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RENATA PETRI
Orientadora:
Profa. Dra. Maria Cristina Machado Kupfer
São Paulo
2006
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2
FOLHA DE APROVACÃO
Renata Petri
Leitura Psicanalítica do Desenvolvimento e
suas Implicações para o Tratamento de Crianças
Aprovada em:
BANCA EXAMINADORA
AGRADECIMENTOS
RESUMO
RÉSUMÉ
ABSTRACT
This work aims to systemize the general principles to establish conditions and the
direction for the psychoanalytical treatment for children. Therefore, a re-valuation
of the developing notions and of the subjected characteristics was necessary, in
order to determine the child specific conditions as susceptible of analysis. For that
matter, a cupbearer childhood in three phases was proposed, each of them
showing a particular logical performance. The discussion about psychoanalysis
technics became inevitable as to present the contribution here aimed as a
procedure ‘anti-manual’, highlighting for the clinic professional the necessity of
considering specific problems regarding his job. Then, a specific study of the
conditions and of the direction for children treatment was conducted, addressing
the preliminary interviews, in the occasion of the reading of the symptom and
formulation of the diagnostic hypothesis; the transference interpretation and
analytical act specifications; and the conclusion of the analysis. The importance of
the roles of parents must be always considered. The route of this work is passed
beyond by what was revealed an integrator axle, the analyst desire notion,
defining the role-function of the analyst in the treatment as reserve and guardian of
the central component that articulates all the others in its practice: the
psychoanalytical ethics.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO……………………………………………………………………………. 8
5.1 TRANSFERÊNCIA...........................................................................................122
6 O FIM DA ANÁLISE.................................................................................................151
REFERÊNCIAS................................................................................................................183
ANEXO............................................................................................................................ 195
8
INTRODUÇÃO
objeto a, considerado pelo próprio autor como sua grande contribuição teórica à
acompanha durante todo o seu percurso, fazendo-o utilizar cada vez mais a
correspondente dividir também sua obra em três fases ’topológicas’: a gráfica, dos
elementos que compõem uma figura: “Os objetos topológicos têm esta
vagas por elementos que, logo, vão se encontrar em relações lógicas, produzidas
p.136).
real e seu “principal correlato clínico que é o gozo” (DUNKER, 2002, p.26), e é
dessa clínica?
delicadeza especial, que deve atentar para uma estrutura não totalmente
preliminares e ao lugar dos pais no tratamento: como, por que e quanto incluir os
tratamento. Ainda uma vez, faz-se, então, indispensável, discutir a inclusão dos
objeto para o Outro, e a construção de sua neurose infantil é o que lhe permite
orientação lacaniana.
técnicas próprias, diferentes da clássica, diferentes entre si, mas, para cada um
condições para que um determinado sujeito possa realizar sua análise. Freud já
advertia (1919, p.207) 1 : “Não tratamos de edificar sua sina [do analisante] nem de
orgulho dos criadores, o que nos seria muito agradável.” Depois, no artigo Esboço
quando uma paciente pede a ele que se cale e a deixe falar, levando-o assim a se
1
Embora essa citação esteja referenciada às obras completas, optou-se por apresentar a tradução do trecho
correspondente conforme proposta no livro de Millot, Freud Anti-Pedagogo (1987, p.89), por ser mais clara.
15
aqui que a técnica psicanalítica encontra sua ética.” 3 (COELHO Jr., 2000, p. 78).
não deve tampouco desafiar o analisante, pois não apenas a semente dele
A preocupação maior de Freud não era tanto dizer como fazer, mas o quê
curativo e pesquisante, ou seja, a tudo o que está “em franca oposição ao que
2000, p.19).
(2002, p.8) afirma que, ao introduzir esse conceito, Lacan retira a psicanálise do
âmbito das regras para situá-la na esfera da ética: “O conceito de ato analítico
“se conceda um maior relevo à posição que o analista precisa sustentar para que
17
uma psicanálise ocorra. Assim, somos deslocados das questões das técnicas
ética.” (FIGUEIREDO, 2000, p.38). Neste sentido, não apenas é possível, como
metáfora:
5
A discussão sobre a ética psicanalítica, noção central e bastante particular, será realizada na conclusão
deste trabalho, ocasião em que estarão presentes todos os elementos necessários para tal.
18
invariável, mas revistas frente às singularidades de cada caso, para que possa se
Em seguida aborda a questão do tempo. Freud conta que cedia uma hora
que esse esquema pode ser alterado e aponta que o mais delicado nessa
“opõe-se [a esse desejo] um fator muito importante, a saber, a lentidão com que
p.172).
correr o perigo de ser bastante prejudicada caso o analista venha a ocupar o lugar
tal disposição espacial não só pelo conforto que propicia ao analista ao preservá-
isolamento da transferência.
tudo que vem a sua mente, sem qualquer censura ou restrição, ressaltando que
direção de ligar o paciente ao seu tratamento por meio da pessoa do analista, tem
importância capital. Uma construção que requer tempo e uma certa postura por
doença, uma satisfação paradoxal que neutraliza parte daquela motivação inicial.
analítico como uma proposta para lidar com essas dificuldades por meio da
reveladores do inconsciente.
que chamou de “uma condição psicológica em alto grau”. Tal condição poderia
aqui esta curiosa expressão freudiana não como a afirmação de que o analista
poderia vir a ser puro no sentido moral, liberto dos flagelos da alma, mas que
tornam evidente que tomar a criança como analisante requer a revisão de cada
ponto.
decorrer deste trabalho. Freud afirma a eficácia da psicanálise com crianças, mas
superego, o que permite inferir que em sua leitura sobre a questão do tempo na
confortável para que o profissional possa empreender sua tarefa e uma enorme
própria análise - proporcionando uma relação singular com seu sintoma; o estudo
regras para uma ‘psicanálise infantil’, mas uma articulação entre i) os últimos
‘Pequeno Hans’, caso clínico construído em grande parte por intermédio do pai do
24
acontece com a oposição teórica entre Melanie Klein e Anna Freud, duas
pioneiras dessa área com leituras bastante distintas do texto freudiano. Além de
prática clínica.
condição para tal trabalho, não acreditando ser possível nem desejável o
7
Para evitar confusões entre Freud pai e filha, utilizou-se a forma completa Anna Freud nas devidas citações.
25
definido com a criança. Propõe então essa tarefa prévia à análise, portanto não
analítica ainda, para que se obtenha uma situação mais vantajosa para o início do
criança.
Outro ponto por ela destacado como complicador para a psicanálise com
transferência 8 :
8
Refere-se a ‘manifestações de transferência’ apenas.
26
que “no caso ideal, compartilhamos o nosso trabalho com as pessoas que se
analista então não deveria se colocar como ‘tela branca’ para que a criança ali
dirigida’. Essa posição diretiva é justificada também por sua idéia de que a
sustentam, assim como também não podem ser deixadas a cargo dos pais, já que
eu, lugar esse ocupado pelo analista. Cabe a indagação: como pode a psicanálise
Ainda que o testemunho de Anna Freud tenha sem dúvida grande valor, a
idéia de que é a partir do próprio sintoma que cada analista realiza sua
9
Importa ressaltar que, nesse momento do desenvolvimento da teoria freudiana, ideal de ego e ego ideal
ainda se confundem. Na tradução espanhola da obra de Anna Freud, por exemplo, tem-se aquele no lugar
deste.
28
experiência clínica.
refere ao papel conferido à escuta dos pais, pois se de um lado Anna Freud
discursiva familiar.
analista, o que vale dizer, a si mesma, a posição de ideal do eu, forjando a noção
de uma ‘identificação saudável’ que acaba por impor à criança ideais alheios,
29
Melanie Klein, por sua vez, apresenta uma elaboração teórica radicalmente
análise de crianças em nada difere da realizada com adultos, observando que não
criança pequena já vivenciou o Édipo e, mesmo que ainda não fale, reatualiza-o
transferência, outra divergência com Anna Freud, pois sustenta, assim, não
Klein encara o papel dos pais de maneira muito diferente da colega. Não vincula o
30
supereu da criança aos pais reais, ao contrário, descreve-o como precoce, severo
difíceis e contraditórias.
de tais pacientes para associar livremente. Mais uma vez em desacordo com
31
Anna Freud, Melanie Klein acredita que, de forma simples e espontânea, através
constituição.
a relação do analista com a criança como uma relação dual na qual o primeiro
‘sabe’ - e quem sabe, ensina - concluindo, portanto, que Klein recusa a posição
crianças, lança luz sobre alguns detalhes muito sugestivos do percurso kleiniano.
paciente foi o próprio filho – fato aliás deliberadamente ocultado por muito tempo
como a grande maioria das outras crianças que analisou nesse começo de
tratamento, com quem realizava normalmente uma única entrevista inicial, poderia
conquistar um lugar. Certamente foi uma condição necessária para seu trabalho
mesma, entretanto, não se pode tomar tal procedimento, imposto por um contexto
Uma vez composto esse referencial inicial pelo debate entre Melanie Klein
uma só, e não haveria portanto uma especificidade na psicanálise com crianças.
que o método da associação livre não seria possível com a criança, razão pela
sugestões, e para com a criança, diante da qual assume uma atitude mais
imagem, o que faz parte de sua técnica com maior incidência do que o brinquedo,
analista conduzir a realização de tal tarefa reside no tratamento analítico que ele
mesmo empreendeu.
firmação de um contrato com a criança, que deve trazer à sessão, por exemplo,
a riqueza das questões relativas à troca simbólica que com os adultos aparece
ainda parece ser a de quem toma emprestado do Outro, ‘engordando’ sua dívida
graves, tendo inclusive construído uma instituição para acolhê-las, local onde “a
criança a construir seu lugar no mundo, sobretudo para aquelas que viveram seja
muitas transferências – do analista, dos pais, da criança – o que exige então uma
habilidade especial do analista para manejá-las. Para ela, as reações dos pais
uma vez que a criança doente participa de uma doença coletiva, servindo de
suporte para a angústia dos pais. Conseqüentemente, não se pode tratar de uma
criança sem tocar em problemas fundamentais dos pais, como suas posições em
implicados no sintoma do filho. Mannoni entende que a criança com seu sintoma
nos tratamentos de crianças de dois e onze anos de idade, por exemplo, não são
equivalentes.
Poder 10 , 1958, que “o analista é ainda menos livre naquilo que domina a
estratégia e a tática, ou seja, em sua política, onde ele faria melhor situando-se
estratégia determinada.
10
Todas as citações não nomeadas contidas neste item referem-se a esse específico texto de Lacan.
37
política requer uma estratégia que por sua vez implica soluções táticas. O analista
operador desejo de analista. A estratégia pode ser construída com certa liberdade
aos manejos clínicos escolhidos pelo analista para realizar sua empreitada,
tabuleiro’.
psicanálise com crianças seria uma delimitação estratégica, que leva em conta a
Será necessário tocar na questão tática, como escolha da ação em campo que
11
Apesar da tradução dos Escritos de Lacan propor a expressão falta-a-ser, optou-se neste trabalho pela
forma falta-em-ser por parecer mais apropriada à língua portuguesa.
38
dirige o tratamento [...] não deve de modo algum dirigir o paciente.” (LACAN,
1958a, p.592).
o paciente, mas também o próprio analista tem um engajamento pelo qual ‘paga’:
com palavras, na interpretação; com sua pessoa, na transferência; com o seu ser,
ou melhor, seu des-ser, remetendo-se ao lugar que [des]ocupa para que seja
retificação das relações do sujeito com o real, operação realizada nas entrevistas
39
do desejo com a fala”. (LACAN, 1958a, p.647). Contudo é justamente desse modo
que o sujeito se apresenta na análise, sendo, portanto, crucial que o analista não
análise.
12
Petri, R. O lugar do profissional no tratamento institucional da criança psicótica: analista ou educador?
Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, 2000.
40
sujeitos psicóticos, reclamam uma originalidade maior para seus quadros. Estes,
estável.
Contudo, como este trabalho está inserido no âmbito acadêmico, torna-se aqui
então necessário sistematizá-los, com todo o cuidado para que não sejam
tais questões.
41
vez mais articulações que apontam para especificidades da clínica com bebês,
para sua realização. O presente trabalho é uma pesquisa teórica com o objetivo
bebês e com adolescentes são campos clínicos que fazem a borda e, de certa
superficialmente.
pode ler esse sujeito? Por que recortar o ‘tempo criança’? Quais as implicações
estrutura na infância?
infantil proposto com os três estádios - oral, anal e fálico - a qual, antes de tudo, já
sobre a teoria psicanalítica. Lacan dedicou boa parte de seus seminários à crítica
1996, p.121-124).
não da sua exclusão, como é comum nas teorias desenvolvimentistas. Para tanto,
de um significante sobre outro, tempo subjetivo que Lacan destaca em sua leitura
da obra freudiana.
mudanças. Como então pode ser levado em conta o tempo nesse contexto?
modo talvez excessivo, incorrendo, por sua vez, também em equívoco. Apesar da
posição dos Lefort ter sido muito importante para a legitimação da psicanálise
na constituição do sujeito, por outro, não se pode deixar de atentar para uma
pelos Lefort, aponta para uma implícita dissolução da noção de criança, a qual,
do conceito de criança:
mesma vertente, da criança como um sujeito cuja libido não se deslocou dos
objetos primários, Laurent (1994, p.32) ainda acrescenta que os objetos não têm
estrutura”.
46
ordem simbólica que preexiste ao sujeito infantil e segundo a qual será preciso
imaginária, aponta não somente alguns dos elementos que estão em jogo - a, S1,
S2, Outro, outros, s(A), falo - como também o fato de que a relação do sujeito
com cada um desses elementos não é a mesma ao longo dos diferentes tempos
da constituição.
não é arbitrário nem casual, não é um deslize de Lacan, que ele situe o estádio do
Soler (1994, p.9) também contribui para esse debate, propondo uma
criança não é um sujeito, tanto quanto é um objeto para o Outro: “Não podemos
falar de psicanálise com crianças no sentido próprio sem questionar para cada
13
Cf. Bernardino (2004) As psicoses não decididas da infância : um estudo psicanalítico. Casa do Psicólogo,
São Paulo.
48
constituição. Noutros termos, o sujeito do inconsciente não ter ‘idade’ não implica
que o sujeito na infância seja sempre igual, quer a criança tenha dois ou dez
justamente por isso, impõe certas especificidades à clínica que, norteada pelos
mesmos eixos teóricos, difere apenas quanto às condições para sua realização.
Na Conferência 34, 1932, Freud afirma que o fato de a criança ainda não
mensagens de autoridade dos pais” e demais adultos que exercem uma notória
(1999, p.37) chama a atenção para o fato de esse imperativo ser também uma
espécie de chamado, no sentido da dívida que o sujeito tem com algo que lhe é
superior, sua causa e origem. Dessa forma, ainda que o sujeito não tenha pedido
para existir, deve assim mesmo prestar contas a seu criador, “oferecer sua libra
operação definida por Lacan como metáfora paterna, que introduz o significante
postulada por Freud, mas como interdição salvadora que separa a criança do
que o gozo seja recusado, para que possa ser atingido na escala invertida da Lei
habita o ser antes da linguagem, sendo assim um aparato que serve à conversão
tomada como o objeto que lhe serviria para alcançar uma completude que
14
As articulações a respeito do gozo que aparecerão nos próximos parágrafos estão referidas a esta obra de
Braunstein.
15
Braunstein reconhece uma tendência dentro do campo lacaniano em identificar gozo do ser e gozo do
Outro, mas preserva tal distinção na tentativa de contemplar a diferença clínica existente entre o gozo do ser
- vinculado à Coisa, atribuído imaginariamente como gozo do Outro, um Outro devorador/devastador - e o
gozo do Outro - o outro sexo, feminino. Este trabalho apresenta gozo Outro, quando se refere ao gozo do
outro sexo, e mantém as duas denominações, gozo do ser e gozo do Outro, para se referir a esse gozo do
corpo anterior à simbolização, fazendo a diferença quando se toma o ponto de vista da criança - gozo do ser,
ou do Outro - gozo do Outro.
52
da linguagem, para então irromper como sujeito nessa trama já constituída pela
tempo anterior como dominado pelo gozo do ser. A partir da chamada invocante
sujeito. É a partir desse núcleo, letra escrita pelo Outro, que a fantasia se
carne e faz desta carne um corpo que é simbolizado nos intercâmbios com o
Outro. Falar, pensar, passar pelos significantes da Lei: tais são os efeitos da falta
do objeto que toma assim o lugar da Causa (Ding).” Dessa passagem do gozo do
passa por ‘fases’ que vão demarcando esta longa jornada que
leva do real anterior e exterior à simbolização, à Coisa do
começo, ao real que sobra como saldo impossível depois da
simbolização e que se pretende apreender com as pinças da
palavra mas escorre, e ainda, se produz como efeito de discurso
pela palavra mesma, o objeto a, o fugidio plus de gozo.
(BRAUNSTEIN, 1999, p.34).
apresentada por Freud como um objeto perdido que o sujeito busca reencontrar:
mais íntimo e inacessível ao sujeito. Uma vez que o real só pode ser abordado
linguagem, que introduz a falta. Assim, a lei da linguagem é o que [re]cria a Coisa
gozo com o Outro e são constituídos como sujeitos. Os objetos, portanto, são
ser, o desejo. Ocupa-se a vida com a tentativa de dizê-lo, embora tal missão já se
a fala.
tem que passar pelo significante, sendo, assim, redimensionado em gozo fálico.
falo, significante da falta como universal a todos os seres falantes, o qual divide o
significante nome-do-pai, esse sim articulável, que substitui o falo como desejo da
relativa e precária imunidade contra esse maligno gozo do Outro que deixa o
Braunstein (1999, p.53-61), numa analogia feliz, afirma que, assim como
sugere a palavra como o diafragma do gozo. A análise cria condições para que o
diafragma possa voltar a se abrir, liberando assim a passagem do gozo por esse
é esta que leva à constituição do objeto como suplência do gozo que falta.”
sujeito.
apresenta a função da tiquê, ou seja, do real como encontro faltoso. Lacan (1964,
p.57) exclama: “Não é notável que, na origem da experiência analítica, o real seja
acidental?”
Essa transmissão realizada pelo Outro via trauma dá-se, assim, segundo
do trauma para contornar esse real inconfrontável. A fantasia como uma estrutura
em sua relação intangível com o objeto [causa] de seu desejo, objeto a, extraído
ainda não manifesta na infância todas as conseqüências que tal articulação entre
58
acordo com Lacan, é que não há relação sexual, a questão é induzir o sujeito a
encontrar-se com essa verdade”. (FINK, 1998, p.151). Tal questão também se
S ◊ a, fórmula da fantasia na álgebra lacaniana, que pode ser lida como o sujeito do desejo em sua
16
lado feminino, passando pelo corpo para além do falo. Esse gozo feminino, gozo
Outro, do Outro sexo, só pode ser alcançado, entretanto, uma vez aceito o gozo
fálico. O falo, de uma forma ou de outra, impõe sua inegável presença, como
limite, para o gozo masculino, ou como borda a ser ultrapassada, para o gozo
mulher, relaciona-se, em verdade, com o objeto de sua fantasia que uma mulher
pode vir a representar. A mulher, por sua vez, não mantém uma relação com o
homem, mas com o instrumento que lhe interessa e acontece de ser encontrado
no homem. Em ambos os casos, a relação não é com o parceiro sexual, mas com
o próprio objeto.
“Do gozo ao desejo, do desejo ao amor, e o amor, por sua parte, recaindo
fazer, a relação sexual não existe.” (BRAUNSTEIN, 1999, p.28). O amor é, assim,
suplência para o fato de não haver relação sexual, dá forma ao desejo e faz
dito.
uma questão crucial para todo e qualquer sujeito, desde sua entrada no campo da
real do Outro sexo no encontro sexual, mantém uma posição diferente diante da
17
Citação sem referência utilizada como divulgação de seminário ministrado em São Paulo, 2005.
61
entretanto, que a criança não sofra os efeitos do que possa registrar do real dessa
O real não varia, no sentido de que não existe mais ou menos impossível,
e seus instrumentos lógicos para fazer frente às irrupções desse mesmo real.
criança é, então, o real em jogo que, embora sempre sexual, deixa ainda
significante, aponta, portanto, para uma inconsistência, a qual leva Soler (1994,
relação ao gozo.
pergunta sobre o desejo da mãe, tem a primeira versão do impacto do real pela
angústia de castração.
Michel Silvestre (1982) afirma que o real diante do qual a criança recua é
alteridade entre os sexos, ocultada pelo preço da castração, elegendo o falo como
apenas ressurgirá quando o sujeito se reencontrar com o outro sexo, não mais
união e da exclusão irreversível que marca cada sujeito com relação ao sexo a
63
que ele não pertence. Esse segundo encontro marca a adolescência, quando, ao
desse rearranjo que a estrutura alcançará uma estabilidade até então ausente.
desejo não anônimo, que conjugue as funções de mãe e pai. Mãe, na medida em
que seus cuidados levam a marca de um interesse particularizado, ainda que pela
via de suas próprias faltas, e pai, na medida em que seu nome é o vetor de uma
reconhecer como causa do seu desejo uma mulher, renunciando, assim, a ser
o gozo irredutível que advém disso. A pai-versão como única garantia de sua
função como pai é o que singulariza o sujeito, realizando uma escritura articulada
feminina. Miller (1998) formula, a partir dessas colocações de Lacan, que, para a
mas cuidar para que a criança, por outro lado, não sature a falta da mãe. É,
que para constituir-se o sujeito do desejo na criança são necessários não apenas
gozo do Outro, e a mãe, por sua vez, caso não concedesse em ser, enquanto
65
ocupar deles.
pai enquanto homem “que se transmite a lei que permite ao sujeito abandonar pai
Tomando uma mulher como causa de seu desejo, o pai, em seu lugar de
em falta – que faz enigma – que a criança solicita quando interroga os pais sobre
o que ela é.” (SAURET, 1997, p.41). É a falta de um significante que responda à
pergunta o que o Outro quer de mim? que leva o sujeito a construir uma resposta
pelo pai, a qual nada mais é do que uma maneira singular de se transmitir o
sujeito é a própria transmissão da castração, feita pelo pai real, que pode
transmitir para a criança a relação com a lei do desejo justamente porque ele
próprio não é a lei. Noutros termos, o pai testemunha para a criança uma versão
possível de relação com a causa do desejo, qual seja, a sua própria versão. É a
Lacan: o que é um pai? o que o Outro quer de mim? o que quer uma mulher? É a
enquanto homem, uma mulher como causa de seu desejo, apresentando, assim,
uma trama básica segundo a qual irá se conjugar o desejo do Outro para a
criança.
desse impossível ao qual todos somos confrontados. A pergunta o que quer uma
mulher? está implícita para a criança, às voltas com uma questão anterior: o que
é uma mãe?
como oposta à posição feminina, mantendo, porém, uma articulação entre ambas,
que lhe foi passado, apropriando-se de forma singular da herança que lhe foi
apenas se efetiva por meio das respostas que a criança produz a partir daquilo
que recebeu. Num primeiro momento, conta somente com o real de seu
rapidamente, partindo dessas primeiras marcas, passa a fazer uma leitura desse
A criança vai construindo instrumentos que têm uma função lógica para dar
com relação à realidade sexual, por exemplo, são mitos que constrói, em
no qual a falta no Outro já está de alguma maneira incluída, qual seja, a castração
para contornar um novo impossível e dar conta desse real então renovado,
nele que a criança encontrará ou não os ‘termos’ 18 necessários para sua nova
18
Tais ‘termos’ são, de fato, da ordem simbólica, acessíveis para a criança enquanto elementos da estrutura
do(s) sujeito(s) que sustenta(m) para ela o lugar de Outro, dos quais se serve para reordenar os elementos
intrínsecos à sua própria estrutura.
69
operatividade clínica.
estrutura psíquica.
possível não somente articular as relações entre os três registros, mas também
delimitar lugares e funções. Pode-se localizar tanto os gozos definidos por Lacan -
objeto a se localiza na prensagem central dos três aros, buraco que designa para
o sujeito o vazio de sua existência. É o objeto a que unifica RSI fazendo com que
Como já dito, a topologia é um recurso ao qual Lacan recorre com cada vez
caracteriza, é ser composto pelo enlace concomitante de, no mínimo, três aros,
com relação às colocações de Lacan nesse seminário, uma vez que muitas
um reparador que apenas surge quando uma falha específica se apresenta, mas
(1975/76). É somente a partir de então que o encontro com o outro sexo pode se
sujeito alivia o peso do Outro que se lhe recai, ou seja, ao modo pelo qual se
20
Cf. O sinthoma adolescente. In: Estilos da Clínica: Revista sobre a infância com problemas, no. 6, IPUSP,
São Paulo, 1999.
72
enodamento, mais tarde tal costura se desfará para ser refeita no sinthoma.
crianças com uma pretensa profilaxia do que quer que seja: alterar uma escrita é
bem diferente de prevenir seja o que for, pois nunca se sabe exatamente a que
caracterizada pelo jogo do engodo e das frustrações que vive com a mãe como
de gozo leva a essa mesma escanção, pois o advento da castração não deixa de
ser uma referência central também nesse âmbito: antes da castração, a criança
está às voltas com o gozo do Outro; a partir de sua incidência, alcança o gozo
do sentido.
74
sujeito.
introdução ao tempo ‘criança pequena’, uma vez que a psicanálise com bebês
A criança pequena
de uma tessitura desejante. A mãe se oferece então como uma matriz simbólica
mãe, como se o encontro com o Outro pudesse ser bem sucedido, no sentido de
uma plenitude.
momento em que era esperada, mas antes, ou depois. Sobre esse inevitável
objetos reais, como o leite, a mãe passa a ser a possuidora de objetos de dom,
76
impasse que se impõe, obturando assim essa primeira brecha através da qual o
ainda que ao preço de, com tal manobra, manter-se alienada a ele.
que, embora o objeto real não seja indiferente, não há necessidade alguma de ser
específico.
Mesmo que não seja o seio da mãe, nem por isso ele perderá
algo do valor de seu lugar na dialética sexual, de onde se origina
a erotização da zona oral. Não é o objeto que desempenha, em
seu interior, o papel essencial, mas o fato de que a atividade
assumiu uma função erotizada no plano do desejo, o qual se
ordena na ordem simbólica. (1956/57, p.188).
para a criança realizar essa nova organização, se estiver marcada ela mesma
pela castração. Se esse Outro falha nesse momento, deixa a criança sem
elementos para lidar com o impasse colocado. É aqui que entra o pai nesse
função paterna é assim veiculada pela palavra da mãe: o pai, sendo o que dá
77
homem concretamente presente, mas uma instância que leva a mãe a desviar
um lugar no gozo do Outro ao nascer, o gozo que ela então experimenta como
21
É interessante notar, como destaca Braunstein (1999), que a produção cultural consagrada ao gozo do
Outro corresponde à religião, a qual prega um assujeitamento radical a um Outro todo poderoso como via de
acesso à experiência da completude. Nesse sentido é que Lacan, no seminário sobre o sinthoma, afirma: “A
mulher da qual se trata é um outro nome de Deus, e é nisso que ela não existe”. (1974/76)
78
atravessada pela castração, passa a renunciar pouco a pouco a esse gozo que
A criança edípica
falo para o jogo da castração na relação com o pai. A partir de um impasse, qual
exige uma reordenação dos elementos, com a entrada significativa do pai real,
percebe que a falta se presentifica. A criança, diante de uma situação que expõe
79
novo ‘termo’ para enfrentar esse impasse. O pai real então aparece como aquele
mãe. “Aqui, é como ser vivo de carne e osso que ele intervirá e sua intervenção
só se sustentará por seu desejo”. (LEBRUN, 2004, p.41). Sendo assim, a palavra
da mãe não é mais suficiente, se ela não desejar como mulher, se não for objeto
para o gozo de um homem, isso poderá trazer conseqüências, por exemplo, para
o futuro posicionamento sexual do filho. Dito de outro modo, além de pai e mãe, é
simbólica.
pode, então, ser buscado, de modo próprio, tanto pelo menino como pela menina.
Após a castração, a criança sai marcada em relação ao falo com um sinal de mais
ou de menos, pois numa dialética simbólica “o que não se tem é tão existente
futuras trocas da criança com o Outro. Com a função paterna se estabelece o que
trocas.
confronto com a castração que a criança construirá sua fantasia, definindo então
sexual, mas a criança não tem ainda a possibilidade do ato sexual propriamente
dito, sendo então obrigada a recalcar todo esse material, com o qual se
81
atravessado pela linguagem. Braunstein (1999, p.83) afirma que o gozo fálico se
inscreve na articulação do real que resta da Coisa, uma vez descolado o desejo, e
significante. 22
A criança na latência
22
Para Braunstein, a produção cultural correspondente à estrutura desse tempo da constituição é a ciência,
como atividade que se propõe apropriar-se do real por intermédio do simbólico, repudiando o imaginário.
Nesse sentido, tanto as teorias sexuais infantis típicas desse tempo, quanto o pensamento científico,
remetem ao gozo fálico.
82
do falo, para onde 23 a mãe, já castrada, dirige seu desejo. A criança terá de
em textos freudianos para defender a tese, com a qual aqui se concorda, de que o
imaginário, pai simbólico e pai real. Alberti afirma que se até então estava em jogo
que encarna para a criança o pai que barra o desejo da mãe, e graças a essa
vacilação é que a criança pode se deparar com as três versões do pai. “Não que
23
Aqui, como em outras partes do texto, a desobediência à regra gramatical que convenciona o uso do
pronome relativo nesses casos é proposital, visando a relevar a conotação de ‘lugar’ simbólico.
83
elas não estejam aí desde sempre, mas a criança precisará poder distinguir o pai
ao qual agora ‘dessuporá’ o falo e o pai que o mantém”. (ALBERTI, 2003, p.17).
paterno.
então possível para ela uma deflação dessa figura que lhe permita a busca por
estabelecimento dos laços sociais. Devido não apenas a esse fato, defende-se
neste trabalho, como já dito, a idéia de que é legítimo destacar esse período
aparece articulada à esfera social: espera-se que seja bem sucedida nos estudos
encontro sexual, do qual o sujeito retira alguma satisfação, sem que no entanto
haja a relação sexual, para a qual o sujeito continuará, sempre, por estrutura,
impossibilitado.
lugar da
que não diz nada sobre o genital; e o fracasso do discurso social, que não
sujeito com o Outro sexo lhe apresentará então ‘cara a cara’ a inexistência da
relação sexual, e a construção do sinthoma, como o quarto aro do nó, virá como
24
Segundo Braunstein, a produção da cultura correspondente são as ideologias, que remetem ao sentido e
se caracterizam por um horror ao real. Nesse sentido, as ideologias podem ser compreendidas como
tentativas de recobrimento dos buracos do real que, embora exibam o apelo de uma coerência interna,
sustentam-se em falsos pilares. A psicanálise, segundo o autor, diferentemente da religião, da ciência e da
ideologia, tendo um saber sobre a estrutura, encontra seu lugar em torno do objeto a, “objeto fugidio inclusive
para o saber, localiza-se ao mesmo tempo nos três registros que marcam a necessária incompletude que
afeta todas as tentativas de dizer a verdade plena, de lograr este Saber Absoluto com o qual sonha o amo”
(1999, p.84).
86
neste trabalho.
como analisante para neste iniciar-se a discussão das condições para que a
análise com uma criança possa se realizar. Se uma criança só chega para
são afinal os ‘pais’. A criança constitui sua neurose na relação com o Outro
simbólico, mas, como formula Melman (1997), é com os pais como Outros reais
que a criança se relaciona na vida cotidiana: qual então a relação entre o Outro
destacável da aplicação real que lhe dão os pais”. (MELMAN, 1997, p.19).
Contudo o Outro na infância tem ainda uma consistência tal que lhe
momento pela mãe, enquanto Outro primordial, lugar de linguagem; tão logo a
Entretanto é notável que o lugar ali ocupado atualmente pelo saber paterno vem
que os pais podem dar a um filho, dom supremo, alcançado por um traumatismo.
A exigência dos pais enquanto Outros reais com relação à criança sofre o
cumprimento desse ideal é justamente “o que vem manter a criança nesse pouco
próprio psicanalista, pode em geral ser resumida como um pedido para que se
castração, em uma tentativa de realizar uma exceção à lei dos homens. Os pais
pedido para se curar a criança, deixando intocada a mesma verdade familiar que
resposta é pedir aos pais que falem sobre o filho, através do que falarão também
daquela do Outro social hegemônico, o mesmo que os levou até ali, é decisivo
homossexual para quem o pai demanda análise, afirma que “não é indiferente que
alguém venha à psicanálise por sua própria vontade ou seja levado a ela”. O pai
da jovem pede a Freud para resolver o problema da filha, o que, para ele,
análise, uma lacuna fatal torna-se então evidente: a carência de uma demanda do
demanda paterna, pois confinado à tentativa de curar a moça, havia perdido sua
analítico.
uma vez que, como já afirmado neste trabalho, trata-se de posições muito
diferentes frente ao Outro. Contudo o caso descrito por Freud serve mais
determinar que seja praticamente sempre “levada a ela”. Não equivale dizer que a
criança não venha a demandar a análise, mas para que tais condições se façam
presentes torna-se necessário uma manobra a mais do analista junto aos pais. É
somente a partir da oferta do analista no encontro direto com a criança que será
a criação das condições adequadas para que uma demanda do próprio analisante
pudesse talvez se formular, é função do analista não se deixar enredar pela trama
entre a fantasia dos pais com relação ao filho, que nomeia de ‘filho imaginário’, e
a leitura que a própria criança faz disso. Para tanto, é necessário que, num
criança carrega uma questão própria. Para que o analista possa atender a essa
sua singularidade faz-se necessário uma escuta dos pais que possibilite
no mundo, como assevera Bernardino (1997). A escuta dos pais, porém, não
92
criança. Essa criança carrega um real, mas que é do Outro, e sua singularidade
essa questão. São justamente as entrevistas preliminares que devem isolar aquilo
tratamento, na medida em que oferecem o espaço para que sua demanda possa
ser formulada, sendo para tanto necessário que seu sofrimento esteja configurado
questão.
do casal, pois a demanda com relação à criança corresponde a uma leitura que
primeira inclusão do pais é fornecer material significante para que o analista faça
discursiva, assim como precisar qual o lugar que a criança ocupa na fantasmática
parental, ou seja, produto de qual ‘não relação sexual’ ela é. Nas entrevistas com
a criança, pode-se averiguar qual a sua leitura sobre a demanda parental, abrindo
espaço para a construção de sua demanda, aquela que só ela pode formular,
imprimindo assim sua linha própria na análise que poderá então se realizar.
crianças para que se possa fazer a leitura do sintoma, bem como do diagnóstico,
condições para a criança revolver os impasses próprios a tal lógica, mas também
casal de pais com a sexualidade. Tais eixos reforçam o que o autor destacou
como dois pólos, quando tomamos cada sujeito em particular: no pólo vertical
esteja atento a esses dois pólos, nos quais certamente encontrará elementos
desses pais.
94
operação analítica pode de fato realizar-se, como abordar uma continuidade para
isso?
Importa lembrar que, embora não haja ‘direção de tratamento dos pais’, há
transferência entre eles e o analista do filho, como uma condição para a análise
pode ter um efeito interpretativo para os pais, renovando a questão do lugar que
ocupam, para além das entrevistas iniciais, no decorrer da análise da criança. Tal
problemática é crucial.
pais se define por sua posição na demanda, ou seja, “se demandam a garantia do
tratamento, uma vez que seu discurso produz efeitos sobre a criança, e é
ele - que a criança formulará sua resposta, fazendo trabalhar os significantes para
[re]construir sua versão desse lugar discursivo que lhe foi atribuído. Não se deve
analítico com a criança, possibilitando então mudar também o lugar que ocupam
no tratamento.
Ademais, o analista pode ainda fazer um trabalho junto aos pais, no sentido
pode ser feito a partir de entrevistas ocasionais, decisão a ser tomada em cada
interrompido.
com seu próprio dizer”, o que se aproxima do objetivo proposto por Lacan para as
entrevistas preliminares com adultos, qual seja, uma retificação das relações do
sujeito com o real, embora o ‘entrevistante’ nesse caso, pai ou mãe da criança,
não seja um candidato à análise, pelo menos não inicialmente. Desse modo,
realizadas com os pais têm a mesma estrutura das realizadas para o tratamento
96
padrão, embora não tenham o mesmo objetivo, uma vez que os pais estão ali
reunidos com o analista para falarem de seu filho. Contudo tal semelhança pode
ser suficiente para que uma demanda de análise venha a ser formulada por parte
dos pais, agora não mais como pais, mas como sujeitos que dirigem uma questão
situação que se for esclarecida nas entrevistas pode levar o adulto à análise em
vez da criança.
Em todo caso, a escuta dos pais não serve como chave de leitura para a
tratamento, o manejo transferencial dos pais é, portanto, muito delicado. Não raro,
analista deve ter cautela ao decidir acolher tais demandas, para não obstaculizar
sua escuta da criança. Muitas vezes os pais precisam ser interditados nesse
participação dos pais entre uma certa implicação que permita a continuidade da
presença da criança interfere no discurso dos pais, que então tendem a amenizar
como se a criança não tivesse presente ou não pudesse escutar o que está sendo
dito sobre ela. A criança, por sua vez, dorme num determinado ponto da
entrevista, comenta algo que se articula à fala dos pais, pega algum objeto, faz
uma brincadeira, enfim, dá sinais de sua afetação pela fala dos pais. Tais
entrevistas conjuntas devem ser evitadas tão logo a análise tenha início,
determinado assunto com os pais, mas não deseja estar presente. 26 M., às voltas
em entrevista marcada, responde com uma carta, entregue ao analista para ser,
26
A patir deste ponto, introduz-se vinhetas clínicas apresentadas de modo ilustrativo apenas, num exercício
de ‘mostração’ das questões teóricas implicadas, sem contudo a intenção de articular elementos para uma
discussão aprofundada do caso voltada a efetivamente interrogar a teoria.
98
por sua vez, encaminhada à criança. Dependendo do assunto a ser tratado com
os pais, é mesmo melhor que a criança não esteja presente, pois existem
questões, por mais que impliquem a criança e seu sintoma, que são dos adultos,
como, por exemplo, a própria sexualidade. Nesse caso, pode-se afirmar que a
criança, responsáveis por proporcionar a ela condições favoráveis para lidar com
que quanto menos dispositivos a criança tiver para organizar seu mundo, ou seja,
de um outro lugar.
99
presença concreta para que tal função venha a operar. A importância do pai
nesse momento é o lugar que ocupa no discurso da mãe, como terceiro à relação
ao qual não tem poderes para corresponder, enquanto a mãe, culpando-se pela
100
importante para a escuta da criança, que logo na sua primeira entrevista, procura
fato sustenta a função paterna nesse tempo da constituição, sendo o agente real
pretendia empreender com o próprio filho. Desse modo, a função básica das
entrevistas preliminares realizada com os pais foi desempenhada por cartas entre
a respeito de Hans, só que desta vez, lamento dizê-lo, se trata de material para
um caso clínico.” (FREUD, 1909, p.33). Passa então a relatar acontecimentos que
que teriam culminado no aparecimento de uma fobia. Deixa assim entrever não
análise.
pedido para conversar com ‘alguém neutro’, termo aprendido por ocasião da
Ainda que os pais tenham sido escutados outras vezes, ficou claro logo nessa
entrevista inicial com a mãe que havia um pedido da criança. Embora não
esporádicas.
As entrevistas preliminares com a própria criança, por sua vez, têm como
sua formulação de uma demanda por meio da qual possa dirigir suas questões ao
analista.
precisam ser ratificadas pelos pais para chegar ao consultório do analista, mais
ligam indiretamente aos pais, como R., com sua anorexia, ou mesmo Hans, com
dos pais, como no autismo ou na psicose, em que, pela própria posição subjetiva,
importância, fazendo para a criança a diferença entre a posição dos pais, que ela
carrega em seu sintoma, e a do analista, que não lhe dirige demandas, não a
capturado pela demanda dos pais, tomando a criança a partir desse lugar,
27
Esse último caso, como já mencionado, não é objeto da atenção deste estudo.
103
também não será possível uma análise. Contudo vale lembrar que às vezes a
criança leva tempo para formular sua demanda e endereçar ao analista sua
de escuta que se trata, afinal são discursos que estão sendo tecidos sobre a
criança e que também têm algum efeito sobre ela. O discurso dos especialistas
paranóia. As regras dessa luta do salve-se quem puder “são regras constitutivas
dos pais, aos quais oferecem suas vagas em nome de realizar a tarefa com
criança não implica necessariamente nessa tarefa, mas criar melhores condições
desobstacularizá-los.
4 DIAGNÓSTICO E SINTOMA
alucinação.
28
Referência às considerações de Braunstein (1999) com relação ao gozo, aqui abordadas no capítulo dois.
106
resposta passa a ser uma questão. Essa elaboração do sintoma como sintoma
muito freqüente que esses quadros não se apresentem de forma ‘pura’ na clínica
diagnósticos.
A autora atenta para o fato de que, uma vez que o sujeito se constitui a
então dirigido como discurso passa, assim, a ser-lhe constituinte. Nesse sentido,
exercida pelo analista pode expressar uma opressão tão determinante quanto o
transferencial que ele pode lhe dar”, assim, “os compartimentos diagnósticos
operam tanto melhor quanto mais o analista os deixa no lugar em que convém:
respeito desse sujeito que vem encontrá-lo. Na clínica com crianças, vale insistir,
29
Note-se a indissociável vinculação entre técnica e ética no campo psicanalítico, a ser discutida no capítulo
sete.
30
A esse propósito, «Como toda classificação, útil ; como toda classificação, falsa», Fernando Pessoa.
109
transferência, por meio da qual pode rastrear a relação da criança com o Outro, a
configuração.
verdade de tal núcleo, revelando sua implicação com a subjetividade dos pais.
tem como função revelar a verdade desse objeto. Assim, ao realizar a presença
31
Cf Bernardino (2004) op.cit.
110
metáfora paterna não se instala, a operação analítica sofre uma inversão, partindo
caso é preciso se fazer uma leitura minuciosa do sintoma, investigar ao que ele
torno da relação da mulher com sua falta essencial de objeto, cujo significante é o
falo. A questão da criança é saber como pode, ou não, saciar o desejo da mãe
com relação a essa falta: ocupar o lugar de falo imaginário, legado por Freud, ou
32
Esses casos foram objeto de estudo em pesquisa de mestrado já referida anteriormente. Cf Petri (2000)
op.cit.
111
objeto ela é para a mãe, e como pode vir a se descolar dele. Uma vez que,
tratamento.
satisfação pulsional que não teve lugar: “em o sinal e o substituto reencontramos
que não teve lugar, a vertente da criança que, como objeto a, vem preencher o
buraco real que excede a satisfação fálica.” (LACADÉE, 1996, p.81). Quando a
criança está no lugar de falo da mãe, é sinal de que já existe uma referência
servindo assim para obturar essa falta, estará contudo livre de maiores riscos, se
custas do filho, a mãe segue então desejando enquanto mulher, posição que será
ainda que parcial, para responder ao real em jogo, sendo, assim, o testemunho de
sua apropriação, como sujeito, do que ela é no desejo parental. É no sintoma que
desejo que a engendrou, a escuta dos pais nas entrevistas preliminares é, como
já afirmado, fundamental.
criança paga o preço das limitações impostas pela invenção de um sintoma que
lhe permita contornar esse real gerador de angústia. Vale ressaltar que não existe
sujeito.
certo modo de gozo. Essa formulação não invalida a anterior, o sintoma como
gozo encapsulado, com valor de letra, escritura a ser decifrada a partir de sua
sujeito. Com a tese da palavra como diafragma do gozo 33 , o autor assinala que o
alterando a escrita da palavra sintoma para sinthoma. Leite (s/d, p.9) relaciona as
33
Cf capítulo dois, item dois.
114
sintoma, real este constituído pela exclusão do simbólico e que aponta o gozo
ou seja, não uma substituição, mas uma invenção que vem reparar o erro de
verdade, mas o real, ao qual só se tem acesso por pontas e pedaços. Nesse
sentido, o tratamento analítico é nomeado como práxis do real e não como busca
ao saber fazer com aquilo que deu lugar ao sintoma, os fatores da ordem da
115
Como esses novos elementos propostos podem servir à leitura da criança como
analisante?
distância que separa a criança, enquanto sujeito, de seu objeto ideal [...] uma
sintoma infantil.
no campo da linguagem, mas é sensível aos ideais parentais: “Ser homem ou ser
mulher já, quando ainda não tem possibilidade do ato que nisso as situe, obriga
as crianças a produzirem seu sintoma [sinthoma] ...que, a partir dali, não é mais
34
A discussão sobre o fim da análise será realizada no capítulo seis.
116
criança, com sua sintomatologia clínica. O autor afirma ainda que a fantasia na
uma posição cuja prática está duplamente vedada.” Quando a transmissão da não
sintoma aparece, possibilitando assim uma saída, mesmo que precária, para esse
impasse.
35
Cf. Rassial (1999) op. cit.
117
três aros, apenas citando o quarto aro reparador junto à indecisão teórica que o
debilidade.
faz erro, por uma carência do pai. Carência aqui não é sinônimo de falta
responde, ao que o sinthoma vem reparar. Na infância, são os sintomas que virão
impasses. Lacan (1973/74) afirma ainda que a criança deve aprender alguma
coisa para que o nó seja bem feito, ressaltando que nada é mais fácil do que algo
das falhas de enodamento dos três registros, ou seja, uma tentativa de reparação
uma vez que a estrutura toda ainda não está em questão. Esse impasse tem
relação com o Outro parental, onde a criança busca os termos necessários para
corpo, uma vez que “o significante, na infância, entrelaça-se com o corpo de uma
120
maneira muito mais estreita do que no adulto.” (CORIAT, 1999, p.152). Nesse
analista a partir das entrevistas preliminares, que, diante da distância entre seus
mãe, que se retirou em uma posição depressiva, foi comer nada, de modo a
da incidência da castração. Surge quando há uma falha, que indica uma carência
do articulador essencial de tal tempo, qual seja, o pai real, agente da castração.
significante ‘cavalo’ como objeto ao qual dirigir uma fobia de modo a aplacar sua
fato de ainda não estar concretamente confrontada com falta da relação sexual e
não ter construído seu sinthoma. Para além do gozo fálico, a criança tem nesse
Apontar para o gozo que se obtém através de um sentido é o que pode levar à
encontrada junto aos pais. Esse quadro aparece após a separação litigiosa do
passando efetivamente a morar com uma outra mulher. Esse cenário parece
criança a partir da transmissão dos modos de gozo realizada pelos pais. A brusca
de que o saber paterno não pode dizer nada sobre o gozo da mãe, e seu
retraimento pode ser compreendido como uma resposta ao fato de não ter
ainda com uma terceira, a transferência, que será mais especificamente abordada
no próximo capítulo.
123
5.1 Transferência
ser curada pela própria análise que a provocou, a qual revela ao analista a
confiado ao analista, que se torna assim precioso por ser o depositário do tesouro
do analisante, do verdadeiro cerne de seu ser. Essa estrutura relacional tem como
sobre o sofrimento que acomete o sujeito, suposição essa necessária para que a
É com Lacan que a leitura dessa estrutura própria à relação analítica ganha
fenômeno da transferência.
significante sujeito suposto saber, constituinte ternário dessa relação, o qual, uma
vez instalado, traz como efeito o aparecimento do amor. A demanda por livrar-se
em uma demanda de amor. O analista deve estar atento para fazer emergir nessa
tratamento.
ao analisante fazer com que o gozo ceda ao desejo, passando então pelo
diafragma da palavra.
como propõe Freud parece não se sustentar. Porge (2003b, p.144) explica que
neurose ordinária, uma vez que está em uma relação de coalescência com
tratamento deveria ser modificada para sua aplicação em crianças, nota que a
vez, para abordar a criança como analisante é preciso começar pela presença
dos pais.
lugar primeiramente para os pais da criança, para que a análise possa vir a
ocorrer. Efetivamente, já não se está diante de uma situação acertada entre dois
cena, não somente para a configuração inicial, como também para todo o
a análise da criança não poderá ocorrer, não apenas porque, objetivamente, seu
suposto saber para a criança, em grande medida, porque é sujeito suposto saber
para seus pais. Atal (1998) usa o termo ‘dupla escuta do analista’ para se referir a
essa transferência de dois lados. Tal configuração traz dificuldades para o manejo
transferencial, uma vez que compõe transferências que se entrecruzam, mas que
transmissão simbólica que foi interrompida. Sendo assim, a transferência dos pais
129
com o analista é uma condição para a psicanálise com crianças, torna-se tarefa
Uma vez que a escolha do analista é geralmente feita pelos pais, a criança
a relação transferencial.
fato de o lugar de sujeito suposto saber a ser ocupado pelo analista já estar sendo
ocupado pelo adulto, sobretudo o casal parental, “encarnando o Outro com uma
(CORIAT, 1997, p.300). Nesse sentido, Porge (1998) propõe que a neurose da
pessoas ao redor da criança, afirma que ela quando fala não se dirige a uma
pessoa, falando “para lá, canto da coxia”. É a partir dessa formulação que Porge
narcísica, sugerindo que ela deva, por sua vez, procurar também escapar à
36
Cf. capítulo três, p.88-89..
131
patrimônio comum recebido por cada novo sujeito. “Se tal organização simbólica
constituído, possa fazer com ela algo de novo”. (VORCARO, 2003, p.16).
adulto. Segundo Coriat (1997), o objeto a no “sujeito infantil” ainda não tem o
sucessivas interdições que esse pequeno sujeito sofre em suas quatro versões
corporais do objeto a - voz, olhar, seio e fezes - até finalmente ter, com a
momento ainda não tenha como contar com a estabilidade da fantasia. “A história
que, para ela, esse Outro ocupante do lugar de sujeito suposto saber se
frustração com a mãe, o analista ocupa o lugar da alteridade materna, uma vez
sujeito suposto saber para a criança, o qual poderá então ser ocupado pelo
esse lugar de Outro primordial pela criança que propôs um jogo de ‘fazer
alteridade paterna, já que nesse tempo é o agente da função paterna que ocupa o
133
simbólico do pai, o lugar da Lei [...].” (OLIVEIRA, 1991, s/p). Com relação ao caso
constituição, ainda que nesse particular caso clínico tal lugar tenha de fato sido
sustentado transferencialmente pelo próprio Freud, uma vez que o pai da criança
Mestre aqui não é aquele que exerce a autoridade através do poder, mas uma
figura que pode ser tomada no lugar do pai imaginário, desinflado, para sustentar
suas respostas sobre o desejo do Outro dada sua situação familiar. Convoca
parental, para onde dirigir suas questões - para onde o desejo de minha mãe se
Contudo, orientado pelo operador desejo de analista, não lhe dirige demandas,
mas propõe a ela um lugar vazio a partir do qual possa formular uma demanda
própria. Nesse sentido, como suporte do objeto causa do desejo, o analista cria
não se confrontando com o Outro sexo no ato sexual, não tem como se deparar
seus atos, então remetidos para o futuro. O fato de a criança não ter a mesma
relação com a palavra que o adulto constitui, na leitura de Michel Silvestre (1982),
o fracasso do tratamento.
o que se faz em toda análise, qual seria então a especificidade da análise com
simbólico, mas pelo real do sexo em jogo, diante do qual a criança não tem como
vez que não tem ainda como defrontar-se com o Outro sexo. Eis o limite da
experiência sexual, que o sujeito poderá [des]encontrar-se com o Outro sexo para
p.300).
37
Cf. capítulo seis.
137
transferência, uma vez que, reduzindo o campo escópico, facilita ao sujeito ater-
Vale lembrar que a utilização do divã não é suficiente nem indispensável para
do ato sexual na vida da criança, propor-lhe o divã seria uma manobra sedutora,
porque não haveria nada para deixar fora.” (CORIAT, 1997, p.301).
Com a criança, não apenas o divã não tem sentido, como também a cena
além de uma série de outros objetos, para dar suporte à fala. Inversamente à
imaginário. Contudo, Stevens (s/d, p.15) ressalta que a imagem corporal não está
tão fixada na criança como no adulto, fazendo portanto menos obstáculo nas suas
infância, está sendo por ele traçado. Na mesma medida em que o objeto a ainda
não tem estatuto de radicalmente perdido, o corpo também não está ainda
interditar o gozo do corpo com a promessa do gozo fálico. A criança perde aos
poucos a “intimidade com o objeto de seu gozo: com o peito, com as fezes, com o
leite, com o corpo materno e com o seu próprio corpo. E, para aceitar essas
Os objetos que fazem parte da situação analítica com uma criança teriam assim o
primeiro lugar, que é preciso um bocado de pequenos objetos para manter uma
para operar com o significante de modo a sustentar sua própria fala, pois o
desejo do Outro.
literária: “Acaso não poderíamos dizer que ao brincar toda criança se comporta
elementos de seu mundo de uma nova forma que lhe agrade?” As fantasias e
140
infantil, ou seja, uma substituição dos meios para o prazer que obtinha ao brincar.
Segundo Freud, o brincar da criança é movido por um único desejo, ser grande,
sério’, seu trabalho é o brincar, atividade que consome seu tempo, demandando
criança não brinca é sinal que existe algum impedimento em seu processo de
subjetivação.
“fazer uma brincadeira para construir a ponte entre essa insuficiência e o ideal
1998, p.61). Entre o real que habita essa insuficiência e o ideal simbólico, há uma
lacuna a ser preenchida que a criança “recobre com esse imaginário que é o
subjetividade. Vale lembrar que a brincadeira, ainda que seja uma produção
imaginária, está sustentada pelo simbólico, sem o qual não seria possível.
condições para a criança retomar a brincadeira por meio da qual elabora suas
questões. Quando brinca em análise, a criança põe em jogo “os significantes que
1997, p.305).
a criança pode brincar de qualquer coisa enquanto fala. A autora assevera ainda
142
Vorcaro (2003, p.23) afirma que por meio da brincadeira a criança reordena
Sendo assim, o brincar da criança, costurado pelo discurso que ela profere,
seja sobre o enredo da brincadeira ou sobre seu mito familiar, será objeto da
redobrada, afinal, como já apontado, todo o cenário montado pela criança seduz
analista o simbólico opera em toda sua extensão, torna-se difícil para ele
deslocar-se da imagem utilizada pela criança em seu jogo para tomá-la como uma
novas significações.
analisante para levá-lo a uma produção significante diversa, causando assim uma
tocar, por pouco que seja, na relação do homem com o significante, [...] altera-se
144
p.531).
significação.
para o sujeito, a interpretação ganha uma precisão maior. Além de operar sobre a
teórico, Lacan (1972, p.493-4) defende que a interpretação deve atentar para os
Freud não fala propriamente de ato analítico, mas sim de ato sintomático,
tendo como paradigma o ato falho. Lacan parte dessa formulação para,
direção assumida desde o início de destituição desse lugar. Toda essa montagem
se no ato analítico.
ato analítico.” É através do ato que o sujeito pode aceder a algo da ordem de um
saber, uma vez que o ato implica uma subversão do sujeito, produzindo uma
interpretação: “o ato é o instrumento que permite lidar com a pulsão, ali onde a
ato como “um fazer que, por uma dupla função, faz efeito significante”: a primeira
perdido inicial de toda a gênese analítica, esse que Freud martela em toda sua
época do nascimento do inconsciente, ele está aí, esse objeto perdido, causa do
147
desejo. Teremos que vê-lo como no princípio do ato.” (LACAN, 1967/68, p.88). O
responsável pelo advento do sujeito do inconsciente, faz com que a criança tenha
uma posição particular com relação a essa estrutura que é ao mesmo tempo
condição e veículo para a interpretação. Mesmo que a criança ainda não fale, a
constituição subjetiva.
gramática e a lógica, sobretudo com relação àquelas que ainda não escrevem,
interpretação na análise com uma criança que ainda não escreve. A primeira
refere-se ao estatuto do significante que ainda não opera em toda sua extensão.
homofonia, por exemplo, como fundamento para uma interpretação. A criança faz
adulto e não no próprio jogo de palavras. As crianças tratam assim das palavras
148
dos quais os adultos se riem”. (FREUD, 1905, p.142). Nesse sentido, é o adulto
quem se diverte com os jogos de palavras da criança que, por sua vez, diverte-se
compreende o desenho como uma produção pela qual a criança vem compensar
seria um recurso para dar forma ao objeto, de modo diverso do adulto, para
produção discursiva.
possível pode acontecer sobre a fala que a criança produz ao brincar, relacionada
brincadeira, quando tal fala não é produzida. Importa lembrar que, assim como
com adultos, a interpretação pretendida com a criança deve sempre apontar para
realizada pelos pais, sem plenas condições de sustentá-lo, não sendo, portanto,
149
totalmente responsável por seu ato, posição que a leva a conjugar as próprias
ações no futuro – vou ser médico, vou ser jogador de futebol, vou casar com você
brincadeira – agora eu era o papai e você era a mamãe, eu era o médico e você
em seu ‘faz de conta’ um modo de ‘fazer contar’ sua palavra e seu ato para o
interpretação.
oferece um campo mais limitado para a interpretação, que então se realiza mais
analista realizou interpretações a partir do lugar assumido nas cenas vividas com
começa a abrir espaço para o jogo do equívoco, embora ainda com limitações. É
Hans” é bastante rico nesse sentido, com franca produção de fantasias pela
construção sobre o desejo do Outro sustentado pelos pais, ao qual ela até então
respondera apenas com seus sintomas. Desse modo, o sujeito confeccionou uma
lembrar a pergunta de Stevens (s/d, p.13): pode ela engajar-se no ato analítico?
qualquer ato - não pode decidir deixar os pais, por exemplo 39 - tem em suspenso
impedimento. Como já visto, a criança não vem para a análise por sua própria
não está em suas mãos, assim como a decisão de dar continuidade ou não à
análise também não lhe cabe, pelo menos em princípio, embora sua palavra
O fato de a criança ter uma relação diferente do adulto com o ato não
implica que ela não seja um sujeito do inconsciente. Sua posição como um sujeito
próprios atos, na maioria das vezes assumidos pelo Outro, agente de linguagem,
encarnado pelos pais. Obviamente, tal situação a deixa numa posição delicada
na brincadeira através da qual pode ter algum valor para o Outro, enquanto o ato
39
Atualmente não é raro tomarmos conhecimento de crianças que abandonam suas casas e seus pais, mas
pela sua posição no laço social, uma vez encontrada, é restituída à família, ou a alguma instituição que teria
como função educá-la e protegê-la.
152
6 O FIM DA ANÁLISE
prevenir o paciente de que se trata de um período longo, idéia que merece ser
tecnológica e globalizada. Mas o quê afinal é preciso para que um fim de análise
questão: “existe algo que se pode chamar de término de uma análise – há alguma
possibilidade de levar uma análise a tal término?” Propõe duas condições para
analítico para circunscrever seu possível término. Refere-se à análise como uma
analista, que necessita qualificar-se para esse ofício a partir da própria análise.
153
pergunta-se Freud. Não! Poder-se-ia almejar uma cura definitiva? Bem, a cura
definitiva seria uma cura da neurose. Freud argumenta que a causa da neurose
formação de sintomas.
modo de gozo, embora haja uma indeterminação de quando e como tal encontro
acontece.
segurança que extraía da fantasia em que se constitui, para cada um, sua janela
para o real, o que se percebe é que a apreensão do desejo não é outra senão a
não é a formação do analista, mas a noção de final de análise para se refletir até
da linguagem.
suposto saber e sua redução ao advento desse objeto ‘a’, como causa da divisão
do sujeito, que vem ao seu lugar.” O analista passa de uma posição inicial de
mas como uma formação psíquica que não faz divisão, que não despedaça.
com o eu, é, assim, uma metáfora que aparece a partir de uma rejeição de gozo.
propriamente um fim.
de gozo nele existente, real responsável por um certo modo de gozo 40 . Embora
gozo da letra, formulação que não invalida a anterior, do sintoma como metáfora,
chegar a essa formação mínima, ponto de ancoragem real que sustenta o sujeito.
reduzi-lo a seu ser de gozo, sempre idêntico a ele mesmo.” (SOLER, 1995,
p.103).
40
Cf. capítulo quatro.
156
sujeito, reduzido, único e privilegiado”. (SOLER, 1995, p.95). Para a autora, essa
sujeito quanto à pulsão, notando que assumir ou rejeitar o que descobriu de seu
inconsciente é uma escolha deixada para o sujeito” (1995, p.65), que se aproxima
daquela em que o sujeito se identifica com o modo de gozo revelado pelo próprio
sintoma.
e meio pelo qual o sujeito goza, contém esse núcleo, que pode ser alcançado a
quarto anel do nó que fará consistir RSI de maneira singular, articulando o final da
157
análise com o saber lidar com esse sinthoma, entendido assim como síntese do
análise é não gozar por meio do sintoma, mas gozar com o sinthoma”, formulação
com essas formulações sobre o final de análise? Qual seria o fim da análise da
enodamento primário dos registros. Nesse sentido, cabe então ao analista lidar
com o sintoma como uma solução precária e parcial inventada pela criança para
fazer frente aos impasses vividos na construção de sua neurose infantil. Seu
sintoma pode, assim, ser considerado como a melhor resposta à pergunta sobre o
desejo da mãe, uma vez que a questão sobre o que quer uma mulher ainda não
elemento tempo envolvido na constituição do sujeito: como articular tal tempo com
o tempo do tratamento?
da relação amorosa que será determinante mais tarde.” (PORGE, 1998, p.18).
Existe portanto algo de sempre inacabado na análise de uma criança, por uma
tal modo que isso fique inacabado de uma boa maneira?” Para o autor, chega-se
“não tem acesso àquilo que, no encontro sexual e por ele, vai colocá-la na
criança com uma conclusão definitiva sobre o que está, justamente, ainda
A criança inicia uma análise quando dirige seu sintoma ao analista como
dos registros, e não à inexistência da relação sexual, ainda que o tempo todo
Para refletir sobre o fim de análise com crianças, formulou-se aqui uma
bombeiro que teria lhe dado um traseiro e um pipi maiores - a análise teria
chegado a uma conclusão satisfatória, pois “a ansiedade que foi provocada pelo
receberam uma transformação mais feliz”. Afirma que esse “pequeno Édipo” teria,
assim, encontrado uma solução mais feliz do que a prescrita pelo destino e “em
vez de colocar seu pai fora do caminho, concedeu-lhe a mesma felicidade que ele
mesmo desejava: fez dele um avô e casou-o com a sua própria mãe também.”
encontra na própria obra de Freud nada que a sustente como uma solução típica
do complexo de Édipo. “O terceiro que não achou no pai, ele o encontra na avó”,
mãe, acresce-se uma segunda, que o pequeno Hans instaura a si mesmo numa
permitiu uma manobra que ludibriasse tanto o pai quanto o filho, preservando-os
1968, e Nota sobre a criança, 1969, para trazer contribuições preciosas a essa
como o “sujeito que poderia fazer-se responsável por seu gozo”, afirmando que “a
personnes”. Quando Lacan toma o pai “não tanto em termos de relação ao falo,
mas em relação com o objeto a” passa a compreender que o sujeito se define não
“a partir do significante desse desejo [desejo da mãe], que é o falo, mas a partir
como objeto para o gozo da mãe, promovendo sua separação desse lugar, ainda
de condições para que ela formule sua versão de objeto a: “um modo no qual a
criança, inclusive a criança psicótica, venha a dar uma posição, não de seu
162
inconsciente mas uma posição de gozo.” (1994, p.32). A ficção construída por
análise com uma criança, qual seja, o fato de “que o sujeito tenha construído
segundo a idade que tem”. (LAURENT, 1994, p.32). Construindo tal ficção a
para a mãe, passando assim a assumir sua própria posição de gozo, ainda que
criança desse lugar, encontra um novo suporte para seu objeto, de modo a não
41
Cf. capítulo dois, p.66.
42
Fantasia parental nesse sentido pode referir-se aos pais enquanto casal, ou somente à mãe, dependendo
do caso, como discutido no capítulo quatro.
163
Rassial (2004) 43 parte desses mesmos elementos teóricos para afirmar que
possa ser alcançado, mesmo quando se trata de uma ‘pessoa grande’. A função
43
Em seminário na USP, 21/08/2004.
164
analisante, sobretudo no final de uma análise. Importa lembrar que, embora essa
ocorrência conduza o sujeito efetivamente a uma outra posição, na qual não mais
Outro, uma descrença de que se poderia ali encontrar o objeto perdido, aquilo que
Outro, que assim mantém sempre uma certa consistência. Entende-se aqui que a
criança trazida para análise volta-se ao analista porque não encontrou no Outro
pais no lugar de suposto saber para a criança. Nesse sentido, o final de análise
constituição do sujeito, seja pela fragilidade das construções da criança, seja pelo
criança.
última instância, é uma decisão dos pais. Em geral, a tendência deles é demandar
incômodos que traz ao núcleo familiar, seja pelo legítimo desejo de que a criança
viva melhor.
sem levar em conta o processo analítico, uma vez que o final dos distúrbios não
coincide necessariamente com o fim da análise; ii) se não se nota na criança uma
parece não ceder, ainda que o analista advirta que esse não é o único parâmetro
está fazendo do espaço analítico para realizar uma construção mais elaborada da
conclusão do processo, não basta, portanto, que a criança esteja engajada: é vital
estejam implicados.
primordial. Uma vez que o analista se oferece como uma outra versão de Outro,
principalmente a mãe, recupera seu lugar de sujeito suposto saber para a criança.
criança com o Outro. A discussão feita mais acima sobre o final da análise do
questão significante veiculada pelo pai – seu receio de que a convivência com o
casal formado por sua mãe e a namorada pudesse atrapalhar sua formação
uma formiga que nomeia Fú, confeccionada com um pedaço de papel, que
analista. Aos poucos este personagem vai ganhando expressão, aparecem seus
pais, Fé e Fó, um irmão mais novo, o Fí e uma irmã mais velha, a Fá (M. é a filha
do meio, tendo duas irmãs). Constrói uma casa para esta família habitar, a escola
onde vão diariamente os três irmãos, além do local de trabalho dos pais, que se
família com a sua, o que permite a veiculação de suas demandas em relação aos
membros de sua família. Nos últimos meses de trabalho, M. toma para si a tarefa
singular, uma vez que ao invés de texto, existe uma legenda no início do livro com
dela para existir, fica indicada a continuidade autônoma de suas vidas, assim
acaba o livro. Na capa, aparece o nome da história – A História das Fús, o nome
termos significantes, permitindo que M. viva bem com sua nova configuração
familiar.
se do objeto de gozo dos pais, ocupando um outro lugar por meio da construção
teoria e técnica.
Freud não trabalhou explicitamente essa diferença, mas sua obra permite
que deve reconhecer que “o bem e o mal de uma vida não se decidem a partir de
formular um juízo moral, pré ou pós-concebido, o que de outro modo lhe impediria
medida em que, de alguma maneira, por menos que seja, a análise fornece algo
que se coloca como medida de nossa ação.” (LACAN, 1959/60, p.374). O que
justificada pelo fato de, sendo tão recorrente, sobretudo no campo lacaniano, ter-
Lacan, enquanto a moral é definida a partir dos ideais de eu, a ética está
implicada nas relações do sujeito com o desejo inconsciente. Uma ação humana
culpa. A culpa é sustentada pelo assujeitamento aos ideais morais, diante do que
responder pelo seu desejo inconsciente. A ética pode assim ser definida como a
(BRAUNSTEIN, 1999, p.220). O autor explica tal assertiva por meio de uma
sua vez, não pode passá-la como, por exemplo, no jogo de xadrez. Fazer a
171
da Lei do desejo. O sujeito deve jogar e o saldo da ação é uma perda irreparável.
Quando não joga, manifesta impotência ou renúncia com relação a sua própria
posição, o que configura um mal ético. Se quem joga pode perder, quem não joga
já está perdendo e, nesse sentido, o verdadeiro jogador não joga tanto para
‘ganhar’, quanto para ‘continuar jogando’. A análise propõe ao sujeito jogar o jogo,
fazendo-a passar pelo diafragma da palavra inédita e insólita que invente uma
anima. “Não há outro bem senão o que pode servir para pagar o preço ao acesso
criança, pois os pais não apenas descarregam sobre ela todo o peso desse
discurso social, mas vêem-se desamparados para agirem de outro modo. A atual
saber, acaba por desautorizar o saber essencial que só a função paterna poderia
melhor. Certamente, esse estado das coisas traz dificuldades para o trabalho do
uma outra coisa, ou seja, uma tentativa de dizer o desejo, ainda que incompatível
com a fala. A ética do campo analítico orienta então o analista a tomar essa
demanda por felicidade, seja ela qual for, na direção de fazer deslizar o desejo na
mandamento técnico.
para aquela felicidade total que prometia a existência da relação sexual, mas uma
via pela qual o Outro perde seu peso de cruz a ser carregada, trazendo a leveza,
por que não dizer, de uma certa felicidade. Uma análise visa, portanto, a permitir
ataca nem desacata essa proteção, mas oferece as condições para que se criem
soluções, talvez mais criativas, nas quais o amor, o trabalho e o sofrimento não
precisem mais ser temidos ou evitados, podendo então desempenhar seu papel
estruturante. Note-se aqui a ressonância do que Freud certa vez anunciou sobre o
brincar.
função da intensidade com a qual nos permitimos viver, para além da alegria ou
tristeza de cada momento. Nesse sentido, pode-se mesmo dizer que há algo de
moral na psicanálise, uma vez que o analista zela pela qualidade da experiência
estado em que nada impede que alguém viva plenamente o que lhe é possível
nos limites impostos por sua história e sua constituição.” (CALLIGARIS, 2004,
felicidade veiculada pelos pais das crianças que procuram ajuda na psicanálise, o
da experiência humana.
como o analista age com seu próprio ser, “cabe formular uma ética que integre as
Freud não faz nenhum tratado sobre o desejo de analista em sua obra,
que pudesse conduzir uma análise: ter passado por uma purificação analítica,
lacanianas, pode-se inferir que Freud estaria ali antecipando a função desejo de
ofício.
ao analista dirigir o tratamento, uma vez que lhe permite ocupar o lugar de
desse Outro.
calar o próprio desejo enquanto sujeito, resguardando assim o lugar vazio que
permite “ao paciente demarcar o objeto de seu desejo, para além das miragens
do amor, a partir da falta de seu signo no Outro”. (COTTET, 1989, p.173). Nesse
p.360).
analista:
reconhecimento do desejo.
vigente, reproduzem sobre suas crianças a demanda de uma felicidade sem lei,
lugar de Outro para a criança, pela assimetria própria a essa relação, por habitar
a linguagem de modo mais estável, por dispor de uma fantasia mais consistente,
enfim, pelo fato mesmo de ser um adulto, e o analista, enquanto tal, acaba sendo
se não cabe ao analista corresponder à demanda social, não lhe cabe tampouco
crianças? “Como o analista pode se fazer parceiro da criança, sem se tornar seu
1994, p.30). Noutros termos, como o analista pode acompanhar a criança sem
gozar às suas custas? Mais além, como, enquanto adulto, abdicar à transmissão
de seu próprio saber sobre o mundo? O que se transmite numa análise com
crianças, afinal?
de gozo que engendra o sujeito. Nesse sentido, ocupar o lugar de objeto causa do
44
Note-se aqui a possível vinculação entre o lugar ocupado pela ciência em nossa sociedade de mercado, a
função do consumo mitologizado pela mídia, e a tentativa infantil de perpetuar a dialética do engodo com a
falsificação imaginária de um gozo absoluto.
178
desejo requer que a criança já seja um sujeito de desejo, ou, pelo menos, esteja a
permita operar com o desejo liberto de sua fantasia, posição nada fácil diante da
criança, uma vez que o risco de tomá-la como objeto de gozo é especialmente
fantasias 45 .
sua fantasia fundamental, [...] com o desejo do Outro dos seus pacientes.”
rumo a outras posições quando se depara com uma criança como analisante.
enigma ‘o que o Outro quer de mim’. A criança se depara com um outro Outro que
não lhe deseja nada em específico, a não ser que persiga suas próprias questões
importante função também nas entrevistas com os pais, permitindo-lhes, por sua
analista deve estar ‘prevenido’ quando se trata da clínica com crianças, como o
apelo à aliança com algum dos pais; o risco de associar-se com ‘A criança’,
criança.
180
brinquedos, comida, pessoas à sessão; fecha a porta da sala com o analista para
fora; quer pegar um objeto na sala ao lado; pede para levar objetos para casa;
cria inúmeras situações, enfim, para as quais o analista precisa inventar uma
encarnar o Outro, entrando com seu corpo, sua história, seu desejo, cabendo-lhe
suportar tal lugar sem contudo deixar-se tomar por ele, possibilidade que se
lembrar, “mesmo que o desejo de analista não seja um desejo particular, seu
lugar é particular a cada caso. Essa singularidade não supõe fazer do analista um
sujeito, mas é uma maneira para diferenciá-lo do Outro o qual ele sustenta a
para além das miragens que o fixaram numa determinada relação com o Outro. O
outra, produz-se no mesmo lugar onde já houve alguma coisa. Ali o desejo de
trabalho de que o lugar ao qual o analista é convocado pela criança guarda certas
criança se encontra, uma vez que os impasses são próprios a cada tempo. Cabe
analista.
infância não seja sempre o mesmo, no sentido de não ter o mesmo valor nem a
borromeano se realize fazendo consistir RSI e, nesse sentido, deve oferecer linha
inscrever.
182
Noutros termos,
mencionado, o bem maior que os pais podem transmitir a seus filhos é essa
mesma falta, qual seria então a diferença entre esses dois modos de
transmissão?
ou seja, versões singulares de como puderam em suas vidas lidar com a lacuna
uma vez importa lembrar que os valores sociais atualmente celebrizados tendem
a caracterizar a falta dos pais como um ‘defeito’ deles, sugerindo à criança a idéia
de que o vazio estrutural de um sujeito não só pode como deve mesmo ser
preenchido. Nesses casos, o trabalho do analista junto aos pais inclui manobras
essencial, mas, orientado pelo desejo de analista, opera a partir dessa posição de
fantasmática própria por parte da criança, que então pode articular de maneira
183
mas com relação a tudo até aqui discutido ao longo deste trabalho, o diferencial
desejo gira assim em torno do eixo sustentado por esse lugar-função do analista
como reserva e guardião do elemento central que integra todos os demais em seu
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196
ANEXO
Nó do sinthoma
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