Segundo o autor, diversas referências na literatura abordam a visita domiciliar
como necessidade quando os pacientes não podem ir ao consultório. Há relatos de psicoterapeutas que atendem em hospitais ou residências devido às limitações dos pacientes. Contudo, essas situações são pouco documentadas, muitas vezes por receio de críticas da classe profissional. Na terapia familiar, o espaço residencial é valorizado para compreender a dinâmica familiar. Para alguns terapeutas, a casa reflete o psiquismo grupal, com configurações e organização que revelam identidade e experiência afetiva. A crítica comum de que o comportamento muda com um estranho é respondida por Ackerman, que afirma que as mudanças ocorrem em grau, não na qualidade. Mesmo sem observar certos comportamentos, é possível analisar a qualidade das atitudes e relações familiares, conforme Ackerman. A resistência à visita domiciliar é atribuída à insegurança dos terapeutas, que podem encará-la como invasão e ameaça à família, prejudicando a psicoterapia. A visita domiciliar foi praticada por Ramos ao avaliar crianças com "retardo mental", buscando neutralidade na observação. Apenas Ackerman foi encontrado na literatura como autor que realiza visitas domiciliares em diagnósticos, mas seu enfoque é diagnóstico familiar, diferente do psicodiagnóstico fenomenológico-existencial. A visita domiciliar tem funções distintas nos contextos de diagnóstico familiar e psicodiagnóstico interventivo, de acordo com o autor. A partir da perspectiva do autor, ele apresenta os principais pontos de vista desse autor. De acordo com Ackerman, a obtenção de dados seguros para um diagnóstico familiar eficaz é uma dificuldade, sendo a visita domiciliar um valioso instrumento para explorar os problemas de saúde mental da família e relacionar comportamentos individuais e grupais. A visita tem a função de observar padrões de interação, adaptação ao papel familiar e clima emocional da casa, contribuindo para avaliar a identidade psicossocial da família. Essa abordagem deve ser integrada a outras informações. Ackerman sugere que a visita pode ser feita sem conhecimento prévio do problema, buscando neutralidade emocional. Ele propõe que a visita seja informal, durando de duas a três horas, e que o profissional faça um relatório de memória para preservar a espontaneidade. O visitante pode ser percebido como aliado, excluído ou catalisador de interações familiares, gerando reações interessantes por parte da família. No contexto do psicodiagnóstico do autor, a visita domiciliar tem objetivos distintos das abordagens anteriores, e sua forma foi modificada ao longo do tempo. Inicialmente, a visita buscava ampliar a compreensão das relações familiares no diagnóstico fenomenológico-existencial. O autor relata sua experiência inicial como estudante, onde a visita domiciliar visava entender as relações familiares. Ele questionava a diferença entre a visita e a entrevista familiar, assim como a necessidade de ir à casa do cliente em vez de chamar a família para sessões. Segundo o autor, a proposta inicial levanta questionamentos sobre a visita domiciliar no psicodiagnóstico familiar, não apenas para conhecer os membros ausentes da família, mas para entender o ambiente e o modo de vida da criança. O autor menciona que as explicações temporariamente acalmavam suas dúvidas, mas novas questões continuavam surgindo, levando a novos esclarecimentos sobre essa abordagem diferente de entrar em contato com a criança. Após entrevistas iniciais e sessões com a criança, as visitas eram agendadas com os pais, com horários conhecidos por todos e acordados no contrato, sendo a visita domiciliar realizada com a presença da maioria dos familiares. O autor destaca que a visita só ocorria com consentimento da criança e dos pais, não sendo obrigatória e realizada quando poderia confirmar ou adicionar informações às hipóteses do psicodiagnóstico. Para a visita, o autor recebia orientações, incluindo permanecer na casa por uma hora, observar membros da família e interações, focar em aspectos importantes da casa e evitar intervenções. O autor não questionava a orientação de não fazer intervenções durante a visita, possivelmente devido ao foco na observação e ao receio de atuação inapropriada. O autor enfatiza orientações éticas e a sensação de abrigo no setting terapêutico, apesar da falta de experiência como estagiário em uma atividade incomum na prática psicológica. Apesar das recomendações para observar aspectos da casa, o autor priorizava a observação das dinâmicas e relações familiares durante a visita. O autor compartilha que, às vezes, tinha tempo livre durante a visita e vagava o olhar, registrando detalhes sem reconhecer sua importância devido à falta de direção específica. Segundo o autor, a proposta inicial levanta questionamentos sobre a visita domiciliar no psicodiagnóstico familiar, não apenas para conhecer os membros ausentes da família, mas para entender o ambiente e o modo de vida da criança. O autor menciona que as explicações temporariamente acalmavam suas dúvidas, mas novas questões continuavam surgindo, levando a novos esclarecimentos sobre essa abordagem diferente de entrar em contato com a criança. Após entrevistas iniciais e sessões com a criança, as visitas eram agendadas com os pais, com horários conhecidos por todos e acordados no contrato, sendo a visita domiciliar realizada com a presença da maioria dos familiares. O autor destaca que a visita só ocorria com consentimento da criança e dos pais, não sendo obrigatória e realizada quando poderia confirmar ou adicionar informações às hipóteses do psicodiagnóstico. Para a visita, o autor recebia orientações, incluindo permanecer na casa por uma hora, observar membros da família e interações, focar em aspectos importantes da casa e evitar intervenções. O autor não questionava a orientação de não fazer intervenções durante a visita, possivelmente devido ao foco na observação e ao receio de atuação inapropriada. O autor enfatiza orientações éticas e a sensação de abrigo no setting terapêutico, apesar da falta de experiência como estagiário em uma atividade incomum na prática psicológica. Apesar das recomendações para observar aspectos da casa, o autor priorizava a observação das dinâmicas e relações familiares durante a visita. O autor compartilha que, às vezes, tinha tempo livre durante a visita e vagava o olhar, registrando detalhes sem reconhecer sua importância devido à falta de direção específica. O autor menciona que nas devolutivas, os aspectos da casa aparecem, mas ficam secundários. No entanto, algumas visitas passaram a ser reveladoras, captando detalhes que faziam sentido em relação à história contada pela criança ou seus pais. Para permitir ao leitor acompanhar, o autor conta histórias sem detalhar procedimentos, análises ou conclusões dos psicodiagnósticos. Pais de um menino de três anos relatam agressividade e dificuldade com limites devido à falta de desejo inicial de ter filhos. Durante a visita domiciliar, a organização do ambiente confirmou essa informação. O apartamento pequeno era organizado, sem sinais de criança. Entre os sofás, havia enfeites de cristal e porta-retratos do casal e do menino, evidenciando a ausência de desordem. Era difícil lembrar que ali vivia uma criança de três anos. Havia dois quartos: um do casal e outro adaptado como escritório para o filho, com livros de pedagogia da mãe e direito do pai. O ambiente, com organização e móveis claros, causava estranheza em relação à queixa de agressividade e falta de limites. No apartamento organizado para um casal, o autor observa que a fala dos pais sobre a falta de espaço interno para um filho é corroborada. O quarto-escritório do menino revela a entrada dele na dinâmica profissional dos pais, evidenciando que sua presença compartilha espaço com a carreira deles, o que leva o autor a entender sua agressividade como reação. Outra história envolve uma menina de sete anos encaminhada pela escola por apatia e dificuldades de relacionamento. Os pais acreditam que fazem de tudo para agradá-la, mas ela parece não se satisfazer. Ela demonstra medo de sair de casa sem os pais e a sessão da anamnese revela que a mãe compartilha seu medo de morrer e deixá-la desamparada, resultando em uma relação intensa. As sessões lúdicas e a visita domiciliar confirmam a tristeza da menina. A casa é simples, localizada nos fundos da casa da avó paterna. Durante a visita, o autor conhece os quartos dos pais e da menina, este último pequeno e com uma cama de casal. Segundo o autor, ao entrar no quarto, surpreende-se com um ambiente colorido e repleto de brinquedos, contrastando com outros cômodos da casa e sugerindo dois mundos distintos. O autor descreve a abundância e a vitalidade no quarto da criança em contraste com a escassez e a falta em outros espaços da casa, onde coexistem medo da morte e paradoxos. O autor compartilha que as visitas domiciliares desses casos foram mágicas para uma estagiária inexperiente, revelando histórias da casa e de seus moradores. No entanto, essa prática levantou inquietações e questões sobre os fenômenos observados. Mesmo após se formar, o autor continua utilizando visitas domiciliares, mas modificou o procedimento original ao longo do tempo. O autor passou a considerar as visitas domiciliares como parte integral do processo psicodiagnóstico. Do ponto de vista do autor, entender a criança dentro das relações familiares é fundamental, e estratégias como visitas domiciliares enriquecem essa compreensão. O autor acredita que a visita domiciliar vai além de uma simples técnica, podendo ser um momento interventivo e favorável para um diagnóstico consistente. Segundo o autor, a visita domiciliar é agendada após entrevistas iniciais e consentimento da família, mas em caso de recusa, os aspectos observados não são substituídos por relatos. O autor sugere que a visita seja marcada após conhecer a história da criança e estabelecer um vínculo significativo. O autor observa que a escolha do momento para a visita deve equilibrar a confiabilidade com a profissionalidade, evitando a ideia de investigação. A presença de um "estranho" na casa é considerada relevante para entender a dinâmica familiar. O tempo da visita não é fixo e seu término depende da avaliação do profissional sobre a compreensão diagnóstica. De acordo com o autor, a decisão sobre a parte da casa visitada cabe à família, facilitando a compreensão das relações familiares. O autor dispensa questionários, preferindo observar o "clima emocional" do lar. A visita direta possibilita entender as relações familiares em situações naturais e também entrar em contato com o ambiente físico, revelando aspectos essenciais. Segundo o autor, a visita domiciliar proporciona base para intervenções que aumentam a compreensão das relações familiares e do ambiente físico. O autor vê o psicólogo como um participante ativo, realizando intervenções durante a visita com base nas situações apresentadas pelos clientes. O autor afirma que a escolha entre intervenções na casa ou em sessões depende da compreensão do psicólogo e da prontidão do paciente. A dinâmica familiar e a recepção na casa indicam apropriadas intervenções. Estas podem ser relacionadas a situações concretas na casa, impactando o cliente. Uma nova história demonstra modificações na visita domiciliar. Generosa busca ajuda psicológica para sua filha Sílvia, de 8 anos, após preocupações da escola. A mãe descreve comportamentos de Sílvia que destoam das outras crianças, como falar sobre beijos e curiosidade sobre o corpo oposto. Generosa sente-se incomodada com a atitude da escola, alegando perseguição. Nas entrevistas de anamnese, as informações correspondem ao desenvolvimento infantil esperado, com exceção da curiosidade de Sílvia sobre nascimentos. A mãe excede nas explicações, revelando detalhes não questionados. Segundo o autor, no primeiro encontro, Sílvia se assemelha à mãe, apresentando-se de maneira adulta. Durante as sessões lúdicas, ela exibe objetos femininos em sua bolsa e representa atividades de casal e domésticas. Ela também coloca bonecos em posições sugestivas, revelando uma compreensão sexualizada. Esses comportamentos confirmam a queixa da escola. Generosa, no entanto, não percebe a natureza sexual das brincadeiras. Na visita domiciliar, o autor é recebido por Generosa e Sílvia em um apartamento bem cuidado e espaçoso. A casa é predominantemente branca, com móveis clássicos e detalhes florais. O quarto de Sílvia é tipicamente infantil, com bonecas e brinquedos, principalmente na cor verde-água. Ela mostra entusiasmo em compartilhar o quarto da mãe, que contém uma cama de água e equipamentos eletrônicos em móveis de ferro preto e detalhes dourados. O quarto também possui espelhos no teto e nas paredes. Sílvia destaca uma banheira de hidromassagem redonda no banheiro, considerando o ambiente como seu parque de diversões. Segundo o autor, o pai Francisco entra no quarto e é cumprimentado. Generosa justifica a presença no banheiro do casal. O autor é apresentado ao marido, um homem alto e sério. Voltam ao quarto, Sílvia convida o autor a sentar ao seu lado. Após insistência da mãe e filha, o autor senta-se constrangido na beirada da cama. Observa filmes inadequados entre as fitas de vídeo. Sílvia balança-se no colchão enquanto o pai está de pé e a mãe sentada. Generosa oferece suco e bolo. Francisco insiste para irem à sala de visitas. Pai e filha saem na frente, e a mãe leva o autor ao escritório. A mãe comenta sobre Sílvia ser "bobinha". O autor intercede, apontando um ambiente inadequado no quarto que influencia o comportamento da filha. Menciona as fitas de vídeo, e a mãe confirma que são inadequadas, mas Sílvia não as assiste. Insiste na possibilidade de acesso e da menina testemunhar atividades do casal. A mãe nega, mas pergunta sobre correlações com o casal. O autor concorda. Sílvia interrompe para comer bolo na sala. O autor promete retomar o assunto na próxima sessão e convida o pai. Brinca com Sílvia no quarto antes de encerrar a visita. A queixa da escola se confirma nas sessões lúdicas, com produções de Sílvia explicitando o conteúdo. O desafio é a mãe não enxergar isso. A visita revela um jogo de aparências na família, partes acessíveis versus ocultas da casa, com a sexualidade permeando o ambiente de Sílvia. Seu movimento no colchão, somado ao ambiente inadequado, é familiar à família. Segundo o autor, na família, pai e mãe personificam contrastes: o pai como figura sóbria e a mãe com certa licenciosidade. Tais papéis se misturam ao cumprimentarem o pai com beijos adultos. O “parque de diversão” de Sílvia é adulto, não infantil. O autor destaca a reveladora dimensão do espaço físico na experiência profissional. Espaços familiares são subestimados, perdendo complexidade. A casa é transformada em lugar, carregado de sentido relacional e histórico. Organiza-se a vida nos espaços, atribuindo significados. Hertzberger (1996) expõe que objetos têm funções e competências de abrigar significados. A arquitetura revela o invisível. O visível é marca de uma operação esquecida. A dimensão simbólica da casa abrange sentimentos, ritmos e redes de significado. Os espaços cotidianos são moldados pela imagem interna de cada indivíduo. A subjetividade projeta-se no espaço, gerando associações e similaridades entre o mundo interno e o espaço externo. Segundo o autor, a história é contada nos movimentos dos habitantes e na relação entre homens e casas. Os espaços acumulam recordações autênticas e possuem odores próprios. As casas também moldam e produzem os indivíduos, assim como estes as produzem. O autor propõe uma análise ampla das casas, considerando percepções visuais, auditivas e sensoriais. A organização racional do espaço revela histórias singulares dos moradores, refletindo sua subjetividade. O ambiente externo e interno se comunica constantemente. Mesmo ao receber visitas, segundo o autor, expressamos nossa dinâmica pessoal ou familiar. A preparação para receber visitas reflete preocupação com a aparência, mas marcas do cotidiano permanecem, revelando o modo de ser dos habitantes. A maneira de receber o outro na casa espelha como o recebemos internamente.