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CARL JUNG: PSICOLOGIA ANALÍTICA

1. Energia psíquica: opostos, equivalência e entropia

O que Freud chamava de libido e associava somente a energia sexual,


Carl Jung atribuiu dois significados: primeiro, o de uma energia de vida ampla;
segundo, como psique, que seria a personalidade, a energia psíquica é o que
alimenta o trabalho da personalidade e é responsável por executar nossas
atividades psicológicas. Jung elaborou três princípios básico para explicar o
funcionamento da energia psíquica:

 Princípio dos opostos: todo desejo ou sensação tem seu polar


oposto, e quanto maior for o conflito entre os dois, mais energia é
gerada. Esse princípio também é o maior motivador do
comportamento.
 Princípio da equivalência: nenhuma energia é perdida, somente
redirecionada. Se a energia focada em uma área, um hobby por
exemplo, desaparece, significa que ela foi pra outra área da
psique. A energia reservada para atividades conscientes vai para
os sonhos quando dormimos. Todo excesso de energia fluirá para
o inconsciente.
 Princípio da entropia: o ideal é o equilíbrio de energia para todas
as áreas da personalidade, a energia fluirá do mais forte para o
mais fraco em busca do equilíbrio. Porém, esse ideal nunca é
alcançado, isso iria contradizer o princípio dos opostos.

2. Os sistemas de personalidade

Jung elaborou que a personalidade seria dividida em três sistemas: o


ego, o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo. Estes sistemas se
influenciam mutualmente
2.1 O ego

Área central da consciência e a parte da personalidade que domina as


atividades cotidianas quando estamos acordados. Ela que toma decisões, faz
raciocínios, e aceita seletivamente para dentro da consciência os estímulos aos
quais nós somos expostos (percepções, sensações, lembranças).

 As atitudes

Ainda na área do consciente, Jung popularizou (ou criou?) os termos


introversão e extroversão, a forma que ele explica esses termos é de acordo
com a forma que canalizamos a energia psíquica reservada para o consciente,
as pessoas introvertidas a canalizam para o interior (self), enquanto as
extrovertidas a canalizam para o exterior. Essas atitudes que determinam a
nossa percepção e comportamentos em relação ao mundo, e todos temos um
pouco de cada, a menos predominante se torna parte do inconsciente.

 As funções psicológicas

Jung, ainda, definiu outras características à personalidade humana, as


funções psicológicas, estas igualmente opostas como a introversão e
extroversão, são elas a sensação em oposição à intuição (não racionais), e o
sentimento em oposição ao pensamento (racionais). Todo ser humano tem
essas qualidades dentro de si, a parte mais fraca, também, se manifesta no
inconsciente. A sensação usa os nossos sentidos como orientação, a intuição
utiliza palpites, o sentimento usa o emocional para tomadas de decisão, e o
pensamento, o racional.
 Os tipos psicológicos

Os tipos psicológicos de cada pessoa são definidos com base em uma


interação entre as atitudes e as funções psicológicas. Carl Jung descreveu oito
tipos: pensamento extrovertido, sentimento extrovertido, sensação extrovertida,
intuição extrovertida, pensamento introvertido, sentimento introvertido,
sensação introvertida e intuição introvertida.

2.2 O inconsciente pessoal

O inconsciente pessoal tem algumas similaridades com o conceito de


pré-consciente de Freud. É o reservatório de lembranças, experiências,
sensações e etc, que foram reprimidas ou esquecidas por não serem úteis, ou
algo perturbador. O inconsciente pessoal e o ego se comunicam mutualmente
com facilidade, uma lembrança podendo ser trazida à consciência e
posteriormente guardada no inconsciente pessoal até ela ter utilidade de novo,
e é necessário pouco esforço para retirar essa lembrança e guardá-la
novamente. O inconsciente pessoal pode ser descrito como um arquivo
particular que todos temos.

 Os complexos

Um complexo ocorre quando vários arquivos (experiências, emoções e


etc) são agrupados acerca de um único tema. O complexo de inferioridade e o
de poder são exemplos disso, a pessoa passa a ficar preocupada com esses
temas ao ponto de isso influenciar no comportamento dela. O complexo
também irá determinar como a pessoa percebe o mundo e seu lugar nele.
Alguém com um complexo de poder ou de perfeição pode concentrar bastante
energia para conseguir o que quer e alcançar esse padrão de melhora
desejado, e isso pode até ser algo bom, possibilitando a pessoa a procurar
explorar novas habilidades, talentos e etc, ou ser algo ruim, como por exemplo
abandonar relacionamentos sociais em prol desse pensamento direcionado
unicamente ao complexo em questão. Estes complexos podem ser conscientes
ou não, mas, mesmo inconscientes, eles ainda interferem na consciência, no
modo como agimos. A origem desses complexos, segundo Jung, é da nossa
infância e experiências como adulto, e também advinda do inconsciente
coletivo.

2.3 O inconsciente coletivo

O inconsciente coletivo, diferente do pessoal, não é um arquivo de


experiências particulares a uma pessoa, mas sim um acumulo de experiências
da humanidade, de nossos antecedentes, toda essa herança de personalidade
dirige e influencia comportamentos que temos. É também o nível menos
acessível da psique e não moldado por nós, já que é algo que já nasce
conosco, é inato. Pode também ser descrito como uma predisposição passiva à
certos comportamentos, o uso da palavra predisposição por não ser uma
característica como o medo direto de algo, mas como o potencial de temer, o
que vai definir se certos comportamento ou tendências do inconsciente coletivo
serão seguidas são nossas experiências particulares, e isso é um exemplo de
comunicação entre os dois inconscientes já tratados.

Jung observou uma série de coincidências entre seus pacientes que ele
usou como argumento para provar a existência do inconsciente coletivo. Vários
de seus pacientes descreveram símbolos místicos em seus sonhos e fantasias
de outra cultura na qual a pessoa não estava envolvida. A forma de Jung de
explicar essa universalidade de símbolos gravados na nossa psique são os
arquétipos (ou imagens primordiais), esses arquétipos são temas ou padrões
recorrentes na nossa psique de maneira universal, e tem origem em séculos de
experiência de geração que vieram antes de nós que acabam sendo gravados
na nossa psique.
 Arquétipo da persona

A persona, segundo Jung, é como nós agimos em público, esse


arquétipo pode ser útil para os seres humanos por nós interpretarmos vários
papéis ao longo da vida, seja para a escola, trabalho e até entre grupos de
amigos de diferentes. Vale notar que essa não é nossa personalidade real, mas
sim uma demonstração da normalidade aceita pela sociedade, quando o ego
se confunde com a persona, outras partes da nossa personalidade não se
desenvolverão completamente, esse fenômeno é o que Jung chama de
inflação da persona.

 Arquétipo anima e animus

O anima e o animus significa, respectivamente, a manifestação de


aspectos femininos na psique do homem e a manifestação masculina na
psique da mulher, isso se deve à séculos de convivência entre os dois gêneros,
tendo importância no nosso ajuste e nossa sobrevivência. O anima e o animus
são responsáveis para a nossa atração pelo sexo oposto e como nós agimos
em relação à ele, assim como a predisposição a gostar de certas coisas vistas
como do sexo oposto. Para Jung, ambos anima e animus têm de ser expressos
mutualmente pelo homem e pela mulher, caso contrário esses aspectos ficarão
latentes e o subdesenvolvimento de uma dessas características pode acarretar
em um personalidade unilateral, incompleta.

 Arquétipo da sombra

A origem de cada ação imoral do ser humano, o nosso instinto natural


selvagem, é a parte de nós que reprimimos para conseguir viver em harmonia
com a sociedade, caso contrário, seriamos punidos. Porém, a sombra não é
somente a origem do mal, mas também da criatividade, vitalidade,
espontaneidade e emoção, se escondermos essa parte de nós completamente,
também esconderemos uma parte essencial da personalidade humana, é papel
do ego reprimir a sombra só o suficiente para sermos considerados civilizados.
E não só isso, caso totalmente reprimida, há ainda a possibilidade da sombra
se revoltar contra o ego e então a pessoa passar a ser controlada pelo
inconsciente.

 Arquétipo do self

É a harmonia da personalidade total, Jung acreditava que a integração


de todas as facetas da nossa personalidade era essencial, e essa luta pela
integridade é a meta primordial da vida. Nesse arquétipo ocorre a assimilação
do consciente e inconsciente para que o self se desloque do ego e encontre o
meio do caminho entre os dois, e assim, entrar em equilíbrio. Essa assimilação
só pode ocorrer quando os outros sistemas da personalidade já estiverem
desenvolvidos, e isso acontece lá pela meia-idade, e após ela, o Inconsciente
passará a ter mais influencia sobre toda a personalidade. O self toca em dois
dos princípios elaborados por Jung, o princípio dos opostos, primeiro, ao citar
as polaridades da personalidade humana, e no princípio de entropia, no que o
self se desloca para encontrar a harmonia entre essa polaridade. Então, ao
contrário do passado, que nos puxa para trás, o self é o futuro, a possibilidade
do que pode ser alcançado, mas raramente é.

3. O desenvolvimento da personalidade

Diferente de Freud, Jung não acreditava que o que nós nos tornamos é
fruto unicamente da nossa infância ou do passado, ele colocava grande foco
nos que vieram antes de nós e no futuro. A personalidade é formada pelo que
esperamos ser (no nosso futuro) e pelo que já fomos (de acordo com o
inconsciente coletivo). Ainda, Jung colocava grande foco na meia-idade, sendo
este período a fase final do nosso desenvolvimento.

3.1 Da infância ao início da idade adulta

O nosso ego é desenvolvido na infância a partir do momento em que a


criança consegue se diferenciar das outras pessoas e aprende a dizer “eu”.
Além disso, Jung atribuía a personalidade da criança ao modo como os pais se
relacionam com ela, seja criando a expectativa que seus filhos sejam uma
extensão de si, ou encorajando uma individualização.

Da puberdade, que Jung chamava de nosso nascimento psíquico, até a


idade adulta, é a fase de maior dificuldade e necessidade de adaptação, é
onde se começa a pensar em carreiras, terminar os estudos, começar uma
família. Essa fase é dominada pela consciência, onde há um foco externo
sobre a vida e a atitude extrovertida predomina.

3.2 Meia-idade

A primeira metade da vida sendo marcada por uma visão externalizada,


Jung acreditava que a segunda teria um foco interior, a meia-idade é uma fase
de grandes mudanças, o próprio Jung tendo vivido uma época conturbada
neste período. Muitos de seus pacientes acima de 40 anos relataram a
diversão da vida tendo acabado, a falta de significado e etc, Jung atribuía isto
ao fato de que por essa mesma idade é onde já se tem uma carreira, um
casamento e uma família, essas necessidades da vida já foram atendidas. A
atitude passa de extrovertida para introvertida, e as preocupações físicas e
matérias da vida passam para processos internos de realização. É também na
meia-idade que começa o desenvolvimento maior do self, a harmonização do
consciente e do inconsciente que, segundo Jung, é essencial para alcançar um
estado de saúde psicológica, a individuação.

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