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Instituto Superior De Ciências E Educação A

Distância

Ernesto Bilale

Ética e Deontologia Profissional

Tema: A importância pelo respeito pelos Direitos Humanos na sociedade


moçambicana

Tutor:
Mestre Maitu Buanango

Pemba
2021

1
Ernesto Bilale

A importância pelo respeito pelos Direitos Humanos na sociedade moçambicana

Trabalho apresentado como composição da forma de avaliação na cadeira de Ética e


Deontologia Profissional no curso de Administração Pública, do Instituto Superior de Ciências e
Educação a Distância

Tutor:
Mestre Maitu Buanango

PEMBA
2021

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Índice

1. Introdução................................................................................................................................. 4
1.1. Objetivos............................................................................................................................... 6
1.1.1. Objetivo Geral ................................................................................................................... 6
1.1.2. Objetivos Específicos ....................................................................................................... 6
1.2. Metodologia .......................................................................................................................... 6
2. Revisão De Literatura............................................................................................................... 7
2.1. Os Direitos Humanos No Plano Internacional E Regional................................................... 7
2.2. Os Direitos Humanos Em Moçambique ............................................................................. 10
2.3. O Desafio Do Empoderamento Dos Cidadãos Em MatériaDos Direitos Humanos........... 12
3. Considerações Finais .............................................................................................................. 14
4. Referências Bibliograficas ..................................................................................................... 16

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1. Introdução

O presente trabalho de pesquisa encere-se ao estudo sobre, a importância pelo respeito pelos
Direitos Humanos na sociedade Moçambicana. Consagrar e proteger os direitos que constituem o
substrato da própria condição humana, na sua plenitude, é a razão de ser dos Estados modernos. É
o triunfo do ideal do «Estado de Direitos Humanos». Entretanto, a luta pela consagração,
respeito, promoção e garantia dos Direitos Humanos tem uma longa trajetória percorrida e a
percorrer. Se a longa trajetória em prol dos Direitos Humanos tem na aprovação da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, através da Assembleia Geral da Organização das Nações
Unidas, em 1948, o seu principal marco.

Os Direitos Humanos tal como os conhecemos hoje, seguiram um longo processo de evolução ao
longo da história da humanidade. Tal processo arraiga-se em duas componentes, que se
entrelaçam entre elas, abrangendo as mais diversificadas esferas da vida em sociedade: por um
lado, uma de cunho jurídico, por outro uma de tipo mais filosófico. Reflexões éticas sobre a
dignidade do indivíduo, os seus direitos e deveres, assim como sobre valores fundamentais foram
levadas a cabo desde os tempos mais antigos e nas diversas partes do planeta, como demonstram
escolas filosóficas quer ocidentais (por exemplo na Grécia ou em Roma), quer orientais (como na
China, Índia, etc.) e africanas (o antigo Egito).

Entretanto, nota-se um desfasamento constante e comum a todas essas sociedades no que diz
respeito ao relacionamento entre tais reflexões éticas, sempre elitistas e acessíveis a uma fatia
muito restrita de indivíduos instruídos, e a codificação dos valores que elas defendiam através de
leis positivas. Acima de tudo porque se tratava de sociedades fortemente hierarquizadas e
baseadas, elas todas, no sistema esclavagista, pelo que segmentos importantes das respetivas
populações (nomeadamente menores, mas ainda mais mulheres e homens não livres) eram
excluídos do gozo dos supostos direitos fundamentais. Em segundo lugar porque a própria
reflexão teórica a volta de tais direitos ainda era incipiente, começando a ter uma consistência
maior apenas no século XVII com a revolução inglesa e, a seguir, no século XVIII, com as
revoluções americanas e francesas, tendo como base a doutrina do Jus-naturalismo e, a seguir, do
Iluminismo.

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Neste primeiro capítulo apresentar-se-á o complexo relacionamento entre elaboração ética e
estatuição positiva da lei ao longo da história da humanidade, partindo dum pressuposto
fundamental: os direitos humanos, assim como hoje em dia, na maioria dos casos, são concebidos
(ou seja, direitos de tipo individual), levaram muito tempo para se afirmarem e para constarem
nas grandes declarações internacionais assim como nas constituições nacionais dos vários países.
Este processo sempre opunha os direitos dos indivíduos às prerrogativas do Estado ou da
entidade que desempenhava funções de governo. Esta entidade, desde a antiguidade até
aproximadamente o século XX, teve um espaço largamente prevalecente em relação aos
indivíduos. O Estado, na sua forma mais “absoluta” (personificada pelo rei, imperador, senhor
feudal, etc.), dispunha do direito de vida e de morte sobre os seus súbditos. Esta parte do
trabalho visa mostrar como e mediante quais etapas fundamentais as liberdades individuais
ganharam espaço relativamente ao Estado, sem por isso querer desenhar uma trajetória linear
deste processo, complexo e descontínuo.

Aquilo que será apresentado neste capítulo, portanto, não será um historial dos direitos humanos,
mas sim uma reflexão de cunho filosófico e histórico de como o indivíduo, enquanto pessoa que
goza de prerrogativas “naturais” e invioláveis, acaba se tornando sujeito central de Direito.
Ademais, na segunda parte ver-se-á como, a partir das grandes declarações sobre os direitos
humanos do século passado, a cultura africana relacionou-se com elas, procurando formas
originais para compatibilizar os seus princípios com os valores supostamente universais típicos
da teoria dos direitos humanos, juntamente com evidentes limitações da prática de um Estado que
deve não só abster-se em violar os direitos fundamentais dos seus cidadãos, mas sim protege-los.
O que, de frequente, não acontece, como o caso moçambicano claramente demonstra.

A República de Moçambique paralelamente em Cabo Delgado, no contexto da consolidação do


Estado de Direito Democrático, tem defendido e pautado por uma política fundada na boa
governação, legalidade, justiça, proteção e promoção dos Direitos Humanos, incluindo os direitos
fundamentais da mulher. O pacto político do Estado moçambicano na defesa dos Direitos
Humanos eleva-se à categoria de valor constitucional formal. Com efeito, os Direitos Humanos,
destacando-se a igualdade de todos perante a Lei constituem um dos objetivos fundamentais a
serem prosseguidos através da consagração na Constituição. Desta relação nos termos em que o
fizemos, pretendemos com o presente trabalho alcançar os seguintes objetivos:
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1.1. Objetivos

1.1.1. Objetivo Geral

• Analisar a importância pelo respeito pelos Direitos Humanos na sociedade Moçambicana.

1.1.2. Objetivos Específicos

• Identificar as principais áreas em que há maior déficit de conhecimento em Direitos


Humanos.
• Distinguir as causas e os efeitos do nível de percepção dos principais direitos de cidadania
das populações;
• Descrever as percepções subjetivas sobre os Direitos Humanos e os seus principais
determinantes nos múltiplos estratos sociais, combinando as técnicas qualitativas e
quantitativas.

1.2. Metodologia

No seio da abordagem metodológica qualitativa acima descrita, as técnicas usadas para acatar
informações foram, por assim dizer, adequadas à realidade estudada. As dificuldades, neste
sentido, foram inúmeras, e nem todas elas completamente ultrapassadas.

Importa referir que o material presente na esfera pública sobre o assunto é extremamente
limitado, quase nulo se referido a textos científicos. Os direitos humanos em Moçambique ainda
representa-se como um assunto ao mesmo tempo fértil, fechado e “quente”, de que ninguém quer
falar, fora dos poucos ativistas existentes. Portanto, a primeira fase da pesquisa concentrou-se em
analisar tudo aquilo que estava presente na esfera pública, desde leis, livros, artigos em revistas
científicas, artigos e entrevistas em jornais locais, sobretudo relatórios de ONGs sobre a situação
dos direitos humanos em Moçambique. Como dito acima, as publicações mais recentes sobre o
assunto são constituídas por dissertações de Mestrado ou teses de Doutoramento defendidas no
Brasil por investigadores moçambicanos, eles todos ligados – direta ou indiretamente – ao mundo
policial deste país.

Este material não podia constituir um acervo suficientemente rico para desenvolver uma tese de
doutoramento. Foi assim que iniciou o impérvio caminho da procura de fontes orais e de
documentos oficiais não presentes na esfera pública. O documento mais importante que foi
achado e que não é de domínio público foi o Plano Estratégico da Polícia, conseguido mediante a
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ajuda de um polícia amigo, que o disponibilizou em formato eletrónico. Este documento foi
precioso ao longo do trabalho, porque permitiu perceber o ponto de vista da corporação, em
ausência de estudos científicos válidos.

De forma geral, o grande receio, por parte dos sujeitos interessados, em expressar livremente a
sua opinião constitui um dos resultados da pesquisa: em termos metodológicos, isso obrigou a
investigadora a adequar as suas ferramentas analíticas a uma realidade hostil a qualquer tipo de
colaboração científica, principalmente num momento como o atual caraterizado por uma grande
tensão político-militar ainda não completamente resolvida. Em termos de conteúdos este cenário
comprovou, indiretamente, a total ausência de mecanismos de controlo interno por parte da
polícia, até a adoção da autocensura como meio normal de lidar com as pessoas interessadas no
funcionamento da corporação. Um elemento, este, que também não ajudou em perceber o ponto
de vista da PRM em mérito à matéria estudada.

A estrada da pesquisa, especialmente de assuntos sensíveis como o abordado aqui, é ainda muito
impérvia, em Moçambique: a esperança, todavia, é de ter minimamente contribuído a traçar o
caminho pelo qual outros investigadores poderão trilhar, se calhar usando uma pequena parte
desta tese.

2. Revisão De Literatura

2.1. Os Direitos Humanos No Plano Internacional E Regional

Os Direitos Humanos no plano internacional e regional envolvem um grande número de


instituições e normas internacionais. A grande maioria destas normas emana de instituições
pertencentes ao Sistema das Nações Unidas, que congrega a quase totalidade dos países em
escala mundial (atualmente, a Organização das Nações Unidas conta com 192 países-membros) e
de instituições pertencentes ao Sistema Africano, que congrega a quase totalidade dos países em
escala africana (atualmente são membros da União Africana todos os países africanos).

O Sistema Internacional e Regional dos Direitos Humanos englobam tanto as normas que são
legalmente exigíveis dos Estados que a elas acederam, assim como as normas cujo principal
efeito é uma obrigação moral ou política em relação aos Estados.
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De entre as normas que geram as obrigações legais, em sentido estrito, temos os pactos, estatutos,
tratados e convenções internacionais, como também os seus protocolos opcionais; ao passo que
declarações, como as emanadas da Assembleia Geral das Nações Unidas, princípios, orientações,
padrões e recomendações geram apenas obrigações morais e políticas e devem servir de
orientação aos Estados na condução dos seus assuntos públicos.

Tabela 1. O principal instrumento de Direitos Humana plano Internacional e Regional.

Plano Internacional
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP) (1966)
• Protocolo Facultativo referente ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos
(1966);
• Segundo Protocolo Facultativo referente ao Pacto Internacional dos Direitos
Civis e Políticoscom vista à Abolição da Pena de Morte (1990).
Convenção para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial (1966).
Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais (PIDESC)
(1966).
Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos e Punições Degradantes,
Cruéis ouDesumanas (1984).
• Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos
e Punições
Degradantes, Cruéis ou Desumanas (2002).
• Prostituição e Pornografia Infantis (2000);
Convenção Internacional sobre a Protecção dos Direitos de todos Trabalhadores
Migrantes e dos Membros de suas Famílias (1990).
Convenção para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher
(1995)
Protocolo Facultativo à Convenção para a Eliminação de todas as Formas de
Discriminaçãocontra a Mulher (1999).
Convenção sobre os Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiências (2006).

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Convenção Internacional para a Protecção de todas as Pessoas contra
Desaparecimento Forçado
(Enforced Disappearance) (2006).
Plano Regional
Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos (1986)
Protocolo à Carta africana dos Direitos do Homem e dos Povos sobre os Direitos da
Mulher emÁfrica (2003).
Carta Africana do Bem-estar e dos Direitos da Criança (1990).

Carta Africana sobre Democracia, Eleições e Governação (2007).

Dos vários instrumentos que compõem os mecanismos internacionais e regionais dos Direitos
Humanos destaque vai, no plano internacional, para o Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos de 1966 (com os seus dois protocolos opcionais) e o Pacto Internacional dos Direitos
Económicos, Sociais e Culturais (1966), juntamente com a Declaração Universal dos Direitos
Humanos (1948) que formam o que se convencionou chamar a Carta Internacional dos Direitos
Humanos.

No plano regional, o destaque vai, principalmente, para a Carta Africana dos Direitos do Homem
e dos Povos, principal instrumento de protecção regional dos Direitos Humanos. A par dos
instrumentos dos Direitos Humanos no Sistema Internacional e Regional dos Direitos Humanos
existem órgãos específicos destinados à monitoria do respeito pelos Estados-parte destes tratados
e das suas obrigações, sendo de destacar o Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas,
no plano internacional, e a Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, no plano
regional.

O papel principal destas instituições internacionais e regionais de proteção dos Direitos


Humanos é o de receber e apreciar os relatórios periódicos sobre o respeito dos Direitos
Humanos submetidos pelos Estados-membros destas organizações multilaterais,
chamados mecanismos de revisão de pares.

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2.2. Os Direitos Humanos Em Moçambique

No plano nacional, os Direitos Humanos também encontram uma consagração


satisfatória. Em Moçambique, desde a conquista da independência que a temática dos
Direitos Humanos constitui uma preocupação de todos, principalmente, como forma de
repor os direitos e as garantias fundamentais dos cidadãos, antes negados à maior parte da
população pelo colonialismo.

A primeira Constituição da República Popular de Moçambique, promulgada em 1975,


estipulava uma série de direitos aos cidadãos e, de acordo com o sistema político da
época, centrava-se nos direitos sociais, económicos e nos direitos colectivos.

Ainda neste período inicial da República Moçambique, ratificaram alguns tratados


internacionais e africanos relacionados aos Direitos Humanos, com destaque para
Convenção das Nações Unidas para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
Racial de 1983 e a Carta Africana dos Direitos dos Homens e dos Povos de 1989.

As mudanças político-ideológicas ocorridas no fim da década de 1980, que tiveram na


aprovação da Constituição de 1990 o seu principal marco, permitiram o reforço e
expansão da consagração e protecção dos Direitos Humanos dos moçambicanos, no plano
nacional.

Foi a partir deste novo texto constitucional que os direitos e garantias fundamentais
vincaram raízes no sistema jurídico moçambicano, com a consequente ratificação da
maior parte dos instrumentos internacionais e regionais na área dos Direitos Humanos.
A Constituição de 2004, actualmente em vigor em Moçambique, reafirmou o seu
compromisso com a promoção e protecção dos Direitos Humanos.

Desde o seu preâmbulo, podemos encontrar reafirmado como princípios e objectivos


fundamentais do Estado moçambicano ”o respeito e garantia pelos direitos e liberdades
fundamentais dos cidadãos” e a “defesa e a promoção dos Direitos Humanos e da
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harmonia social e individual”, respectivamente.

Quer na própria Constituição da República quer na legislação ordinária são elencados


vários Direitos Fundamentais/Humanos que gozam os cidadãos Moçambicanos, dentre os
quais podemos destacar:
• O Direito à vida;
• O Direito à assistência na incapacidade e na velhice;
• O Direito à educação;
• O direito à protecção especial e aos cuidados do seu bem-estar da Criança;
• O Direito à saúde;
• O Direito ao ambiente;
• O Direito ao trabalho, à retribuição e segurança no emprego;
• O Direito de propriedade;
• O Direito de recurso aos tribunais;
• A Igualdade de todos perante a lei e da não-discriminação;
• A Liberdade de associação;
• A Liberdade de consciência, de religião e de culto;
• A Liberdade de constituir, aderir e participar de programas e partidos políticos;
• A liberdade de expressão e informação;
• A Liberdade de residência e de circulação.
• A Liberdade de reunião e manifestação;
• A proibição expressa da tortura e de tratamentos cruéis e desumanos;
• Entre outros.

A par da substancial consagração normativa dos Direitos Humanos, encontramos


também, ao nível nacional, a existência de Instituições nacionais de protecção dos
Direitos Humanos, que vão desde as Instituições genéricas, como Tribunais, Provedor
de Justiça, Departamentos ministeriais, etc. até às Instituições especializadas, mormente, a
Comissão Nacional dos Direitos Humanos, criada pela Lei n.33/2009 de 22 de
Dezembro.

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Se a consagração normativa e institucional é uma realidade ao nível nacional, os Direitos
Humanos constituem também objectivos concretos, plasmados em diversas políticas
públicas moçambicanas. Em regra, as políticas públicas actuais não são explícitas ao
relacionar o seu objectivo com os Direitos Humanos, mas as políticas específicas, como
as Políticas do Ambiente e a Política do Trabalho, por exemplo, buscam realizar o
Direito Humano ao trabalho e o Direito Humano ao ambiente saudável; ao passo que as
políticas de desenvolvimento de médio-prazo, como o Plano de Acção do Mecanismo
Africano de Revisão de Pares (MARP) e o Programa Quinquenal do Governo, referem-se
à importância da protecção e promoção dos Direitos Humanos em diversas situações,
além de elencarem as estratégias e prioridades directamente relacionadas com os Direitos
Humanos, como nas áreas de habitação, género, saúde, educação, pessoas com
deficiências, de entre muitas outras.

Entretanto, estudos apontam que, não obstante este quadro normativo, institucional e de
políticas públicas, a efetivação ou implementação dos Direitos Humanos no mundo passa
por uma maior consciencialização dos principais actores em matéria de Direitos
Humanos, com destaque para os cidadãos, sobre a existência, importância e protecção dos
Direitos Humanos.

2.3. O Desafio Do Empoderamento Dos Cidadãos Em MatériaDos Direitos Humanos

Ao nível nacional, podemos registar uma certa apropriação do discurso dos Direitos
Humanos pelas instituições governamentais, com uma crescente referência aos Direitos
Humanos em documentos oficiais e outras estratégias de médio-prazo, assim como nas
políticas e estratégias sectoriais.

No entanto, a distância que separa o discurso da prática ainda é muito significativa e, se o


seu encurtamento passa pela afirmação clara do Estado, através dos seus órgãos e
agentes, como promotor, protector e provedor dos Direitos Humanos, ele passa também
pelo empoderamento dos cidadãos em matéria dos Direitos Humanos.

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A falta de um conhecimento pleno dos cidadãos sobre os seus Direitos Humanos e
como protegê-los, tem contribuído, significativamente, para alargar a distância entre o
quadro normativo institucional, o discurso do governo e a efectiva implementação dos
Direitos Humanos em Moçambique.

Construir uma cultura nacional dos Direitos Humanos, mediante uma educação em
Direitos Humanos que contemple todos os segmentos da sociedade moçambicana, desde a
tenra idade até a fase adulta, mostra-se indispensável para a efectiva implementação dos
Direitos Humanos em Moçambique. É preciso incentivar o exercício da cidadania em
Direitos Humanos, através, não só da promoção de valores éticos e sociais que valorizam
a universalidade e a diversidade, de acções que estimulem atitudes e práticas, em
conformidade com os padrões dos Direitos Humanos e, sobretudo, municiam o cidadão
com ferramentas para a compreensão, promoção e defesa dos Direitos Humanos.

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3. Considerações Finais

Conclui-se que a importância pelo respeito pelos Direitos Humanos na sociedade


Moçambicana. Este estudo procurou apresentar um quadro geral da percepção dos
cidadãos moçambicanos sobre os Direitos Humanos que sirva para as Organizações da
Sociedade Civil desenvolver acções de advocacia entre os formuladores das políticas
públicas, instituições nacionais e internacionais dos Direitos Humanos, parceiros de
cooperação, bem como desenvolverem acções junto dos cidadãos, com vista a melhorar
as insuficiências resultantes da percepção destes sobre os Direitos Humanos, tendo em
conta aqueles que são os padrões universais nessa matéria.

Esta pesquisa procurou analisar como é que a polícia moçambicana lida com os direitos
humanos dos cidadãos que deveria proteger, propondo algumas linhas interpretativas do
fenómeno estudado. O trabalho foi muito além da simples confirmação ou desmentida da
hipótese central inicial, ou seja, que os agentes policiais poderiam atuar de forma violenta
contra os cidadãos por iniciativa individual e devido à fraca cultura em matéria de
direitos humanos.

Na verdade, as duas hipóteses foram em larga medida desmentidas e ultrapassadas graças


à multiplicidade de informações que foi possível acatar ao longo do trabalho, algumas
delas já presentes na esfera pública, outras diretamente contatadas pela investigadora.
Com efeito, está confirmado que os agentes policiais, embora não havendo uma formação
centrada nos direitos humanos, têm as bases mínimas para perceber como atuar junto das
populações locais a este propósito, e portanto as violações que eles protagonizam não
podem ser explicadas mediante a “teoria da ignorância”. Por outra, resultou de forma
também clara que, no geral, os abusos mais graves que os polícias cometem contra os
direitos fundamentais dos cidadãos são geralmente obra de um sistema mais complexo do
que a vontade individual particular.

Facilmente compreende-se que trata-se de um sistema que é difícil de descobrir e comprovar, mas
que – mediante a análise e tipificação dos casos analisados – se configura de forma coerente e
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lógica. A este sistema pertencem os agentes da polícia enquanto meros executores de ordens dos
seus superiores hierárquicos, em muitos casos o nível político mais alto, assim como o nível
judiciário. Exemplos tais como a gestão das manifestações de rua de 2008 e 2010 testemunham
que, quando o Estado se sente ameaçado, o polícia está autorizado em usar de forma excessiva a
força, até matando pessoas; o mesmo pode ser dito para os terríveis casos de mortes coletivas nas
cadeias de Montepuez, Mongincual e tantos outros que não foram apresentados neste trabalho.

O resultado principal que esta pesquisa trouxe foi uma noção mais clara de como a polícia atua
com os cidadãos em relação aos direitos humanos, e porque a sua violação se tornou quase que
sistemática. A pesquisa mostrou a complexidade de um tal comportamento e as tipologias
mediante as quais este se manifesta. As violações dos direitos humanos por parte da polícia
devem ser explicadas mediante uma série de fatores que a tese procura analisar e apresentar, de
tipo institucional, cultural, histórico e político, além que em termos de carências formativas.
Porém, o que mais merece destaque é o código de silêncio e de silenciamento a que os agentes
estão submetidos, o que faz com que – além das violações em si – haja cumplicidade dos próprios
polícias (e até dos juízes) em relação às violações, por vezes brutais, protagonizadas pelos seus
colegas. O mesmo silêncio tem caraterizado as muitas tentativas da investigadora em realizar
entrevistas, mas que, em larga medida, desaguaram num fracasso.

É claro que, sendo este o primeiro trabalho que analisa a atuação da polícia em Moçambique do
ponto de vista dos direitos humanos, muito ainda resta a dizer: acima de tudo, o quadro teórico
que tem resultado da análise empírica terá de ser testado e comprovado por outros investigadores;
em segundo lugar, as lacunas de tipo metodológico, que assentam numa informação ainda
bastante limitada, devido à escassa disponibilidade de os membros do Ministério do Interior,
assim como os próprios polícias e os juízes se abrirem para deixar melhor entender as dinâmicas
que ocorrem em casos de relevo nacional. A isto associa-se a quantidade extremamente reduzida
de documentos disponibilizados por parte dos vários intervenientes institucionais, pelo que a
pesquisa neste terreno sempre será, num país como Moçambique, extremamente árdua e
problemática. Entretanto, apesar das dificuldades acima destacadas, o trabalho apresenta linhas
de investigação que achamos serem relativamente novas e promissoras, e que terão de ser
desenvolvidas futuramente, em outros trabalhos científicos.
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4. Referências Bibliograficas

ANDRADE, JCV; Os Direitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976


(2012) Almedina;

DURAN, Carlos Villan; Sur – Revista Internacional de Direitos Humanos, n. 5


(2006), “Luzes e sombras do novo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas”,

FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE EDUARDO


MONDLANE (2004), Contributo para o debate sobre a revisão constitucional
Maputo: Imprensa Universitária;

LIGA MOÇAMBICANA DOS DIREITOS HUMANOS (2005), Relatório


sobre Ratificações e Implementação dos Instrumentos Internacionais dos
DireitosHumanos;

ABRAHAMSSON, H. & NILSSON, A. (1995). Mozambique: the troubled transition


– from socialist construction to free market capitalism. London: Zen Books

AI (Amnesty International) (2009). Thirteen die in Mozambican police cell, 20


March 2009. Disponível em: http://www.refworld.org/docid/49c7455b1.html

BUSSOTTI, L. (2014). “A gestão do “risco político” na democracia moçambicana.


Análise e perspectivas”, Estudos de Sociologia, Vol. 2, N. 20

CANAL DE MOÇAMBIQUE (2014). Tribunal militar revolucionário e a pena de


morte em Moçambique, 30/01/2014

a) LEGISLAÇÃO
• Código Civil
• Código de Processo Civil
• Constituição da Republica de Moçambique

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