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2010 – 2014.
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SUMÁRIO
ii
ABSTRACT
The present work is subordinated to the theme "Gender Relations in Local Development: A
Reflection of Women's Participation in Projects Funded by the District Development Fund in
the City of Marracuene, 2010 - 2014." The work reflects on the participation of women in
projects funded by the District Development Fund in Marracuene district. In this study the
following key question was formulated as a problem: What is behind the low level of
women's participation in the Projects Funded by the District Development Fund in the
Marracuene village? As for its classification the research is qualitative, applied. Descriptive-
exploratory and bibliographical research, documentary. The methodological procedures were
based on the Inductive and non-monographic method. The data collection techniques used
were the questionnaire and the interview. The main conclusion is that the participation of
women is very low influenced by the patriarchal lineage and cultural elements of the place.
Key Words: Gender, Gender Relations, Local Development, Participation, and District
Development Fund.
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LISTA DE ABREVIATURAS
iv
LISTA DE QUADROS
v
LISTA DE GRÁFICOS
vi
ÍNDICE
vii
4.1. AS RELAÇÕES DE GÉNERO E ESTEREÓTIPOS .............................................................................................. 22
4.1.1 AS RELAÇÕES DE GÉNERO ...................................................................................................................... 22
4.1.2 ESTEREÓTIPOS DE GÉNERO .................................................................................................................... 24
4.1.3 GÉNERO, EDUCAÇÃO E CULTURA ........................................................................................................... 26
4.1.3 IGUALDADE DE GÉNERO E DESENVOLVIMENTO....................................................................................... 28
4.2 A PARTICIPAÇÃO ........................................................................................................................................ 28
4.2.1 TIPOLOGIA DE A PARTICIPAÇÃO .............................................................................................................. 29
4.2.2 A PARTICIPAÇÃO E ATRIBUIÇÕES DO GOVERNO DISTRITAL .................................................................... 32
4.2.3 OS ESPAÇOS DE PARTICIPAÇÃO NO DISTRITO ........................................................................................... 33
4.2.4 OS ESPAÇOS FORMAIS DE PARTICIPAÇÃO NO DISTRITO ............................................................................ 33
4.2.5 OS CONSELHOS LOCAIS COMO MECANISMOS DE PARTICIPAÇÃO ............................................................ 33
CAPÍTULO V - APRESENTAÇÃO DO ESTUDO DE CASO E ANÁLISE E .................................................. 35
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................................................................................................... 35
5.1. BREVE CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO DE CASO O DISTRITO DE MARRACUENE ........................................ 35
5.1.1. Localização Superfície e População .................................................................................................. 35
5.1.2. Clima ................................................................................................................................................. 35
5.1.3 Relevo e solos .................................................................................................................................... 36
5.1.2. Economia .......................................................................................................................................... 36
5.2. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...................................................................... 38
5.2.1. PERFIL DOS ENTREVISTADOS .................................................................................................. 38
5.2.2. ESTEREÓTIPOS DE GÉNERO VERUS PROJECTOS ................................................................. 41
5.2.3. GÉNERO E OS CONSELHOS CONSULTIVOS LOCAIS ............................................................ 44
CAPÍTULO VI - CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÃO.................................................................................. 50
6.1. CONCLUSÃO .............................................................................................................................................. 51
6.2. RECOMENDAÇÕES...................................................................................................................................... 52
7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .................................................................................................................. 53
APÊNDICE .............................................................................................................................................................I
APÊNDICE – I GUIÃO DE COLECTA DE DADOS ...........................................................................................I
APÊNDICE – II NÚMERO DE PROJECTOS FINANCIADOS ATRAVÉS DO FDD “7 MILHÕES” ..............I
viii
CAPITULO I – INTRODUÇÃO
1
1.1. Tema e Delimitação do Tempo e Espaço
O presente trabalho, subordina-se ao tema “As Relações de Género no Desenvolvimento
Local: Uma Reflexão da Participação da Mulher nos Projectos Financiados por Fundo
Distrital de Desenvolvimento na Vila Sede de Marracuene, 2010 – 2014”.
Sob ponto de vista de espaço e tempo, o estudo foi realizado na província de Maputo,
concretamente no distrito de Marracuene. Em termos de tempo, o período abrangido pelo
estudo está no intervalo de 2010 à 2014.
A escolha de Marracuene para o estudo prende se pelo facto de ser um do primeiro distrito a
se beneficiar do Fundo de Desenvolvimento Distrital no âmbito da descentralização
financeira, mas também pelo facto de ser um distrito em franco desenvolvimento, onde a
participação da mulher é significativa no seu dia-a-dia, na agricultura, no comércio e em
muitas outras actividades.
Quanto ao período em análise 2010 a 2014, prende-se pelo facto de se estar a iniciar o
segundo mandato do Presidente Armando Guebuza, o promotor e o defensor deste fundo,
para além de ter havido algumas alterações significativas nos objectivos, no processo de
alocação e na sua nomenclatura do próprio fundo. Para além de ser o período em que muitos
projectos foram financiados. O ano 2014 como o fim prendesse pelo facto de ser o fim do
quinquénio do segundo mandato do Presidente Armando Emílio Guebuza.
1.2. Contextualização
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e. A integração da mulher nas estratégias do desenvolvimento das pequenas e médias
empresas incluindo o acesso ao crédito adequado e a expansão do sector industrial de
mão-de-obra intensiva;
f. A identificação das lacunas existentes na recolha e análise de dados desagregados por
sexo para desenhar e iniciar a implementação de uma estratégia com vista a preenchê-
las de uma forma sistemática;
g. A promoção do equilíbrio de género nos cargos de chefia e o aumento da capacidade
da mulher para assumir tais posições;
h. A implementação das acções tendentes a reduzir a prevalência do HIV/SIDA entre
mulheres e raparigas incluindo a promoção do papel do homem nesse contexto;
i. A intensificação dos esforços tendentes a reduzir as disparidades de género no ensino
técnico básico, médio e superior, e;
j. A melhoria da cobertura do abastecimento de água e saneamento nas zonas rurais
para que a rapariga e a mulher percorram menores distâncias para a recolha de água,
dando assim maior oportunidade para que a rapariga frequente a escola e que a
mulher se envolva em actividades produtivas.
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promoção de mecanismos de diálogo permanente com as instituições da sociedade civil que
actuam nas áreas da mulher e género.
Para levar a cabo a sua missão, o MMAS elaborou a Política Nacional de Género e
Estratégias de sua Implementação (MMAS 2006), um instrumento que tem em vista garantir
uma melhor planificação e a tomada de decisões que concorram para a promoção da mulher,
através da criação de condições de acesso aos órgãos de tomada de decisão, aos vários postos
de actividades e aos recursos económicos e sociais, tendo em atenção o respeito pelos direitos
cívicos e políticos da mulher. Em termos institucionais, foi criado o Conselho para o Avanço
da Mulher, designado por CNAM, através do Decreto n°7/2004 de 1 de Abril, que é um
órgão de consulta através do qual o MMAS faz a coordenação intersectorial com o objectivo
de impulsionar e acompanhar a implementação de políticas e programas aprovados pelo
governo para as áreas da mulher e género, contribuindo para a eliminação de todas as formas
de discriminação da mulher. O CNAM desenvolveu o Plano Quinquenal Nacional de Avanço
da Mulher (2005-2009), que incorpora os diferentes objectivos, estratégias e actividades
definidas pelos sectores com vista a diminuir os desequilíbrios de género.
A Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra Mulheres
(CEDAW) é outro instrumento impulsionador das relações de género e garante a boa
convivência entre homens e mulheres. Adoptada pela Assembleia Geral das Nações Unidas
em 1979, a convenção estabeleceu um contexto abrangente para o avanço de mulheres e já
foi consolidada até hoje por 187 países incluindo Moçambique.
As relações de género e a sua desigualdade no acesso a recursos vem sendo reconhecida
como um factor de perpetuação da pobreza. Constata-se que as mulheres encontram-se cada
vez mais, e de um modo desproporcional, vulneráveis à pobreza. Por outro lado reconhece-
se que a igualdade de género e o empoderamento das mulheres são condições fundamentais
para o desenvolvimento de quaisquer pais.
1.3. Justificativa
O desenvolvimento local é uma técnica pela qual os habitantes de um país ou região unem os
seus esforços aos dos poderes públicos com o fim de melhorarem a situação económica,
social e cultural das suas colectividades, de associarem essas colectividades a vida da nação e
de lhes permitir que contribuam sem reserva para os progressos do país.
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O estudo do tema sobre as Relações de Género nos Projectos financiados pelo Fundo
Distrital de Desenvolvimento, demonstra-se de capital importância, uma vez que permitirá
aprofundar os conhecimentos sobre o impacto dessas relações no desenvolvimento das
comunidades, através do acesso ao fundo de desenvolvimento comunitário, visto que este
fundo é concebido com a finalidade de gerar actividades de carácter económico visando o
crescimento e melhoria das condições de vida dos cidadãos no seio das comunidades.
1.4.1. Problema
A igualdade de género e o empoderamento das mulheres têm desde há muito feito parte da
agenda internacional do desenvolvimento assim como nacional. A questão penetrou também
nas políticas nacionais de desenvolvimento, tornando-se parte integrante da maioria dos
planos de desenvolvimento e estratégias de redução da pobreza como uma questão
transversal afectando ostensivamente as políticas e intervenções em todas as áreas do
desenvolvimento nacional.
A Constituição da República de 2004 nos seus artigos 35 e 36 estabelece como princípio que
homens e mulheres têm os mesmos direitos perante a Lei (a igualdade de direitos do género).
O PQG 2005-2009 refere-se igualmente ao grande objectivo de alcançar a igualdade do
género e menciona explicitamente que o fortalecimento do poder das mulheres é um factor
decisivo para a erradicação da pobreza. Este pressuposto cria um marco importante para que
ao longo do processo do desenvolvimento económico e social do país se focalize na maior
equidade no acesso aos recursos, na participação económica e no acesso aos benefícios do
desenvolvimento e na participação nos órgãos de tomada de decisão.
1.5. Objectivos
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Analisar o nível de participação dos homens e mulheres nos projectos financiados
pelo Fundo do desenvolvimento Distrital na Vila Sede de Marracuene;
Para alcançar os objectivos propostos, o estudo levanta as seguintes questões - chave gerais
de partida:
Como caracterizam as relações de relações de género no desenvolvimento local na
Vila Sede de Marracuene?
Quais são os desafios colocados às mulheres no acesso aos projectos financiados pelo
Fundo de Desenvolvimento Distrital na Vila Sede de Marracuene?
Qual é o nível de participação dos homens e mulheres nos projectos financiados pelo
Fundo do Desenvolvimento Distrital na Vila Sede de Marracuene?
Para dar resposta ao problema em estudo, formulou-se seguinte resposta hipotética que surge
das três questões de pesquisa levantadas.
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A hipótese acima é justificada baseando-se na abordagem de Tvedten, et all, (2008), que
refere que, Moçambique é um signatário de todos os acordos internacionais relevantes sobre
igualdade de género. De acordo com esta abordagem pode se perceber que embora haja um
grande esforço por parte das estruturas governamentais através das políticas desenhadas para
empoderar as mulheres, elas se encontram em desvantagem comparativamente aos homens,
visto as questões culturais de uma sociedade patriarcal como a do sul de Moçambique
persistem em limitar a participação das mulheres em processos de desenvolvimento e nesse
sentido para o caso do acesso ao fundo de desenvolvimento comunitário a garantia de boa
aplicação e devolução do investimento é fortemente credenciada aos homens como o género
mais confiado e, em contrapartida agravam-se as dificuldades para as mulheres acederem ao
fundo.
Nesta abordagem, pode se destacar também a questão de escolaridade, que por causa das
desigualdades de oportunidades entre os homens e as mulheres acaba favorecendo mais os
homens o acesso ao fundo de desenvolvimento comunitário, visto que este segmento de
género apresenta maior índice de formados superiores, médios, básicos e primário
comparativamente ao género feminino, neste sentido, há dificuldades para as mulheres
acederem ao fundo de desenvolvimento comunitário do que propriamente para os homens.
Variável Dependente
Baseia-se também numa pesquisa exploratória feita na Vila de Marracuene e, nos relatórios
do Governo Distrital, onde foi possível notar que há uma tendência de favorecimento dos
homens no acesso ao Fundo de Desenvolvimento Esta hipótese baseia-se na abordagem de
Tvedten, et all, (2008).
9
1.8. Estrutura do Trabalho
O estudo é composto por cinco capítulos. Para além do Capítulo I: o da introdução que
compõe os seguintes itens: o tema do trabalho e a delimitação no tempo e no espaço, a
contextualização, a justificativa, o problema e a pergunta de partida, os objectivos geral e
específicos, questões de pesquisa e as hipóteses do estudo. Os restantes capítulos deste estudo
apresentam os seguintes tópicos:
O capítulo II está dividido em duas partes: primeira parte referente ao quadro teórico em que
apresenta três abordagens teóricas sobre as questões das mulheres em desenvolvimento. A
primeira abordagem tem a ver com a Mulher no Desenvolvimento “Women in Development”
(WID), a segunda abordagem tem a ver com Mulher e o Desenvolvimento “Women and
Development” (WAD), e a terceira abordagem tem a ver com género e desenvolvimento
“Gender and Development” (GAD), No sub capítulo é apresentado o quadro conceptual
onde são apresentados os conceitos chaves do estudo como: Género, Relações de Género,
Desenvolvimento Local e Fundo Distrital de Desenvolvimento.
10
papel dos CCL na promoção do desenvolvimento e da participação da mulher nos projectos
financiados pelo FDD.
Este capítulo é o último sendo um dos capítulos-chave deste estudo pois examina os dados
empíricos recolhidos no decurso da pesquisa de campo.
Em seguida são apresentadas as conclusões e recomendações. Depois desta secção, segue-se
a Referência bibliográfica utilizada para elaboração deste estudo e os apêndices.
11
CAPÍTULO II - QUADRO TEÓRICO E QUADRO CONCEPTUAL
O quadro teórico apresenta três abordagens teóricas que abordam das questões das mulheres
em desenvolvimento. A primeira abordagem tem a ver com a Mulher no Desenvolvimento
“Women in Development” (WID), a segunda abordagem tem a ver com Mulher e o
Desenvolvimento “Women and Development” (WAD), e a terceira abordagem tem a ver
com género e desenvolvimento “Gender and Development” (GAD), No sub capitulo é
apresentado o quadro conceptual onde são apresentados os conceitos chaves do estudo
como: Género, Relações de Género, Desenvolvimento Local e Fundo Distrital de
Desenvolvimento.
Têm sido desenvolvidas e experimentadas várias teorias e conceitos sobre a relação das
mulheres com o desenvolvimento e os efeitos deste sobre as mulheres. Antes dos anos 70 as
teorias e práticas do desenvolvimento davam somente uma atenção indirecta às mulheres,
englobando-as nas questões do bem-estar das famílias. Esta orientação, de tipo
assistencialista, que não considerava o papel produtivo das mulheres e tinha uma concepção
androcêntrica e etnocêntrica de desenvolvimento, foi ultrapassada nos anos 70 com a
abordagem “Mulher no Desenvolvimento” “Women in Development” (WID). Esta apelou à
completa integração das mulheres como produtoras e trabalhadoras, centrando os seus
esforços na sua visibilidade e nas questões da divisão sexual do trabalho, e apelando para a
necessidade da sua capacitação/ formação.
No início dos anos 80, a abordagem WID começou a provocar uma desilusão crescente, pois
ao fócus no papel produtivo da mulher e às solicitações crescentes para que esta participasse
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na produção, principalmente agrícola, não corresponderam uma oferta de meios nem a
possibilidade de opinarem sobre o próprio processo de desenvolvimento.
É a partir deste descontentamento e das críticas das teorias «dependentistas», que
reclamavam um desenvolvimento autosustentado e apelavam à utilização dos recursos
endógenos que surge uma nova abordagem sobre o papel da mulher no desenvolvimento, a
abordagem “Women and Development” (WAD).
2.2.1. Género
O termo género, muito utilizado no desenvolvimento das análises feministas que ocorreram
na década de 1970, é muitas vezes confundido com o termo sexo. Género é definido, segundo
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as palavras de Rabelo (2010: 161-162), como “uma construção social de atributos diferentes
a homens e mulheres efectivada durante toda a vida, o que acaba por determinar as relações
entre os sexos em vários aspectos.
Serpa (2011: 3), citando Pereira e Freitas, afirma que o género se constitui com “um conjunto
de características e comportamentos que é atribuído ao sexo masculino e ao feminino pela (s)
sociedade (s) e que se relaciona com crenças que definem o que é masculinidade e a
feminilidade, bem como, as expectativas concebidas pelo(a)s próprio(a)s pais/mães sobre o
que será e fará o seu/sua filho(a) se for rapaz ou rapariga.”
Se o sexo se insere no quadro da biologia, de acordo com Rabelo (op. cit.), o género é uma
questão social, ou seja, o género é uma mera construção social. O termo género é, então, uma
questão de pertença ao feminino ou ao masculino.
Scott (1990:14) apresenta sua definição de género em duas partes compostas de sub partes,
sinalizando estas com a seguinte definição: “o género é um elemento constitutivo de relações
sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos, e o género é um primeiro
modo de dar significado às relações de poder”.
A partir dessa definição, Scott elenca quatro elementos necessários para se entender a
categoria género, a saber: os símbolos culturais que remetem a representações simbólicas,
como as figuras religiosas de Eva e Maria; os conceitos normativos encontrados na religião,
na política, na ciência e na educação, que oferecem conceituação do feminino e do
masculino; a educação e o sistema político; e a identidade subjectiva que deve ser
compreendida na sua construção histórica e relacionada com as actividades, organizações e
representações sociais.
Esses quatro elementos estão presentes nas análises da autora como sua primeira parte da
definição de género. Scott (1990:16-17) ressalta que tais elementos são articulados, porém
não agem ao mesmo tempo e nem são apenas reflexos um do outro. A segunda parte de sua
acepção refere-se ao conceito de género como primeiro modo de significar as relações de
poder, pois género é:
...um primeiro campo no seio do qual ou por meio do qual, o poder é articulado. O
género não é o único campo, mas ele parece ter constituído um meio persistente e
recorrente de dar eficácia á significação do poder no Ocidente, nas tradições judaico
cristãs e islâmicas.
...O género é então um meio de codificar o sentido e de compreender as relações
complexas entre diversas formas de interacção humana. Quando as (os)
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historiadoras (es) buscam encontrar as maneiras pelas quais o conceito de género
legitima e constrói as relações sociais, elas (eles) começam a compreender a
natureza recíproca do género e da sociedade e as maneiras particulares e situadas
dentro de contextos específicos, pelas quais a política constrói o género, e o género
constrói a política.
Outro aspecto a ser considerado é quem são os agentes das acções de desenvolvimento local.
Muitas instituições, grupos e indivíduos podem estar envolvidos: cooperativas, agências de
desenvolvimento, associações industriais e comerciais, entidades empresariais, sindicatos,
governos locais e de outras instâncias de poderes. Nesse sentido, o desenvolvimento local é
um processo muito mais sociopolítico que económico no sentido estrito. Os desafios são
muito mais políticos, de articulação de atores e capital social, que de gestão local ou de
projectos produtivos (Gallicchio; Camejo, 2005:40).
2.2.3. Participação
Participação é um conceito que tem que ser entendido, no contexto no qual ele está a ser
usado. Todavia, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
(UNESCO) definiu participação numa perspectiva ampla, como:
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Segundo Guião de Consulta Para a Participação Comunitária e da Sociedade Civil na
Promoção da Boa Governação do MASC (2011), participação corresponde às diversas
formas de envolvimento das comunidades locais e dos demais grupos de interesse e da
sociedade civil nos processos de governação com o objectivo de estimular mudanças nas
decisões políticas do governo distrital de modo a que essas decisões não estejam afastadas
dos interesses das comunidades locais.
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CAPITULO III - QUADRO METODOLÓGICO
Este capítulo apresenta os aspectos metodológicos, onde é feita a apresentação da
Classificação da Pesquisa, onde são articulados os seguintes abordagens tipo de pesquisa
quanto a abordagem do problema, tipo de pesquisa quanto a sua natureza, tipo de pesquisa
quanto aos objectivos e tipo de pesquisa quanto aos procedimentos técnicos. Em seguida são
apresentados os métodos usados sendo de abordagem e de procedimento, seguido das
técnicas de pesquisa “colecta de dados”, a população e amostra e as técnicas de colecta de
dados.
18
Pesquisa Bibliográfica: é desenvolvida com base em material já elaborado,
constituído principalmente de livros e artigos científicos.
Técnica de pesquisa documental - É idêntica a da pesquisa bibliográfica. Mas a
diferença está na natureza das fontes, pois esta forma sustenta-se de materiais que
não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados
de acordo com os objectos da pesquisa. Além de analisar os documentos de “primeira
mão” (documentos de arquivos, igrejas, sindicatos, instituições etc.), existem também
aqueles que já foram processados, mas podem receber outras interpretações, como
relatórios de empresas, tabelas etc. No estudo foram usados decretos e leis que
abordam da questão do Fundo de Desenvolvimento Distrital.
a. Método de Abordagem
Esta pesquisa baseou-se no método Indutivo, uma vez que parte das constatações mais
particulares às leis e teorias mais gerais. A aplicação deste método, permitiu perceber a
aproximação dos fenómenos relacionados com as Relações de Género e a participação da
mulher nos projectos financiados pelo Fundo de Desenvolvimento Distrital na Vila de
Marracuene. Partindo deste estudo, será possível aproximar este estudo para outros Distritos.
b. Método de Procedimento
Quanto aos Métodos de Procedimento usou-se o Método Monográfico. O método
monográfico parte do princípio de que o estudo de um caso em profundidade pode ser
considerado representativo de muitos outros ou mesmo de todos os casos semelhantes. Esses
casos podem ser indivíduos, instituições, grupos, comunidades etc, (Gil, 2008: 18).
O estudo ainda se apoiou no Método Histórico que parte do princípio de que as actuais
formas de vida e de agir na vida social, as instituições e os costumes têm origem no passado,
por isso é importante pesquisar suas raízes para compreender sua natureza e função.
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permitiu a recolha de informação sobre as relações do Género nos projectos financiados pelo
Fundo de Desenvolvimento Distrital na Vila de Marracuene.
A partir do roteiro das entrevista traçou-se um perfil das entrevistadas, inferir sobre as
particularidades dos entrevistados dificuldades e satisfações e por fim identificar
particularidades do quotidiano das relações de género e da participação das mulheres nos
projectos financiados pelo FDD na população investigada.
Para aprofundamento do tema em análise foi usada também a observação directa. Realizou-se
a observação directa para conhecer a realidade da área de estudo, no dia-a-dia da comunidade
da vila de Marracuene, assim como aspectos sociais e económicos, possíveis de apreender a
partir da observação participativa realizada durante o período em análise. As entrevistas
foram gravadas, posteriormente transcritas e, por fim, receberam tratamento qualitativo.
20
3.5. Tratamentos dos Dados
Os questionários semi-estruturados, e as gravações das entrevistas foram submetidos a
preenchimento assim como foram entrevistados as pessoas pretendidas. Estes dados forma
tratados de forma qualitativos e através das respostas dos questionários preenchidos foram
feitos gráficos através do Excel para aferir o número de percentagens das suas respostas.
Estes dados foram analisados e cruzados coma a literatura.
21
CAPÍTULO IV - RELAÇÕES DE GÉNERO E A PARTICIPAÇÃO DA MULHER
NOS PROJECTOS FINANCIADOS PELO FUNDO DE
DESENVOLVIMENTO DISTRITAL.
A autora chama a atenção para as palavras de Marx quando este diz que:
22
O conjunto destas relações de produção constituem a estrutura económica da sociedade, a
base real, sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e a qual correspondem
formas sociais determinadas de consciência. Não é a consciência dos homens o que
determina a realidade; ao contrário, a realidade social é a que determina sua consciência
(Marx citado por Izquierdo, 1990).
A construção dos géneros se dá através da dinâmica das relações sociais. Os seres humanos
só se constroem como tal em relação com os outros. Saffioti (1992:210) considera que:
não se trata de perceber apenas corpos que entram em relação com outro. É a
totalidade formada pelo corpo, pelo intelecto, pela emoção, pelo carácter do
EU, que entra em relação com o outro. Cada ser humano é a história de suas
relações sociais, perpassadas por antagonismos e contradições de género,
classe, raça/etnia.
A tentativa de construir o ser mulher enquanto subordinado, ou melhor, como diz Saffioti
(1992), como dominada-explorada, vai ter a marca da naturalização, do inquestionável, já
que dado pela natureza. Todos os espaços de aprendizado, os processos de socialização vão
reforçar os preconceitos e estereótipos dos géneros como próprios de uma suposta natureza
(feminina e masculina), apoiando-se sobretudo na determinação biológica. A diferença
biológica vai se transformar em desigualdade social e tomar uma aparência de naturalidade.
As relações de género, reflectem concepções de género internalizadas por homens e
mulheres. “Eis porque o machismo não constitui privilégio de homens, sendo a maioria das
mulheres também suas portadoras. Não basta que um dos géneros conheça e pratique
23
atribuições que lhes são conferidas pela sociedade, é imprescindível que cada genro conheça
as responsabilidades do outro género” (Saffioti, 1992:10).
24
prioritário para a sobrevivência da relação social entre os sexos. Essa forma
é modulada histórica e socialmente. Tem como características a designação
prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva
e, simultaneamente, a apropriação pelos homens das funções com maior valor
social adicionado…”
Ainda segundo Hirata e Kergoat (2007), existem dois princípios organizadores para a divisão
sexual do trabalho, o princípio da separação, no qual existe a separação de trabalho de
homem e trabalho de mulher e o princípio da hierarquização, no qual o trabalho
desempenhado por um homem vale mais que o trabalho desempenhado por uma mulher. Para
os autores, tais princípios são aplicados a qualquer sociedade.
Ademais, o universo feminino, no que diz respeito ao trabalho e a família, actualmente, têm
se deparado com os mais diversos desafios trazidos pela modernidade. Segundo Alves
(2002), Cappelle (2007), Brasil (2007) e Gomes, Lima e Cappelle (2012), as mulheres estão
abrindo caminhos, conquistando novos espaços e a sua participação no mercado de trabalho
está gerando inúmeras dúvidas quanto aos seus novos papéis.
Segundo Pinheiro et al. (2008), o rendimento médio da ocupação no mercado de trabalho
revelou as desigualdades de género em decorrência das diferenças educacionais, da
segregação das mulheres em postos de trabalho menos qualificados e que possuem menores
rendimentos do que os homens. Para Alves (2013), os baixos salários recebidos pelas
mulheres tem explicação nas interpretações históricas, pois os ganhos recebidos pelos
homens seriam calculados de modo a garantir a sua sobrevivência e a reprodução da família e
os salários das mulheres seriam definidos como ganhos adicionais ao salário do homem, que
seria satisfatório para o seu próprio sustento e o da família.
Na realidade o patriarcalismo exerce um papel muito forte na criação de condições para a
submissão da mulher.
Esta influência se estendeu aos domínios da economia, da política e da moral. A sociedade
patriarcal pode ser considerada o principal fundador e quem mantem essas desigualdades,
uma vez que sempre formalizou as diferenças entre homens e mulheres, deixando sempre
muito claro o papel do homem e da mulher na sociedade, considerando esta última como o
ser mais frágil. A submissão e a violência vivenciada por muitas mulheres também podem ser
atribuídas à cultura e às instituições patriarcais. Ademais, na visão de Cavedon et al.
(2005:4),
25
a mulher ainda tem gravado em seu inconsciente o papel que lhe foi atribuído
por décadas e sente-se culpada se não consegue equilibrar os seus papéis de
mulher, mãe e profissional. A independência no âmbito do simbólico ainda
não ocorreu. O esgotamento físico e mental resultante de uma sobrecarga em
face de uma dupla ou tripla jornada de trabalho é uma realidade que merece
maior atenção.
Apesar de o movimento feminista ser evidenciado a partir do século XIX, sua primeira voz
surgiu ainda no século XIV, quando Christine Pisan, primeira mulher indicada a ser poeta
oficial da corte, mostrou seu discurso articulado de maneira consciente em defesa dos direitos
da mulher, polemizando com escritores renomados acerca da igualdade entre sexos. Para
tanto:
26
ciências, como se fazem aos meninos, elas aprenderiam da mesma forma que
estes compreenderiam as sutilezas das artes e ciências, tal como eles”
(Moreira e Pitanguy, 2003:19)
Seguindo esta linha de raciocínio, onde a educação era vista como uma forma de alcance da
igualdade, que na passagem do séc. XIX para o séc. XX, as feministas se basearam na
filosofia, que entendia o ser humano como “tábula rasa”, para reivindicar formas igualitárias
de educação visando à igualdade entre sexos. Isto é, já que todos (as) nascem como “folhas
de papel em branco”, se o mesmo tipo de educação fosse dado tanto a meninos quanto a
meninas ambos aprenderiam da mesma maneira. (Albernaz e Longhi 2009).
Ao se promover a igualdade no acesso a educação entre homens e mulheres, estará se criar
capacidade para a mulher poder fazer escolhas, e de transformá-las em acções e resultados
desejados.
Segundo o Relatório de Acompanhamento Global da EPT (2003:02), alega que a Declaração
de Jomtien (1990) e o Marco de Acção de Dacar (2000), na verdade, vão bem além dos
tratados sobre direitos humanos, em termos de abrangência. Elas dão atenção aos cuidados e
à educação dispensados à primeira infância, a programas de aprendizagem para todos os
jovens e adultos e à melhoria da qualidade da educação. Dacar e as Metas de
Desenvolvimento para o Milénio (MDM) também incluem alvos temporais, o que não ocorre
com os tratados sobre direitos humanos. Isso dá incentivo à noção de que o que realmente
conta é fazer progressos em direcção às metas, e não o fato de determinados países não
cumprirem as obrigações assumidas por eles.
O direito à educação foi claramente consagrado e aceito pela comunidade internacional. As
razões desenvolvi mentalistas para a consecução da igualdade entre os géneros também são
poderosas. De fato, os países que cumprem seus compromissos morais, jurídicos e políticos
também adoptam acções enérgicas quanto a seus interesses económicos e sociais (R.A.G. da
EPT, 2003:04).
Em todos os países e culturas, há diferenças entre a capacidade de homens e mulheres
fazerem escolhas, geralmente com desvantagem para as mulheres. Essas diferenças
relacionadas ao género são importantes para o bem-estar das mulheres, e também para todo
um conjunto de resultados para suas famílias e para a sociedade em geral. A capacidade de
decidir das mulheres influencia sua capacidade de desenvolver seu capital humano e
considerar oportunidades económicas.
27
4.1.3 Igualdade de Género e Desenvolvimento
4.2 A Participação
O tema da participação foi estudado sob distintos pontos de vista e analisado por diferentes
métodos, com distintos propósitos. Há autores a analisam sob a perspectiva do grau de
envolvimento da sociedade, que vai desde a manipulação à participação completa, outros a
28
problematizam com foco nos conflitos entre radical ou liberal, ou ainda sob a dicotomia entre
a participação ser instrumental ou desenvolvimentista, além de outros critérios de análise
(Arnstein, 1969; Pateman, 1992; Gohn, 2003; Sayago, 2000).
O modelo de Arnstein (1969) retrata de baixo para cima, primeiramente, duas situações que a
autora não reconhece como sendo participação, apesar de alguns as considerarem processos
participativos pelo fato de envolverem de algum modo às pessoas, mesmo não tendo estas
quaisquer poder decisório nos processos. Nos degraus 3 e 4 já são observados níveis de
concessão limitada de poder, tendo os participantes o direito a ouvirem e serem ouvidos, mas
sem garantia de que suas opiniões serão aceitas por aqueles que detêm o poder. Apenas nos
três degraus superiores o cidadão passa a ter poder de decisão, podendo negociar com quem
detêm o poder ou mesmo ser maioria nos fóruns de tomada de decisão.
Esse modelo proposto por Arnstein (1969) traz à discussão o fato da participação em seu
carácter efectivo não ser mensurada pela simples presença física dos indivíduos no processo.
Como enfatiza a autora, há situações em que as pessoas estão de algum modo incluídas,
porém sem terem direito de se manifestar ou influenciar de algum modo os processos de
29
tomada de decisão. Participar efectivamente, segundo a linha de pensamento expressa nesse
modelo, é ter poder para exercer papel activo nos processos.
Seguindo esta linha de análise do grau de interferência do indivíduo no processo de tomada
de decisão, Pateman (1992) também enfatiza que há casos em que os indivíduos estão
presentes no processo, mas apenas para serem consultados sobre alguma temática específica,
sem poder decisório, caso em que o autor classifica como pseudo-participação; Quando o
processo em questão chega ao conhecimento de muitas pessoas, mas poucas têm poder para
decidir algo, o autor classifica como participação parcial; A participação total, para Pateman
(1992) só ocorre quando cada grupo de indivíduos tem oportunidade de contribuir com a
decisão final.
Já com um olhar sobre os paradigmas analíticos que envolvem a temática da participação,
Gohn (2003), por sua vez, defende que existem, historicamente, cinco formas distintas de
compreender seu conceito:
A participação liberal reflecte o desejo de reformar a estrutura da democracia
representativa ampliando os canais de informação aos cidadãos de forma que eles
possam manifestar as preferências antes que as decisões sejam tomadas. Seria,
portanto, um instrumento para buscar a satisfação das necessidades dessa sociedade
de iguais.
A participação autoritária infere sobre a integração e controle social da sociedade e da
política através de acções direccionadas de cima para baixo. A sociedade civil é
cooptada por meio de programas pensados estrategicamente para diluir os conflitos
sociais.
A participação revolucionária representa-se por colectivos organizados em busca de
uma autonomia da divisão do poder político, contra as relações de dominação.
A participação democrática se fundamenta a partir da soberania popular e da
participação de movimentos sociais e organizações da sociedade civil. Seu princípio
básico é a delegação do poder de representação e o sistema representativo via
processo eleitoral é o critério supremo de organização dos indivíduos.
Por fim, a participação democrática radical é uma espécie de fusão entre os modelos
de participação democrática e revolucionária. Teóricos e activistas que não acreditam
na democracia representativa como um modelo concretamente democrático, propõem
30
sua substituição por um modelo de democracia participativa que fortaleça a sociedade
civil para a construção de uma nova realidade social.
31
embora muitas das iniciativas de participação social surjam do desejo individual ou colectivo
dos cidadãos, o autor enfatiza situações em que a participação é utilizada como ferramenta
para validação ou legitimação de interesses de grupos que não correspondem aos reais
interesses do colectivo.
32
4.2.3 Os espaços de participação no distrito
Os espaços criados com vista a garantir a participação da sociedade civil ao nível distrital são
os Conselhos Consultivos Locais. Os Conselhos Consultivos Locais estão criados nos quatro
níveis da estrutura do território do Distrito, nomeadamente:
a) Distrito,
b) Posto Administrativo,
c) Localidade, e
d) Povoação
E o n.º 1 do artigo 100 do Decreto 11/2005, de 10 de Junho, que é o instrumento legal que
regulamenta a Lei 08/2003, diz o seguinte em relação a participação:
“Os órgãos locais do Estado devem assegurar a participação dos cidadãos, das
comunidades locais, das associações e de outras formas de organização, que
tenham por objecto a defesa dos seus interesses, na formação das decisões que
lhes disserem respeito”.
Estes dois artigos que acabaram de ser indicados apontam para duas responsabilidades dos
órgãos locais do Estado (OLE’s) em relação aos seus cidadãos e comunidades:
34
CAPÍTULO V - APRESENTAÇÃO DO ESTUDO DE CASO E ANÁLISE E
A superfície1 do distrito é de 699 km2 e a sua população está estimada em 119 mil habitantes
à data de 1/7/2012. Com uma densidade populacional aproximada de 170 hab/km2, prevê-se
que o distrito venha a atingir, em 2020, os 184 mil habitantes. A estrutura etária do distrito
reflecte uma relação de dependência económica aproximada de 1:1,11 - isto é, por cada 10
crianças ou anciões existem 11 pessoas em idade activa. Com uma população jovem (43,7%,
abaixo dos 15 anos), o distrito de Marracuene tem um índice de masculinidade de 92,9% (por
cada 100 mulheres existem 93 homens) e uma taxa de urbanização de 14,4%, concentrada na
Vila de Marracuene e zonas periféricas de matriz semi-urbana.
5.1.2. Clima
35
5.1.3 Relevo e solos
5.1.2. Economia
36
157.686 pranchas de madeira serrada de Mondzo. O grau de realização ainda é muito baixo
porque encontra-se na fase inicial da exploração florestal.
37
5.2. Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados
Em relação a faixa etária dos respondentes, o gráfico abaixo ilustra os intervalos dos anos dos
mesmos. A maior percentagem corresponde aos que estão no intervalo de 41 a 50 anos com
41%, seguido dos que estão no intervalo de mais de 51 anos com 27%, em seguida estão os
que estão no intervalo de 31 a 40 anos com 21% e por último os que estão no intervalo de 21
a 30 anos.
A questão da faixa etária, pode ser justificada pelo tipo da amostra que o estou tem. Pois os
conselhos consultivos locais, a comunidade geral constituída por pessoas com uma idade um
pouco avançada a razão para não ter membros nos respondentes que esteja no intervalo de 10
a 20 anos. Para além de que no geral os respondentes estão uma idade já madura.
38
Gráfico 2. Faixa Etária dos Inquiridos
39
No que tange ao nível de escolaridade por sexo, o gráfico abaixo ilustra a grande diferença
existentes entre estes. Nos que não tem nível algum as percentagens são elevada para as
mulheres com 39% de mulheres sem níveis algum em contra partida os homens com 15%,
quanto ao nível primário 44% corresponde as mulheres e os homens com 31%, os que tem
nível secundário 31% corresponde aos homens e 17% as mulheres, os níveos técnico e
superior corresponde aos homens com 11% e 8% respectivamente.
Os dados acima ilustram o desnível entre homens e mulheres no que tange o nível de
escolaridade. Estes dados abaixo ilustrados pelo gráfico estão ligados a decisão familiar de
quem deve ir a escola entre homens e mulheres. Como á apresentado no Relatório de
Acompanhamento Global da EPT (2003;13),
“…a decisão de mandar uma criança para a escola é tomada pela família.
Pesquisas recentes mostram que os recursos, o trabalho e as oportunidades não
são distribuídos de forma igualitária entre os membros da família, como
sustentava a teoria tradicional. Seria verdade que as mulheres e meninas
enfrentam maiores dificuldades que os homens e meninos, em parte porque
elas exercem menos influência nas decisões familiares…”
A forma pela qual o poder é compartilhado dentro da família é reflexo de normas que valem
para a sociedade como um todo. As desigualdades de género mais marcantes são encontradas
em sociedades onde as mulheres são confinadas ao ambiente doméstico. Outros valores, tais
40
como os princípios patrilineares de herança e descendência, contribuem para limitar ainda
mais as oportunidades de vida das mulheres. Essas sociedades caracterizam-se por uma nítida
preferência por filhos de sexo masculino e discriminação contra as filhas (mulheres), que
começam nos primeiros anos de vida. (R. A. G- EPT, 2003;15).
Em relação a representatividade dos respondentes, a maior percentagem corresponde a
comunidade no geral, que são os beneficiário que são os executores dos projectos com 49%,
seguido de 21% corresponde e aos membros de órgãos locais do Estado, seguido de 18%,
dos membros dos conselhos consultivos locais e 12% da sociedade civil local.
No que tange a questão referente a diferenças entre projectos para homens e mulheres. De
referir que 68% dos respondentes dizem que não, há diferença entre projectos para homens e
mulheres, seguido de 21% dos que dizem que sim e 11% dos que dizem em parte. A questão
de projectos de homens ou para mulheres tem criado muitas discussões, pois existe um
pensar segundo qual algumas actividades só e só são para homens e outras para as mulheres.
Esta forma de pensar que é tão antigo ainda prevalece em muitos sectores de actividade.
Criando uma divisão de actividades em função de sexo.
41
Como afirma Hirata e Kergoat (2007) citado por Sousa, L. P. e Guedes, D. R. (2016:124) a
relação social recorrente entre o grupo dos homens e o das mulheres é considerada "relações
sociais de sexo". Para as autoras, a divisão sexual do trabalho é fruto da divisão social
estabelecida nas relações sociais entre os sexos, divisão essa modulada histórica e
socialmente e instrumento da sobrevivência da relação social entre os sexos.
Dos entrevistados foram unânimes s em afirmar que decerto modo a prática mostra que há
diferença nos projectos de homens e de mulheres. Pois maior parte dos projectos financiados
são os que tem homens como responsáveis. A mesma questão quando feita aos membros de
conselhos consultivos distritais, alguns deles alegam que os projectos bem-feitos pertencem
aos homens dai que há mais projectos de homens financiados do que projectos de mulheres.
Quanto a aprovação dos projectos tomando em conta a questão do sexo. De referir que 79%
dos respondentes dizem que sim os projectos são aprovados tomado em consideração ao
sexo, seguido de 13% que dizem em parte e por último 8% dos que dizem não.
42
Gráfico 7. Aprovação dos Projectos em Função de Sexo
Quanto a questão de direitos iguais entre homens. De referir que 79% dos respondentes
dizem que sim os projectos são aprovados tomado em consideração ao sexo, seguido de 13%
que dizem em parte e por último 8% dos que dizem não.
Tomado como base a lei Magna de Moçambique a constituição da Republica no Artigo 35
(Princípio da universalidade e da igualdade) Todos os cidadãos são iguais perante a lei,
gozam dos mesmos direitos e estão sujeitas aos mesmos deveres, independentemente da cor,
raças, sexo, origem étnica, lugar de nascimento, religião, grau de instrução, posição social,
estado civil dos pais, profissão ou opção política.
O Artigo 36 (Princípio da igualdade de género) acrescenta que homem e a mulher são iguais
perante a lei em todos os domínios da vida política, económica, social e cultural. Mas
questões que em função da cultura de cada local deve ser observadas:
Para tornar-se homem ou mulher é preciso submeter-se a um processo que
chamamos de socialização de gênero, baseado nas expectativas que a cultura
de uma sociedade tem em relação a cada sexo. Isto de certo modo
determinado a desigualdade entre ambos. Muito embora a constituição fale da
igualdade entre homens e mulheres na realidade as coisas são completamente
diferentes.
43
Gráfico 8. Direitos Iguais entre Mulheres e Homens
Tomando como base os artigos citados acima da constituição, não há nenhum outro
procedimento que deve ser contrário ao prescrito na constituição. Mas a realidade mostra
algo completamente diferente do que se pensa face a questão ada igualdade. Pelo número de
projectos financiados é fácil notar o não cumprimento destes elementos, pós há mais
projectos de homens em relação a mulheres.
A crença de que o sexo feminino era inferior ao sexo masculino, determinava tratamentos
diferentes entre sexos, nomeadamente em contexto laboral, havendo trabalhos destinados às
mulheres e outros aos homens, resultado de um preconceito alimentado por falsas
justificações para inferiorizarem as mulheres.
No entanto, Freitas (2011: 27) refere que as mulheres, embora submetidas aos maridos,
detinham nas suas mãos o poder de gerir a vida familiar em que a “dona de casa é a pessoa
que dirige a actividade diária, que superintende à generalidade dos acontecimentos para o
bem-estar da família. A administração do orçamento familiar faz parte do seu papel
instrumental enquanto tesoureira da família, papel de prestígio para a mulher, embora
estivesse subordinada ao marido.”
44
mulheres nos mesmo, seguido de 26% dos que dizem que em parte e por ultimo 14% dos que
dizem sim.
“…se não houvesse atitude discriminatória por parte dos homens, haveria um
numero considerável de projectos com participação da mulher como gestora.
Mas a realidade mostra algo completamente diferente… são muito poucos os
projectos em que tem a participação da mulher como gestora….”.
“… O mesmo projecto, pode ser feito por um homem. Mas se for uma mulher
a submeter como gestora do mesmo com as outras, este não é aprovado….
Mas se invertermos a situação ter como gestor principal o homem ai sim este
é aprovado. Passa ater requisitos suficientes para ser aprovado…. Este é que
é o problema…”
45
Em relação ao entendimento que se tem se o CCL no desenvolvimento das suas actividades
promovem a igualdade entre homens e mulheres? de referir que 77% dos respondentes
dizem que não, os conselho consultivo local não promovem a igualdade de género entre
homens e mulheres, seguido de 14% dos que dizem que sim promovem e por ultimo 9% dos
que dizem que promovem em parte.
47
Segundo um dos membros do conselho consultivo distrital, este foi muito claro na sua forma
de pensar relativamente a projectos geridos por mulheres.
“… não é por mal, mas as mulheres devem cuidar de casa e não se envolver
em gestão de dinheiro… a mulher foi feita para estar em casa e cuidar dos
filhos e não para gerir empresas… Uma mulher se estiver por de frente dum
projecto… mesmo que seja da agricultura que ela sabe muito bem fazer….
Não vai dar certo, pois precisa dum homem para dirigir as coisas… a mulher
não tem capacidade de gerir coisas grandes…”
Alguns membros tem um parecer diferente face a mesma realidade. Socorrendo se da lei
alegam:
“… não somos nos os homens, mas sima as próprias mulheres dizem
abertamente no processo de aprovação dos projectos, que não podemos
aprovar de forma igualitários os projectos das mulheres, pois a lei já
determina uma percentagem mínima que deve ser seguida a de 30%.... “…
temos que tomar em consideração a isso…”,
“… não fomos nos que escrevemos este documento, temos que vera a nossa
realidade… mulher não é igual ao homem, isto esta claro…”.
Entre os modelos que tentam introduzir a dimensão do capital humano no crescimento o de
Lucas (1988). Se tomarmos em consideração o modelo que introduz a dimensão do capital
humano introduzido por Lucas (1988), que baseia-se no pressuposto de que
independentemente do seu nível de qualificação, qualquer trabalhador que trabalhe com
colegas com alto nível de capital humano é produtivo. Pode-se dizer que não se pode
justificar a falar de capacidade da mulher, pois se este já vem trabalhando com o homem,
acredita-se que o seu nível de capital humano já tenha se consolidado considerando o tempo e
a experiência que tenha adquirido. Pois segundo Lucas capital humano é determinado pela
quantidade de tempo dedicada à produção.
Em relação a questão referente a opinião dos respondentes no que concerne aos órgãos
locais se promovem satisfatoriamente a igualdade e relações de género nos projectos
financiados por FDD. De referir que 52% dos respondentes dizem que não, não é notável a
promoção dos órgãos locais na igualdade e relações de género, seguidos dos que dizem em
parte com 33% e por fim os que dizem sim com 15%.
48
Gráfico 12. Promoção pelos Órgãos Locais na Igualdade e Relações de Género
49
CAPÍTULO VI - CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÃO
A presente Dissertação subordinado ao tema "As Relações de Género no Desenvolvimento
Local: Uma Reflexão da Participação da Mulher nos Projectos Financiados por Fundo
Distrital de Desenvolvimento na Vila Sede de Marracuene, 2010 – 2014", tinha como
objectivo geral reflectir sobre a participação da mulher nos projectos financiados por Fundo
de Desenvolvimento no distrito na vila sede de Marracuene. E tinha três objectivos
específicos: caraterizar as relações de relações de género no desenvolvimento local na Vila
Sede de Marracuene; identificar os desafios colocados às mulheres no acesso aos projectos
financiados pelo Fundo de Desenvolvimento Distrital na Vila Sede de Marracuene e analisar
o nível de participação dos homens e mulheres nos projectos financiados pelo Fundo do
desenvolvimento Distrital na Vila Sede de Marracuene.
Para alcançar os objectivos descritos, foi levantada a seguinte problema em forma de questão
de partida: Em que medida as relações de género estão por de traz do fraco nível da
participação da mulher nos Projectos Financiados pelo Fundo de Desenvolvimento Distrital
na vila sede de Marracuene?
50
A primeira hipótese é de certo modo confirmada pois as relações de género, questões
culturais, nível de escolaridade tem um impacto na participação da mulher no acesso ao
fundo de desenvolvimento distrital. Visto que, a relação desigual entre homem e mulher,
relacionado com a força cultural subjugam a mulher na sua inferioridade face ao homem. O
retorno de investimento Sendo confirmada a primeira hipótese logicamente a segunda
hipótese não é confirmada, porque as duas hipóteses uma é positiva e outra é negativa.
6.1. Conclusão
Diante de todo o exposto, ao longo deste trabalho e nas análises empíricas concluiu-se que,
Participação da Mulher nos Projectos Financiados por Fundo Distrital de Desenvolvimento
da Vila Sede de Marracuene é fraca. A variável nível de escolaridade de escolaridade que
entre homens e mulheres os homens tem um nível de escolaridade superior que as mulheres
mesmo estes sendo em numero reduzido.
Em relação a representatividade dos diversos actores em órgão de tomada de decisão na
avaliação dos projectos é notário que a mulher esta em desvantagem pois o homem esta com
maior representatividade o que de certo modo favorece de na tomada de decisão a projectos
em que a sua gestão é feita por homens em detrimento da mulher.
Quanto ao tipo de projectos, é notório que não há diferença entre projectos de homens e de
mulheres, mas a realidade demostra trada é completamente diferente visto que há mais
projectos de homens que mulheres aprovados. Existindo posições de alguns homens que
demostram explicitamente que sendo o homem diferente da mulher biologicamente, também
os projectos geridos por estes são diferentes dada a natureza dos mesmo.
No tange ao processo de aprovação dos projectos os dados ilustraram que o processo de
aprovação dos projectos financiados pelo FDD de certo modo toma em consideração ao sexo,
pois pelos numero de projectos que deram entrada entre projectos de homens e de mulheres
houve mais aprovação de projectos de homens e não de mulheres, mesmo que os mesmo
tenham a mesma actividade. Portanto, mesmo sabendo que em momento algum a lei aborde a
questão de sexo para aprovação dos projectos.
Foi notório que a base da fraca participação da mulher nos projectos financiados pelo FDD,
estão os estereótipos de género que de certo modo ganha forca no momento de aprovação dos
mesmo, pois pelo número de projectos onde os principais gestores são mulheres de facto, é
simples perceber que algo existe no processo de aprovação de projectos onde a proponente é
uma mulher. Pois existe uma percepção de impotência por parte duma mulher na estão do
projecto. A impotência é vista pelos homens e não pelas mulheres.
Há uma percepção também por parte das mulheres que o órgão locais do estão não tem feito
muito para a mudança da fraca participação da mulher nos projectos financiados pelo FDD.
6.2. Recomendações
Com vista a garantir a participação efectiva da Mulher nos Projectos Financiados por Fundo
Distrital de Desenvolvimento na Vila Sede de Marracuene, deixam se as seguintes
recomendações:
52
7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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Práticas.
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última década. Estudos Avançados, 30(87), 123-139. https://dx.doi.org/10.1590/S0103-
40142016.30870008
55
APÊNDICE
i
APÊNDICE – I Guião de Colecta de dados
Os dados aqui colectados serão tratados como sendo estritamente confidenciais, não podendo
ser fornecidos a terceiros, podendo apenas ser feita uma análise explicativa e percentual dos
mesmos.
Data_______/______/________
1. Género Sexo F M
2. Idade
i
3. Escolaridade
Nenhuma Primária Secundária Técnico Superior
Outro
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
ii
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
iii
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
12. Na sua opinião a orientação dos manuais ou das leis contemplam satisfatoriamente a
igualdade de género?
Sim ________ Não_______ Em Parte ________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
iv
APÊNDICE – II NÚMERO DE PROJECTOS FINANCIADOS ATRAVÉS DO FDD “7 MILHÕES”