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PUC-SP
SÃO PAULO
2012
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
São Paulo
2012
Ana Letícia Esteves
Banca Examinadora:
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AGRADECIMENTOS
Aos meus pais pelo exemplo de vida, incentivo, apoio, compreensão e por não
pouparem esforços para prover a melhor formação possível.
À minha orientadora Profᵃ Drᵃ Ceres Alves de Araújo por ter acolhido e
acompanhado este trabalho e por sua serenidade e objetividade ao conduzir o
processo.
À Profᵃ Drᵃ Laura Villares de Freitas e à Profᵃ Drᵃ Noely Montes Moraes pela
disponibilidade e contribuições valiosas.
Aos professores do Núcleo de Estudos Junguianos, Profᵃ Drᵃ Liliana Liviano Wahba,
Prof. Dr. Durval Luiz de Faria e Profᵃ Drᵃ Denise Gimenez Ramos por partilharem
seus conhecimentos com competência e entusiasmo.
Às amigas Carolina, Renata, Rosana, Raquel por estarem sempre presentes nos
momentos mais importantes.
Ao meu avô Francisco (in memoriam) que com seu jeito tímido, reservado e
perspicaz influenciou quem eu sou e o meu apreço pela busca de conhecimento.
Agradeço ainda aos que torceram ou colaboraram para a realização deste trabalho.
“[...] A psicanálise está fora da moral tradicional; ela não precisa ater-se, em
princípio, a nenhum padrão moral em geral; ela é e deve ser um meio de dar vazão
às tendências individuais, desenvolvê-las e sintonizá-las, o mais possível, com a
personalidade global. [...] Já que a pessoa humana é constituída não só como
indivíduo, mas também como ser social, não podem estas duas tendências inerentes
à natureza humana ser separadas uma da outra, ou uma ser submetida à outra, sem
causar grande prejuízo à pessoa humana.
No melhor dos casos, o doente sai da análise como ele mesmo é, isto é, em
harmonia consigo mesmo, nem bom nem mau, mas como um ser natural. Se por
educação entendermos um meio que pretende, através da poda e do cerceamento,
transformar uma árvore numa bela forma artificial, então a psicanálise não é um
método educativo. Mas os que têm a concepção mais elevada de educação hão de
preferir aqueles métodos que entendem que, para se criar uma árvore, é preciso que
ela realize, da melhor forma possível, todas as condições de crescimento nela
colocadas pela natureza. [...]”
(JUNG, [1913b] 2011, p. 202–203)
RESUMO
Este estudo teve como objetivo fazer uma revisão da literatura sobre a timidez na
perspectiva da Psicologia Analítica. Neste processo, constatou-se que o tema é
pouco explorado na literatura junguiana. Adotou-se como concepção de timidez a
característica da personalidade que é marcada pelo medo ou receio das situações
sociais e dos outros, principalmente desconhecidos, por se temer um julgamento
negativo. Assim, deve ser configurada como objeto de estudo da psicologia à
medida que pode causar sofrimento e trazer dificuldades na vida de quem apresenta
este atributo. A partir da bibliografia levantada verificou-se a relação entre sombra e
persona com a vergonha. O papel da vergonha não está apenas em reprimir os
conteúdos, mas também em reconhecer e assimilar os conteúdos vergonhosos que
foram reprimidos ou projetados da sombra, o que é indispensável ao
autoconhecimento. A vergonha é a pronta reação à conscientização de que algo que
não se encaixa a imagem ideal de si mesmo, desvelou-se por trás da máscara.
Enquanto o indivíduo busca a perfeição e uma boa imagem de si mesmo, exclui tudo
o que é sombrio, bloqueando o processo de individuação, que tem como premissa
integrar também o que é sombrio e imperfeito. No livro ‘Memórias, sonhos, reflexões’
a palavra timidez foi utilizada para denotar o que Jung sentiu quando se ‘deparou’
pela primeira vez com a anima, entendida como o desconhecido e inconsciente. A
aproximação a estes conteúdos inconscientes é capaz de gerar medo e resistência,
sentimentos que estão em concordância com a concepção de timidez. Entretanto,
estes conteúdos ao serem integrados à consciência promovem o crescimento da
personalidade. Os trabalhos de Aron relacionaram a timidez ao objeto de seu
estudo, que era a ‘alta sensibilidade’ na perspectiva da Psicologia Analítica.
Indivíduos ‘altamente sensíveis’ desenvolvem timidez mais facilmente por
vivenciarem o mesmo ambiente desfavorável de modo mais negativo, isto porque
processam todas as experiências mais profundamente. A busca de recursos internos
para enfrentar o medo do outro, do que é desconhecido, será benéfica tanto para
superar a timidez, como para se abrir para novas possibilidades. É a psicodinâmica
entre o eu e o outro que promove o crescimento.
This study aimed to review the literature on shyness in the perspective of Analytical
Psychology. In this process, it was found that this subject is scarcely studied in
jungian literature. The shyness’s concept adopted was the personality characteristic
that is marked by fear of social situations and other people, especially strangers,
because the fear of a negative judgment. Thus, it must be configured as an object of
study of psychology as it can cause pain and difficulties in one’s life that has this
attribute. From the bibliography it was found that there was a relationship between
shadow and persona with shame. The role of shame is not only to suppress the
contents but also to recognize and assimilate these shameful contents that were
repressed or projected, which is essential to self-knowledge. Shame is the prompt
reaction to the realization that something that does not fit the ideal image of oneself
unveiled behind the mask. The individual quest for perfection and a good image of
oneself, excludes all that is dark, blocking the process of individuation, which it is
premised also integrate what is dark and imperfect. In the book 'Memories, Dreams,
Reflections' shyness was the word used to denote what Jung felt when he
'encountered' for the first time with the anima, understood as the unknown and
unconscious. The approach to these unconscious contents can generate fear and
resistance, feelings that are in agreement with the conception of shyness. However,
as these contents have been integrated in conscious it can promote personality
growth. The work of Aron relates the shyness to the object of their study, which was
the 'high sensitivity' from the perspective of Analytical Psychology. 'Highly sensitive'
individuals develop shyness more easily as they experience the same unfavorable
environment in a more negative way. The search for internal resources to address
the fear of the other, that is unknown, will be beneficial both to overcome shyness
and to be open up to new possibilities. It is the psychodynamics between self and
other that promotes growth.
1 Introdução ........................................................................................................... 10
2 Objetivo............................................................................................................... 16
3 Método ................................................................................................................ 17
4.2 Origens......................................................................................................... 22
5.2 Timidez e suas emoções sob o ponto de vista da Psicologia Analítica ........ 66
5.2.1 Inibição...................................................................................................... 66
1 Introdução
quanto a sensibilidade à timidez entre os que avaliam quem é ou não tímido, que
devem ser levadas em conta, além de rotular prontamente de tímida outra pessoa.
Para Zimbardo (2002), a importância de definir melhor as situações que
geram timidez está em facilitar a busca de sugestões específicas para ajudar os
tímidos a superá-la e, desta forma, também avaliar os resultados obtidos ao colocá-
las em prática.
Giovanna Axia, psicóloga e professora de Psicologia da Idade Evolutiva da
Universidade de Pádua, na Itália, entende a importância de estudar a timidez, mas
pondera também que se deve ter cuidado na definição da mesma. Porém, apresenta
uma concepção menos social e mais biológica para o fenômeno.
Axia afirma que “a timidez despertou o interesse dos pesquisadores que se
ocupam dos fundamentos biológicos do comportamento humano, e foi
especialmente sobre a timidez, nos últimos dez anos, que aprendemos muitas
coisas novas.” (AXIA, 2003, p. 7)
Esta autora considera a timidez “um dos temas mais fascinantes e de
interesse recente que se afirmaram na pesquisa científica dos últimos anos.”
Contudo, preocupa-se com as suas classificações clínicas. Entre psiquiatras e
psicólogos a timidez é compreendida como uma condição psicológica muito
complexa; seus efeitos podem variar de uma sensação de desconforto comum, de
um medo irracional de outras pessoas em determinadas situações sociais e até
mesmo a sofrimentos psíquicos graves, como os ataques de pânico, que vêm
acompanhados do pavor de morrer. (AXIA, 2003, p. 12)
Esta concepção postula a timidez como uma característica psíquica que fica
no limiar entre um traço aceitável do caráter e a patologia. Assim, coloca-se a
timidez, de um lado, como condição humana universal devido à frequência com que
ocorre, a presença em diversas situações, bem como sua compatibilidade com uma
vida normal. Por outro lado, é também analisada como uma deficiência, um “sinal de
algo que não funciona na psique individual, uma condição patológica que provoca
desconforto e sofrimento.” No entanto, esta perspectiva, ao ser aceita, dificulta a
compreensão de determinada condição psicológica como timidez. (AXIA, 2003, p.
13)
Axia (2003, p. 53), ao iniciar o capítulo sobre as emoções associadas à
timidez, apresenta a origem etimológica da palavra; de forma que o termo timidez
“deriva do latim timiditas, que possui a mesma raiz de timor. Timor significa medo e
14
É claro que a timidez deve ser uma resposta humana perfeitamente natural
a uma ampla variedade de encontros sociais. No entanto, a timidez
permanece como um obstáculo ao sucesso para muitos adultos. Para 3 a
13% dos adultos tímidos, a timidez é uma condição debilitante que causa
reações de extrema ansiedade que interferem em suas vidas. Para os
outros – a maioria – a timidez é mais moderada. No entanto, quando não a
confrontamos diretamente, mesmo a timidez moderada pode nos deter e
impedir a realização de nossos objetivos. (CARDUCCI, 2012, p. 18)
2 Objetivo
O estudo tem como objetivo fazer uma revisão da literatura sobre a timidez na
perspectiva da Psicologia Analítica.
17
3 Método
Esta pesquisa caracteriza-se por um estudo teórico e tem como objetivo fazer
uma revisão da literatura sobre a timidez na perspectiva da Psicologia Analítica.
Para viabilizar este trabalho consultaram-se as principais revistas de publicação
científica em Psicologia Analítica, bem como livros, teses e dissertações da
biblioteca da PUC-SP, USP, Instituto Sedes Sapientiae, Portal Domínio Público da
CAPES e demais bibliotecas de psicologia que se teve acesso em São Paulo.
Para a consulta dos artigos foi definido um corte temporal, com uma remissão
limitada há dez anos; para as demais publicações, este corte não foi realizado, de
forma a abranger tanto obras de autores junguianos mais recentes, como autores
junguianos clássicos que publicaram livros importantes anteriormente.
Os artigos pesquisados foram relacionados em uma tabela. Foram agrupados
primeiro pela revista e depois pela palavra-chave utilizada na busca. Apresentou-se
em seguida, o título, o autor, o ano de publicação, volume, palavras-chave do artigo,
o resumo e o status, se foram ou não selecionados. Este material é apresentado
como anexo.
Em paralelo, devido à dificuldade em encontrar pesquisas sobre a timidez no
referencial teórico junguiano, iniciou-se uma busca mais abrangente, ampliando-a
com outras palavras-chave: inibição, vergonha, medo dos outros, embaraço,
ansiedade social, fobia social, introversão – que são apontadas pelos que estudam a
timidez como emoções ou expressões da mesma – nas bases de dados da
Psicologia Analítica.
A quantidade de artigos encontrados, como os que foram selecionados, é
apresentada no início do capítulo de resultados. Foram relacionados por revista e
discriminou-se este número de artigos por palavra-chave. Segue-se, então, com a
discussão dos conteúdos encontrados sobre timidez na Psicologia Analítica.
18
4.1 Definições
[...] os tímidos são pessoas emotivas que vivem com grande intensidade as
emoções de base, como o medo e a raiva. São pessoas vulneráveis, que
percebem com mais força as emoções ligadas aos fracassos sociais, como
o embaraço e a vergonha. Os tímidos, parece, têm uma vida interior mais
atormentada do que os não tímidos, e até seu corpo, seu equilíbrio físico,
altera-se com maior facilidade. [...] A ideia central da discussão que se
segue é de que a timidez seja o resultado de um forte processo de inibição.
expressar muda de pessoa para pessoa de acordo com a história de vida, não há
uma única categoria de tímidos, são muito diversos, isto porque a timidez se
manifesta de diferentes maneiras. Independente da origem da timidez ou de como
se expressa, a consequência é a mesma: bloqueio e dificuldades relacionadas à
expressão de si mesmo, envolvendo ou não uma plateia. A timidez está pautada nos
sentimentos, nas atitudes e nos comportamentos de menos valia e em uma
percepção de si negativa.
O tímido teme se posicionar e confrontar os outros, não explicita suas
necessidades e desejos e deixa de impor limites, não responde a agressões e não
se coloca. Acaba se isolando, magoado, e se fecha sem expressar o que
verdadeiramente sente, causando dificuldades nos relacionamentos. Ao se focar na
sua crença de inferioridade, não vê nem a si mesmo nem o outro de forma objetiva,
não consegue se colocar no lugar do outro, por percebê-lo de forma distorcida. Para
que seja possível o aprofundamento nas relações, o tímido precisa superar os
sentimentos de menos valia, pois corre o risco de não se colocar disponível ao outro,
acreditando que não tem nada a oferecer. Transmite todo o tempo mensagens
subliminares de afastamento, por medo de aproximar-se; sente-se excluído, mas é
ele que rejeita quem se aproxima dele. (MASCARENHAS, 2007)
Na concepção acima, a timidez é resultado da baixa autoestima e está em
acordo com a visão de Zimbardo (2002), que afirma que os tímidos preferem se
sentir seguros em seu isolamento a arriscarem ser rejeitados. Acrescenta que
normalmente as pessoas erguem barreiras invisíveis à sua volta para definir seu
espaço íntimo. No entanto, os tímidos criam várias destas zonas amortecedoras,
que impedem os outros de se aproximarem demais. São essas barreiras que
determinam o quão disposto o tímido está para estabelecer um contato com o outro.
Carducci (2012) define a timidez como um processo dinâmico que quase todo
ser humano experimenta e que pode ser superada. Conforme seu entendimento, a
timidez, apesar de ser um traço de personalidade persistente da vida e muitas vezes
frustrante, não precisa limitar as escolhas, o sucesso ou a felicidade de quem a
experimenta.
Este autor nomeia de ‘gatilhos da timidez’, os fatores que desencadeiam a
mesma; apesar de nomear de forma diferente, esta concepção se aproxima das
definições dos outros que estudam a timidez, que colocam o medo como uma
emoção de base da mesma. Assim, os gatilhos seriam primeiro a novidade, segundo
22
4.2 Origens
1
Self nesta frase não está refletindo o conceito da Psicologia Analítica, e sim o sentido de si mesmo.
23
Axia (2003) afirma que além do medo de pessoas estranhas ser reconhecido
como o núcleo da timidez, esta emoção primária é também a ponte entre a biologia
e a psicologia da timidez, pois é a diversidade de reações biológicas e psicológicas
perante o medo que determina uma maior ou menor vulnerabilidade à timidez em
cada um.
Para Silva (2011) a origem da timidez é multifatorial, ou seja, inclui o
temperamento, que é a herança genética que determina a bioquímica cerebral e a
reatividade diante das coisas, e as vivências acumuladas durante toda a vida. A
timidez, então, desenvolve-se à medida que o indivíduo amadurece e é desafiado a
enfrentar novas circunstâncias. É em função desta natureza combinada (genética e
vivências) que alguns passam por fases de timidez e as superam e outros perdem a
esperança e se retraem de modo intenso, como resultado de grandes decepções ou
dificuldades constantes.
Apesar de declarar que sua visão sobre a timidez possui um enfoque
biológico, Axia (2003) também pondera que para abordar o tema de forma
consistente, deve-se considerar a existência de três elementos: o indivíduo, com
suas características hereditárias do temperamento, que favorecem a inibição; o
ambiente, que pode agravar, manter ou amenizar o problema, e os processos de
mediação entre o indivíduo e o ambiente, ou seja, a adaptação à cultura a qual ele
pertence.
fruto de um preconceito pessoal de quem o atribui, a uma criança que não o merece,
como resultado, qualquer explicação que se busque para o problema da timidez será
influenciada pelo rótulo, aceita-se tudo o que ele possa confirmar e tudo que possa
negá-lo é ignorado; e, ainda, ao demonstrar insensibilidade à timidez quando ela se
manifesta ou ao criar e perpetuar ambientes geradores de timidez.
Não é fácil determinar os fatores do ambiente familiar que mais contribuem
para a timidez, embora esta seja uma hipótese levantada. Mesmo que uma
experiência familiar tenha sido significativa nos primeiros anos de vida de uma
criança que se tornou tímida, os seus irmãos podem não ser afetados da mesma
forma. Portanto, a investigação deve ser aprofundada para prever com segurança a
influência da família e da escola no surgimento da timidez. Contudo, a timidez
apresenta características próprias em quatro aspectos: na imagem que a criança
tímida tem de si mesma, a ordem de nascimento da criança na família, a precisão
dos pais ao prever a timidez e a relação entre a timidez dos pais e dos filhos.
(ZIMBARDO, 2002)
Em alguns casos, a timidez pode ser provocada pela personalidade do pai ou
da mãe. A pesquisa da equipe de Zimbardo (2002) verificou que existe correlação
entre a timidez dos pais e a dos filhos, mas ao considerar os irmãos da criança
tímida no estudo, constataram que estes não eram. Assim, chegaram à possível
interpretação de que pais tímidos tendem a ter pelo menos um filho também tímido,
normalmente o primogênito, visto que os filhos mais novos não apresentam timidez
com tanta frequência devido à exigência dos pais ser menor em relação a eles.
Surge, então, a hipótese de que a imagem que cada criança tem de si mesma e o
reconhecimento de seu próprio valor pode ser influenciado pelo que os outros
esperam dela.
Zimbardo (2002) relata que, geralmente as mães, em comparação aos pais,
apresentam maior sensibilidade às nuances de sentimentos e ações dos seus filhos
e, portanto, conseguem detectar com mais precisão a existência de timidez. Os pais
tímidos também conseguem identificar com mais facilidade a timidez em seus filhos,
mas se enganam com mais frequência com relação aos filhos não tímidos. As mães
tímidas são as mais sensíveis à timidez de seus filhos e apontam com precisão
quando um filho é tímido e quando não é.
Os professores encontram dificuldade em perceber a timidez em seus alunos.
A previsão dos professores, na maioria dos casos, não tem correlação com a
26
descrição que os alunos fazem de si mesmos. Os alunos tímidos são, por vezes,
vistos como alunos agradavelmente passivos e, os que são reconhecidos como
tímidos, em sua maioria apresentam uma timidez patológica. Entretanto, professores
tímidos conseguem apontar mais casos de timidez entre seus alunos, ou seja, têm
mais consciência da existência deles. (ZIMBARDO, 2002)
Mascarenhas (2007) também pondera que as relações familiares representam
um papel importante no desenvolvimento da timidez, pois são as primeiras a imprimir
marcas nas crianças. Enquanto as relações saudáveis geram condições favoráveis à
autoestima de seus filhos, que adquirem a capacidade de exercer sua
individualidade sem receio, famílias rígidas e autocráticas criam ambientes hostis
que dificultam a expressão. Sem possibilidade de diálogo, as crianças crescem
assustadas e aprendem a se calar, aceitar sem questionar e a não partilhar seus
sentimentos. A autora cita ainda outros exemplos de relações familiares que
prejudicam a expressão das crianças, gerando timidez:
contração dos músculos para entrar em ação, produção dos hormônios do estresse,
respiração acelerada e sudorese. (AXIA, 2003; SILVA, 2011)
Axia (2003) afirma que o medo, antes de ser percebido conscientemente,
pode apresentar algumas fases de elaboração entre as seguintes áreas cerebrais:
sensoriais (surpresa), límbicas (incerteza), motoras (fisiologia do medo) e frontais,
quando a emoção do medo se torna consciente.
A elaboração e a gestão do medo e das demais emoções são processadas na
amígdala e no hipocampo, estruturas cerebrais que fazem parte do sistema límbico.
Desta forma, quando alguém se depara com qualquer situação, pessoa ou figura, a
informação sensorial é transmitida ao lóbulo cerebral e à área límbica,
principalmente à amígdala e ao hipocampo, que avaliam o significado emotivo desta
vivência e, então, determinam se esta agrada ou desagrada ou se deve ter medo ou
não. (AXIA, 2003)
Entretanto, a reação do medo, ou ‘luta ou fuga’ é desencadeada tanto por
estruturas do sistema nervoso central, onde o sistema límbico, responsável pelas
emoções, está incluído, como pelo sistema nervoso periférico, ou seja, nos nervos
localizados fora da estrutura cerebral e que se comunicam com os músculos e
órgãos viscerais. “Assim, o ‘corpo físico’ e o ‘cérebro emocional’ (sistema límbico)
são coativados ao mesmo tempo para fugir ou lutar: o primeiro pela adrenalina e o
segundo pela noradrenalina. Em termos de medo e ansiedade, o que ‘o corpo sofre
a mente sente’”. (SILVA, 2011, p. 174)
A adrenalina é secretada em resposta ao estresse pela porção central das
glândulas suprarrenais e é uma das fontes das várias manifestações da ‘reação do
medo’, como fazer o coração bater mais rápido e forte, além de estimular o locus
ceruleus, que é uma pequena região do tronco cerebral onde residem as células
cerebrais responsáveis por produzir a noradrenalina. E é o locus ceruleus que libera
a noradrenalina para a amígdala e para o hipocampo por meio de vias nervosas.
(SILVA, 2011)
Outro neurotransmissor também envolvido na resposta ao medo e à
ansiedade, além da noradrenalina e da adrenalina é o cortisol, um transmissor
neuroendócrino liberado pelas glândulas suprarrenais quando ativadas pelo
estresse. O cortisol, se produzido em quantidades adequadas e secretado no
momento apropriado, auxilia na adaptação às situações estressantes, regula o ciclo
sono-vigília, o estado de alerta e as funções imunológicas. No entanto, em excesso,
30
pode ser responsável por diversas disfunções no organismo como um todo, como:
aumento da pressão arterial, doenças cardíacas, enxaquecas, déficits de memória e
baixa imunidade. (SILVA, 2011)
A amígdala e o hipocampo, por serem estruturas com muitos receptores de
cortisol, também participam da regulação do estresse causado pelo medo e pela
ansiedade por meio da retroalimentação. Interferem, portanto, na produção
quantitativa do cortisol ao trocar mensagens com as glândulas suprarrenais.
Entretanto, apesar da amígdala e do hipocampo serem regiões cerebrais adjacentes
e complementares, desempenham papéis diferentes nos mecanismos da ansiedade,
do medo e do estresse. (SILVA, 2011)
Segundo Silva (2011), a amígdala está relacionada à reação instintiva, sem
pensar, em uma situação e, por isso, é considerada a ‘via rápida’ do sistema límbico.
O hipocampo é um pouco mais sofisticado que a amígdala, ainda que seja uma
estrutura relativamente primitiva como ela, e é tido como a ‘via lenta’, pois é o
responsável por associar contextos; ou seja, situações diversas entre si; perceber
estímulos, recuperar a memória. Com relação à regulação do cortisol, as duas
estruturas possuem funções contrárias, a amígdala estimula a liberação, enquanto o
hipocampo inibe. Silva (2011, p. 175) afirma que essas observações contribuem
para a compreensão das inter-relações entre memória, estresse e ansiedade:
comportamento e todo o interesse se dirige a esta situação nova, não por decisão
voluntária e, sim, por ser motivado emocionalmente. Ao se esforçar em compreender
este novo evento, o medo imprime atenção a ele ativando o sistema de inibição.
(AXIA, 2003)
Com relação à inibição das ações, Zimbardo (2002) afirma que a análise
obsessiva e introspectiva que o tímido faz de si mesmo é um fim em si, pois na
medida em que a energia necessária à ação é transferida para o ato de pensar, a
ação é inibida e passa para segundo plano. Ao invés de agir e tomar iniciativas, ele
se limita a reagir e a esperar.
A partir da observação do comportamento de crianças na sala de aula,
estudantes universitários em situações experimentais e dos pacientes atendidos na
clínica de timidez, Zimbardo (2002) chega a algumas conclusões, que podem ser
generalizadas para os demais tímidos: mostram-se relutantes em começar uma
conversa ou uma atividade, em apresentar novas ideias, oferecer-se como
‘voluntários’, fazer perguntas, bem como, em estruturar situações ambíguas; falam
menos do que os outros na maior parte das interações com seus colegas; permitem
com mais frequência que surja um silêncio e interrompem menos do que os
estudantes não tímidos; as situações permissivas sem estrutura definida, como por
exemplo, uma festa, criam problemas especiais para os tímidos, problemas que não
são tão evidentes quando existem linhas de conduta determinadas, como no caso
35
Axia (2003) elege três motivos pelos quais os tímidos tem dificuldade em
aceitar sua timidez. O primeiro está baseado em uma auto-observação realista, ou
seja, eles se esforçam para tentar reger sua constituição biológica que tende a reagir
automaticamente aos estímulos externos com intensidade. Neste sentido, ao se
compararem aos outros, os tímidos acreditam que existe algo errado com eles, pois
não deveriam enrubescer, suar ou sentir medo. E, por não entenderem que esse é o
modo como seu corpo está constituído, acham-se culpados e se envergonham.
38
Para Zimbardo (2002, p. 29–30) a timidez contribui, ainda, para que sejam
mais cautelosos: esperam, observam e depois agem, tornando-os mais seletivos ao
estabelecer relações com os outros. Outra vantagem que ele aponta é a capacidade
de ouvir os outros e também apresenta uma consequência de ser tímido que
considera interessante:
fazer algo para nos proteger. Leahy (2011) acredita que ao examinar de que forma a
ansiedade limita e controla a nossa vida, é possível compreender melhor como lidar
com ela. Quando entendemos como o medo atua, podemos trabalhá-lo de maneira
produtiva e reduzir a pressão que ele exerce sobre nós.
De acordo com Leahy (2011), agimos de acordo com um conjunto de ‘regras’,
já ultrapassadas, programadas pela evolução como uma forma de nos proteger de
riscos. Estes instintos nos levam a obedecer estas regras para nos manter a salvo.
Entretanto, segundo o autor, é necessário questionar e reescrever estas regras para
se libertar da ansiedade. Para isso, devem-se examinar as crenças irracionais em
que estas regras se baseiam, pois essas crenças, quando não são questionadas,
podem exercer uma influência oculta, mas poderosa, sobre os pensamentos e
comportamentos. Leahy (2011, p. 15) esclarece:
Leahy (2011) apresenta uma lista com quatro regras universais da ansiedade
e as crenças em que estão baseadas. A primeira é ‘detecte o perigo’, ou seja,
identificar o perigo o quanto antes para poder eliminá-lo ou escapar dele. Por
exemplo, “se você teme ser rejeitado pelos outros, será rápido em perceber quando
as pessoas começam a ficar carrancudas diante de você; expressões faciais
ambíguas parecerão hostis”. (LEAHY, 2011, p. 30)
A crença fundamental desta regra é que todos os perigos devem ser previstos
mesmo que não se materializem. Segundo esta crença, quanto mais perigos você
pensar, mais seguro e preparado estará para lidar com seus medos. Enquanto, na
verdade, ocorre o oposto, quanto mais pensa nos perigos, mais ansioso e
44
perturbado ficará. Para romper com esta regra é necessário ser realista, ou seja,
avaliar se a situação é de fato perigosa. (LEAHY, 2011)
‘Transforme o perigo em catástrofe’ é a segunda regra, em que o perigo é
interpretado automaticamente como um desastre. Ou seja, se alguém, em uma
reunião, por exemplo, não for simpático, você certamente achará que o problema é
com você. Esta regra apresenta duas crenças, a primeira é que qualquer que seja a
consequência negativa do perigo será intolerável e estará além de sua capacidade
de resistir a ela. (LEAHY, 2011)
A segunda crença é a de que todas as ameaças são iminentes e não há
tempo para avaliar se o perigo é genuíno e se materializará. Qualquer ameaça é
uma emergência, mesmo que esta seja distante e futura algo demanda lidar com ela
imediatamente. Enquanto o perigo não for evitado, não há descanso, não relaxa,
não presta atenção a outros assuntos nem aproveita situações prazerosas. Inclui-se
nesta crença o modo como são percebidos os pensamentos ansiosos, que se
tornam parte do perigo. A crença, neste caso, é a de que os pensamentos têm o
poder de prejudicar o indivíduo. Para mudar essa regra é preciso normalizar as
consequências, entender de maneira realista as probabilidades de alguma coisa
ruim acontecer em determinada situação e, se de fato o pior acontecesse, quais
seriam os resultados ruins. (LEAHY, 2011)
A terceira regra, segundo Leahy (2011), é ‘controle a situação’, na qual se
busca ter o controle de tudo o que está a sua volta visando dominar a ansiedade. A
crença relacionada a esta regra é a de que você é capaz de impedir que todas as
coisas ruins lhe aconteçam. E se você não as contiver lhe causarão problemas,
assim, sua segurança dependeria de sua capacidade de controlar todos os aspectos
de sua vida. Porém, além de ser impraticável ter o controle de tudo, a percepção
desta impossibilidade faz com que você se sinta ainda mais ansioso, aumentando os
esforços por controlar tudo. Como exemplo, Leahy (2011, p. 33–34) acrescenta:
Outra situação que pode predispor a criança à ansiedade são os pais que
apresentam fobias ou são supersticiosos, pois tendem a ensinar aos filhos que o
mundo é assustador e cheio de perigos e riscos, bem como os que são dominadores
e suprimem a capacidade de afirmação de suas crianças, por meio de punições.
Neste cenário, os filhos são punidos por falarem e expressarem seus sentimentos
com franqueza e acabam crescendo com receio de tomar iniciativa ou mostrar suas
verdadeiras convicções. (SILVA, 2011)
Entretanto, Silva (2011, p. 178) ressalta que nem todas as crianças expostas
a esses ambientes familiares estressantes desenvolvem transtornos de ansiedade.
“Muitas crescem em ambientes familiares muito difíceis, sem nunca terem
apresentado um quadro de ansiedade excessiva”. A tendência a desenvolver um
transtorno de ansiedade em um ambiente familiar estressante aumenta nas crianças
cuja reação de ‘luta ou fuga’ é deflagrada facilmente por situações perturbadoras ou
desconcertantes.
Os transtornos de ansiedade também podem ser desencadeados pela
intensidade ou duração de tensões nervosas ou estresse. Por longos períodos, pode
comprometer a capacidade de o indivíduo dominar o estresse com calma e
serenidade. As tensões emocionais incessantes e intensas, como por exemplo,
violência doméstica, doenças crônicas na família ou preocupações financeiras,
levam a um desgaste do sistema nervoso e, com o tempo, fazem com que o
indivíduo fique ansioso ou estressado excessivamente. (SILVA, 2011)
Os estresses intensos mas em curto período de tempo também são passíveis
de desencadear os transtornos de ansiedade, principalmente quando provocam
mudanças significativas ou perturbações na vida. Estas situações podem ser
negativas (morte do cônjuge ou a perda repentina de um emprego) ou positivas
(casamento ou o nascimento de um filho), pois causam ansiedade ao colocarem as
pessoas em circunstâncias novas e para as quais muitas vezes não estão
preparadas. (SILVA, 2011)
Alguns aspectos da personalidade e algumas crenças reforçam os transtornos
de ansiedade e promovem um comportamento que mantém o estado ansioso; por
exemplo: uma imagem ruim de si mesmo, a baixa avaliação das próprias
capacidades e aptidões, insegurança e sentimento de inabilidade para enfrentar e
mudar questões associadas à ansiedade visando grandes transformações na vida.
(SILVA, 2011)
48
sofrida. Os traumas mais comuns são o estupro, a violência física, acidentes graves
e exposição a guerras. Esses traumas são revividos frequentemente por meio de
pesadelos e flashbacks, portanto, quem sofre deste transtorno, cerca de 14% da
população, tende a evitar as situações que tragam essas lembranças perturbadoras.
Estas pessoas podem apresentar irritabilidade, tensão, hipervigilância, sentimentos
de depressão e falta de esperança, além de terem maior propensão para o uso de
substâncias como álcool e drogas. (LEAHY, 2011; SILVA, 2011)
Por fim, o transtorno de ansiedade social (TAS), fobia social ou timidez
patológica provém da percepção de potenciais ameaças em situações sociais ou de
exposição em público. É o medo de ser julgado pelos outros, principalmente em
situações sociais, que podem ser: apresentações, festas, encontros, comer em
locais públicos, usar banheiros compartilhados ou simplesmente encontrar novas
pessoas. Este transtorno é apresentado por cerca de 14% dos indivíduos e, seus
principais sintomas incluem tensão extrema ou ‘paralisia’, uma preocupação
obsessiva com as interações sociais e tendência ao isolamento e à solidão. Além
disso, quem sofre deste transtorno tende a fazer o uso de álcool e drogas. (LEAHY,
2011; SILVA, 2011)
Leahy (2011) acrescenta que, em geral, quem é acometido por um transtorno
de ansiedade pode ter outros também, ou até mesmo todos eles. Isto porque têm
suas raízes compartilhadas e, portanto, os vários padrões de ansiedade tendem a
apresentar processos comuns.
Embora a origem da ansiedade, a forma como ela atua no cérebro e os
padrões de comportamento que ela gera sejam conhecidos, cerca de 70% dos que
sofrem de ansiedade não buscam tratamento ou recebem um tratamento
inadequado. Sem tratamento, eles podem apresentar problemas constantes durante
muitos anos ou mantê-los durante toda a vida. E esses problemas tendem a se
tornar debilitantes, levando ao alcoolismo, ao abuso de drogas, à depressão ou à
incapacidade funcional. (LEAHY, 2011)
Se você sofre de TAS, quando chega a uma festa, você não está realmente
prestando atenção às pessoas que estão lá, mas no que você parece ser
para elas. Você exagera a atenção que lhe é dispensada, pensando apenas
em seus próprios pensamentos, sentimentos e sensações, acreditando que
as outras pessoas podem de fato perceber o que você percebe. Você
53
presume que as outras pessoas estão sempre notando o que lhe acontece
– sua ansiedade, seu desconforto. Sua imagem de si mesmo se baseia na
perspectiva das outras pessoas, mas está enfocada em você; é o eu como
objeto. Esse eu imaginado que os outros supostamente estão vendo está
sempre sendo comparado a um eu idealizado, que é a pessoa que você
acha que deveria ser. Essa pessoa é invariavelmente equilibrada, segura de
si, charmosa, confiante, ao passo que você mesmo é desajeitado, bobo e
inapto. A diferença entre os dois é o desprezo que você imagina que os
outros sentem por você, além do próprio desprezo que você sente por si
mesmo.
Tudo isso é parte de uma certa espiral descendente que é endêmica para
as pessoas que sofrem de TAS. Quanto menos confiantes se sentem, pior a
impressão que causam; quanto pior a impressão, menor a resposta positiva
que obtêm dos outros; quanto menos positiva a resposta, mais sua
confiança diminui. Ao se isolarem, cortam qualquer possibilidade de
recompensa; isso faz com que se sintam cada vez mais sós e os isola ainda
mais. Pelo fato de anteverem o modo como as pessoas os avaliam, evitam
a intimidade com elas; como resultado, não permitem que os outros os
conheçam. Tudo se torna um ciclo que se autoalimenta: seu medo faz com
que você se comporte de uma maneira que traz à tona exatamente aquilo
que você mais teme.
mortem a pessoa avalia seu próprio desempenho para entender como se saiu e
pensa em todos os erros cometidos e como pareceu tolo aos olhos dos outros. Ao
revisar o que aconteceu, ela enfoca os sinais de sua estranheza e da possível
rejeição exercida pelos outros, o que contribui para sustentar a ideia de que é inábil
e que precisa se preocupar para se preparar para o pior no futuro. (LEAHY, 2011)
Leahy (2011) apresenta uma lista com as regras da ansiedade. Estas regras
são tendências adotadas pelos indivíduos com o transtorno de ansiedade social em
resposta a estas situações que lhe causam medo. Entretanto, ao seguir estas regras
eles se sentem ainda mais ansiosos, constrangidos e tímidos; como resultado,
evitarão qualquer interação social.
O autor divide estas regras em três momentos referentes à interação com os
outros: antes de interagir, quando estiver junto e depois de interagir com eles. O
primeiro contexto, antes de interagir com os outros, tem quatro regras: pense em
todas as maneiras em que você possa parecer um bobo e ansioso, ensaie em sua
mente o quanto você vai se sentir ansioso, tente preparar todos os tipos de
comportamentos de segurança para esconder sua ansiedade e apresente se
possível, uma desculpa para evitá-los. (LEAHY, 2011)
O segundo, quando estiver junto a outros, apresenta três regras: presuma que
eles podem ver todo sentimento de ansiedade e pensamento que você tiver, coloque
sua atenção no quanto você vai se sentir ansioso e tente esconder seus sentimentos
de ansiedade.
O último contexto, depois de interagir com os outros, possui quatro regras:
reveja o quanto a interação foi péssima, presuma que as pessoas estão agora
falando sobre o quanto você é estranho, enforque todos os sinais de imperfeição
presentes no modo como você se apresentou e critique a si mesmo por não ter tido
um comportamento perfeito. (LEAHY, 2011)
Silva (2011) compartilha da opinião de que esconder a ansiedade e os
sintomas do transtorno por vergonha aumenta o problema, pois além do tímido
sentir-se mais ansioso, ainda atrasa a busca e o início de um tratamento, que tem
maior eficácia e pode ser superado com a combinação de medicação adequada e
psicoterapia. E, apesar das dificuldades, é necessário que eles tentem, aos poucos,
fazer novos amigos, participem de festas e reuniões, convidem alguém especial para
um encontro romântico, exponham suas opiniões diante dos colegas de trabalho,
entre outras situações em que as habilidades sociais são requeridas.
56
Reações duvidosas dos outros são interpretadas Reações duvidosas dos outros sempre são
com razoável flexibilidade. interpretadas de forma negativa.
Fonte: Retirado de Silva, 2011
Leahy (2011) ainda acrescenta que é possível aprender a sentir menos medo
ao vivenciar situações da vida real e verificar que elas não estão de fato
relacionadas a consequências ruins. Ou seja, quando se constata que os medos que
se sente não guardam proporção com os perigos reais. O modo de entender isso é
enfrentando esses medos, é preciso entrar em contato com o que causa medo em
um contexto seguro, para descobrir que não é tão perigoso como parece.
Silva (2011, p. 105) partilha desta concepção ao afirmar que para superar a
ansiedade e os medos excessivos é preciso, em primeiro lugar, reconhecer, aceitar
e enfrentar os próprios medos:
Se você quer realmente superar sua fobia, reavalie suas crenças, ou seja, a
maneira como você vê, pensa e experimenta o mundo. A única regra a ser
seguida para a superação das fobias é o enfrentamento. Enfrentar o medo é
ter certeza de que ele jamais se tornará algo maior do que você. Medos
patológicos são como lendas; quando não se acredita nelas, deixam de
existir.
Superar o medo e a ansiedade é uma tarefa que requer coragem, pois, para
isso, é preciso praticar o próprio medo e permitir que ele aconteça, ou seja, deve-se
confrontar o que teme e não fugir. Leahy (2011, p. 185) acrescenta que,
“independentemente do que a mente pensa que vai mantê-lo seguro, a verdadeira
segurança não está em se esconder do medo ou em lutar para suprimi-lo, mas em
aceitá-lo e aprender a viver com ele confortavelmente”.
60
5 Resultados e Discussão
1. Analystische Psychologie
2. Cadernos Junguianos
3. Cahiers Jungiens de Psychanalyse
4. Chiron
5. Eranos Foundation
6. Harvest
7. Hermes
8. Journal of Analytical Psychology
9. Journal of Jungian Scholarly Studies
10. Journal of Junguian Theory and Practice
11. Journal of Sandplay Therapy
12. Jung e Corpo
13. Jung History – Philemon Foundation
14. Jung Journal: Culture and Psyche
15. Junguiana
16. La Pratica Analitica
17. La Vouivre
18. Mantis
19. Materia Prima
20. Psychoanalytic Dialogues
21. Psychological Perspectives
22. Quadrant
23. Rivista di Psicologia Analitica
24. Sphinx – A Journal of Archetypal Psychology and the Arts
25. The Journal of Archetypal Studies
26. The Jung Page
62
1. Analystische Psychologie
Consulta aos títulos via internet no site do journal.
Artigos encontrados: 01 – palavra-chave ‘introversiven’
Artigos selecionados: 0
2. Cadernos Junguianos
Consulta aos títulos e abstracts via internet no site da Associação Junguiana do
Brasil (AJB).
Artigos encontrados: 0
Artigos selecionados: 0
4. Chiron
Consulta a títulos e abstracts via internet no site do journal.
Artigos encontrados: 0
Artigos selecionados: 0
5. Eranos Foundation
Consulta aos títulos via internet no site do journal.
63
Artigos encontrados: 0
Artigos selecionados: 0
6. Harvest
Consulta aos títulos e abstracts via internet no site do journal.
Artigos encontrados: 01 – palavra-chave ‘introversion’
Artigos selecionados: 0
7. Hermes
Consulta aos artigos da revista na biblioteca do Instituto Sedes Sapientiae.
Artigos encontrados: 0
Artigos selecionados: 0
15. Junguiana
Consulta aos artigos da revista na biblioteca do Instituto Sedes Sapientiae.
Artigos encontrados: 0
Artigos selecionados: 0
17. La Vouivre
Consulta a títulos e abstracts via internet no site do journal.
Artigos encontrados: 0
65
Artigos selecionados: 0
18. Mantis
Sem acesso aos títulos e abstracts no site do journal.
22. Quadrant
Consulta a títulos e abstracts via internet no site do journal.
Artigos encontrados: 0
Artigos selecionados: 0
Por não haver na obra de Jung referência ao termo timidez, buscou-se tanto
compreender nas Obras Completas de Jung, como nas publicações de autores
junguianos, as suas concepções para as emoções e expressões da timidez, que são
apresentadas a seguir.
5.2.1 Inibição
[...] Pela primeira vez mau estava presente na reação 10, mas foi
evidentemente reprimido, uma vez que há forte inibição contra o complexo
erótico na atual vida emocional da pessoa. [...] (p. 283)
[...] A reação correta teria sido ‘diretor’. Mas esta palavra está por demais
associada ao desejo secreto, pesando por isso sobre ela a inibição que
reprime todo o desejo. [...] (p. 284)
[...] Mas Freud foi o primeiro a ensinar quais os caminhos que o processo
psicológico segue. Ele achou que, em essência, o sistema histérico era um
símbolo de ideias (antes de tudo sexuais) que não se encontravam na
consciência, mas que dela eram afastadas por fortes inibições. A repressão
ocorre porque as ideias críticas têm carga de desprazer tão grande a ponto
de se tornarem incompatíveis com a consciência do eu. (p. 332)
[...] É estranho que uma lembrança tão simples esteja submetida a inibições
tão fortes; isto nos leva a supor que esta lembrança ainda tem outro aspecto
de sentido pessoal. [...] Como se vê, a inibição em relação à lembrança dos
gatos é tão forte que leva às maiores contradições. (p. 434)
[...] Uma situação de ameaça e perigo põe à parte o jogo calmo das ideias
substituindo-o por um complexo de outras ideias com tonalidade afetiva
mais forte. O novo complexo desloca tudo mais para segundo plano, e
aparece, momentaneamente, como o mais evidente, porque inibe
completamente qualquer outra ideia; das ideias diretamente egocêntricas,
apenas permite substituir aquelas que dizem respeito à sua situação,
podendo inclusive, sob determinadas condições, recalcar as ideias
contrárias mais fortes até um estado de completa (mas temporária)
inconsciência. Ele possui agora a tonalidade de atenção mais forte. [...] (p.
51)
[...] Nas palavras mais simples surgem hesitações ou outros distúrbios que
podem apenas ser explicados pelo fato de que um complexo foi acionado
com a palavra-estímulo. Mas por que uma ideia associada ao complexo só
pode ser reproduzida com dificuldade? Como primeira razão devemos
lembrar a ideia de inibição emocional. A maioria dos complexos se encontra
em estado de repressão, pois, geralmente, dizem respeito a segredos
íntimos, delicadamente escondidos, que a pessoa não quer ou não pode
revelar. [...] (p. 55)
[...] Na reação 61, sentimento inexplicável de inibição que por longo tempo
não permitiu nenhuma reação e, finalmente, uma reação perturbada e sem
sentido que exprime algo como defesa. Depois, toda uma série de
reminiscências pesarosas de ações que não condiziam às leis da moral,
entre elas também o complexo erótico. [...] (p. 282)
5.2.2 Vergonha
Uma pesquisa mais acurada dos traços obscuros do caráter, isto é, das
inferioridades do indivíduo que constituem a sombra, mostra-nos que esses
traços possuem uma natureza emocional, uma certa autonomia e,
consequentemente, são de tipo obsessivo, ou melhor, possessivo. [...]
Nesta faixa mais profunda o indivíduo se comporta, relativamente às suas
emoções quase ou inteiramente descontroladas, [...] mas principalmente
revela uma incapacidade considerável de julgamento moral.
Seria lógico admitir que essas projeções, que nunca ou somente com muita
dificuldade podem se desfazer, pertencem à esfera da sombra, isto é, ao
lado obscuro da própria personalidade. Entretanto, esta hipótese é
impossível, sob certo ponto de vista, na medida em que os símbolos que
afloram nesses casos não se referem ao mesmo sexo, mas ao sexo oposto:
no homem, à mulher, e vice-versa. Como fonte de projeções, portanto,
figura não mais a sombra do mesmo sexo, e sim a do sexo oposto. É aqui
que deparamos com o animus da mulher e a anima do homem, que são
correlativos e cuja autonomia e caráter inconsciente explicam a pertinácia
de suas projeções. A sombra é, em não menor grau, um tema conhecido da
mitologia; mas como representa, antes e acima de tudo, o inconsciente
pessoal, podendo por isso atingir a consciência sem dificuldades no que se
refere a seus conteúdos, além de poder ser percebida e visualizada,
diferencia-se, pois, do animus e da anima, que se acham bastante
afastados da consciência: este o motivo pelo qual dificilmente, ou nunca,
eles podem ser percebidos em circunstâncias normais. Não é difícil, com um
certo grau de autocrítica, perceber a própria sombra, pois ela é de natureza
pessoal. Mas sempre que tratamos dela como arquétipo, defrontamo-nos
com as mesmas dificuldades constatadas em relação ao animus e à anima.
[...]
que não se é quem se pensava ser. Ou seja, quando se tem consciência de seus
defeitos e inadequações. (SHULTZ, 2006)
A vergonha, para Shultz (2006), surge, então, do sentimento de inferioridade,
insegurança, derrotas, falhas comportamentais e de caráter, fraqueza ou ainda
alguma inadequação constitucional que estão em desacordo com o ideal de si
mesmo.
López-Pedraza (2011, p. 41) postula a vergonha como uma emoção íntima e
propiciadora de movimentos psíquicos. No seu ponto de vista, ela é “uma força que,
se é exposta, pode ser valorizada como reconhecimento e assimilação da sombra
que contém o que está reprimido e é vergonhoso”. Quando a vergonha aparece na
psicoterapia, indica, para o autor, uma consciência psíquica em movimento,
portanto, a introspecção tem importância no fato vergonhoso, já que, mesmo em
terapia, é difícil que se exponha com clareza o que se considera complexos
vergonhosos pessoais, bem como os relacionados aos estratos sociais, étnicos,
econômicos e profissionais. Além disso, reconhece o valor da vergonha como
protetora da imagem de si mesmo.
Neste sentido, Jacoby (1994), leva em consideração a estreita relação entre a
vergonha e a persona, já que a última tem como função coletiva proteger o indivíduo
de uma exposição embaraçosa. A persona, que é metaforicamente representada
pela imagem de uma máscara, ou por roupas, principalmente nos sonhos, acentua
as qualidades interpessoais ao mesmo tempo em que vela aquelas pessoais e
individuais.
A persona é um dispositivo que o indivíduo utiliza para se adaptar ao seu
ambiente, ou seja, é a máscara compatível com um papel aceito socialmente.
Exercer uma função na sociedade requer a aceitação de um determinado papel, que
traz à tona questões que envolvem a autoestima. Isto porque alguns papéis
proporcionam um alto grau de satisfação narcísica e são desempenhados com uma
expectativa correspondentemente elevada, e outros frustram a autoestima do
indivíduo. A maioria das pessoas tem uma noção consciente de quais são os papéis
que conferem melhores vantagens e, coloca-se, portanto, uma máscara para
esconder dos outros, ou até de si mesmo, as qualidades que se acredita serem
desvantajosas. (JACOBY, 1994)
77
Entretanto, Jacoby (1994) afirma que é essencial que a persona ocupe seu
lugar de forma adequada, isto é, não deve ser nada além do que um compromisso
entre o indivíduo e a sociedade, ou nas palavras de Jung ([1928b] 2011, p. 47):
5.2.3 Introspecção
Ele pensou que essa voz era ‘a alma no sentido primitivo’, que ele chamou
de anima (a palavra em Latim para alma). Ele afirmou que ‘ao recolher todo
este material para análise, eu estava de fato escrevendo cartas à minha
anima, que é parte de mim com um ponto de vista diferente do meu. Eu
tinha observações de um novo caráter – estava em análise com um
fantasma e uma mulher’. Em retrospecto, ele lembrou que essa era a voz de
uma paciente holandesa que ele conheceu de 1912 até 1918, que havia
persuadido um colega psiquiatra que ele era um artista frustrado. A mulher
pensava que o inconsciente fosse arte, mas Jung mantinha que era
natureza. Já argumentei previamente que a mulher em questão – a única
mulher holandesa no círculo de Jung à época – era Maria Moltzer, e que o
psiquiatra em questão era o amigo e colega de Jung, Franz Riklin, que aos
poucos foi abandonando a análise pela pintura. [...] (p. 199)
Para Jung ([1951c] 2011) a anima, isto é, o inconsciente representado por ela,
é o fator determinante das projeções. A anima aparece personificada, seja nos
sonhos, visões ou fantasias, em figuras com qualidades do feminino. Mediante a
integração, a anima imprime uma relação e uma polaridade na consciência do
homem, correspondente aos aspectos do Eros, assim como o animus imprime uma
capacidade de reflexão e conhecimento na consciência da mulher que corresponde
às características do Logos.
A anima, de acordo com Jung ([1928c] 2011), é a imagem coletiva da mulher
no inconsciente do homem, que o auxilia a compreender a natureza da mulher. E é
oposta à persona, isto é, sendo uma figura feminina, compensa a consciência
masculina. No capítulo ‘Definições’, do sexto volume, Jung ([1921a] 2011, p. 428)
afirma que denominou de anima a atitude interna, que se comporta de maneira
complementar em relação ao caráter externo e possui todas as qualidades que
faltam à atitude consciente.
2
As fantasias de Jung primeiro foram anotadas no Livro Negro e, mais tarde, ele as transcreveu no
Livro Vermelho, o qual adornou com imagens. (JUNG, [1961] 2002)
83
Jung ([1961] 2002) postula que a anima tem tanto um lado negativo como um
positivo. Quanto às suas características negativas, a anima, por ser detentora de
uma grande força de sedução e astúcia, pode exercer uma influência desastrosa
sobre os homens, que se tornam permeáveis não só às suas insinuações e
persuasões, mas também às dos outros, já que, pelo mecanismo da projeção,
acabam se tornando também permeáveis aos outros. “Parece mesmo ser uma
experiência arriscada ou uma aventura duvidosa confiar-se ao caminho incerto que
conduz à profundidade do inconsciente. Tal caminho passa a ser o do erro, da
ambiguidade e do equívoco”. (p. 167)
O aspecto positivo, que para Jung parecia o mais importante, se refere a
anima como transmissora das imagens inconscientes à consciência, por meio de
projeções, sonhos, fantasias e imaginação ativa. A consciência possui, então, um
85
dependendo do caso, até mesmo impede que alguma ação seja tomada. O medo de
ser inadequado torna as relações pouco espontâneas ou às vezes ‘paralisa’ o
indivíduo, é como se pensasse que é melhor não fazer nada do que fazer algo do
que possa se arrepender futuramente.
Mascarenhas (2007, p. 52) argumenta que a timidez não está diretamente
relacionada com a tendência da personalidade de se voltar para dentro ou para fora,
ou seja, para o sujeito ou para o objeto. Deste modo, não tem relação direta com a
introversão ou com a extroversão, pode aparecer nos dois tipos, ou seja, não é
prerrogativa dos introvertidos, como geralmente se afirma.
Esta atitude resgata o tímido das condições em que se coloca: ora vítima,
nas situações em que não consegue estabelecer limites e se deixa invadir
pelos outros; ora algoz, nas situações em que projeta nos outros seu
autodesprezo, desvalorizando relações e pessoas numa atitude de
estudado afastamento. (p. 21)
Em Kradin (2011) a palavra timidez foi citada duas vezes referindo-se a uma
paciente. No primeiro momento a paciente, chamada de S., descrevia sua mãe
como alguém extrovertida, emocionalmente distante e crítica a respeito da timidez
inicial de S. e sua introversão progressiva. E foi incapaz de responder às suas
crescentes necessidades emocionais e intelectuais durante a infância e
adolescência. Depois o autor relata que a vida de S. era desprovida de intimidade
emocional e sexual, mas que estava sempre bem arrumada, encantadora e
provocante apesar de sua timidez reticente.
O uso do termo timidez, nos artigos acima, apresentou principalmente as
seguintes conotações: comportamento inseguro, ou mesmo, infantilizado; como
reclusão; como inibição; associado ao medo e à dificuldade no contato social; e,
ainda, como uma dificuldade para admitir a si mesmo algo que seja difícil.
A pesquisa realizada nas revistas junguianas citadas não localizou artigos em
que a timidez fosse o objeto principal de estudo. Entretanto, os trabalhos de Aron
(2004; 2006) foram os únicos encontrados nestes periódicos, nos quais a timidez
não é apenas mencionada como característica da personalidade de um caso
apresentado, mas está relacionada ao objeto de estudo que é a ‘alta sensibilidade’
(high sensitiveness) na perspectiva da Psicologia Analítica.
Em outra abordagem, outros dois artigos em coautoria (ARON; ARON, 1997 e
ARON; ARON; DAVIES, 2005) tratam, respectivamente, do processamento sensorial
sensitivo e a relação com a introversão e as emoções, e da timidez no adulto
relacionada à interação entre a ‘sensibilidade’ e um ambiente adverso na infância.
Com relação à timidez estes autores utilizam como definição o medo de avaliações
sociais negativas que leva ao desconforto e limitações no desejo de contato social.
Aron (2004) examina o conceito de Jung ([1913b] 2011) sobre a
‘sensibilidade’ inata, encontrado no quarto volume, ‘Freud e a psicanálise’ e as suas
implicações clínicas (ARON, 2006). Aron (2004; 2006) comenta que apesar do
conceito de ‘sensibilidade’ parecer sobreposto ou até mesmo equivalente ao de
introversão, a pesquisa de Aron e Aron (1997) revelou que 30% dos entrevistados
que se consideravam ‘altamente sensíveis’ eram extrovertidos sociais, gostavam de
conhecer pessoas novas, estar em grupo e ter um amplo círculo de amizade. As
entrevistas revelaram que a maioria destes extrovertidos ‘altamente sensíveis’
cresceu com um amplo apoio familiar, no qual as interações sociais eram uma fonte
de conforto e proteção contra outras causas de excesso de estimulação e
94
p. 184), não deve ser vista como patológica, mas, seu excesso, dependendo da
situação pode ser prejudicial.
é mais ‘sensível’ tem uma impressão mais profunda de um acontecimento que não
deixa marcas em alguém menos ‘sensível’.
Aron (2006) constatou em sua prática clínica que pacientes com alta
‘sensibilidade’, perspicazes aos sinais sutis sobre os sentimentos e expectativas dos
outros, principalmente de seus pais, frequentemente usam esta habilidade de forma
a se adaptar aos requisitos coletivos, assumindo uma persona não condizente com a
sua personalidade. Para a maioria, adotar as respostas emocionais dos outros,
especialmente quando calmas ou socialmente adequadas, é o método mais
confiável para regular as suas emoções. No entanto, por isto ser destrutivo para a
sua autonomia e, muitas vezes contrário aos seus interesses pessoais, abrigam com
frequência um profundo sentimento de impotência, ansiedade pelo receio de serem
descobertos como máscaras vazias ou raiva por terem sido dominados pelos outros
ao terem que imitá-los.
Uma vez que a ‘alta sensibilidade’ interfere na regulação das emoções e que
estas pessoas tendem a ser mais afetadas por situações adversas, Aron (2006)
buscou por relações com a teoria dos complexos de Jung. O complexo, para Jung
([1921/1928] 2011) é um conjunto de ideias e emoções que pode ser comparado a
uma ferida psíquica, assim, é possível representar o trauma como um complexo de
intensa carga emocional e, por ser autônomo, manifesta-se independentemente da
vontade. Portanto, segundo Aron (2006), quando os afetos altamente carregados
impõem-se durante o processo de vivenciar as experiências relacionadas com o
complexo, a explosão desses invade completamente o indivíduo.
Estes processos tendem a ser mais acentuados nos pacientes ‘sensíveis’,
primeiro porque, por processarem as vivências mais profundamente, uma
experiência perturbadora tem maior probabilidade de se tornar traumática. Segundo,
uma vez que tudo associado a uma experiência emocional avassaladora tende a ser
dissociado, criando um complexo, muitas vezes eles também mostram mais sinais
de dissociação. E, por último, quando um complexo está envolvido e surgem
situações semelhantes ao distúrbio que o originaram, a regulação emocional do
afeto resultante é quase sempre impossível. Mas, visto que a pessoa ‘sensível’
pensa mais antes de agir, identificará mais estímulos em relação ao trauma e,
portanto, o complexo, o que os leva a sentir que perdem mais frequentemente o
controle do que outros, talvez até mesmo temendo ficar loucos. (ARON, 2006)
98
6 Considerações Finais
o outro como é realmente e nem abertura para que lhe conheçam verdadeiramente.
No relacionamento com o outro se espera sempre um ‘ataque’ e, portanto, protege-
se a si mesmo e a seus conteúdos sombrios e vergonhosos, criando, assim, um
isolamento por não deixar que os outros se aproximem; e, como em um círculo
vicioso, o medo de ser julgado e rejeitado, que foi projetado, é reforçado.
O tímido deseja, em sua maioria, perder a sua timidez ou aprender a lidar
com ela de forma a se relacionar melhor com os outros e diminuir o seu sofrimento;
e, portanto, a busca de recursos internos para enfrentar o medo do outro, do que é
desconhecido, será benéfico tanto para superar a timidez, como para se abrir ao
novo, às novas possibilidades e para o processo criativo. É a psicodinâmica entre o
eu e o outro que dá origem e promove o crescimento.
Com relação aos artigos pesquisados nas revistas junguianas, não foram
encontradas pesquisas em que a timidez fosse o objeto principal de estudo. A
maioria apenas mencionava o termo para descrever a personalidade de algum caso
citado, mas não discutia os conceitos ou as concepções da timidez. Os trabalhos de
Aron (2004; 2006) foram os únicos encontrados nestes periódicos que relacionaram
a timidez ao objeto de seu estudo, que é a ‘alta sensibilidade’ (high sensitiveness) na
perspectiva da Psicologia Analítica.
As pesquisas de Aron (2006) obtiveram índice de 20% de pessoas ‘altamente
sensíveis’ na população; resultado bastante próximo à constatação de Jung, de
25%. Estes indivíduos são, com frequência, excessivamente conscientes, ou seja,
estão atentos às consequências de um lapso em seu comportamento; são muito
criativos, intuitivos, detalhistas, empáticos e hábeis em compreender sutilezas e
sinais não verbais. Apreciam a beleza, o espiritual e o filosófico em vez do
materialismo e do hedonismo.
Uma pesquisa de Aron em colaboração com mais dois autores, em outra
abordagem, Aron; Aron e Davies (2005), sobre a timidez em adultos, concluiu que os
indivíduos ‘sensíveis’ que reportaram circunstâncias negativas na infância, como
pais ausentes ou com alguma doença psíquica, alcoolismo, etc., ou que tiveram
baixos resultados na escala de ligação parental, eram mais depressivos e ansiosos
quando comparados com pessoas ‘não sensíveis’ que relatavam níveis similares dos
mesmos estressores na infância. No entanto, pessoas ‘sensíveis’ com poucas
situações adversas na infância não eram mais depressivas ou ansiosas que as ‘não
sensíveis’. A pesquisa também revelou um padrão causal no qual a combinação dos
102
REFERÊNCIAS
ARON, Elaine N; ARON, Arthur; DAVIES, Kristin M. Adult shyness: the interaction of
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CONSULTAS
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Resumo
This issue of the journal 'Harvest' demonstrates how Jungian analytic psychology can provide insights, methods and
forms of expression to various academic disciplines interested in art and the image.
It is well known that Greenberg’s aesthetics is ubiquitously used as a counterpoint to a more conceptual or anti-
aesthetic position in contemporary art criticism. However, in this article, I address a fundamental 'similarity' between this
seeming divide by using the Jungian distinction between ‘extraversion’ and ‘introversion’ to shed light on the one-
sidedness of this aesthetic/anti-aesthetic debate. By revealing this one-sidedness, I am able to posit how contemporary
art theory inadvertently and inevitably marginalizes, a large part of the art audience. I seek to demonstrate this imbalance
in art theory so that a more inclusive art critical debate can be established.
Revista: Journal of Analytical Psychology
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Resumo
This paper examines the relationship between severe early trauma and the development of psychic intuition. A case
presentation with extensive dream work helps to illustrate this connection by exploring the psychological meaning of
one patient's acute receptivity to unconscious communications. The paper includes a historical overview of Freud's
attitudes toward occultism, as distinct from later psychoanalytic views, including those of Wilfred Bion. Many of Bion's
views have more in common with Jung's perspective than with Freud’s, with particular reference made to spiritual and
religious differences. Bion clearly states that Freud and psychoanalysts have focused on phenomena, not on noumena,
which Bion considers to be the essence of the psychoanalytic point of view.
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active imagination;
archetype; complex;
Chaos and self-
dynamical system;
organization: emergent
Shy Patricia Skar 2004 49 (I. 2) emergent property; Sim
patterns at critical life
epigenetic landscape;
transitions
individuation process; self-
organization
Resumo
A feeling of chaos can accompany many real-life events over which we have little or no control, and latent developmental
needs may create tension that manifests in symptoms of depression or anxiety. Particularly at critical life transitions,
conflicts may arise which have no obvious solution. From an analytic perspective, recent scientific models from the area
of complexity theory can prove illuminating as analogies to Jung's archetypal view of the individuation process.
Throughout life, human beings, like many complex, open systems, pass from disordered phases to more complex
stages of order. This paper shows how the scientific concept of self-organization can be compared with our physical
and psychological developmental processes. From embryology, the model of the ‘epigenetic landscape’ (C.H.
Waddington) is introduced as an analogy to Jung's individuation process, with a clinical example to illustrate these
parallels. The emergent nature of behaviour and development is seen from the viewpoint of the organism as a
dynamical system, and Jung's concept of the archetype viewed as an emergent property of the activity of the brain/mind.
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community; leadership;
Succeeding at succession: Kenneth Oedipus; Orestes;
Shy 2008 53 (I. 5) Não
the myth of Orestes Eisold psychoanalytic institutes;
succession
Resumo
Although the myth of Oedipus seems an inevitable template for understanding succession in psychoanalysis, the myth
of Orestes offers a more complex and promising view of the intergenerational transfer of leadership and authority, one
that takes into account the entire community, not merely the individual leader. A closer look at the Aeschylus drama
suggests three dimensions that need to be taken into account in managing succession: what are the mechanisms
enabling the community to participate, what is the role of the unconscious irrational forces inevitably aroused in the
process, and what are the wider social and economic issues that need to be addressed? This paper looks at the myth
elaborated in the Greek drama, and then applies it to some of the current problems facing contemporary psychoanalytic
institutions.
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alchemy of training;
Deborah
immersion; spirit of the
Shy The alchemy of training Egger- 2007 52 (I. 2) Não
place; symbolic life; training
Biniores
in Zurich
Resumo
Training in Zurich has its own special character but also is marked by the very fact that it is in Zurich. Zurich radiates its
own distinct energy and carries a specific historical significance in the world of analytical psychology. This, like all things
with psychic energy, has a spectrum of meaning. This spectrum, as well as the ‘spirit’ of the place, will be critically
examined, taking into account the ‘blessings’ and ‘curses’ of such genius loci. Training in Zurich is experientially based
and is first and foremost an initiation: an initiation into symbolic life, or rather life where symbol plays an important role.
Training is understood to involve a transformation of one's self, much like the 8th century alchemist Morienus Romanus
understood the opus as a ‘human transformation system’. It is not merely an education. The requirement of ‘immersion’
is core to the experience of becoming an analyst in Zurich and this sets up a valuable discomfort between rational
intellectual learning and intuitive experience, between knowing and not-knowing. How does this dis-serve the making of
an analyst? What is implicit in this immersion and its discomfort? Does it have a role in today's emphasis on clinical
and empirical training? Does Zurich still offer something unique and valuable in the world of training, or is it passé?
From these questions, the dichotomy of what is ‘urgent’ and ‘essential’ in training will be examined.
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Resumo
This paper takes as its starting point Jung's definition of the self as the totality of the psyche. However, because the term
psyche remains conceptually unclear the concept of the self as totality, origin and goal, even centre, remains vague.
With reference to Heidegger's analysis of human being as Dasein, as well as Jung's writings, it is argued that Jung's
concept of psyche is not a synonym for mind but is the world in which we live psychologically. An understanding of the
psyche as existentially situated requires us to rethink some features of the self. For instance, the self as origin is thus
not a pre-existential integrate of pure potentiality but the original gathering of existence in which, and out of which,
personal identity is constituted. The ego emerges out of the self as the development and ownership of aspects of an
existence that is already situated and gathered. Relations between the ego and the self are about what is known, or
admitted, and its relation with what is already being lived within the gathering that is existence. The self as psyche,
origin, and centre are discussed, as well as the meaning of interiority. Epistemological assumptions of object relations
theory are critically discussed. The paper also includes critical discussions of recent papers on the self.
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Resumo
The discontinuities of development in the male psyche that are manifested in some analyses in unconscious
experiences of inner disintegration are described. Narcissism and a de-somatized relationship to their own presence
are the dominant clinical presentation in these patients. The analyst sometimes experiences these analyses as ‘dead’,
as a result of the projection of a ‘dead mother’ object. The question of how psychic deadness and impotence can be
worked with is examined.
Clinical experience with these men shows how notions associated with the puer-senex archetype can illuminate the
stark realities of a patient's early experiences, particularly in how mother's presence is felt. A theoretical and clinical
bridge is proposed between puer and narcissus to frame how a man may unconsciously strive against psychic
fragmentation by clinging to an identification with both—in order to remain intact in the face of being caught in a pre-
pubescent state which reflects the insecure attachment to mother. The author describes how patients may find a more
grounded embrace of reality via the use of the analyst's empathy and a greater potency through work in the
transference/countertransference. These strengthening achievements help men to begin to leave the ‘dead mother’
behind.
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alchemy; East-West
Some reflections on the
dialogue; I Ching;
influence of Chinese
Shy Murray Stein 2005 50 (I. 2) individuation; mandala; Não
thought on Jung and his
psychotherapy; Self;
psychological theory
synchronicity
Resumo
Jung claimed that Richard Wilhelm, whose masterful translations of Chinese wisdom literature into a European
language (German) and thence into Western consciousness have brought Chinese modes of thinking to so many, was
one of the most important influences on his own life and work. The contacts between the two men, which took place
from the early 1920's until Wilhelm's death in 1930, were few but intense and for Jung decisive in several ways.
Wilhelm's translations of the I Ching and The Secret of the Golden Flower opened new avenues for Jung that had far-
reaching consequences on his research and writing after 1930. The latter opened the door to the study of alchemy as a
key to the archetypal process of individuation as rooted in the collective unconscious. ‘Synchronicity’ is a term that grew
out of his contact with Chinese thought, in particular with the I Ching. From his contact with Chinese thought,
additionally, he received confirmation of the view, independently arrived at, that adult psychological development is not
linear but rather circular and spiral-like. The letters between Jung and Wilhelm illuminate the great importance Jung
ascribed to Wilhelm's contribution toward bridging East and West and the potential value of Chinese philosophy for
psychotherapy.
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autohypnosis; daimonic
inner objects; divine child;
humanization of the
Daimonic elements in Donals E. archetype; self-care system;
Shy 2003 48 (I. 2) Sim
early trauma Kalsched trauma complex;
transitional space;
transcendent function;
unintegration anxiety
114
Resumo
This paper explores some of the ‘daimonic’ elements of unconscious mentation that emerge both in dreams and in the
transference/countertransference field with early-trauma patients and illustrates these with an extended clinical
example. An archaic and typical (archetypal) ‘trauma complex’ is articulated (with diagram) as a bi-polar structure
consisting of divine child protected and/or persecuted by an inner ‘guardian angel’. Sources of this structure and its
mythological inner objects are traced to trauma at the stage of what Winnicott calls ‘unintegration’ and to flooding by
dis¬integration anxiety at a time before nascent ego-structure has formed. In an extended case example, the author
shows how the patient's traumatized innocence and desire for a new start, thwarted by self-attacking defences, pulls
him into playing the inflated role of her guardian angel, leading to re-traumatization in the transference. Working through
is seen as the necessary disillusionment and humanization of these daimonic structures as they are projected,
suffered, and transmuted by the analytic partners in the stormy process of psychotherapy.
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introversion; intuition;
neuroticism; sensitiveness;
Revisiting Jung's concept
Shy Elaine N. Aron 2004 49 (I. 3) sensitivity; survival Sim
of innate sensitiveness
strategies; temperament;
traits; typology
Resumo
Jung suggested that innate sensitiveness predisposes some individuals to be particularly affected by negative
childhood experiences, so that later, when under pressure to adapt to some challenge, they retreat into infantile
fantasies based on those experiences and become neurotic. Recent research by the author and others is reviewed to
support Jung's theory of sensitiveness as a distinctly thorough conscious and unconscious reflection on experiences.
Indeed, this probably innate tendency is found in about twenty percent of humans, and, in a sense, in most species, in
that about this percentage will evidence a strategy of thoroughly processing information before taking action, while the
majority depend on efficient, rapid motor activity. Given this thorough processing, sensitive individuals readily detect
subtleties—including whatever is distressing or threatening. Hence, as Jung observed, given the same degree of
stress in childhood as non-sensitive individuals, sensitive persons will develop more depression, anxiety, and shyness.
Without undue stress, they evidence no more of these difficulties than the non-sensitive—or even less, being unusually
aware of supportive as well as negative cues from caregivers. Given this interaction, one treatment task is to distinguish
the effects of such childhood difficulties from what does not need treatment, which are the typical effects of the trait itself
on an adult without a troubled developmental history.
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Charcot; genetics;
Psychosomatic disorders:
Richard L. mind/body interaction;
Shyness the canalization of mind 2011 56 (I. 1) Sim
Kradin placebo response complex;
into matter
psychosomatic dysfunction
Resumo
Psychosomatic disorders represent a therapeutic conundrum. Despite compelling evidence to suggest the integrity of
mind and body, humans are famously prone to experiencing them as separate. This paper explores the scientific
challenges posed by psychosomatic disorders and how changing cultural notions contribute to their perplexing
presentations. Excerpts of cases from patients with chronic pelvic pain, chronic fatigue, and a factitious disorder are
presented as examples of the challenges that these patients pose in analysis. An explanatory model of mind/body
interaction based on early maternal-infant interactions and the placebo response complex is proposed as the basis for
how psychosomatic pathologies may develop. Finally, therapeutic approaches to the psychological treatment of patients
with psychosomatic issues are considered.
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Resumo
This article discusses the activation of the transcendent function as it operates through a series of complex parallel
processes occurring within a Tavistock Model Infant Observation Group whose location is Palo Alto, California. We
follow the observer, a seasoned female analyst, through her final two observations as she is caught initially in the
central family complex that does not allow for a conscious ending to this three-year observational period. Subsequently
through the work of the transcendent function within the group, a discussion of the observer's ensuing paradoxical
enactment takes place as we watch how this observer becomes able to help the family reach a termination not
previously possible. Moving within a dynamic field that includes the infant observation group, the observed baby and his
family, we experience the numinosity of the transformation that is activated. We will explore the ongoing encounter
between the group mind, the observer and the observed as mutations within this dynamic field enable a genuine
experience of mourning that has a profound effect on the observed baby and family.
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affect regulation;
archetypes; defences;
Trauma and defences:
Inhibition Jean Knox 2003 48 (I. 2) defensive exclusion; Não
their roots in relationship
dissociation; grandiosity;
narcissism; repression
116
Resumo
In this paper the differing psychodynamic models of defences are outlined and compared with an attachment theory
perspective in which affect regulation plays a central role. Behavioural and intrapsychic distance regulation (defensive
exclusion) are seen as the main strategies for affect regulation and are the manifestations of the habitual -pattern of
emotional regulation in the relationship between the child and the primary caregiver. A new perspective on unconscious
fantasy is offered, in which fantasies are seen to be actively created as defensive narratives to protect the development
of healthy narcissism and to become integrated into a person's internal working models. Archetypal defences are
explored from a developmental perspective and some neurobiological issues relevant to defences are highlighted.
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Resumo
This paper describes the course of an analysis which demonstrates how borderline and narcissistic functioning can be
understood in terms of a struggle with issues of identity. It shows how such functioning can come to exert a profound
hold on the individual and why it seems, at times, a matter of life and death to the patient to avoid states of separation
from the analyst. The paper suggests that these complex phenomena can be understood, perhaps surprisingly, in the
simple terms of the nature of affect itself. The concept of the emotional core is introduced to embody and highlight that
which lies beneath both Jungian and Freudian models (offering a potential bridge between the two models)—namely
the psyche’s essentially affective nature. It is suggested that the emotional core can serve as an organ of perception
giving the individual both their primary relation to reality and an emotional attachment to others. This emotional core is
understood to function in a narcissistic manner to preference experiences of sameness and in aversion to experiences
of difference—a view consonant with Stern’s understanding of infant development where the infant is able to distinguish
self from other from the beginning of life (as Fordham also held); taking up Stern’s terminology, it gives the individual a
‘core’ sense of being. There is, however, no stable, on-going sense of ‘I’ associated with this form of functioning as the
individual is immersed in the latest affect to enter consciousness (as in the borderline state of mind) and consequently
the individual comes to rely intensely on the other to determine their sense of being (the other becomes a self-
regulating other in Stern’s terms). The development of ego-functioning gives a more stable and on-going sense of ‘I’ to
the individual, giving contact with the broader personality, allowing the individual to be less reliant on the other and
orientating them to reality in a way more fitting to their overall needs.
The paper describes how consciousness, which is not seen as identical with the ego, moves between the mode of
functioning of the ego and that of the emotional core, i.e., shifting in and out of states where projective identification
predominates. It elaborates the range of self-experience encompassing spiritual experience and states of
disintegration (which are understood to have a similar structure) on one side, to ego-based experience (which can itself
be defensive and rigid at times) on the other. It explores the consequences of such a view for analytic technique and
relates it to the Jungian view of the self and the Freudian unconscious.
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alpha-function; beta-
elements; deintegration-
Bodily states of anxiety: the reintegration; inner world;
Barry D.
Inhibition movement from somatic 2005 50 (I. 3) phantasies; psychosomatic Não
Proner
states to thought transference-
countertransference;
transformations
Resumo
My paper attempts to stimulate thought about the relationship between physical and mental ‘states of anxiety’ by looking
at some experiences in the consulting room, particularly at those moments when shifts from predominantly somatic to
predominantly psychic forms of representation appeared to be taking place. These experiences are considered in
conjunction with some of the ideas of Jung, Fordham, Bion, Winnicott, Meltzer and others relevant to the body-mind
question. I conclude with some imaginative speculations.
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affect regulation,
The Clinical Implications of depression, introversion,
Shy Jung's Concept of Elaine N. Aron 2006 8 (2) persona, puer, Sim
Sensitiveness sensitiveness, sensitivity,
temperament, trauma
Resumo
The first portion of this paper reviews the concept of innate sensitiveness (present in about twenty percent of the
population) as employed by Jung and in the empirical research conducted by the author and others. Both veins of
scholarship suggest that being born highly sensitive interacts with experiences of trauma in childhood to produce more
neurotic symptoms—depression, anxiety, shyness— than are found in nonsensitive persons with a similar history.
Thus, given the baseline number of persons with this trait and their vulnerability, they surely represent a large
percentage of patients in Jungian treatment—indeed, the history of the development of Jungian psychology is tightly
intertwined with them, beginning with Jung himself. After this review of the evidence for the basic concept, we turn to its
clinical application, the second and third portions of the paper. The second focuses on the initial understanding of a
patient with the trait, such as distinguishing normal effects of being innately sensitive from the puer complex and from
difficulties more related to trauma. The third portion considers adapting treatment to the highly sensitive patient—in
particular maintaining an optimal level of arousal and the development of the patient’s perception of the analyst’s affect
attunement.
Revista: Jung & Corpo
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O medo e o transtorno de
pânico como meio de Carlos Alberto
Medo 2002 2 Não
transformação através da Marano
terapia corporal
Diferentes linguagens em
defesa da vida: relato do
Silvia Schwark
Medo processo terapêutico de 2004 4 Sim
de Mello
uma menina de 5 anos
que não falava
Sylvia Mello
Medo Apegos, medo e simbiose 2010 10 Não
Silva Baptista
A fobia através dos
sonhos: uma visão
Fobia junguiana da Carlos Bein 2002 2 Não
dessensibilização
sistemática
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James M.
Shame Shame 2006 shame Sim
Shultz
Resumo
Analyst James Shultz explores shame from a Jungian perspective and argues that, by recognizing and acknowledging
shame, we can stop defending ourselves against it and open a window on the shadow.
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Reflections on Shame,
Philip M. eating disorders;
Shame Dissociation, and Eating 2006 Não
Bromberg dissociation; shame
Disorders
Resumo
In this article, Philip M. Bromberg explores the context and causes of eating disorders. Individuals who suffer with eating
disorders experience a lack of human relatedness, and Bromberg asserts that trust, destroyed by trauma, must be
repaired in order for a patient's symptoms to be surrendered.
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In The Beginning: Jung Richard M.
Introversion 2007 introversion; Freud; Jung Não
and Freud on Introversion Capobianco
Resumo
In this essay originally published in Psychological Perspectives, Stonehill College professor of philosophy Richard M.
Capobianco tracks the evolution of Jung's early effort to explore the creative aspects of introversion in contrast to Freud's
view, which emphasized its pathological aspects.