Você está na página 1de 15

Salomão Andrade Muadzangasse

Teoria fenomenológica

Curso de Licenciatura em Psicologia Social e das organizações

2º Ano Pós-Laboral

UniPúngue

Tete

2021
Salomão Andrade Muadzangasse

Teoria fenomenológica

Trabalho de pesquisa a ser apresentado


no Curso de Psicologia social e das
organizações; Extensão de Tete,
orientado por:

Mestre/dr: Luisa Raice

UniPúngue

Tete

2021
Índice
1. Introdução......................................................................................................................3
1.1. Objectivos...................................................................................................................3
1.1.1. Objectivo geral:.......................................................................................................3
1.1.2. Objectivos específicos:............................................................................................3
2. Fundamentação teórica..................................................................................................4
2.1. Conceito de fenómeno................................................................................................4
2.2. Fenomenologia: Origem, e desenvolvimento.............................................................4
2.3. Conceito de fenômeno na fenomenologia..................................................................6
2.4. Teoria fenomenológica...............................................................................................6
2.5. A avaliação da teoria fenomenológica.......................................................................6
2.6. A Psicologia Fenomenológica....................................................................................7
2.7. Aspectos chave da abordagem fenomenológica: características distintivas...............8
2.8. Enfoque fenomenológico da personalidade................................................................9
2.9. O ser humano............................................................................................................10
2.10. Maneiras do existir: preocupada, sintonizada e racional........................................11
10.11. A pesquisa psicológica de base fenomenológica..................................................11
Conclusão........................................................................................................................13
Referências Bibliográficas...............................................................................................14
3

1. Introdução

O presente trabalho tem como o tema a Teoria Fenomenológica. A


fenomenologia é um estudo que fundamenta o conhecimento nos fenômenos da
consciência. Nessa perspectiva, todo conhecimento se dá a partir de como a consciência
interpreta os fenômenos. Esse método foi desenvolvido inicialmente por Edmund
Husserl (1859-1938) e, desde então, tem muitos adeptos na Filosofia e em diversas
áreas do conhecimento. A fenomenologia, enquanto ciência descritiva das essências e
das vivências puras transcendentais, tem como objetivo primeiro apreender
eideticamente numa intuição pura, as coisas mesmas.

O desenvolvimento saudável da personalidade e as condições que podem


favorecê-lo ou dificultá-lo têm sido o foco de meu interesse, durante os numerosos anos
de minhas atividades como aconselhadora psicológica, psicoterapeuta e professora. A
abordagem humanística da psicologia forneceu-me significativos subsídios para
esclarecer e fundamentar estes fatos. Por esta razão, para entender melhor esse tema,
neste trabalho constitui os seguintes objectivos.

1.1. Objectivos

1.1.1. Objectivo geral:


 Conhecer a teoria fenomenológica.

1.1.2. Objectivos específicos:

 Conceitualizar o fenómeno na vertente psicológica;


 Descrever os aspectos chave da abordagem fenomenológica.
4

2. Fundamentação teórica

2.1. Conceito de fenómeno

O significado de fenômeno vem da expressão grega fainomenon e deriva-se do


verbo fainestai que quer dizer mostrar-se a si mesmo. Assim, fainomenon significa
aquilo que se mostra, que se manifesta. Fainestai é uma forma reduzida que provém de
faino, que significa trazer à luz do dia. Faino provém da raiz Fa, entendida como fos,
que quer dizer luz, aquilo que é brilhante. Uma entidade, pode mostrar-se a si mesma de
várias formas, dependendo, em cada caso, do acesso que se tem a ela. (MARTINS et
BICUDO,1989: 21- 22).

Fenômenos não são entidades reais ou eventos, são objetos de atos intencionais;
que nós o apreendemos por meio dos atos de percepção. É a percepção que temos de um
objeto (na sua aparência) que se torna visível à nossa consciência, e que inclui todas as
formas de estar consciente de algo, qualquer espécie de sentimento, desejo e vontade,
com seu comportamento imanente (MOREIRA, 2002).

Logo, o fenômeno é o primeiro aspecto para conhecer o mundo, para “ir à coisa
mesma” e isso quer dizer situar o que se deseja conhecer no mundo. O próprio mundo
pode ser situado diante do olhar do pesquisador como se fosse um foco a ser conhecido.
Pesquisador e fenômeno estabelecem uma relação dialética, o homem se situa ao
mundo, um mundo que se oculta e se doa à sua percepção.

Moreira (2002: 66) concebe os fenômenos como “blocos básicos da ciência


humana e a base para todo conhecimento, pois qualquer fenômeno representa um ponto
de partida desejável para uma investigação”. O que chega a nossa percepção sobre
determinada coisa é a sua aparência e, esta não é uma ilusão vazia, mas é o começo
essencial de uma ciência que busca determinações válidas que são abertas à verificação
de qualquer pessoa.

2.2. Fenomenologia: Origem, e desenvolvimento

Fenomenologia é uma palavra de longa trajetória histórica e também de uma


etapa importante da Filosofia. Palavra de origem grega, composta por duas outras:
5

“fenômeno” - que significa aquilo que se mostra e, não somente aquilo que se aparece
ou parece e, “logia” (logos) – que tem muitos significados para os gregos, tal como:
palavra, pensamento (BELLO, 2006). Assim, refere-se ao “estudo dos fenômenos,
daquilo que aparece a consciência, daquilo que é dado a partir de si mesmo (...) é
também um amplo movimento científico e espiritual, extraordinariamente variado e
ramificado, ainda hoje vivo” (LIMA,2014, p.10)

Na sua origem, o termo foi usado pela primeira vez, de acordo com Dartigues
(2008), no texto Novo órganon (1764), de autoria de Johann Heinrich Lambert (1728-
1777), com o sentido de teoria da ilusão sob suas diferentes formas. Em 1770, Emanuel
Kant (1724-1804),retoma o vocábulo falando de phaenomenologia generalis, para
indicar a disciplina propedêutica que deveria preceder à metafísica. A palavra
fenomenologia volta a ser utilizada por Kant em 1772, na denominada Carta a Marcus
Herz, onde ele esboça o plano da obra Critica da Razão Pura publicada em 1781.

Pode-se assim, entender que em Kant encontra-se Fenomenologia, método


fenomenológico e pesquisa empírica: o instigante universo da construção de
conhecimento esquadrinhada na experiência de vida. Uma fenomenologia no sentido
rigoroso do termo, uma fenomenologia crítica, pois ao “analisar a estrutura do sujeito e
das funções do espírito, ele estabelece que o conhecimento se reduz ao que aparece, ou
seja, fenômenos” (LIMA, 2014: 11).

Hegel associa ao termo a condição de uma ciência da experiência e da


consciência. Temos em Hegel e Kant duas concepções de fenomenologia, sendo que a
diferença fundamental entre elas reside na concepção das relações entre o fenômeno e o
ser ou o absoluto. Hegel pretendeu mostrar como o espírito está presente em cada
momento da experiência humana.

Em síntese, a fenomenologia é um movimento radicalmente oposto ao


positivismo, porque se centra na experiência intuitiva capaz de apreender o mundo
exterior, e porque abala a crença mantida pelo homem comum de que os objetos
existiam, independentemente de nós mesmos, nesse suposto mundo que nos seria
estranho. Ela tenta, portanto, desvendar quais são os limites do conhecimento sobre o
fenômeno. É um estudo sistemático das figuras fenomenais, daquilo que pode ser
percebido.
6

2.3. Conceito de fenômeno na fenomenologia

Compreender o que é fenômeno representa a primeira grande dificuldade no


estudo da fenomenologia, dado ao fato de se ter mais de um sentido e, deste ser
dependente da formação de cada pessoa que o emprega. Em linhas gerais, fenômeno
representa “qualquer modificação operada nos corpos pela ação dos agentes físicos ou
químicos” (MOREIRA, 2002: 64), encontrada em diferentes circunstâncias
sedimentadas pelos cursos de Física, Química e ciências naturais, tal como o fenômeno
da “decantação da água”, ou da “queda de um fruto de uma árvore”.

Numa pesquisa empírica que utiliza a abordagem fenomenológica o fenômeno é


algum tipo de experiência vivida, comum aos diversos participantes, como por exemplo:
experiência de ter satisfeito um desejo, de ter vivido uma situação traumática; de ter
perdido uma competição, etc. Os diferentes aspectos da experiência, comum a todos os
participantes, constituir-se-ão na essência dessa experiência vivida. (MOREIRA, 2010).

2.4. Teoria fenomenológica

É a teoria cuja proposição se refere exclusivamente a propriedades e relações


empiricamente acessíveis entre os fenômenos. Na física, exemplos importantes de
teorias fenomenológicas são a termodinâmica, a óptica geométrica e a teoria da
relatividade especial. Embora as teorias fenomenológicas contribuam para a consecução
do primeiro dos dois objetivos centrais da ciência – predizer fenômenos –, falham
inteiramente quanto ao segundo, que é explicar esses fenômenos, entendendo-se por
explicação a identificação dos mecanismos causais subjacentes aos fenômenos.

2.5. A avaliação da teoria fenomenológica

Por envolver unicamente leis empíricas, as teorias fenomenológicas podem ser


avaliadas de forma mais ou menos direta, pela observação cuidadosa e controlada das
correlações entre fenômenos propostas em suas leis. Para que a teoria seja aceita, essa
observação não pode contrariar nenhuma das leis da teoria. Na linguagem filosófica,
esse ponto é expresso dizendo-se que teoria deve ser empiricamente adequada.

Além disso, quando uma teoria proposta cumpre essa condição básica, precisa
ainda satisfazer outros requisitos, como abranger em seu escopo os principais
7

fenômenos de sua área, formular suas leis da maneira mais simples possível, exibir
concatenação teórica, de forma que as leis se ajustem e apoiem umas às outras, etc.

Mas mesmo em condições ideais de satisfação de todas essas exigências uma


teoria nunca deve ser considerada como estritamente provada pelos fenômenos, da
mesma forma em que, na matemática, podem-se provar teoremas a partir de conjuntos
de proposições básicas. A razão principal para isso, no caso das teorias
fenomenológicas, é que qualquer teoria envolve generalizações. As proposições que
descrevem fenômenos são sempre particulares, enquanto que as leis da teoria são
proposições gerais (i.e. referem-se a um número indefinido de fenômenos). Tais
proposições gerais nunca são absolutamente seguras, pois não há como garantir que
cedo ou tarde não se observará um fenômeno que viole as regularidades que elas
expressam.

2.6. A Psicologia Fenomenológica

A fenomenologia propôs um novo paradigma para a Psicologia, isto é, uma nova


forma de compreender o homem. Nesse contexto, Giorgi e Souza (2010) afirmam que a
Psicologia Fenomenológica pretende investigar a experiência vivida, analisando como
os objetos são dados diretamente à consciência e de que modo ocorre a experiência
desses fenômenos, ou seja, como as situações, a percepção de si mesmo e do outro, a
compreensão da vida social e cultural são experienciados pelo sujeito. O foco da análise
fenomenológica é a experiência imediata do ser e a forma como os objetos se
presentificam na consciência.

O método fenomenológico possibilita a compreensão do mundo tal como ele


existe para a consciência ou para o sujeito priorizando a relação homem-mundo. A
Fenomenologia proposta por Husserl contribuiu para a aproximação entre a psicologia e
a filosofia.

Esse conceito torna-se importante para a psicologia, pois a ciência psicológica


deve ser entendida sob essa perspectiva da compreensão do mundo tal como ele é
experienciado pelo sujeito. É no mundo vida que a Psicologia poderá buscar as origens
dos fenômenos psicológicos. No entanto, a psicologia não pretende chegar à essência do
psiquismo humano como tal, mas sim aos significados que as pessoas adquirem a partir
de suas vivências.
8

2.7. Aspectos chave da abordagem fenomenológica: características distintivas

Conhecer algumas das características distintivas da fenomenologia se faz


necessário para melhor compreensão do seu método, porém ainda assim, permanecerá
dificuldade em compreendê-la ao permanecer no interior do contexto filosófico
empírico que domina a cultura científica de nossa época. A seguir comentam-se estas
características, quais sejam: fenômeno da consciência, experiência, atribuição da
presença e intencionalidade.

Inicialmente, a fenomenologia trata o fenômeno da consciência, o que num


sentido amplo leva a compreensão que ela remete a totalidade das experiências vividas
por uma pessoa. A consciência no contexto fenomenológico ocupa um lugar de
prestígio porque ela não pode ser evitada – reconhece-se a sua presença e o seu papel,
ainda que, de qualquer modo, ela os faça sentir silenciosamente. A consciência é,
portanto, o meio de acesso a tudo o que ocorre na experiência humana já que não há
nada que possa ser dito, ou o que possa referir, que não a inclua implicitamente. Assim,
do ponto de vista fenomenológico é mais rigoroso reconhecer o papel da consciência e
considerá-lo, do que ignorá-lo (GREUEL, 1998).

A experiência consiste na capacidade de se obter percepções ou dados


empíricos por meio da observação. Para Husserl (1975) a característica principal da
consciência é que ela nos apresenta objetos; esta função ele denomina de “intuição” -
uma experiência comum e não esotérica. Para ele, a experiência é a intuição de “objetos
reais”, exatamente daqueles que são no tempo e espaço, regidos pela causalidade, e,
portanto, oferecidos à percepção ordinária, como são, por exemplo, os carros, os livros,
as mesas, etc.

Neste sentido, o termo tuição é mais amplo e o da experiência, mais estreito


porque este último se refere a um leque menor de “presenças” que dão sustentabilidade
aos indícios da realidade. Este é um aspecto importante porque nas Ciências Humanas
muitos de seus fenômenos de interesse são presenças que podem não ter base real. Por
exemplo: Na Psicologia, fenômenos são alucinações, fantasmas, etc.

O conceito de fenomenologia encontra-se a atribuição da presença daquilo que


é dado e clareado exatamente como é e, como é sentido. Em outras palavras, ela analisa
9

intuições ou presenças, não objetivamente, mas sob o ângulo do sentido que os


fenômenos têm para as pessoas que o vivenciam.

A intencionalidade é um termo que Husserl tomou emprestado da Psicologia


descritiva de Brentano, um de seus mestres, mas fez dele um uso bem diferente. O
termo é a pedra angular da fenomenologia e expressa que toda consciência é consciência
de alguma coisa, ou seja, a consciência é intencionalidade. Diferente dela mesmo e, que
só é consciência estando dirigida a algum objeto, este por sua vez é sempre objeto-para-
um-sujeito, ou seja, que somente tem sentido para uma consciência e jamais será um
objeto em si, mas objeto percebido ou objeto-pensado, objeto-rememorado, objeto-
imaginado, etc. (LYOTARD, 1967)

O conceito de intencionalidade da consciência provém da filosofia medieval que


considerava que a consciência possuía uma intentio, ou seja, uma propensão a estar
sempre voltada para algo fora dela, algo que não ela mesma. Brentano resgata essa
característica e lhe confere uma nova importância, ao considerar que toda a atividade
psíquica também possuía esta característica, ou seja, todos os atos psíquicos, como
emoção, pensamento, lembranças, estariam relacionados a um objeto presente no
mundo físico (Brentano, 1874).

A intencionalidade será a responsável por demonstrar a unidade da correlação


entre a experiência vivida e o mundo, enquanto tal, e será ela mesma quem possibilitará
a emergência de uma ciência do psíquico.

2.8. Enfoque fenomenológico da personalidade

A fenomenologia tenta buscar a intuição como sua essência principal, tenta


interpretar o mundo a partir das experiências de um determinado sujeito. Inicialmente a
partir dos estudos de Edmund Husserl, Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre e Merleau-
Ponty. A fenomenologia é caracterizada pelo processo de modificação e descrição e
classificação dos fenômenos. É caracterizada também por ser um processo subjetivo.
Neste caso,

"O termo personalidade é aqui tomado como o conjunto de características do


existir humano, consideradas e descritas de acordo com o modo como são
percebidas e compreendidas, pela pessoa, no decorrer da vivência cotidiana
imediata e tendo como fundamento os seus aspectos fenomenológicos
primordiais. Tais características constituem uma totalidade; a sua
10

organização em itens separados tem, apenas, o intuito de descrevê-las de


modo minucioso, para facilitar a sua compreensão". (Forghieri, 1993:26)

A Fenomenologia afirma a possibilidade de se analisar reflexivamente o que


surge no fluxo da consciência. No caso do método fenomenológico psicológico, esse
procedimento é realizado apenas pelo investigador, mantendo em aberto a possibilidade
de uma visão crítica dos pares. Como é sabido, poder contar com a visão crítica dos
pares e possibilitar a replicação dos estudos são dois critérios fundamentais em qualquer
disciplina científica.

Neste momento, o crucial é salientar que esta opção se pretende conciliar dois
aspectos: seguir o requisito fenomenológico de valorizar as descrições sobre
experiências vividas, salientando o sentido de como estas se apresentam a consciência
do sujeito, mantendo no entanto, passos metodológicos que permitam enquadrar o
processo de investigação em critérios unanimemente considerados na comunidade
científica (Giorgi & Souza, 2010: 75-76).

2.9. O ser humano

A estrutura originária da existência humana é ser-no-mundo; o ser humano


existe sempre em relação a algo ou a alguém. O primordial ser-no-mundo do homem
não é uma abstração e sim uma ocorrência concreta; acontece e realiza-se, apenas, nas
múltiplas formas peculiares do seu comportamento e nas diferentes maneiras dele
relacionar se às coisas e às pessoas". (Boss, 1963:34). Entretanto, "mundo" não é aqui
considerado, simplesmente, como o ambiente, as coisas, os animais e as pessoas que se
encontram, objetivamente, diante do ser humano.

Assim sendo, o "mundo" abrange tanto os aspectos materiais e


biológicos quanto os aspectos humanos  da existência, e também aqueles que dizem
respeito ao ser-si-mesmo como ser-no-mundo. E, ao existir no mundo, relacionando-se
com entes materiais, com animais e com seus semelhantes, o ser humano não apenas
observa os acontecimentos mas os compreende, atribuindo-lhes significados. É assim
que o ser humano vai, gradativamente, descobrindo, constituindo e conhecendo o
mundo e a si mesmo, de modo intimamente relacionado; ele compreende a si mesmo a
partir de sua existência.
11

2.10. Maneiras do existir: preocupada, sintonizada e racional

A maneira preocupada consiste numa vivência global de insatisfação, a qual


varia desde uma vaga intranquilidade por termos de cuidar de algo até uma profunda
sensação de angústia, que chega a nos envolver por completo. Ela ocorre tanto em
situações concretamente presentes em nossa vida quanto naquelas em que apenas nos
lembramos de coisas já acontecidas ou que temos receio de que venham a acontecer,
podendo surgir, também, sem que percebamos as razões de seu aparecimento.

A maneira preocupada de existir encontra-se presente em nossa vida cotidiana,


mais frequentemente de forma branda e imprecisa, intensificando-se em algumas
ocasiões, como, por exemplo, quando sofremos grandes contrariedades, enfrentamos
momentos de perigo ou precisamos assumir decisões importantes. Entretanto, é na
angústia que se encontram enraizadas todas as manifestações do modo preocupado de
existir. A angústia é a negação de todo objeto ou, em outras palavras, seu único objeto é
a própria ameaça, cuja fonte é o "nada" ou a morte. Por isso, "tentamos transformar a
angústia em medo e ir corajosamente de encontro aos objetos nos quais a ameaça se
corporifica". (Tillich, 1972: 35).

A maneira sintonizada de existir consiste numa vivência de bem-estar e


agradável envolvimento em algo ou com alguém. A manifestação mais profunda da
maneira sintonizada de vivenciar as situações consiste numa vivência de completa
harmonia e plenitude em nosso existir no mundo; Buber (1977) a denomina de relação
Eu-Tu. Esta pode surgir em nosso contato com a natureza, no encontro com nossos
semelhantes, assim como no nosso envolvimento agradável ao ouvir uma melodia, ler
um livro, apreciar uma obra de arte ou ao conseguir completar um empreendimento
importante, vencer uma situação perigosa etc.

Quando me abandono à minha vivência e me sinto em profunda sintonia ao


contemplar, por exemplo, o alvorecer do dia no bosque ou as ondas revoltas do mar,
vivencio profunda tranquilidade e indescritível bem-estar.

10.11. A pesquisa psicológica de base fenomenológica

A pesquisa de inspiração fenomenológica é uma modalidade de pesquisa


qualitativa que busca compreender o fenômeno interrogado. O pesquisador não parte de
12

um problema específico e não formula teorias ou explicações a priori, mas conduz sua
pesquisa a partir do mundo-vida dos sujeitos que vivenciam o fenômeno que está sendo
estudado. Nesse sentido, o pesquisador considera suas próprias experiências para
investigar o mundo ao seu redor (CORREA, 1997).

O método fenomenológico consiste em uma abordagem descritiva. Parte-se da


concepção de que se pode deixar o fenômeno falar por si, com o intuito de alcançar o
sentido da experiência, isto é, o que a experiência significa para as pessoas que a
vivenciaram e que, dessa forma, estão aptas a dar uma descrição compreensiva sobre a
experiência em questão.

No campo da Psicologia, pode-se distinguir a redução fenomenológica em dois


momentos: envolvimento existencial e distanciamento reflexivo. O envolvimento
existencial requer que o pesquisador se desprenda dos conhecimentos previamente
adquiridos sobre a vivência que está investigando e adote uma postura aberta para
conseguir penetrar de modo espontâneo e profundo nas experiências do sujeito. Dessa
forma, poderá obter uma compreensão global do fenômeno estudado. Por sua vez, o
distanciamento reflexivo ocorre quando o pesquisador, após mergulhar na vivência,
procura manter um certo distanciamento para refletir sobre o que foi possível
compreender e assim captar a essência do fenômeno.
13

Conclusão

Feito o trabalho, percebe-se que a fenomenologia surge na filosofia como


ciência sobre a experiência que a consciência tem do mundo, a relação entre a
consciência do saber humano e o mundo exterior a ela. Portanto, seu principal objetivo é
investigar e descrever os fenômenos enquanto experiência consciente. Isso deve se dar
de forma desvinculada de teorias sobre as explicações causais e o mais distante possível
de preconceitos e pressuposições. Por um lado, com essa teoria, a consciência interfere e
modifica o que intui e percebe, enquanto aquilo que é percebido principalmente quando
atua e influencia o trabalho da consciência. Ainda, o sujeito e objeto operam juntos,
como uma oposição que gera uma síntese. Essa constatação posteriormente acabou
permitindo o surgimento da teoria fenomenológica.
14

Referências Bibliográficas

BELO, A.A. Introdução a fenomenologia. Baurú: EDUSC, 2006

Boss, M. Psychoanalysis and Daseinsanalysis. New York: Aronson, 1963.

Brentano, F. (1935). Psicología desde un punto de vista empirico. Madrid: Revista de


Occidente. (Obra originalmente publicada em 1874).

Buber, M. Eu e Tu. São Paulo: Cortez e Moraes, 1977

CHIBENI S. Seno . Introdução à filosofia da ciência Departamento de Filosofia,


Unicamp. Disponível em:
https://www.unicamp.br/~chibeni/textosdidaticos/avaliacaoteorias.pdf

CORREA, A.K. Fenomenologia: uma alternativa para pesquisa em enfermagem.


Revista Latino Americano de Enfermagem, Ribeirão Preto, v.5, n.1.p.83-88, 1997.

COSTA António, Fenomenologia e subjetividade. Análise fenomenológica do


conhecimento: representacionismo versus antirrepresentacionismo, Portugal, 2014.
Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/268202812.pdf

DARTIGUES, A. O que é a fenomenologia? Trad.de Maria Jose J.G. de Almeida. São


Paulo: Ed.Centauro, 2008

FORGHIERI Yolanda Cintrão, Saúde e adoecimento existencial: o paradoxo do


equilíbrio psicológico,  1996

Giorgi, A., & Sousa, D. (2010). Método Fenomenológico de Investigação em


Psicologia. Lisboa: Fim de Século.

GOMES kássia karina amorim. É a vida sofre transformações: compreendendo a


vivência de crianças com câncer à luz da psicologia fenomenológico existencial, 2015.
Disponível em: https://tede.ufam.edu.br/bitstream/tede/4638/2/Disserta
%C3%A7%C3%A3o%20-%20K%C3%A1ssia%20Karina%20Amorim%20Gomes.pdf

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X1996000100009

LIMA, M.B.A. Ensaios sobre fenomenologia. Ilheus: Editus, 2014

Lyotard, J. A Fenomenologia. Lisboa: Edições 70, 2008.

MOREIRA, A.D. O método fenomenológico na pesquisa. São Paulo: Pioneira


Thomson, 2002

Tillich, P. A Coragem de Ser. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1972.        

Você também pode gostar