiatria (CAMARGO; SANTOS, 2012). Caracteriza uma
profunda transformação na psiquiatria tanto nas concepções do campo de pesquisa
quanto na prática (DUNKER; NETO, 2011a). Para Foucault ([1963] 2011), isso se
configura como uma abolição das classes psiquiátricas herdeiras da tradição
construída ao pé do leito do paciente. Viu-se o DSM-III enquanto uma retomada da
visão kraepeliniana da psiquiatria, ao enfatizar a classificação segundo sua
sintomatologia, o curso da doença e seu prognóstico. Essa versão configura um
‘antes’ ultrapassado, e um ‘depois’ atual e científico (SZAJNBOK, 2013). Porém, o
que se proclamava a-teórico, caracterizou-se enquanto oposto, já que a partir da
terceira versão admitiu-se – como acordo tácito – um novo modelo associado à
clínica da medicação, que leva em consideração a resposta padrão dos pacientes à
administração de substâncias químicas específicas (LEITE, 1999).O DSM-III
procurou eliminar as explicações causais psicológicas, psicossociais ou
psicanalíticas implícitas ou explícitas dos manuais anteriores. Acredita-se no foco
biológico e objetivo como mais ‘científicos’ e condizentes com o padrão médico,
aumentando o status da psiquiatria na hierarquia médica (FACÓ, 2008). Pautou-se
que no DSM-II a influência da psicanálise permitia certa culpabilização dos fatores
ambientais (relações parentais intervenientes na psicodinâmica conflitiva e
etiológica); já com a emergência da psiquiatria biológica “inserida” no DSM-III foi
possível uma desculpabilização do ambiente e até do sujeito (AGUIAR, 2004). No
caminho de evolução dos manuais diagnósticos, o surgimento do DSM-IV em 1994
traz uma série de questões no seu rol de 297 classificações. Pode-se acompanhar
quanto às suas funcionalidades que o DSM-IV-TR não é e não pretende ser um livro
didático: não se faz menção às teorias de causa, manejo ou tratamento, e as
controversas questões que envolvem determinadas categorias diagnósticas não são
discutidas (SADOCK, 2007, p. 319-320). É nesse desígnio de descrição como base
de suas funções que o diagnóstico tende a se estabelecer a partir do DSM-IV e sua
revisão. Não há nenhuma finalidade nesse conjunto descritivo do adoecimento no
humano. Ele apenas se faz para ali categorizar, ativar gavetas, que alocam
expressões ditas doentes. O paradigma da ciência médica é regido pela dicotomia
saúde-doença, o que é corroborado ao se afirmar as disfunções psicológicas como
a base das doenças (GELDER, 2006). Para Sadock (2007), esse sistema de
classificação aponta alguns propósitos: distinguir um diagnóstico psiquiátrico de
outro, de modo que os clínicos possam oferecer o tratamento mais efetivo;
proporcionar uma linguagem comum entre os profissionais da saúde; explorar as
causas ainda desconhecidas dos transtornos mentais. Nessa perspectiva, a
psiquiatria consolida abordagens distintas para o diagnóstico, como a descritiva, que
visa
[...] descreve as manifestações dos transtornos mentais e apenas raramente
tenta explicar como ocorrem. As definições dos transtornos consistem de
descrições de aspectos clínicos (SADOCK, 2007, p. 319).

É preciso salientar ainda uma distinção entre o diagnóstico sindrômico como o


conjunto de sinais e sintomas evidenciados na entrevista clínica, e o diagnóstico
nosológico encarado enquanto uma forma de adoecimento ou uma “doença de
fundo” (TENÓRIO; FIGUEIREDO, 2002). Pensa-se a abordagem sindrômica
enquanto uma visão descritiva dos sintomas, em que não há objetivo de tipificar o
adoecimento, tendo uma clínica pautada na eliminação dos sintomas; já a
abordagem nosológica faz uma análise da moléstia, observação e caracterização
nosográfica do quadro, que visa uma intervenção mais investigativa e supostamente
mais profunda. Encontra-se também presente a noção de critérios diagnósticos, que
tenta conferir mais credibilidade e confiabilidade naquilo que se determina com a
nomeação diagnóstica, ou seja:
[...] são determinados critérios diagnósticos para cada transtorno mental
específico, que incluem uma lista de aspectos que devem estar presentes
para que se faça o diagnóstico (SADOCK, 2007, p. 319).

Nesse check-list de critérios predeterminados é que se norteia uma parcela da


práxis do saber psiquiátrico com o uso do diagnóstico. O psiquiatra vai comparar as
manifestações do indivíduo com um grupo já estabelecido de comportamentos
vistos como ‘adoecidos’. A partir das proximidades e similitudes com as categorias é
que se faz um agrupamento, a classificação, que
[...] tenta colocar ordem na grande diversidade de fenômenos clínicos
encontrados (GELDER, 2006, p. 67).

Assim, para Camargo e Santos (2012), a prática clínica parece se aproximar de uma
técnica habilitada a manusear manuais de classificação e emitir um diagnóstico
associado a uma metodologia terapêutica, hoje de forte tradição farmacológica.

4. DIAGNÓSTICO E A PSICANÁLISE

Ao nos reportamos à psicanálise em sua relação com o conceito do diagnóstico


vimos que a nosografia presente na psicanálise (histeria, neurose obsessiva,
psicose, perversão, etc.) não conduz a um agrupamento sobre o quadro, havendo
uma distinção entre as classes psicanalíticas e as categorias do DSM. Na
psicanálise a nosografia define-se como não-toda; seus elementos pertencem e não
pertencem concomitantemente a um dado conjunto (MILNER, 2006). Acerca da
questão do diagnóstico no campo da psicanálise aponta-se a psicanálise firmada na
etiologia sexual das neuroses, sendo esse o eixo da sua tipologia diagnóstica, e não
a descrição fenomênica (CAMARGO; SANTOS, 2012).

Vieira (2001) ressalta que o diagnóstico se constitui, em sua essência, contraditório


para a relação analítica, uma vez que todo diagnóstico comporta uma classificação.
Diagnosticar seria, então, como um ofício de inserção do sujeito em um grupo, no
qual se definem algumas propriedades que serão utilizadas para sua representação.
Por maior que seja o esforço de resguardar a singularidade do sujeito, há no
diagnóstico, ainda que psicanalítico, uma atribuição de um juízo de valor, que
incorpora o sujeito em uma classe, pois há no diagnóstico psicanalítico um aspecto
de objetivação do sujeito, que organiza uma representação do eu enquanto
qualidades agrupadas como constelações imaginárias em vez de uma livre
flutuação acerca do subjetivo.

Quanto a isso é possível associar o trabalho diagnóstico na psicanálise ao que Lévi-


Strauss (citado por/apud LEITE, 2001) sugeriu enquanto princípio da lógica da
epistemologia da classificação, no qual se encontra uma constante produção de
termos opostos regendo e garantindo o ato classificatório. Observou-se também que
as contradições diagnósticas estão presentes na psicanálise, quanto, para Freud, o
estabelecimento do diagnóstico está associado a um tempo futuro e de “longa
análise”, porém se faz como fundamento inicial e determinante na terapêutica a ser
realizada (LOWERNKRON, 1999). Destaca-se que nos primeiros trabalhos
freudianos o objetivo diagnóstico era distinguir o quadro para eleger o melhor
método a seguir: catártico ou psicanalítico. Viu-se que Freud considerava o método
catártico benéfico apenas ao diagnóstico da histeria, ainda que ele tenha utilizado
tal método em outros quadros. Quanto ao método psicanalítico, encontra-se em
Freud uma distinção diagnóstica entre neurose e psicose e a indicação desse
método para as manifestações neuróticas, advertindo a impossibilidade de tal
metodologia na psicose já que para ele somente na neurose se instala a
transferência analítica (ABEL, 2008).
Ao se deparar com as nosografias correntes em sua época, como histeria ou
obsessão, Freud se ocupou em construir sua nosologia baseada no funcionamento
psíquico possibilitado no agrupamento de quadros em função de mecanismos
psíquicos comuns. Porém, Freud e seus seguidores se utilizavam das nosografias
da psiquiatria clássica vigentes em sua época (ROMARO, 1999). Ressalta-se o
exemplo de Kraft-Ebing, que se valia da palavra “perversão”; ou ainda a paranoia
vinculada a Kraepelin; a presença de uma crítica em Freud quando o psiquiatra
Bleuler exaltou a esquizofrenia; ou a clássica influência do termo “neurose”, oriundo
da obra de Charcot (LEITE, 1999).O psicanalista, através do diagnóstico, opera uma
investigação em seu campo clínico, que privilegia a escuta. Sua avaliação é
subjetiva, num espaço intersubjetivo de comunicação de inconsciente para
inconsciente (LOWENKRON, 1999). O inconsciente, enquanto prisma da realidade
psíquica realoca o que vem a ser tratado como subjetivo/sujeito em um novo
patamar epistêmico. Nesse sentido, ressalta-se a dimensão inconsciente na relação
que ela faz com a realidade para que se possa dialogar com a construção
diagnóstica para a psicanálise (FIGUEIREDO; MACHADO, 2000).Ainda com os
autores é pertinente conotar que, na maneira de operar a clínica psicanalítica, o
sujeito epistêmico (observador) não é exterior ao sujeito empírico (observado). O
observado inclui o observador através da transferência. Diagnóstico e tratamento
estão marcados por essa concepção. Retomando Camargo e Santos (2012), o
trabalho diagnóstico no campo psicanalítico exige situar a posição do sujeito do
inconsciente, o que se dá em articulação com a transferência e o desejo do analista.
Na clínica psicanalítica não se parte de uma ideia prévia, pois se leva em
conta o que está em jogo no vínculo e que, no encontro clínico, se apresenta
como um fato de discurso governado por um saber inconsciente com leis que
lhe são próprias. E “este encontro é tão singular que bem merecia chamar-se
desencontro” (RAPPAPORT, 1992, p. 63).

Nessa perspetiva, Dunker (2011) afirma que em nenhum caso o diagnóstico pode
ser dado como universalidade e particularidade. Trata-se de uma relação entre o
universal e o particular, e não deve, então, ser compreendido como:
[...] uma classificação ou inclusão do caso em sua cláusula genérica, mas
como reconstrução de uma forma de vida (DUNKER, 2011, p. 116).
Quanto a isso Miller (2003) aponta a universalidade como algo que não pode estar
completamente presente no indivíduo. O indivíduo real pode referir e exemplificar
uma classe, ainda que com uma lacuna. Para o autor, a instância da classe num
indivíduo contém um déficit, por isso ele nunca poderá ser um exemplar perfeito.

Ao considerar a estruturação do sujeito remetido a algo do Outro, Lacan nos lança a


sua noção diagnóstica pertinente até o final da década de 1960: o simbólico como o
registro que organizava a estruturação psíquica, na captura do vivente à cadeia de
significantes (FIGUEIREDO; MACHADO, 2000). Na associação ao campo da teoria
lacaniana se viu que o diagnóstico estrutural é construído em análise, tendo como
único instrumento a escuta do analista que visa a dimensão do discurso do
analisando e aponta a estrutura do sujeito na linguagem. O diagnóstico se vincula
às entrevistas preliminares, quando é possível diagnosticar o sentido do sintoma,
sua estrutura, o ser ou não analisável. Tal diagnóstico pode ser tratado de maneira
“provisória”, como algo que é posto em suspenso (ROMARO, 1999).

Já Pacheco (2012), que considera o diagnóstico estrutural como um orientador da


direção do tratamento, desloca o trabalho clínico com as formas do sintoma e segue
uma vertente que dá ênfase às modalidades da posição do sujeito frente à fantasia.
Leite (2001) ressalta que há dois modos possíveis de classificação diagnóstica na
clínica fundada a partir do ensino de Lacan: o modelo estrutural “no qual a
referência principal é o envoltório formal do sintoma” (LEITE, 2001, p. 35), modelo
que faz referência às categorias psicopatológicas da psiquiatria, privilegiando a
distinção neurose-psicose. No entanto, traz-se a topologia lacaniana para registrar
uma não referência às categorias da psicopatologia psiquiátrica, afirmando que essa
[...] outra maneira de pensar a clínica, chamada borromeana, se funda no
fato do ser falante ser consequência da relação entre Imaginário, Simbólico e
Real. Relação que se dá segundo as propriedades de uma figura topológica
chamada nó borromeano (LEITE, 2001, p. 36).

A esse respeito, considera-se que o diagnóstico na psicanálise lacaniana aponta


uma vertente imaginária, que confere certa roupagem ao sujeito; uma vertente
simbólica, que o identifica e distingue; e uma vertente real, que toca no circuito de
gozo presente em cada singularidade. O diagnóstico, a partir desse percurso, visa
localizar o modo singular de gozo, e essa operação não é atravessada por grupos
ou classes preexistentes (VIEIRA, 2001).

Os “diagnósticos lacanianos” são formulados a partir da análise do enquadramento


dos registros Imaginário, Simbólico e Real, trabalhados por Lacan em sua
teorização dos nós borromeanos. Acredita-se que tal direcionamento teórico e
clínico tem consequências profícuas para o diagnóstico e a direção do tratamento
na psicanálise (LEITE, 2001; VIEIRA, 2001). O diagnóstico na psicanálise se realiza,
assim, como uma antítese em relação ao diagnóstico na psiquiatria. Este último visa
uma rotulação sobre o adoecimento, que aponta um modelo terapêutico associado à
mediatização e à falta de questionamento sobre o adoecimento. Já o diagnóstico na
psicanálise não se destina à nomeação da doença do e para o sujeito, mas é um
elemento importante para a direção do tratamento, através da escuta clínica,
sempre singular.
Considerações finais

Conclui-se que o diagnóstico não se esgota em um rótulo. Constitui-se em uma


forma de expressão psíquica de um ser, entretanto é a partir da escuta, e em
parceria com o sujeito, que ele pode ser construído. E, para que o diagnóstico não
assuma o caráter de um estigma, deve sempre permear a ideia de uma hipótese
para ser constantemente questionada ao longo do processo de atendimento. O
diagnóstico em psicanálise admite transformações ao longo de um processo de
análise. Como a clínica trabalha em um tempo lógico, não há diagnóstico único. Se
no início da análise o Diagnóstico clínico e diagnóstico em psicanálise: a
importância da escuta na construção do diagnóstico diferencial profissional propõe
uma pressuposição diagnóstica, ao final desta, o analisando a modula a partir de
seu sintoma, o irredutível de sua subjetividade, alterando assim a conceção inicial.
Pela forma em que se dispõe a fazer um diagnóstico em psicanálise pode-se
colaborar a desconstruir as rotulações psicopatológicas, e assim adentrar na gênese
da formação dos processos e na dinâmica dos mecanismos de funcionamento
psíquico. Portanto, um diagnóstico neste sentido visa abordar a articulação dos
processos e as transformações surgidas no decorrer de uma história individual e
singular. Desta forma, a teoria funciona como balizadora, oferecendo apoio ao
psicanalista, e nunca, como pensamento esquemático, pretendendo dar conta da
complexidade própria do sujeito.

Construir diagnóstico estrutural em psicanálise não é simples. Ainda que se adotem


traços estruturais, os mesmos sintomas podem aparecer em diferentes estruturas.
Assim como no campo médico, onde existem alguns sintomas que são comuns para
diversas doenças. Essa similaridade em determinadas síndromes pode gerar
confusão. Entretanto, ainda é possível reconhecer o diagnóstico sendo realizado às
pressas, em apenas uma consulta. Tais, podem ser equivocados, promovendo
rótulos e comprometendo a saúde psíquica do sujeito, assim como levar a
tratamentos inadequados. Em uma atuação clínica torna-se fundamental a
compreensão da problemática apresentada levando-se em conta tanto os aspectos
descritivos quanto os estruturais, através dos quais se inicia a busca do significado
do sintoma. A cuidadosa escuta analítica, não contaminada pela premência de
classificação nosológica permite essa busca

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