Você está na página 1de 71

Joana Rafael Bila

As Relações de Género no Desenvolvimento Local: Uma Reflexão da Participação da Mulher nos

Projectos Financiados pelo Fundo de Desenvolvimento Distrital na Localidade de Marracuene,

2010 – 2014.

Maputo, Setembro de 2017

i
ii
i
SUMÁRIO

O presente trabalho subordina-se ao Tema “As Relações de Género no Desenvolvimento


Local: Uma Reflexão da Participação da Mulher nos Projectos Financiados pelo Fundo de
Desenvolvimento Distrital na Localidade de Marracuene, 2010 – 2014” . O trabalho faz uma
reflexão da participação da mulher nos projectos financiados pelo Fundo de
Desenvolvimento Distrital no distrito de Marracuene. Neste estudo formulou-se a
seguinte questão-chave de partida em forma de problema: O que esta por de traz do fraco
nível da participação da mulher nos Projectos Financiados pelo Fundo de Desenvolvimento
Distrital na vila sede de Marracuene? Quanto a sua classificação a pesquisa é qualitativa,
aplicada. Descritivo-exploratória e pesquisa bibliográfica, documental. Os procedimentos
metodológicos baseou-se no método Indutivo e no monográfico. As técnicas de colecta de
dados usados foram o questionário e a entrevista. A principal conclusão é que a participação
da mulher é muito baixa influenciado pela linhagem patriarcal e de elementos culturais do
local.

Palavras-chave: Género, Relações de Género, Desenvolvimento Local, Participação, e


Fundo de Desenvolvimento Distrital.

ii
ABSTRACT

The present work is subordinated to the theme "Gender Relations in Local Development: A
Reflection of Women's Participation in Projects Funded by the District Development Fund in
the City of Marracuene, 2010 - 2014." The work reflects on the participation of women in
projects funded by the District Development Fund in Marracuene district. In this study the
following key question was formulated as a problem: What is behind the low level of
women's participation in the Projects Funded by the District Development Fund in the
Marracuene village? As for its classification the research is qualitative, applied. Descriptive-
exploratory and bibliographical research, documentary. The methodological procedures were
based on the Inductive and non-monographic method. The data collection techniques used
were the questionnaire and the interview. The main conclusion is that the participation of
women is very low influenced by the patriarchal lineage and cultural elements of the place.

Key Words: Gender, Gender Relations, Local Development, Participation, and District
Development Fund.

iii
LISTA DE ABREVIATURAS

CCD - Conselho Consultivo Distrital


CCL - Conselho Consultivo da Localidade
CCPA - Conselho Consultivo do Posto Administrativo
CCPov - Conselho Consultivo da Povoação
CEDAW-Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação
contra Mulheres
CNAM - Conselho para o Avanço da Mulher
CR - Constituição da República
DEF - Destacamento Feminino
EGRSP - Estratégia Global da Reforma do Sector Público
FDD - Fundo de Desenvolvimento Distrital
IPCC’s - Instituições de Participação e Consulta Comunitárias
ISAP - Instituto Superior em Administração Pública
LIFEMO - Liga Feminina Moçambicana
LOLE - Lei dos Órgãos Locais do Estado
LPAP - Licenciatura Profissional em Administração Pública
MASC - Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil
OCB’s - Organizações Comunitárias de Base
OIIL - Orçamento de Investimento de Iniciativas Locais
OMM - Organização da Mulher Moçambicana
PNUD - Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento
PPFD - Programa de Planificação e Finanças Descentralizadas
PQG - Plano Quinquenal do Governo
PQNAM - Plano Quinquenal Nacional de Avanço da Mulher
S/d - Sem data
WID - Women in Development - mulher no Desenvolvimento

iv
LISTA DE QUADROS

QUADRO 1.PROJECTOS FINANCIADOS PELO FDD “7 MILHÕES” ............................................................ 7


QUADRO 2. TIPOLOGIA DE PARTICIPAÇÃO ........................................................................................... 29

v
LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICA 1. GÉNERO DOS FUNCIONÁRIOS INQUIRIDOS .......................................................................................... 38


GRÁFICO 2. FAIXA ETÁRIA DOS INQUIRIDOS ........................................................................................................ 39
GRÁFICO 3. NÍVEL DE ESCOLARIDADE DOS INQUIRIDOS ....................................................................................... 39
GRÁFICO 4. NÍVEL DE ESCOLARIDADE POR SEXO .................................................................................................. 40
GRÁFICO 5. REPRESENTATIVIDADE DOS INQUIRIDOS ............................................................................................ 41
GRÁFICO 6. DIFERENÇAS ENTRE PROJECTOS PARA HOMENS E MULHERES ........................................................... 42
GRÁFICO 7. APROVAÇÃO DOS PROJECTOS EM FUNÇÃO DE SEXO ......................................................................... 43
GRÁFICO 8. DIREITOS IGUAIS ENTRE MULHERES E HOMENS ................................................................................. 44
GRÁFICO 9. APROVAÇÃO DOS PROJECTOS............................................................................................................. 45
GRÁFICO 10. CCL NA PROMOÇÃO DA IGUALDADE ENTRE HOMENS E MULHERES ................................................ 46
GRÁFICO 11. ESTEREÓTIPOS DE GÉNERO .............................................................................................................. 47
GRÁFICO 12. PROMOÇÃO PELOS ÓRGÃOS LOCAIS NA IGUALDADE E RELAÇÕES DE GÉNERO ............................... 49

vi
ÍNDICE

DECLARAÇÃO SOB PALAVRA DE HONRA .............................. ERROR! BOOKMARK NOT DEFINED.


AGRADECIMENTOS ...................................................................... ERROR! BOOKMARK NOT DEFINED.
DEDICATÓRIA ................................................................................ ERROR! BOOKMARK NOT DEFINED.
EPIGRÁFE ........................................................................................ ERROR! BOOKMARK NOT DEFINED.
SUMÁRIO ............................................................................................................................................................ II
ABSTRACT ......................................................................................................................................................... III
LISTA DE ABREVIATURAS............................................................................................................................. IV
LISTA DE QUADROS ......................................................................................................................................... V
LISTA DE GRÁFICOS ........................................................................................................................................ VI
CAPITULO I – INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 1
1.2. CONTEXTUALIZAÇÃO .................................................................................................................................. 2
1.3. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................................................. 5
1.4. PROBLEMA E PERGUNTA DE PARTIDA.......................................................................................................... 6
1.4.1. Problema ............................................................................................................................................. 6
1.4.2. Pergunta de Partida ............................................................................................................................. 7
1.5. OBJECTIVOS ................................................................................................................................................. 7
1.5.1. Objectivo Geral ................................................................................................................................... 7
1.5.2. Objectivos Específicos ........................................................................................................................ 7
1.6. QUESTÕES DE PESQUISA .............................................................................................................................. 8
1.7. HIPÓTESES DE ESTUDO E AS SUAS JUSTIFICATIVAS ...................................................................................... 8
1.8. ESTRUTURA DO TRABALHO ....................................................................................................................... 10
2.1. QUADRO TEÓRICO ..................................................................................................................................... 12
2.1.1. Mulher no Desenvolvimento “Women in Development” (WID) ................................................. 12
2.1.2. Mulher e Desenvolvimento “Women and Development” (WID) .............................................. 13
2.1.3. Género e Desenvolvimento “Gender and Development” (GAD), ............................................. 13
2.2. QUADRO CONCEPTUAL .............................................................................................................................. 13
2.2.1. Género ............................................................................................................................................... 13
2.2.1. Relações de Género........................................................................................................................... 15
2.2.2. Desenvolvimento Local .................................................................................................................... 15
2.2.3. Participação ....................................................................................................................................... 16
2.2.4. Fundo Distrital de Desenvolvimento ................................................................................................ 17
CAPITULO III - QUADRO METODOLÓGICO ................................................................................................ 18
3.1. CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA ................................................................................................................... 18
3.2. MÉTODOS DE PESQUISA ............................................................................................................................ 19
a. Método de Abordagem ...................................................................................................................... 19
b. Método de Procedimento ................................................................................................................... 19
3.3. TÉCNICA DE PESQUISA (COLECTA DE DADOS) ............................................................................................ 19
3.4 Tamanho da População e da Amostra .................................................................................................. 20
3.5. TRATAMENTOS DOS DADOS ....................................................................................................................... 21
CAPÍTULO IV - RELAÇÕES DE GÉNERO E A PARTICIPAÇÃO DA MULHER NOS PROJECTOS
FINANCIADOS PELO FUNDO DE DESENVOLVIMENTO DISTRITAL. .................................................... 22

vii
4.1. AS RELAÇÕES DE GÉNERO E ESTEREÓTIPOS .............................................................................................. 22
4.1.1 AS RELAÇÕES DE GÉNERO ...................................................................................................................... 22
4.1.2 ESTEREÓTIPOS DE GÉNERO .................................................................................................................... 24
4.1.3 GÉNERO, EDUCAÇÃO E CULTURA ........................................................................................................... 26
4.1.3 IGUALDADE DE GÉNERO E DESENVOLVIMENTO....................................................................................... 28
4.2 A PARTICIPAÇÃO ........................................................................................................................................ 28
4.2.1 TIPOLOGIA DE A PARTICIPAÇÃO .............................................................................................................. 29
4.2.2 A PARTICIPAÇÃO E ATRIBUIÇÕES DO GOVERNO DISTRITAL .................................................................... 32
4.2.3 OS ESPAÇOS DE PARTICIPAÇÃO NO DISTRITO ........................................................................................... 33
4.2.4 OS ESPAÇOS FORMAIS DE PARTICIPAÇÃO NO DISTRITO ............................................................................ 33
4.2.5 OS CONSELHOS LOCAIS COMO MECANISMOS DE PARTICIPAÇÃO ............................................................ 33
CAPÍTULO V - APRESENTAÇÃO DO ESTUDO DE CASO E ANÁLISE E .................................................. 35
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................................................................................................... 35
5.1. BREVE CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO DE CASO O DISTRITO DE MARRACUENE ........................................ 35
5.1.1. Localização Superfície e População .................................................................................................. 35
5.1.2. Clima ................................................................................................................................................. 35
5.1.3 Relevo e solos .................................................................................................................................... 36
5.1.2. Economia .......................................................................................................................................... 36
5.2. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...................................................................... 38
5.2.1. PERFIL DOS ENTREVISTADOS .................................................................................................. 38
5.2.2. ESTEREÓTIPOS DE GÉNERO VERUS PROJECTOS ................................................................. 41
5.2.3. GÉNERO E OS CONSELHOS CONSULTIVOS LOCAIS ............................................................ 44
CAPÍTULO VI - CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÃO.................................................................................. 50
6.1. CONCLUSÃO .............................................................................................................................................. 51
6.2. RECOMENDAÇÕES...................................................................................................................................... 52
7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .................................................................................................................. 53
APÊNDICE .............................................................................................................................................................I
APÊNDICE – I GUIÃO DE COLECTA DE DADOS ...........................................................................................I
APÊNDICE – II NÚMERO DE PROJECTOS FINANCIADOS ATRAVÉS DO FDD “7 MILHÕES” ..............I

viii
CAPITULO I – INTRODUÇÃO

As relações de género são produto de um processo pedagógico que se inicia no nascimento e


continua ao longo de toda a vida, reforçando a desigualdade existente entre homens e
mulheres, principalmente em torno a quatro eixos: a sexualidade, a reprodução, a divisão
sexual do trabalho e o âmbito público/cidadania. Portanto, as sociedades contemporâneas
foram definindo papéis e funções diferenciadas aos sujeitos conforme a identidade de género.
A posição do homem e da mulher tem tido considerações diferenciados ao longo do tempo.
Muitas vezes a mulher é resguardada a condição de propriedade do pai e, por conseguinte do
marido, sem direitos políticos, económicos e sociais. Essa desigualdade foi se afirmando em
nosso país, e mulheres e homens ocupando diferentes lugares sociais, facto que, esta
realidade é estendida a outras organizações que não seja familiares.

1
1.1. Tema e Delimitação do Tempo e Espaço
O presente trabalho, subordina-se ao tema “As Relações de Género no Desenvolvimento
Local: Uma Reflexão da Participação da Mulher nos Projectos Financiados por Fundo
Distrital de Desenvolvimento na Vila Sede de Marracuene, 2010 – 2014”.
Sob ponto de vista de espaço e tempo, o estudo foi realizado na província de Maputo,
concretamente no distrito de Marracuene. Em termos de tempo, o período abrangido pelo
estudo está no intervalo de 2010 à 2014.
A escolha de Marracuene para o estudo prende se pelo facto de ser um do primeiro distrito a
se beneficiar do Fundo de Desenvolvimento Distrital no âmbito da descentralização
financeira, mas também pelo facto de ser um distrito em franco desenvolvimento, onde a
participação da mulher é significativa no seu dia-a-dia, na agricultura, no comércio e em
muitas outras actividades.

Quanto ao período em análise 2010 a 2014, prende-se pelo facto de se estar a iniciar o
segundo mandato do Presidente Armando Guebuza, o promotor e o defensor deste fundo,
para além de ter havido algumas alterações significativas nos objectivos, no processo de
alocação e na sua nomenclatura do próprio fundo. Para além de ser o período em que muitos
projectos foram financiados. O ano 2014 como o fim prendesse pelo facto de ser o fim do
quinquénio do segundo mandato do Presidente Armando Emílio Guebuza.

1.2. Contextualização

A questão de género em Moçambique inicia mesmo antes da independência nacional. Era a


preocupação da FRELIMO o processo de integração da mulher em todas actividades ate
mesmo a de lutar armada. Nisto, destacou-se a Liga Feminina Moçambicana (LIFEMO), que
deu origem ao Destacamento Feminino (DEF) em 1963 e mais tarde a maior e atinga
organização feminina de Moçambique a Organização da Mulher Moçambicana (OMM), em
1973. Porém, a criação de varias organizações femininas abordavam a questão de integração
dos direitos da mulher nos planos político, económico e sociais e prevalecia a desigualdade
de tratamento em relação ao homem, a quem tradicionalmente a mulher foi colocada numa
posição de submissão.

A primeira constituição da República Popular de Moçambique elaborada em 1975 dá corpo a


igualdade de género perante à lei, prescrevendo os princípios reguladores dos direitos, dos
2
deveres e das relações entre homens e mulheres. Este princípio foi retomado e consolidado na
constituição de 1990, mais concretamente no artigo 67 que estipula que o homem e a mulher
são iguais perante alei em todos os domínios da vida política, económica, social e cultural
(PNUD, 2001:35).
Portanto, a constituição da República de 2004 nos seus artigos 35 e 36 estabelece como
princípio que homens e mulheres têm os mesmos direitos perante a Lei (a igualdade de
direitos do género). O PQG 2005-2009 refere-se igualmente ao grande objectivo de alcançar
a igualdade do género e menciona explicitamente que o fortalecimento do poder das
mulheres é um factor decisivo para a erradicação da pobreza.
Este pressuposto cria um marco importante para que ao longo do processo do
desenvolvimento económico e social do país se focalize na maior equidade no acesso aos
recursos, na participação económica e no acesso aos benefícios do desenvolvimento e na
participação nos órgãos de tomada de decisão.
Deve-se realçar que a mulher é o agente mais efectivo para a melhoria do bem-estar
socioeconómico das comunidades: melhorando o seu estatuto, a mulher pode ser o
investimento mais eficiente e efectivo a longo prazo.
194. Dentre as acções prioritárias viradas à promoção de oportunidades iguais entre mulheres
e homens e ao fortalecimento do poder da mulher que são abordadas de forma transversal nos
diferentes pilares, áreas e categorias a que dizem respeito, contam-se:

a. A aprovação e implementação da política de género e sua estratégia incluindo a


institucionalização das unidades de género em todos sectores aos níveis central e
provincial, e capacitação do pessoal para a efectiva integração, implementação e
monitoria das questões de género nos planos e orçamentos sectoriais;
b. Integração da perspectiva do género nas políticas, programas e projectos de
desenvolvimento nacional;
c. A revisão de toda a legislação discriminatória contra a mulher e adopção de nova
legislação particularmente contra a violência doméstica e criação de condições para a
sua implementação efectiva incluindo capacitação dos intervenientes e disseminação;
d. A expansão dos serviços de extensão agrária, visando maior apoio na transferência de
tecnologias, principalmente nas zonas rurais;

3
e. A integração da mulher nas estratégias do desenvolvimento das pequenas e médias
empresas incluindo o acesso ao crédito adequado e a expansão do sector industrial de
mão-de-obra intensiva;
f. A identificação das lacunas existentes na recolha e análise de dados desagregados por
sexo para desenhar e iniciar a implementação de uma estratégia com vista a preenchê-
las de uma forma sistemática;
g. A promoção do equilíbrio de género nos cargos de chefia e o aumento da capacidade
da mulher para assumir tais posições;
h. A implementação das acções tendentes a reduzir a prevalência do HIV/SIDA entre
mulheres e raparigas incluindo a promoção do papel do homem nesse contexto;
i. A intensificação dos esforços tendentes a reduzir as disparidades de género no ensino
técnico básico, médio e superior, e;
j. A melhoria da cobertura do abastecimento de água e saneamento nas zonas rurais
para que a rapariga e a mulher percorram menores distâncias para a recolha de água,
dando assim maior oportunidade para que a rapariga frequente a escola e que a
mulher se envolva em actividades produtivas.

Todos os sectores são responsáveis pela integração da componente género na planificação e


no orçamento. No entanto, com o objectivo de fortalecer esta integração, o sector da Mulher
e da Acção Social têm uma função coordenadora para apoio não somente na integração do
género no marco das políticas globais como o PARPA e o PES/OE como também nas
actividades previstas pelos sectores. Para o efeito, é fundamental capacitar as instituições
deste sector com os meios técnicos e financeiros necessários.

Em reconhecimento do papel que a mulher moçambicana começou a desempenhar nos vários


sectores de desenvolvimento do país, o Governo moçambicano criou em 2000, o Ministério
da Mulher e Coordenação da Acção Social (MMCAS) actualmente designado por Ministério
da Mulher e Acção Social (MMAS), que tem como função dirigir e executar as políticas de
emancipação e desenvolvimento da mulher e da acção social. As principais atribuições para
área da mulher são: promoção da emancipação e o desenvolvimento da mulher nas áreas
política, económica, social e cultural; promoção e coordenação da acção das instituições
governamentais e não-governamentais que trabalham nas áreas da mulher e do género e

4
promoção de mecanismos de diálogo permanente com as instituições da sociedade civil que
actuam nas áreas da mulher e género.

Para levar a cabo a sua missão, o MMAS elaborou a Política Nacional de Género e
Estratégias de sua Implementação (MMAS 2006), um instrumento que tem em vista garantir
uma melhor planificação e a tomada de decisões que concorram para a promoção da mulher,
através da criação de condições de acesso aos órgãos de tomada de decisão, aos vários postos
de actividades e aos recursos económicos e sociais, tendo em atenção o respeito pelos direitos
cívicos e políticos da mulher. Em termos institucionais, foi criado o Conselho para o Avanço
da Mulher, designado por CNAM, através do Decreto n°7/2004 de 1 de Abril, que é um
órgão de consulta através do qual o MMAS faz a coordenação intersectorial com o objectivo
de impulsionar e acompanhar a implementação de políticas e programas aprovados pelo
governo para as áreas da mulher e género, contribuindo para a eliminação de todas as formas
de discriminação da mulher. O CNAM desenvolveu o Plano Quinquenal Nacional de Avanço
da Mulher (2005-2009), que incorpora os diferentes objectivos, estratégias e actividades
definidas pelos sectores com vista a diminuir os desequilíbrios de género.
A Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra Mulheres
(CEDAW) é outro instrumento impulsionador das relações de género e garante a boa
convivência entre homens e mulheres. Adoptada pela Assembleia Geral das Nações Unidas
em 1979, a convenção estabeleceu um contexto abrangente para o avanço de mulheres e já
foi consolidada até hoje por 187 países incluindo Moçambique.
As relações de género e a sua desigualdade no acesso a recursos vem sendo reconhecida
como um factor de perpetuação da pobreza. Constata-se que as mulheres encontram-se cada
vez mais, e de um modo desproporcional, vulneráveis à pobreza. Por outro lado reconhece-
se que a igualdade de género e o empoderamento das mulheres são condições fundamentais
para o desenvolvimento de quaisquer pais.

1.3. Justificativa
O desenvolvimento local é uma técnica pela qual os habitantes de um país ou região unem os
seus esforços aos dos poderes públicos com o fim de melhorarem a situação económica,
social e cultural das suas colectividades, de associarem essas colectividades a vida da nação e
de lhes permitir que contribuam sem reserva para os progressos do país.

5
O estudo do tema sobre as Relações de Género nos Projectos financiados pelo Fundo
Distrital de Desenvolvimento, demonstra-se de capital importância, uma vez que permitirá
aprofundar os conhecimentos sobre o impacto dessas relações no desenvolvimento das
comunidades, através do acesso ao fundo de desenvolvimento comunitário, visto que este
fundo é concebido com a finalidade de gerar actividades de carácter económico visando o
crescimento e melhoria das condições de vida dos cidadãos no seio das comunidades.

1.4. Problema e Pergunta de Partida

1.4.1. Problema
A igualdade de género e o empoderamento das mulheres têm desde há muito feito parte da
agenda internacional do desenvolvimento assim como nacional. A questão penetrou também
nas políticas nacionais de desenvolvimento, tornando-se parte integrante da maioria dos
planos de desenvolvimento e estratégias de redução da pobreza como uma questão
transversal afectando ostensivamente as políticas e intervenções em todas as áreas do
desenvolvimento nacional.

A Constituição da República de 2004 nos seus artigos 35 e 36 estabelece como princípio que
homens e mulheres têm os mesmos direitos perante a Lei (a igualdade de direitos do género).
O PQG 2005-2009 refere-se igualmente ao grande objectivo de alcançar a igualdade do
género e menciona explicitamente que o fortalecimento do poder das mulheres é um factor
decisivo para a erradicação da pobreza. Este pressuposto cria um marco importante para que
ao longo do processo do desenvolvimento económico e social do país se focalize na maior
equidade no acesso aos recursos, na participação económica e no acesso aos benefícios do
desenvolvimento e na participação nos órgãos de tomada de decisão.

A questão problemática que se levanta com a realização da presente pesquisa prende-se no


facto das mulheres nas relações de género não possuírem vantagens comparativamente aos
homens em termos de equilíbrio de oportunidades no acesso ao Fundo Distrital
Desenvolvimento local, no caso especifico do pelo Fundo Distrital de Desenvolvimento.

As questões de natureza cultural e social ainda constituem um entrave na entrada das


mulheres em lugares de destaque ou programas que tem por objectivo contribuir para o
crescimento local. No entanto, há um grande esforço empreendido por parte deste segmento
de género para tornar a sua participação mais notória no processo de desenvolvimento.
6
Segundo os relatórios do Governo do Distrito sobre a atribuição do Fundo Distrital de
Desenvolvimento na vila sede de Marracuene, local escolhido para o desenvolvimento desta
pesquisa, tem-se verificado um desequilíbrio na atribuição deste fundo entre os homens e
mulheres, não se sabendo contudo, o que estará por detrás desta problemática. Ver a tabela
abaixo.

Quadro 1.Projectos Financiados pelo FDD “7 milhões”

Fonte: Relatório da Secretaria Distrital de Marracuene (2015).

1.4.2. Pergunta de Partida

Assim, face às constatações acima referenciadas o problema é levantado em forma de duas


questões da seguinte forma: Em que medida as relações de género estão por de traz do fraco
nível da participação da mulher nos Projectos Financiados pelo Fundo Distrital de
Desenvolvimento na vila sede de Marracuene?

1.5. Objectivos

1.5.1. Objectivo Geral

 Reflectir sobre a participação da mulher nos projectos financiados por Fundo de


Distrital de Desenvolvimento na vila sede de Marracuene.

1.5.2. Objectivos Específicos


De forma específica, o estudo irá:

 Caraterizar as relações de relações de género no desenvolvimento local na Vila Sede


de Marracuene;
 Identificar os desafios colocados às mulheres no acesso aos projectos financiados pelo
Fundo de Distrital de Desenvolvimento na Vila Sede de Marracuene;

7
 Analisar o nível de participação dos homens e mulheres nos projectos financiados
pelo Fundo do desenvolvimento Distrital na Vila Sede de Marracuene;

1.6. Questões de Pesquisa

Para alcançar os objectivos propostos, o estudo levanta as seguintes questões - chave gerais
de partida:
 Como caracterizam as relações de relações de género no desenvolvimento local na
Vila Sede de Marracuene?
 Quais são os desafios colocados às mulheres no acesso aos projectos financiados pelo
Fundo de Desenvolvimento Distrital na Vila Sede de Marracuene?
 Qual é o nível de participação dos homens e mulheres nos projectos financiados pelo
Fundo do Desenvolvimento Distrital na Vila Sede de Marracuene?

1.7. Hipóteses de Estudo e as suas justificativas

Para dar resposta ao problema em estudo, formulou-se seguinte resposta hipotética que surge
das três questões de pesquisa levantadas.

Hipótese 1. É provável que as relações de género, questões culturais, nível de escolaridade e


garantia de retorno de investimento podem estar por detrás do fraco nível de participação das
mulheres no acesso ao Fundo de Desenvolvimento Distrital.

 Identificação das Variáveis


Variável Dependente

 Fraco nível de participação das mulheres no acesso ao Fundo de Desenvolvimento


Distrital.

As variáveis independentes da hipótese 1 são:


 Relações de género
 Questões culturais
 Nível de escolaridade
 Garantia de retorno de investimento

8
A hipótese acima é justificada baseando-se na abordagem de Tvedten, et all, (2008), que
refere que, Moçambique é um signatário de todos os acordos internacionais relevantes sobre
igualdade de género. De acordo com esta abordagem pode se perceber que embora haja um
grande esforço por parte das estruturas governamentais através das políticas desenhadas para
empoderar as mulheres, elas se encontram em desvantagem comparativamente aos homens,
visto as questões culturais de uma sociedade patriarcal como a do sul de Moçambique
persistem em limitar a participação das mulheres em processos de desenvolvimento e nesse
sentido para o caso do acesso ao fundo de desenvolvimento comunitário a garantia de boa
aplicação e devolução do investimento é fortemente credenciada aos homens como o género
mais confiado e, em contrapartida agravam-se as dificuldades para as mulheres acederem ao
fundo.

Nesta abordagem, pode se destacar também a questão de escolaridade, que por causa das
desigualdades de oportunidades entre os homens e as mulheres acaba favorecendo mais os
homens o acesso ao fundo de desenvolvimento comunitário, visto que este segmento de
género apresenta maior índice de formados superiores, médios, básicos e primário
comparativamente ao género feminino, neste sentido, há dificuldades para as mulheres
acederem ao fundo de desenvolvimento comunitário do que propriamente para os homens.

Hipótese 2. As relações de género, questões culturais, nível de escolaridade e garantia de


retorno de investimento não está por detrás do fraco nível de participação das mulheres no
acesso ao Fundo de Desenvolvimento Distrital.

Variável Dependente

 Nível de participação das mulheres no acesso ao Fundo de Desenvolvimento Distrital.

A variável Independente da hipótese 2 são:


 Relações de género
 Questões culturais
 Nível de escolaridade
 Garantia de retorno de investimento

Baseia-se também numa pesquisa exploratória feita na Vila de Marracuene e, nos relatórios
do Governo Distrital, onde foi possível notar que há uma tendência de favorecimento dos
homens no acesso ao Fundo de Desenvolvimento Esta hipótese baseia-se na abordagem de
Tvedten, et all, (2008).

9
1.8. Estrutura do Trabalho

O estudo é composto por cinco capítulos. Para além do Capítulo I: o da introdução que
compõe os seguintes itens: o tema do trabalho e a delimitação no tempo e no espaço, a
contextualização, a justificativa, o problema e a pergunta de partida, os objectivos geral e
específicos, questões de pesquisa e as hipóteses do estudo. Os restantes capítulos deste estudo
apresentam os seguintes tópicos:

Capítulo II: Quadro Teórico e Quadro Conceptual

O capítulo II está dividido em duas partes: primeira parte referente ao quadro teórico em que
apresenta três abordagens teóricas sobre as questões das mulheres em desenvolvimento. A
primeira abordagem tem a ver com a Mulher no Desenvolvimento “Women in Development”
(WID), a segunda abordagem tem a ver com Mulher e o Desenvolvimento “Women and
Development” (WAD), e a terceira abordagem tem a ver com género e desenvolvimento
“Gender and Development” (GAD), No sub capítulo é apresentado o quadro conceptual
onde são apresentados os conceitos chaves do estudo como: Género, Relações de Género,
Desenvolvimento Local e Fundo Distrital de Desenvolvimento.

Capítulo III: Quadro Metodológico


Este capítulo apresenta os aspectos metodológicos, onde é feita a apresentação da
Classificação da Pesquisa, seguido dos métodos de pesquisa, das técnicas de pesquisa
(colecta de dados), a população e amostra e as técnicas de colecta de dados.

Capitulo IV – Relações de Género e a Participação da Mulher nos Projectos


Financiados pelo Fundo de Desenvolvimento Distrital
Este capítulo apresenta aspectos relacionados com as relações de género e a participação da
mulher, fazendo abordagem de género, estereótipos de género, género e educação, género e
cultura, igualdade de género e desenvolvimento, a questão da participação, tipologias da
participação, participação e atribuições do Governo Distrital, os espaços de participação no
distrito, os Conselhos Locais são os principais mecanismos de participação comunitária e o

10
papel dos CCL na promoção do desenvolvimento e da participação da mulher nos projectos
financiados pelo FDD.

Capitulo V. Apresentação do Estudo de Caso e Análise e Discussão dos


Resultados

Este capítulo é o último sendo um dos capítulos-chave deste estudo pois examina os dados
empíricos recolhidos no decurso da pesquisa de campo.
Em seguida são apresentadas as conclusões e recomendações. Depois desta secção, segue-se
a Referência bibliográfica utilizada para elaboração deste estudo e os apêndices.

11
CAPÍTULO II - QUADRO TEÓRICO E QUADRO CONCEPTUAL

O quadro teórico apresenta três abordagens teóricas que abordam das questões das mulheres
em desenvolvimento. A primeira abordagem tem a ver com a Mulher no Desenvolvimento
“Women in Development” (WID), a segunda abordagem tem a ver com Mulher e o
Desenvolvimento “Women and Development” (WAD), e a terceira abordagem tem a ver
com género e desenvolvimento “Gender and Development” (GAD), No sub capitulo é
apresentado o quadro conceptual onde são apresentados os conceitos chaves do estudo
como: Género, Relações de Género, Desenvolvimento Local e Fundo Distrital de
Desenvolvimento.

2.1. Quadro Teórico


Os debates sobre a questão da participação das mulheres e dos benefícios delas em
programas de desenvolvimento levou para o surgimento de três abordagens teóricas. Esses
modelos procuram explica como o desenvolvimento afecta mulheres e por que mulheres e
homens são afectados pelo desenvolvimento de forma diferente. Esses modelos são discutido
em alguns detalhes abaixo.

2.1.1. Mulher no Desenvolvimento “Women in Development” (WID)

Têm sido desenvolvidas e experimentadas várias teorias e conceitos sobre a relação das
mulheres com o desenvolvimento e os efeitos deste sobre as mulheres. Antes dos anos 70 as
teorias e práticas do desenvolvimento davam somente uma atenção indirecta às mulheres,
englobando-as nas questões do bem-estar das famílias. Esta orientação, de tipo
assistencialista, que não considerava o papel produtivo das mulheres e tinha uma concepção
androcêntrica e etnocêntrica de desenvolvimento, foi ultrapassada nos anos 70 com a
abordagem “Mulher no Desenvolvimento” “Women in Development” (WID). Esta apelou à
completa integração das mulheres como produtoras e trabalhadoras, centrando os seus
esforços na sua visibilidade e nas questões da divisão sexual do trabalho, e apelando para a
necessidade da sua capacitação/ formação.
No início dos anos 80, a abordagem WID começou a provocar uma desilusão crescente, pois
ao fócus no papel produtivo da mulher e às solicitações crescentes para que esta participasse

12
na produção, principalmente agrícola, não corresponderam uma oferta de meios nem a
possibilidade de opinarem sobre o próprio processo de desenvolvimento.
É a partir deste descontentamento e das críticas das teorias «dependentistas», que
reclamavam um desenvolvimento autosustentado e apelavam à utilização dos recursos
endógenos que surge uma nova abordagem sobre o papel da mulher no desenvolvimento, a
abordagem “Women and Development” (WAD).

2.1.2. Mulher e Desenvolvimento “Women and Development” (WID)


A WAD argumenta que os papéis produtores e reprodutor da mulher estiveram sempre
presentes nos processos de desenvolvimento, e mais, que eram cruciais ao modelo de
desenvolvimento capitalista. Esta abordagem sugeria uma mudança no processo de
desenvolvimento, exigindo uma transformação que lidasse com as desigualdades no sistema
económico global e focasse a transformação das relações entre homens e mulheres e de
ambos com o processo de desenvolvimento (Deere e León: 2001:109).

2.1.3. Género e Desenvolvimento “Gender and Development” (GAD),


Este aprofundamento com base no género dá lugar à perspectiva “Gender and Development”
(GAD), corrente que chega à Conferência de Nairobi em 1985. A GAD reflecte a perspectiva
que as questões das mulheres não podem ser definidas apenas em termos de igualdade formal
(prioridade da 1ª conferência de mulheres em 75, a Conferência do México), mas que o
devem ser também em termos de acesso aos recursos e participação, passando as mulheres a
serem actrizes do desenvolvimento.
Para além do objectivo da equidade na participação e nos resultados do desenvolvimento,
esta abordagem pretende também eliminar os factores que produzem desigualdade de género
e pobreza, propondo mudanças nas relações de género e nas estruturas socioeconómicas,
através do empoderamento e defendendo que os interesses e objectivos dependem do seu
contexto específico.

2.2. Quadro Conceptual

2.2.1. Género

O termo género, muito utilizado no desenvolvimento das análises feministas que ocorreram
na década de 1970, é muitas vezes confundido com o termo sexo. Género é definido, segundo

13
as palavras de Rabelo (2010: 161-162), como “uma construção social de atributos diferentes
a homens e mulheres efectivada durante toda a vida, o que acaba por determinar as relações
entre os sexos em vários aspectos.
Serpa (2011: 3), citando Pereira e Freitas, afirma que o género se constitui com “um conjunto
de características e comportamentos que é atribuído ao sexo masculino e ao feminino pela (s)
sociedade (s) e que se relaciona com crenças que definem o que é masculinidade e a
feminilidade, bem como, as expectativas concebidas pelo(a)s próprio(a)s pais/mães sobre o
que será e fará o seu/sua filho(a) se for rapaz ou rapariga.”
Se o sexo se insere no quadro da biologia, de acordo com Rabelo (op. cit.), o género é uma
questão social, ou seja, o género é uma mera construção social. O termo género é, então, uma
questão de pertença ao feminino ou ao masculino.
Scott (1990:14) apresenta sua definição de género em duas partes compostas de sub partes,
sinalizando estas com a seguinte definição: “o género é um elemento constitutivo de relações
sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos, e o género é um primeiro
modo de dar significado às relações de poder”.
A partir dessa definição, Scott elenca quatro elementos necessários para se entender a
categoria género, a saber: os símbolos culturais que remetem a representações simbólicas,
como as figuras religiosas de Eva e Maria; os conceitos normativos encontrados na religião,
na política, na ciência e na educação, que oferecem conceituação do feminino e do
masculino; a educação e o sistema político; e a identidade subjectiva que deve ser
compreendida na sua construção histórica e relacionada com as actividades, organizações e
representações sociais.
Esses quatro elementos estão presentes nas análises da autora como sua primeira parte da
definição de género. Scott (1990:16-17) ressalta que tais elementos são articulados, porém
não agem ao mesmo tempo e nem são apenas reflexos um do outro. A segunda parte de sua
acepção refere-se ao conceito de género como primeiro modo de significar as relações de
poder, pois género é:
...um primeiro campo no seio do qual ou por meio do qual, o poder é articulado. O
género não é o único campo, mas ele parece ter constituído um meio persistente e
recorrente de dar eficácia á significação do poder no Ocidente, nas tradições judaico
cristãs e islâmicas.
...O género é então um meio de codificar o sentido e de compreender as relações
complexas entre diversas formas de interacção humana. Quando as (os)
14
historiadoras (es) buscam encontrar as maneiras pelas quais o conceito de género
legitima e constrói as relações sociais, elas (eles) começam a compreender a
natureza recíproca do género e da sociedade e as maneiras particulares e situadas
dentro de contextos específicos, pelas quais a política constrói o género, e o género
constrói a política.

2.2.1. Relações de Género


Neste processo, as relações de gênero são permeadas por uma diversidade que envolve as
relações entre homens e mulheres, mas também entre mulheres e mulheres e homens e
homens, de modo que “o tornar-se mulher e tornar-se homem constitui obra das relações de
gênero” (Saffioti, 1992:18).
As relações de gênero são construídas historicamente, sendo fundamental analisar como
estão estruturadas as relações sociais, considerando o processo dinâmico dos indivíduos se
relacionarem entre si. É no movimento entre as determinações socio estruturais, as conquistas
culturais e as iniciativas dos indivíduos em sua singularidade que se definem formas de ser e
agir quanto às relações de género (Santos, 2005).

2.2.2. Desenvolvimento Local


De acordo com Bingham e Mierr (1993), o desenvolvimento local envolve a promoção do
crescimento económico local, de pequenas e medias empresas, a gestão de negócios locais, o
exercício da liderança, a realização das potencialidades humanas, a preservação da natureza e
do espaço geográfico locais, a construção de instituições das autonomias e democráticas
locais, a participação da comunidade local, a promoção da justiça, a mobilização dos recursos
locais, a solução dos problemas locais, o estabelecimento de parcerias económicas e politicas
com autores não locais, e uma gama de actividades de desenvolvimento local com vista a
dinamização das mudanças locais.

Nesse sentido, o desenvolvimento local é entendido como sendo desenvolvimento local


integrado e sustentável (DLIS) (Franco, 2000). Tratasse de uma estratégia de indução ao
desenvolvimento utilizando a metodologia participativa mediante mobilização da sociedade
civil.

Contudo na perspectiva de Kulipossa (2016), a definição de desenvolvimento local por ele


proposta sublinha o carácter político e económico de mudança ao nível local, assim como a
15
natureza transversal do conceito, já que tal definição vinca também a melhoria do bem-estar
ambiental dos residentes locais. Por isso, o conceito de desenvolvimento local é mais
abrangente e transversal pois congrega tanto aspectos políticos como económicos e
transversais do desenvolvimento ao nível local, do que o conceito económico local que só se
confina aos aspectos económicos de desenvolvimento ao nível local.

Assim sendo, o conceito de desenvolvimento local é compreendido como aquele definido


pelos recursos económicos, humanos, institucionais, ambientais e culturais de localidades e
territórios delimitados, com economias de escalas e potencialidades não exploradas, além de
uma forte identidade compartilhada, conforme relembra Zapata (2006), socióloga consultora
do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e autora de diversas
publicações sobre o tema.

Outro aspecto a ser considerado é quem são os agentes das acções de desenvolvimento local.
Muitas instituições, grupos e indivíduos podem estar envolvidos: cooperativas, agências de
desenvolvimento, associações industriais e comerciais, entidades empresariais, sindicatos,
governos locais e de outras instâncias de poderes. Nesse sentido, o desenvolvimento local é
um processo muito mais sociopolítico que económico no sentido estrito. Os desafios são
muito mais políticos, de articulação de atores e capital social, que de gestão local ou de
projectos produtivos (Gallicchio; Camejo, 2005:40).

2.2.3. Participação

Participação é um conceito que tem que ser entendido, no contexto no qual ele está a ser
usado. Todavia, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
(UNESCO) definiu participação numa perspectiva ampla, como:

"um colectivo de actividade sustentada com a finalidade de alcançar alguns


objectivos comuns, especialmente uma distribuição mais equitativa dos benefícios
do desenvolvimento".
Pearse e Stiefel (1979:11) definem participação como "esforços organizados para
aumentar o controlo sobre os recursos e das instituições regulativas em determinadas
situações sociais por parte de grupos e movimentos até agora excluídos de tal controlo".

16
Segundo Guião de Consulta Para a Participação Comunitária e da Sociedade Civil na
Promoção da Boa Governação do MASC (2011), participação corresponde às diversas
formas de envolvimento das comunidades locais e dos demais grupos de interesse e da
sociedade civil nos processos de governação com o objectivo de estimular mudanças nas
decisões políticas do governo distrital de modo a que essas decisões não estejam afastadas
dos interesses das comunidades locais.

2.2.4. Fundo Distrital de Desenvolvimento


De acordo com o decreto nº 90/2009 Fundo de Desenvolvimento Distrital, foi criado para
materialização dos objectivos do governo orientados para o desenvolvimento do distrito,
especificamente para produção de alimentos, geração de rendimentos e criação de postos de
trabalho. Neste âmbito, o artigo 1 do mesmo sustenta que:

“…o Fundo de Desenvolvimento Distrital é uma instituição pública dotada de


personalidade jurídica, autonomia administrativa e financeira…”.

Já o artigo 2 refere que o Fundo de Desenvolvimento Distrital destina-se à captação e gestão


de recursos financeiros visando impulsionar o desenvolvimento e empreendedorismo na
satisfação das necessidades básicas das comunidades locais, mediante a concessão de
empréstimos reembolsáveis.

O n º 1 do artigo 6 do decreto em alusão, expõe que “o Fundo de Desenvolvimento Distrital


promove o auto emprego, incentiva e apoia projectos sustentáveis com impacto na vida da
comunidade local”; enquanto o nº2, refere que “o atendimento dos pedidos financiamento o
Fundo de Desenvolvimento Distrital segue critérios de priorização fixados pelo Conselho
Consultivo Distrital” e o n º 3 refere que “o Fundo de Desenvolvimento Distrital pratica juros
bonificados”.

O Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD) é uma dotação orçamental de âmbito distrital


destinada a apoiar prioritariamente as pessoas pobres, economicamente activas, sem
possibilidade de acesso ao crédito no sistema financeiro formal, (CIP, 2011).

17
CAPITULO III - QUADRO METODOLÓGICO
Este capítulo apresenta os aspectos metodológicos, onde é feita a apresentação da
Classificação da Pesquisa, onde são articulados os seguintes abordagens tipo de pesquisa
quanto a abordagem do problema, tipo de pesquisa quanto a sua natureza, tipo de pesquisa
quanto aos objectivos e tipo de pesquisa quanto aos procedimentos técnicos. Em seguida são
apresentados os métodos usados sendo de abordagem e de procedimento, seguido das
técnicas de pesquisa “colecta de dados”, a população e amostra e as técnicas de colecta de
dados.

3.1. Classificação da Pesquisa


a. Tipo de pesquisa quanto a abordagem do problema.
Quanto a abordagem do problema a pesquisa é qualitativas pois esta permite que se
desvendem a natureza das experiências vividas dos sujeitos e também o que está por detrás
dos fenómenos que pouco se conhecem (Alencar, 1999). Ademais, segundo o mesmo autor a
abordagem qualitativa permite que se obtenha “detalhes intrincados” de um fenómeno que as
metodologias quantitativas não proporcionam. A questão das relações de género envolvem
elementos de natureza culturais.
b. Tipo de pesquisa quanto a sua natureza:
Do ponto de vista da sua natureza a pesquisa é aplicada. Pois objectiva gerar conhecimentos
para aplicação prática dirigidos à solução de problemas específicos. Neste caso da questão da
participação das mulheres em projectos financiados pelo Fundo de Desenvolvimento
Distrital.
c. Tipo de pesquisa quanto aos objectivos:
Do ponto de vista dos objectivos o estudo, realizou-se uma pesquisa do tipo descritivo-
exploratória. Segundo Gil (1996:45), “a pesquisa exploratória tem como objectivo
proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a
construir hipóteses”. Ela é descritiva porque visa descrever as características e as principais
particularidades relativas às relações de gênero na população investigada e exploratória
porque intenta investigar um tema ainda carente de estudo: relações de gênero nos projectos
financiados pelo Fundo de Desenvolvimento Distrital.
d. Tipo de pesquisa quanto aos procedimentos técnicos:
Do ponto de vista dos procedimentos técnicos o estudo usou a técnica de pesquisa
bibliográfica, documental.

18
 Pesquisa Bibliográfica: é desenvolvida com base em material já elaborado,
constituído principalmente de livros e artigos científicos.
 Técnica de pesquisa documental - É idêntica a da pesquisa bibliográfica. Mas a
diferença está na natureza das fontes, pois esta forma sustenta-se de materiais que
não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados
de acordo com os objectos da pesquisa. Além de analisar os documentos de “primeira
mão” (documentos de arquivos, igrejas, sindicatos, instituições etc.), existem também
aqueles que já foram processados, mas podem receber outras interpretações, como
relatórios de empresas, tabelas etc. No estudo foram usados decretos e leis que
abordam da questão do Fundo de Desenvolvimento Distrital.

3.2. Métodos de Pesquisa


O método de pesquisas podem são subdivididos em métodos de abordagem e métodos de
procedimentos.

a. Método de Abordagem
Esta pesquisa baseou-se no método Indutivo, uma vez que parte das constatações mais
particulares às leis e teorias mais gerais. A aplicação deste método, permitiu perceber a
aproximação dos fenómenos relacionados com as Relações de Género e a participação da
mulher nos projectos financiados pelo Fundo de Desenvolvimento Distrital na Vila de
Marracuene. Partindo deste estudo, será possível aproximar este estudo para outros Distritos.

b. Método de Procedimento
Quanto aos Métodos de Procedimento usou-se o Método Monográfico. O método
monográfico parte do princípio de que o estudo de um caso em profundidade pode ser
considerado representativo de muitos outros ou mesmo de todos os casos semelhantes. Esses
casos podem ser indivíduos, instituições, grupos, comunidades etc, (Gil, 2008: 18).
O estudo ainda se apoiou no Método Histórico que parte do princípio de que as actuais
formas de vida e de agir na vida social, as instituições e os costumes têm origem no passado,
por isso é importante pesquisar suas raízes para compreender sua natureza e função.

3.3. Técnica de pesquisa (colecta de dados)


Como técnica de pesquisa optou-se por entrevista com um roteiro semiestruturado, visando
dar voz aos sujeitos investigados. Foi tomada como relevante a técnica de entrevista, que

19
permitiu a recolha de informação sobre as relações do Género nos projectos financiados pelo
Fundo de Desenvolvimento Distrital na Vila de Marracuene.
A partir do roteiro das entrevista traçou-se um perfil das entrevistadas, inferir sobre as
particularidades dos entrevistados dificuldades e satisfações e por fim identificar
particularidades do quotidiano das relações de género e da participação das mulheres nos
projectos financiados pelo FDD na população investigada.
Para aprofundamento do tema em análise foi usada também a observação directa. Realizou-se
a observação directa para conhecer a realidade da área de estudo, no dia-a-dia da comunidade
da vila de Marracuene, assim como aspectos sociais e económicos, possíveis de apreender a
partir da observação participativa realizada durante o período em análise. As entrevistas
foram gravadas, posteriormente transcritas e, por fim, receberam tratamento qualitativo.

3.4 Tamanho da População e da Amostra


Para este estudo, optara-se pela amostragem probabilística aleatória simples e estratificada,
com enfoque para Comunidade, membros de Associações Beneficiárias. A população em
estudo é constituída por uma população de 110 pessoas. Mas para o estudo fizeram parte da
amostra 60 membros em representação de cada estrato social da Vila de Marracuene, num
estudo em que se coloca como nível de confiança 95% e 5% de erro máximo.
Em relação a representatividade dos respondentes, a maior percentagem corresponde a
comunidade no geral, que são os beneficiário que são os executores dos projectos com 49%,
seguido de 21% corresponde e aos membros de órgãos locais do Estado, seguido de 18%, dos
membros dos conselhos consultivos locais e 12% da sociedade civil local.
O nosso estudo esteve centrado na Vila de Marracuene e envolveu uma população de 60
mutuários, destes: 30 homens, 15 mulheres. Fizeram parte também parte deste estudo, 15
membros dos Órgãos Locais do Estado, membros dos Conselhos Consultivos Locais e da
sociedade civil.
A Entrevista foi aplicada a 50 pessoas que tenham tido acesso ao fundo de desenvolvimento
Distrital e os facilitadores do processo, o líder comunitário e os residentes todos estes
pertencentes aos grupos acima referidos com o objectivo de perceber o grão de participação
do género, as relações de género.

20
3.5. Tratamentos dos Dados
Os questionários semi-estruturados, e as gravações das entrevistas foram submetidos a
preenchimento assim como foram entrevistados as pessoas pretendidas. Estes dados forma
tratados de forma qualitativos e através das respostas dos questionários preenchidos foram
feitos gráficos através do Excel para aferir o número de percentagens das suas respostas.
Estes dados foram analisados e cruzados coma a literatura.

21
CAPÍTULO IV - RELAÇÕES DE GÉNERO E A PARTICIPAÇÃO DA MULHER
NOS PROJECTOS FINANCIADOS PELO FUNDO DE
DESENVOLVIMENTO DISTRITAL.

Este capítulo apresenta aspectos relacionados com as relações de género e a participação da


mulher, fazendo abordagem de género, estereótipos de género, género e educação, género e
cultura, igualdade de género e desenvolvimento, a questão da participação, tipologias da
participação, participação e atribuições do Governo Distrital, os espaços de participação no
distrito, os Conselhos Locais são os principais mecanismos de participação comunitária e o
papel dos CCL na promoção do desenvolvimento e da participação da mulher nos projectos
financiados pelo FDD.

4.1. As Relações de Género e Estereótipos

4.1.1 As Relações de Género


As relações de género sempre existiram em todas as sociedades. Segundo Carloto (2013), a
produção de nossa existência tem bases biológicas que implicam a intervenção conjunta dos
dois sexos, o macho e a fêmea. A produção social da existência, em todas as sociedades
conhecidas, implica por sua vez, na intervenção conjunta dos dois géneros, o masculino e o
feminino. Cada um dos géneros representa uma particular contribuição na produção e
reprodução da existência.
Para Izquierdo (1990) citado por Carloto (2013) diz que “poderíamos nos referir aos géneros
como obras culturais, modelos de comportamento mutuamente excludentes cuja aplicação
supõem o híper desenvolvimento de um número de potencialidades comuns aos humanos em
detrimento de outras”. Modelos que se impõem ditatorialmente às pessoas em função do seu
sexo. Mas esta só seria uma aproximação super estrutural do fenómeno dos géneros

A autora chama a atenção para as palavras de Marx quando este diz que:

“na produção social de sua existência, os homens entram em relações


determinadas, necessárias, independentes de sua vontade; estas relações de
produção correspondem a um grau determinado de desenvolvimento de suas
forças produtivos materiais”

22
O conjunto destas relações de produção constituem a estrutura económica da sociedade, a
base real, sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e a qual correspondem
formas sociais determinadas de consciência. Não é a consciência dos homens o que
determina a realidade; ao contrário, a realidade social é a que determina sua consciência
(Marx citado por Izquierdo, 1990).

A existência de géneros é a manifestação de uma desigual distribuição de responsabilidade na


produção social da existência.

A sociedade estabelece uma distribuição de responsabilidades que são alheias as vontades


das pessoas, sendo que os critérios desta distribuição são sexistas, classistas e racistas. Do
lugar que é atribuído socialmente a cada um, dependerá a forma como se terá acesso à
própria sobrevivência como sexo, classe e raça, sendo que esta relação com a realidade
comporta uma visão particular da mesma.

A construção dos géneros se dá através da dinâmica das relações sociais. Os seres humanos
só se constroem como tal em relação com os outros. Saffioti (1992:210) considera que:

não se trata de perceber apenas corpos que entram em relação com outro. É a
totalidade formada pelo corpo, pelo intelecto, pela emoção, pelo carácter do
EU, que entra em relação com o outro. Cada ser humano é a história de suas
relações sociais, perpassadas por antagonismos e contradições de género,
classe, raça/etnia.

A tentativa de construir o ser mulher enquanto subordinado, ou melhor, como diz Saffioti
(1992), como dominada-explorada, vai ter a marca da naturalização, do inquestionável, já
que dado pela natureza. Todos os espaços de aprendizado, os processos de socialização vão
reforçar os preconceitos e estereótipos dos géneros como próprios de uma suposta natureza
(feminina e masculina), apoiando-se sobretudo na determinação biológica. A diferença
biológica vai se transformar em desigualdade social e tomar uma aparência de naturalidade.
As relações de género, reflectem concepções de género internalizadas por homens e
mulheres. “Eis porque o machismo não constitui privilégio de homens, sendo a maioria das
mulheres também suas portadoras. Não basta que um dos géneros conheça e pratique

23
atribuições que lhes são conferidas pela sociedade, é imprescindível que cada genro conheça
as responsabilidades do outro género” (Saffioti, 1992:10).

4.1.2 Estereótipos de Género


Segundo Fontenele-Mourão (2006), a própria história revela que, de um modo geral, as
mulheres estiveram amiúde excluídas do espaço público e de gestão pública. Não obstante ao
fato de homens e mulheres apresentarem suas especificidades do ponto de vista fisiológico,
as diferenças entre homens e mulheres não podem ser creditadas de forma simplista
unicamente a factores orgânicos e genéticos. Na verdade, essas diferenças são, antes de tudo,
forjadas nas relações que se travam no dia-a-dia, isto é, elas se manifestam em virtude de
homens e mulheres viverem experiências e processos de socialização diferenciados ou de
serem condicionados ou persuadidos a agir de maneiras diferentes.
De acordo com Alves (2013), a idealização de um modelo ideal de família no qual
reafirmava-se o espaço privado, doméstico, como natural às mulheres, delimitado pelas
demandas da maternidade e efectivação das capacidades de trabalho femininas, atrelado a um
discurso médico que buscava nas diferenças biológicas evidenciar que a mulher era mais
frágil e inferior em relação ao homem, contribuiu para a construção social do feminino e
masculino e do que é própria para cada um dos géneros na sociedade.
Esta realidade ainda é verificada em muitas comunidades africanas e em Moçambique em
particularmente na vila sede de Marracuene, onde a mulher ainda de forma teórica pertence a
esfera meramente domestica e cingindo se a actividades meramente domestica
diferentemente dos homens.
A fragilidade então propagada pela sociedade como própria da mulher é reafirmada pela
submissão do feminino ao masculino. A submissão, na maioria das vezes, faz com que
muitas mulheres também acreditem neste discurso da fragilidade. Factores culturais
contribuem, de forma muito significativa, para propagar e reforçar a crença de que o homem
é superior à mulher. Esta visão foi construída socialmente e não faz parte exactamente da
“essência” feminina ou masculina como muitos levam a crer, inclusive muitas mulheres.
Tomando como base as atribuições de papéis, Hirata e Kergoat (2007:599) discutem a
problemática da divisão sexual do trabalho:
“…A divisão sexual do trabalho é a forma de divisão do trabalho social
decorrente das relações sociais entre os sexos; mais do que isso, é um factor

24
prioritário para a sobrevivência da relação social entre os sexos. Essa forma
é modulada histórica e socialmente. Tem como características a designação
prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva
e, simultaneamente, a apropriação pelos homens das funções com maior valor
social adicionado…”
Ainda segundo Hirata e Kergoat (2007), existem dois princípios organizadores para a divisão
sexual do trabalho, o princípio da separação, no qual existe a separação de trabalho de
homem e trabalho de mulher e o princípio da hierarquização, no qual o trabalho
desempenhado por um homem vale mais que o trabalho desempenhado por uma mulher. Para
os autores, tais princípios são aplicados a qualquer sociedade.
Ademais, o universo feminino, no que diz respeito ao trabalho e a família, actualmente, têm
se deparado com os mais diversos desafios trazidos pela modernidade. Segundo Alves
(2002), Cappelle (2007), Brasil (2007) e Gomes, Lima e Cappelle (2012), as mulheres estão
abrindo caminhos, conquistando novos espaços e a sua participação no mercado de trabalho
está gerando inúmeras dúvidas quanto aos seus novos papéis.
Segundo Pinheiro et al. (2008), o rendimento médio da ocupação no mercado de trabalho
revelou as desigualdades de género em decorrência das diferenças educacionais, da
segregação das mulheres em postos de trabalho menos qualificados e que possuem menores
rendimentos do que os homens. Para Alves (2013), os baixos salários recebidos pelas
mulheres tem explicação nas interpretações históricas, pois os ganhos recebidos pelos
homens seriam calculados de modo a garantir a sua sobrevivência e a reprodução da família e
os salários das mulheres seriam definidos como ganhos adicionais ao salário do homem, que
seria satisfatório para o seu próprio sustento e o da família.
Na realidade o patriarcalismo exerce um papel muito forte na criação de condições para a
submissão da mulher.
Esta influência se estendeu aos domínios da economia, da política e da moral. A sociedade
patriarcal pode ser considerada o principal fundador e quem mantem essas desigualdades,
uma vez que sempre formalizou as diferenças entre homens e mulheres, deixando sempre
muito claro o papel do homem e da mulher na sociedade, considerando esta última como o
ser mais frágil. A submissão e a violência vivenciada por muitas mulheres também podem ser
atribuídas à cultura e às instituições patriarcais. Ademais, na visão de Cavedon et al.
(2005:4),

25
a mulher ainda tem gravado em seu inconsciente o papel que lhe foi atribuído
por décadas e sente-se culpada se não consegue equilibrar os seus papéis de
mulher, mãe e profissional. A independência no âmbito do simbólico ainda
não ocorreu. O esgotamento físico e mental resultante de uma sobrecarga em
face de uma dupla ou tripla jornada de trabalho é uma realidade que merece
maior atenção.

4.1.3 Género, Educação e Cultura


A desigualdade educacional é uma das grandes infracções dos direitos das mulheres e
meninas e também uma barreira importante ao desenvolvimento social e económico. Em
1948, a Declaração Universal dos Direitos do Homem reconheceu o direito à educação,
declarou que a educação primária deve ser gratuita e obrigatória, e que os níveis superiores
da educação devem ser acessíveis a todos, com base no mérito. Desde então, tratados e
declarações foram promulgados, visando a transformar essas aspirações em realidade. A
Carta Internacional de Direitos Humanos traz disposições sobre a educação gratuita e
obrigatória e sobre a não-discriminação na educação.
As duas convenções mais recentes – sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Mulheres (CEDAW, 1979) e sobre os Direitos da Criança (CRC,
1990) – contêm o conjunto mais abrangente de compromissos com força de lei, no tocante
tanto ao direito à educação quanto à igualdade entre os géneros
Portanto, o conceito de género como foi referido em abordagens anteriores está ligado
directamente à história do movimento feminista contemporâneo, um movimento social
organizado, usualmente remetido ao século XIX e que propõe a igualdade nas relações entre
mulheres e homens através da mudança de valores, de atitudes e comportamentos humanos.

Apesar de o movimento feminista ser evidenciado a partir do século XIX, sua primeira voz
surgiu ainda no século XIV, quando Christine Pisan, primeira mulher indicada a ser poeta
oficial da corte, mostrou seu discurso articulado de maneira consciente em defesa dos direitos
da mulher, polemizando com escritores renomados acerca da igualdade entre sexos. Para
tanto:

“…Afirmou a necessidade de se dar às meninas uma educação idêntica à dos


meninos: “Se fosse costume mandar as meninas à escola e ensinar-lhes as

26
ciências, como se fazem aos meninos, elas aprenderiam da mesma forma que
estes compreenderiam as sutilezas das artes e ciências, tal como eles”
(Moreira e Pitanguy, 2003:19)

Seguindo esta linha de raciocínio, onde a educação era vista como uma forma de alcance da
igualdade, que na passagem do séc. XIX para o séc. XX, as feministas se basearam na
filosofia, que entendia o ser humano como “tábula rasa”, para reivindicar formas igualitárias
de educação visando à igualdade entre sexos. Isto é, já que todos (as) nascem como “folhas
de papel em branco”, se o mesmo tipo de educação fosse dado tanto a meninos quanto a
meninas ambos aprenderiam da mesma maneira. (Albernaz e Longhi 2009).
Ao se promover a igualdade no acesso a educação entre homens e mulheres, estará se criar
capacidade para a mulher poder fazer escolhas, e de transformá-las em acções e resultados
desejados.
Segundo o Relatório de Acompanhamento Global da EPT (2003:02), alega que a Declaração
de Jomtien (1990) e o Marco de Acção de Dacar (2000), na verdade, vão bem além dos
tratados sobre direitos humanos, em termos de abrangência. Elas dão atenção aos cuidados e
à educação dispensados à primeira infância, a programas de aprendizagem para todos os
jovens e adultos e à melhoria da qualidade da educação. Dacar e as Metas de
Desenvolvimento para o Milénio (MDM) também incluem alvos temporais, o que não ocorre
com os tratados sobre direitos humanos. Isso dá incentivo à noção de que o que realmente
conta é fazer progressos em direcção às metas, e não o fato de determinados países não
cumprirem as obrigações assumidas por eles.
O direito à educação foi claramente consagrado e aceito pela comunidade internacional. As
razões desenvolvi mentalistas para a consecução da igualdade entre os géneros também são
poderosas. De fato, os países que cumprem seus compromissos morais, jurídicos e políticos
também adoptam acções enérgicas quanto a seus interesses económicos e sociais (R.A.G. da
EPT, 2003:04).
Em todos os países e culturas, há diferenças entre a capacidade de homens e mulheres
fazerem escolhas, geralmente com desvantagem para as mulheres. Essas diferenças
relacionadas ao género são importantes para o bem-estar das mulheres, e também para todo
um conjunto de resultados para suas famílias e para a sociedade em geral. A capacidade de
decidir das mulheres influencia sua capacidade de desenvolver seu capital humano e
considerar oportunidades económicas.
27
4.1.3 Igualdade de Género e Desenvolvimento

Após Amartya Sen, vemos o desenvolvimento como um processo de expandir liberdades


igual - mente para todas as pessoas. Nesta visão de desenvolvimento, a igualdade de género é
um objectivo essencial em si.
Portanto, assim como desenvolvimento significa menos pobreza de renda ou um melhor
acesso à justiça, ele também deve significar menos hiatos no bem-estar entre homens e
mulheres. Este ponto de vista também se evidencia no fato de a comunidade internacional de
desenvolvimento reconhecer que o empoderamento das mulheres e a igualdade de género são
objectivos de desenvolvimento por direito próprio, conforme incorporados aos Objectivos de
Desenvolvimento do Milênio 3 e 5.
A igualdade de género também é importante como instrumento de desenvolvimento.
Conforme mostra este Relatório, a igualdade de género representa uma economia inteligente:
ela pode aumentar a eficiência económica e melhorar outros resultados de desenvolvimento
de três maneiras.
i. Primeiro, removendo barreiras que impedem as mulheres de ter o mesmo acesso que
os homens têm à educação, oportunidades económicas e insumos produtivos podem
gerar enormes ganhos de produtividade e ganhos essenciais em um mundo mais
competitivo e globalizado.
ii. Segundo, melhorar a condição absoluta e relativa das mulheres introduz muitos outros
resultados de desenvolvimento, inclusive para seus filhos.
iii. Terceiro, o nivelamento das condições de competitividade — onde mulheres e
homens têm chances iguais para se tornar social e politicamente activos, tomar
decisões e formular políticas — provavelmente gerará no decorrer do tempo
instituições e escolhas de políticas mais representativas e mais inclusivas, levando
assim a um melhor caminho de desenvolvimento.

4.2 A Participação
O tema da participação foi estudado sob distintos pontos de vista e analisado por diferentes
métodos, com distintos propósitos. Há autores a analisam sob a perspectiva do grau de
envolvimento da sociedade, que vai desde a manipulação à participação completa, outros a

28
problematizam com foco nos conflitos entre radical ou liberal, ou ainda sob a dicotomia entre
a participação ser instrumental ou desenvolvimentista, além de outros critérios de análise
(Arnstein, 1969; Pateman, 1992; Gohn, 2003; Sayago, 2000).

4.2.1 Tipologia de A participação


O grau de poder que o cidadão tem ao participar de um processo foi a forma escolhida por
Arnstein (1969) para classificar os modelos de participação. Por meio da chama de Escada de
participação Cidadã, a autora gradua os níveis de envolvimento do cidadão, como mostrado
no quadro 1 abaixo:
Quadro 2. Tipologia de Participação
8 Controlo cidadão
7 Delegação de poder Níveis de poder
6 Parceria cidadão
5 Pacificação Níveis de concessão
4 Consulta mínima de poder
3 Informação
2 Terapia Não participação
1 Manipulação
Fonte: Arnstein (1969)

O modelo de Arnstein (1969) retrata de baixo para cima, primeiramente, duas situações que a
autora não reconhece como sendo participação, apesar de alguns as considerarem processos
participativos pelo fato de envolverem de algum modo às pessoas, mesmo não tendo estas
quaisquer poder decisório nos processos. Nos degraus 3 e 4 já são observados níveis de
concessão limitada de poder, tendo os participantes o direito a ouvirem e serem ouvidos, mas
sem garantia de que suas opiniões serão aceitas por aqueles que detêm o poder. Apenas nos
três degraus superiores o cidadão passa a ter poder de decisão, podendo negociar com quem
detêm o poder ou mesmo ser maioria nos fóruns de tomada de decisão.
Esse modelo proposto por Arnstein (1969) traz à discussão o fato da participação em seu
carácter efectivo não ser mensurada pela simples presença física dos indivíduos no processo.
Como enfatiza a autora, há situações em que as pessoas estão de algum modo incluídas,
porém sem terem direito de se manifestar ou influenciar de algum modo os processos de

29
tomada de decisão. Participar efectivamente, segundo a linha de pensamento expressa nesse
modelo, é ter poder para exercer papel activo nos processos.
Seguindo esta linha de análise do grau de interferência do indivíduo no processo de tomada
de decisão, Pateman (1992) também enfatiza que há casos em que os indivíduos estão
presentes no processo, mas apenas para serem consultados sobre alguma temática específica,
sem poder decisório, caso em que o autor classifica como pseudo-participação; Quando o
processo em questão chega ao conhecimento de muitas pessoas, mas poucas têm poder para
decidir algo, o autor classifica como participação parcial; A participação total, para Pateman
(1992) só ocorre quando cada grupo de indivíduos tem oportunidade de contribuir com a
decisão final.
Já com um olhar sobre os paradigmas analíticos que envolvem a temática da participação,
Gohn (2003), por sua vez, defende que existem, historicamente, cinco formas distintas de
compreender seu conceito:
 A participação liberal reflecte o desejo de reformar a estrutura da democracia
representativa ampliando os canais de informação aos cidadãos de forma que eles
possam manifestar as preferências antes que as decisões sejam tomadas. Seria,
portanto, um instrumento para buscar a satisfação das necessidades dessa sociedade
de iguais.
 A participação autoritária infere sobre a integração e controle social da sociedade e da
política através de acções direccionadas de cima para baixo. A sociedade civil é
cooptada por meio de programas pensados estrategicamente para diluir os conflitos
sociais.
 A participação revolucionária representa-se por colectivos organizados em busca de
uma autonomia da divisão do poder político, contra as relações de dominação.
 A participação democrática se fundamenta a partir da soberania popular e da
participação de movimentos sociais e organizações da sociedade civil. Seu princípio
básico é a delegação do poder de representação e o sistema representativo via
processo eleitoral é o critério supremo de organização dos indivíduos.
 Por fim, a participação democrática radical é uma espécie de fusão entre os modelos
de participação democrática e revolucionária. Teóricos e activistas que não acreditam
na democracia representativa como um modelo concretamente democrático, propõem

30
sua substituição por um modelo de democracia participativa que fortaleça a sociedade
civil para a construção de uma nova realidade social.

Os modelos descritos na classificação de Gohn (2003) relacionam-se ao modo como a


sociedade é incluída nos processos de construção das políticas públicas e sociais: ora tratados
como meros beneficiários das políticas; ora convidados a participar emitindo opiniões e
pareceres; ora convocados para eleger quem os represente nos processos; e, ora articulados
para fazer frente ao governo requerendo seu espaço como actor nesses processos com uma
inserção mais directa nos centros de tomada de decisão. Dessa forma, os cidadãos se fazem
presentes com posturas distintas em cada modelo de participação.
Diferentemente das visões de Arnstein, Pateman e Gonh, que analisam a participação pelo
nível de envolvimento dos indivíduos nos processos, Sayago (2000) classifica os tipos de
participação em seis modalidades diferenciadas entre si com base no carácter ideológico que
as permeia: a. participação.

 Participação Individual: quando o indivíduo toma sua decisão de forma individual e


de livre escolha;
 Participação Colectiva: quando as decisões são tomadas de forma colectiva;
 Participação Passiva: quando o indivíduo se comporta de modo desejado, sem
interferir no processo;
 Participação Activa: quando os sujeitos assumem o compromisso da luta e da
conquista para alcançar os seus objectivos, de forma colectiva e solidária;
 Participação Voluntária: quando de forma espontânea, um grupo se junta para
resolver problemas imediatos; e,
 Participação Instrumental: quando as mobilizações são feitas com o propósito de
conquistar posição ou poder. As mobilizações são dirigidas por organizações externas
traçamos objectivos anteriormente. A população é incluída, mas as suas opiniões e
decisões são excluídas.
Diante de tal tipologia, a perspectiva de análise de Sayago (2000) parte do posicionamento do
indivíduo sobre a sua forma de participar das decisões. A possibilidade de ter controlo e
poder de decisão sobre problemáticas que afectam sua própria condição motiva esse
indivíduo a buscar alguma forma mais directa de participação (Sayago, 2000:45). Todavia,

31
embora muitas das iniciativas de participação social surjam do desejo individual ou colectivo
dos cidadãos, o autor enfatiza situações em que a participação é utilizada como ferramenta
para validação ou legitimação de interesses de grupos que não correspondem aos reais
interesses do colectivo.

4.2.2 A Participação e Atribuições do Governo Distrital

O governo distrital é o garante de todas as actividades que vise o desenvolvimento das


comunidades do mesmo. Este processo é garantido através de elementos legais instituídos.
Através da Lei 8/2003, de 19 de Maio, determina que os órgãos locais do Estado, que
incluem para além do Governo Provincial, também o Governo Distrital, têm a função, para
além de outras, de garantir a realização de tarefas e programas económicos, sociais e
culturais de interesse local e nacional a nível do distrito (n.º 3, do artigo 2).
O Governo do Distrito “é o órgão local do Estado responsável pela realização do Programa
do Governo e o plano económico e social, e com poder de decisão, e controlo das actividades
previstas a nível distrital (artigo 36 da Lei 8/2003).
São competências do Governo Distrital, entre outras, as seguintes:
 Aprovar as propostas do plano de desenvolvimento, planos de actividade e orçamento
do distrito;
 Aprovar o balanço e conta de execução do plano de actividades, plano de
desenvolvimento local e do orçamento distrital;
 Definir o modo e os meios de recolha, transporte, e depósito e tratamento de resíduos
sólidos;
 Prestar serviços e realizar investimentos de interesse público;
 Fixar as taxas e tarifas de receitas não fiscais e zelar pela cobrança de receitas fiscais
e não fiscais da área do distrito;
 Promover e apoiar as iniciativas de desenvolvimento local com a participação das
comunidades e dos cidadãos na solução dos seus problemas;
 Elaborar propostas e pareceres sobre acções ou programas de promoção e apoio à
actividade económica no distrito.

32
4.2.3 Os espaços de participação no distrito
Os espaços criados com vista a garantir a participação da sociedade civil ao nível distrital são
os Conselhos Consultivos Locais. Os Conselhos Consultivos Locais estão criados nos quatro
níveis da estrutura do território do Distrito, nomeadamente:
a) Distrito,
b) Posto Administrativo,
c) Localidade, e
d) Povoação

4.2.4 Os espaços formais de participação no distrito


Os espaços de participação foram criados no âmbito da Lei dos Órgãos Locais do Estado (Lei
8/2003 e Decreto 11/2005). As formas como as comunidades se devem organizar para
participarem nos processos de governação local, são os seguintes:
 Conselho Local – órgão de consulta das autoridades da administração Local, na
busca de soluções para questões fundamentais que afectam a vida das populações.
 Fórum Local – uma instituição da sociedade civil que tem como objectivo organizar
os representantes das comunidades e dos grupos de interesse locais para permitir que
eles definam as suas prioridades.
 Comités Comunitários - formas de organização das populações para permitir que as
comunidades se mobilizem na identificação e procura de soluções dos seus
problemas, podendo encaminhar outras preocupações às estruturas pertinentes do
sector público. Podem ser constituídos em função de áreas que interessam às
comunidades (saúde, educação, água, estradas, segurança alimentar etc.)
 Fundos Comunitários – são as iniciativas que as comunidades podem estabelecer
para criar fundos de desenvolvimento virados para responder a interesses próprios das
comunidades. Estes fundos podem receber financiamento de entidades nacionais e
estrangeiras, podem também vir das contribuições das próprias comunidades.

4.2.5 Os Conselhos Locais como Mecanismos de Participação


A participação dos cidadãos, comunidades locais, associações ou outras formas de
organização das pessoas na governação local pode melhorar as oportunidades de alcance dos
interesses das comunidades locais.
33
A proximidade da dos cidadãos aos seus governantes através da participação pode aumentar a
responsabilidade dos governos distritais na implementação de programas de
desenvolvimento.
O n.º 3 do artigo 3 da Lei 08/2003, de 19 de Maio, diz que no âmbito do funcionamento dos
órgãos locais do Estado, estes para além de outras questões:

“… Observam os princípios do respeito pelos direitos subjectivos e pelos


interesses legítimos dos administrados, garantem a participação activa dos
cidadãos, e incentivam a iniciativa local na solução dos problemas das
comunidades…”.

E o n.º 1 do artigo 100 do Decreto 11/2005, de 10 de Junho, que é o instrumento legal que
regulamenta a Lei 08/2003, diz o seguinte em relação a participação:

“Os órgãos locais do Estado devem assegurar a participação dos cidadãos, das
comunidades locais, das associações e de outras formas de organização, que
tenham por objecto a defesa dos seus interesses, na formação das decisões que
lhes disserem respeito”.

Estes dois artigos que acabaram de ser indicados apontam para duas responsabilidades dos
órgãos locais do Estado (OLE’s) em relação aos seus cidadãos e comunidades:

 No respeito pelos direitos fundamentais – os órgãos locais do Estado devem


promover e respeitar a liberdade de expressão, liberdade de associação, defender o
direito à vida, respeitar o direito à informação, respeitar o direito de constituir
associações, e promover a satisfação dos interesses legítimos dos cidadãos;
 Na promoção da participação – os OLE’s têm de criar as condições necessárias para a
participação dos cidadãos e das comunidades e/ou associações a participarem na
governação com vista a solução dos seus problemas.

34
CAPÍTULO V - APRESENTAÇÃO DO ESTUDO DE CASO E ANÁLISE E

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.1. Breve Caracterização do estudo de Caso o Distrito de Marracuene

5.1.1. Localização Superfície e População

O distrito de Marracuene, situado na parte oriental da Província de Maputo, está localizado


30 Km a Norte da cidade de Maputo, entre a latitude de 250 41’20” Sul e longitude de 320
40’30” Este. É limitado a Norte pelo distrito da Manhiça, a Sul pela Cidade de Maputo, a
Oeste pelo distrito da Moamba e cidade da Matola, e a Este é banhado pelo Oceano Índico.

A superfície1 do distrito é de 699 km2 e a sua população está estimada em 119 mil habitantes
à data de 1/7/2012. Com uma densidade populacional aproximada de 170 hab/km2, prevê-se
que o distrito venha a atingir, em 2020, os 184 mil habitantes. A estrutura etária do distrito
reflecte uma relação de dependência económica aproximada de 1:1,11 - isto é, por cada 10
crianças ou anciões existem 11 pessoas em idade activa. Com uma população jovem (43,7%,
abaixo dos 15 anos), o distrito de Marracuene tem um índice de masculinidade de 92,9% (por
cada 100 mulheres existem 93 homens) e uma taxa de urbanização de 14,4%, concentrada na
Vila de Marracuene e zonas periféricas de matriz semi-urbana.

5.1.2. Clima

O clima do distrito é “tropical chuvoso de savana”, influenciado pela proximidade do mar.


Caracteriza-se por temperaturas quentes com um valor médio anual superior a 20 ºC e uma
amplitude de variação anual inferior a 10 ºC. A humidade relativa varia entre 55 a 75 % e a
precipitação é moderada, com um valor médio anual entre 500 mm no interior e 1.000 mm no
litoral. A estação chuvosa vai de Outubro a Abril, com 60% a 80% da pluviosidade
concentrada nos meses de Dezembro a Fevereiro O distrito é atravessado no sentido Norte-
Sul ao longo de uma extensa planície pelo rio Incomáti, que vai desaguar no Oceano Índico,
no delta da Macaneta

35
5.1.3 Relevo e solos

A zona alta do distrito é constituída principalmente por sedimentos arenosos eólicos (a


ocidente e ao longo da costa) com ocorrência de areias siliciosas. A planície aluvionar, ao
longo do rio Incomáti é de solos argilosos, estratificados e tufosos. A faixa litoral de dunas de
arreia na separação entre o mar e o rio Incomáti na zona da Maçaneta corre o risco de
desaparecimento, o que a acontecer, teria consequências ecológicas graves para os Distritos
de Marracuene, Manhiça e Magude. Com propensão a períodos de seca, a sua vegetação é
constituída por savana de gramíneas e arbustos, sendo o solo recomendado para a criação do
gado bovino e pequenos ruminantes. O vale do Incomáti, ao longo de uma faixa de 40 km de
comprimento, tem solos de bom potencial agrícola e pecuário, que são explorados por um
vasto tecido de agricultura privada e familiar.

5.1.2. Economia

A agricultura é a base da economia distrital, tendo como principais culturas as hortícolas,


arroz, milho, mandioca, batata-doce e bananas. As espécies de gado predominantes são os
bovinos, caprinos, suínos e aves, destinadas para o consumo familiar e comercialização.
Afectado pela excessiva procura de terrenos proveniente da cidade de Maputo, Marracuene
tem sido palco de vários conflitos ligados à posse da terra. No início do 2011, como tem
acontecido nos últimos anos, o Distrito foi assolado por inundações em toda a zona baixa,
com maior incidência na margem esquerda do rio Incomáti onde quase todas as culturas em
campo foram perdidas. No concernente as inundações, referir que o Distrito perdeu cerca de
2.650ha, o que afectou directamente a mais de 586 famílias, principalmente no posto
Administrativo de Machubo. Esta situação pode ser atenuada pelo facto de a zona beneficiar
de uma razoável integração regional de mercados, bem como poder ter acesso a actividades
geradoras de rendimento. O Rio Incomáti é o principal recurso hídrico, favorecendo a prática
da actividade pesqueira e agro-pecuária.
A pequena indústria local (pesca, carpintaria e artesanato) surge como alternativa imediata à
actividade agrícola, ou prolongamento da sua actividade. A agro-indústria e alimentar
possuem 5 pequenas unidades transformadoras. O Distrito de Marracuene possui 2 indústrias
florestais das quais uma em funcionamento. Esta indústria processou em 2012 cerca de

36
157.686 pranchas de madeira serrada de Mondzo. O grau de realização ainda é muito baixo
porque encontra-se na fase inicial da exploração florestal.

Figura 1. Localização do Distrito

Fonte: MAE (2012)

37
5.2. Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados

5.2.1. PERFIL DOS ENTREVISTADOS

O gráfico abaixo ilustra a composição dos respondentes em termo de género. 57%


Corresponde as mulheres e 43% corresponde aos homens. Destes como foi referido na
amostra fazem parte membros da sociedade civil, os beneficiários, isto é a comunidade no
geral, membros de órgãos locais do Estado, os de conselho consultivos locais.

Gráfica 1. Género dos Funcionários Inquiridos

Fonte: Autora (2017).

Em relação a faixa etária dos respondentes, o gráfico abaixo ilustra os intervalos dos anos dos
mesmos. A maior percentagem corresponde aos que estão no intervalo de 41 a 50 anos com
41%, seguido dos que estão no intervalo de mais de 51 anos com 27%, em seguida estão os
que estão no intervalo de 31 a 40 anos com 21% e por último os que estão no intervalo de 21
a 30 anos.
A questão da faixa etária, pode ser justificada pelo tipo da amostra que o estou tem. Pois os
conselhos consultivos locais, a comunidade geral constituída por pessoas com uma idade um
pouco avançada a razão para não ter membros nos respondentes que esteja no intervalo de 10
a 20 anos. Para além de que no geral os respondentes estão uma idade já madura.

38
Gráfico 2. Faixa Etária dos Inquiridos

Fonte: Autora (2017).

No que tange ao nível de escolaridade dos respondentes, o gráfico abaixo ilustra a


representatividade segundo os níveis destes. A maior percentagem corresponde aos que tem
nível primários com 28%, seguido dos que não tem nenhum nível de escolaridade com 26%,
e 20% correspondendo aos que tem como formação técnica e secundaria com 16% e por
último com nível superior correspondendo a 10%. Portanto, é notório que a maior
percentagem no geral, as mulheres são que tem nível de escolaridade muito baixo e sem nível
de escolaridade até.

Gráfico 3. Nível de Escolaridade dos Inquiridos

Fonte: Autora (2017).

39
No que tange ao nível de escolaridade por sexo, o gráfico abaixo ilustra a grande diferença
existentes entre estes. Nos que não tem nível algum as percentagens são elevada para as
mulheres com 39% de mulheres sem níveis algum em contra partida os homens com 15%,
quanto ao nível primário 44% corresponde as mulheres e os homens com 31%, os que tem
nível secundário 31% corresponde aos homens e 17% as mulheres, os níveos técnico e
superior corresponde aos homens com 11% e 8% respectivamente.
Os dados acima ilustram o desnível entre homens e mulheres no que tange o nível de
escolaridade. Estes dados abaixo ilustrados pelo gráfico estão ligados a decisão familiar de
quem deve ir a escola entre homens e mulheres. Como á apresentado no Relatório de
Acompanhamento Global da EPT (2003;13),
“…a decisão de mandar uma criança para a escola é tomada pela família.
Pesquisas recentes mostram que os recursos, o trabalho e as oportunidades não
são distribuídos de forma igualitária entre os membros da família, como
sustentava a teoria tradicional. Seria verdade que as mulheres e meninas
enfrentam maiores dificuldades que os homens e meninos, em parte porque
elas exercem menos influência nas decisões familiares…”

Gráfico 4. Nível de Escolaridade por sexo

Fonte: A autora (2017)

A forma pela qual o poder é compartilhado dentro da família é reflexo de normas que valem
para a sociedade como um todo. As desigualdades de género mais marcantes são encontradas
em sociedades onde as mulheres são confinadas ao ambiente doméstico. Outros valores, tais
40
como os princípios patrilineares de herança e descendência, contribuem para limitar ainda
mais as oportunidades de vida das mulheres. Essas sociedades caracterizam-se por uma nítida
preferência por filhos de sexo masculino e discriminação contra as filhas (mulheres), que
começam nos primeiros anos de vida. (R. A. G- EPT, 2003;15).
Em relação a representatividade dos respondentes, a maior percentagem corresponde a
comunidade no geral, que são os beneficiário que são os executores dos projectos com 49%,
seguido de 21% corresponde e aos membros de órgãos locais do Estado, seguido de 18%,
dos membros dos conselhos consultivos locais e 12% da sociedade civil local.

Gráfico 5. Representatividade dos Inquiridos

Fonte: Autora (2017).

5.2.2. ESTEREÓTIPOS DE GÉNERO VERSUS PROJECTOS

No que tange a questão referente a diferenças entre projectos para homens e mulheres. De
referir que 68% dos respondentes dizem que não, há diferença entre projectos para homens e
mulheres, seguido de 21% dos que dizem que sim e 11% dos que dizem em parte. A questão
de projectos de homens ou para mulheres tem criado muitas discussões, pois existe um
pensar segundo qual algumas actividades só e só são para homens e outras para as mulheres.
Esta forma de pensar que é tão antigo ainda prevalece em muitos sectores de actividade.
Criando uma divisão de actividades em função de sexo.

41
Como afirma Hirata e Kergoat (2007) citado por Sousa, L. P. e Guedes, D. R. (2016:124) a
relação social recorrente entre o grupo dos homens e o das mulheres é considerada "relações
sociais de sexo". Para as autoras, a divisão sexual do trabalho é fruto da divisão social
estabelecida nas relações sociais entre os sexos, divisão essa modulada histórica e
socialmente e instrumento da sobrevivência da relação social entre os sexos.

Gráfico 6. Diferenças entre Projectos para Homens e Mulheres


Fonte: Autora (2017).

A divisão do trabalho proveniente das "relações sociais de sexo" reservou às mulheres a


esfera reprodutiva e aos homens, a esfera produtiva, estabelecendo uma relação assimétrica
entre os sexos que cria e reproduz concomitantemente as desigualdades de papéis e funções
na sociedade. As relações sociais entre os sexos se apresentam desiguais, hierarquizadas,
marcadas pela exploração e opressão de um sexo em contraponto à supremacia do outro.

Dos entrevistados foram unânimes s em afirmar que decerto modo a prática mostra que há
diferença nos projectos de homens e de mulheres. Pois maior parte dos projectos financiados
são os que tem homens como responsáveis. A mesma questão quando feita aos membros de
conselhos consultivos distritais, alguns deles alegam que os projectos bem-feitos pertencem
aos homens dai que há mais projectos de homens financiados do que projectos de mulheres.

"Ao longo da história, os papéis de género têm-se tornado rígidos e


estereotipados em grande parte das sociedades, consolidando a ideia de que
aos homens caberia, naturalmente, uma função na produção (ideologia do
provedor) e às mulheres um papel quase exclusivo na esfera da reprodução".

“… podemos dizer de tudo, mas há trabalhos para homens e há trabalhos


para mulheres… nem tudo que um homem faz a mulher faz… por isso deve
haver diferença entre projectos de mulheres e projectos de homens..”

Quanto a aprovação dos projectos tomando em conta a questão do sexo. De referir que 79%
dos respondentes dizem que sim os projectos são aprovados tomado em consideração ao
sexo, seguido de 13% que dizem em parte e por último 8% dos que dizem não.

42
Gráfico 7. Aprovação dos Projectos em Função de Sexo

Fonte: Autora (2017).

Quanto a questão de direitos iguais entre homens. De referir que 79% dos respondentes
dizem que sim os projectos são aprovados tomado em consideração ao sexo, seguido de 13%
que dizem em parte e por último 8% dos que dizem não.
Tomado como base a lei Magna de Moçambique a constituição da Republica no Artigo 35
(Princípio da universalidade e da igualdade) Todos os cidadãos são iguais perante a lei,
gozam dos mesmos direitos e estão sujeitas aos mesmos deveres, independentemente da cor,
raças, sexo, origem étnica, lugar de nascimento, religião, grau de instrução, posição social,
estado civil dos pais, profissão ou opção política.
O Artigo 36 (Princípio da igualdade de género) acrescenta que homem e a mulher são iguais
perante a lei em todos os domínios da vida política, económica, social e cultural. Mas
questões que em função da cultura de cada local deve ser observadas:
Para tornar-se homem ou mulher é preciso submeter-se a um processo que
chamamos de socialização de gênero, baseado nas expectativas que a cultura
de uma sociedade tem em relação a cada sexo. Isto de certo modo
determinado a desigualdade entre ambos. Muito embora a constituição fale da
igualdade entre homens e mulheres na realidade as coisas são completamente
diferentes.

43
Gráfico 8. Direitos Iguais entre Mulheres e Homens

Fonte: Autora (2017).

Tomando como base os artigos citados acima da constituição, não há nenhum outro
procedimento que deve ser contrário ao prescrito na constituição. Mas a realidade mostra
algo completamente diferente do que se pensa face a questão ada igualdade. Pelo número de
projectos financiados é fácil notar o não cumprimento destes elementos, pós há mais
projectos de homens em relação a mulheres.
A crença de que o sexo feminino era inferior ao sexo masculino, determinava tratamentos
diferentes entre sexos, nomeadamente em contexto laboral, havendo trabalhos destinados às
mulheres e outros aos homens, resultado de um preconceito alimentado por falsas
justificações para inferiorizarem as mulheres.
No entanto, Freitas (2011: 27) refere que as mulheres, embora submetidas aos maridos,
detinham nas suas mãos o poder de gerir a vida familiar em que a “dona de casa é a pessoa
que dirige a actividade diária, que superintende à generalidade dos acontecimentos para o
bem-estar da família. A administração do orçamento familiar faz parte do seu papel
instrumental enquanto tesoureira da família, papel de prestígio para a mulher, embora
estivesse subordinada ao marido.”

5.2.3. GÉNERO E OS CONSELHOS CONSULTIVOS LOCAIS


Quanto ao processo de aprovação dos projectos toma em conta a presença da mulher ou há
tem havido atitudes discriminatórias face a mulher. De referir que 60% dos respondentes
dizem que não, que a aprovação dos projectos não toma em consideração a presença de

44
mulheres nos mesmo, seguido de 26% dos que dizem que em parte e por ultimo 14% dos que
dizem sim.

“…se não houvesse atitude discriminatória por parte dos homens, haveria um
numero considerável de projectos com participação da mulher como gestora.
Mas a realidade mostra algo completamente diferente… são muito poucos os
projectos em que tem a participação da mulher como gestora….”.

Gráfico 9. Aprovação dos Projectos

Fonte: Autora (2017).

“…há de factos projectos meramente para homens. Mas há projectos que


ambos pode trabalhar conjuntamente. O que nota-se não é o facto de se
trabalhar conjuntamente. Mas sim o facto de a mulher estar a gerir um
projecto enquanto há homens, este é que é o problema…. Pis muitos projectos
aqui financiados tem a participação das mulheres, mas sim como
subalternas…”

“… O mesmo projecto, pode ser feito por um homem. Mas se for uma mulher
a submeter como gestora do mesmo com as outras, este não é aprovado….
Mas se invertermos a situação ter como gestor principal o homem ai sim este
é aprovado. Passa ater requisitos suficientes para ser aprovado…. Este é que
é o problema…”

45
Em relação ao entendimento que se tem se o CCL no desenvolvimento das suas actividades
promovem a igualdade entre homens e mulheres? de referir que 77% dos respondentes
dizem que não, os conselho consultivo local não promovem a igualdade de género entre
homens e mulheres, seguido de 14% dos que dizem que sim promovem e por ultimo 9% dos
que dizem que promovem em parte.

Gráfico 10. CCL na Promoção da Igualdade entre Homens e Mulheres

Fonte: Autora (2017).


Os conselhos consultivos estão composto maioritariamente te por homens, E muitos destes
com elementos culturais muito forte. Isto é, a questão da mulher é algo cultural onde a
mulher não pode estar ao mesmo nível com os homens dai que no processo de promoção da
mulher porco se destaca.
“…Às vezes, parece que nós, mulheres, não somos capazes de vencer o muro
da cultura, dos machismos dos homens, pois poucas vezes nos impomos no
conselho consultivo, cingimos nos em aceitar as deliberações feitas pelos
homens que são a maioria. …”…nos mesmo criamos situações da nossa não
promoção…”

Para que efectivamente se concretize a perspectiva de promoção de igualdade de género é


fundamental transformar as condições concretas que permitam às mulheres reverter sua
condição de desigualdade. Isto, o elemento legal é o mais importante, alterando as
percentagens de 30%, passando para 50% para homens e 50% para mulheres só assim, algo
poderá mudar substantivamente.
46
Em relação a observação de estereótipos de género no processo de aprovação dos projectos
financiados por Fundo de Distrital de Desenvolvimento pelo CCL, de referir que 57% dos
inquiridos dizem que sim existe estereótipos neste processo, seguido dos que dizem em parte
com 29% e por fim dos que dizem não com 14%. Observando o número de projectos onde os
principais gestores são mulheres de facto, é simples perceber que algo existe no processo de
aprovação de projectos onde a proponente é uma mulher. Pois existe uma percepção de
impotência por parte duma mulher na estão do projecto. A impotência é vista pelos homens e
não pelas mulheres.

Gráfico 11. Estereótipos de Género

Fonte: Autora (2017).

Os estereótipos de género estão ligadas as relações de género, como categoria histórica


analítica, oferecem reflexões e explicitações sobre as práticas culturais e sociais que
condiciona as formações identitárias dos sujeitos, no caso de ser homem e ser mulher. De tal
modo, que ser homem ou mulher não é definido pelo sexo biológico de cada um/a, mas a
partir de relações sociais e culturais que determinam lugares, deveres e direitos distintos
conforme a identidade de género atribuída.

47
Segundo um dos membros do conselho consultivo distrital, este foi muito claro na sua forma
de pensar relativamente a projectos geridos por mulheres.
“… não é por mal, mas as mulheres devem cuidar de casa e não se envolver
em gestão de dinheiro… a mulher foi feita para estar em casa e cuidar dos
filhos e não para gerir empresas… Uma mulher se estiver por de frente dum
projecto… mesmo que seja da agricultura que ela sabe muito bem fazer….
Não vai dar certo, pois precisa dum homem para dirigir as coisas… a mulher
não tem capacidade de gerir coisas grandes…”
Alguns membros tem um parecer diferente face a mesma realidade. Socorrendo se da lei
alegam:
“… não somos nos os homens, mas sima as próprias mulheres dizem
abertamente no processo de aprovação dos projectos, que não podemos
aprovar de forma igualitários os projectos das mulheres, pois a lei já
determina uma percentagem mínima que deve ser seguida a de 30%.... “…
temos que tomar em consideração a isso…”,
“… não fomos nos que escrevemos este documento, temos que vera a nossa
realidade… mulher não é igual ao homem, isto esta claro…”.
Entre os modelos que tentam introduzir a dimensão do capital humano no crescimento o de
Lucas (1988). Se tomarmos em consideração o modelo que introduz a dimensão do capital
humano introduzido por Lucas (1988), que baseia-se no pressuposto de que
independentemente do seu nível de qualificação, qualquer trabalhador que trabalhe com
colegas com alto nível de capital humano é produtivo. Pode-se dizer que não se pode
justificar a falar de capacidade da mulher, pois se este já vem trabalhando com o homem,
acredita-se que o seu nível de capital humano já tenha se consolidado considerando o tempo e
a experiência que tenha adquirido. Pois segundo Lucas capital humano é determinado pela
quantidade de tempo dedicada à produção.
Em relação a questão referente a opinião dos respondentes no que concerne aos órgãos
locais se promovem satisfatoriamente a igualdade e relações de género nos projectos
financiados por FDD. De referir que 52% dos respondentes dizem que não, não é notável a
promoção dos órgãos locais na igualdade e relações de género, seguidos dos que dizem em
parte com 33% e por fim os que dizem sim com 15%.

48
Gráfico 12. Promoção pelos Órgãos Locais na Igualdade e Relações de Género

Fonte: Autora (2017)

Tomando em consideracao que os orgao locais do Estado, estao la representados os


dirigentes do do Estado localmemte, isto é o Administrador, Secretario Permanete e outros
no caso do distrito, estes por sua natureza tem um poder muito forte na promocao,
independentemente da posicao dos CCL, os orgao locais podem influenciar positivamente
nas decisões que tem a ver com a participação da mulher de forma activa.
Como refere o Guião de Organização e o Funcionamento dos Conselhos Consultivos Locais,
no seu artigo 2, estabelece que:

“…o Conselho Consultivo Local é um órgão de consulta das autoridades da


administração Local, na busca de soluções para questões fundamentais que
afectam a vida da população, o seu bem-estar e desenvolvimento sustentável
local, integrado e harmonioso (MAE/MPD, 2009).

Nisto, a questão de participação da mulher e as relações de género nos projectos financiados


pelo FDD, é são por si só um problema que deve preocupar os órgãos locais do Estado ao
nível distrital e do CCL.

49
CAPÍTULO VI - CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÃO
A presente Dissertação subordinado ao tema "As Relações de Género no Desenvolvimento
Local: Uma Reflexão da Participação da Mulher nos Projectos Financiados por Fundo
Distrital de Desenvolvimento na Vila Sede de Marracuene, 2010 – 2014", tinha como
objectivo geral reflectir sobre a participação da mulher nos projectos financiados por Fundo
de Desenvolvimento no distrito na vila sede de Marracuene. E tinha três objectivos
específicos: caraterizar as relações de relações de género no desenvolvimento local na Vila
Sede de Marracuene; identificar os desafios colocados às mulheres no acesso aos projectos
financiados pelo Fundo de Desenvolvimento Distrital na Vila Sede de Marracuene e analisar
o nível de participação dos homens e mulheres nos projectos financiados pelo Fundo do
desenvolvimento Distrital na Vila Sede de Marracuene.
Para alcançar os objectivos descritos, foi levantada a seguinte problema em forma de questão
de partida: Em que medida as relações de género estão por de traz do fraco nível da
participação da mulher nos Projectos Financiados pelo Fundo de Desenvolvimento Distrital
na vila sede de Marracuene?

Como sustentáculo da questão de partida, foram levantadas as seguintes questões-chave


com base nos objectivos específicos:

i. Como caracterizam as relações de relações de género no desenvolvimento local na


Vila Sede de Marracuene?
ii. Quais são os desafios colocados às mulheres no acesso aos projectos financiados
pelo Fundo de Desenvolvimento Distrital na Vila Sede de Marracuene?
iii. Qual é o nível de participação dos homens e mulheres nos projectos financiados
pelo Fundo do Desenvolvimento Distrital na Vila Sede de Marracuene?

Para responder às questões-chave do estudo, foram levantadas duas hipóteses de trabalho:


Hipótese 1. É provável que as relações de género, questões culturais, nível de escolaridade e
garantia de retorno de investimento podem estar por detrás do fraco nível de participação das
mulheres no acesso ao Fundo de Desenvolvimento Distrital, e Hipótese 2. As relações de
género, questões culturais, nível de escolaridade e garantia de retorno de investimento não
está por detrás do fraco nível de participação das mulheres no acesso ao Fundo de
Desenvolvimento Distrital.

50
A primeira hipótese é de certo modo confirmada pois as relações de género, questões
culturais, nível de escolaridade tem um impacto na participação da mulher no acesso ao
fundo de desenvolvimento distrital. Visto que, a relação desigual entre homem e mulher,
relacionado com a força cultural subjugam a mulher na sua inferioridade face ao homem. O
retorno de investimento Sendo confirmada a primeira hipótese logicamente a segunda
hipótese não é confirmada, porque as duas hipóteses uma é positiva e outra é negativa.

6.1. Conclusão
Diante de todo o exposto, ao longo deste trabalho e nas análises empíricas concluiu-se que,
Participação da Mulher nos Projectos Financiados por Fundo Distrital de Desenvolvimento
da Vila Sede de Marracuene é fraca. A variável nível de escolaridade de escolaridade que
entre homens e mulheres os homens tem um nível de escolaridade superior que as mulheres
mesmo estes sendo em numero reduzido.
Em relação a representatividade dos diversos actores em órgão de tomada de decisão na
avaliação dos projectos é notário que a mulher esta em desvantagem pois o homem esta com
maior representatividade o que de certo modo favorece de na tomada de decisão a projectos
em que a sua gestão é feita por homens em detrimento da mulher.
Quanto ao tipo de projectos, é notório que não há diferença entre projectos de homens e de
mulheres, mas a realidade demostra trada é completamente diferente visto que há mais
projectos de homens que mulheres aprovados. Existindo posições de alguns homens que
demostram explicitamente que sendo o homem diferente da mulher biologicamente, também
os projectos geridos por estes são diferentes dada a natureza dos mesmo.
No tange ao processo de aprovação dos projectos os dados ilustraram que o processo de
aprovação dos projectos financiados pelo FDD de certo modo toma em consideração ao sexo,
pois pelos numero de projectos que deram entrada entre projectos de homens e de mulheres
houve mais aprovação de projectos de homens e não de mulheres, mesmo que os mesmo
tenham a mesma actividade. Portanto, mesmo sabendo que em momento algum a lei aborde a
questão de sexo para aprovação dos projectos.

Quanto ao processo de aprovação dos projectos toma em conta a presença da mulher ou há


tem havido atitudes discriminatórias face a mulher. De referir que 60% dos respondentes
dizem que não, que a aprovação dos projectos não toma em consideração a presença de
51
mulheres nos mesmo, seguido de 26% dos que dizem que em parte e por ultimo 14% dos que
dizem sim.

Foi notório que a base da fraca participação da mulher nos projectos financiados pelo FDD,
estão os estereótipos de género que de certo modo ganha forca no momento de aprovação dos
mesmo, pois pelo número de projectos onde os principais gestores são mulheres de facto, é
simples perceber que algo existe no processo de aprovação de projectos onde a proponente é
uma mulher. Pois existe uma percepção de impotência por parte duma mulher na estão do
projecto. A impotência é vista pelos homens e não pelas mulheres.
Há uma percepção também por parte das mulheres que o órgão locais do estão não tem feito
muito para a mudança da fraca participação da mulher nos projectos financiados pelo FDD.

6.2. Recomendações
Com vista a garantir a participação efectiva da Mulher nos Projectos Financiados por Fundo
Distrital de Desenvolvimento na Vila Sede de Marracuene, deixam se as seguintes
recomendações:

 Criação de capacidade de mobilização dos CCL e das comunidades locais para a


participação da mulher em projectos para o acesso ao FDD.
 Garantir uma maior participação igualitária entre homens e mulheres no acesso ao
financiamento dos projectos de FDD “7 milhões”;
 Os fóruns locais deve ser constituídos por igual número de mulheres e homens de
modo que as discussões seja equilibradas para bem e o desenvolvimento do local.
 Não se tomar como base os 30% previstos no guião da participação da mulher nos
fóruns e nos conselhos consultivos locais.

52
7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Amâncio, L. (1993). Género - Representações e Identidades. Sociologia, Problemas e
Práticas.
Araújo, Helena, Costa (2000).”Política para a igualdade entre os Sexos em Educação em
Portugal. Uma aparência de realidade”. Ex æquo. Nº. 2/3, pp. 141-151.

Arnstein, S.R. (2015). A Ladder of Citizen Participation. In Journal of the American Institute
of Planners, Vol. 35, No. 4, July 1969, p. 216-224. Disponível em: . Acesso em: 14 jan.
Conselho De Ministros Do Governo De Moçambique. Decreto número 90/2009 e
regulamento do fundo distrital de desenvolvimento. República de Moçambique: Maputo,
Dezembro de 2009.

Decreto 11/2005. Boletim da República. I Série n° 23, 10 de Junho de 2005. Imprensa


Nacional de Moçambique.

Franco, A. de. (2000). Por que precisamos de desenvolvimento local integrado e sustentável?
Revista Século XXI, Rio de Janeiro, v. 1, n. 3, p. 1-61, 2000.
Gallicchio, E.; Camejo, A.(2005). Desarrollo local y descentralizaciónenAmérica Latina:
nuevas alternativas de Desarrollo. Montevideo: Dedos.
Maimuna, I.(2007). A Contribuição da Mulher no Crescimento Económico em Moçambique
– Um Exercício da Contabilidade do Crescimento, in Conferência Inaugural do IESE
“Desafios para a investigação social e económica em Moçambique, 19 de Setembro
Maputo.

MASC. (2011). Guião de Consulta Para a Participação Comunitária e da ociedade Civil na


Promoção da Boa Governação
Moçambique Lei 8/2003 - Boletim da República. I Série n° 20, 1º Suplemento, 19 de Maio de
2003. Imprensa Nacional de Moçambique.

Pateman, C.(1992). Participação e teoria democrática. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992
Plano Estratégico de Desenvolvimento Distrital, Governo Distrital de Marracuene.

Saffioti, H.I. B.(1992). Rearticulando gênero e classe social. In: OLVEIRA, A.; BRUSCINI,
C. (Org.). Uma questão de género. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos; São Paulo:
Fundação Carlos Chagas.

53
Santos, S. M. de M.(2005).O pensamento da esquerda e a política de identidade: as
particularidades da luta pela liberdade de Orientação Sexual. 333 p. Tese (Doutorado
em Serviço Social) Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, UFPE, Recife.
Sayago, D. A. V. (2000).A invenção burocrática da participação: discursos e práticas no
Ceará. Tese (Doutorado) Departamento de Sociologia da Unive

Scott, Joan.(1990). Género: uma categoria útil de análise histórica. In: Educação e
Realidade. Porto Alegre, v.16, n.2, p., 5-22, jul/dez.
Serpa, S. (2011). Papéis de género no 1.º ciclo do ensino básico: promover a igualdade de
oportunidades”. Angra do Heroísmo. Dissertação de Mestrado apresentada à
Universidade dos Açores.
Sousa, L. P. e Guedes, D. R. (2016). A desigual divisão sexual do trabalho: um olhar sobre a
última década. Estudos Avançados, 30(87), 123-139. https://dx.doi.org/10.1590/S0103-
40142016.30870008

Tvedten, Inge, Paulo, Margarida E Montserrat, Georgina (2008) Políticas de Género e


Feminização da Pobreza em Moçambique. Relatório CMI, Bergen, Noruega: Chr.
Michelsen Institute.

UNAIDS e MMAS, (2009), Análise Situacional do Género e HIV e SIDA em Moçambique,


Maputo.

Zapata, T. (2006). Estratégias de desenvolvimento local. São Paulo: Coordenadoria de


Assistência Técnica do Governo do Estado de São Paulo, 2006. Disponível em: . Acesso
em: 5 maio 2016.

 Legislação e Outros Instrumentos Normativos

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA (1990). Constituição da República de Moçambique.


Maputo: Imprensa Nacional de Moçambique.

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA (2003) Lei nº 8/2003, de 19 de Maio: Estabelece


Princípios e Normas de Organização, Competência e Funcionamento dos Órgãos
Locais do Estado. Maputo: Imprensa Nacional de Moçambique.
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA (2005). Lei 12/2005 de 23 de Dezembro: Estabelece a
Alocação do Orçamento de Investimento em Iniciativas Locais. Maputo: Imprensa
Nacional de Moçambique.
54
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA (1990) Constituição da República de Moçambique.
4ªedição. Maputo: Imprensa Nacional de Moçambique.

CONSELHO DE MINISTROS (2005) Decreto no 11/2005, de 10 de Junho: Aprova o


Regulamento da Lei dos Órgãos Locais do Estado. Maputo: Imprensa Nacional de
Moçambique.
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA (2009). Decreto 90/2009, de 15 de Dezembro de 2009.
Aprova o Fundo de Desenvolvimento Distrital. Maputo: Imprensa Nacional de
Moçambique.

Perfil Distrital de 2005, Ministério da Administração Estatal, Direcção Nacional da


Administração Local.
Decreto 6/2006, de 12 de Abril – Estrutura Orgânica do Governo Distrital.
Decreto 11/2005, de 10 Junho. Regulamento da Lei dos órgãos locais do Estado.
Diploma Ministerial 67/2009, de 17 de Fevereiro. Guião para Organização e Funcionamento
dos Conselhos locais.

55
APÊNDICE

i
APÊNDICE – I Guião de Colecta de dados

Tese de Investigação Cientifica


Especialização em Governação e Desenvolvimento Local

Esse questionário faz parte da tese na especialização em Governação e Desenvolvimento Local

com o Tema: “As Relações de Género no Desenvolvimento Local: Uma Reflexão da

Participação da Mulher nos Projectos Financiados por Fundo Distrital de

Desenvolvimento na Vila Sede de Marracuene, 2010 – 2014”.

Os dados aqui colectados serão tratados como sendo estritamente confidenciais, não podendo
ser fornecidos a terceiros, podendo apenas ser feita uma análise explicativa e percentual dos
mesmos.

Esperamos contar com a sua colaboração nas respostas às questões de pesquisa.

Agradecemos antecipadamente a colaboração


Atenciosamente
Autora: Joana Bila

PERFIL DOS INQUIRIDOS

Data_______/______/________

1. Género Sexo F M

2. Idade

de 18 a 20 anos 21 a 30 anos 31 a 40 anos 41 a 50 anos +51anos

i
3. Escolaridade
Nenhuma Primária Secundária Técnico Superior

Outro

4. Representatividade dos Inquiridos

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

ESTEREÓTIPOS DE GÉNERO VERUS PROJECTOS

5. Há diferenças entre projectos para homens e mulheres?

Sim ________ Não_______ Em Parte ________

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

6. Em caso afirmativo quais são as principais diferenças?


___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

7. Considera que os projectos são aprovados sem tomar em conta se no sexo?


Sim ________ Não_______ Em Parte ________

ii
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

8. Considera que mulheres devem ter os mesmos direitos dos homens?

Sim ________ Não_______ Em Parte ________

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

GÉNERO E OS CONSELHOS CONSULTIVOS

9. No processo de aprovação dos projectos toma em conta a presença da mulher ou há


tem havido atitudes discriminatórias face a mulher.
Sim ________ Não_______ Em Parte ________

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

10. Em seu entender os CCL no desenvolvimento das suas actividades promovem a


igualdade entre homens e mulheres?
Sim ________ Não_______ Em Parte ________

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

iii
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

11. Observa-se alguns estereótipos de género no processo de aprovação dos projectos


financiados por Fundo de Distrital de desenvolvimento pelos CCL.
Sim ________ Não_______ Em Parte ________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

12. Na sua opinião a orientação dos manuais ou das leis contemplam satisfatoriamente a
igualdade de género?
Sim ________ Não_______ Em Parte ________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

iv
APÊNDICE – II NÚMERO DE PROJECTOS FINANCIADOS ATRAVÉS DO FDD “7 MILHÕES”

Número de Projectos Financiados Através do FDD “7 Milhões”


Ano Execução Empre Agric Pec. Agro Pro Pesca Ind Com/Ser Total
HM H M Ob
2010 - - 10 12 4 3 0 14 43 32 11
2011 - - 11 8 4 6 4 9 42 26 16
2012 - - 6 4 7 8 2 8 35 26 9
2013 - - 8 6 3 5 0 7 29 19 10
2014 - - 9 5 2 8 1 9 34 27 7
Total - 44 35 20 30 7 47 183 130 53

Você também pode gostar