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FACULDADE CAPIXABA DA SERRA

NAYANE VIEIRA OLIVEIRA

UMA COMPREENSÃO DA PERSONALIDADE E DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

SERRA - ES
2023
NAYANE VIEIRA OLIVEIRA

UMA COMPREENSÃO DA PERSONALIDADE E DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Trabalho apresentado á disciplina Psicologia


da Personalidade do Curso de Graduação
Psicologia da Faculdade Capixaba da Serra,
como requisito para avaliação.
Orientador: Profº. Me. Antônio Martins Vitor
Júnior

SERRA - ES
2023
UMA COMPREENSÃO DA PERSONALIDADE E DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Para iniciar essa leitura, compreenda a dinâmica utilizada: não se trata de um


relatório a respeito de um estudo de caso, nem de um artigo científico, mas de uma
conversa entre alunos do curso de Psicologia que surgiu na sala de aula da matéria
de Avaliação Psicológica. Não terão nomes citados ou falas marcadas, será algo
mais copilado e a conversa foi válida para pensar a Psicologia como profissão e
onde aplicaria a disciplina supracitada. O início parece um pouco sem sentido, mas
é como geralmente as conversas fluíam e sempre utilizando autores para justificar
suas indagações. Tenha uma ótima leitura.

Personalidade. Algo imutável. É o que o senso comum espalha por aí. Diria,
pois, que a compreensão dessa “personalidade” é como a tal da “síndrome de
Gabriela”: “eu nasci assim, vou viver assim, vou morrer assim”. No entanto ao que
tange o ser humano como ser humano é sua possibilidade constante de mudança e
adaptação, não seria á toa que aquilo que possui em si é algo subjetivo e não
concreto. Logo, percebe-se que no movimento que tece a vida, suas nuances
formam e desformam quem é. Coimbra e Leitão (2003, p. 9) vão dizer que ele é
produzido e produtor, nunca pensado como algo acabado, mas em constante
movimento e, assim, com ilimitadas possibilidades de ser. E isso atrai a curiosidade,
afinal se o ser humano está em constante formação, o que é que o forma e o torna
como é? Mas em contrapartida, será que ele realmente é ou está? Visto que agora
pode não ser mais o que era ou não está mais como estava. Mas é necessário
compreender que se há um ponto de partida, há também para onde voltar. A
psicologia vai dizer algo sobre a ancoragem, e ela só é possível se de fato existir
onde ancorar, e aqui não se fala sobre memória. Se nada é e o tempo todo está,
como confiar? Como sentir-se seguro em algo que não permanece? Ou ainda, como
conhecer e reconhecer a si próprio se não é? A subjetividade dos indivíduos parte
do desenvolvimento do pensamento humano e da individualidade de consciência
buscando fundamentos ou essências que visam caracterizar e diferenciar as
pessoas. A individualidade da subjetividade permite cada um ser um. No entanto, a
subjetividade é formada a partir de algo. Observe o que Guattari (apoud Moraes et
al.) vai dizer sobre a subjetividade: “está alinhada na perspectiva de que o sujeito é
historicamente constituído por meio de suas relações sociais, portanto, sua
construção está vinculada aos contextos sociais, culturais, econômicos e políticos
em que se insere”.
Talvez esse trecho acima não faça sentido, mas são comuns alguns
questionamentos desse nível quando se trata de alunos de Psicologia e acredita ser
necessário citar referências para atribuir autoridade ao que está sendo dito. É
interessante pensar nessas indagações como possíveis maneiras de realizar trocas
com os colegas e até mesmo impulsionar pesquisas. Geralmente é dessa forma que
começam os grandes estudos e descobertas. Com a conversa não foi diferente,
pensar como seria o Psicólogo já atuando, lidando diretamente com as
subjetividades e personalidades que possuem em cada indivíduo.
Acompanhando o pensamento dos alunos, é pode-se compreender que as origens
do termo subjetividade, por exemplo, partem do desenvolver da consciência
individual do pensamento humano, a fim de buscar o que caracteriza e diferencia os
indivíduos. Tal como a personalidade, que segundo Schultz e Schultz (2021) é o
estado de ser uma pessoa, suas características e qualidades, além de todas as
carcteríctas físicas, mentais, emocionais e sociais de uma pessoa. É interessante
pensar que poderia ser a mesma coisa que subjetividade, no entanto, é melhor
pensar que a subjetividade compõe a personalidade, por exemplo, somada á
objetividade. Além do indivíduo em si, também engloba o ambiente ao qual está
inserido, tal como sua cultura, convívio social e etc. A personalidade de um indivíduo
pode ser descrita por inúmeros adjetivos, e isso não é feito de forma aleatória, é
necessário ser alguém que compreende e saiba o que está fazendo. O psicólogo
pode fazer uso da Avaliação Psicológica, observe:

Definimos avaliação psicológica como a coleta e a integração de dados


relacionados á psicologia com a finalidade de fazer uma estimação
psicológica, que é realizada por meio de instrumentos como teste,
entrevistas, estudos de caso, observação comportamental e aparatos e
procedimentos de medida especialmente projetados (COHEN, 2014, p.31).

Basicamente, é utilizada para responder questionamentos feitos


anteriormente á avaliação, auxiliar a resolver problemas, ou tomadas de decisões
por meio de instrumentos de avaliação. A avaliação geralmente é um processo que
o individuo é observado no todo, e não somente os resultados. O psicólogo pode ser
um avaliados psicológico e utilizar dos mais diversos instrumentos dessa área para
contribuir com outros profissionais das áreas escolares, sociais, jurídicas,
hospitalares, parentais e organizacionais.
Para uma melhor compreensão do funcionamento da avaliação psicológica observe
um caso clínico fictício com base na realidade pós pandemia:

Caso clínico fictício


Francisca Figueiredo, 42 anos, mãe de Joana Figueiredo, 09 anos, entra em contato
por telefone para marcar uma sessão. No telefone informa que a escola sugeriu a
busca pelo psicólogo. Assim, é marcada a primeira sessão somente com a mãe, e
nela é realizada a anamnese que será visto a seguir.

Joana nascida em 28/06/2012, estudante do 4º ano do Ensino Fundamental no turno


vespertino de um colégio particular, sendo destra, mas que realiza algumas
atividades com a mão esquerda, foi trazida pela mãe para avaliação devido à queixa
de falta de atenção, dificuldade de aprendizado, notas baixas, medo de morrer, meio
triste e ansiosa. Em 2020 foi estudante de escola pública e com a pandemia, não
teve muitas aulas presenciais e pouco suporte, com isso foi transferida para escola
particular. Também devido a pandemia, perdeu o contato com os amigos e alguns
familiares. Depois de um ano sem reunir a família paterna, no segundo semestre de
2021, fizeram um almoço para comemorar o aniversário de sua avó. Uns quinze dias
depois, alguns do que estavam presentes, começaram a se sentir mal e ser
encaminhados para o hospital. Joana teve 3 tios, sua avó e seu pai internados na
UTI. Dois tios, depois de uma semana internados tiveram alta. Infelizmente um não
sobreviveu. Sua avó ficou um mês internada e depois faleceu. Seu pai ficou três
meses internado e teve alta, no entanto, foi necessária uma equipe multiprofissional
para ter cuidados em casa. Em todos esses momentos, Joana ficava sozinha em
casa depois que voltava da escola até a hora de dormir, pois sua mãe quase todos
os dias ia ao hospital. Diante disso, no retorno das aulas presenciais em 2022,
Joana estava muito temerosa em sair de casa e ir pra escola, estava com medo, em
alguns dias ela chegou a fazer xixi na roupa, também e se sentia triste, chorava sem
motivo aparente, principalmente quando o pai não estava em casa. Na escola, em
dias de prova, ela ruía muito as unhas a ponto de colocar curativo nos dedos. Não
era muito de conversar, em momentos de fala do professor ela sempre no primeiro
bimestre suas notas foram baixas, sendo necessário o comparecimento dos pais na
escola para entender o motivo. Depois de conversarem, a pedagoga sugeriu que
procurassem um psicólogo para compreender o que estava acontecendo com Joana
e se ela estava desenvolvendo algum tipo de transtorno ou déficit.

Em seguida, Joana entra na sala para ser ouvida também. Ela não falou muito,
estava um pouco retraída, mas quando falou algo foi em relação á escola. Ela disse
não fazer sentido ir a escola já que não tem tirado notas boas e que lá é um local de
risco para ela, pois tem muita gente. Disse ter ficado muito triste por sua avó ter
morrido e muito feliz por seu pai estar em casa.

Com tudo o que foi dito pela mãe, foi dito por Joana e os comportamentos
apresentados por ela, foi decidido realizar o seguinte:

Plano de Intervenção
1. Protocolo de Avaliação Psicodiagnóstica: uma série de escalas, testes
projetivos e psicométricos para avaliar atenção, ansiedade, habilidade
grafomotoras, nível de desempenho escolar, entre outros;
2. Ida ao ambiente escolar para observar;
3. Resultados e possíveis encaminhamentos.

1. Protocolo de Avaliação Psicodiagnóstica


Para avaliação dos aspectos clínicos sintomatológicos, afetivos e comportamentais,
foram utilizados os seguintes instrumentos:
 Escala de Transtornos Relacionados à Ansiedade Infantil (SCARED) –
Versões para Crianças: mede o nível de ansiedade e as características
sintomatológicas de acordo com transtornos específicos de ansiedade;
 Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) – escala de auto-relato para
medir a ansiedade;
 Checklist Critérios Diagnósticos de Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade (TDAH) – DSM-5 – verifica um padrão persistente de
desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento
e no desenvolvimento (aplicada aos pais);
 Bateria Psicológica para Avaliação de Atenção (BPA): avalia a Atenção
Concentrada, Atenção Dividida, Atenção Alternada e Atenção Geral;
 Figuras Complexas de Rey – Figura A: avalia planejamento, habilidades
grafomotoras para cópia, função visuoconstrutiva, visuopercepção e
capacidade de memorização visual e reprodução imediata;
 Técnica Projetiva de Desenho (HTP): fornece informações, quando
relacionadas à entrevista e a outros instrumentos de avaliação, sobre conflitos
e interesses gerais do indivíduo;
 Teste de Desempenho Escolar (TDE II): avalia o nível de aprendizagem e
desempenho escolar da escrita, aritmética e da leitura.

2. Ida ao Ambiente Escolar


De forma discreta e sutil, observar os comportamentos da Joana naquele ambiente.
Como lida com os colegas, como lida com os professores, as matérias, provas e
ambiente com muitas pessoas. Conversar com professores e pedagogos a respeito
dela para compreender a forma como eles a percebem ali, se realmente não está
conseguindo associar a matéria aprendida com os exercícios que precisa fazer,
como estão as notas, se houve queda e etc.

3. Resultados e Possíveis Encaminhamentos


Após aplicação, correção e interpretação dos testes e escalas, observar os
resultados obtidos e aferi-los com o que foi observado na escola e constatado nas
sessões com Joana em cada aplicação. De forma que tais resultados auxiliarão na
definição dos encaminhamentos. Os encaminhamentos permitem direcionar Joana
para cada profissional necessário para atuar diretamente com alguma questão
percebida nas sessões. Por exemplo, os possíveis encaminhamentos da Joana
serão: psicoterapia infantil individual associada a psicoterapia infantil em grupo para
aumentar a socialização e acompanhamento psicopedagógico para auxiliá-la nas
questões educacionais de aprendizagem. Tais profissionais assistirão nesse
ajustamento da Joana. Garantindo que seu bem-estar seja preservado.

Conclusão do Caso Clínico Fictício


Dessa forma percebe-se que a pandemia reflete nas mais diversas situações e
dentro das escolas não têm sido diferente. Joana é apenas uma das crianças que
tem sofrido em silêncio o resultado do isolamento social, das perdas, do afastamento
de ambientes, das dificuldades de aprendizagem e mais centenas de questões que
tendem a aparecer no decorrer dos anos, que teve sua dificuldade observada e
acudida. Muitas crianças não tiveram ou terão essa oportunidade. Assim, é
necessário que haja um acolhimento maior por parte da família e da escola.
Todo esse processo de avaliação é chamado de psicodiagnóstico, um
processo científico, com objetivos que dependem das intenções de quem
encaminhou tal indivíduo.
O psicodiagnóstico é um processo, desencadeado quase sempre em vista
de um encaminhamento, que tem início numa consulta, a partir do qual se
delineiam os passos do exame, que constitui uma das rotinas do psicólogo
clínico. Entretanto, tal tipo de avaliação decorre da existência de um
problema prévio, que o psicólogo deve identificar e avaliar, para poder
chegar a um diagnóstico. (CUNHA, 2011, p.32)

No caso fictício ocorreu entrevista, anamnese, indicação de testes


psicológicos, condução, além disso, se de fato fosse ocorresse, despenderia de
visitação e encaminhamentos, visto que muitas vezes, se faz necessário o auxílio de
outros profissionais. Assim, a forma como é conduzido o psicodiagnóstico deve
considerar o ambiente, meio social, se há ou não doenças, traumas ou questões
externas que antecederam a solicitação, além de perceber á vivência daquele
individuo. Remetendo ás questões supracitadas de subjetividade e personalidade,
que são conseqüências de sua vivência também. Alguns testes psicológicos, por
exemplo, possuem validade, visto que o indivíduo pode sofrer alterações psíquicas,
emocionais, físicas e ambientais, que interferirão diretamente nas queixas, condutas
e nos resultados. O ser humano é único, possui uma infinidade em si. Ao psicólogo
fica a função de corroborar com seu bem-estar.
REFERÊNCIAS
BOCK, Ana Mercês B.; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes T.
Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Editora
Saraiva, 2018. E-book. ISBN 9788553131327. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553131327/. Acesso em: 16
abr. 2023.

COIMBRA, C.; Leitão, M. B. Das essências às multiplicidades: especialismo psi


e produções de subjetividades. Rio de Janeiro. Universidade Federal Fluminense,
2003.

COHEN, Ronald J.; SWERDLIK, Mark E.; STURMAN, Edward D. Testagem e


avaliação psicológica. Porto Alegre: Grupo A, 2014. E-book. ISBN
9788580554106. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788580554106/. Acesso em: 13
abr. 2023.

CUNHA, Jurema A. Psicodiagnóstico V. Porto Alegre: Grupo A, 2011. E-


book. ISBN 9788536307787. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788536307787/. Acesso em: 10
mai. 2023.

MORAES, Aline Freire de O.; NASCIMENTO, João Paulo de B.; SILVA, Isabel
Cristina. Relações de Trabalho, Subjetividade e Objetividade: uma reflexão
teórica acerca dessas três instâncias no contexto organizacional. Disponível
em:
https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos09/261_261_artigo_Subjetividade_enviad
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MORENO, Bruno S.; SOUZA, Alberto C. Barbosa de; GRYSCHEK, Christine; et al.
Teoria da personalidade. Porto Alegre: Grupo A, 2022. E-book. ISBN
9786556903309. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786556903309/. Acesso em: 15
mai. 2023

SCHULTZ, Duane P.; SCHULTZ, Sydney E. Teorias da personalidade. São Paulo


Cengage Learning Brasil, 2021. E-book. ISBN 9786555583946. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555583946/. Acesso em: 15
abr. 2023.

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