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UNIVERSIDADE LICUNGO

FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

Curso de Licenciatura em Geologia

CECÍLIA ROSA MULIMA


JOSÉ CARLOS JOÃO
NANCY JUBY CASTELO
LIMA MÁRIO LIMA
MELO ALBERTO LOLE

ESTUDOS DE RITUAIS EM ANTROPOLOGIA (CASO DE MOÇAMBIQUE)

DONDO
2022
CECÍLIA ROSA MULIMA

JOSÉ CARLOS JOÃO

NANCY JUBY CASTELO

LIMA MÁRIO LIMA

MELO ALBERTO LOLE

ESTUDOS DE RITUAIS EM ANTROPOLOGIA (CASO DE MOÇAMBIQUE)

Trabalho apresentado ao docente de


Antropologia Cultural de
Moçambique, do curso de Geologia,
2° Ano, da Faculdade de Ciências e
Tecnologia, da universidade Licungo,
como requisito parcial para a
obtenção da média frequência.

Docente: MSc. João Guerra

DONDO
2022
Índice
Introdução ..................................................................................................................................... 4

Objetivos ....................................................................................................................................... 5

Rituais ........................................................................................................................................... 6

Tipos de ritos ................................................................................................................................. 6

Rito de iniciação ............................................................................................................................ 6

Rito de passagem........................................................................................................................... 6

Rito de purificação ........................................................................................................................ 6

Funções do Ritos ........................................................................................................................... 7

Rituais em Moçambique................................................................................................................ 7

Marcadores que determinam a entrada nos ritos em Moçambique ............................................... 7

Conteúdos que são transmitidos nos ritos ..................................................................................... 8

O respeito ...................................................................................................................................... 8

Ritos de iniciação para homens e mulheres................................................................................... 9

Consequências ............................................................................................................................... 9

Ritos de iniciação na zona norte de Moçambique ....................................................................... 10

Local de realização do rito .......................................................................................................... 10

Linguagem usados nos ritos de iniciação na zona norte ............................................................. 11

Testes realizados nos ritos de iniciação na zona norte ................................................................ 12

Fase de integração ....................................................................................................................... 12

Ritos de iniciação na zona centro ................................................................................................ 13

Os ritos de iniciação para as mulheres ........................................................................................ 13

Os ritos de iniciação para os homens .......................................................................................... 14

Durante a cerimónia .................................................................................................................... 15

Tabus ........................................................................................................................................... 15

Conclusão .................................................................................................................................... 16

Referências bibliográficas ........................................................................................................... 17


Introdução
No presente trabalho, falaremos sobre estudos de rituais em antropologia mas
principalmente caso de moçambique, onde falaremos dos ritos que pode-se entender de
modo geral como um sistema cultural de comunicação simbólica, constituído de
sequências ordenadas e padronizadas de palavras e actos, em geral expressos por
múltiplos meios. Os ritos de iniciação são instituições culturais praticadas nas zonas
centro e norte de Moçambique.

Falaremos dos ritos de iniciação na zona norte de Moçambique, marcadores que


determinam a entrada nos ritos em Moçambique, ritos de iniciação para homens e
mulheres, nao se esquecendo dos ritos de iniciação na zona centro e os tabus.
Objetivos
 Gerais
Compreender o estudos de rituais em antropologia (caso de Moçambique).

 Específicos
Caracterizar o estudos de rituais em antropologia (caso de Moçambique);

Identificar os rituais em antropologia (caso de Moçambique);

Investigar quais os rituais antropologia (caso de Moçambique).


Rituais
Segundo Victor Turner, o “ritual é a confirmação periódica das regras sobre como pessoas
duma cultura particular têm que interagir, se essas pessoas querem ter uma vida social
coerente, quer dizer ter ligações entre si e uma comunidade estável como grupo social.”

Pode-se entender de modo geral o rito como um sistema cultural de comunicação


simbólica, constituído de sequências ordenadas e padronizadas de palavras e actos, em
geral expressos por múltiplos meios.

Tipos de ritos
Encontramos diferentes tipos de ritos tais como de iniciação, de passagem, de purificação
entre outros. Há vezes em que estes se encontram de algum modo interligados, pois que
a transição de uma situação á outra não é contrário a passagem a uma outra.

Rito de iniciação
É um processo destinado a realizar psicologicamente no indivíduo a passagem de um
estado do ser considerado inferior, para um estado considerado superior, ou seja, a
transformação do dito profano em iniciado/purificado; através de uma série de actos
simbólicos, provas físicas e morais, em que se procura incutir neste a sensação de que o
mesmo morre, a fim de renascer para nova vida e daí o nome segundo nascimento.

Rito de passagem
São consideradas fases ou etapas momentâneas na vida dos indivíduos, tendo em vista
uma necessidade específica que pode ter a ver com vários assuntos da vida social,
representam sempre uma etapa passageira.

Rito de purificação
É um rito destinado a reabilitar um indivíduo ou grupo ao convívio da sociedade, pela
ligação a um evento considerado negativo ou mau, que pode afectar negativamente tanto
o indivíduo e bem como a comunidade. Ele é realizado tendo em vista a restauração da
paz e harmonia individual e da própria sociedade como um todo.
Funções do Ritos
Os ritos são importantes porque tem uma função simultaneamente psicológica, social e
protectora. Garantem a explicação de eventos considerados anormais ou sem explicação
lógica, fazem com que as pessoas vivam de acordo com os modelos definidos pelos
próprios rituais e alterando deste modo seus comportamentos, ajudam a honrar e satisfazer
os antepassados, ajudam a lidar com eventos extremos tais como a morte, nascimento, e
bem como situações de insegurança resultante de várias situações.

Rituais em Moçambique
Os ritos de iniciação são instituições culturais praticadas nas zonas centro e norte de
Moçambique. Portanto, é comum afirmar-se que são constituintes dos direitos culturais,
que são uma das importantes dimensões dos direitos humanos.

As crianças do sexo feminino e do sexo masculino aprendem a distinguirem-se e a adoptar


práticas que lhes condicionam o acesso a direitos. Ou seja, os ritos de iniciação têm uma
primeira função que é de formar identidades, de nos dizer o que está certo e errado no
nosso comportamento. Neste sentido, os ritos são apresentados como verdades que não
podemos questionar sob pena de estarmos a violar “a nossa cultura”.

Marcadores que determinam a entrada nos ritos em Moçambique


Relativamente aos marcadores fica evidente que tradicionalmente a ida aos ritos é feita
para os rapazes após os primeiros sinais de puberdade biológica e para as raparigas depois
da primeira menstruação. Contudo, constata-se em todos os grupos etnolinguísticos uma
diminuição da idade, tanto para as raparigas como para os rapazes (embora menos para
estes), devido ao facto de que, tal como muitas matronas e mestres nos afirmaram, haver
o perigo de que quanto mais velhos os meninos e mais velhas as meninas entrarem nos
ritos, menos garantia haverá de que escutem e obedeçam aos conselhos recebidos.

A duração dos ritos varia com o grupo etnolinguístico e com o estatuto social das famílias.
De forma geral, os ritos dos rapazes são, mesmo nas capitais provinciais, mais longos,
cerca de um mês, e mais breves os das raparigas, muitas vezes apenas entre três a sete
dias, mas também encontrámos ritos femininos com a duração de um mês.
Conteúdos que são transmitidos nos ritos
A divisão sexual de trabalho é uma componente que se inicia nos primeiros anos da
criança (carregar água, tratar das mais pequenas) e que os ritos reforçam, delimitando
bem o papel do homem e da mulher. A aprendizagem da construção da casa pelos rapazes
ou a aprendizagem das tarefas domésticas pelas mulheres pode parecer à primeira vista
uma forma natural de partilha de tarefas, mas na verdade constitui desde logo uma forma
simbólica de demonstrar quem é o responsável pela família e quem é o dono da casa,
sendo a mulher remetida para a execução do trabalho que permite que a casa do dono seja
preservada e reproduzida através da educação dos filhos.

O respeito
Desde crianças os pais e professores falam de respeito e transmitem-nos como nos
devemos comportar perante as outras pessoas, como devemos ouvir e ser tolerantes
perante a diversidade, enfim, como devemos conviver com os outros. O respeito neste
sentido confunde-se com o que nós chamamos de boa educação.

O respeito para os rapazes significa um conjunto de elementos que têm a ver com o
respeito pelos mais velhos, formas de saudação, algumas proibições (como entrar no
quarto dos pais), para as raparigas o respeito significa isso também e para além disso,
principalmente obediência ao marido e conformidade com diferentes formas de violência.

Uma rapariga que tenha sido sujeita aos ritos é preparada para servir. Este serviço vai
desde a realização dos trabalhos domésticos, principalmente aquele que está directamente
relacionado com o bem-estar dos homens (como cozinhar e preparar a água do banho),
até à obrigação de pedir autorização do parceiro para o exercício de qualquer actividade.
As raparigas aprendem a não ter escolha, a subordinar os seus desejos, como estudar ou
trabalhar fora de casa, à vontade do companheiro.

O sentido que é conferido ao respeito está, assim, intimamente relacionado com a


desigualdade entre mulheres e homens. Isto é, ao distinguir o conteúdo da aprendizagem
sobre o respeito que é ensinado aos rapazes e raparigas. Por exemplo, a forma de olhar, a
obediência ao marido, são sinais que mostram que as mulheres e homens têm direitos e
deveres diferenciados. O incumprimento do que é tomado como respeito é apresentado
como argumento para a violência doméstica, porque significa transgressão à
aprendizagem ritual.
Ritos de iniciação para homens e mulheres
Desde que entram nos ritos os rapazes aprendem como controlar o corpo da mulher, o
corpo que trabalha, que se deve reproduzir e que deve constituir uma fonte de prazer
sexual para os homens. Nos ritos de iniciação masculina são realizadas práticas que
exercitam a sexualidade e potenciam a virilidade através do uso de plantas como
o gonandzlolo e kisangongo, que prolongam a relação sexual e que permitem realizá-la
muitas vezes. As palavras “malhar”, “furar” e “meter”, constantemente referidas pelos
rapazes quando falam de sexualidade, representam o exercício do poder masculino que
em nenhum momento pode ser questionado ou negado.

As raparigas (muitas vezes apenas com 11 e 12 anos) por intermédio de canções, da


manipulação de objectos (com a forma do sexo masculino) e do mimetismo da relação
sexual, sabem que o seu destino e a sua vida são condicionados pela vontade masculina.
Ele é o chefe da família e ele é principalmente visto como o seu “dono” e seu patrão.

Os ritos de iniciação são também muito violentos para os rapazes, em que com castigos
inomináveis eles aprendem a ser dominadores, aprendem que depois de iniciados devem
começar a preparar-se para serem homens e para proverem uma família. Para as raparigas
os ritos de iniciação autorizam os pais a “casarem-nas” prematuramente. Com muita
frequência este “casamento” foi combinado com anos de antecedência, sendo a sua
realização determinada pelo aparecimento da primeira menarca e pela realização dos
ritos.

Consequências
As consequências são normalmente o abandono da escola, a gravidez precoce e o
surgimento de doenças e de lesões graves, como a fístula obstétrica.
Ritos de iniciação na zona norte de Moçambique
Ao nascer, o bebê Macua não se encontra ainda plenamente integrado na sociedade. Seu
verdadeiro nascimento social acontece após fazer parte dos ritos de iniciação. Crianças
não iniciadas são de fato consideradas pessoas incompletas, um pouco “animaizinhos”,
tanto que, no caso de morte de um não-iniciado os ritos fúnebres serão reduzidos (um
pouco como acontecia no passado com as crianças não batizadas).

Ambos os sexos, masculino e femininos, devem participar nos ritos de iniciação, que
podemos considerar como verdadeiros nascimentos sociais, e é somente após esta
iniciação que poderão participar dos momentos importantes da vida coletiva, tais como
cerimônias, funerais e reuniões da aldeia. As marcas deixadas no corpo do iniciado
durante o ritual (circuncisão, tatuagens, corte no clitóris) serão os sinais, sinais físicos de
transformação na personalidade e no status do indivíduo.

Os ritos de iniciação masculina ocorrem normalmente durante os meses de inverno (julho,


agosto, setembro), quando não é necessário muito esforço nos campos, quando as famílias
ainda têm estoques de alimentos no celeiro e dinheiro ganhado com a colheita, os ritos de
fato requerem uma grande quantidade de dinheiro, tanto para pagar os especialistas dos
rituais quanto para pagar as festas e cerimônias ligadas aos mesmos. Por esta razão,
normalmente se realiza o rito quando se consegue reunir na aldeia, pelo menos dez
crianças entre oito e doze anos de idade, e todos os membros das famílias dos iniciados
contribuem para os custos.

Local de realização do rito


O rito em si é realizado em um pequeno campo construído para a ocasião, a pouca
distância da aldeia. Durante o ritual, que dura cerca de um mês, os iniciados não podem
ter qualquer tipo de contato com pessoas de fora do rito e, mesmo em caso de morte de
um dos iniciados, os pais serão informados somente quando se conclui o rito.

No início da fase preliminar são realizados sacrifícios tradicionais para antepassados


derramando farinha e bebidas alcoólicas ao pé da árvore sagrada da família ou da
comunidade, se prepara uma refeição comunitária na cabana do chefe da aldeia e todos
os participantes levam uma brasa flamejante da fogueira do chefe para acender o fogo da
própria casa. A este respeito, posso contar uma história: em uma aldeia onde eu trabalhava
no distrito de Pemba.
O ancião da aldeia estava efetuando seus sacrifícios ao pé de uma árvore cuja casca era
completamente branca. Ele queria muito que retornassem a viver bem como se vivia antes
do colonialismo, quando uma grande plantação dava trabalho para toda a aldeia. Ele
passou muitos anos a fazer sacrifícios para criar novamente estas condições, de modo que
as pessoas brincavam que a árvore havia se tornado branca por causa dos inúmeros
sacrifícios feitos com farinha branca.

Uma vez chegados ao acampamento os iniciados devem fazer uma cerimônia de três dias
e três noites onde alguns bailarinos dançam o tempo todo com peles de leopardo (símbolo
de autoridade e poder) e outras peles de animais para inspirar temor, respeito e obediência
na alma dos “iniciados”, e contam histórias e lendas de pessoas, animais e natureza em
geral. Após esta fase, há uma série de testes de força, como por exemplo não vomitar uma
bebida que provoca espasmos, ou ser circuncidado. Para a circuncisão todo iniciado tem
um padrinho que o acompanha e a ajuda.

Linguagem usados nos ritos de iniciação na zona norte


Durante a fase preliminar são proferidos insultos e injurias aos “iniciados” para torná-los
humildes e estimulá-los a corrigir-se e fortalecer-se, transmitindo-lhes ensinamentos
fundamentais como: o conhecimento popular sobre a vida e as suas fases principais, a
tradição da comunidade, a história da comunidade, lendas e personagens míticos, leis,
regras e procedimentos da sociedade, os seus direitos e os seus deveres.

É usada uma linguagem recitativa com aplausos e repetições, através de recitações e


performances quase teatrais, ou seja, usa-se muito o corpo como instrumento de
conhecimento e aprendizado. Para ensinar usam muito também os enigmas e as
adivinhações com o apoio de música e mímica: o conselheiro-chefe dita o ritmo da
música, os dançarinos dançam, o conselheiro canta a primeira parte da adivinhação e os
outros conselheiros cantam a solução enquanto os iniciados acompanham o ritmo batendo
palmas. Além de ensinamentos teóricos existem também os práticos: a eles é ensinado a
caçar, construir objetos e casas, e enterrar os mortos. Durante o ritual os cabelos dos
meninos são constantemente mal cortados. Devem manter-se os mais silenciosos
possíveis e evitar certos tipos de alimentos.
Testes realizados nos ritos de iniciação na zona norte
Os iniciados têm que passar por alguns testes de força como o tiro de lança, saber caçar,
tomar o banho de purificação no rio, etc. Até o retorno dos iniciados os pais também
precisam seguir vários requisitos como: não se lavar, não se vestir bem, não pentear o
cabelo e não ter relações sexuais. Ao final do ritual, os iniciados recebem outro nome que
indica tanto um estado (dimensão essencial) quanto uma missão (dimensão funcional).
Exemplos: Paciência, Aquele que nega, Razão, Em Deus, Testemunha, Viu o meu
sofrimento, O filho do espírito, Vigilante, O salvador, O mestre do relâmpago, Foram
escritos, O mestre do sol, Guloso.

Fase de integração
A fase de reintegração, na qual o acampamento é destruído e queimado; os iniciados
realizam um banho de purificação e voltam para a aldeia mostrando as competências
adquiridas. No final, se realiza uma refeição comunitária onde todos os membros da
família e os amigos, festejam com uma festa que dura um dia inteiro.
Ritos de iniciação na zona centro
Nesta região, concretamente na província de Sofala, os ritos de iniciação eram no passado
realizados para as raparigas quando estas vissem a primeira menstruação, pois estas já
eram consideradas mulheres já “crescidas”, e, por conseguinte, prontas para receber os
ensinamentos que lhes serviriam de guia na nova fase das suas vidas. Para os homens, os
ritos de iniciação eram realizados quando estes tivessem os sonhos molhados e, estes
podiam ter a duração de um mês, dois meses, ou até mesmo 1 ano.

Actualmente estes hábitos tem a tendência de desaparecer em algumas partes da


província, principalmente nas zonas urbanas, uma vez que a cerimónia deixou de ter a
importância que tinha no passado. Antigamente, quem não passasse por esta cerimónia
era considerada uma pessoa sem valores.

O rito de iniciação é uma cerimónia que podia e pode ser realizada em grupos ou de modo
individual, sendo que de forma individual, quando a adolescente visse a sua primeira
menstruação ou o adolescente tivesse os seus sonhos molhados, os pais ou os seus
responsáveis procuravam um/a anciã/o detentor de conhecimentos que fosse capaz de
transmitir os ensinamentos aos menores. Esta pessoa mais velha recebe o nome de
"pungo" que significa madrinha ou padrinho na língua cena.

Os ritos de iniciação para as mulheres


Em uma conversa com os idosos Rosa Monta, Medeira Sitole, Anita Blaundí e Bernardo
Toma, eles explicaram que nos ritos de iniciação para as mulheres, os padrinhos ou
madrinhas tinham a responsabilidade de ensinar as mulheres como estas deviam se
comportar na sociedade, como ser uma boa mulher, dona de casa, como tratar o seu
parceiro, ser submissa, saber como cuidar de casa, com quem deve construir uma amizade
e com quem não deve, etc.

Rosa Monta conta que após receber os seus ensinamentos, as mulheres deviam brincar só
com outras mulheres que já tiveram passagem pelos mesmos ensinamentos, partindo do
princípio de que se brincassem com outras pessoas, estas poderiam ser desencaminhadas.
Estes ensinamentos podiam ter a duração de dois ou três dias, ou até mesmo uma semana,
referindo que quando a mulher atingia a idade de conhecer um homem, esta devia colocar
missangas na cintura e em outras partes do corpo (pulsos, tornozelo e pescoço) como um
estimulante sexual masculino.
Para além de colocar as missangas, as mulheres podiam fazer cortes ou tatuagens ao longo
do corpo (no tórax, barriga e costas) ou até mesmo na cara para o mesmo fim, ou para
dizer que a mulher já estava pronta para ter relações sexuais. Rosa Monta refe que quanto
mais cortes as mulheres tivessem, era sinal de maior prontidão para ter relações sexuais.
Os cortes não eram feitos por qualquer pessoa, mas sim pessoas mais velhas com
experiência que eram designadas para tal.

Durante os ensinamentos, as mulheres podiam sair de manhã para casa de suas madrinhas
e voltarem no final do dia, ou até mesmo dormirem em casa de suas madrinhas quando
houvesse um trabalho difícil para se fazer logo pela manhã, isto quando os ritos de
iniciação eram feitos de forma individual. Nos ritos de iniciação em grupo, as
adolescentes dirigiam-se para uma determinada zona distante da cidade ou aldeia, e lá,
elas eram ensinadas sobre como ser uma boa mulher.

É nos ritos de iniciação onde as mulheres aprendiam como proceder quando ficassem
gravidas e atingissem os 4 meses de gravidez. Segundo as nossas entrevistadas, perante
uma gravidez, a gestante devia amarar capulana até por de baixo dos seios e sem colocar
a blusa ou sutiã, como forma de informar aos demais na comunidade sobre o seu estado,
de modo a ser dispensada de trabalhos pesados.

Os ritos de iniciação para os homens


Segundo Medeira Sitole, nos homens os ritos de iniciação servem mais para ensinar como
estes devem tratar as suas esposas e como estes devem cuidar da sua família, como ser
homens de valor para a sociedade, como ser um bom chefe de família, etc. Os
responsáveis por transmitir os ensinamentos aproveitavam a ocasião para fazer a
circuncisão nos adolescentes através de técnicas locais.
Durante a cerimónia
Os familiares não podiam estar presentes nestas cerimónias tanto nos ritos de iniciação
em grupo, assim como nos ritos de iniciação feitos de forma individual. Se houvesse a
necessidade de entregar algo (alimentos, roupas), os encarregados paravam num
determinado lugar e os responsáveis pela cerimónia iam lá buscar a encomenda.

Em caso de imprevisto durante a cerimónia, por exemplo a morte de um familiar do


adolescente ou qualquer outro acidente, os educandos não deveriam saber antes do
término da cerimónia e, o mesmo valia para os outros integrantes do grupo, ou seja, caso
um dos educandos morresse ou ficasse doente, os seus encarregados não deveriam saber,
de forma a não perturbar o decorrer da cerimónia. Antes dos adolescentes irem para a
cerimónia, estes eram preparados psicologicamente para eventuais acontecimentos.

Quando a cerimónia terminava, os familiares ficavam num certo ponto com tambores
tocando e cantando de modo a celebrar a recepção de uma “nova pessoa”. Após a
cerimónia dos ritos de iniciação, a mulher ou o homem não podia contar o que aprenderam
às outras pessoas, partindo do princípio de que se não contassem o que aprenderam, os
outros que ainda não passaram pela cerimónia desenvolveriam uma certa curiosidade e
isto faria com que os outros adolescentes tivessem vontade de ir aprender. "Era comum
fazer-se os ritos de iniciação em grupo nos homens mais do que nas mulheres, mas não
era obrigatório que estes fossem em grupo tanto nos homens assim como nas mulheres",
explicou Bernardo Toma.

Tabus
Existem alguns tabus por de trás desta cerimónia, como por exemplo: as cerimónias dos
ritos de iniciação aumentam as taxas de gravidezes precoces, casamentos prematuros,
etc., porém estes tabus não constituem a verdade porque no meu entender os ritos de
iniciação são para ajudar os adolescentes a não se desencaminharem e a ensiná-los as boas
maneiras de como viver e se comportar dentro de uma sociedade ", defendeu Anita
Blaundí.

Por seu turno, Bernardo Toma acrescenta que ainda tem esperanças de que as pessoas
voltem a valorizar os ritos de iniciação como antigamente, principalmente nas cidades
porque esta prática faz parte da cultura e história Moçambicana.
Conclusão
Concluímos que os ritos são importantes porque tem uma função simultaneamente
psicológica, social e protectora. Os ritos de iniciação no contexto actual são
configuradores de identidades sexuais submissas e esse poder aparente da mulher
conferido pelo conhecimento do seu sexo e do outro na realidade é uma manifestação de
brutal submissão.
Referências bibliográficas
http://mz.ilteatrofabene.it/il-territorio/macua-ritos-de-passagem-os-ritos-de-iniciacao-
dos-jovens/

https://tsevele.co.mz/index.php/artigos/item/212-a-pratica-dos-ritos-de-iniciacao-no-
centro-de-mocambique

Turner, Victor. (1987a). The anthropology of performance Nova York: PAJ Publications.

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