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A Consciência e as Várias Interpretações

1-O que é a Consciência: A Percepção das sensações, pensamentos e sentimentos sendo


experimentados em um dado momento.

A palavra consciência vem do latim conscientia: conhecimento de algo partilhado com alguém.

O termo “consciência” tem, na língua portuguesa, pelo menos dois sentidos:

1- A descoberta ou reconhecimento de algo, quer de algo exterior, como um objeto, uma


realidade, uma situação etc., quer de algo interior,
2- As modificações sofridas pelo próprio eu, conhecimento do bem e do mal.

O primeiro sentido de consciência pode desdobrar-se noutros sentidos: o psicológico, o


epistemológico e o metafísico.

a) Em sentido psicológico, a consciência é a percepção do eu por si mesmo, este é o


conceito mais conhecido.

Consciência é tudo, porque, assim como disse Descartes, é a propriedade essencial da


mente. Tudo que nela acontece, sejam os pensamentos, os desejos, as vontades ou as reflexões,
constrói a sua forma e as suas bases particulares em cada pessoa.

Todos esses processos definem o que o filósofo australiano David J. Chalmers chama


de explicações simples.

b) Em sentido epistemológico, a consciência é primeiramente o sujeito do


conhecimento.

c) Em termos metafísicos, chamamos muitas vezes à consciência o Eu.

A consciência é uma qualidade da mente, considerando abranger qualificações tais como


subjetividade, autoconsciência e a capacidade de perceber a relação entre si e o outro.

É um assunto muito pesquisado na filosofia da mente, na Psicologia, Neurologia e Ciência


Cognitiva.

De acordo com William James, falando sobre a consciência, os seres humanos diferem dos
animais em muitos sentidos, pelo que em relação ao sistema nervoso, ele é modificado a cada
impressão que chega a ele. Assim, os sentimentos que acompanham as mudanças referem-se a
objectos percebidos que se tornam mais complexos a medida que o tempo passa.

A consciência é um fenômeno biológico e deve-se conceber como parte da história biológica,


assim como a digestão, a respiração e outros fenómenos que ocorrem no organismo humano.
Vários cientistas definiram consciência, ou seja, muitos autores usaram o conceito de
consciência para se referirem a estados de autoconsciência, isto é, dizer que a consciência que
seres humanos e alguns primatas têm de si mesmos como agentes; Outros interpretam a
consciência de maneira behaviorista, para se referirem a qualquer estado ou forma de
comportamento inteligente.

Recordando Wundt, o fundador da Psicologia Científica, o seu objecto de estudo era a


consciência e os processos mentais. A consciência era constituída por várias partes distintas.

Para ele, “a primeira etapa da investigação de um facto deve ser uma descrição dos elementos
individuais (…) dos quais consiste”. Tal como os átomos constituem as substâncias químicas, as
sensações seriam os elementos simples da mente e da consciência. 

Wundt, estudou a consciência porque considerava que a consciência e os processos sensoriais é


que estavam na base do comportamento humano.

Dedicou-se ao estudo da consciência (que desempenhava um papel activo e não estático, uma
vez que seria própria consciência que organizaria e sintetizava os elementos simples em
processos mentais de maior complexidade), que, segundo Wundt, era constituída por várias
partes e devia ser analisada em cada um dos seus elementos de forma pormenorizada.

1.1-As Sensações-como os elementos mais simples da consciência

Wundt preocupava-se sobretudo em registar pensamentos e sensações e em analisar os seus


elementos constitutivos, muito parecido com a análise química de componentes, de forma a
perceber a estrutura que ali estava patente. Ora, chegou à conclusão de que as sensações eram os
elementos mais simples da consciência.

Assim, Wundt definiu as sensações como sendo estímulo de um órgão obrigado ao envio de
informação até ao cérebro. As sensações nunca são dadas a conhecer de forma elementar, mas
sim de forma combinada numa representação sintetizada de uma perceção, nunca nos
apercebendo da sua forma pura, ou seja, as sensações ocorrem sempre que um órgão dos
sentidos é estimulado e esta informação é enviada ao cérebro.

Outro elemento simples que constitue a consciência são os sentimentos, pelo que o sentimento é
a componente subjectiva da sensação. Assim, uma sensação pode ser acompanhada de um
sentimento de alegria ou tristeza, como acontece, por exemplo, com as cores (sensação visual).

Ele decidiu submeter a sua turma a uma experiência: Levou para a sala de aula um metrónomo,
e registou as reacções dos seus alunos ao incomodativo som. É de notar que o sentimento
subjectivo acontece ao mesmo tempo que as sensações físicas. A emoção é, assim, constituída
por um conjunto complexo de sentimentos.

1.2-Estudo dos Processos Mentais


Mas, se o estudo dos processos mentais deveria seguir o percurso do mais simples ao mais
complexo, o mesmo não se passava com a forma como conhecemos o real.

Por exemplo, quando se pensa numa casa percebemo-la como uma unidade, um todo, e não
como uma soma de elementos que podem ser estudados num laboratório. Wundt recorreu ao
conceito de apercepção para explicar esta experiência consciente unificada: processos de
organização dos elementos mentais que formam uma unidade.

Esta unidade não é a soma dos elementos constitutivos, mas uma combinação que gera novas
propriedades e características. Wundt afirma: “Todo o composto psíquico é dotado de
características que de modo algum consistem na mera soma das características das partes.” Com
esta citação, Wundt quer dizer que as características da consciência não são as mesmas do que
as dos seus constituintes. *(Veremos o conceito de unidade a seguir, por Searle).

Contudo, para Searle, cada um é livre para utilizar o termo consciência como desejar.
Entretanto, Searle nos mostra que é inegável que exista um fenômeno que chamamos de
consciência no sentido comum do termo, e que se encontra na história natural biológica do
homem (Searle, p. 56). Neste contexto, Searle, diz que a consciência consiste em estados e
processos de sensibilidade ou ciência, internos, qualitativos e subjectivos, pois ela começa
quando um indivíduo acorda de um sono e nele continua até que morra, ou entre em coma ou
fique consciente.

Com este pensamento Searle envolve “toda a enorme variedade de ciência (awareness) que
julgamos característica de nosso estado de vigília, ou seja, abarca sentir dor, perceber objectos
visualmente, lembrar de uma determinada pessoa, discutir um problema filosófico, dentre tantas
outras actividades (SEARLE, 2010, p. 55)”.

2-Particularidades/Caraceterísticas da Consciência

Ainda segundo John Searle, a consciência tem algumas particularidades que não são observadas
em outros fenômenos biológicos. Mas quais seriam estas particularidades?

1- Qualidade- cada estado consciente tem uma impressão qualitativa própria. Ex: A
experiência de saborear uma cerveja certamente é bem diferente de escutar a nona sinfonia de
Beethoven.

2- Subjectividade- para que os estados conscientes possam existir é necessário que


exista um organismo vivo, seja ele humano ou animal. Nesse sentido, estes estados mentais são
necessariamente subjectivos, ou, melhor dizendo, são privativos de cada indivíduo.

3-A Unidade - Segundo Searle, em qualquer momento da vida de um determinado


indivíduo, todas as suas experiências conscientes fazem parte do que ele chama de campo
unificado da consciência.
Ex: Quando se está sentado à beira de um riacho, não se observa apenas o céu ladeado
por árvores. Ao mesmo tempo, pode-se sentir o corpo na cadeira em que se está sentado, ou
sentir a roupa que se vestiu e, muitas outras percepções e sensações. Para Searle, trata-se de
muitas experiências em simultâneo e todas elas fazem parte de um campo unificado da
consciência de um indivíduo.

Searle acredita que a unidade esteja implícita na subjectividade e na qualidade, pela


seguinte razão: “se tentarmos imaginar que meu estado de consciência está dividido em
dezesseis partes, o que se imagina não é um único sujeito consciente com dezasseis estados
conscientes diferentes, mas dezesseis diferentes centros de consciência”.

Isso quer dizer que a unidade é um estado ou característica consciente que decorre da
subjectividade e da qualidade, pois não é possível ter unidade sem ter a qualidade e a
subjectividade. (Searle, 2010, p. 60).

3-Tipos de Consciência

William James, o responsável pela psicologia norte-americana, foi um dos primeiros autores a
abordar a diferença entre as consciências. Como filósofo, psicólogo e cientista, definiu a
consciência através de uma série de características que nos permitirão compreendê-la muito
melhor:

1- Consciência Subjectiva- Não tem nada a ver com a ética ou a moral. É um


processo pessoal no qual uma pessoa é consciente de seus próprios pensamentos, de
sua realidade interna e relaciona-se com o pensamento, estando, sempre em
constante mudança, é algo contínuo que nunca para, que sempre está processando
informação, atendendo a estímulos que ocorrem.
2- Consciência Selectiva- Em que num determinado momento, as pessoas podem dar
atenção a ela em um aspecto (interno ou externo) para separá-la do resto dos
estímulos e ter contato com o que as interessa.

4-Estados da Consciência

Partindo de que a Consciência é a capacidade de perceber a relação entre si e um ambiente


abrangendo qualificações como subjectividade, sapiência e autopercepção, assim, como é o
estar ciente (awereness) de si mesmo e do seu ambinte, os principais Estados da Consciência:

1- Estados de Consciência Desperta- a percepção e conhecimento de momentos,


locais e eventos como reais (e que geram uma atividade direcionada para a coisa da qual há
consciência);

A consciência desperta sabe o que faz, pois caminha sob o comando do discernimento. É serena,
equânime e sua ação é constante.
2- Estados de Consciência Alterados- Todas as demais percepções que diferem da
Desperta, como, por exemplo: - a Fadiga; o Delírio; a Hipnose; as Drogas e os Sonhos, de entre
outros.

Texto Adaptado

Maputo, 19 de Março de 2022

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