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Visita Domiciliar - Ligia Corrêa Pinho Lopes

Daniel Pires Rodrigues Nunes - T353ID9

Segundo o autor, diversas referências na literatura abordam a visita domiciliar


como necessidade quando os pacientes não podem ir ao consultório. Há
relatos de psicoterapeutas que atendem em hospitais ou residências devido às
limitações dos pacientes. Contudo, essas situações são pouco documentadas,
muitas vezes por receio de críticas da classe profissional.
Na terapia familiar, o espaço residencial é valorizado para compreender a
dinâmica familiar. Para alguns terapeutas, a casa reflete o psiquismo grupal,
com configurações e organização que revelam identidade e experiência afetiva.
A crítica comum de que o comportamento muda com um estranho é respondida
por Ackerman, que afirma que as mudanças ocorrem em grau, não na
qualidade.
Mesmo sem observar certos comportamentos, é possível analisar a qualidade
das atitudes e relações familiares, conforme Ackerman. A resistência à visita
domiciliar é atribuída à insegurança dos terapeutas, que podem encará-la como
invasão e ameaça à família, prejudicando a psicoterapia.
A visita domiciliar foi praticada por Ramos ao avaliar crianças com "retardo
mental", buscando neutralidade na observação. Apenas Ackerman foi
encontrado na literatura como autor que realiza visitas domiciliares em
diagnósticos, mas seu enfoque é diagnóstico familiar, diferente do
psicodiagnóstico fenomenológico-existencial.
A visita domiciliar tem funções distintas nos contextos de diagnóstico familiar e
psicodiagnóstico interventivo, de acordo com o autor. A partir da perspectiva do
autor, ele apresenta os principais pontos de vista desse autor.
De acordo com Ackerman, a obtenção de dados seguros para um diagnóstico
familiar eficaz é uma dificuldade, sendo a visita domiciliar um valioso
instrumento para explorar os problemas de saúde mental da família e
relacionar comportamentos individuais e grupais.
A visita tem a função de observar padrões de interação, adaptação ao papel
familiar e clima emocional da casa, contribuindo para avaliar a identidade
psicossocial da família. Essa abordagem deve ser integrada a outras
informações.
Ackerman sugere que a visita pode ser feita sem conhecimento prévio do
problema, buscando neutralidade emocional. Ele propõe que a visita seja
informal, durando de duas a três horas, e que o profissional faça um relatório
de memória para preservar a espontaneidade.
O visitante pode ser percebido como aliado, excluído ou catalisador de
interações familiares, gerando reações interessantes por parte da família.
No contexto do psicodiagnóstico do autor, a visita domiciliar tem objetivos
distintos das abordagens anteriores, e sua forma foi modificada ao longo do
tempo. Inicialmente, a visita buscava ampliar a compreensão das relações
familiares no diagnóstico fenomenológico-existencial.
O autor relata sua experiência inicial como estudante, onde a visita domiciliar
visava entender as relações familiares. Ele questionava a diferença entre a
visita e a entrevista familiar, assim como a necessidade de ir à casa do cliente
em vez de chamar a família para sessões.
Segundo o autor, a proposta inicial levanta questionamentos sobre a visita
domiciliar no psicodiagnóstico familiar, não apenas para conhecer os membros
ausentes da família, mas para entender o ambiente e o modo de vida da
criança.
O autor menciona que as explicações temporariamente acalmavam suas
dúvidas, mas novas questões continuavam surgindo, levando a novos
esclarecimentos sobre essa abordagem diferente de entrar em contato com a
criança.
Após entrevistas iniciais e sessões com a criança, as visitas eram agendadas
com os pais, com horários conhecidos por todos e acordados no contrato,
sendo a visita domiciliar realizada com a presença da maioria dos familiares.
O autor destaca que a visita só ocorria com consentimento da criança e dos
pais, não sendo obrigatória e realizada quando poderia confirmar ou adicionar
informações às hipóteses do psicodiagnóstico.
Para a visita, o autor recebia orientações, incluindo permanecer na casa por
uma hora, observar membros da família e interações, focar em aspectos
importantes da casa e evitar intervenções.
O autor não questionava a orientação de não fazer intervenções durante a
visita, possivelmente devido ao foco na observação e ao receio de atuação
inapropriada.
O autor enfatiza orientações éticas e a sensação de abrigo no setting
terapêutico, apesar da falta de experiência como estagiário em uma atividade
incomum na prática psicológica.
Apesar das recomendações para observar aspectos da casa, o autor priorizava
a observação das dinâmicas e relações familiares durante a visita.
O autor compartilha que, às vezes, tinha tempo livre durante a visita e vagava o
olhar, registrando detalhes sem reconhecer sua importância devido à falta de
direção específica.
Segundo o autor, a proposta inicial levanta questionamentos sobre a visita
domiciliar no psicodiagnóstico familiar, não apenas para conhecer os membros
ausentes da família, mas para entender o ambiente e o modo de vida da
criança.
O autor menciona que as explicações temporariamente acalmavam suas
dúvidas, mas novas questões continuavam surgindo, levando a novos
esclarecimentos sobre essa abordagem diferente de entrar em contato com a
criança.
Após entrevistas iniciais e sessões com a criança, as visitas eram agendadas
com os pais, com horários conhecidos por todos e acordados no contrato,
sendo a visita domiciliar realizada com a presença da maioria dos familiares.
O autor destaca que a visita só ocorria com consentimento da criança e dos
pais, não sendo obrigatória e realizada quando poderia confirmar ou adicionar
informações às hipóteses do psicodiagnóstico.
Para a visita, o autor recebia orientações, incluindo permanecer na casa por
uma hora, observar membros da família e interações, focar em aspectos
importantes da casa e evitar intervenções.
O autor não questionava a orientação de não fazer intervenções durante a
visita, possivelmente devido ao foco na observação e ao receio de atuação
inapropriada.
O autor enfatiza orientações éticas e a sensação de abrigo no setting
terapêutico, apesar da falta de experiência como estagiário em uma atividade
incomum na prática psicológica.
Apesar das recomendações para observar aspectos da casa, o autor priorizava
a observação das dinâmicas e relações familiares durante a visita.
O autor compartilha que, às vezes, tinha tempo livre durante a visita e vagava o
olhar, registrando detalhes sem reconhecer sua importância devido à falta de
direção específica.
O autor menciona que nas devolutivas, os aspectos da casa aparecem, mas
ficam secundários. No entanto, algumas visitas passaram a ser reveladoras,
captando detalhes que faziam sentido em relação à história contada pela
criança ou seus pais.
Para permitir ao leitor acompanhar, o autor conta histórias sem detalhar
procedimentos, análises ou conclusões dos psicodiagnósticos. Pais de um
menino de três anos relatam agressividade e dificuldade com limites devido à
falta de desejo inicial de ter filhos. Durante a visita domiciliar, a organização do
ambiente confirmou essa informação.
O apartamento pequeno era organizado, sem sinais de criança. Entre os sofás,
havia enfeites de cristal e porta-retratos do casal e do menino, evidenciando a
ausência de desordem. Era difícil lembrar que ali vivia uma criança de três
anos.
Havia dois quartos: um do casal e outro adaptado como escritório para o filho,
com livros de pedagogia da mãe e direito do pai. O ambiente, com organização
e móveis claros, causava estranheza em relação à queixa de agressividade e
falta de limites.
No apartamento organizado para um casal, o autor observa que a fala dos pais
sobre a falta de espaço interno para um filho é corroborada. O quarto-escritório
do menino revela a entrada dele na dinâmica profissional dos pais,
evidenciando que sua presença compartilha espaço com a carreira deles, o
que leva o autor a entender sua agressividade como reação.
Outra história envolve uma menina de sete anos encaminhada pela escola por
apatia e dificuldades de relacionamento. Os pais acreditam que fazem de tudo
para agradá-la, mas ela parece não se satisfazer. Ela demonstra medo de sair
de casa sem os pais e a sessão da anamnese revela que a mãe compartilha
seu medo de morrer e deixá-la desamparada, resultando em uma relação
intensa.
As sessões lúdicas e a visita domiciliar confirmam a tristeza da menina. A casa
é simples, localizada nos fundos da casa da avó paterna. Durante a visita, o
autor conhece os quartos dos pais e da menina, este último pequeno e com
uma cama de casal.
Segundo o autor, ao entrar no quarto, surpreende-se com um ambiente
colorido e repleto de brinquedos, contrastando com outros cômodos da casa e
sugerindo dois mundos distintos. O autor descreve a abundância e a vitalidade
no quarto da criança em contraste com a escassez e a falta em outros espaços
da casa, onde coexistem medo da morte e paradoxos.
O autor compartilha que as visitas domiciliares desses casos foram mágicas
para uma estagiária inexperiente, revelando histórias da casa e de seus
moradores. No entanto, essa prática levantou inquietações e questões sobre os
fenômenos observados. Mesmo após se formar, o autor continua utilizando
visitas domiciliares, mas modificou o procedimento original ao longo do tempo.
O autor passou a considerar as visitas domiciliares como parte integral do
processo psicodiagnóstico. Do ponto de vista do autor, entender a criança
dentro das relações familiares é fundamental, e estratégias como visitas
domiciliares enriquecem essa compreensão. O autor acredita que a visita
domiciliar vai além de uma simples técnica, podendo ser um momento
interventivo e favorável para um diagnóstico consistente.
Segundo o autor, a visita domiciliar é agendada após entrevistas iniciais e
consentimento da família, mas em caso de recusa, os aspectos observados
não são substituídos por relatos. O autor sugere que a visita seja marcada
após conhecer a história da criança e estabelecer um vínculo significativo.
O autor observa que a escolha do momento para a visita deve equilibrar a
confiabilidade com a profissionalidade, evitando a ideia de investigação. A
presença de um "estranho" na casa é considerada relevante para entender a
dinâmica familiar. O tempo da visita não é fixo e seu término depende da
avaliação do profissional sobre a compreensão diagnóstica.
De acordo com o autor, a decisão sobre a parte da casa visitada cabe à família,
facilitando a compreensão das relações familiares. O autor dispensa
questionários, preferindo observar o "clima emocional" do lar. A visita direta
possibilita entender as relações familiares em situações naturais e também
entrar em contato com o ambiente físico, revelando aspectos essenciais.
Segundo o autor, a visita domiciliar proporciona base para intervenções que
aumentam a compreensão das relações familiares e do ambiente físico. O
autor vê o psicólogo como um participante ativo, realizando intervenções
durante a visita com base nas situações apresentadas pelos clientes.
O autor afirma que a escolha entre intervenções na casa ou em sessões
depende da compreensão do psicólogo e da prontidão do paciente. A dinâmica
familiar e a recepção na casa indicam apropriadas intervenções. Estas podem
ser relacionadas a situações concretas na casa, impactando o cliente.
Uma nova história demonstra modificações na visita domiciliar. Generosa
busca ajuda psicológica para sua filha Sílvia, de 8 anos, após preocupações da
escola. A mãe descreve comportamentos de Sílvia que destoam das outras
crianças, como falar sobre beijos e curiosidade sobre o corpo oposto.
Generosa sente-se incomodada com a atitude da escola, alegando
perseguição. Nas entrevistas de anamnese, as informações correspondem ao
desenvolvimento infantil esperado, com exceção da curiosidade de Sílvia sobre
nascimentos. A mãe excede nas explicações, revelando detalhes não
questionados.
Segundo o autor, no primeiro encontro, Sílvia se assemelha à mãe,
apresentando-se de maneira adulta. Durante as sessões lúdicas, ela exibe
objetos femininos em sua bolsa e representa atividades de casal e domésticas.
Ela também coloca bonecos em posições sugestivas, revelando uma
compreensão sexualizada.
Esses comportamentos confirmam a queixa da escola. Generosa, no entanto,
não percebe a natureza sexual das brincadeiras. Na visita domiciliar, o autor é
recebido por Generosa e Sílvia em um apartamento bem cuidado e espaçoso.
A casa é predominantemente branca, com móveis clássicos e detalhes florais.
O quarto de Sílvia é tipicamente infantil, com bonecas e brinquedos,
principalmente na cor verde-água. Ela mostra entusiasmo em compartilhar o
quarto da mãe, que contém uma cama de água e equipamentos eletrônicos em
móveis de ferro preto e detalhes dourados. O quarto também possui espelhos
no teto e nas paredes.
Sílvia destaca uma banheira de hidromassagem redonda no banheiro,
considerando o ambiente como seu parque de diversões.
Segundo o autor, o pai Francisco entra no quarto e é cumprimentado.
Generosa justifica a presença no banheiro do casal. O autor é apresentado ao
marido, um homem alto e sério. Voltam ao quarto, Sílvia convida o autor a
sentar ao seu lado. Após insistência da mãe e filha, o autor senta-se
constrangido na beirada da cama. Observa filmes inadequados entre as fitas
de vídeo. Sílvia balança-se no colchão enquanto o pai está de pé e a mãe
sentada.
Generosa oferece suco e bolo. Francisco insiste para irem à sala de visitas. Pai
e filha saem na frente, e a mãe leva o autor ao escritório. A mãe comenta sobre
Sílvia ser "bobinha". O autor intercede, apontando um ambiente inadequado no
quarto que influencia o comportamento da filha. Menciona as fitas de vídeo, e a
mãe confirma que são inadequadas, mas Sílvia não as assiste. Insiste na
possibilidade de acesso e da menina testemunhar atividades do casal. A mãe
nega, mas pergunta sobre correlações com o casal. O autor concorda.
Sílvia interrompe para comer bolo na sala. O autor promete retomar o assunto
na próxima sessão e convida o pai. Brinca com Sílvia no quarto antes de
encerrar a visita. A queixa da escola se confirma nas sessões lúdicas, com
produções de Sílvia explicitando o conteúdo. O desafio é a mãe não enxergar
isso. A visita revela um jogo de aparências na família, partes acessíveis versus
ocultas da casa, com a sexualidade permeando o ambiente de Sílvia. Seu
movimento no colchão, somado ao ambiente inadequado, é familiar à família.
Segundo o autor, na família, pai e mãe personificam contrastes: o pai como
figura sóbria e a mãe com certa licenciosidade. Tais papéis se misturam ao
cumprimentarem o pai com beijos adultos. O “parque de diversão” de Sílvia é
adulto, não infantil.
O autor destaca a reveladora dimensão do espaço físico na experiência
profissional. Espaços familiares são subestimados, perdendo complexidade. A
casa é transformada em lugar, carregado de sentido relacional e histórico.
Organiza-se a vida nos espaços, atribuindo significados.
Hertzberger (1996) expõe que objetos têm funções e competências de abrigar
significados. A arquitetura revela o invisível. O visível é marca de uma
operação esquecida. A dimensão simbólica da casa abrange sentimentos,
ritmos e redes de significado.
Os espaços cotidianos são moldados pela imagem interna de cada indivíduo. A
subjetividade projeta-se no espaço, gerando associações e similaridades entre
o mundo interno e o espaço externo.
Segundo o autor, a história é contada nos movimentos dos habitantes e na
relação entre homens e casas. Os espaços acumulam recordações autênticas
e possuem odores próprios. As casas também moldam e produzem os
indivíduos, assim como estes as produzem.
O autor propõe uma análise ampla das casas, considerando percepções
visuais, auditivas e sensoriais. A organização racional do espaço revela
histórias singulares dos moradores, refletindo sua subjetividade. O ambiente
externo e interno se comunica constantemente.
Mesmo ao receber visitas, segundo o autor, expressamos nossa dinâmica
pessoal ou familiar. A preparação para receber visitas reflete preocupação com
a aparência, mas marcas do cotidiano permanecem, revelando o modo de ser
dos habitantes. A maneira de receber o outro na casa espelha como o
recebemos internamente.

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