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SCHAURICH, A. P.

Psicodiagnóstico Interventivo: Novos Rumos na


Prática e na Pesquisa em Psicologia Clínica
Daniel Pires Rodrigues Nunes - T353ID9

Aspectos históricos e influências filosóficas


Segundo o autor, compreender o papel do psicodiagnóstico na Psicologia
envolve analisar suas influências históricas. A prática de avaliação psicológica
foi moldada por tendências filosóficas, como o positivismo e o humanismo.
O positivismo, na visão do autor, defende um conhecimento objetivo baseado
em neutralidade científica e experimentação. Essa abordagem, adotada pelas
ciências naturais, também influenciou as práticas de avaliação psicológica,
como testes psicométricos e o modelo médico.
O autor afirma que o pensamento humanista, em contraste ao positivismo,
destaca a ligação entre sujeito e objeto de estudo, enfatizando a subjetividade
e o significado das experiências. Essa perspectiva moldou a Psicologia
Humanista, a fenomenologia e a Psicanálise.
Essa corrente, de acordo com o autor, questionou o modelo classificatório
baseado em testes psicométricos, levando ao desenvolvimento do
psicodiagnóstico. Esse método clínico inclui entrevistas diagnósticas e técnicas
de investigação da personalidade, afastando-se da neutralidade em favor da
subjetividade.
Para o autor, o psicodiagnóstico trouxe uma nova abordagem de avaliação
psicológica, alinhada à Psicanálise e à Fenomenologia, enfocando a
subjetividade e a relação terapêutica. Os testes passaram a ser usados como
complementos em conjunto com outros procedimentos clínicos.
Conforme o autor, no Brasil, abordagens como o psicodiagnóstico
compreensivo e a proposta fenomenológica são comuns. No entanto, o método
sistematizado por Arzeno e outros tem orientado a prática de muitos
profissionais na área.
De acordo com o autor, o estudo se concentra na proposta de psicodiagnóstico
de Arzeno (2003) e Ocampo, Arzeno & Piccolo (2005), que sistematiza o
procedimento baseado na psicanálise. A abordagem valoriza a entrevista
clínica sobre a anamnese descritiva, enfatizando a relação transferencial e
contratransferencial, bem como a devolução ao final do processo. As autoras
delineiam um psicodiagnóstico bem definido, com papéis, objetivos e tempo
estabelecidos, buscando uma compreensão profunda da personalidade do
paciente, abrangendo elementos constitutivos, patológicos e adaptativos,
presentes e futuros.
Para o autor, a proposta envolve entrevistas clínicas, testes, técnicas
projetivas, entrevista devolutiva e elaboração de laudo quando necessário. O
enquadre no início do processo é cuidadosamente planejado, incluindo
aspectos como papéis, tempo e honorários.
De acordo com o autor, as propostas têm pontos em comum, mas a de Arzeno
(2003) é mais detalhada, dividida em sete etapas. A primeira etapa envolve o
contato inicial e as primeiras impressões. Na segunda, busca-se identificar o
motivo da consulta e as ansiedades do paciente. A terceira é a reflexão sobre o
material e a escolha dos instrumentos diagnósticos. A quarta é a realização da
estratégia diagnóstica planejada. A quinta etapa consiste na análise e
integração dos dados. A sexta é a devolução da informação ao paciente e/ou à
família. E a sétima etapa abrange a elaboração do laudo diagnóstico com
recomendações terapêuticas.
Psicodiagnóstico Interventivo
Na última década, segundo o autor, a capacidade interventiva do processo de
psicodiagnóstico tem sido explorada por pesquisadores. Eles indicam que o
psicodiagnóstico não se limita à avaliação, podendo também ter caráter
terapêutico, tornando-se interventivo.
Para o autor, o Psicodiagnóstico Interventivo combina avaliação e terapia,
permitindo a intervenção direta nos aspectos relevantes do sofrimento psíquico
do cliente. É um procedimento clínico que possibilita intervenções desde as
primeiras entrevistas e durante os testes, fornecendo devoluções ao paciente
ao longo do processo, não apenas no final.
De acordo com o autor, o método utiliza intervenções como assinalamentos e
interpretações desde as primeiras interações com o paciente, inclusive durante
a aplicação de testes projetivos. Esses dados, bem como as reações do
paciente e análise das técnicas projetivas, são avaliados como base flexível
para intervenção terapêutica precoce.
Segundo o autor, o terapeuta intervém ao perceber aspectos da dinâmica do
paciente e seu sofrimento durante a aplicação, apontando-os ao paciente para
construção conjunta da compreensão (Paulo, 2006). As técnicas projetivas, que
também servem como meio de comunicação, são avaliadas de forma a
impulsionar o processo terapêutico desde cedo.
Segundo o autor, a prática de combinar avaliação e intervenção existe há
tempos, mas só foi discutida na literatura nos anos 1990. Barbieri (2010)
destaca que o Psicodiagnóstico Interventivo foi sistematizado na década de
1990, porém suas menções datam de 1935, quando Morgan e Murray
abordaram o uso do Teste de Apercepção Temática (TAT) na terapia. Bellak,
em 1974, e Friedenthal (1976) retomaram o tema, propondo aplicação do Teste
das Relações Objetais (TRO) com intervenções. Finn (1994) estudou o
"Therapeutic Assessment" com o MMPI-2, enquanto Ancona-Lopez et al.
(1995) propuseram a abordagem fenomenológica-existencial. Assim, o
Psicodiagnóstico Interventivo varia conforme referenciais teóricos e
instrumentos.
O consenso atual entre pesquisadores é que o Psicodiagnóstico Interventivo
evoluiu do Psicodiagnóstico Compreensivo, considerando dinâmicas
intrapsíquicas, intrafamiliares e socioculturais. Isso atribui significado único à
experiência e sintomas do indivíduo.
Barbieri (2010) estruturou o Psicodiagnóstico de orientação psicanalítica,
integrando avaliação diagnóstica e intervenção por métodos desta abordagem.
Usa a entrevista clínica para considerar aspectos transferenciais e
contratransferenciais, e testes projetivos para explorar conflitos intrapsíquicos.
O conhecimento é construído conjuntamente, e o psicólogo interpreta,
reformula e revisa o entendimento, mantendo uma relação assimétrica, porém
não autoritária.
Portanto, segundo o autor, o Psicodiagnóstico Interventivo emerge como
prática de combinação de avaliação e terapia, ganhando identidade nos anos
1990. Essa abordagem é derivada do Psicodiagnóstico Compreensivo,
abraçando influências intrapsíquicas, familiares e socioculturais. A proposta de
Barbieri (2010) integra avaliação psicanalítica e intervenção, usando
entrevistas e testes projetivos. Nessa abordagem colaborativa, o conhecimento
é construído entre paciente e psicólogo, fortalecendo a relação profissional.
Segundo o autor, avaliações e intervenções formam o próprio procedimento de
trabalho, com o pensamento clínico orientando a seleção de instrumentos
baseado em hipóteses construídas pelo psicólogo.
Barbieri (2010) explana a abordagem de psicodiagnóstico-intervenção,
organizada em eixos estruturantes, não etapas, construindo-se como a
proposta do Psicodiagnóstico Compreensivo:
Objetivo de elucidar origem das perturbações; Ênfase na dinâmica emocional
inconsciente do paciente e família; Consideração conjunta de material clínico;
Busca compreensão global do paciente; Seleção de aspectos centrais para
angústia, fantasias e defesas; Uso de julgamento clínico para avaliar dados;
Subordinação do diagnóstico ao pensamento clínico, adaptando a estrutura ao
enfoque clínico; Uso predominante de métodos como entrevistas e associação
livre, integrando testes psicológicos.
O autor justifica que esses eixos promovem compreensão da singularidade do
paciente, essencial para intervenções. A livre inspeção é priorizada em relação
a interpretações de testes padronizados, permitindo que os conteúdos
emergentes sejam entendidos conforme a significância de cada paciente.
No Psicodiagnóstico Interventivo, a entrevista devolutiva é substituída por
intervenções transformadoras, visando não apenas informar os resultados, mas
promover experiências de mudança por meio do vínculo com o psicólogo. As
intervenções têm o propósito de ativar processos de desenvolvimento
paralisados no paciente.
De acordo com o autor, as bases teóricas do Psicodiagnóstico Interventivo
estão ancoradas na capacidade da situação diagnóstica em concentrar
aspectos cruciais da personalidade do indivíduo, revelando conflitos essenciais.
Durante a aplicação de técnicas específicas, o paciente enfrenta estágios de
desenvolvimento e a origem de seus conflitos, o que proporciona
oportunidades para intervenções que promovem a compreensão interna do
sofrimento e da dinâmica, resultando em uma vivência terapêutica
transformadora.

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