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E PI S TE M O LO G IA E
HI S TÓR I A DA PS ICO L OG IA
CAROLINA LOUREIRO
2º ANO / 1º SEMESTRE
2020/ 2021
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ORIGEM EXPERIENCIAL DO CONCEITO DE MENTE:
A de mim próprio;
A dos objetos animados.
Pode-se dizer que quando me concentro em alguma coisa, passo a ser essa
concentração na coisa.
Essa consciência de mim como sujeito é, na maior parte dos casos, tácita
(implícita), mas não teorizada: sei que sou sujeito, mas não teorizo mais que isso.
Pode suceder que transforme essa propriedade de ser sujeito em objeto (se eu tento
conhecer o sujeito, transformo-o em objeto): eu-sujeito pensa nela como objeto,
mas a sede é sentida por mim, sujeito. Nesse caso poderei então abstrair a própria
subjetividade: sei que sou um sujeito que sente, julga, quer, independentemente dos
objetos do sentir, do julgar e do querer.
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como agente ou paciente- ajo ou sofro ação, ambos são sujeitos. Esses objetos
podem ser mentais ou corresponderem a coisas que vejo e sinto fora de mim.
Quando penso em mim, objetifico o que de mim sei. Para que a construção
de uma imagem de mim seja possível, tenho de conseguir utilizar conceitos para me
objetificar e, nesse sentido, o eu-objeto é sempre uma construção que, embora
possa ser informada pelo eu-sujeito, difere da experiência de ser sujeito.
Teoria da teoria: defende que temos uma “teoria” implícita sobre o que
significam mentalmente os comportamentos dos outros;
Teoria da simulação: defende que nos colocamos no ponto de vista da outra
pessoa e simulamos o que ela sente.
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expressões faciais, posições e movimentos talvez caracterize as formas mais simples
de interação. Num nível mais elevado, há processos de simulação, como quando
uma pessoa se coloca na posição de outra, podendo inclusivamente fazê-lo
tomando em conta os valores e a personalidade dessa outra pessoa.
O que é considerado “mente” parece, pois, ser aquilo que sinto como
subjetivo, aquilo que acompanha os atos do meu corpo, espontaneamente
fazemos a separação entre a sensação que acompanha os atos do corpo e esse
mesmo corpo.
ALM A E AGÊNCIA:
Há culturas que não têm a palavra para “mente”, mas todas têm palavra
para “alma”. Mente e alma, a partir de Platão, são palavras quase intermutáveis e
o conceito de alma apenas cedeu lugar ao de mente porque os pensadores
quiseram autonomizar-se da visão religiosa, mais associada à palavra de alma.
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Os etnólogos procuraram estabelecer uma tipologia das almas e concluíram
que a maior parte delas se refere a uma “inteligência/verdade” que dá vida ao
corpo. Há almas do corpo responsáveis pela animação desse corpo. Há almas mais
independentes desse corpo (como as almas dos xamãs); essas almas mais
independentes do corpo podem ser mais agentes ou mais conscientes de si
próprias, sendo que a alma agência decide e age voluntariamente.
Este fenómeno ocorre mesmo que não haja qualquer testemunho do corpo
desse agente. Postular-se-á, pois, um espírito, provavelmente de corpo invisível, que
raramente se mostra ou que pode instalar-se em qualquer corpo que queira.
Em todos os casos da agência que não tem corpo, que tem corpo invisível,
que pode mudar de corpo ou separar-se dele, trata-se sempre da separação da
agência e do seu suporte material ou, se preferirmos uma fórmula mais simples, da
alma e do corpo.
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CONCLUSÃO DO ANTERIORM ENTE DITO:
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MODELOS DA MENTE:
Além disso, não consigo tornar os estados mentais em objetos, isto é, coisas
em que me concentro: apenas posso evocar um estado mental recordando um
estímulo que o desencadeia; e posso, até certo ponto, fazê-lo para vários estados,
em sucessão rápida.
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teríamos de passar pela ação/reação para a observação de nós. É isto que é muito
difícil de fazer.
A mente é agente e invisível: não podemos vê-la, mas sabemos que ela tem
intencionalidade e que causa acontecimentos. O mundo do misterioso e do oculto
compõe-se, igualmente, de forças (agentes) invisíveis e consiste na atribuição de
agência a entidades que a não suportam (as estrelas, as cartas, os astros, seres
invisíveis, etc.).
Mas, se é verdade que faz sentido interpretar a minha conduta e a dos outros,
que têm mentes como eu, como resultando de intenções, motivos, planeamento e
emoções, aplicar essa interpretação a coisas não animadas é um erro de juízo
provocado pela nossa tendência automática para interpretar os acontecimentos
inabituais e incompreensíveis como produto de uma mente intencional.
É o facto de essas crenças serem tão resistentes, quer à razão, quer aos dados
empíricos, que a nossa mente deteta intenções e agentes invisíveis em tudo; o
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espírito racional tem tido a maior dificuldade em convencer a humanidade de que
se trata apenas de uma ilusão.
OS GREGOS ARCAICOS:
Na Grécia arcaica, haviam vários termos para aquilo que, mais tarde, se
chamou de mente: Psyche ou psuche, que era o “hálito” que animava os corpos e
que os abandonava no “último suspiro”.
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Na Grécia arcaica, dizia-se que os deuses gregos são pouco divinos e muito
humanos, tendo os defeitos e as virtudes dos homens e sendo apenas imortais
devido a um processo meramente material e concreto (Deuses vistos à semelhança
dos homens, apenas com muito mais poder).
Aqui, o objetivo era explicar o mundo e não o homem, sendo que os gregos
defendiam que tudo era feito de matéria, ao invés de forças místicas, sopros, etc.
Tales de Mileto, quando se referia à mente, não diferia dos gregos arcaicos.
Por exemplo, dizia que os ímanes tinham alma (isto é, que tinham agência/mente),
já que todos os movimentos não causados pela gravidade ou pela transmissão de
movimento tendem a ser compreendidos como algo “mentalmente causado”,
parece “ter vontade/mente”. Não se sabe muito mais da posição de Tales acerca
da mente, mas acreditava na imortalidade da alma e não acreditava na doutrina
da metempsicose (transmigração das almas).
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participação de elementos místicos. Inventaram uma linguagem nova para se
referirem ao que é externo a nós, ao mundo físico que nos rodeia.
Heraclito de Éfeso sugere que tudo quanto pensamos e sentimos é uma ilusão.
Tudo é um fluxo em permanente mudança, e o que acabámos de ver
imediatamente antes já é diferente agora, ainda que os nossos sentidos neguem
isso.
Há uma tendência comum a todos estes autores apesar das suas diferenças:
a realidade não é alcançada pelos sentidos, mas encontra-se num plano só
acessível pelo pensamento.
Uma outra corrente que existia na altura era o materialismo, com Empédocles
de Acragas, em que este afirmava que os objetos emitem eflúvios (vapores?) que
são cópias deles mesmos. Capturaríamos esses eflúvios com cada modalidade
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sensorial e eles misturar-se-iam no sangue. Com o bater do coração transformar-se-
iam em consciência.
Esta teoria materialista convive com a ideia de transmigração das almas, mas
Empédocles leva a dúvida sobre a identidade da perceção e das coisas (ou seja,
o que eu vejo não é o que realmente é) à sua conclusão lógica: se há diferença
entre perceção e realidade, é necessário saber como se faz a tradução de uma na
outra.
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Este ceticismo veio gerar o que chamamos de sofismo. Os sofistas eram
pessoas que ensinavam a pensar, a defender e a atacar tudo e o seu contrário
independentemente da verdade.
Para os sofistas, a única verdade reside nas afirmações de cada um, já que o
mundo das aparências é enganador.
A REVOLUÇÃO SOCRÁTICO-PLATÓNICA:
SÓCRATES:
Tudo o que se sabe dele vem de Platão e, em muitos casos, falar de Sócrates
é equivalente a falar de Platão.
Esta compreensão das verdades era possibilitada pela alma que, tal como
em Pitágoras, conhecia diretamente as essências e não as aparências, que são as
únicas representações dos sentidos. Estas verdades têm de ser procuradas no
próprio sujeito: apenas quem pratica a contemplação da mente consegue
entender as essências puras.
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PLATÃO:
Platão vai buscar à subjetividade o seu pilar com que vai erguer um edifício
de certezas. Apesar de toda a confusão dos sentidos, permanece o facto de que
existem ideias claras, inequívocas, para o bem, o justo, o belo, etc.
Assim, têm de ter uma outra origem: essa origem deve ser a própria mente.
Mas as ideias claras só com dificuldade e graças a uma disciplina mental austera se
conseguem atingir.
Como vimos, os gregos tinham primeiro isolado o mundo físico como diferente
do sujeito. Ao perceber que esse mundo físico é, afinal, enganador, afirmaram que
a única realidade era a subjetividade, sempre em mudança, de cada sujeito. Esse
sujeito parece mutável, sem ordem, com subjetividades diferentes em momentos
diferentes, e cai-se no relativismo de se afirmar que ele é apenas a realidade das
coisas. Perante essa dificuldade, Platão erige uma verdade que o sujeito pode
estudar: o mundo das ideias puras.
Para compreender este mundo, é necessário saber que Platão, tal como
Pitágoras e vários outros pensadores, acreditavam na vida da alma racional
independente do corpo e que, só quando a alma estivesse nesse estado incorpóreo
(imaterial) teria acesso a toda a verdade pura.
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IDEIAS PURAS COMO RE ALIDADES NÃO PSICOLÓ GICAS:
Chegar às formas puras, isto é, viver no mundo das ideias, seria a maneira de
nos elevarmos a um grau de felicidade mais seguro e menos incerto do que
simplesmente procurarmos prazer.
A alma não é apenas racional, mas principalmente movida pelo desejo (alma
motivada). Esse desejo, essa luta constante consigo e com os outros, é a própria
vida. Numa vida não cultivada, os desejos são todos materiais/carnais. Numa alma
harmoniosa, esses objetivos são substituídos pelo desejo da posse das ideias puras.
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processo, fornece uma teoria motivacional. Para se compreender o funcionamento
dessas várias tendências convém recordar que Platão queria chegar a uma
formulação justa e ética, não só da pessoa, mas também da sociedade.
Assim, quer numa república, quer numa pessoa justa, há três funções
interligadas. Isto é o mesmo que dizer que a psique tem três funções:
Há, então, três tipos de forças a agir na nossa alma e qualquer uma delas
pode tomar precedência e dominar a consciência (o eu-sujeito), mas apenas uma
delas nos permite escolher o nosso rumo, a razão.
Platão parece oscilar entre a ideia de uma alma racional una e de uma alma
tripartida. Defende que na República não se pode usar um conceito unitário
quando há conflitos internos.
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da alma e a maneira como ela chega a essa realidade última. É, pois, uma parte
de uma ética, um programa de conduta para melhorar o homem e a sociedade e
não uma psicologia.
Assim, Platão fundou a maior parte dos temas da filosofia posterior e afirmou
a superioridade da mente sobre o resto da nossa vida.
ARISTÓTELES:
Segundo Aristóteles, pode-se fazer dez tipos de juízos sobre uma coisa, e esses
tipos de juízos são designados de categorias:
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Estas características não são propriamente psicológicas- são abstrações dos
tipos de conceitos usados para pensar as coisas- mas são necessárias ao
entendimento. Estão presentes nas coisas, existem independentemente da mente,
mas têm de estar também na mente para que a perceção e o pensamento delas
seja possível.
Assim, quando Aristóteles se refere à mente como uma folha em branco, quer
dizer apenas que a experiência e os sentidos têm de lhe fornecer a matéria-prima
para ela funcionar. Mas a experiência só é possível se houver, na razão, qualquer
coisa de prévio (a priori) e que possibilite que a experiência seja recebida, avaliada
e generalizada.
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O DE ANIM A E O SEU S IGNIFICADO:
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O pensamento implicaria sempre imagens mentais, provenientes dos sentidos.
Mas a mente não é cópia desses sentidos: tem de existir, na mente, antes de
qualquer cópia, formas prévias que identifiquem as ideias. A mente tem, assim, uma
espécie de armazém de formas que possam reconhecer o que os sentidos lhe
fornecem. As formas inatas equivalem às ideias puras de Platão.
Aristóteles faz ainda mais uma separação do nous. Por um lado, há a mente
como potência, isto é, como possibilidade de se transformar nos seus objetos (se
pensarmos e nos concentrar-mos em algo, a mente transforma-se na coisa
pensada). Por outro lado, há o princípio ético que causa essa possibilidade de
transformação da mente nos conceitos.
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essências, os universais, numa palavra, as ideias puras, estão em nós em potência e
são atingidas através da mente ativa. Mas essa mente ativa, tal como as ideias
puras, é exterior à mente individual.
Além disso, considerando a mente ativa imortal, implicaria uma quarta coisa:
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AVICENA:
Sentirá a sua essência? Avicena afirma que esse homem não terá dúvida
nenhuma em afirmá-la, embora não esteja consciente de que tem corpo e não tem
qualquer experiência para além da consciência de ser.
A PSICOLOGIA DE AVICENA:
Avicena tem uma teoria muito complexa das almas, ou melhor, das
inteligências. Para ele, apenas o sábio se salva da morte por conseguir chegar mais
perto da inteligência de Deus. O conhecimento é, assim, o dever central do homem.
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Há, na alma sensitiva, duas faculdades superiores:
O ESTOICISMO:
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Mas, se a alma é racional, de onde vêm estes sentimentos? A resposta é que
eles vêem do ambiente e são ensinados. Mas, de onde vem a convicção de
que são ensinados?
A alma é identificada fisicamente como o centro das emoções. Então, se a
alma é identificada com as emoções, como é possível declarar que essas
emoções são exteriores à alma?
Se o mundo é uma repetição necessária que emana de Deus, esperar-se-ia
não só que os acontecimentos fossem inalteráveis, mas também que a minha
reação a eles o seja. Mas não o é.
EPICURO:
Defende que não se deve teorizar sobre o que não se vê. Mas que é
importante encontrar explicações não-metafísicas mas materiais para o que
sucede.
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A filosofia deve ocupar-se de saber como devemos levar uma vida boa e ter
prazer. O prazer a que Epicuro se refere é a ausência de dor. Por isso, os prazeres
que nos escravizam – o poder, o sexo, as riquezas, o comer e beber – devem ser
obtidos com moderação, apenas na medida em que são necessários. Estando livre
da escravidão dos prazeres básicos e das interações sociais penosas poderemos
encontrar um estado de paz de espírito, a ataraxia, que é o prazer supremo.
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PLOTINO:
AGOSTINHO:
Diz Agostinho, que a mente se afasta de si própria quando se fixa nas imagens
das coisas exteriores. A solução de Agostinho é a seguinte: se a alma se tornar
consciente de si própria, compreenderá que sempre esteve presente, apesar de
afastada de si pela concentração nas coisas exteriores. A alma/mente é a
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consciência de ser sujeito que acompanha qualquer imagem de um objeto ou um
juízo sobre ele.
A CERTEZA DO EU:
Todos os seres vivos que falam e que podem usar a primeira pessoa (“eu fiz
isto”) têm, necessariamente, essa consciência básica de si ou não poderiam nunca
dizer que sabem, sentem, querem alguma coisa. Mas, num plano mais elevado, a
consciência da mente torna-se explícita. Não só digo “eu quero”, como sei que sou
um mundo mental, onde sinto a ausência de qualquer estimulação exterior.
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A versão da mente augustiana é parecida com a de Platão: a ênfase na
razão sem recurso aos sentidos, mas com a diferença de que a sabedoria platónica
é o conhecimento puro e, para Agostinho, é o amor de Deus.
LIVRE-ARBÍTRIO:
O livre-arbítrio foi criado por Deus, e o homem pode segui-lo para procurar a
felicidade no amor das coisas materiais ou em Deus. Mas a razão, dada por Deus,
permite-lhe compreender que a felicidade suprema está na contemplação do
imutável e assim decidir-se pelo amor de Deus.
Afirma que os sentidos são mediados pelo corpo, mas sentidos pela alma. De
facto, os sentidos, considerados do ponto de vista do sujeito, parecem
determinados pela nossa vontade: não é o mundo que chega à mente através dos
sentidos, é a mente que vai, pelos sentidos, buscar o que está no mundo.
OCCAM E O CONCEPTUALISMO:
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A doutrina de S. Tomás que Aquino e dos neo-aristotélicos defendia que a
alma identificava os universais, presentes na mente ativa, a partir dos exemplares
que conhecia pelos sentidos. A mente passiva, individual, teria então
representações desses universais.
Existiria, assim, uma categoria “cão” mesmo que não houvesse pessoas para
a inferir. A nossa mente sugere-nos que há, realmente, um “cão” prototípico.
Mas será mesmo assim? Não será cada cão uma realidade única? A
categoria geral de “cão” será uma generalização da nossa mente ou apenas uma
convenção da linguagem? Ou seja, o universal poderia não existir e ser apenas uma
generalização da nossa mente a partir da experiência mental de cada cão, isto é,
um mero conceito mental (conceptualismo); ou uma mera convenção de
linguagem (nominalismo). Se assim for, poderíamos, sob o nome “cão”, conceber
cães e candeeiros na mesma categoria se houvesse acordo entre os vários falantes.
Segundo Occam, esses conceitos são coisas reais, embora não concretas: a
sua realidade é psicológica e não seriam apenas palavras, mas sim as
representações mentais, mediadas por palavras, que se tem das coisas. Isto é, os
universais seriam não as palavras, mas os referentes das palavras, referentes esses
que são os conceitos a que damos um nome.
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É este último passo que corresponde a identificar o universal a partir das
experiências do particular. Exemplo: saber que um pastor alemão e um caniche,
embora diferentes, são ambos cães. Os universais de Occam são, pois, os símbolos
de que a mente se serve para poder pensar.
Nesta teoria, deixa de ser necessária a mente ativa como fonte dos universais:
estes ocorrem devido à própria estrutura interna do pensamento e não são as coisas
que existem num mundo, mas sim as construções da mente.
Esta ideia critica a posição defendida por S. Tomás de Aquino pois, postular a
existência de um “molde” invisível para as coisas visíveis não acrescenta nada ao
que já sabemos das coisas visíveis.
DO RENASCIMENTO AO R ACIONALISMO:
Bacon diz que as palavras são apenas etiquetas das coisas e que a filosofia se
tem ocupado de relações entre palavras sem compreender as relações entre as
próprias coisas. Dizia também que existiam “ídolos” (obstáculos) ao conhecimento.
Esses obstáculos viriam da nossa incapacidade de compreender o mundo exterior
sem nos projetarmos nele e na nossa tendência para nos perdermos nas palavras
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que já não fazem referência àquilo que designávamos originalmente. Deste modo,
Bacon pede um apagamento do sujeito de pensamento quando encara a natureza.
O conhecimento não deve tentar inferir leis gerais mas apenas, muito
progressivamente, captar a natureza.
Gomez Pereira afirma que, se não houver universais fora da mente, isto é, se
os universais forem conceitos a que a mente chega por abstração dos exemplares,
como pretende Occam, a distinção entre mente ativa e mente passiva não faz
sentido.
Nesse caso, teriam os animais também mente, dado que também têm
sentidos e de guiam por eles. Esta hipótese era impossível de aceitar e Pereira
restringe, então, o sentido de “conhecer”. Segundo ele, conhece-se quando se dá
conta de uma experiência mental. Ou seja, conhece-se quando se sabe que se
sabe: se eu vir uma árvore e tomar consciência explícita disso, afirmando “vejo uma
árvore” estarei a conhecer; se vir uma árvore e me limitar a reagir (ex. procurar uma
sombra) não posso afirmar conhecimento.
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possibilidade de serem adestrados (aprendizagem) mas, não tendo consciência do
que lhes chega aos sentidos, não teriam alma racional.
O racionalismo baseia-se na ideia de que há uma ordem por detrás das coisas
e que essa ordem é racional, isto é, atingível pela nossa razão. Por ter de existir uma
semelhança entre a nossa razão e essa ordem (caso contrário seria impossível
conhecer o mundo), houve a tendência para se considerar que ambos derivaram
de um Deus criador. Por isso, o racionalismo declara que há capacidades inatas,
dadas pelo criador.
Do que eu não posso duvidar é que de existe a criatura que pensa esses
conteúdos (sejam eles sonhos ou não) e de que essa criatura sou eu. Portanto, tenho
pelo menos esta certeza: penso, sei que penso e isso prova que eu, como ser mental,
existo. É este o significado do famoso Cogito cartesiano.
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racionalmente óbvia- uma coisa ou ideia clara e distinta. Isto é, quando uma ideia
é óbvia aos olhos da mente devo aceitá-la como verdadeira.
Abstração;
Experiência;
Inatas: dadas por Deus.
O mundo material tem extensão e pode ser representado pelas ideias inatas
da matemática. O mundo mental é diferente: ao mundo mental pode-se aceder
diretamente pela experiência de existir. É o que me permite afirmar que existo, que
sinto, que desejo. É o eu-sujeito.
Descartes acrescenta que Eu sou uma coisa que pensa e que tem uma ideia
clara e distinta do corpo, que nada pensa. O Eu é, pois, equacionado
explicitamente com a alma e distinguido do corpo.
Estas duas realidades seriam separadas mas teriam relações, dado que
pensamos nas coisas materiais e que há comunicação entre mente e corpo. A
resposta de Descartes ao problema da ligação entre res cogitans e res extensa é
pouco convincente. A pergunta é como se processa essa ligação, ao que
Descartes respondeu “na glândula pineal”, na altura não se conhecia a função,
mas que estava no centro do cérebro. Sendo assim, Descartes respondeu à
pergunta “onde” e não “como”.
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FISIOLOGIA, PSICOLOGIA, CONHECIMENTO E PAIXÕES DA ALM A:
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Não é inútil comparar esta versão com a formulação aristotélica de almas
vegetativa, sensitiva e racional: Descartes quebra essa distinção e restringe o termo
“alma” à sua origem experiencial- sentimento de existir. A inferência de intenções
do comportamento animal é, pois, explicitamente rejeitada e atribuída a uma
maquinaria do corpo: a alma vegetativa passa a ser apenas um mecanismo
corporal.
ESPINOSA:
AS IDEIAS DE ESPINOS A:
Deus seria tudo aquilo que existe, sem nenhuma transcendência; não existiria
um agente todo-poderoso; não nos amaria com sentimentos humanos, apenas
existiria como poder infinito. Deus é a existência e as leis dessa existência. Essas leis
são as leis da natureza e, como o homem é natureza, são também as que
determinam a nossa mente e o nosso comportamento.
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Ideias vagas e ouvi dizer: é o pensamento que temos do quotidiano (ex. sei o
dia em que nasci porque mo disseram). Este conhecimento permite-nos
realizar operações numéricas sem compreender a razão de ser matemática.
Este género de pensamento é útil, mas nada interessa para a ciência;
Leis e causas dessas leis: é o pensamento que utilizam os geómetras e permite
fazer previsões rigorosas;
Intuição imediata das verdades (vista como uma forma de pensamento
superior): trata-se de coisas que, ao serem pensadas, só têm uma solução (ex.
se A=B e B=C então A=C). Nestes casos não é quase necessário pensar, trata-
se de afirmações cuja verdade é evidente na ausência de qualquer
demonstração.
O PENSAMENTO E AS PAIXÕES:
O grande motor da sua teoria é de que os seres lutam pela sua preservação
e contra a sua destruição, e a sua paixão fundamental seria a auto-preservação, a
procura de aumentar o próprio ser. Mas esse aumento do próprio depende das
condições do ambiente. Há condições que propiciam esse aumento, e outras que
o contrariam. Por isso, há duas paixões fundamentais: uma positiva (a alegria),
quando o organismo garante o seu poder, e outra negativa (a tristeza), quando
perde poder.
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alegria e a tristeza causadas pela imaginação de um acontecimento incerto.
Destas emoções secundárias formam-se ainda outras.
Todas estas paixões são passivas na medida em que são causadas por efeitos
externos e não são determinadas de dentro.
Para Espinosa não existe liberdade nem livre-arbítrio. A liberdade é uma ilusão
porque pensamos ser os autores das nossas ações. Isto sucede porque não
conhecemos a verdadeira causa das coisas e atribuímo-las apenas ao que
sentimos: sabemos que fizemos uma coisa, temos consciência de nós e dos objetos
exteriores da nossa ação; de modo que pensamos “eu fiz isto porque quis” e “a
culpa é de x”. Mas a verdade, é que a maneira como nos comportamos e como os
outros se comportam é determinada pela ordem da própria natureza.
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compreendem que têm a ganhar em associar-se delegando a autoridade num
governo que puna quem quer que exerça poder demais e não cumpra as regras
cooperativas de apoio à comunidade.
DO EMPIRISMO A KANT:
INÍCIOS DO EMPIRISMO:
Este argumento leva à ideia de que a ciência empírica é mais importante que
a metafísica. E leva a afirmar a maior importância da observação do que da
dedução de raciocínios a partir de princípios que, provavelmente, são apenas
formulações de palavras que descrevem agrupamentos feitos pela mente, mas sem
correspondência no mundo real.
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PIERRE GASSENDI:
Gassendi marcou a ciência natural ao afirmar que a razão era um mau critério
de verdade e que os sentidos eram o nosso único guia para compreendermos o
mundo. A razão seria falível porque um raciocínio impõe camadas de significado
sobre a experiência, desvirtuando-a. Os sentidos, embora possam enganar, são mais
diretos pois são passivos e, portanto, de maior confiança. Isto não significa que não
se pudesse teorizar para além da experiência: Gassendi acreditava na teoria
atómica.
Contudo, a sua obra tem duas fases: a primeira pode ser considerada
materialista. Mas, no fim da vida, defendeu a existência de uma alma racional que
decidia e determinava a alma vegetativa, responsável pelas paixões e desejos
(nunca ninguém conseguiu explicar o porquê desta última fase, continua um
mistério). Na sua segunda fase, passou de um materialismo total a um mais restrito,
aplicável apenas ao mundo físico.
THOMAS HOBBES:
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sensações quando entra em contacto com o cérebro e o coração, que reagem à
pressão do movimento com uma contra-pressão “para fora”, que dá origem às
sensações. As sensações persistem na memória, mas enfraquecidas: são as ideias.
Essas ideias podem, depois, ser combinadas de acordo com a imaginação.
Dado que todos procuramos poder e que competimos por ele, Hobbes
conclui que o estado “natural” do homem é de guerra contínua, perigo constante,
desgraça e sofrimento. Mas além da vontade de poder, o homem tem
capacidades racionais e compreende que a situação em que se encontra pode
ser melhorada se houver um contrato em que os indivíduos prescindam da sua
liberdade (do seu poder) para o entregar a alguém que os defenda em conjunto.
Hobbes analisa as emoções de forma muito subtil: diz ele que há um número
limitado de paixões simples, mas que a maneira como se sucedem ou se combinam
dá origem a outras.
Hobbes faz uma espécie de análise fria das emoções e motivações humanas:
desejamos o que nos traz benefício, amamos o que nos dá poder ou satisfação, e
detestamos aquilo que nos impede de obter aquilo que queremos e aquilo que nos
magoa.
JOHN LOCKE:
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saber como conseguirmos pensar sobre elas. A sua atenção afasta-se, portanto,
dos problemas de saber o que é o espaço, o tempo, a substância, para se centrar
em como, psicologicamente, se geram essas ideias em nós.
Há, pois, uma mudança de objetivo: Locke não se interessa pela ontologia (o
que é uma coisa), mas pela epistemologia (como sabemos sobre essa coisa).
Preconceito atomista:
Ideias simples:
Pode-se assim afirmar que a mente é uma tábula rasa, uma folha em branco:
as sensações inscrevem-se progressivamente nessa folha e a reflexão permite,
depois, pensar nessas sensações.
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As ideias primárias impõem-se à consciência, que não as pode escolher.
Podemos não dar atenção às perceções e reflexões, caso em que não teremos
memória clara delas. Daremos tanto mais atenção (e fixaremos melhor) tanto maior
o prazer ou a dor que acompanham uma sensação ou reflexão.
Ideias complexas:
Há, igualmente, modos mentais; isto é, conceitos que usamos para pensar a
mente. São exemplos deles o pensamento, a memória, a reminiscência, a atenção.
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LOCKE E A PSICOLOGIA DAS FACULDADES:
EU EM LOCKE:
TEORIA DA LINGUAGEM:
Locke não tem confiança na fidedignidade dos modos, isto é, dos conceitos
complexos, que considera convenções culturais. A linguagem é mais fiel
relativamente às ideias simples porque, nesse caso, as palavras funcionam quase
como “apontadores” para o fenómeno. Nos outros casos, nos modos, há sempre
agrupamento arbitrário das ideias simples.
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Para ter a certeza de que os nossos conceitos têm correspondência na
realidade, temos de os comparar sistematicamente.
O ANTI-INATISMO DE LOCKE:
Além de não lhes dar atenção durante a minha atividade normal, esses
“estados transitórios” não passam para a memória e não são recuperáveis de
maneira a poderem ser analisados. Terei apenas a recordação dos produtos do
esforço de reflexão (conclusões, soluções intermédias, etc.).
DAVID HUME:
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Occam já tinha defendido a necessidade de limitar essas entidades ao
mínimo e de compreender que se trata apenas de conceitos e não de coisas reais.
David Hume chega ao limite dessa perspetiva anti-reificadora de entidades: na
opinião dele, toda essa metafísica é falsa e indutora de confusão. Para explicar os
problemas da filosofia da mente, seria suficiente usar o método da observação, da
descrição da experiência mental (introspeção).
Hume, como em Locke, observa a sua mente, que é o seu objeto de atenção.
No entanto, para explicar um assunto (ex. uma relação entre uma paixão e um
objeto), varia o tipo de relação que o objeto tem com o sujeito e varia o objeto.
Deste modo, utiliza variáveis independentes de maneira a chegar a várias situações.
Imaginando essas várias situações, descreve o que sente em cada uma delas e
chega então a uma conclusão.
Hume parte da posição estabelecida por Locke e diz que temos acesso a
duas coisas:
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Semelhança (comparação);
Identidade;
Espaço e tempo (à frente, atrás, antes de);
Quantidade e número (comparação da quantidade);
Qualidade (este é mais forte que aquele);
Contrariedade;
Causa e efeito.
Por observação da mente, Hume afirma que há atração entre ideias que
sejam semelhantes, contíguas ou em que há uma relação de causa e efeito.
Dado que a causalidade não se retira da experiência, mas é-lhe imposta pela
mente, é uma propriedade “natural”, ou seja, inata.
Hume usa a causalidade para explicar muitas coisas. Quando pensamos nas
coisas com vagar e profundamente, deixamos de acreditar nas nossas convicções
estabelecidas; mas mal relaxamos, o esforço intelectual e as convicções primitivas
voltam (sabe-se que o maior inimigo do raciocínio complexo é a pressa e a
excitação). Assim, sentiríamos o mundo como tendo significado porque o sentimos
casualmente interligado mas, se analisarmos o que realmente se passa,
verificaremos que não é assim. No entanto, essa análise não alterará nem as nossas
ações, nem a convicção profunda que sentimos.
O EU EM HUME:
Das coisas- quer sejam reais ou não- temos ideias, que são reflexos
enfraquecidos das impressões originalmente sentidas. O Eu não deriva de nenhuma
impressão e não é, por isso, uma ideia. A mente, o Eu, a alma (tudo sinónimos para
Hume), são apenas as sucessivas perceções. Tendemos a ver continuidade e
46
identidade em impressões sucessivas, apesar de elas serem sempre diferentes (ex.
ver um carvalho a crescer ao longo dos anos, não é sempre o mesmo, mas
assumimos que sim, vemos continuidade).
Hume distingue razão e paixões (razão e emoção). Diz Hume que a razão não
inicia nenhum pensamento ou ação porque apenas pode decidir sobre a verdade
de determinada afirmação. A vontade seria a consciência de iniciar um novo ato
ou uma nova perceção. Ora, o que determina este início de um novo ato ou
perceção é uma paixão, o interesse por algo (a motivação).
47
DAVID HEARTLEY:
OS MILL:
JAMES MILL:
James Mill deu apoio empírico aos trabalhos de Hume e Heartley. Descreveu,
assim, exaustivamente, várias formas de associação mental, que podem ser
formalizadas em leis da associação.
JOHN MILL:
John Mill defendia que as várias sensações poderiam não apenas associarem-
se e formarem ideias complexas por soma de ideias simples mas também, como na
química, poderiam combinar-se e dar origem a uma sensação completamente
diferente da soma das sensações originais.
Cada sensação deixa na mente um rasto mais ténue de si, uma ideia;
Sensações e ideias contíguas são associadas;
A força da associação varia com a frequência da contiguidade;
Ideias e sensações mais vivas formam associações mais fortes;
Ideias semelhantes evocam-se umas às outras.
48
ILUMINISMO E ROUSSEAU:
CONDILLAC:
Para demonstrar que a mente tem origem nas sensações, Condillac procede
desta forma: declara que que são conhecidas várias características da mente-
atenção, comparação, juízo, sensação, etc.- mas que não são conhecidas as
origens dessas faculdades. Para isso, vai tentar hipotetizar o funcionamento de um
organismo virgem de experiências, e que tenha apenas a sensação mais simples- o
olfato.
49
Através deste raciocínio, é também capaz de explicar as ideias de número,
possibilidade, duração e Eu.
LA METTRIE:
ROUSSE AU:
50
Rousseau especula, assumidamente sem bases para isso, que nas fases
primitivas da humanidade o homem não teria sido social. Viveria sozinho,
procurando abrigo, alimento e reprodução, aparentemente sem qualquer forma
de família. Não teria linguagem e seria incapaz de reflexão sobre si próprio. Seria
como um animal mas com a possibilidade de querer ou não querer, isto é, teria
escolha, e seria perfectível, isto é, poderia evoluir mentalmente.
Desse amor por si derivaria outra tendência que, até certo ponto, moderaria
o egoísmo primitivo: trata- se da piedade (“pitié”), que poderíamos atualmente
designar por compaixão. Ocorre quando o sujeito vê alguém inferior a si em estatuto
numa situação de sofrimento, situação essa em que o sujeito teme poder vir a estar.
51
Ter se ia assim fundado a separação entre ricos e pobres que se organizariam
em grupos separados; os pobres em bandos de ladrões e os ricos entre si para
controlar e suprimir esses bandos.
Teria então começado a verdadeira sociedade das leis, que dá poder aos
ricos e o tira aos pobres e que destrói a liberdade primitiva e institui a propriedade e
a desigualdade. Teriam então surgido também os conceitos de justiça e de injustiça
(os conceitos de igualdade e desigualdade).
O que isto significa é que, Rousseau sentia que a mente não era passiva, como
se defende no externalismo, mas ativa, que somos nós, por esforço voluntário, a
chegar a conclusões.
Enquanto que na maior parte das tradições, a mente ativa é racional e chega
às conclusões por inferências e deduções lógicas, em Rousseau é primordialmente
informada por sentimentos. Esses sentimentos apresentar-se-nos-iam como juízos
evidentes: Deus existe, devemos viver em harmonia com a natureza, a alma é
imaterial, etc. A nenhuma destas intuições se chega racionalmente: são apenas
intuições (tendência para o subjetivismo).
52
KANT:
O PROBLEM A DE KANT:
Sem que exista um sujeito consciente das suas sensações, não pode existir
conhecimento: é a função do Eu transcendental tornar subjetivas, isto é “minhas”,
todas as experiências que tem. Só assim as poderá pensar.
53
Recapitulando: Os dados dos sentidos são caóticos, sendo organizados por
um processo automático que os define como coisas no espaço e no tempo. Essas
coisas no espaço e no tempo são objetos de um sujeito e formam-se, assim,
conteúdos mentais.
Dado que a razão nada deve aos sentidos, geram-se três princípios e ideias
absolutas:
54
Kant não apresentou uma teoria psicológica de como a mente funciona em
todos os domínios, mas sim uma teoria epistemológica das condições necessárias
para que o conhecimento seja possível, e essas condições dependem consoante o
domínio.
INFLUÊNCIA DE KANT:
Para o estudo da mente, o que teve maior influência foi a noção de que o
conhecimento não é um acumular de impressões do exterior, mas sim que depende
de estruturas internas que organizam o que quer que venha de um mundo exterior
incognoscível.
Kant não queria estudar a representação empírica que temos do mundo, mas
sim as condições que permitem essa mesma experiência empírica. Ou seja, em vez
da descrição introspetiva dos conteúdos mentais, procurava especificar as
condições lógicas necessárias para que a experiência mental possa ocorrer.
O EU EM KANT:
55
puro no contexto do conhecimento puro, objetivo, da natureza (daquilo que é
dado pelas intuições do espaço e do tempo); e o segundo eu no contexto da
formulação de um mundo puramente mental, que não depende do espaço e do
tempo.
A HERANÇA DE NEWTON:
56
Newton deu recomendações de como proceder intelectualmente no
conhecimento científico:
57
explica; e que não vai emitir hipóteses intestáveis sobre a origem dessa força. Não
significa que Newton nunca faça hipóteses, mas apenas que não quer, neste
campo, especular sem bases empíricas.
58
O VITALISMO E O MECANICISMO:
O mecanicismo, por seu lado, não aceita teleologia alguma: os animais são
sistemas mecânicos animados e o homem não seria muito diferente (não teria livre-
arbítrio, seria determinado pelo funcionamento físico cego do cérebro e dos nervos;
o Eu seria uma ilusão e consciência dos atos de um epifenómeno- fenómeno do
ambiente- do funcionamento nervoso).
POSITIVISMO:
AS CIÊNCIAS DE COMTE :
59
Um estado positivo, em que todo o conhecimento seria redutível a leis.
Crença em deuses;
Confiança em entidades abstratas e mal definidas;
Religião positiva com rituais similares aos católicos.
60
Muller defendia uma posição mais inatista e Helmholtz uma posição mais
empirista, onde seriam os nervos a codificar a informação e os a priori kantianos de
tempo e espaço seriam aprendidos por associação.
Contudo, não defendia uma mente passiva: a mente teria a função primária
de construir uma representação do mundo e de coordenar a ação sobre ele. A
diferença principal relativamente a Kant é que Helmholtz defendia que essa
construção era aprendida.
61
Pavlov interpretou este facto em termo da teoria de Ivan Sechenov. Sechenov
tinha concluído que existiam processos ativos de inibição para além dos processos
excitatórios no sistema nervoso central: a estimulação de certas zonas inibia um
reflexo.
FECHNER:
62
Fechner passou a chamar-lhe Lei de Weber mas, atualmente, chama-se de
Lei de Weber-Fechner ou simplesmente Lei de Fechner.
Esta demonstração fora crucial, dado que Kant declarara que a mente era
impossível de medir.
AS PSICOLOGIAS DE WU NDT:
63
Tradição germânica da “mente ativa”: a mente impõe ordem aos dados dos
sentidos, e não é apenas uma consequência da informação exterior.
64
sentimentos variam de acordo com três eixos: prazer-desprazer, tensão-distensão,
excitação-repouso e acompanham toda a atividade psicológica.
65
A atividade apercetiva é principalmente ativa, no sentido de que impõe
ordem nos dados confusos que chegam à consciência. Contudo, a aperceção
também pode ser passiva. Por exemplo, se virmos uma mesa, reconhecemo-la pela
semelhança com a representação anterior que temos de outras mesas, não sendo
necessário um esforço de análise e síntese.
Se lermos uma frase numa língua estrangeira da qual não conhecemos, não
a vamos conseguir compreender, uma vez que não reconhecemos as palavras em
questão e não temos a representação interna de como o texto deveria estar
organizado ou ser lido.
66
Defendia que o mito, apesar dos diferentes conteúdos consoante as culturas,
tem propriedades comuns porque é produto da mente, em toda a parte
igual.
VOLUNTARISMO:
O EU EM WUNDT:
67
Esse sentimento do Eu pode sentir-se como parte ou como separado do corpo.
A forma mais habitual do Eu é uma experiência de vontade dirigida para um
problema que inclui corpo e mente. Se for separado do corpo, há duas hipóteses:
A ETOLOGIA:
HEINROTH:
Cada espécie tem uma anatomia única. Vem tudo isto a propósito de que
Heinroth, um ornitólogo, notou que o comportamento também permitia que se
identificassem espécies: em condições naturais, com pouca visibilidade, é por vezes
mais fácil identificar uma espécie pelos seus movimentos do que pela sua aparência
morfológica. Heinroth decidiu então fundar uma disciplina, a que chamou etologia,
em que pretendia elencar os vários elementos comportamentais de algumas
espécies.
68
UEXKULL:
O CICLO FUNCIONAL:
69
chegado, a única reação que o animal tem é trepar. Normalmente chega a uma
altura em que não pode subir mais e, encontrando-se nessa situação, a resposta
locomotora é inibida: o animal para e fica reativo apenas a um sinal: o ácido
butírico. O ácido butírico é produzido por todos os mamíferos. Se a carraça for
estimulada pelo ácido butírico, deixa-se cair. No ambiente natural, isto acontece
quando um mamífero passa perto ou debaixo do local onde a carraça se encontra.
Ao deixar-se cair, a carraça tem boa probabilidade de cair em cima do mamífero;
se cair no chão, vai voltar a trepar e a esperar que passe mais um animal. Se cair
sobre o pelo, a carraça vai mover-se até encontrar um bom local para morder e
sugar o sangue. Vai crescendo até se deixar cair do animal, reproduzindo-se. A
cada uma destas reações (subir, deixar-se cair, penetrar no pelo até encontrar pele,
sugar o sangue) chamou Uexküll de ciclo funcional, isto é, um ciclo entre um sinal
específico do ambiente que é reconhecido percetivamente pelo animal e que dá
lugar a uma resposta científica.
70
Haveria, assim, uma série de ciclos de perceção-ação, em que um ponto
corresponde a uma perceção e o contraponto corresponde àquilo que estimula
essa perceção. É necessário compreender que o sujeito animal, tal como o sujeito
humano, não recolhe do ambiente toda a informação disponível: faz uma
interpretação desse ambiente: filtra certos aspetos e reage-lhes com
comportamentos específicos que lidam com determinado setor do ambiente.
LORENZ:
Lorenz deixou de tratar este processo como sendo reflexos e passou a chamá-
los de mecanismos inatos desencadeadores.
71
Este aspeto é importante porque deixam de ser processos periféricos para
poderem ser controlados centralmente. Desta maneira, podem estra sob controlo
do SNC e, assim, definir sistemas motivacionais.
TINBERGEN:
72
desencadeadores, tornam a experiência possível; a diferença é que Kant queria
saber o que é necessário para o conhecimento mental, e Lorenz definia o
conhecimento em termos de conduta). Esse “saber inato” seria produto da seleção
natural e não de um criador independente.
FRISCH:
Recebeu um prémio Nobel por descobrir que quando uma abelha encontra
uma flor, vai avisar a colónia através de uma espécie de dança.
CRÍTICAS:
73
ênfase em processos mais pequenos e mais fáceis de estudar em laboratório. Mas,
ao fazê-lo, perdia de vista as ideias de adaptabilidade do comportamento e a sua
origem.
ETOLOGIA E PSICOLOGI A:
CONCLUSÃO GERAL:
Daí, entende-se que a mente humana, a ser estudada, deve ser considerada
como um sistema de trocas entre organismo e ambiente- um interface (?).
74
Toda a etologia assenta, implícita ou explicitamente, na noção de
propriedades emergentes (para explicar o comportamento do organismo no seu
ambiente é necessário, além de tudo isso, estabelecer as leis de relação (ação,
reação, procura de estímulos, modificações motivacionais, etc.) entre o organismo
e o seu meio).
A TEORIA GESTALT:
Goethe definia a palavra “Gestalt” como a ideia de que uma coisa tem, no
seu todo, propriedades impossíveis de identificar nas partes.
PERCURSORES:
75
2. A informação transformada no organismo;
3. A experiência consciente e o comportamento
Partimos, pois, do objeto (o que está “fora do sujeito”) para chegar ao sujeito
da experiência; no processo há transformação. A maneira como essa
transformação se faz, seria o objeto de estudo da psicologia: podemos formular
essas regras de transformação em termos de a priori, como fazia Kant; como
associação, como fazia Hume; como estrutura do sistema nervoso, como fazem os
fisiologistas; como modelo hipotético de organização interna como fazem os
psicólogos e os etólogos. Mas, em todos estes casos, o modelo de pensamento é o
mesmo: acredita-se que a potencial informação do ambiente é constrangida e
modificada pelos mecanismos neurais e processos psicológicos que dão lugar à
consciência e ao comportamento.
76
A ideia de que o conhecimento implicaria uma modificação profunda dos
dados do mundo real;
A utilização dos métodos da fisiologia;
A ideia de auto-observação provocada à maneira da fisiologia.
A prova mais forte da ideia de que não se veem os elementos mas o resultado
da combinação desses elementos é dada pelo fenómeno fi, ou φ. (Vídeo que
explica o fenómeno: https://www.youtube.com/watch?v=jnCktDtX7vk). Por mais
que se procure identificar, na experiência que deu origem ao fenómeno fi, os
elementos, não se consegue: o que se vê, o que se sente que se viu, é movimento
de um ponto para o outro. Isto significa então que aquilo que é experienciado não
é o mesmo que o que nos é apresentado; em consequência, todos os trabalhos
sobre os elementos, que dependem da ideia de que a imagem retiniana tem de ter
uma representação consciente é falsa.
Proximidade; Completamento;
Semelhança; Boa forma;
Continuidade; Reversibilidade;
Insight.
Mas a teoria Gestalt não seguiu na direção de admitir que, ainda que mais
complexo, o mundo psicológico era sempre resultado de uma máquina. A ideia
77
mestra da teoria Gestalt era sublinhar não que a mente impusesse ordem à
realidade exterior, por restrição e agrupamento (o que constituiria a posição
kantiana que todos defendemos atualmente), mas que a mente detetasse ordem,
que existe também no mundo exterior.
A interação entre o sujeito e os vários objetos num dado espaço vital podem
ser representados através da topologia. Cada objeto em cada espaço vital passa,
assim, a ter uma determinada valência que corresponde à intensidade com que é
desejado; esta necessidade é representada por um vetor na direção desse objeto
(hodologia). Quando um determinado objeto é desejado mas é difícil de obter há
conflito e o vetor passa a representar a força combinada das duas tendências. A
teoria presume que os sujeitos tendam para o equilíbrio com o ambiente. Para isso
não podem existir vetores isto é, as necessidades têm de ser satisfeitas.
78
PSICANÁLISE:
Não há uma clara separação entre o sujeito que somos e o objeto que nos
fez reagir. Não há qualquer tentativa de compreender o objeto
independentemente da nossa reação emocional a ele. Também não distinguimos
completamente sujeito e objeto quando tentamos compreender um fenómeno em
termos das nossas motivações: descrevemos o fenómeno em termos das nossas
emoções.
Passamos então a estar não entre nós e o objeto, mas a apagar-nos tanto
quanto possível e tentar captar apenas o próprio objeto.
79
Podemos então concluir que o iluminismo tornou claro que o mundo era
explicável e fê-lo:
Para reagir ao ambiente, tem de existir uma sintonia entre sujeito e objeto;
entre mim, consciente e que me emociono com uma coisa, e essa coisa. Essa
sintonia dependeria de um código, de uma realidade escondida, tal como no
iluminismo, mas não se lhe chegaria apenas através da análise empírica e racional.
A essa realidade escondida chegar-se-ia pelo sentimento mais íntimo.
Ou seja, os sentimentos que temos perante o que nos emociona não seriam
apenas reações subjetivas ao objeto; seriam também propriedades do próprio
objeto.
O inconsciente é aquilo que nos permite reagir e vibrar com as coisas; não se
trata de entender o mundo racionalmente, mas de vibrar com ele emocionalmente,
sentir-lhe o significado profundo. O inconsciente é, ao mesmo tempo, essa realidade
escondida e o que, em nós, nos permite identificá-la. O inconsciente não era
apenas psicologia, mas sim uma espécie de inteligência geral do mundo.
80
Em suma, romantismo herdou do iluminismo a separação entre sujeito e
objeto, mas afirmou que as reações e sentimentos do sujeito não eram de desprezar
mas que, pelo contrário, correspondiam a aspetos da realidade não acessíveis
através da linguagem da ciência.
VON SCHUBERT:
81
sujeito consiga fazer triunfar o cérebro sobre os órgãos sexuais, pode substituir a
obediência ao desejo pela contemplação do eterno – como em Espinosa. Assim, o
intelecto pode dominar a vontade.
Influências na psicanálise:
NEORROM ANTISMO:
82
Para Hartmann, haveria três níveis de inconsciente:
Influência na psicanálise:
83
Nietzsche passou de considerar vários instintos para um só. Instintos de prazer,
luta, sexo, instinto de manada, conhecimento foram todos considerados parte da
vontade de poder. Esses instintos exprimir-se-iam por descargas substitutivas, por
compensações ilusórias, sublimações e inibições.
A ideia de inconsciente é muito anterior a Freud. Mas, mais do que isso, não
era uma ideia “suspeita”, mas sim um conceito aceite.
84
PEQUENA INFLUÊNCIA D A PSICOLOGIA ACADÉMI CA E INFLUÊNCIA INDI RETA DA
FISIOLOGIA:
Pensamento objetual
Para Freud, uma perturbação emocional tinha muitas vezes na origem o que
o paciente sentia por outras pessoas ou pensava que essas outras pessoas sentiam
relativamente a ele. As motivações na teoria freudiana são, pois, objectuais e os
conteúdos da vida mental são representados em termos relacionais concretos.
Esta visão é, claro, redutora: há emoções e motivações que não têm que ver
com aquilo que se sente pelos outros. Esta interpretação de quase tudo em termos
de sentimentos interpessoais parece ter sido uma característica pessoal de Freud:
um sonho aterrorizante implicava medo de uma pessoa específica e não apenas
medo; as várias instâncias da vida psíquica (Ego, Id, Superego) têm, umas com as
outras, relações de tipo objectual também, e as relações de Freud com as outras
pessoas nunca eram impessoais: tudo o que os outros faziam era interpretado como
direcionado para ele.
Inconsciente e repressão
Mais tarde, Freud desenvolveu a interpretação dos sonhos que eram, segundo
a teoria, diretamente provenientes de processos não-conscientes. Contudo, mesmo
nesses casos, a censura não se encontraria ausente, de modo que seria necessária
uma hermenêutica do sonho que revelasse os seus símbolos e significados ocultos.
85
O sonho, tal como o sintoma neurótico, seria então a consequência da
combinação do inconsciente e de uma menor repressão sexual e funcionaria como
um escape aos processos de censura operantes no estado de vigília.
A teoria de Freud é complexa e evoluiu no tempo. Há, por isso, o hábito de referir
as primeiras formulações como “primeira tópica” e as formulações mais tardias
como “segunda tópica”.
86
Segunda tópica e instinto de morte
Do livro “La psychologie des foules”, Freud retirou a ideia de que o Ego é
influenciado por modelos exteriores e que essa influência não se compreende em
termos da oposição Eros-Thanatos. Essa reflexão levou Freud a elaborar uma
segunda tópica, isto é, um esquema das instâncias psíquicas ou, se preferirmos, das
entidades que participam no dinamismo psíquico, que se sobrepõe à tópica
anterior (que constava de inconsciente, pré-consciente, consciente) e muito
diferente da oposição entre princípios do prazer e da realidade. Nesta nova tópica
as instâncias do psiquismo seriam três: o Ego, o Superego, e o Id. Seguindo a
metáfora do iceberg:
87
O Superego corresponde à interiorização dos interditos e obrigações sociais
impostas, interditos esses provenientes sobretudo, dos pais e que
determinariam o que é permitido, proibido e desejável.
FREUD E A CIVILIZAÇÃO
88
conflito e de o resolver está na capacidade que temos em nos compreender e nos
sentir.
Associações arbitrárias
Uma teoria científica tem de gerar previsões e ser confrontada com os dados.
Para Freud as neuroses tinham de ter uma origem sexual ou no instinto de morte; as
outras hipóteses não eram consideradas. Um exemplo disso é a dificuldade que
sentiu em compreender as neuroses de guerra e a maneira como as explicou
inicialmente – a motivação de repetição seria masoquista e portanto sexual. Afirmar
que os conflitos são de índole sexual mesmo quando nem os conteúdos de
consciência nem os contextos em que ocorrem o indicam, corresponde a praticar
uma sucessiva distorção de forma a reinterpretar os dados de que se dispõe em
termos da teoria.
89
CARL JUNG:
A teoria de Freud tem principalmente que ver com as relações objetuais, onde
o inconsciente funcionaria, sobretudo, em termos de representação dessas relações
entre pessoas. Os desejos inconscientes seriam sempre tremendos: morte e sexo.
90
complexo, específico ao indivíduo. Neste sentido, os arquétipos são os equivalentes
simbólicos dos Mecanismos Desencadeadores que encontrámos na etologia.
91
mundo. Nessa fase desempenha um papel próximo do Ego freudiano, de
coordenador, executivo e decisor, e elemento mediador dos vários componentes
do Si.
92
TIPOS PSICOLÓGICOS:
Introversão e extroversão
Esta dicotomia era importante para Jung, até por motivos pessoais. Tratando-
se de um introvertido, compreendia a dificuldade na adaptação à sociedade das
pessoas que vivem não no concreto mas na representação interior das coisas. E
sabia que é sozinho que se confrontam os grandes problemas da vida e que a busca
de significado tem de ser atingida por uma exploração profunda de si próprio.
As quatro funções
O termo sentimento não é muito claro, porque sugere mais uma função
irracional. Mas Jung entendia pelo termo a avaliação de valor, o juízo. Por exemplo,
perante determinado acontecimento a pessoa pode, predominantemente, ter
sentimentos de beleza, de justiça ou de asco.
93
Na sensação predomina a impressão sensorial do acontecimento.
OS SONHOS:
IMAGINAÇÃO ATIV A:
A TERAPIA:
94
Depois de estabelecer a história, leva-se o sujeito a compreender os seus
problemas em termos de desequilíbrio entre as suas necessidades de participação
nos arquétipos. É com base na eliminação da frustração arquetípica que se espera
obter a transformação do paciente e a sua cura.
AV ALI AÇÃO:
ALFRED ADLER:
95
UM A ÚLTIMA NOTA SOBRE A NOÇÃO DE “INCONS CIENTE” NA PSICANÁLI SE:
PANO DE FUNDO INTELE CTUAL DOS E STADOS UNIDOS NOS FINAIS DO SÉC. X IX:
96
FUNCIONALISMO E TRAN SIÇÃO PARA O CONDUTI SMO:
No final do Séc. XIX ocorre uma revolução mental nos Estados Unidos em que
se procura reformar a sociedade por meio da psicologia.
Este movimento não poderia ter por base nem o “estruturalismo” de Titchener
nem a psicologia de William James: ambas eram sobre a mente e a consciência e
não era isso que interessava. No ethos norte-americano, a psicologia teria de ser o
estudo da mudança e da ação.
Esta ideia implica que a consciência não tem qualquer importância e que o
que nos faz agir são os músculos.
Esta posição foi popular, e pela mesma altura, John Dewey sugeria que
apenas eram conscientes os momentos em que a nossa ação era entravada; nesse
97
caso, tínhamos de encontrar alternativas para a ação automática de maneira a
encontrar a solução. Só nesse caso a consciência interviria; o resto seria feito com
base em hábitos e automatismos.
WATSON E CONDUTISMO:
98
A importância da psicologia como fator de reforma da sociedade.
99
Watson “comportamento” significa qualquer resposta observável do organismo que
modifique a sua relação com o ambiente.
100
difícil de capturar, das mudanças dos tecidos que estão a ocorrer, isto é, o
movimento dos músculos, tendões, secreções glandulares, respiração, circulação e
coisas desse género. Devem ser considerados apenas como formas literárias de
expressão”.
A posição de Watson sobre o que são emoções não é clara, mas parece que
tudo o que não é materialmente necessário ao desempenho de uma função seria
emocional: “O conjunto dos objetos e situações que estão à volta das pessoas
provocam reações mais complexas do que o necessário à manipulação do objeto
ou situação”.
A psicologia é, assim, vista como uma pura ciência da matéria, com estímulos
que produzem uma ação visível sem que a consciência, a mente, ou o livre-arbítrio
desempenhem o menor papel. A psicologia, ciência da mente, é assim aniquilada
e substituída pela ciência da ação e da adaptação da ação ao ambiente.
101
O CONDUTISMO RADICAL DE BURRHUS F. SKINNER:
102
procura apenas causas físicas, palpáveis, que não podiam, na altura, ser
encontradas no sistema nervoso, afirma que um Estímulo afeta um Organismo que
dá uma Resposta- trata-se da fórmula E-O-R. Negando implicitamente a
importância do sistema nervoso, Skinner afirma que as causas são todas externas.
Sendo assim, os estados de O que influenciam R são todos previsíveis a partir de E.
Skinner não nega que existam reações inatas, mas o que lhe interessa é a
capacidade de modificação da conduta.
Este externalismo tem duas formas, pouco relacionadas entre si: seria o
ambiente a determinar, por aprendizagem, a conduta individual; e seria o ambiente
a determinar, por seleção natural, as características do organismo, entre elas a sua
sensibilidade à aprendizagem.
103
a espécie tem várias características que foram selecionadas durante a evolução; e
o indivíduo aprende durante a sua vida através da seleção das condutas que são
seguidas por reforços.
Watson negava a mente. Skinner não o faz: admite os estados internos. O que
são estados internos em Skinner? São o que se sente da atividade dos sistemas
circulatório, respiratório e digestivo. O que sentimos são, pois, estados do nosso
corpo, no sentido mais concreto do termo; de novo vemos a tentativa de limitar a
psicologia às variáveis acessíveis puramente pelos sentidos.
Previsão e controlo
104
do condutismo é estudar de que maneira pode o experimentador manipular o
ambiente de maneira a alterar as respostas do organismo.
Skinner admite que existe vida interior, isto é, que aquilo a que chamamos
mente, existe. Defende até a possibilidade de introspeção. Contudo, a vida interior
revelada pela introspeção consistiria apenas em estados do corpo. Esses estados do
corpo seriam interpretados em termos mentalistas porque existiria a ficção platónica
da mente. Não teríamos nomes para os estados internos porque, diz Skinner, não há
consenso fácil dado que a observação não é pública.
Teleonomia e vontade
A perceção dependeria do conceito cópia (do que eu vi). Mas, diz Skinner, o
que importa é o ato de ver, não as cópias que eu penso fazer. O que isto significa é
105
que não é boa estratégia estudar as perceções em termos de imagens mentais mas
sim de preparação para a ação.
106
– somos graves, discretos, reservados, cerimoniosos; mas quando estamos com
amigos somos mais expansivos, podemos até brincar, o critério de boas-maneiras
altera-se. São dois eus? Skinner diz que são dois sistemas de respostas.
Assim, trata-se de um problema teórico que Skinner nunca resolveu e que nem
pode ser resolvido, uma vez que não se pode simultaneamente negar e afirmar a
autonomia do sujeito.
PENSAMENTO:
107
no “pensador original”. Esta afirmação é determinada pelo preconceito de
esvaziamento do sujeito e da colocação de toda a causa da agência no ambiente.
MOTIVAÇÕES:
LINGUAGEM:
108
condicionada antes e que acompanha as verdadeiras razões que
determinam a conduta;
As verdadeiras causas são as contingências de reforço.
DESENVOLVIMENTOS POST-CONDUTISTAS:
109
contingências de reforço, segundo as escolas). A ideia, portanto, é que o ambiente,
na forma de estímulos e reforços, determina a resposta.
110
medeiam a relação E-R (Hull) e mesmo a estruturação do conhecimento sobre o
meio (Tolman).
O ESTUDO DA MENTE:
A TEORIA COGNITIVISTA:
111
Ou seja, chama-se às variáveis intermédias “variáveis cognitivas” porque se
pensa que as tarefas propostas aos sujeitos implicam atividade cognitiva. É a isto
que Miller chamava a psicologia no senso comum: todos presumimos ter faculdades
internas; os condutistas radicais achavam que essa atividade interna era impossível
de estudar e recusavam toda a forma de mentalismo; os cognitivistas não o fazem
e aceitam que se uma tarefa parece implicar atividade mental, essa atividade
mental está mesmo presente.
112
Mas há um risco inerente ao operacionismo: o de definir um conceito em
termos apenas dos processos que usamos para o descrever. O exemplo clássico
deste fenómeno é a famosa frase atribuída a Alfred Binet: “a inteligência é aquilo
que é medido pelo meu teste”. Ora não é nada claro o que é a inteligência e há
muitas dúvidas sobre o significado do conceito.
Era este risco que Neisser designava como falta de realidade da psicologia
cognitiva. Já antes de Neisser, William James identificara o problema, a que chamou
a “falácia dos psicólogos”: não descrever o que ocorre de facto mas criar conceitos
que são sempre confirmados dado que são criados pelos métodos utilizados para
os pôr em evidência.
113
Exemplo: uma das teorias mais influentes da psicologia cognitiva é a da
memória de Baddeley. Nesta teoria há um executivo central, um armazém de
episódios, e dois sistemas diferentes de memória: um verbal e articulatório e outro
visual e espacial. A teoria parece explicar bem os dados existentes, mas não parece
explicar coisas como a memória motora, o reconhecimento de cheiros, ou a
memória de estímulos implícitos. A memória de estímulos implícitos é estudada na
psicologia cognitiva, mas os paradigmas que se usam no teste das hipóteses de
Baddeley e na memória implícita são demasiado diferentes para permitirem que as
teorias se interpenetrem. Ou seja, criam-se dois “paradigmas” que estudam partes
da memória mas que a definem de maneira diferente e sem relação teórica.
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Contudo, estudam-se apenas locais, mas isso pouco significa uma vez que
apenas indicam o “onde” e não o “como”. Se o paradigma não avalia um processo
significativo, o correlato neural não tem significado preciso. Não tem significado
preciso porque a mesma estrutura pode estra implicada em funções mentais de
tipos diferentes.
JEAN PIAGET:
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Um outro pressuposto da teoria de Piaget é que o conjunto de estruturas que
assimilam o ambiente se modifica não progressiva mas por saltos qualitativos:
geram-se assim estádios de desenvolvimento, que se podem usar para caracterizar
certos períodos na vida da criança. Esses estádios devem poder ser descritos em
termos de agrupamentos lógicos, isto é, conjuntos de operações lógicas
congruentes entre si, formalizáveis em termos lógico-matemáticos. Cada estádio
evolui de tal forma que certas experiências com o exterior, ocorrendo em
determinado momento de desenvolvimento, destroem o seu equilíbrio; Piaget
postula então uma tendência à equilibração das várias estruturas, que são o
princípio de passagem de um estágio ao seguinte. A identificação das estruturas
lógicas que caracterizam cada estádio e a sequência de modificações na lógica
de um estádio para outro são os objetivos da teoria de Piaget.
O DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO:
É com base nesses esquemas que a criança interage sobre o mundo. Estes
esquemas descrevem aquilo a que os etólogos chamam ciclos funcionais e a que
os condutistas chamam resposta operante: trata-se de uma resposta que, aplicada
a uma determinada coisa, tem uma consequência, adaptando-se a essa coisa.
116
secundárias o reforço provém das consequências que a ação tem no ambiente: a
criança faz um comportamento para variar a estimulação proveniente do
ambiente.
No período pré-operatório (2-6/7 anos), a criança existe num mundo que lhe
é exterior, mas mantém uma grande auto-centração. A separação entre o Eu e o
ambiente torna-se progressivamente maior: a criança começa a conseguir ter
imagens mentais, modificações representadas do que viu ou do que fez. Pretende
Piaget que essas imagens mentais podem vir de uma representação acional: por
exemplo, uma criança pode representar uma caixa de fósforos a abrir e fechar com
o abrir e fechar da boca, e pode imitar o comportamento dos outros. Apesar disso
as imagens mentais não permitiriam ainda uma manipulação mental.
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essas soluções em enunciados que podem ser verificados e de confrontar esses
enunciados com a realidade.
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